Negócios
O que fez a ONEVC liderar aporte em startup que atende Klabin e Eurofarma
A startup Wehandle escolheu atuar em um segmento considerado pouco “sexy” pelo mercado. E, talvez, essa tenha sido a sua melhor opção. Operando na modalidade de software as a service (SaaS) desde 2020, a companhia utiliza inteligência artificial para fazer a gestão de terceiros para empresas de diversos segmentos e portes, como Klabin e Eurofarma.
Na prática, a startup substituiu o trabalho braçal das consultorias, que tinham a função de verificar o histórico de fornecedores na hora de serem contratados por corporações, na busca de evitar possíveis problemas futuros para esses contratantes.
Trazendo para a realidade, se você tem uma companhia e precisa contratar um profissional autônomo ou mesmo uma empresa para prestar serviços, você deve verificar a idoneidade desse prestador. Esse trabalho, que antes levava meses para ser realizado, passou a ser entregue em até 48 horas pela Wehandle e sua tecnologia.
Com esses documentos verificados em mãos, ou melhor, na plataforma, a empresa se tornou um hub que conecta esses profissionais aos contratantes e também a possíveis novos clientes, que confiam na documentação e na avaliação feita por lá. Hoje, existem em torno de 39 mil CNPJs dentro desse ecossistema.
Foram esses dados e números que chamaram a atenção da ONEVC, gestora de venture capital que tem como foco o investimento em startups no estágio inicial. A gestora liderou uma rodada seed de US$ 1,2 milhão na Wehandle, que teve também a participação de Grão e VentureHub.
Os recursos serão utilizados para expandir o alcance da plataforma, tanto em clientes como em tecnologia.
“Nós sempre fomos uma empresa com mentalidade de startup, pensando em crescer sozinhos. Porém, nós percebemos que o dinheiro poderia nos ajudar a corrigir algumas rotas e crescer de forma mais ágil”, afirma Rodrigo Faustini, CEO da Wehandle.
Para Alice Lepique, vice-presidente da ONEVC, um fator que chamou a atenção na tese da Wehandle foi que eles já apostavam em inteligência artificial antes de se tornar um assunto “legal”.
“Hoje, nós olhamos muito para a categoria IA vertical, que significa trazer muita eficiência para um trabalho humano e é isso que a Wehandle faz”, afirma Lepique.
“Unindo essa qualidade a um time de empreendedores muito qualificados e um efeito de rede eficiente, nós decidimos entrar de cabeça nessa”, complementa.
Para Sung Lim, CIO da Grão, com o aporte, a empresa será transformadora no setor. “Apostamos na Wehandle porque acreditamos que sua tecnologia pode mudar completamente o paradigma de gestão de fornecedores, que é um problema caro para as empresas.
De acordo com ela, uma gestão mais eficiente melhora o processo para todos os envolvidos e reduz os riscos trabalhistas.
Negócios
No Brasil, o copo está “meio cheio” quando se olha para o longo prazo
No momento em que a economia brasileira apresenta uma série de dificuldades macroeconômicas, deprimindo o humor dos investidores, o Pátria Investimentos e a Constellation Asset vêem o copo “meio cheio” para o Brasil quando o olhar é ajustado para o médio e longo prazo.
A avaliação é de que, apesar dos riscos que teimam em se perpetuar, o País apresenta boas teses seculares e também tem companhias robustas, líderes de mercado, capazes de fazerem frente a qualquer nome global e oferecerem bons retornos para quem não tem um olhar de curto prazo.
“Os ruídos e barulhos de curto prazo preocupam, o risco que tem que correr no Brasil é alto” disse Daniel Sorrentino, sócio e CEO do Pátria para as Américas, na terça-feira, 10 de setembro, na NeoConference, evento do NeoFeed que está discutindo o Brasil de hoje e do futuro.
“Mas com uma dose de conservadorismo na hora de escolher os investimentos, vemos que o Brasil, no longo prazo, tem companhias e ativos bons, remunera muito bem o capital. Falta de oportunidades não é um problema”, complementou.
Com mais de US$ 25 bilhões investidos em ativos reais no Brasil, o Pátria entende que alguns segmentos apresentam boas perspectivas quando se olha para um prazo mais longo, caso das áreas de energia, infraestrutura e agronegócio.
Além desses, Sorrentino destacou o setor de real estate, tese relativamente nova do Pátria e recentemente reforçada com a aquisição de 100% da VBI Real Estate, em agosto. Para ele, essa é uma classe com boas perspectivas, diante da demanda dos investidores, incluindo as pessoas físicas, e da oferta de ativos no mercado.
“Existe um potencial enorme para que fundos e gestoras tenham participação enorme no mercado de fundos imobiliários”, afirmou.
Na Bolsa, em que os humores andam voláteis por conta da situação fiscal local e a condução da política monetária nos Estados Unidos, Florian Bartunek, sócio-fundador e CIO da Constellation, avalia que as boas oportunidades existem para quem pensa mais além do curto prazo. “Na maior parte das vezes é melhor não focar no macro, mas nas companhias”, disse.
Por ter uma série de barreiras de entrada, legislações distintas em cada Estado, e que muda frequentemente, o Brasil representa um desafio para muitas companhias, segundo Bartunek, mas acaba sendo uma oportunidade para quem consegue navegar por esse cenário e tem uma visão empreendedora.
“As margens das empresas incumbentes brasileiras são muito altas”, afirmou. “A Localiza, por exemplo, é a melhor locadora de carros do mundo. A questão é achar os incumbentes capazes de durar por muitos anos”
Ele destacou que a escolha precisa ser feita com cautela, apontando para duas questões que deveriam ser fundamentais para os investidores como são para a Constellation. A primeira é se conseguem atender as necessidades dos clientes, enquanto a segunda é o nível de alavancagem financeira, dois fatores que Bartunek acredita serem essenciais para garantir a perenidade.
Tanto para Sorrentino quanto para Bartunek, o Brasil tem boas possibilidades de atrair investidores internacionais, considerando a situação geopolítica, a competência das empresas, a qualidade dos ativos e dos gestores, sendo bastante visados por chineses e países do Oriente Médio. Mas uma melhora da imagem e do pitch de vendas é fundamental.
“O Brasil tem oportunidade de se emparceirar com países que enxergam o País com posição estratégica e deveríamos liderar uma série de pautas”, disse Sorrentino. “Cada vez mais sinto falta das teses de investimentos para o Brasil.”
Negócios
“O Brasil tem todas as oportunidades disponíveis para capturar o potencial da IA”, diz Christian Gebara, da Vivo
A inteligência artificial (IA) continua sendo um dos assuntos mais comentados ao se falar de tecnologia e, no Brasil, não poderia ser diferente. No País, questões como infraestrutura, letramento e acessibilidade são determinantes para a adoção da IA. Com 215 milhões de habitantes, os desafios se multiplicam e uma questão fica no ar: o Brasil está preparado para o avanço tecnológico?
Christian Gebara, presidente da Vivo, e Sergio Chaia, CEO da operação brasileira da Unico, acreditam que sim, mas dizem ainda ser preciso desenvolver essa operação de forma estruturada. O assunto foi analisado pelos executivos no painel “Quem disse que o Brasil não é Tech”, dentro da NeoConference, evento do NeoFeed que está discutindo o Brasil de hoje e do futuro.
Para eles, no cenário macro, digitalização, infraestrutura, impostos e conectividade estão entre os pontos principais para serem pensados nesse processo. “A inteligência artificial exige infraestrutura, que é um ponto que a Vivo investe constantemente, tanto em 5G quanto na fibra, que são os meios que nos permitem usar a tecnologia aqui no Brasil”, afirma Gebara.
“A Vivo investiu R$ 9 bilhões no último ano para sofisticar a sua infraestrutura e auxiliar nesse momento de avanço tecnológico, ajudando a levar o acesso a mais regiões do país. Em 25 anos, já foram R$ 500 bilhões aportados nesse segmento”, diz o presidente da companhia.
Porém, ele lembra que, com o acesso cada vez mais disseminado, é preciso pensar em como preparar a população, que em grande parte não tem capacidades mínimas de letramento digital, para um mundo muito mais sofisticado e tecnológico.
A Unico, que foi considerada a segunda empresa de tecnologia mais valiosa do País, está utilizando a inteligência artificial para ajudar a população a evitar o lado ruim da tecnologia. Responsáveis por autenticar e proteger identidades no mundo digital, a empresa trabalha para ser mais rápida e eficiente do que os fraudadores locais.
“Eu costumo falar que a inteligência artificial atrai borboletas e mariposas. Ao mesmo tempo que é possível operar um paciente de forma muito mais rápida e efetiva com robôs movidos a IA, existe o lado sombra, que traz problemas como o deepfake e fraudes, que precisam ser endereçados para que essa convivência seja benéfica”, diz Chaia.
A empresa trabalha com inteligência artificial própria para comprovar a biometria dos usuários e também utiliza a tecnologia para treinar seus mecanismos de prevenção à fraude. “Nós precisamos estar sempre à frente do que os fraudadores estão criando e o nosso machine learning é essencial para nos colocar nessa posição”, diz o executivo da Unico.
Além do lado negativo da tecnologia, o presidente da Vivo relembra que, em um país como o Brasil, é preciso pensar nos impactos ambientais da inteligência artificial. Ele afirma que a tecnologia consome muita energia e água, então é necessário existir uma preocupação sobre o quanto isso vai trazer efeitos negativos e como minimizar essas questões.
“Pensando em todas essas questões, acredito que o Brasil tem todas as oportunidades disponíveis para capturar o potencial da IA e se tornar um nome importante na tecnologia”, diz Gebara. “Muito ainda está para ser criado e nós somos um país jovem, que tem a propensão à digitalização e, ajustando tudo o que conversamos, é possível capturar o melhor da IA.”
Negócios
“O Brasil é a empresa mais desequilibrada e a de maior prejuízo”, diz Mário Torós, da Ibiuna
A próxima reunião do Copom, que acontece entre os dias 17 e 18 de setembro, deve aprovar um aumento da taxa Selic porque o arcabouço fiscal não para de pé e o Brasil tem a maior dívida e o maior déficit nominal entre os seus pares.
Essa foi a conclusão do primeiro painel da NeoConference, evento do NeoFeed que está discutindo o Brasil de hoje e do futuro, realizado na manhã de terça-feira, 10 de setembro, que contou com a participação de Mário Torós, sócio e co-CIO da Ibiuna Investimentos, e Felipe Guerra, CIO da Legacy Capital.
“O Brasil é a empresa mais endividada e a que tem o maior prejuízo entre os seus competidores; isso não se sustenta, o que explica a taxa de juros elevada no País”, afirmou Torós, do alto de sua experiência no tema – ele comandou a diretoria de Política Monetária do Banco Central (BC) entre 2007 e 2009 e, nesse posto, teve papel ativo durante a crise financeira global de 2008/2009.
Gestor de estratégia macro da Ibiuna, com mais de R$ 19 bilhões sob gestão, Torós diz que o debate quanto ao aumento de 0,25 ponto percentual (p.p.) ou de 0,50 p.p. da Selic na próxima reunião do Copom é irrelevante.
Segundo ele, o ponto central é a discussão sobre o porquê de o Brasil não conseguir se livrar dessa anomalia de ter taxa de juros elevada. “Olhando nossos dados, a inflação está controlada, com desemprego perto do mínimo, mas o desequilíbrio fiscal é muito forte e insustentável ao longo do tempo”, diz ele. “O impulso fiscal desde o governo anterior, em 2022, gera a situação que temos hoje: a maior dívida e o maior déficit nominal, de 10% do PIB.”
Guerra, gestor da Legacy, com aproximadamente R$ 24 bilhões sob gestão, cita a “dissintonia do Brasil” em relação a outros países do mundo, com inflação em elevação e atividade forte. Segundo ele, os dados da economia apenas expõem as contradições do arcabouço fiscal.
“O arcabouço não para de pé, as despesas de saúde e educação crescem mais rápido que o teto, comprimindo as despesas discricionárias, isso vai ficando insustentável”, diz Guerra. “As despesas não cabem nessa regra e precisa de reformas estruturais, como da Previdência, isso vai gerar ruído à frente.”
Em relação à situação de o Banco Central contar até o final do ano com dois presidentes – o atual, Roberto Campos Neto, e o indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gabriel Galípolo –, os dois gestores não hesitaram em afirmar em qual deles o mercado deve ficar atento: Galípolo.
“São três reuniões do Copom até a efetivação da troca de comando, com inflação muito pressionada”, adverte Guerra. “Galípolo terá de escrever a carta no começo do ano explicando por que a inflação estará acima da meta”, prevê.
Para o gestor da Ibiuna, como o efeito de uma decisão de política monetária ocorre nove meses à frente, é natural que a preponderância da pessoa que vai assumir a presidência do BC seja crescente. “O que esperamos é clareza, uma vez que a capacidade de comunicação do Copom reduz o custo da política monetária”, diz Torós.
A eleição presidencial nos Estados Unidos também foi abordada pelos debatedores. Torós chama a atenção que, mais do que saber quem vai ocupar a Casa Branca, é a composição do futuro Congresso americano que interessa ao mercado.
Ele prevê uma divisão, com republicanos ganhando no Senado e os democratas levando a Câmara dos Representantes, o que vai limitar o raio de ação do novo(a) presidente. Torós, porém, aponta um setor que não depende do Congresso, a decretação de tarifas de importação – proposta defendida por Donald Trump, o que, segundo ele, preocupa o Brasil.
“Em abril, Trump citou o Brasil como país protecionista em relação aos EUA”, lembra Torós, citando que as tarifas médias de importação cobradas pelo Brasil é de 31%, contra apenas 3% cobradas pelos EUA. “Isso pode ser um risco para o País, afetando os ativos brasileiros.”
Guerra, por sua vez, adverte que as agendas mais radicais devem prevalecer no caso de o candidato vencedor tiver alinhamento com o Congresso. “Kamala Harris é mais do mesmo, com gasto fiscal elevado, com inflação e juros desacelerando, bolsa mais baixa”, aposta.
“Com Trump, porém, o Fed terá menos espaço para cortar juros, ele deve reduzir os impostos corporativos e manter o dólar forte, o que significa juro mais elevados e bolsa mais alta”, complementa o CIO da Legacy.
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