Negócios
Fundos de debêntures incentivadas triplicam de tamanho e podem bater R$ 300 bi sob gestão

As debêntures incentivadas registraram um crescimento de 214% no total sob gestão em 2024, triplicando de tamanho e atingindo R$ 207 bilhões, de acordo com um levantamento da Quantum Finance preparado com exclusividade para o NeoFeed. Foi a maior alta relativa de uma classe de fundos no período.
As emissões foram recorde em 2024 e atingiram R$ 135 bilhões em 2024, o dobro do registrado no ano anterior. Um conjunto de fatores elevou a demanda do mercado por esses papéis e acelerou o crescimento desses títulos.
E ao que tudo indica, esse foi só um empurrão para mais crescimento adiante. Em conversa com sete gestoras de debêntures incentivadas para entender quais são as perspectivas para essa classe de fundos, todas são unânimes em dizer que mudanças estruturais possibilitaram que, após mais de 10 anos no mercado, esse instrumento finalmente se tornasse relevante e ocupasse o espaço que foi pensado para ter no desenvolvimento da infraestrutura nacional.
Alguns fatores específicos, como o aumento da demanda com a taxação dos fundos exclusivos em 2023, que levou os donos de grandes fortunas a buscarem formas mais eficientes de alocação de capital, em especial ativos isentos, e a restrição ao lastro de outros isentos (LCI/LCA), impulsionaram a demanda por fundos de debêntures incentivadas no ano passado. O que não se repetirá novamente este ano.
Mesmo assim, espera-se um crescimento de cerca de 50% em 2025, o que vai fazer o total sob gestão ultrapassar os R$ 300 bilhões. E a perspectiva é que a expansão dessa classe de fundos se mantenha nesse mesmo nível nos próximos anos – a média foi de 45% em 2022 e 2023.
A criação de produtos listados e exclusivos para grandes fortunas ajudou a aumentar o número de fundos específicos em 183% no ano passado, chegando a 1.383 no total, segundo levantamento da Quantum Finance. Um exemplo é a Bradesco Asset, que cresceu 300% no segmento e chegou a R$ 16 bilhões sob gestão, com o lançamento de novos produtos.
“Recebemos muita demanda do nosso private para estruturar fundos exclusivos de debêntures incentivadas como forma mais eficiente desse cliente alocar. E, apostando no crescimento dessa classe, listamos o BINC11 em setembro para alcançar o varejo”, afirma Victor Tofolo, gestor de crédito privado da Bradesco Asset.
O mercado espera que o número de fundos continue crescendo neste ano, com alguns fundos exclusivos ainda sendo desmontados e com grande chance de se optar em ter uma estrutura dedicada de debêntures incentivadas, e com mais fundos listados indo a mercado.
A Capitânia, com R$ 19 bilhões sob gestão, sendo R$ 2 bilhões apenas em debêntures incentivadas, é uma das gestoras independentes que vai concentrar a expansão em fundos listados e exclusivos.
“Estamos analisando novos fundos fechados em infra, que é um instrumento interessante que permite dar liquidez sem comprometer a estratégia de investimento, e assim fazer emissões de cotas para o público de private bank e wealth”, afirma Arturo Profili, sócio-fundador e gestor Capitânia.
A Sparta vai seguir esse mesmo caminho. A gestora liderada por Ulisses Nehmi cresceu de R$ 10 bilhões para R$ 17 bilhões o total sob gestão total, sendo que os fundos incentivados passaram de R$ 2 bilhões para R$ 7 bilhões.
“Começamos a receber muito capital e fechamos dois fundos porque resolvemos selecionar nosso passivo para quem de fato quer estar no longo prazo e não quer correr o risco de ter problemas de liquidez com investidores oportunistas”, afirma o CEO da Sparta.
O que também beneficia a demanda para essa classe de ativo é que os juros estão bem altos, o que não só atrai os investidores para a renda fixa como amplia o benefício tributário. E enquanto outros ativos estão com uma sombra de taxação pelo governo, as debêntures incentivadas parecem ilesas por serem estratégicas.
“Prevemos um fluxo de captação para esses fundos este ano na mesmo intensidade. O benefício fiscal fica ainda mais atrativo a um IPCA+7,5%, o que dobra o patrimônio em termos reais e líquidos do cliente a cada cinco anos. É muito difícil bater essa rentabilidade”, afirma Vinícius Romero, sócio e portfólio manager da XP Asset.
Pipeline de emissões
Enquanto as LCI/LCAs e CRI/CRAs tiveram restrição ao lastro pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) no ano passado, as debêntures incentivadas ganharam mais fôlego do governo com novas áreas podendo usar o benefício, como geração de energia, saúde e educação. A sinalização positiva levou os investidores a ampliar a procura.
São essas mudanças regulatórias que fizeram a emissão de debêntures incentivadas dobrar e alcançar o recorde de R$ 135 bilhões. Neste ano, espera-se um pipeline menos robusto em razão de muitos emissores terem antecipado captações em razão dessa boa janela.
“Com as mudanças do CMN, muitas empresas que não precisavam captar foram a mercado aproveitando que os spreads estavam muito comprimidos”, afirma Michelle Lauande, gestora de fundos de infraestrutura da Santander Asset Management, que detém R$ 7 bilhões em seis fundos de infraestrutura.
“A verdade é que como entrou muito dinheiro nos fundos, precisamos comprar para não nos desenquadrar. Mas não vamos aceitar essa falta de prêmio”, complementa.
Pelo menos neste primeiro semestre, as empresas estarão mais cautelosas para emitir em razão da alta dos juros – a NTN-B, que baliza esse mercado, esta na casa de IPCA+ 7,5% ao ano.
Por outro lado, os leilões de infraestrutura estão a todo vapor. Espera-se em breve emissões de novos papéis para financiar leilões de transportes (já são 15 anunciados).
“As captações serão menores, mas não quer dizer que não serão fortes. Há muitas concessões e as debêntures de infra são a melhor forma de financiamento. Esperamos emissões ainda no primeiro trimestre, mas algumas podem esperar o fim do ano ou o início de 2026 para uma acomodação maior das taxas de juros”, diz Lauande.
Ainda há um déficit enorme de investimentos no País. Segundo dados da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), em 2024, foram investidos R$ 259 bilhões em infraestrutura, mas a necessidade era de R$ 503 bilhões.
O mercado de capitais vem cada vez mais sendo protagonista neste tipo de funding, em especial os fundos de debêntures incentivadas. Segundo levantamento da Icatu Vanguarda, com dados da Anbima, em 2018, a participação dos fundos no investimento em projetos de infraestrutura foi de 5%. Em 2021, subiu para 20% e hoje já é de 40%.
“A indústria de fundos incentivados se desenvolveu e isso é muito importante para o Brasil. As debêntures incentivadas estão finalmente ganhando protagonismo no financiamento de desenvolvimento do Brasil”, diz Bernardo Schneider Goulart, CEO da Icatu Vanguarda.
“Esperamos que podemos chegar até 70% de participação nesse funding via fundos. Um instrumento mais profissional para casar a demanda da pessoa física com a complexidade e importância desses projetos de longo prazo”, complementa.
Indústria madura para crescer
Os fundos de debêntures incentivadas surgiram há cerca de 10 anos após a Lei 12.431 de 2011, que criou as debêntures incentivadas com isenção de Imposto de Renda para a pessoa física. A estrutura do fundo especializado foi criada por regulação para manter a isenção de imposto mesmo no investimento indireto (via fundo), ajudando o pequeno investidor a participar desse mercado e a conseguir diversificar. O que não é possível em outros fundos de crédito.
Os títulos de debêntures incentivadas são de longuíssimo prazo, podendo chegar a 20 anos. Eles são indexados ao IPCA mais uma taxa fixa, o que gera muita oscilação com as marcações a mercado nos fundos.
No início, isso afugentava muitos investidores desavisados, que saíam no pior momento e deixavam o gestor com um problema para gerar liquidez e honrar os pedidos de resgates. Com isso, os fundos foram ganhando uma carência maior – hoje muitos são D+90 – e não cresceram muito em seus primeiros anos.
Nos últimos anos, essa variável foi vencida com a introdução de fundos hedgeados das oscilações do mercado, algo possível com o surgimento de um derivativo. Atualmente, a maior parte da indústria é “protegida”, seja totalmente ou parcialmente. O que torna o fundo indexado ao CDI, algo vantajoso tanto para o varejo como para clientes de grandes fortunas.
“Temos um fundo completamente hedgeado e outro que é até 60% e dobramos de tamanho neles neste ano. A maior demanda veio de wealth, mas de varejo também. Vemos todos buscando prêmio em crédito privado, mas se ele é incentivado melhor ainda”, afirma Rafael Zlot, CIO da Genial Investimentos.
Outra mudança estrutural na indústria foi o ganho de liquidez dos papéis ao longo do tempo, que hoje são mais líquidos que os das debêntures tradicionais, tornando o mercado secundário muito dinâmico e permitindo às gestoras fazer uma gestão mais ativa, encurtando durations e diversificando mais o portfólio sem depender tanto do mercado primário.
Segundo dados da Anbima, o mercado secundário de debêntures incentivadas alcançou o volume recorde de R$ 254,7 bilhões entre janeiro e novembro de 2024, quase o dobro em relação ao registrado em 2023 completo. Cerca de 85% do estoque das incentivadas foi negociado em 2024, enquanto em 2023 foi de 58%.
A Bradesco Asset, por exemplo, foi responsável por negociar quase R$ 10 bilhões desse volume. “A pessoa física ao comprar direto tem o viés de comprar e ‘sentar’ no papel. Mas a gestão ativa aproveitando ciclos de alta e baixa, traz retornos muito maiores. E com a diversificação dos ativos, já é possível fazer várias estratégias diferenciadas visando alpha. E devem surgir ainda mais”, afirma Tofolo.
Foi devido a essas mudanças que a Icatu Vanguarda, com cerca de R$ 50 bilhões sob gestão, resolveu apostar na classe de fundos e hoje tem R$ 2 bilhões nesta classe de ativos.
“Gostamos de ter produtos atemporais, e nos últimos anos fomos devagar por não ter certeza se o produto e passivo iam se casar. Mas hoje já temos nove fundos que têm estratégias diferentes e vemos que o potencial de crescimento é gigantesco”, afirma Goulart.
Segundo dados da Quantum Finance, os 10 melhores fundos de entre 1º de janeiro de 2024 a 25 de janeiro deste ano tiveram um retorno médio de 18%, enquanto o CDI rendeu 11,7% no mesmo período.
Negócios
Na África, lodges de safári agora vão muito além da observação da vida selvagem

Oito e meia da manhã, Okavango Delta, Botsuana. Elefantes, zebras e impalas bebem água, lado a lado, na beira do rio. Na outra margem, hóspedes do Wilderness Jao assistem a cena confortavelmente sentados em cadeiras de couro, à sombra, recebendo massagem nos pés com óleos artesanais feitos com ervas do vale — enquanto o chef prepara as omeletes de um lauto café da manhã ali mesmo.
Os tempos dos hotéis de safári focados exclusivamente em sair de carro para ver os Big 5 definitivamente ficaram para trás. Antes essencialmente contemplativa, nos últimos anos, a viagem passou a ser uma experiência muito mais completa e ativa. Alta gastronomia, enologia e mixologia se tornaram commodities e o menu de atividades durante a estadia é cada vez mais extenso e variado.
Visitas a comunidades locais, passeios de balão, safáris a cavalo, bicicleta, aulas de culinária com famílias nativas, caminhadas entre a vida selvagem com veterinários, refeições surpresa em meio às savanas. Tudo isso agora conta — e muito — na hora de escolher onde ficar.
Jacque Dallal, fundadora da BeHappy Viagens, agência especializada em viagens de alto padrão, acredita que este seja um movimento natural de mercado. “O que está acontecendo é que os lodges africanos estão agregando cada vez mais atividades acompanhando uma tendência mundial da hotelaria em geral de focar em experiências”, diz Dallal.
Eduardo Gaz, CEO do TTWGroup, que reúne marcas como SKIBrasil, Selections, SKIUSA, TTWLab e VeryLatin, concorda. “Está acontecendo uma evolução natural do nicho, com os lodges buscando também se diferenciar de seus principais competidores. É uma questão comercial, mas que felizmente impacta de forma extremamente positiva as comunidades e a própria experiência do viajante”, afirma.
É fato que muitos viajantes redefiniram suas prioridades nos últimos anos, buscando horários mais flexíveis, experiências exclusivas e um contexto mais cultural nas viagens, um reflexo da tendência global de buscar mais autenticidade no turismo em geral.
E os lodges de safári estão surfando nessa onda, com uma abordagem cada vez mais à la carte em tudo. “A experiência agora é mais refinada e potencializada. Assim você consegue ter estadias muito mais personalizadas, bem ao gosto de cada hóspede”, diz Gaz.
Os primeiros registros de lodges de safári africanos operando no modelo consolidado internacionalmente datam de pouco mais de 40 anos atrás.
Nicho de US$ 2 bilhões
Mas muito mudou nestas quatro décadas neste mercado que avança em ritmo acelerado. Os safáris na África devem movimentar US$ 23,10 bilhões até 2030, evoluindo a uma taxa de crescimento anual composta de quase 10%, informam os analistas da ResearchAndMarkets.
Só os lodges de luxo estão previstos atingir US$ 2 bilhões, no mesmo período, conforme levantamento da Business Research Insights. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), nove países africanos estão entre as 20 nações que devem registrar o crescimento econômico mais rápido do mundo em 2025 — em boa parte graças ao turismo de luxo.
Primeiro lodge de safári de luxo de Botsuana, o Wilderness Jao é uma das mais de 60 propriedades gerenciadas pela Wilderness, fundada em 1983, por dois guias de safári. Em locais remotos de oitos países africanos, as propriedades somam 6 milhões de acres de terras privadas e preservadas.
Com diárias a partir de US$ 1.850, por pessoa, e inserido em meio a savanas e planícies inundáveis de uma reserva privada de 60 mil hectares, o Jao foi criado no comecinho dos anos 2000 pela família de Cathy e David Kays, que seguem à frente da administração da propriedade, agora em parceria com a Wilderness.
Localizado no vale do rio Okavango, considerado um dos melhores lugares do mundo para observação de vida selvagem, o lodge sempre foi um caso de sucesso. Mas, no fim da década passada, seus administradores perceberam que era hora de mudar.
Foi recentemente reconstruído — agora com design sustentável, materiais naturais e reciclados — ganhando espaços muito mais amplos e refinados, pés direitos altíssimos, banheiras e jacuzzis com vista infinita, spa, biblioteca, museu, galeria.
Suas novas (e imensas) acomodações foram projetadas como casas na árvore ultraluxuosas conectadas por passarelas suspensas, causando mínimo impacto no terreno. Ali, pratica-se a alta gastronomia e há um impressionante bar de vinhos, destilados e coquetéis, tudo incluído.
Assim como diversos workshops, atividades do projeto Children in the Wilderness (que educa crianças das comunidades locais) e até as inesperadas massagens no meio do safári.
Aulas de culinária e fotografia
Quando os turistas desapareceram durante a pandemia de covid-19, muitos lodges de safári tiveram de dar tratos à bola para continuar sustentando suas comunidades e impedir a invasão de caçadores em suas áreas.
A Great Plains Conservation, criada pelo premiado casal de documentaristas Beverly e Dereck Joubert, sempre focou no turismo regenerativo em suas sofisticadas propriedades de safári no Quênia, na Botsuana e no Zimbábue.
Converteram tradicionais territórios de caça e terras improdutivas em quase 1 milhão de de acres de conservação da vida selvagem — sempre em parceria com as comunidades locais, absorvendo mão de obra da região e melhorando a infraestrutura geral dos destinos, ao reinvestir ali parte da arrecadação de cada visita turística.
As experiências ligadas às comunidades locais, aliás, costumam figurar entre as mais elogiadas por seus hóspedes. A partir de US$ 1 mil, por pessoa, a rede tem servido como inspiração para muitos lodges abertos nos últimos anos no continente africano.
O Cheetah Plains, na África do Sul, levou esse movimento a outro patamar. “Além de ter até os jipes de safári movidos a energia elétrica e todo o hotel funcionar com energia renovável, é uma hospedagem all inclusive imersa em arte contemporânea”, diz Jacque Dallal.
Idealizado por Japie van Niekerk, CEO da New Africa Developments (que desenvolve shopping centers no continente africano), o Cheetah Plains conta com apenas três vilas de quatro suítes e um time de 12 funcionários para cada uma delas — com tudo incluído nas diárias, até massagens e manicure. O preço: a partir de US$ 8.870, a diária.
Preveem também degustações de vinhos sul-africanos, workshops de mixologia, aulas de culinária e fotografia (emprestando sem custos uma câmera profissional com lentes de longa distância para uso durante a estadia).
Inaugurado pouco antes da pandemia na reserva Sabi Sands, na fronteira com o Parque Nacional Kruger, em pouco tempo virou reduto de bilionários, CEOs e CFOs de diversas nacionalidades. Todos ávidos por ir bem além da antiga fórmula “dois safáris incluídos por dia”.
Negócios
Pedro Zemel troca as roupas esportivas pelo hambúrguer

Três dias depois ao seu surpreendente pedido de renúncia ao posto de presidente do Grupo SBF, dona da Centauro, Pedro Zemel já tem nova casa. E, nessa mudança, o executivo está saltando dos artigos esportivos para os hambúrgueres e frangos fritos.
O executivo acaba de ser anunciado como o novo CEO da Zamp, operadora das redes de fast food Burger King e Popeye’s no Brasil, além da Subway e do Starbucks. O grupo anunciou que ele será efetivamente eleito pelo conselho de administração da companhia em reunião prevista para o fim do mês de abril.
Assim como a sua mudança de ares, a escolha para um novo CEO na Zamp também foi rápida. Na semana passada, o grupo anunciou que Paulo Camargo, ex-presidente da Arcos Dorados (McDonald’s) no Brasil, estava deixando o cargo e que o CFO Gabriel Guimarães tocaria a operação como interino.
A data prevista para a eleição de Zemel coincide justamente com o fim do processo de transição no Grupo SBF, programado para o dia 23 de abril. No antigo CNPJ, ele passará o bastão para Gustavo de Lima Furtado, que, até então, atuava como CEO da Centauro.
Formado em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas e com um MBA pela Harvard Business School, Zemel tem uma passagem pela GP Investments e, nos últimos doze anos, esteve no Grupo SBF.
Nos últimos nove anos, o executivo liderou a operação da dona da Centauro, onde substituiu Sebastião Bomfim Filho, fundador do grupo. No comunicado sobre sua saída, divulgado na última terça-feira, a empresa ressaltou que Zemel iria se dedicar a outros projetos pessoais e profissionais.
Em seu período à frente do Grupo SBF, o executivo liderou o processo de abertura de capital da holding, em 2019. Além da estratégia de diversificação de negócios da companhia, rumo a um modelo de ecossistema.
Nessa direção, um dos acordos que se destacaram foi a estruturação do acordo com a Nike, que resultou na criação, em 2021, da Fisia, operação que, na prática, é a representante exclusiva da marca americana no Brasil.
Zemel chega à Zamp após uma breve passagem de Paulo Camargo, executivo que, nos dois anos anteriores comandou um turnaround na Espaçolaser. E que foi nomeado como CEO do grupo de fast food em julho de 2024.
Esse foi também o seu mandato na companhia. Escolhido pelo fundo Mubadala, que acabara de assumir o controle da Zamp, Camargo tinha como missão colocar a empresa, que vinha apresentando resultados indigestos para os investidores, nos trilhos.
O desafiou cresceu no fim de 2024, quando a Zamp trouxe para o seu guarda-chuva as operações da Subway e do Starbucks, que também passavam por dificuldades. Em comunicado na semana passada, o grupo informou que o fim do ciclo de Camargo foi decidido em comum acordo com o executivo.
Em seus números mais recentes – a empresa divulga o resultado do quarto trimestre e do consolidado de 2024 no próximo dia 20 de março – a Zamp reportou um prejuízo líquido de R$ 150,8 milhões no acumulado de janeiro a setembro do ano passado, uma redução de 4,1% sobre igual período, em 2023.
Já a receita operacional líquida nesse intervalo ficou em R$ 3,2 bilhões, um incremento de 17,8%. Enquanto as despesas gerais e administrativas cresceram 45,3%, para R$ 242,9 milhões. A empresa encerrou o período com uma dívida líquida de R$ 546 milhões e uma alavancagem de 1,4 vez.
As ações da Zamp fecharam o pregão de hoje com alta de 1,63%, cotadas a R$ 2,50. Os papéis acumulam uma valorização de 10,6% em 2025. Em doze meses, porém, a queda é de 45,8%. A empresa está avaliada em R$ 997,2 milhões.
Negócios
Efeito DeepSeek reacende otimismo com o mercado acionário chinês

Desacreditado nos últimos anos, o mercado de ações chinês voltou a chamar a atenção de analistas de grandes bancos internacionais após os avanços do projeto DeepSeek marcarem a entrada definitiva da China na corrida da inteligência artificial.
No início de fevereiro deste ano, enquanto o mercado ainda tentava compreender as implicações da nova tecnologia chinesa, o Deutsche Bank divulgou o relatório China Eats The World, destacando oportunidades de investimento no país e afirmando que a ascensão da DeepSeek “destruiu a fantasia ocidental de que poderia conter a China”.
“Acreditamos que 2025 será o ano em que os investidores perceberão que a China está superando o restante do mundo. Está cada vez mais difícil ignorar o fato de que as empresas chinesas oferecem melhor custo-benefício e, muitas vezes, qualidade superior em diversos setores da manufatura e, cada vez mais, até mesmo em serviços”, afirma o banco no relatório.
Desde que a Deepseek entrou nos holofotes, na última semana de janeiro, o índice Hang Seng, de Hong Kong, acumula alta de 12,73%. O desempenho no ano está cerca de oito pontos percentuais acima dos principais índices do mercado americano, impulsionado especialmente pelas empresas chinesas de tecnologia.
A Tencent, por exemplo, valorizou-se 21,8% após anunciar que integrará o modelo da DeepSeek em suas plataformas. O Alibaba, que também adotou a tecnologia e desenvolve um modelo próprio de IA, disparou 39,6%. Além disso, no início do mês, as compras onshore e offshore de ativos chineses lideraram as ordens da corretora global do Goldman Sachs, segundo um relatório acessado pela Reuters.
“Enquanto os laboratórios dos EUA investem em tecnologia de ponta, a DeepSeek demonstrou que otimizações avançadas podem gerar resultados notáveis mesmo com hardware mais modesto. O jogo está mais nivelado do que se pensava anteriormente”, avaliou o J.P. Morgan em relatório.
Sem acesso aos melhores chips da Nvidia devido às sanções dos EUA, a DeepSeek foi desenvolvida com a arquitetura Mixture of Experts (MoE), que conta com 671 bilhões de parâmetros, mas ativa apenas 6% deles por vez, reduzindo significativamente o consumo de energia e os custos operacionais.
Em comparação, modelos tradicionais como o ChatGPT utilizam abordagens que ativam a maioria dos parâmetros simultaneamente, exigindo maior poder computacional e investimentos bilionários em infraestrutura.
“Investidores globais estão começando a reavaliar o potencial da China em tecnologia e IA, após um longo período de atenção limitada”, afirmam estrategistas do Morgan Stanley. O banco americano acredita que o ímpeto positivo se sustente no curto prazo, impulsionado pelo posicionamento ainda tímido dos investidores globais. Goldman Sachs e UBS também demonstram maior otimismo com o mercado chinês.
Além de reacender o interesse com o mercado chinês, a chegada da DeepSeek levantou questionamentos sobre os players que eram dados como vitoriosos na corrida da inteligência artificial. O maior impacto foi sentido pela Nvidia, que perdeu US$ 500 bilhões em valor de mercado em apenas um dia, estabelecendo um novo recorde de desvalorização no mercado mundial
Após anos de forte valorização das “Sete Magníficas”, a competição com os preços mais baixos das empresas chinesas começa a se acirrar. Enquanto o Nasdaq negocia a um múltiplo Preço/Lucro (P/L) de 37 vezes, o Hang Seng opera a 12 vezes.
“À medida que as empresas chinesas expandem sua presença global, é provável que esse desconto de avaliação se transforme em um prêmio no futuro”, destaca o Deutsche Bank, que prevê “uma mudança significativa em direção às ações chinesas no médio prazo”. O relatório alerta, no entanto, que a demanda crescente pode elevar os preços dos ativos.
Apesar do crescente otimismo com as bolsas chinesas, a tese não é consenso. Anderson Miranda, head de distribuição da W1 Capital, destaca preocupações com a crise imobiliária na China e os riscos de aumentos tarifários sobre suas exportações. “Há muita euforia no mercado em torno da DeepSeek. Os valuations são justificados, mas esse entusiasmo pode levar a correções”, pondera.
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