Negócios
Na bolsa americana, big techs seguem com fôlego, mas há oportunidades “embaixo da superfície”

Diante da expectativa de que os cortes de juros finalmente começarão a acontecer nos Estados Unidos e com os índices acionários registrando forte crescimento, muitos gestores começaram a reavaliar suas posições no mercado de renda variável americano, que, nos últimos anos, viu o setor de tecnologia ganhar bastante força.
Para Marina Valentini, estrategista de mercados globais da J.P. Morgan Asset, esse cenário abre espaço para buscar oportunidades “embaixo da superfície do S&P 500”, considerando que muitas companhias do índice estão com seus valuations perto da média histórica. Mas isso não significa necessariamente que as big techs devem perder relevância ou o interesse dos investidores.
“Muitos analistas começam a falar numa rotação para setores mais cíclicos, como indústria, energia, bancos”, disse ela na quarta-feira, 24 de julho, durante painel no evento Avenue Connection, que está sendo promovido pela corretora Avenue, em São Paulo. “A gente acha que isso vai acontecer, mas não necessariamente às custas do setor de tecnologia.”
Segundo Valentini, as chamadas Magníficas Sete – Alphabet, Amazon, Apple, Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla – têm motivo para serem consideradas magníficas, ao representarem cerca de 33% do índice, 39% dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento e 23% do fluxo de caixa. Além de apresentarem boas perspectivas em termos de resultados, mesmo que isso possa ir desacelerando ao longo dos trimestres, com frustrações de curto prazo.
“Essas empresas têm muito dinheiro para investir e apresentam lucros muito fortes”, afirmou. “O mercado espera crescimento de 30% dos lucros, o que é muito bom.”
Ela destacou que muito da alta recente no mercado acionário americano foi puxada pelo entusiasmo com o tema da inteligência artificial, como pode ser visto nas fortes valorizações registradas pelas ações da Nvidia – somente nesse ano, os papéis da companhia acumulam alta de 177,4%. Em sua avaliação, esse é um tema de longo prazo, que ainda deve continuar tendo peso sobre o S&P 500.
Mas com o cenário ficando mais propício para a renda variável e as ações de tecnologia com valuations elevados, a estrategista da J.P. Morgan Asset começa a ver margem para um aumento de posicionamento em outros segmentos, com a tese do value ganhando força.
Em meio a uma economia americana ainda resiliente, ainda que apresente alguns indícios de desaceleração, Valentini afirmou que setores tradicionais demonstram força, com as ações podendo ter boa evolução.
A estrategista da J.P. Morgan Asset destaca que as companhias apresentam boas perspectivas de resultados. Segundo ela, depois de resultados baixos em 2023, a expectativa dos analistas é de um aumento média de 11% dos lucros, enquanto os cálculos das gestoras apontam para uma alta de cerca de 9%.
“A foto corporativa americana é sólida”, disse Valentini. “E vemos os analistas aumentando as expectativas para os lucros das empresas.”
Negócios
Oswald de Andrade, o “mau selvagem” do biógrafo Lira Neto

O jornalista Lira Neto tinha entre 18 e 19 anos quando leu Pronominais, de Oswald de Andrade, e o impacto foi imediato. O poema, que celebra o português das ruas e desafia as normas rígidas da gramática, ressoou naquele jovem aspirante a poeta em Fortaleza, no fim dos anos 1970 e início de 1980.
“Fiz parte da chamada ‘geração mimeógrafo’, que escrevia poemas alternativos, à margem do mercado editorial — daí nos autointitulávamos, com orgulho, ‘poetas marginais’”, lembra ele, em entrevista ao NeoFeed. A rebeldia do verso do poeta foi mais do que uma inspiração. “Oswald era uma espécie de pai espiritual para todos nós, que também já amávamos um herdeiro assumido da Antropofagia, Caetano Veloso.”
Escritor, poeta, ensaísta e, acima de tudo, provocador, o paulistano Oswald de Andrade (1890–1954) foi um dos principais articuladores da Semana de Arte Moderna de 1922 — aquela que sacudiu literatura, artes plásticas e música no Brasil e completa 103 anos nesta semana.
Para Oswald, para criar uma cultura nacional autêntica era preciso devorar o país — e o mundo. Em 1928, publicou o Manifesto Antropófago, em que propunha engolir influências europeias e cuspir algo só nosso. “Tupi or not Tupi, that is the question”, escreveu, parodiando Shakespeare.
Sua vida foi tão polifônica quanto sua obra. Entre seus diversos casamentos, os mais conhecidos foram com a pintora Tarsila do Amaral e, depois, com a escritora e militante Pagu. Transitava com a mesma desenvoltura por salões burgueses e assembleias operárias, colecionando desafetos.
Esse homem contraditório é o centro de Oswald de Andrade – Mau Selvagem, nova biografia assinada por Lira Neto e publicada pela Companhia das Letras. O biógrafo, de 61 anos, passou quatro anos mergulhado na vida e na obra do modernista. O resultado: 528 páginas que mostram, sem retoques, o homem por trás do mito.
“O espírito oswaldiano, dionisíaco, quase satânico por vezes, seduzia-me como biógrafo”, diz Lira, autor de Getúlio Vargas, Padre Cícero, Maísa e José de Alencar. Sua maior dificuldade ao escrever sobre a vida do poeta foi “controlar minha paixão pelo biografado”. “Oswald era um homem insuportável e, mesmo assim, fascinante”, define.
Acompanhe a seguir os principais trechos da entrevista de Lira Neto para o NeoFeed.
Você releu as obras de Oswald em Portugal, durante seu doutorado, entre 2018 e 2022. Na época, o que estava pesquisando e o que o fez voltar à obra do escritor?
Na Universidade de Coimbra, cheguei a pensar em realizar um estudo comparativo entre o Estado Novo de Antonio Salazar, em Portugal, e o Estado Novo de Getúlio Vargas, no Brasil. Mas, em algum momento, caiu-me de novo às mãos o livro Pau-Brasil, de Oswald. No doutorado, trocávamos muitas ideias, entre professores e alunos, a respeito do pensamento decolonial — ou pós-colonial, conforme queiram. Deu-me o tal estalo. Oswald de Andrade já era, desde sempre, um crítico do colonialismo e do patriarcado, denunciando a violência do processo colonial e pregando a libertação da epistemologia eurocêntrica.
Quais materiais inéditos você teve acesso para escrever esta biografia?
Tive a sorte de poder mergulhar no acervo de Oswald, que está sob a guarda do Centro de Documentação Alexandre Eulálio (CEDAE), na Unicamp. São mais de quatro mil documentos, um universo de informações. Também recorri a jornais e revistas de época, em busca de episódios perdidos no tempo. Mas, a experiência com a escrita biográfica me ensinou, depois de tantos anos dedicados ao ofício, que muito mais importante do que o ineditismo — essa obsessão jornalística pelo furo — é lançar um olhar inaugural e criativo sobre uma documentação já conhecida e revisitada. A partir das mesmas fontes, estabelecer novas perguntas, sugerir ângulos inusitados, pontos de vista menos óbvios.
Você poderia contar um pouco sobre a escolha do título “mau selvagem”?
O título foi inspirado pelo próprio Oswald, que abominava a imagem conformista e colonizada do “bom selvagem” de Rousseau. Em contraposição ao indigenismo ingênuo de José de Alencar e Gonçalves Dias, ele nos oferecia a ideia do mau selvagem, do devorador de gente, do antropófago como metáfora de um novo processo civilizatório. Não se tratava de exaltar o mero canibalismo, o ato de comer carne humana. Na metáfora oswaldiana, o antropófago não se alimentava do inimigo para saciar a fome ou por mera vingança. Na verdade, estabelecia-se um ritual de conexão simbólica entre o devorador e o devorado.
Hoje, vemos governos como o de Donald Trump, com o slogan “Make America Great Again”, e o crescimento de movimentos ultranacionalistas. Como Oswald poderia nos ensinar a valorizar a produção cultural brasileira sem cair em um ufanismo semelhante?
A antropofagia oswaldiana rejeitava qualquer tipo de ufanismo, de patriotismo ingênuo, de verdeamarelismo tacanho. A lógica antropofágica era exatamente o oposto ao nacionalismo oportunista e reacionário. Oswald é cada vez mais necessário hoje. Bastaria, talvez, lermos o Manifesto Antropófago. Melhor ainda lermos seus textos de combate, publicados na imprensa ao longo de toda a sua vida. E, especialmente, lermos sua tese, A crise da filosofia messiânica, que apresentou para concorrer à cadeira de filosofia na USP. Nela, denuncia os manipuladores, os aproveitadores, os “Messias” de toda espécie.
Seu livro reafirma o traço irreverente de Oswald, alguém que preferia perder o amigo a perder a piada. Mas você mostra que, na infância, ele sofreu bullying na escola. De alguma forma, você acredita que essa postura de “mau selvagem” foi uma forma de sobrevivência e de se destacar no meio?
Oswald dizia que o artista, o louco e a criança têm algo em comum, um certo desajuste diante das convenções do mundo. Quando criança, ele encarnou o estereótipo do gordinho engraçado como mecanismo de defesa para rebater o assédio moral que sofria dos demais garotos. Mas penso que jamais deixou de ser um homem que fez da ironia e do escárnio uma arma contra as incompreensões sociais — por mais que seu indomável sarcasmo também tenha produzido injustiças contra muita gente, incluindo mulheres e amigos.
Aliás, embora Oswald traísse as mulheres com quem se relacionava e se mostrasse ciumento às vezes, ele também incentivava e ajudava suas carreiras profissionais, chegando a defender o matriarcado em alguns textos.
Essa é apenas uma das muitas contradições de Oswald. Um machista ciumento que pregava a utopia do matriarcado, um agnóstico que fazia promessas para Nossa Senhora de Aparecida, um lírico que escrevia as mais deliciosas indecências.
Oswald usava os meios de comunicação e sua influência na imprensa para expor suas opiniões e provocar polêmica. Na era das redes sociais, ele seria um heavy user dessas plataformas e, consequentemente, cancelado?
Oswald foi cancelado já à época, mesmo que ainda não existisse o conceito atual de cancelamento. Por causa de suas escolhas e atitudes, foi execrado, julgado e condenado pela dita intelectualidade, perseguido e massacrado pelos pretensos arautos da virtude. Morreu esquecido, pobre, doente, no mais completo ostracismo. Com seu humor corrosivo e seu extraordinário poder de síntese, talvez viesse a escrever, hoje, posts imbatíveis. Mas, talvez, também, não escapasse da polícia de costumes, dos fiscais da imperfeição alheia, das tretas incentivadas pelas belas almas, das retaliações incitadas pelos paladinos da moral punitiva, dos ressentidos à esquerda e à direita.
Negócios
As grandes fortunas estão de mudança para Punta del Este, o “Hamptons da América do Sul”

Os primeiros turistas chegaram na tarde de 2 de fevereiro de 1907, a bordo do navio a vapor Golondrina II. Empresários argentinos e uruguaios, de “alto poder aquisitivo, com visão clara e olfato apurado”, como se noticiou à época, vieram de Montevidéu, em uma viagem “tranquila, sem movimentos bruscos”. A excursão fora planejada por uma empresa local para promover o balneário que começava a despontar na porção mais oriental da costa do Uruguai: Punta del Este.
Os visitantes ficaram encantados com as praias de areias brancas e águas claras da região. Apenas três quarteirões separavam La Mansa, protegida pela baía do rio da Prata, da selvagem La Brava, aberta para o Atlântico. Alguns compraram ações da Sociedade Termal de Punta del Este, enquanto outros encomendaram a construção de chalés. E, assim, a estância se firmou como destino de verão — primeiro, das elites argentinas e uruguaias e, depois, do jet set internacional.
O tempo passou, os personagens do grand monde mudaram, mas Punta continuou sinônimo de elegância e requinte. Não à toa é hoje conhecida como o “Hamptons da América do Sul”. Nos últimos anos, no entanto, o perfil do lugar começou a mudar — sem jamais perder o glamour. É crescente o número de estrangeiros com bolsos fundos que escolhem a cidade para morar.
Aos poucos, Punta deixa de ser um destino para férias, agitada apenas entre dezembro e fevereiro, para se consolidar como endereço fixo de donos de grandes fortunas, empresários, investidores e executivos C-level, sobretudo das indústrias de tecnologia e de hedge fund.
Por trás desse movimento, está uma série de benefícios socioeconômicos, oferecidos pelo governo uruguaio e a busca por exclusividade, privacidade e qualidade de vida, potencializada pela pandemia de covid-19.
Apenas nos primeiros três anos da década de 2020, o boom imobiliário de Punta girou US$ 6 bilhões, em novos investimentos. And counting…
Equivalente uruguaio aos brasileiros Albert Einstein e Sírio Libanês, o Hospital Britânico, por exemplo, concluiu recentemente uma unidade no balneário. O mesmo aconteceu com a International College, escola privada bilíngue, frequentada pelos filhos das famílias de alta sociedade.
A chegada de americanos e europeus
Nada, porém, ilustra com tanta perfeição a nova vocação da cidade quanto o Fasano Las Piedras. Inaugurado em 2011, o condomínio ultrapremium combina hotel de luxo com um empreendimento imobiliário, focado no universo dos high-net-worth individuals, ou UNWIs — em bom português, os muito, muito ricos.
“Já temos hoje 11 famílias morando lá o ano inteiro”, diz Danilo Magrini, executive director da JHSF, responsável pelo empreendimento, em conversa com o NeoFeed. Dos 70 lotes lançados até agora, 56 estão vendidos. A maioria para argentinos e brasileiros. Mas os europeus e, principalmente, os americanos começam a chegar.
Três terrenos foram adquiridos por cidadãos dos Estados Unidos. Um deles, tem 55 mil metros quadrados (m²), onde será construída uma casa de 3,5 mil m², em um investimento de mais de US$ 30 milhões, conta Magrini. O comprador? O executivo de uma big tech.
O Fasano Las Piedras ocupa uma propriedade de 4,5 milhões de m², às margens do Arroyo Maldonado. Ao hotel, cabem 330 mil m². O resto é todo do condomínio, previsto abrigar apenas e tão somente 150 famílias. A título de comparação, a sofisticada Fazenda Boa Vista, empreendimento da JHSF, no interior paulista, tem 12 milhões de m² e 900 casas.
Em Punta, normalmente, os lotes variam de dois mil a cinco mil m², para residências de 400 a 600 m², a partir de US$ 2,5 milhões a US$ 3,5 milhões. “O cliente tem a opção de comprar somente o terreno e desenvolver o projeto por sua conta, mas nós também oferecemos a ele três, quatro tipologias de casa e entregamos tudo pronto”, explica Magrini. Tudo é tudo. Da arquitetura assinada pelo célebre Isay Weinfeld e Carolina Proto ao paisagismo e mobiliário.
A ser inaugurado em breve, o Villas Golf é, nas palavras do executivo da JHFS, o produto “mais aspiracional” do negócio. São lotes de mil m², com casas de 285 m² e preços entre US$ 1,5 milhão e US$ 2 milhões.
O suprassumo do luxo
O dono de uma propriedade no Fasano Las Piedras pode usufruir de todas as comodidades oferecidas aos hóspedes do hotel. Cinco restaurantes; piscina; spa; quadras de tênis; centro equestre, com pista de areia e picadeiro coberto; campos de golfe e de polo; beach club em La Barra, para onde cliente pode ir a bordo de um barquinho elétrico, em um passeio pelo rio Maldonado… e por aí vai.
“Se o residente quiser fechar o pacote com o hotel, pode ter, por exemplo, o café da manhã em casa, arrumação e abertura de cama todos os dias”, explica Magrini. É o suprassumo do luxo.
Para atender às expectativas do novo residente de Punta, cada vez mais exigente e globalizado, alguns serviços foram (ainda mais) refinados. O campo de golfe, projetado pelo americano Arnold Palmer (1929-2016), um dos maiores nomes do esporte mundial, ganhou mais nove buracos, em 2022, e agora tem 18.
No mesmo ano, foi inaugurada a pista de pouso privativa, com 1.260 metros de comprimento. O kids club tem agora 900 m², com monitores do hotel em tempo integral. “A horta orgânica também é muito utilizada pelos moradores”, lembra Magrini.
Os benefícios ficais
Enquanto grande parte do mundo mergulha em turbulências políticas e incertezas econômicas, a estabilidade e segurança jurídica proporcionadas pelo Uruguai despertam a atenção das altas finanças e negócios globais.
Na segunda menor nação da região, com 3,5 milhões de habitantes, os indicadores sociais, políticos e econômicos se revelam em superlativos.
Única democracia plena entre os vizinhos sul-americanos, tem maior PIB per capita e as menores taxas de pobreza. Possui a qualidade de vida mais alta e a matriz energética mais verde. É a menos corrupta e a mais avançada em pautas progressistas — a primeira a legalizar todos os usos da maconha e a permitir o aborto, em qualquer circunstância.
Mas o país só passaria a ser, de fato, considerado como destino de viver para os UNWIs, em 2020, com a eleição de Luis Lacalle Pou. Um mês depois de tomar posse, de modo a “ativar” a economia, o então presidente lançou um pacote de medidas para flexibilizar as regras de residência para quem vem de fora.
Os estrangeiros hoje devem investir, no mínimo, US$ 500 mil em uma propriedade e passar, ao menos, 60 dias por ano no Uruguai. Imóveis a partir de US$ 2 milhões isentam o comprador da obrigatoriedade da estadia — grupo onde está a maioria dos clientes do Fasano Las Piedras, informa o executivo da JHSF.
Entre as vantagens oferecidas aos estrangeiros, está a isenção de impostos sobre os rendimentos das aplicações no exterior, por 11 anos. O expatriado que queria empreender no país também está livre de uma série de tributos, por períodos de dez a 15 anos. Além disso, as tarifas uruguaias sobre sucessões e doações para ativos estrangeiros tendem a ser bem menores — inclusive, em comparação a vários países europeus.
Para se ter ideia, o número de gestoras de patrimônio estabelecidas no Uruguai saltou de 155 para 174, entre 2020 e 2023, indicam os analistas do Banco Central uruguaio.
O número de clientes cresceu 80%, chegando a quase 49,5 mil. E o volume de ativos, 29%, batendo US$ 37,2 bilhões, no período.
Com uma infraestrutura tecnológica bem estabelecida, o Uruguai vai se firmando também como um importante ecossistema de inovação na América do Sul. Várias techs estão levando seus headquarters e data centers para el paisito, como carinhosamente os uruguaios se referem à nação.
No fim de 2024, a Alphabet, por exemplo, anunciou o investimento de US$ 850 milhões, na construção de um centro de processamento do Google, na cidade de Canelones, a cerca de 50 quilômetros da capital Montevidéu.
Ao que tudo indica, o Uruguai está no caminho para consolidar o antigo sonho de ser “Suíça da América do Sul”.
Negócios
As ações de bastidor que têm projetado o cinema nacional para o mundo

BERLIM — No ano de um reconhecimento histórico para o Brasil no Oscar, com a indicação de Ainda Estou Aqui como melhor filme, o programa Cinema do Brasil chega à sua 20ª participação consecutiva no European Film Market (EFM). Ações de bastidores, criadas para fortalecer a imagem do país nos maiores mercados de filmes do mundo, contribuíram, ao longo dos anos, para o atual momento de celebração na indústria de cinema nacional.
“Nossas duas décadas de trabalho promovendo o cinema brasileiro no exterior estão surtindo efeito, principalmente porque temos bons cineastas, bons produtores e bons filmes. Uma coisa se soma à outra’’, diz André Sturm, criador e presidente do Cinema do Brasil — um programa de internacionalização do cinema nacional, estabelecido em 2006, pelo Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado de São Paulo (SIAESP), em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).
Sua missão é apoiar a venda e a distribuição de filmes brasileiros em territórios estrangeiros, incentivar as coproduções e desenvolver estratégias competitivas para melhor posicionar o país na cena mundial. Nos mercados de filmes, como o EFM, realizado paralelamente ao 75º Festival de Berlim, o programa representa mais de cem empresas associadas, facilitando as oportunidades de negócios para os participantes (geralmente produtoras e distribuidores de filmes).
“O Brasil vem em um crescendo’’, afirma Sturm, para explicar o resultado surpreendente alcançado pelo cinema do país. Além da indicação de melhor filme, a primeira de uma obra falada inteiramente em português na principal categoria do prêmio da Academia de Hollywood, Ainda Estou Aqui também concorrerá ao Oscar de melhor produção internacional e ao troféu de melhor atriz, com Fernanda Torres.
A trajetória de sucesso teve início com a seleção do título de Walter Salles para o Festival de Veneza, em setembro de 2024, quando a história de Eunice Paiva, que não abaixa a cabeça para a ditadura militar, foi premiada como o melhor roteiro e ainda caiu nas graças da crítica internacional.
Principalmente para os filmes não falados em inglês, a chance de gerar interesse mundial começa nos festivais de cinema — que, de preferência, culmine com uma indicação ao Oscar, considerado o prêmio máximo.
E o Cinema do Brasil marca presença justamente nos braços de negócios desses eventos, com destaque para as feiras de Cannes, de Berlim, de Locarno e de San Sebastián.
“Com o cinema brasileiro se tornando conhecido, nossos produtores e artistas ganham visibilidade e todos os agentes desse mercado passam a enxergar o audiovisual do país como relevante’’, defende Sturm, ao NeoFeed, em Berlim, onde o EFM segue até o dia 19.
No EFM de 2024, por exemplo, o Cinema do Brasil registrou US$ 10 milhões em negócios gerados imediatamente após as iniciativas na Alemanha — e uma expectativa de atingir US$ 48 milhões, em um ano.
Desde sua criação, o Cinema do Brasil impactou o mercado ajudando a movimentar US$ 97 milhões — ou US$ 407 milhões, com a projeção de resultados alcançados até um ano depois das ações promocionais.
Mais de 50 empresas associadas integram a delegação brasileira no atual EFM — em 2024, foram 38 participantes. Uma delas é a Vitrine Filmes, distribuidora de O Último Azul, filme com o qual Gabriel Mascaro concorre agora ao Urso de Ouro — depois de apresentar Divine Love, em 2029, na mostra brasileira Panorama.
Também está presente na delegação a Biônica Filmes, a produtora por trás de A Melhor Mãe do Mundo, de Anna Muylaert, selecionado para o Berlinale Special, marcando o retorno da diretora ao evento alemão, depois de Que Horas Ela Volta?, projetado na Panorama em 2015.
As ações de promoção em Berlim incluem, além do tradicional coquetel de networking, vários encontros de coprodução organizados pelo programa com representantes da Alemanha, Colômbia, Uruguai, Polônia, Reino Unido e Itália.
Um painel sobre a internacionalização do audiovisual brasileiro também integrou a programação oficial do EFM, com a participação de Sturm; de Marilia Marton, secretária de Cultura, Economia Criativa e Indústrias do Estado de São Paulo, e de Lyara Oliveira, presidente da Spcine, empresa voltada ao desenvolvimento do cinema e do audiovisual da capital paulista.
O encontro marcou a primeira vez em que o programa foi representado, em Berlim, por três instâncias governamentais: federal, estadual e municipal.
“Há muito tempo deixamos de ser um país exótico no cenário cinematográfico mundial’’, comenta o presidente do Cinema do Brasil. No início dos anos 2000, ressalta ele, o país fazia grandes filmes, mas eles não viajavam — exceto Cidade de Deus (2002).
“Títulos como Cazuza: O Tempo Não Para (2004), Olga (2004) ou Lisbela e o Prisioneiro (2003) teriam sido selecionados para grandes festivais se tivessem sido feitos dez anos depois. Mas, naquela época, não tínhamos políticas públicas nem iniciativas dedicadas à internacionalização do nosso cinema”, diz Sturm. “Nossos filmes faziam enorme sucesso no país e ponto.”
-
Entretenimento8 meses atrás
da Redação | Jovem Pan
-
Negócios7 meses atrás
O fiasco de Bill Ackman
-
Entretenimento6 meses atrás
Jovem Pan | Jovem Pan
-
Tecnologia9 meses atrás
Linguagem back-end: veja as principais e guia completo sobre!
-
Empreendedorismo9 meses atrás
5 maneiras de garantir acolhimento às mães na empresa
-
Tecnologia9 meses atrás
Linguagem de programação Swift: como programar para IOS!
-
Entretenimento9 meses atrás
Gisele Bündchen arrecada R$ 4,5 milhões para vítimas de enchentes no RS
-
Negócios8 meses atrás
As duas vitórias da IWG, dona de Regus e Spaces, sobre o WeWork: na Justiça e em um prédio em SP