Negócios
Daycoval compra Bmg Seguros de olho em diversificação
O banco Daycoval anunciou a compra da Bmg Seguros, por meio de sua controlada Dayprev Vida e Previdência. O NeoFeed havia antecipado com exclusividade que o banco Bmg estava negociando uma fatia da sua seguradora.
Em comunicado sobre a transação, cujos valores não foram revelados, o Daycoval informou que está adquirindo a totalidade das ações ordinárias de emissão da Bmg Seguros, a um preço equivalente a 1,47 vezes o patrimônio líquido da seguradora na data de fechamento da operação.
Além dos trâmites usuais em processos desse porte, o acordo ainda depende da aprovação do Banco Central, da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
À espera desses sinais verdes, o Daycoval ressaltou que a aquisição vai ao encontro da sua estratégia de expandir produtos e serviços pautados na “diversificação, oportunidade e manutenção do relacionamento de longo prazo com os clientes”.
O Bmg, por sua vez, ressaltou que a transação integra sua orientação de concentrar esforços na execução das suas principais linhas de negócio, com o objetivo de “crescer e gerar resultados sustentáveis aos seus acionistas e demais stakeholders”.
Em fevereiro do ano passado, o banco comprou a participação da italiana Generali na Bmg Seguros. E, na ocasião, divulgou um comunicado explicando que a compra visava fortalecer a seguradora. Já naquela época, o NeoFeed apurou que o Bmg buscava um sócio para esse braço.
Criada em julho de 2016, a Bmg Seguros tem os produtos de seguro garantia como o seu carro-chefe, além de seguros em vertentes como riscos de engenharia e compreensivo empresarial. No primeiro semestre desse ano, a operação emitiu R$ 179 milhões em prêmios.
Negócios
“O Brasil tem todas as oportunidades disponíveis para capturar o potencial da IA”, diz Christian Gebara, da Vivo
A inteligência artificial (IA) continua sendo um dos assuntos mais comentados ao se falar de tecnologia e, no Brasil, não poderia ser diferente. No País, questões como infraestrutura, letramento e acessibilidade são determinantes para a adoção da IA. Com 215 milhões de habitantes, os desafios se multiplicam e uma questão fica no ar: o Brasil está preparado para o avanço tecnológico?
Christian Gebara, presidente da Vivo, e Sergio Chaia, CEO da operação brasileira da Unico, acreditam que sim, mas dizem ainda ser preciso desenvolver essa operação de forma estruturada. O assunto foi analisado pelos executivos no painel “Quem disse que o Brasil não é Tech”, dentro da NeoConference, evento do NeoFeed que está discutindo o Brasil de hoje e do futuro.
Para eles, no cenário macro, digitalização, infraestrutura, impostos e conectividade estão entre os pontos principais para serem pensados nesse processo. “A inteligência artificial exige infraestrutura, que é um ponto que a Vivo investe constantemente, tanto em 5G quanto na fibra, que são os meios que nos permitem usar a tecnologia aqui no Brasil”, afirma Gebara.
“A Vivo investiu R$ 9 bilhões no último ano para sofisticar a sua infraestrutura e auxiliar nesse momento de avanço tecnológico, ajudando a levar o acesso a mais regiões do país. Em 25 anos, já foram R$ 500 bilhões aportados nesse segmento”, diz o presidente da companhia.
Porém, ele lembra que, com o acesso cada vez mais disseminado, é preciso pensar em como preparar a população, que em grande parte não tem capacidades mínimas de letramento digital, para um mundo muito mais sofisticado e tecnológico.
A Unico, que foi considerada a segunda empresa de tecnologia mais valiosa do País, está utilizando a inteligência artificial para ajudar a população a evitar o lado ruim da tecnologia. Responsáveis por autenticar e proteger identidades no mundo digital, a empresa trabalha para ser mais rápida e eficiente do que os fraudadores locais.
“Eu costumo falar que a inteligência artificial atrai borboletas e mariposas. Ao mesmo tempo que é possível operar um paciente de forma muito mais rápida e efetiva com robôs movidos a IA, existe o lado sombra, que traz problemas como o deepfake e fraudes, que precisam ser endereçados para que essa convivência seja benéfica”, diz Chaia.
A empresa trabalha com inteligência artificial própria para comprovar a biometria dos usuários e também utiliza a tecnologia para treinar seus mecanismos de prevenção à fraude. “Nós precisamos estar sempre à frente do que os fraudadores estão criando e o nosso machine learning é essencial para nos colocar nessa posição”, diz o executivo da Unico.
Além do lado negativo da tecnologia, o presidente da Vivo relembra que, em um país como o Brasil, é preciso pensar nos impactos ambientais da inteligência artificial. Ele afirma que a tecnologia consome muita energia e água, então é necessário existir uma preocupação sobre o quanto isso vai trazer efeitos negativos e como minimizar essas questões.
“Pensando em todas essas questões, acredito que o Brasil tem todas as oportunidades disponíveis para capturar o potencial da IA e se tornar um nome importante na tecnologia”, diz Gebara. “Muito ainda está para ser criado e nós somos um país jovem, que tem a propensão à digitalização e, ajustando tudo o que conversamos, é possível capturar o melhor da IA.”
Negócios
“O Brasil é a empresa mais desequilibrada e a de maior prejuízo”, diz Mário Torós, da Ibiuna
A próxima reunião do Copom, que acontece entre os dias 17 e 18 de setembro, deve aprovar um aumento da taxa Selic porque o arcabouço fiscal não para de pé e o Brasil tem a maior dívida e o maior déficit nominal entre os seus pares.
Essa foi a conclusão do primeiro painel da NeoConference, evento do NeoFeed que está discutindo o Brasil de hoje e do futuro, realizado na manhã de terça-feira, 10 de setembro, que contou com a participação de Mário Torós, sócio e co-CIO da Ibiuna Investimentos, e Felipe Guerra, CIO da Legacy Capital.
“O Brasil é a empresa mais endividada e a que tem o maior prejuízo entre os seus competidores; isso não se sustenta, o que explica a taxa de juros elevada no País”, afirmou Torós, do alto de sua experiência no tema – ele comandou a diretoria de Política Monetária do Banco Central (BC) entre 2007 e 2009 e, nesse posto, teve papel ativo durante a crise financeira global de 2008/2009.
Gestor de estratégia macro da Ibiuna, com mais de R$ 19 bilhões sob gestão, Torós diz que o debate quanto ao aumento de 0,25 ponto percentual (p.p.) ou de 0,50 p.p. da Selic na próxima reunião do Copom é irrelevante.
Segundo ele, o ponto central é a discussão sobre o porquê de o Brasil não conseguir se livrar dessa anomalia de ter taxa de juros elevada. “Olhando nossos dados, a inflação está controlada, com desemprego perto do mínimo, mas o desequilíbrio fiscal é muito forte e insustentável ao longo do tempo”, diz ele. “O impulso fiscal desde o governo anterior, em 2022, gera a situação que temos hoje: a maior dívida e o maior déficit nominal, de 10% do PIB.”
Guerra, gestor da Legacy, com aproximadamente R$ 24 bilhões sob gestão, cita a “dissintonia do Brasil” em relação a outros países do mundo, com inflação em elevação e atividade forte. Segundo ele, os dados da economia apenas expõem as contradições do arcabouço fiscal.
“O arcabouço não para de pé, as despesas de saúde e educação crescem mais rápido que o teto, comprimindo as despesas discricionárias, isso vai ficando insustentável”, diz Guerra. “As despesas não cabem nessa regra e precisa de reformas estruturais, como da Previdência, isso vai gerar ruído à frente.”
Em relação à situação de o Banco Central contar até o final do ano com dois presidentes – o atual, Roberto Campos Neto, e o indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gabriel Galípolo –, os dois gestores não hesitaram em afirmar em qual deles o mercado deve ficar atento: Galípolo.
“São três reuniões do Copom até a efetivação da troca de comando, com inflação muito pressionada”, adverte Guerra. “Galípolo terá de escrever a carta no começo do ano explicando por que a inflação estará acima da meta”, prevê.
Para o gestor da Ibiuna, como o efeito de uma decisão de política monetária ocorre nove meses à frente, é natural que a preponderância da pessoa que vai assumir a presidência do BC seja crescente. “O que esperamos é clareza, uma vez que a capacidade de comunicação do Copom reduz o custo da política monetária”, diz Torós.
A eleição presidencial nos Estados Unidos também foi abordada pelos debatedores. Torós chama a atenção que, mais do que saber quem vai ocupar a Casa Branca, é a composição do futuro Congresso americano que interessa ao mercado.
Ele prevê uma divisão, com republicanos ganhando no Senado e os democratas levando a Câmara dos Representantes, o que vai limitar o raio de ação do novo(a) presidente. Torós, porém, aponta um setor que não depende do Congresso, a decretação de tarifas de importação – proposta defendida por Donald Trump, o que, segundo ele, preocupa o Brasil.
“Em abril, Trump citou o Brasil como país protecionista em relação aos EUA”, lembra Torós, citando que as tarifas médias de importação cobradas pelo Brasil é de 31%, contra apenas 3% cobradas pelos EUA. “Isso pode ser um risco para o País, afetando os ativos brasileiros.”
Guerra, por sua vez, adverte que as agendas mais radicais devem prevalecer no caso de o candidato vencedor tiver alinhamento com o Congresso. “Kamala Harris é mais do mesmo, com gasto fiscal elevado, com inflação e juros desacelerando, bolsa mais baixa”, aposta.
“Com Trump, porém, o Fed terá menos espaço para cortar juros, ele deve reduzir os impostos corporativos e manter o dólar forte, o que significa juro mais elevados e bolsa mais alta”, complementa o CIO da Legacy.
Negócios
Na Elfa, do Patria, a reestruturação começa a mostrar resultados (mas em doses homeopáticas)
O Grupo Elfa, que atua na distribuição de medicamentos e materiais hospitalares, é um exemplo de uma empresa que cresceu de forma acelerada com a aquisição de empresas. Apoiada pelo Patria Investimentos, que é seu controlador, a companhia comprou 22 companhias em diversas regiões do País, sendo que 13 delas em um espaço de apenas três anos
O resultado foi um elevado nível de endividamento, hoje na casa de quatro vezes o seu Ebitda, e margens apertadas. E, em meio uma das piores crise do setor de saúde dos últimos tempos, a companhia deu início a uma reestruturação que começa a apresentar resultados. Só que em “doses homeopáticas”. “Demora para as coisas se pagarem, terem efeito, mas começamos a colher os frutos”, diz José Roberto Ferraz, CEO da Elfa, em entrevista ao NeoFeed.
Essa reestruturação acontece apoiada por uma “injeção” de R$ 870 milhões de recursos que a Elfa recebeu do Patria no ano passado. Desde então, a companhia vem ajustando as operações e renegociando seus passivos. A “prescrição” dessa reestruturação envolve a venda de ativos que não são consideradas core, bem como uma negociação para o reperfilamento da dívida que tem vencimentos a partir de 2025.
Do lado operacional, a Elfa trabalha para reduzir despesas e fortalecer as sinergias do portfólio. Ao mesmo tempo, a empresa vem buscando ter maior exposição a categorias com melhor rentabilidade, como é o caso de produtos oncológicos e hematológicos e produtos cirúrgicos.
“Uma carreta de Omeprazol [medicamento para tratamento de úlcera e gastrite], por exemplo, vale a mesma coisa que um carro com produtos oncológicos”, afirma J.R., como o executivo é conhecido. “Para nós, que somos transportadores e armazenadores, ter menos transporte e armazenagem tende a ser mais lucrativo.”
A Elfa buscou também aumentar sua distribuição para as secretarias de saúde estaduais, com foco nos governos de São Paulo, Minas Gerais, Ceará e do Paraná, avaliando que as compras do setor público são mais estáveis. J.R. diz que a empresa tem cerca de 10% do market share no mercado de saúde privado do Brasil e cerca de 25% do público.
O resultado, junto com iniciativas como redução de estoques e de contas a receber, foi um primeiro semestre mais positivo, ainda que com números tímidos.
O Ebitda ajustado cresceu 5,2% no segundo trimestre, em comparação com o mesmo período do ano anterior, para R$ 101 milhões, com um aumento de 0,3 ponto percentual na margem ajustada, para 7%. No semestre, a alta do Ebitda ajustado foi de 4,4%, para R$ 162 milhões, enquanto a margem ajustada avançou 0,4 ponto percentual, a 5,6%.
O caixa gerado pelas atividades operacionais cresceu 73% no segundo trimestre, para R$ 131 milhões. Combinado com a redução de 43% do consumo de caixa visto nos primeiros três meses do ano, a Elfa fechou o semestre com um consumo de R$ 47 milhões, redução de 80%.
Já a receita líquida ficou praticamente estável no segundo trimestre e no primeiro semestre, em R$ 1,4 bilhão e R$ 2,9 bilhões, respectivamente.
Passivos e desinvestimentos
O ajuste operacional vem como uma forma de contornar os problemas que o setor de saúde vinha enfrentando e que teve efeitos negativos sobre todo o mercado, inclusive a principal concorrente da Elfa, a Viveo, com geração de caixa também sendo palavra de ordem na companhia.
Depois de um período relativamente bom na pandemia, as operadoras e planos de saúde estão sofrendo com o aumento do índice de sinistralidade. Mas J.R. destaca que a situação do segmento de saúde já vinha se deteriorando, diante da falta de crescimento dos pagadores privados e da tendência da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) de incluir novos tratamentos no rol de procedimentos.
Apesar de sinais de melhora na parte de geração de caixa, a situação ainda é insuficiente para baixar de forma significativa o elevado nível de endividamento da Elfa. A companhia fechou o segundo trimestre com R$ 1,75 bilhão em dívidas, pouco abaixo dos R$ 1,8 bilhão do primeiro trimestre, sendo R$ 1,6 bilhão com bancos e debenturistas.
A situação, inclusive, motivou a agência de classificação de riscos Moody’s a rebaixar o rating da Elfa, em fevereiro deste ano, de “A-.br” para “BB+.br”, mantendo a perspectiva negativa. Na decisão, a Moody’s informou que decidiu pela mudança pela frustração de resultados e pela geração de caixa operacional fragilizada da companhia em 2023.
O endividamento tem pesado sobre os resultados financeiros da companhia, num momento em que os juros permanecem elevados, e sobre a última linha do balanço. O resultado financeiro permaneceu negativo, em R$ 98,3 milhões, mesmo que o valor represente uma melhora de 11,6% em relação ao segundo trimestre de 2023. O prejuízo líquido somou R$ 43,2 milhões, aumento de 15,8%.
Para lidar com essa situação, a J.R. informou que a Elfa está negociando os passivos para os vencimentos em 2025 e 2026, considerando que as dívidas bancárias não têm vencimentos relevantes neste ano, nem as debêntures. A intenção é reduzir a alavancagem financeira das 4 vezes apuradas em 2023 para 3,5 vezes até o fim deste ano.
“Essas dívidas começam a vencer em 2025, que foi a renegociação feita anteriormente”, diz o CEO. “Estamos olhando para essa renegociação de mudar os prazos, mais focado com os bancos do que com as debenturistas, em que não temos encontrado dificuldades.”
Em julho, a Elfa fechou um acordo com um de seus principais credores, o Banco do Brasil. A companhia alongou os pagamentos de montantes que estavam concentrados em 2025 (R$ 196 milhões) e 2026 (R$ 119 milhões) para o final de 2025 (R$ 30 milhões), 2026 (R$ 64 milhões), 2027 (R$ 93 milhões) e 2028 (R$ 128 milhões).
Para acelerar a queda da dívida, a Elfa está avaliando a venda de ativos considerados não core, dentro da estratégia de ter mais exposição a produtos com alta rentabilidade. Segundo J.R., a companhia está em conversas com potenciais interessados.
Sobre a possibilidade de um novo aporte por parte do Patria, ele diz que é algo que pode vir a ocorrer, caso seja necessário. “Acionista existe para isso, para fazer aporte e receber dividendo. Então, não está descartado, mas não temos nada no curto prazo”, afirma.
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