Negócios
Gestora lança primeiro fundo de debênture incentivada e de infraestrutura com viés ESG
A Yards Capital, gestora de recursos lançada neste ano com foco nos setores de crédito, infraestrutura, imobiliário e agronegócio, estruturou o primeiro fundo de debênture incentivada e de infraestrutura com viés ESG do mercado brasileiro.
A primeira emissão de cotas do Yards FI-Infra ESG visa captar R$ 200 milhões de investidores profissionais, com os investimentos sendo feitos aos poucos com chamadas de capital. O público-alvo são fundos de pensão, wealth managers e outras gestoras de recursos.
O Yards FI-Infra ESG investirá em projetos e ativos de infraestrutura por meio de debêntures incentivadas (criadas em 2011 garantindo isenção de imposto de renda para pessoa física) e de infraestrutura, criado neste ano dando benefício fiscal ao emissor, além de cotas de outros fundos da mesma classe.
O produto é constituído sob a forma de condomínio fechado, ou seja, as cotas só podem ser resgatadas no momento de liquidação ou vendidas no mercado secundário em ambiente de bolsa (B3) após o período de lock up. O alvo é ter uma rentabilidade acima de IPCA+6% ao ano.
Todos os investimentos vão passar por uma avaliação ambiental, social e de governança corporativa. A gestora já nasceu com esse viés, mas viu, agora, uma oportunidade de focar em infraestrutura.
“O governo está destravando diversos programas para investimentos em infraestrutura. Ao mesmo tempo, são investimentos de muito longo prazo, em que a análise ESG é fundamental para avaliação do crédito”, afirma Fabio Frascino, CIO e gestor da Yards Capital.
Um dos critérios de avaliação para compor o portfólio é integrar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal e incentivar o desenvolvimento do País de forma sustentável, com compromisso social e ambiental.
A gestora irá analisar os projetos pelos critérios do International Finance Corporation (IFC), do Banco Mundial. São eles: avaliação e gestão de riscos com impactos sociais e ambientais; condições de trabalho; eficiência no uso de recursos e prevenção de poluição; saúde e segurança da comunidade; aquisição de terras e ressarcimento involuntário; conservação da biodiversidade e gestão de recursos naturais; preservação de povos indígenas e patrimônio cultural.
Segundo a gestora, projetos focados em transição energética, como biocombustíveis e captura de carbono, são priorizados no processo de análise e seleção.
Para uma avaliação ESG robusta do portfólio do fundo, a Yards Capital fechou parceria com o executivo Rodrigo Regis, que tem dedicado sua carreira à promoção da transição energética e à inovação no setor de energia. Ele será responsável por auxiliar nos controles de qualidade dos ativos, que precisam atender aos quesitos de sustentabilidade.
“O mercado internacional, em especial a Europa, está muito avançado nessa agenda. E cada vez mais empresas brasileiras acessam esse mercado e precisam cumprir esses critérios rígidos. Acreditamos que usar os mesmos critérios ajudará a balizar o mercado aqui”, afirma Regis, consultor especializado em ESG.
Além disso, um comitê, formado por membros sêniores da própria gestora e por especialistas em ESG, vai atuar na revisão e aprovação de todos os investimentos. Um dos integrantes é o fundador da LemanVentures, Stefano Rettore, que faz parte do conselho de empresas líderes globais e é engajado com os temas de sustentabilidade, tecnologia e tendências no agronegócio.
Um País com grandes obras
O Brasil está com mais de 227 projetos de investimento em infraestrutura em andamento, de acordo com dados do Programa de Parceria de Investimentos (PPI), que incluem iniciativas em rodovias, ferrovias, terminais portuários, terminais pesqueiros, aeroportos, energia, iluminação pública, saneamento, entre outros.
Ao mesmo tempo, há um déficit de recursos públicos para financiamentos de longo prazo, o que abre uma oportunidade para o mercado de capitais financiá-los.
Segundo dados da Anbima, as emissões de debêntures incentivadas atingiram R$ 88,2 bilhões de janeiro a agosto, recorde para esse período na série histórica iniciada em 2012. As debêntures em geral também alcançaram um recorde no período, atingindo R$ 283,9 bilhões.
Já as debêntures de infraestrutura ainda não saíram do papel. A atualização das normas causou confusão no mercado, que esperou para ter mais sinalizações do que poderia ou não ser classificado dentro desse novo papel.
E o grande público-alvo dessas emissões, os fundos de pensão, não parecem interessados em tomar esse risco corporativo de longo prazo com as NTN-Bs. Mas a Yards está confiante que pode convencer esse investidor.
“Gerou uma certa apreensão com o novo título porque tudo é muito recente, mas seguramente que os fundos de pensão irão entrar neste mercado”, diz Frascino.
“Tem um casamento muito bom com eles, por serem indexados à inflação. Mas eles vão precisar se assegurar que são confiáveis, por isso, a análise ESG se destaca”, complementa.
Negócios
Honda e Nissan confirmam conversas para fusão. A “culpa” é da China
A Honda e Nissan, montadoras de carros japonesas, deram o primeiro passo em direção à fusão de suas operações. As empresas assinaram um acordo para dar início às negociações, que devem ser finalizadas até agosto de 2026, segundo comunicado oficial divulgado nesta segunda-feira, 23 de dezembro.
Com a fusão, será criada a 3ª maior montadora do mundo, que também deve incluir as operações da Mitsubishi Motors, na qual a Nissan detém 24,5% de participação. A expectativa é que o novo conglomerado atinja vendas anuais superiores a oito milhões de veículos, ficando atrás apenas da Toyota e Volkswagen.
O anúncio ocorre após um ano complexo para a Nissan. A empresa tem sofrido com a queda de lucros e receitas, em parte devido a uma linha de modelos defasada nos Estados Unidos. No semestre fiscal finalizado em setembro, a empresa registrou uma queda de US$ 540,93 milhões na sua receita, com o lucro operacional reduzindo US$ 2,08 bilhões no período.
Segundo o CEO da Honda, Toshihiro Mibe, a fusão não é um resgate da Nissan, mas sim um reconhecimento de que o desenvolvimento de novas tecnologias tornou-se difícil de ser realizado individualmente.
É nítido que o avanço tecnológico não tem sido fácil para as japonesas. Ambas as empresas enfrentaram quedas significativas na China, onde veículos elétricos e híbridos plug-in estão em rápida ascensão.
Segundo o The Wall Street Journal, no ano passado, a China superou o Japão como maior exportador de automóveis do mundo em número de veículos.
Com a indústria automotiva acelerando em direção a veículos elétricos, as montadoras japonesas chegaram a conclusão que a forma correta – e mais barata -, de competir com os gigantes do segmento, é combinar esforços de pesquisa.
No comunicado à imprensa, as empresas descreveram a fusão como uma forma de aumentar a eficiência, compartilhando linhas de produção, aumentando o volume de compra de peças e combinando projetos de P&D.
Por outro lado, Honda e Nissan compartilham linhas de modelos semelhantes e tem foco no mercado americano, o que pode resultar em cortes de modelos de ambos os lados, além de mudanças estratégias para ajustar o novo negócio ao consumidor dos Estados Unidos.
Nesse processo, as marcas não descartaram cortes de empregos ou o fechamento de fábricas, embora tenham afirmado que esses não são os objetivos principais.
Com a Honda sendo o elo mais forte dessa parceria, o equilíbrio de poder está a favor da companhia. As empresas informaram que a Honda indicará a maioria dos diretores da empresa combinada e que o principal executivo será proveniente da Honda. A Honda prevê um lucro líquido de cerca de US$ 6 bilhões neste ano.
Na visão do governo japonês, a fusão é positiva. “Devemos ter uma visão favorável quando empresas cooperam para fortalecer sua competitividade”, disse Yoji Muto, chefe do Ministério da Economia, Comércio e Indústria. Ele afirmou que realinhamentos na indústria são “um método eficaz para fomentar inovação e aumentar o valor corporativo”.
Durante a coletiva de imprensa, o CEO da Honda negou, repetidamente, que a empresa estaria sendo pressionada por autoridades japonesas a fechar um acordo para garantir a sobrevivência da Nissan.
Ao ser questionado sobre o que o atraiu na Nissan como parceira, Mibe não deu uma resposta concreta, enfatizando que a Honda permanecerá uma marca independente na nova empresa.
Negócios
Prosus adquire Decolar por US$ 1,7 bilhão e entra em turismo online
A holding global de tecnologia Prosus (antiga Naspers) anunciou a aquisição da Decolar (Despegar no mercado internacional), principal agência de viagens online da América Latina, por US$ 19,50 por ação, totalizando US$ 1,7 bilhão.
A transação inclui um prêmio de 33% em relação ao preço de fechamento das ações em 20 de dezembro de 2024. A operação foi aprovada pelo conselho de diretores da Decolar, que recomendou unanimemente a aprovação pelos acionistas.
A aquisição é parte da estratégia da Prosus de expandir seu ecossistema de negócios na América Latina, somando mais de 100 milhões de clientes em segmentos como viagens, e-commerce e fintech. “A Decolar é uma companhia lucrativa e com forte presença no mercado. Vamos alavancar nossa expertise e recursos para acelerar seu crescimento”, afirmou Fabricio Bloisi, CEO do Grupo Prosus.
Para Damián Scokin, CEO da Decolar, a transação oferece valor significativo aos acionistas e promete uma experiência aprimorada aos clientes, com acesso a novos serviços e benefícios. Fundada em 1999 na Argentina e com atuação em mais de 19 mercados da região, a Decolar já gerencia mais de 9,5 milhões de transações anuais, movimentando US$ 5,3 bilhões em reservas.
O pagamento será realizado com recursos de caixa da Prosus e o fechamento da operação está previsto para o segundo trimestre de 2025, condicionado à aprovação regulatória e dos acionistas.
A transação reforça a posição da Prosus na América Latina, ao lado de marcas como iFood e Sympla, e é vista como um marco para consolidar sua liderança no setor de tecnologia e viagens na região.
Negócios
agricultor capixaba se torna campeão de day trade
Mais de 1.000 quilômetros separam a Faria Lima de Rio Bananal, uma cidade com menos de 20 mil habitantes localizada ao norte do Espírito Santo, próximo da fronteira com a Bahia. É lá, longe do centro financeiro de São Paulo, que mora Leonardo da Costa, vencedor do 1º Campeonato Brasileiro de Trade Nelogica.
Sem nunca ter participado de uma competição do tipo, o agricultor de 34 anos obteve o melhor resultado na fase final do campeonato, realizada entre 11 e 12 de dezembro. Em dois dias, acumulou um lucro de R$ 21 mil, respeitando os limites operacionais do campeonato: 10 contratos de mini-índice e mini-dólar.
Todas as etapas foram realizadas por meio de um simulador, sem perdas ou ganhos reais. Mas o prêmio em dinheiro foi ainda maior que o lucro obtido nas operações, totalizando R$ 65 mil.
Costa, que trabalha com a família em lavouras de café na região de Rio Bananal, conta que ficou surpreso com o próprio desempenho. Ele, que nunca cursou universidade, diz que descobriu o mercado financeiro há cinco anos por meio de seu irmão mais novo, Lucas, então com 19 anos.
“Em algumas épocas do ano, tem menos trabalho no campo. Então, estava procurando algo para ganhar um dinheiro extra”, diz ele.
Encantado com o momento promissor do mercado brasileiro na época, o irmão disse que era uma forma de “ganhar dinheiro fácil”. Costa logo desconfiou de seu irmão mais novo. “Achei estranho, porque se fosse tão fácil teria muito mais gente fazendo. Depois de um tempo ele não falou mais sobre isso, acho que porque perdeu dinheiro”, relembra.
Já havia deixado a ideia de lado quando um comprador de café o apresentou novamente ao mercado financeiro. “Ele exportava café e estava olhando um gráfico. Perguntei o que era, mas não entendi muito. Foi então que comecei a pesquisar e encontrei algumas mentorias na internet”, recorda.
Após mais de um ano de estudos e simulações no home broker, Costa decidiu começar a operar com dinheiro real. “Tinha dia que eu estudava das 19h até 4h da manhã. No começo, fiz muita coisa errada. Fui ajustando as estratégias até começar a ter algum lucro. No mercado, você nunca sabe tudo. O segredo é ter um bom plano de gestão de risco e não relaxar.”
Sem a arrogância de muitos profissionais do mercado, ele acredita que a dinâmica do campeonato favoreceu seu estilo de negociação. “Tinha muita gente boa competindo. Outros poderiam ter vencido. Mas fico feliz de ter ganhado, mostra que estou no caminho certo.”
Organizado pela Nelogica, o Campeonato Brasileiro de Trade teve mais de 500 traders inscritos. O segundo e o terceiro colocado receberam R$ 26 mil e R$ 12 mil, respectivamente. A premiação do 4º ao 50º colocado foi de R$ 2 mil. A competição foi organizada em duas fases, com os 50 primeiros se classificando para a final. Costa terminou a primeira etapa em 36º.
“Descobrimos verdadeiros talentos com muito potencial, inclusive, para seguirem carreira em instituições financeiras se desejarem”, afirma Layonel Pinheiro dos Santos, especialista em plataformas de trading da Nelogica.
Desde o início de seus estudos, Costa se dedicou ao day trade, que consiste em montar e desmontar as operações no mesmo dia — uma das regras do campeonato. “Tenho como base análise técnica e tendências, quase sempre usando gráficos. Na competição, tive que me adaptar, porque o prazo era muito curto.”
Mesmo fora do campeonato, Costa nunca dormiu com uma posição aberta, encerrando todas no mesmo dia. Isso, porém, não o impediu de ter a madrugada como um de seus horários preferidos para operar. “Geralmente, acordo às 4h da manhã para negociar no mercado americano de futuros e vou até às 7h.”
Essa rotina permite que ele concilie o trabalho na lavoura com o day trade. Na época da colheita de café, entre março e julho, a alta demanda de trabalho na roça o impede de operar no mercado de futuros local, que funciona das 9h às 18h.
No mercado brasileiro, quando tem tempo, Costa opera contratos futuros de mini-índice e mini-dólar, mas nunca ações. “Gosto mais de ficar na frente do gráfico.” Mas, mesmo quando tem a oportunidade, o trader não opera todo dia. “Tem dia em que o mercado não está favorável ao perfil de negociação. Saber quando não operar também é uma forma de operar.”
Moradores da área rural de Rio Bananal, a família de Costa fica com metade da produção de café, enquanto a outra metade vai para o “patrão”. Todo o trabalho é feito manualmente. “As máquinas chegaram há quatro anos na região, mas só os grandes produtores têm acesso a elas.”
O sucesso no mercado financeiro já faz Costa pensar em mudar de carreira. Ele planeja cursar faculdade de economia no ano que vem e se aprofundar ainda mais no mundo dos investimentos. “Em dois anos, pretendo fazer disso minha principal fonte de renda.”
Ele descarta, por ora, trabalhar para alguma instituição financeira. “Meu foco era encontrar uma profissão que me permitisse trabalhar de qualquer lugar, sem ficar ‘preso’, e o day trade proporciona isso.”
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