Negócios
Saint-Gobain reforça estrutura (e a relevância) do Brasil em seu mapa global

Aos 61 anos, Javier Gimeno é um veterano de Saint-Gobain. Após iniciar sua carreira no grupo francês em 1987, ele cumpriu diversas escalas nas operações da gigante de materiais de construção, avaliada em € 45,2 bilhões. Da sua terra natal, a Espanha, até a França e a região Ásia-Pacífico.
Desde 2021, o executivo está instalado em São Paulo, de onde comanda os negócios da empresa na América Latina. Tradicionalmente, a região representa cerca de 10% das vendas da companhia, que, nos dados mais recentes, apurou uma receita global de € 35 bilhões nos primeiros nove meses de 2024.
Em outro dado que reforça a relevância da região, o Brasil costuma figurar entre os cinco principais mercados globais da Saint-Gobain. E para se manter nesse clube seleto, o País está no centro de parte dos próximos investimentos na América Latina, com foco em produção, pesquisa e inovação.
“A Saint-Gobain tem muita confiança na América Latina”, diz Gimeno, vice-presidente sênior e CEO da Saint-Gobain para a América Latina, ao NeoFeed. “E o Brasil é, sem dúvida, o centro de gravidade da nossa presença aqui. O País joga o papel de catalisador do grupo na região.”
O grupo entende que, como um player importante nesse jogo, o Brasil já está bem atendido no que diz respeito à capacidade de produção. Hoje, a empresa mantém 58 fábricas no País e 90 na América Latina. Mas há exceções nesse campo, com abertura para investimentos seletivos em novas unidades.
Nesse contexto, a Saint-Gobain está dando andamento às negociações para o início da construção de uma nova linha de placa de gesso – material usado em construções como as paredes de drywall – no Brasil, ainda neste ano e com início de operação previsto para 2026.
Segundo Gimeno, a unidade vai demandar um aporte de “dezenas de milhões de euros”. Em 2024, o grupo inaugurou uma segunda linha em Mogi das Cruzes (SP). Com o novo projeto, sua capacidade anual de produção total no segmento deve saltar de 80 milhões para 140 milhões de metros quadrados.
O executivo não revela, porém, onde será instalada a nova planta e diz apenas que provavelmente será na região Nordeste. Mas, conforme apurou o NeoFeed, a Saint-Gobain já mantém negociações com o governo da Bahia para que a cidade de Feira de Santana abrigue o projeto.
Ainda na área fabril, a companhia está reservando espaço para investimentos em automação e digitalização em outras unidades. Além de projetos para acelerar a descarbonização dos seus processos, dentro da meta de reduzir suas emissões de carbono em 33% até 2030.
O plano de curto e médio prazo da Saint-Gobain para o Brasil também passa pela expansão do centro de pesquisa e desenvolvimento (P&D) da companhia instalado em Capivari, cidade que fica a cerca de 400 quilômetros de São Paulo. Hoje, essa estrutura é formada por mais de 70 cientistas e a ideia é dobrar esse time nos próximos doze meses.

“O driver dessa expansão é a nossa necessidade de fugir do risco de comoditização dos nossos produtos”, afirma o CEO. “São produtos mais técnicos, inovadores e mais respeitosos com o meio ambiente. E que acreditamos que se traduzem rapidamente em crescimento adicional.”
A unidade é um dos seis centros de P&D do grupo no mundo e o único na América Latina. A localização e a adaptação de produtos globais para o mercado local é uma de suas atribuições. Mas essa equipe também se dedica a desenvolver inovações adotadas em outras operações da empresa.
“Esse centro tem um papel relevante em linhas e produtos em que o Brasil é reconhecido no mundo inteiro”, observa Gimeno. “Isso inclui, por exemplo, os impermeabilizantes asfálticos e as placas de fibrocimento.”
Leve e sustentável
O contexto por trás desses dois novos projetos de expansão envolve dois eixos. O primeiro segue a orientação global do grupo de reduzir sua dependência do mercado europeu e avançar nos Estados Unidos e em mercados emergentes como a América Latina e, principalmente, o Brasil.
Já o segundo vem no rastro da pegada, também global, de construção leve e sustentável. A ideia é priorizar ofertas que exijam menos recursos para produção. Além de reduzir custos e permitir instalações mais rápidas e mais fáceis, entre outras vantagens.
Gimeno diz que o portfólio atual já tem itens cuja fabricação utiliza 50% menos energia e traz ganhos de produtividade de cerca de 20%. Mas há um outro dado que sustenta essa aposta: a percepção de uma demanda cada vez maior por esses produtos e, ao mesmo tempo, a penetração ainda baixa no Brasil.
“No caso, por exemplo, das placas de gesso, o consumo no Brasil é de apenas 0,8 metro quadrado por ano. Nos Estados Unidos, são 10 metros”, diz o executivo. “Então, nós acreditamos que temos espaço para aumentar radicalmente essa taxa de penetração.”
Essa visão é o que também dá fôlego para que a Saint-Gobain atravesse o cenário macroeconômico do País, que Gimeno classifica como de “leitura difícil”, com a mescla de bons indicadores, como a queda na taxa de desemprego, com dados nada favoráveis, como a elevação da taxa de juros.
Já no campo de aquisições, ele diz que, no Brasil, a Saint-Gobain pode olhar apenas para acordos de menor porte, que complementem a oferta. O mesmo não acontece em outros países da região. No México, por exemplo, o grupo acabou de concluir a compra da Ovniver, seu maior acordo na região.
Ainda no que diz respeito aos M&As, Gimeno desconversou sobre uma possível venda da Telhanorte. Operação de varejo de materiais de construção do grupo no Brasil, a marca convive, há anos, com rumores sobre um acordo nessa direção.
“Essa é uma pergunta que está na mesa desde a minha chegada. A Saint-Gobain não ia vender e não vendeu. Mas não vai ampliar a exposição ao varejo brasileiro e vem otimizando essa rede”, diz. “E vamos dar sequência em 2025, com algumas lojas não rentáveis sendo fechadas. Mas nada brutal.”
Negócios
Renda fixa ajuda BTG Pactual a ter lucro e receita recordes em 2024

O BTG Pactual fechou 2024 com recordes de receita e lucro, superando um cenário de alta de juros e de deterioração do cenário macroeconômico no Brasil.
O maior banco de investimentos da América Latina divulgou, nesta segunda-feira, 10 de fevereiro, que teve um lucro líquido ajustado de R$ 12,3 bilhões em 2024, alta de 18% em relação a 2023. A receita somou R$ 25,1 bilhões, alta de 16%.
O retorno ajustado sobre o patrimônio (ROAE) atingiu 23,1% no ano passado, acima dos 22,7% de 2023, com o total de ativos no fim do ano subindo 31%, a R$ 646,8 bilhões.
Ao longo dos trimestres de 2024, o BTG foi batente recordes. No três últimos meses do ano passado, não foi diferente: o lucro líquido ajustado foi de R$ 3,3 bilhões, crescimento de 15% em relação ao quarto trimestre de 2023, as receitas totais atingiram R$ 6,7 bilhões, alta de 19%, e o ROAE foi de 23%.
Um dos destaques no ano passado foi a franquia de clientes. Mesmo com a volatilidade dos juros, o segmento manteve a captação positiva, em meio à forte demanda por produtos de renda fixa.
No ano passado, a captação líquida (NNM) somou R$ 247 bilhões, acima dos R$ 205 bilhões de 2023. No quarto trimestre, o banco registrou cerca de R$ 50 bilhões, acima dos R$ 41 bilhões do mesmo período de 2023. Com esse resultado, o BTG Pactual alcançou R$ 1,9 trilhão em recursos de clientes sob gestão e administração, alta de 21%.
A franquia de clientes é vista por analistas como uma das fortalezas do banco para lidar com um 2025 mais nebuloso, em um ano em que a renda fixa deve seguir puxando os resultados. Além disso, a área ganhou um reforço com a aquisição, por R$ 615 milhões da operação da Julius Baer no Brasil.
A incorporação, que ainda precisa ser aprovada pelo Banco Central (BC), promete expandir a parte de gestão de fortunas do BTG Pactual, com o banco estimando que passará a gerir mais de R$ 100 bilhões somente no seu multifamily office, transformando o banco no maior prestador desse tipo de serviço no País. O BTG Pactual também fechou a aquisição da Clave Capital, um movimento que fortalece a asset do banco, lançando novos fundos.
A renda fixa também foi responsável pelos resultados do investment banking (IB), com perspectivas de que siga sendo relevante nos resultados de 2025, ainda que existam dúvidas sobre se as companhias ainda precisam ou querem acessar recursos e em meio à cautela dos investidores.
Enquanto o mercado de equity continua anêmica, a área de debt capital markets (DCM) apresentou contribuição recorde, embalada pelas emissões recordes de dívida pelas empresas no ano passado. Junto com a parte de M&A, DCM ajudou o IB do BTG Pactual a fechar 2024 com R$ 2,1 bilhões em receitas, alta de 30%. Considerando apenas o quarto trimestre, as receitas foram de R$ 510 milhões, alta de 10% em base anual.
A área de corporate lending and business banking apresentou recorde de receitas em 2024, de R$ 6,5 bilhões, avanço de 27%. No quarto trimestre, a receita foi de R$ 1,8 bilhão, alta de 35%. O portfólio de crédito atingiu R$ 221,6 bilhões no ano, avanço de 29%, com a carteira de pequenas e médias empresas totalizando R$ 26 bilhões, avanço de 27% no ano.
A questão, agora, é como o banco vai se comportar em termos de concessão de crédito. Os principais bancos brasileiros têm informando que deverá ter cautela nessa área ao longo de 2025. Esse é um tema ainda mais relevante para PMEs, embora, para esse público, as operações do banco sejam colateralizadas.
Já a área de sales & trading, que inclui corretagem e operações de mercado, viu a receita cair 4% no ano passado, para R$ 6 bilhões, mesmo com a alta de 10% vista na receita do quarto trimestre, que somou R$ 1,5 bilhão.
No ano passado, a área apresentou sua menor exposição a risco de mercados do que em anos anteriores, com o VaR (medida de perda percentual de uma carteira de investimentos) de 0,21% no ano e 0,13% no trimestre.
Em relatório publicado antes da divulgação dos resultados, os analistas do Goldman Sachs destacaram que as ações do BTG Pactual são sua preferência para o próximo ano.
“Olhando para 2025, acreditamos que o ROAE deve continuar expandindo no BTG, apoiado pelo crescimento ainda saudável da asset e do wealth management, empréstimos corporativos e interest and others à medida que os juros sobem”, diz trecho do relatório.
O Itaú BBA apontou que as ações do BTG Pactual apresentam um relação de risco e retorno favorável, considerando o P/E de 7,7 vezes para 2025. Já o Citi enxerga um upside de 53% para as ações, destacando que a diversificação da receita deve continuar impulsionando o retorno.
As units do BTG Pactual fecharam o pregão de sexta-feira, 7 de fevereiro, com alta de 0,06%, a R$ 32,12. Em 12 meses, os papéis registram queda de 14,5%, levando o valor de mercado a R$ 134,7 bilhões.
Negócios
Bill Gates e a invenção de um futuro que já dura meio século

Seis anos havia se passado desde a chegada do homem à Lua, em julho de 1969, quando Bill Gates, aos 19 anos, junto com Paul Allen, começou a redefinir o curso da humanidade.
Era o início da revolução tecnológica e jovens intuitivos, como eles, se lançavam na corrida pela criação de um computador doméstico que se destacasse pela eficiência, durabilidade e praticidade. Não sabiam exatamente como chegariam lá, mas sabiam que faziam parte de algo muito grande — algo que mudaria radicalmente o mundo e o modo como a vida era encarada até então. Em meio essa efervescência transformadora, em 2 de janeiro de 1975, os amigos fundaram a Microsoft.
Quem conta essa história é o próprio Gates em Código-fonte — Como tudo começou, o primeiro volume de sua trilogia autobiográfica, lançado mundialmente na terça-feira, 4 de fevereiro.
Aos 69 anos, o empresário se sai bem no desafio de revelar a vida pessoal e a aventura criativa que o transformou em um dos homens mais ricos do planeta e uma das personalidades mais influentes dos últimos 50 anos.
Com a maturidade que a idade lhe trouxe, uma sinceridade surpreendente e uma escrita fluente e confessional, marcada por momentos de emoção e um modo gentil de tratar até mesmo adversários, Gates vai dos primeiros anos da infância até os passos iniciais que o levariam à ascensão da Microsoft, em um relato de quase 400 páginas.
Acompanhamos suas primeiras paixões, as inseguranças da adolescência de um nerd e as aspirações no mundo da lógica, de matemática e de tecnologia.
Lembra os ensinamentos da avó, que o ajudariam ao longo de toda a vida. Dos pais ambiciosos, porém presentes e motivadores — desde que o segundo dos três filhos não abandonasse os estudos. E da morte repentina de seu melhor amigo, Kent Evans, em um acidente de escalada, aos 17 anos.
O livro está repleto de histórias nunca reveladas, nem mesmo por seus biógrafos. Ele mostra como desenvolveu desde cedo uma paixão pelo raciocínio lógico, até fundar, em 1975, a Micro-Soft (sim, escrevia-se dessa forma), em parceria com Paul Allen, quando estava no segundo ano da Universidade Harvard e não sabia que rumo dar à sua vida.
Até que “Paul, um dos meus amigos de Lakeside [escola privada, em Seattle, onde o empresário estudou], entrou de rompante no meu quarto com a notícia do lançamento de um computador inovador. Eu sabia que poderíamos escrever uma linguagem BASIC para ele, pelo que tínhamos vantagem”.
Código na neve
Imediatamente Gates lembrou “dia miserável no desfiladeiro de Low Divide” e resgatou da memória o código escrito, ao longo da longa caminhada na neve com alguns colegas, anos antes. Ele percorrera a trilha meio a contragosto e, durante o percurso, ocupou a cabeça com números e a criação de um sistema operacional.
“Depois, introduzi-o num computador, lançando a primeira semente daquilo que se tornaria numa das maiores empresas de informática do mundo e o princípio de uma nova indústria”, acrescenta, sem modéstia.
A história para Gates e Allen começou quando nascia o primeiro software da então Micro-Soft, o interpretador Microsoft Altair BASIC para o computador Altair 8800, da MITS. Através de um anúncio na revista Popular Electronics (na época os computadores só eram vendidos dessa forma, por correspondência), os dois tomaram conhecimento do lançamento dessa máquina e ficaram maravilhados com as novas possibilidades que surgiam ali.
Um ano depois, com uma caneta esferográfica azul, Gates destacou o que considerou como o principal parágrafo de uma reportagem da revista Newsweek: “A indústria de computadores domésticos já começa a se parecer com uma versão em miniatura do mercado de mainframes — inclusive por ser dominada por um único concorrente. A IBM dos computadores domésticos é a MITS Inc., fundada há sete anos pelo engenheiro H. Edward Roberts na garagem de sua casa em Albuquerque (Novo México)”.
Conforme o artigo, a MITS vendera 8 mil unidades do Altair 8800 e obtivera um faturamento de US$ 3,5 milhões no ano anterior. A concorrência existia, ressalvava o texto, mas a liderança inicial do Altair fez dele um padrão da indústria.
A matéria ocasionou uma enxurrada de telefonemas para a MITS, de lugares tão distantes quanto a África do Sul. “As pessoas queriam ter alguma ligação com a empolgante empresa mencionada por ela, atuando como distribuidores, abrindo lojas de computador ou trabalhando como consultores para apresentar o Altair a clientes de negócios”, conta Gates.
Ele, então, pensou: mesmo que a MITS seja a IBM do momento, isso não vai durar. Um dos motivos era que se a IBM algum dia decidisse fabricar um computador pessoal, havia uma boa chance de tomar o posto da MITS. “Eu sabia que Ed Roberts [dono da empresa] estava preocupado que grandes empresas de eletrônicos entrassem na briga”, escreve.
O “Presidente”
A Micro-Soft engatinhava. Gates tinha 60% da empresa e Allen, os 40% restantes: “Entre nós nos tratávamos por títulos grandiosos: eu era o ‘Presidente’ e ele, o ‘Vice’”.
“Eu me preocupava com o fato de ainda sermos tão dependentes da MITS. Os royalties das licenças do Basic para o microprocessador Intel 8080 do Altair continuavam sendo nossa principal fonte de receita. As licenças do nosso código-fonte para essa versão do Basic começavam a dar frutos. Nessa época, fechamos com a General Electric, que nos pagou US$ 50 mil pelo uso ilimitado do código-fonte Basic 8080”, lê-se em Código-fonte.
Após um acordo com a NCR, Gates e Allen foram procurados por um punhado de outras empresas de terminal inteligente. “Visitei uma delas, a Applied Digital Data Systems, em Long Island. Obviamente, como a MITS detinha os direitos no mundo todo sobre o Basic 8080, sempre que encontrávamos um cliente para o código-fonte, o contrato tinha de passar por eles. Se fechássemos um acordo, teríamos de dividir as receitas com eles. Nesse verão, fomos nos desligando gradativamente da MITS”, recorda o empresário.
Na primavera de 1977, quando apresentava seu Extended Basic a algumas pessoas, com o canto do olho, Gates viu um sujeito bem-apessoado mais ou menos da sua idade, de cabelo preto e comprido, barba bem aparada, vestindo terno, em um estande próximo, rodeado por seu próprio grupo, como descreve o autor. “Mesmo a certa distância dava para perceber que era dotado de certa aura. Pensei com meus botões: Quem é esse cara? Esse foi o dia em que conheci Steve Jobs”.
Embora menor do que muitas outras empresas, a Apple se sobressaía, observa Gates. “Já nessa época era evidente o característico talento para o design que faria da Apple — e de Jobs — algo tão icônico nas décadas seguintes”.
No evento, estavam lançando o Apple II, que, “com seu elegante gabinete bege, parecia antes um sofisticado produto eletrônico de consumo que um computador pessoal. Esse encontro inicial seria o início de um longo relacionamento entre Steve Jobs e eu, marcado por cooperação e rivalidade”.
E essa história estava apenas começando. Que venham os próximos volumes.
Negócios
Tem boi na pizza do churrasqueiro Netão

A paixão pela carne do empresário e churrasqueiro Domingos Neto, o Netão, fenômeno nas redes sociais e dono do grupo Bom Beef, agora vai ser dividida por um novo negócio: pizzaria.
“Quem me segue no Instagram sabe o quanto eu amo pizza. Tenho forno em casa e toda semana faço um evento para a família que é a pizza da Duda [filha de seis anos], que hoje também é para o Joaquim [de três anos]”, diz Netão, em entrevista ao NeoFeed. “A pizza está muito presente na minha vida.”
E, ao contrário das outras verticais do grupo, essa não terá a marca Netão por trás. Mas, claro, sua imagem. “Há um modelo de pizzaria que tem espaço para crescer e vou ser sócio de um empreendedor”, diz, sem revelar detalhes do empreendimento.
A ser inaugurada ainda em 2025, a primeira unidade da pizzaria, que ele pretende transformar em uma rede de franquias, será em São Paulo, a capital brasileira da pizza. “Antes de expandir, vamos testar sabores, o formato ideal, e sentir a avaliação dos clientes. Depois, vamos crescer”, afirma. “Na fase atual, estamos definindo o ponto.”
A pizzaria vem integrar um grupo que conta hoje com 54 açougues e 23 hamburguerias, espalhadas pelo Brasil. Em 2024, o Bom Beef registrou um crescimento de 20% e alcançou um faturamento de R$ 300 milhões.
Na conta estão, além dos royalties das franquias, as receitas das unidades próprias do açougue, da hamburgueria e de um restaurante de carnes, o Parilla Bom Beef, em Santos, no litoral paulista.
Também integram a fatia os recursos obtidos dos produtos licenciados Netão e das parcerias publicitárias. Hoje são 32 marcas, incluindo suas próprias, que tem o churrasqueiro como garoto-propaganda.
A pizzaria será o único negócio de Netão a ser lançado fora de Santos, sua cidade natal, onde começou a empreender, em 2014, quando comprou o pequeno açougue de seu tio, Marcelo.
Bem antes disso, Netão sempre teve um fascínio pelo ambiente do açougue, pela preparação dos cortes. Apesar do pai ter sido dono de um box no mercado de peixes em Santos, e Netão ter trabalhado por lá quando era adolescente, era no açougue do tio que enxergava seu futuro. Entre o peixe e o boi, a carne vermelha venceu de goleada.
Antes de ser o dono, foi contratado pelo tio para ser o entregador de bicicleta do açougue, que naquela época se chamava Costa Rica. “Eu tinha 16 anos e pedalava pela cidade de Santos inteira para levar os pedidos. Eu adorava aquilo”, lembra Netão, hoje com 39 anos. “Mas já vim pensando em ser dono do açougue.”
Ao mesmo tempo, queria aprender a ser açougueiro. “Meu tio, que também é meu padrinho [hoje tem 54 anos], foi me ensinando a cortar a carne da forma certa. E eu ia com ele nos frigoríficos.” Ele, que saiu de vez do ramo, hoje é dono de uma fábrica de gelos em Santos.
Na pandemia, estourou como criador de conteúdo, mostrando o preparo de vários cortes de carne, com promoções ao vivo e com lives com nomes consagrados da música, como Michel Teló. Em agosto de 2020, o churrasqueiro ficou duas horas ao vivo, preparando carnes, enquanto o cantor trazia suas músicas. O vídeo teve 1,3 milhão de visualizações.
Hoje Netão tem mais de 3 milhões de seguidores nas redes sociais. Em seu canal no YouTube, são 1,3 milhão e, no Instagram, 1,7 milhão. “Antes da pandemia, tinha 60 mil seguidores. E de repente explodiu”, conta.
Em 2021, ele passou a ser sócio de Sabrina Sato e seus irmãos, em uma configuração em que eles ficam responsáveis pela área publicitária da rede Bom Beef. “O irmão dela [Karin Sato] me procurou e queria ajudar na expansão da nossa rede. Hoje somos sócios também em outros negócios.”
Um churrasco mais barato
Com presença muito forte nos públicos A e B, Netão planeja para este ano abraçar pelo paladar também a classe C em seus açougues. Para isso, está preparando uma linha mais barata de cortes, sem que isso signifique perda dos padrões de sua linha premium.
“Hoje nosso negócio é baseado na carne de alta qualidade. Já lançamos uma picanha com uma linha boa, de ótima qualidade, mas 70% mais barato. E agora vamos ter uma carne popular, com nossa curadoria”, diz.
Na prática, Netão quer garantir o churrasquinho de fim de semana também do pobre. “Se hoje quero ter uma picanha a R$ 70 o quilo, vou procurar a que tenha a melhor qualidade nesse preço. A partir do mês que vem, essa linha estará presente na nossa rede.” Também em março vai começar o oferecer uma linha de suínos para churrasco.
Tudo isso sem deixar de vender o wagyu, a carne mais cara de seu açougue, que pode chegar a R$ 1,5 mil o quilo, se for importado do Japão.
Para manter o padrão em suas unidades, Netão tem uma rede de fornecedores de carnes de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, onde ele implementa seus padrões para adquirir as carnes. “Adoto meus protocolos de produção, de cria e recria, do período para o abate.”
Esse é o principal caminho traçado para a expansão da rede de açougues, que ele quer dobrar e chegar a 100 unidades em Brasil, basicamente no Sul e Sudeste. São levados em consideração conceitos de localização, renda per capita e número de habitantes de uma cidade.
Para ter uma unidade do açougue, o município precisa ter mais de 240 mil habitantes. No caso das lanchonetes, o foco é em cidades com pelo menos 300 mil habitantes (para lojas de 40 lugares), e mais de 350 mil moradores, para unidades com 80 lugares. Para lojas em shoppings (hoje são oito), o grupo Bom Beef também precisa aprovar a viabilidade econômica do centro de compras.
A meta de crescimento das hamburguerias também é ambiciosa e passa por 100% de aumento neste ano. Hoje com 1 milhão de lanches vendidos por mês, a rede de Netão deve chegar a 50 lanchonetes até dezembro. “A maior parte delas vai ser aberta por empreendedores que já são nossos franqueados”, explica.
A ideia passa também por expansão territorial. Além das lojas em cidades do estado de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, a Bom Beef Burgers vai chegar em Florianópolis (SC), Balneário Camboriú (SC), Belo Horizonte (MG) e Belém (PA). “A capital do Pará é uma cidade em que muita gente do Sudeste e do Nordeste vai visitar. A gente vai testar a marcar lá e, se for bem-sucedida, vai crescer no Norte e Nordeste.”
Ainda que não pareça, o empresário diz mais ‘não’ do que ‘sim’ na hora de definir sobre os novos locais para instalar sua rede de lanches. “A ampliação é planejada. A gente recusa de 10 a 20 pedidos de franquia por dia. E aceita dois por mês.”
Netão usa o feedback de seus seguidores como uma oportunidade para aprimorar os serviços. “As pessoas me mandam mensagens privadas e eu faço questão de acompanhar. O cliente me passa algo referente a um lanche da nossa rede, por exemplo, e eu repasso aos nossos supervisores”, diz. “É um contato direto com as pessoas, que eu não abro mão.”
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