Negócios
Os planos de Juscelino Pereira para que o grupo Piselli tenha “a força de uma Gilette”
Pitadas generosas de ousadia, grandes porções de criatividade, ingredientes de qualidade e boas receitas são o segredo do sucesso de Juscelino Pereira, fundador, há vinte anos, do Grupo Piselli, uma das mais respeitadas marcas da alta gastronomia do Brasil.
Apesar se seus restaurantes serem recomendados pelo Guia Michelin 2024, o restaurateur acredita que para se manter no topo é preciso ir sempre além. Por isso, em janeiro de 2025, ele lança a primeira loja física do empório Mercato, paraíso gourmet que, desde 2020, só existe na versão online, e inaugura a quinta unidade do restaurante Piselli, essa no Shopping Iguatemi de Campinas, no interior paulista. Nos dois projetos, Juscelino investiu R$ 4 milhões.
Lá, o empresário pretende testar novas ideias, como a de um menu mais enxuto e a inclusão de um novo prato, o risoto negro com vieiras grelhadas e bottarga, ova de tainha desidratada em sal. “Outra novidade é que o cardápio trará ainda mais doces da nossa confeitaria, pães e especiais e sanduíches, porque queremos dar um foco ao brunch”, revela o empresário ao NeoFeed.
Sabiamente, ele não vai mexer nos “queridinhos” do Piselli, como os clássicos Risotto di Pisseli (feito com ervilha, marca registrada da casa), Ravioli di Fontina alla Crema di Tartufo Nero e Saltimbocca alla romana.
Para o Mercato físico, que funcionará no mesmo espaço do restaurante de Campinas, a ideia é continuar oferecendo produtos importados, mas ampliar a oferta de itens de marca própria — algo que ele também já está testando no site da loja. A Casa Russo, grife de decoração de mesa e utensílios de cozinha idealizada por Renata Russo, esposa e sócia de Juscelino, terá uma maior variedade de artigos, especialmente louças, talheres e tolhas de mesa.
“Desejamos ampliar a linha que carrega a marca do nosso grupo para nos diferenciarmos de outros empórios e para não termos de entrar na briga de preço com concorrentes gigantes”, explica.
Ainda de olho no futuro, Juscelino tem se movimentado para abrir, em 2026, mais um combo Piselli-Mercato, a ser instalado em um condomínio de luxo, ainda em fase de projeto na região do Itaim, uma das mais valorizadas de São Paulo.
“Não posso dar mais detalhes porque sou cauteloso e aprendi, com o tempo, que uma ideia deve ser maturada antes de ser divulgada”, justifica ele. “Mas posso garantir que, como sempre fiz, cada centavo investido será para manter a qualidade do menu, dos produtos, da equipe e das boas experiências para o cliente, porque é nisso que eu acredito.”
O desastre das ervilhas
Nascido em Joanópolis, interior paulista, o restaurateur cresceu em um ambiente onde o trabalho duro e a determinação eram muito valorizados. “Meu avô contava histórias sobre Juscelino Kubitschek, sobre a construção de Brasília e sobre negócios”, lembra.
Por isso, desde cedo, Juscelino — nome escolhido pelo avô para homenagear JK — já mostrava inclinação para os negócios. Começou ajudando o pai no balcão do armazém da família. Mas, desejando ter seu próprio dinheirinho, aos 15 anos, iniciou uma horta com o objetivo de vender o que colhesse.
Dois anos depois, em um rompante de ousadia, decidiu plantar ervilhas, um cultura completamente diferente do que era cultivado na região de sua cidade natal. Com o apoio da família, tocou a ideia adiante. Foi um desastre.
As sementes eram de ervilha torta, e não aquela em grãos. Além disso, a colheita foi feita depois do tempo certo. Mas Juscelino só descobriu isso no Ceasa, com a venda já acertada e o produto embarcado no caminhão do tio. Em vez de lucro, seu primeiro negócio trouxe frustração, mas logo ele se recuperou: “Eu sou uma pessoa que sempre olha para frente”.
Na semana seguinte ao desastre das ervilhas, ele aceitou um convite para trabalhar em um restaurante simples em São Paulo. Observador, rapidamente descobriu um segredo de ouro: quanto mais agradasse aos clientes, mais recompensas teria. Seguiu seu instinto e, por causa de sua dedicação, rapidamente cresceu.
De garçom virou maître, sommelier e gerente de renomados restaurantes paulistanos. Por onde passava, conquistava uma legião de clientes-fãs com seu sorriso largo e excelente atendimento.
O conselho do avô
Mas a grande virada na carreira de Juscelino aconteceu mesmo em 1992, quando conseguiu uma posição no renomado restaurante Fasano. E, novamente, graças à sua dedicação e talento ele passou a comandar o Gero em 1994, uma experiência descrita como fundamental para seu crescimento profissional.
“Tenho dois ídolos: Rogério Fasano e Massimo Ferrari. Do Rogério, com quem trabalhei por anos, posso dizer que é um perfeccionista e me ensinou muito. Eu sou mais generalista, mas aprendi a defender a qualidade a qualquer custo e entendi a importância de olhar para os detalhes”, elogia.
Durante seus anos no grupo Fasano, o empresário teve a oportunidade de viajar para a Itália, onde conheceu vinícolas e restaurantes renomados. Quando completou 30 anos, já estava estabelecido como um profissional respeitado no ramo.
E, inspirado por um conselho de seu avô, que dizia que “cada homem deve ter seu próprio negócio até os 35 anos”, ele começou a planejar o que viria a ser o Piselli, palavra italiana que significa “ervilha” — e uma “homenagem” à sua primeira decepção como empreendedor.
Em 31 de julho de 2004, exatamente no dia em que completava 35 anos, Juscelino inaugurou o primeiro restaurante Piselli, na Rua Padre João Manuel, no bairro dos Jardins, em São Paulo, que existe até hoje. O sucesso foi imediato. Os clientes conquistados durante seus anos no Fasano compareceram em peso à abertura, surpreendendo o novo empresário.
Insights de um “fuçador”
Hoje, além dos Jardins, o Piselli tem restaurante no Shopping Iguatemi de São Paulo, uma unidade no centro histórico da cidade e outra em Brasília. Até 2018, o grupo era formado por quatro sócios-investidores. Mas em 2018, Juscelino comprou a parte deles.
Juscelino e Renata estão à frente da operação com 150 colaboradores e 200 mil clientes servidos, todos os anos, nos quatro restaurantes. O ticket médio das casa é de R$ 200.
No site, lançado em 2020, por enquanto, os números são bem mais modestos: 200 pedidos, em média, são despachados mensalmente para todo o Brasil. “Mas vamos crescer para dez mil e depois mais, porque no mundo da internet o céu é o limite”, calcula com o otimismo típico dos empreendedores.
Entre os artigos mais vendidos estão os vinhos assinados pela grife do grupo, todos produzidos na Itália, com valores entre R$ 170 e R$ 600, a garrafa. O campeão de vendas é o Piselli Rosso Piemonte (R$ 195), com uva Babera.
Os clientes da plataforma também adoram as cápsulas de café, um blend exclusivo produzido em colaboração com a Orfeu (R$33,80) e os drinques prontos, vendidos em parceria com a APTK, em uma linha que inclui, negroni, spritz, martini e citric gin, entre R$ 130 e R$ 240.
“O público online é diferente da clientela do restaurante, porque ele quer ter algum produto, geralmente da nossa marca. Compra um ou dois itens por mês. É como quisessem levar para casa um pedaço do Piselli”, afirma.
Juscelino é autodidata. “Boa parte dos insights que tenho é porque gosto de ‘fuçar.” Ele sempre gostou de ler, frequentar palestras e, agora, diz estar “viciado” em podcasts sobre marketing e negócios”.
A amizade criada com os clientes publicitários também ajudou. “Eles me ensinaram várias coisas. Entre elas, que a marca é como um ser humano: tem vida, voz e personalidade. E foi o que tentei fazer com o Piselli. A ervilha está presente no logo, em pratos, pastas e salgadinhos crocantes porque isso reforça a ideia de marca”, conta. “Desde quando iniciei o projeto, queria que minha empresa tivesse a força de uma Gillette, que virou sinônimo de lâmina”.
Negócios
Infracommerce faz acordo com bancos e reestrutura dívida de R$ 641 milhões
A Infracommerce anunciou após o fechamento do mercado de segunda-feira, 7 de outubro, um acordo vinculante com seus principais credores – Itaú Unibanco, Santander, Banco ABC Brasil e Banco do Brasil – para reestruturar uma dívida de cerca de R$ 641 milhões, o que representa 85% do seu endividamento total.
Em fato relevante, a empresa anunciou ainda que Ivan Murias deixará o posto de CEO global para ocupar a presidência do Conselho de Administração. Em seu lugar, quem assume é Mariano Oziobala, que comandava a operação da companhia na América Latina.
Além de Murias, a empresa nomeou João de Saint Brisson Paes de Carvalho, que, entre outros postos, é presidente do Conselho de Administração da PDG Realty, como novo membro independente do seu board. A dupla substitui Peter Estermann, do Patria, que presidia o colegiado, e Pedro Jereissati.
“Fui convidado pelos bancos para assumir como chairman e, junto com o João, ajudar nessa nova fase, exercendo outro papel”, diz Murias, ao NeoFeed. “É sinal de que algo de bom foi feito até aqui.”
O movimento dá sequência ao memorando de entendimentos não vinculantes (MOU) divulgado em agosto pela empresa de full commerce na tentativa de alongar suas dívidas. Na época, o potencial acordo acompanhou uma “má notícia” dada pela companhia ao reportar seu resultado do segundo trimestre.
Sob o comando de Murias, que havia assumido como CEO quatro meses antes, a empresa incluiu um impairment de R$ 1,38 bilhão no balanço do período, fruto da série agressiva de M&As da empresa desde o seu IPO, em 2021, o que não foi bem digerido pelo mercado.
“Quando trouxemos à tona o tema da baixa contábil, que por muito tempo ficou encapsulado na operação, não se tratava do começo do problema, mas sim, da solução”, diz Murias, ao NeoFeed. “E esse fato relevante de hoje é a concretização dessa história.”
O acordo em questão será viabilizado pela constituição da Newco, veículo de gestão independente que irá consolidar as dívidas incluídas nessa reestruturação. E que, na prática, se tornará o único credor desse passivo.
A Infracommerce amortizará R$ 420 milhões do total de R$ 641 milhões por meio da dação em pagamento (uso de um ativo para quitar parte de uma dívida) à Newco das suas ações de emissão na New Retail Limited – o braço por trás dos seus negócios na América Latina –, que representam 83,6% do capital social nessa operação.
Nessa composição, o saldo remanescente da dívida, estimado em cerca de R$ 221 milhões, será usado posteriormente pela Newco em uma emissão de debêntures privadas que serão subscritas e integralizadas pelos bancos credores. E que terá vencimento de cinco anos a partir da sua data de emissão.
Segundo o fato relevante, as debêntures serão mandatoriamente conversíveis em ações ordinárias de emissão da Infracommerce e o preço por ação será equivalente à média ponderada do volume de papéis da empresa negociados nos 30 pregões anteriores.
O acordo abre ainda a possibilidade de adesão de outros credores considerados relevantes. E traz o compromisso dos quatro bancos credores de não tomarem qualquer medida judicial ou extrajudicial contra a empresa até a conclusão das obrigações previstas em seu plano de reestruturação.
Murias destaca que, com essa readequação da estrutura de capital, fruto de negociações que se estenderam por seis meses, a empresa afasta definitivamente qualquer risco de recorrer a uma recuperação judicial ou extrajudicial, algo que vinha sendo ventilado no mercado.
“Com o compromisso de conversão da dívida remanescente em equity, na prática, mesmo que por meio da Newco, é como se passássemos a ter esses quatro bancos como acionistas”, diz. “É um voto de confiança de que a estrutura de capital está acertada e também na gestão e no potencial do negócio.”
A Infracommerce também negocia um novo financiamento de até R$ 70 milhões, dividido em três tranches, junto à Geribá Investimentos, conforme informou em fato relevante divulgado no início de setembro. A expectativa é de que esse acordo seja fechado nos próximos dias.
“Há uma crença de que quem chegou teve a sabedoria de dar um passo atrás e construir um caminho de saída”, afirma o executivo. “Ao mesmo tempo, isso só foi possível porque os credores entenderam que essa gestão e esse board não foram os responsáveis pelo contexto por trás dessa crise.”
Equívocos e correções de rota
O executivo ressalta os méritos de Kai Schoppen – fundador da Infracommerce, a quem substituiu como CEO – e de seus pares, especialmente no roteiro que levou a empresa ao IPO, em maio de 2021. Mas aponta os erros cometidos após a oferta, que trouxe R$ 902 milhões para o caixa da companhia.
“A Infracommerce é uma empresa de prestação de serviços, que integra soluções de parceiros”, diz Murias. “E, com esse caixa generoso e a Selic em baixa, o grande equívoco foi acreditar que poderia desenvolver sua própria tecnologia.”
Em sua visão, ao eleger os M&As como o atalho para essa virada, a empresa também cometeu erros. Além do preço das aquisições e dos juros que, posteriormente, pesaram sobre o balanço, ele observa outra herança crítica associada a essa alocação desenfreada e equivocada dos recursos.
“A companhia trouxe diversas soluções, mas a integração desse portfólio ficou fora do radar”, diz. “E isso criou um desequilíbrio brutal, já que a empresa arrecadava como prestadora de serviços e alocava capital como uma desenvolvedora de tecnologia. E isso teve sequência com os follow ons pós-IPO.”
Na contramão dessa orientação, ele destaca que a operação na América Latina, comandada, até então, por Oziobala, seu sucessor, sempre foi tocada com o viés mais centrado em serviços e “muito pé no chão”. O que resultou em sistemas unificados, menos complexidade e resultados mais saudáveis.
Já no Brasil, após sua chegada e com o apoio da Bain & Company, Murias adotou medidas para começar a estancar os riscos. A empresa entregou um dos dois andares que ocupava no Centro Empresarial Nações Unidas, na zona sul de São Paulo, e demitiu cerca de 30% do seu time, especialmente no C-Level.
A Infracommerce também fechou quatro dos seus sete centros de distribuição, além de buscar a renegociação de preços e condições de contratos que representavam 35% de sua carteira, dada a percepção de que muitos desses clientes eram deficitários. Essa última etapa já foi concluída.
Ele ainda enxerga margem para potenciais reduções na área usada pelos centros de distribuição mantidos na operação. Bem como para novos cortes, na ordem de 10% a 15% da equipe, mais centrados no time operacional.
Outro passo em execução envolve a integração das tecnologias e ativos incorporados nos últimos anos. Esse processo passa também pela redução do número de parceiros que compõem o portfólio em áreas como pagamentos e logística, outro legado dos M&As realizados.
A ideia é eliminar a complexidade de opções à disposição dos clientes e tornar essa oferta mais eficiente e acessível. Em alguns casos, diz ele, 80% da carteira adotava a solução de um parceiro, enquanto os 20% restantes usavam outras alternativas do portfólio.
“Em pagamentos, por exemplo, nós operávamos com 9 parceiros. Vamos concentrar em três”, diz. “Vamos migrar para alguns pacotes principais que, por sua vez, vão nos permitir ser mais flexíveis e repassar parte dessa eficiência para o preço na ponta.”
Esse trabalho conta com a participação de Luiz Pavão, cofundador da Infracommerce, que foi nomeado como novo general manager da companhia no Brasil em setembro. Membro do conselho da empresa na América Latina, ele estava afastado do dia a dia da operação desde 2022.
“Quando cheguei, pedi para falar com pessoas que participaram dessa história e o Pavão foi uma das conversas mais lúcidas que tive”, conta Murias. “Lá atrás, ele criticou e se mostrou descrente na tese de crescimento inorgânico acelerado e acabou se afastando. Ter ele de volta é muito emblemático.”
Com esse reforço e o plano de zerar boa parte dos desafios operacionais para ingressar em 2025 pronta para se concentrar na retomada do crescimento da empresa, a estimativa é de que muitas das ajustes em curso sejam concluídos nos prazos de 30 a 60 dias.
Se o prazo estimado para finalizar essa etapa é curto, tudo indica que a Infracommerce tem um longo caminho a percorrer para recuperar a confiança do mercado.
Cotadas a R$ 16 na época do IPO, as ações da empresa fecharam o pregão da segunda-feira, 7 de outubro, na B3 cotadas a R$ 0,16, queda de 5,88% sobre o pregão anterior. Os papéis acumulam uma desvalorização de 91,3% em 2024, dando à companhia um valor de mercado de R$ 102 milhões.
Negócios
Risco de recessão nos EUA cai para 15% e pouso suave da economia fica mais próximo
O Goldman Sachs melhorou as suas perspectivas para o desempenho da economia americana neste ano e reduziu as chances de recessão do país em cinco pontos percentuais, para 15%.
A mudança de rota ocorreu após o Departamento de Trabalho dos Estados Unidos divulgar, na sexta-feira, 4 de outubro, que a criação de vagas de emprego aumentou em ritmo acelerado em setembro, atingindo 254 mil novos postos de trabalho no período. Essa foi a maior alta dos últimos seis meses.
Com a taxa de desemprego atingindo 4,1%, os dados acalmaram o medo do mercado de que a demanda por mão de obra estivesse mais fraca do que o esperado. Na visão do economista-chefe do Goldman Sachs, Jan Hatzius, o relatório “reestruturou a narrativa do mercado de trabalho”, afirmou o executivo em um relatório.
Com a nova perspectiva, o banco manteve sua previsão de que o Federal Reserve fará cortes consecutivos de 0,25 ponto percentual até que atinja uma taxa de 3,25% a 3,50% em junho de 2025. “Agora, vemos um risco muito menor de outro corte de 50 pontos-base”, disse Hatzius.
A opinião do banco vai de encontro com a perspectiva do mercado. De acordo com a ferramenta FedWatch do CME Group, 95,2% dos especialistas acreditam que o corte de novembro virá na casa de 0,25 ponto percentual. Antes do payroll, esse número estava em 71,5%.
“De forma mais ampla, não vemos razão óbvia para que o crescimento do emprego seja medíocre em um momento em que as ofertas de emprego são altas e o PIB está crescendo fortemente”, completou Hatzius.
Porém, a visão positiva não define resultados. No dia do anúncio, o presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, afirmou que os dados efetivamente vieram muito bons, mas que o banco central não pode reagir ao resultado de um dado isolado. O comentário foi feito à Bloomberg TV.
Segundo ele, o próprio Fed não sabe qual será a taxa neutra de juros na qual deverá se fixar. Porém, a maioria dos membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) sugere que a taxa atinja essa meta entre 2,5% e 3,5%.
Apesar das perspectivas positivas, outubro não deve ser um mês tão positivo quanto setembro, já que a temporada de furacões pode impactar o mercado como um todo, na visão do Goldman.
Negócios
Inteligência artificial ajuda mineração a “explorar” novas fronteiras
Todos os dias, trens da mineradora Vale circulam por cerca de 2 mil quilômetros de ferrovias, levando toneladas de minério de ferro, manganês e cobre, entre outros materiais. As duas estradas de ferro, sob concessão da companhia, operam em dois sentidos. Em um deles, as composições saem das minas com destino às usinas de beneficiamento. No outro, os vagões retornam vazios, para serem carregados novamente.
Em alguns pontos, a via é de mão única. É o caso da ponte sobre o rio Tocantins, na Estrada de Ferro Carajás, que liga a cidade de Parauapebas, no Pará, e o Terminal Marítimo de Ponta da Madeira, no Maranhão. Nessas condições, é preciso escolher qual dos trens vai parar para que o outro passe.
Até 2020, essa decisão era tomada pela equipe de funcionários da mineradora. “Os operadores tinham uma norma tácita de sempre parar o trem vazio”, conta Alexandre Altoé Pigatti, head de inteligência artificial e democratização da Vale, em conversa com o NeoFeed. O motivo: o acionamento do veículo carregado, depois da pausa, gastaria mais combustível. Até que a inteligência artificial (IA) entrou em jogo e surpreendeu os humanos.
“A IA identifica situações em que é melhor parar o trem carregado. Isso ocorre, por exemplo, quando ele está em um perfil de rampa compensada que seja declive. Nessa situação, a quantidade de diesel necessária para retirar o trem carregado da inércia pode ser menor do que para movimentar o vazio que por sua vez está num aclive”, explica Pigetti.
Dependendo do que for decidido em uma primeira parada, a tecnologia faz recomendações sobre como deve ser a dinâmica do restante do percurso.
Este caso é um dos muitos que mostram como a IA está transformando a mineração. Nos últimos sete anos, a ferramenta vem sendo usada para as mais diversas funções.
Desde as atividades administrativas, como a geração de relatórios, até as mais delicadas, como aquelas que exigem a exposição de funcionários a situações de risco, como o desmoronamento de uma rocha.
“A base de tudo está na capacidade que a inteligência artificial tem de correlacionar dados e apresentar conclusões que ajudam na tomada de decisão. E isso pode ser aplicado em inúmeras frentes”, afirma Tiago Fontes, diretor de ecossistema e marketing da Huawei do Brasil — a companhia chinesa é uma das maiores fornecedoras de equipamentos para redes e telecomunicações do mundo. “Como consequência, ganha-se em segurança, eficiência, sustentabilidade e economia de tempo e dinheiro.”
Determinadas atividades minerárias oferecem risco, como a operação de veículos gigantescos, a ida a áreas remotas (muito altas ou muito subterrâneas) e o transporte e o manejo de materiais que se contam às toneladas. Agora, essas funções começam a ser realizadas pelas máquinas — ou, pelo menos, com o suporte delas.
Um caso: depois de extraído, o minério precisa passar pelo britador. Trata-se de um equipamento gigantesco que quebra o material em pedaços menores, para facilitar o transporte. Embaixo dele, fica outra estrutura, chamada sapata, que recebe essas porções que foram partidas.
Faz parte do procedimento normal, entre uma etapa e outra uma pessoa entrar embaixo da sapata para verificar se as peças estão todas no lugar. “Por mais que isso só seja feito com equipamentos de segurança, existe sempre um risco de acidente”, diz Pigetti.
Desde 2021, quem realiza essa função é uma câmera de última geração. Programado, o equipamento identifica com acurácia possíveis danos ou erros de ajustes. Quando alguma coisa não está de acordo, a máquina soa uma alarme. Só então, um funcionário é designado a ir até a sapata para fazer o reparo.
Dispositivos que identificam problemas, aliás, estão entre as primeiras soluções de IA nas minas. Em 2017, a Vale colocou em uso detectores de possíveis danos em pneus fora de estrada, os caminhões enormes que fazem o transporte do material minerado.
Eles acusam, por exemplo, o risco de furo, antes do pneu furar, economizando assim alguns milhões de reais. Além do gasto com o reparo, o custo de parar a operação quando algo importante quebra é altíssimo. “Hoje, os modelos conseguem predizer um rasgo, por exemplo, com até duas semanas de antecedência”, afirma Pigetti.
Atualmente, os caminhões fora de estrada funcionam com diversas outras funções orientadas por IA. Entre elas, recomendações aos operadores sobre as melhores velocidades por trecho. Assim é possível não só evitar acidentes, como otimizar o consumo de combustível e reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Fora das minas
A IA também continua operando para fora das minas. No porto, antes de abastecer um navio, é preciso avaliar a umidade em que o minério que será transportado se liquefaz para, assim, ajustar as condições do ambiente. Esse procedimento evita que a carga derreta e provoque o afundamento da embarcação durante o trajeto.
Antigamente, essa medição era feita exclusivamente em laboratório em uma análise que podia durar até três horas. Só depois do resultado, a carga era liberada. Um prejuízo e tanto, já que, por hora, são carregadas 16 toneladas de minério de ferro. Desde 2020, o cálculo de umidade é feito por IA, que emite o resultado em minutos, evitando que a operação fique parada.
“O teste continua sendo realizado no laboratório, apenas para fins burocráticos e, em 97% dos casos é exatamente o mesmo daquele identificado pela máquina”, garante Pigetti. Segundo a companhia, os ganhos com as soluções de IA já ultrapassaram os R$ 300 milhões.
A IA também tem facilitado o trabalho nos escritórios. Sistemas de democratização de tecnologias permitem que usuários dos mais variados cargos usem aplicativos de suporte. Alimentados com manuais técnicos, por exemplo, assistentes virtuais emitem gráficos, relatórios, preparam material para reuniões e respondem perguntas específicas como normas técnicas.
Tecnologias assim agilizam o trabalho e evitam que uma pessoa abra mão de tempo criando algo ou executando uma tarefa mais elaborada para fazer algo que pode ser delegado a um robô. Mais do que isso: essas ferramentas ajudam a suprir a carência que o setor tem por algumas funções dentro e fora da mina.
“Hoje em dia, faltam profissionais em diversas áreas da mineração. Os jovens não querem mais ocupar atividades de risco ou que exigem ir a campo”, afirma Bartira Carvalho, gerente de vendas regional na Datamine, fornecedora de softwares para mineração, compartilha da opinião. “Existe ainda uma carência de mão de obra especializada e que pode ser suprida por tecnologias que carregam histórico de dados complexos.”
Junto com as facilidades, porém, vem o receio de perder postos de trabalho humano para as máquinas. “O medo está em quem vê a IA como fim e não como meio”, diz ao NeoFeed, João Camilo Costa, head de soluções digitais da Innomotics, empresa que desenvolve e fornece soluções em eletrificação, automação e digitalização para a mineração.
E ele completa: “Há quem diga que o ser humano vai ser completamente substituído pela IA. Na minha opinião, quem vai desaparecer são as pessoas que não têm a tecnologia como aliada”.
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