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Como Paula Tabalipa transformou o sonho de surfar na Califórnia em uma vinícola bem-sucedida

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Como Paula Tabalipa transformou o sonho de surfar na Califórnia em uma vinícola bem-sucedida
Tempo de Leitura:5 Minuto, 55 Segundo


Estudiosa por excelência, aos 14 anos, a catarinense Paula Tabalipa já acalentava planos de “viajar o mundo, falar novas línguas e aprender sobre história”. Havia acabado de se mudar para o Rio de Janeiro, onde, na Barra da Tijuca, acompanhava com brilho nos olhos os campeonatos de surfe, esporte que também praticava.

Naquela babel à beira mar e, como na canção de Lulu Santos, ela sonhava com a Califórnia, em viver a vida sobre as ondas. Do devaneio romântico de surfar o Pacífico, muita água passou debaixo das pranchas e, hoje, aos 44 anos, Paula é dona Tabalipa Wine Co. — uma vinícola boutique, focada em rosés e tintos, no Vale de Santa Ynez, em Santa Barbara.

Desde a primeira colheita, em 2022, ela, que começou a distribuição à boca miúda, entre amigos, clubes de assinatura e estabelecimentos de conhecidos na região, já levou seus rótulos para a China e a Suécia. Seu próximo passo é vender, em 2025, para a Flórida e a partir daí, quem sabe, chegar ao Brasil. Em seguida, o desafio é conquistar Nova York.

E, caso a demanda ser mantenha em alta, Paula não descarta a possibilidade de comprar mais terras e apostar em novas variedades de uvas, além da casta syrah. Com os rosés em torno de US$ 48 e os tintos, US$ 62, seus preços são relativamente altos, mas ela quer se firmar uma produtora high-end.

Em um primeiro momento, a trajetória da brasileira até o vinhedo de Santa Ynez pode soar errante, mas suas escolhas se encaixaram como peças de um quebra-cabeça, de alguém que tem a certeza de que “a curiosidade é o tempero da vida”.

Paula se mudou pela primeira vez para os Estados Unidos, em 1999, aos 19 anos. Foi para o sul da Califórnia cursar moda, em San Diego. Formada em 2003, trabalhou com visual merchandising para a loja de departamentos Saks Fifth Avenue da cidade, à frente das estratégias de exposição das mercadorias.

Juntava dinheiro para viajar. Sempre inquieta, seu destino, acreditava, era o mundo. Depois, em Berlim, tomou conta de uma agência de viagens, foi figurinista de ensaios fotográficos de moda.

Em 2005, voltou aos Estados Unidos, dessa vez, para Los Angeles. Retomou o emprego na Saks, em Beverly Hills, até criar uma clientela própria como stylist freelancer, com foco no cinema e na televisão.

Trabalhou com alguns dos grandes nomes da indústria, como o cineasta James Mangold, que, mais tarde, dirigiria filmes como Logan (2017) e Ford vs. Ferrari (2019).

Em 2014, com o aumento do número de plataformas de streaming, Paula chegou a ter sua própria produtora, em parceria com o então namorado, um diretor de reality shows. Um dos projetos era uma competição de chefs americanos, para qual percorria fazendas americanas.

Paladar infantil, não

Com a nova empreitada, veio uma nova onda: a gastronomia. E lá foi Paula, trabalhar por um ano e meio e meio como sous chef, em um restaurante pop-up. A experiência a levou para Nova York, onde fez um curso rápido de culinária.

Em 2019, ela conheceu o atual marido, Michael Greenberg, fundador e presidente da Skechers, gigante americana de tênis. Em busca de uma segunda casa, foram parar em uma das regiões de vinhedos de Santa Barbara.

“Desejávamos escapar do estilo de vida frenético em Los Angeles e ansiávamos por um lugar onde o ritmo de vida fosse mais suave”, conta ela, em conversa com o NeoFeed. Paula queria um terreno plano, onde pudesse cuidar de animais adotados. “Hoje em dia tenho 36…. É um mini-zoológico”, diz, orgulhosa de sua criação — quatro burros, três lhamas , duas alpacas, três, cinco pôneis e algumas cabras que cria na propriedade.

Com 20 hectares, a propriedade de Santa Ynez pertencia a Dale Hampton, um dos pioneiros da viticultura na região. Se o antigo dono havia perdido o interesse pela produção, os vinhedos despertaram a curiosidade de Paula. E a terra foi rebatizada Living Life Vineyards.

Com os rosés em torno de US$ 48 e os tintos, US$ 62, os preços são relativamente altos, mas Paula quer se firmar uma produtora high-end (Foto: Jeremy Ball)

Paula quer tornar seus tintos mais especiais, envelhecendo parte deles por até sete meses (Foto: Tabalipa Wine Co.)

Paula não descarta a possibilidade de comprar mais terras e apostar em novas variedades de uvas, além da casta syrah (Foto: Jeremy Ball)

Living Life Vineyards tem 20 acres (Foto: Tabalipa Wine Co.)

A princípio, Paula e o marido Michael foram para o Vale de Santa Ynez, para fugir do frenesi de Los Angeles (Foto: tabalipawineco.com)

Lá, o plantio é orgânico e sustentável, com colheita à mão, sem fertilizantes sintéticos e com irrigação por gotejamento. Até então, as colheitas eram vendidas para a empresa Coastal Vineyards, que se encarregava de fazer a bebida. Os negócios prosseguiram e “ajudavam a pagar as contas”, ela lembra.

Até que a catarinense decidiu ela própria produzir o vinho. Com a salinidade, vinda do mar de Santa Barbara, a baixa umidade e uma grande amplitude térmica entre dia e noite, o terroir era mais propício ao cultivo de syrah.

Começaria com os tintos e teria, como carro-chefe, os rosés, mas “não como os provençais, que começaram a entrar nos Estados Unidos nos anos 1990”, explica.

Paula queria os rosés da região de Bandol, também na França — com um tom de rosa salmão, que envelhecessem bem e tivessem um pouco mais de álcool. “Vinhos não pensados para paladares infantis”, como define.

A primeira colheita aconteceu em 2022. Foram 600 garrafas de tinto e 600, de rosé. No total, 120 caixas — “uma produção bem boutique, superpequena”, conta. Em 2023, nasceu oficialmente a Tabalipa Wine Co., em sociedade do Michael.

Força brasileira

Foi ideia do marido, empresário experiente, dar um salto superambicioso: na segunda remessa, ir de 60 para 1000 caixas de rosée.

“Como é que eu vou vender todo esse vinho?”, ela se espantou. Ao que Michael respondeu: “Você vai vender; você vai dar um jeito”. E deu.

O casal descobriu que, por questões de legislação, os  vinhos australianos estavam com dificuldade para entrar na China.

Paula aprendeu sobre como atender às normas chinesas e despachou 100 caixas para a Ásia. Ainda sem distribuidores, conseguiram vender mais 30 caixas para a Suécia.

Paula quer agora testar o plantio de sauvignon blanc, com vistas à produção de vinhos brancos. O rosé continua sendo seu cartão de visita, mas ela quer tornar seus tintos mais especiais, envelhecendo parte deles por até sete meses. Sua ideia é criar uma nova demanda.

Atualmente ela cursa enologia no campus Davis da Universidade da California, referência nos Estados Unidos.

E, olhando em retrospecto, pensando na adolescente surfista e na riqueza de sua experiência profissional, Paula encontra em todas elas um denominador comum: não ter medo de trabalhar com afinco.

“Todas as coisas que eu fiz continuam dentro do meu mundo. Culinária, vinho, história, línguas, viagens, amor pela natureza… está tudo junto”, diz. “Pode ser que, após tantos anos eu tenha me americanizado um pouco, mas meu pé no chão, essa força é brasileira.”





Fonte: Neofeed

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Prosus, dona do iFood, compra Just Eat Takeaway por € 4,1 bilhões

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Prosus, dona do iFood, compra Just Eat Takeaway por € 4,1 bilhões
Tempo de Leitura:2 Minuto, 19 Segundo


O grupo de investimentos Prosus, controlador do iFood, anunciou nesta segunda-feira, 24 de fevereiro, a intenção de comprar a Just Eat Takeaway por de € 4,1 bilhões. Com o negócio, o grupo cria a quarta maior empresa de delivery do mundo, atrás da chinesa Meituan e das americanas DoorDash e Uber Eats.

A oferta de € 20,30 por ação representa um prêmio de 22% em relação à máxima dos últimos três meses da empresa de delivery. Porém, é inferior aos € 23,50 por ação praticado pela companhia quando abriu seu capital em 2016 na bolsa de valores. O valor será pago em dinheiro.

Com a negociação, a Just Eat deixará de ser uma empresa pública. Para seu CEO, Jitse Groen, o acordo oferece um “valor imediato, certo e atraente para os investidores” e permitirá mais investimentos no negócio do que seria possível como uma empresa de capital aberto.

“É um prêmio muito significativo em relação ao preço atual das ações. E isso é sempre o mais importante nessas discussões”, afirmou Groen.

A visão do CEO é baseada nos últimos anos difíceis da companhia. A Just Eat Takeaway, com sede em Amsterdã, na Holanda, viu suas ações dispararem durante a pandemia de Covid-19 e caírem drasticamente após o fim dos lockdowns, com o retorno dos consumidores às ruas. Ao mesmo tempo, concorrentes como Deliveroo e Delivery Hero ganharam espaço.

No auge do boom do delivery no mundo, em 2021, a Just Eat Takeaway adquiriu a concorrente americana Grubhub, por US$ 7,3 bilhões. Porém, com a situação ruim, a empresa acabou vendendo a operação em novembro de 2024 por apenas US$ 650 milhões, o que mostra o momento delicado.

Na perspectiva da Prosus, o negócio seria a maior transação desde que Fabricio Bloisi, um dos fundadores do iFood, assumiu como CEO em maio.

O grupo de investimentos buscava adquirir a Just Eat há anos, mas sem sucesso. Em 2020, eles foram superados pela Takeaway.com, que ofereceu £ 5,5 bilhões pela pioneira britânica de delivery.

Com esse histórico, Erving Tu, diretor de investimentos da Prosus, disse que o acordo não significa que a empresa esteja “fora do jogo” para futuros negócios no setor de delivery, mas deixou claro que a sua prioridade é concluir a aquisição da Just Eat até o final de 2025.

A oferta da Prosus ainda precisará da aprovação dos acionistas. Porém, com a notícia, os papéis da Just Eat Takeaway subiram cerca de 52%, enquanto as concorrentes Deliveroo e Delivery Hero tiveram altas de 4% e 7%, respectivamente.

Essa é a mais nova movimentação do grupo de investimentos que, no fim de 2024, adquiriu a Decolar por US$ 1,7 bilhão e entrou no segmento de turismo online, onde ainda não estava presente.



Fonte: Neofeed

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Recompra de ações e fechamentos de capital secam bolsa e gestores temem falta de papel para comprar

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Recompra de ações e fechamentos de capital secam bolsa e gestores temem falta de papel para comprar
Tempo de Leitura:9 Minuto, 25 Segundo


Em fevereiro deste ano, a empresa de telefonia TIM anunciou um programa de recompra de ações estimado em R$ 1 bilhão. Na semana passada, a mineradora Vale informou ao mercado que pode tirar quase R$ 7 bilhões em ações do mercado. E a varejista Renner, R$ 1 bilhão.

Esses são os mais recentes exemplos de uma onda que, em meio ao marasmo da renda variável, movimentou a bolsa nos últimos meses. O Itaú BBA fez as contas e chegou a números impressionantes. Há 127 programas de recompras de ações abertos de 108 companhias, um volume de R$ 72,3 bilhões, quase a totalidade disso anunciado nos últimos 12 meses. Só em 2025, 11 programas foram aprovados.

Somado a isso, muitas empresas estão fechando o capital e deixando a bolsa de valores brasileira. De 2018 a 2024 foram 39 ofertas públicas de aquisição de ações (OPAs). Em 2013, ocorreram 13 fechamentos de capital, o maior patamar do período. No ano passado, foram nove OPAs.

E a lista não para de crescer. Na fila para fechar o capital estão Kora Saúde, Eletromídia, ClearSale, Carrefour Brasil, Wilson Sons e Santos Brasil. A Serena é também uma empresa que pode ir para esse caminho.

Diante desse cenário, os gestores estão se perguntando: quando o mercado voltar, vai haver ações para comprar? A tese foi lançada por Christian Keleti, sócio e fundador da gestora AlphaKey, e está ganhando cada vez mais adeptos na Faria Lima. “É matemático e pode ser uma oportunidade para a bolsa mudar de patamar quando o mercado virar”, diz Keleti, ao NeoFeed.

Uma coisa não há dúvida: o mercado de ações brasileiro, que não tem uma abertura de capital desde a dupla listagem do Nubank, em dezembro de 2021, está “secando”.

De acordo com dados compilados pela consultoria financeira Elos Ayta a pedido do NeoFeed, o volume financeiro da bolsa vem caindo desde 2021, quando atingiu o pico de R$ 35,16 bilhões em média por dia, em valor ajustado pelo IPCA.

Esse indicador caiu para R$ 28,29 bilhões em 2022. No ano seguinte foi para R$ 22,07 bilhões. Em 2024, bateu em R$ 19,35 bilhões e, neste início de 2025, o volume médio está em R$ 17,57 bilhões.

“O volume financeiro vem caindo muito fortemente, embora o preço esteja subindo. Tem poucos players fazendo o mercado e isso não é legal. O ideal seria que o Ibovespa tivesse uma valorização significativa, mas alavancada por um grande volume financeiro”, diz Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria.

“As coisas estão indo na contramão. O mercado subir com volumes baixos é perigoso porque são poucos players transacionando e levantando preço. Isso pode trazer uma insegurança com relação à realidade da pontuação do índice”, complementa.

A AlphaKey resolveu fazer também as contas sobre a variação do free float (o universo de ações que não estão em posse dos controladores) nos últimos três anos e chegou à conclusão de que ele caiu 13% desde janeiro de 2022, passando de R$ 1,96 trilhão para R$ 1,7 trilhão – R$ 260 bilhões a menos para comprar.

O free float caiu 13% desde janeiro de 2022, passando de R$ 1,96 trilhão para R$ 1,7 trilhão

“Essa queda se dá pela combinação de redução no preço, dividendos pagos e recompras”, afirma Keleti. “Em nossas estimativas, somente as recompras enxugaram algo como R$ 60 bilhões do float neste período.”

De acordo com o fundador da AlphaKey, olhando os dados da B3, fica evidente que as pessoas físicas e jurídicas foram os compradores finais dos últimos anos por conta das vendas massivas de institucionais locais e estrangeiros.

“Temos menos free float para negociar ações. Por isso que, no mês de janeiro, entra comprador e já puxa a bolsa para cima. O estrangeiro comprou pouquinho, os fundos se posicionaram um pouco, mas nada absurdo”, diz Marco Saravalle, sócio e CIO da MSX Invest.

Faroeste acionário

Em paralelo à queda do volume financeiro está a baixa volatilidade da bolsa de valores, que está no piso histórico. Esse comportamento tem duas explicações.

A primeira é a saída dos estrangeiros da bolsa e a aversão dos fundos locais ao mercado de ações. A segunda é que, no ambiente atual de juros altos, há poucas operações long e short de ações, que ajudam nessa movimentação diária.

Um exemplo é a ação preferencial da Petrobras, que sempre negociou mais de R$ 1 bilhão por dia. Em fevereiro deste ano, o papel PETR4, que está sendo negociado na casa de R$ 38,36, tem um volume financeiro médio diário de R$ 966 milhões. Um volume financeiro parecido, de R$ 972 milhões, aconteceu em julho de 2017, quando a ação estava perto de R$ 5.

Por outro lado, em outubro de 2022, quando o volume financeiro médio diário da Petrobras atingiu R$ 3,71 bilhões, o preço da ação estava em torno de R$ 15. “A volatilidade do Ibovespa nos menores níveis da história juntamente com o baixo volume dá a imagem perfeita do que está acontecendo no mercado brasileiro”, diz Rivero.

E isso ajuda a criar outras distorções. “Cenário de baixa liquidez é o de faroeste. Tem puxada de papéis ilíquidos de gestores que querem salvar suas cotas, movimentos atípicos, manipulação de mercado, até de coisas que a CVM deveria ir atrás e não vai. Você num papel como esse pode se beneficiar ou sofrer muito se acontecer o inverso. Baixa liquidez é ruim para todo mundo, até para os malandros”, diz um gestor, que pediu para não ser identificado.

Outro gestor, que tem mais de R$ 20 bilhões de recursos sob gestão, diz que a tese de que vai faltar papel para comprar é “a cereja do bolo, mas não pode ser confundida com o bolo todo.” De acordo com essa fonte, se o Brasil melhorar, por qualquer razão, esse aspecto, de poucas ações para comprar, vai potencializar a alta.

“Mas se a bolsa subir, as empresas que estão recomprando vão voltar a emitir ações, vão acontecer follow-ons e novas emissões que vão suprir essa falta de papel”, afirma esse gestor.

Poucas empresas, valuations baixos

Não são apenas as recompras de ações e os fechamentos de capital que estão deixando a bolsa brasileira cada vez mais seca. A AlphaKey resolveu fazer um filtro sobre o tamanho das empresas listadas na B3 em valor de mercado.

Os resultados, mais uma vez, mostram um cenário preocupante. Em janeiro de 2022, havia 254 empresas (o critério foi número de companhias e não de classes de ações) com valor acima de R$ 300 milhões. Hoje, são 218.

Desse universo, 42% empresas valem menos de R$ 2 bilhões (91 companhias). Outras 18% estão entre R$ 2 bilhões e R$ 5 bilhões. De acordo com os dados da AlphaKey, quase 75% das empresas estão abaixo de R$ 10 bilhões em valor de mercado.

“Em 2024, a Índia teve mais IPOs (334) do que todas as empresas listadas no Brasil. E a Polônia conta atualmente com mais de 400 companhias na bolsa de Varsóvia”, afirma Keleti.

Em janeiro de 2022, havia 254 empresas com valor acima de R$ 300 milhões. Hoje, são 218

A combinação de empresas de baixo valor de mercado sendo negociadas a múltiplos comprimidos tem feito outros atores, que negociam no mercado privado, a entrar em transações com companhias abertas, muitas vezes para fechar o capital.

São os casos dos fundos de private equity e compradores estratégicos. Nos últimos meses, várias transações deste tipo aconteceram. A Evertec, por exemplo, comprou a Sinqia. A Warburg Pincus, a Alper Seguros. A Equifax ficou com a BoaVista. A Experian com a ClearSale. A Globo com a Eletromídia. E o Ultra entrou na Hidrovias.

“Por que olhar um business privado se os valores na bolsa estão descontados? Há muitas oportunidades na bolsa”, afirma Gustavo Heilberg, sócio da gestora de ações HIX Capital.

Por conta desse cenário, qualquer notícia, por mínima que seja, que aponte para uma mudança de cenário é capaz de gerar uma onda de otimismo que puxa as cotações para cima.

A mais recente delas é a queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o mais baixo patamar de todos os seus três mandados, segundo pesquisa do instituto DataFolha – apenas 24% aprovam o atual governo, contra 41% que desaprovam.

Em janeiro, o Ibovespa, principal índice da B3, registrou 4,86% de valorização. Foi o melhor mês do mercado acionário desde agosto do ano passado, quando o indicador teve alta de 6,54% e bateu seu recorde nominal de pontuação, aos 137.343 pontos. Em 2024, foram oito meses de índice negativo. Neste ano, até sexta-feira, 21 de fevereiro, o Ibovespa acumula 5,83% de alta, aos 127.128 pontos (mas em 12 meses o indicador cai 2,4%).

Segundo Keleti, da AlphaKey, na Argentina, mesmo sem nenhum sinal de um governo reformista, as mínimas dos mercados se deram um ano e meio antes do pleito presidencial, muito antes de qualquer possibilidade de alguém como Javier Milei subir ao poder, simplesmente pela reponderação da probabilidade da não-continuidade do Kirschnerismo.

A questão é se o “efeito Orloff”, referência a uma frase de comercial de vodka que ficou popular nos anos 1980 (“Eu sou você… amanhã”), vai acontecer no Brasil. Se o mercado virar, uma coisa parece certa: um rally que vai elevar rapidamente os papéis porque vai faltar ações para comprar.

E a B3?

Como fica a B3 com o mercado de ações “secando” no Brasil? Esse é um tema na qual o presidente da empresa, Gilson Finkelsztain, tem sido constantemente questionado por investidores. E a resposta está na ponta da língua: a estratégia de diversificação que a companhia tem empreendido nos últimos anos tem dado resultados.

“Temos uma diversificação que protege a nossa receita”, afirmou Finkelsztain, em dezembro do ano passado, durante o B3 Day, acrescendo que a renda variável já representa menos de 20% do faturamento da B3. “O potencial de crescimento da companhia está protegido.”

Os resultados do quarto trimestre de 2024, divulgados na semana passada, ajudam a ilustrar isso. A receita líquida total atingiu R$ 2,7 bilhões, alta de 7% em relação ao mesmo período do ano passado.

Destaque para os derivativos listados, cujo volume médio diário negociado totalizou 6,1 milhões de contratos. As emissões de renda fixa cresceram 13,8% e o estoque avançou 23,9% – principalmente as dívidas corporativas. Também vale citar o crescimento de ETFs (39,1%), BDRs (91,5%) e fundos listados (43,1%).

De acordo com relatórios do Goldman Sachs e do Itaú BBA, os resultados da B3 vieram em linha com expectativa do mercado. Ambos mantiveram o rating de “compra” para a B3 dado o desconto que vem sendo negociada em relação ao seus pares globais (10,5 vezes o preço/lucro para 2026). Em 2025, as ações sobem 10%.

Em tempo: até a B3 entrou na onda de recompra de ações. No ano passado, recomprou 340 milhões de ações, aproximadamente 6% de seu capital social. E aprovou outro programa para comprar até 380 milhões de ações ordinárias, além de entrar em novos contratos derivativos relacionados às suas próprias ações (swap de ações). Com isso, a empresa pode recomprar um total de aproximadamente 7,2% de seu free float se o programa for totalmente implementado.





Fonte: Neofeed

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Em “Crentes”, um manual para entender o fenômeno evangélico no Brasil

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Tempo de Leitura:6 Minuto, 24 Segundo


O antropólogo Juliano Spyer tem uma missão quase de fé: descortinar o universo evangélico para quem, por preconceito, ainda não entendeu a força social, eleitoral e econômica desse grupo de mais de 80 milhões de pessoas no Brasil.

Há cinco anos, ele lançou O povo de Deus, que ampliou o tema para parte da academia — e da esquerda —, refratária a assuntos envolvendo esse grupo religioso. Agora, junto com os colegas Guilherme Damasceno e Raphael Khalil, Spyer apresenta Crentes — Pequeno manual sobre um grande fenômeno.

Em entrevista ao NeoFeed, Spyer afirma que a necessidade de se lançar um manual sobre o fenômeno evangélico está ligada à dificuldade de setores da sociedade, principalmente as universidades, em buscar entender esse grupo de pessoas.

“A cara do evangélico brasileiro é preta, pobre, periférica. É, portanto, urbana e predominantemente feminina. Então, a princípio, esse é um universo fora do universo aqui dos pensadores do Brasil, dos intelectuais, das pessoas que escrevem em jornal”, diz Spyer.

Para o antropólogo, a academia ainda vê esse grupo religioso de uma maneira preconceituosa e superficial. Mas acredita que isso está mudando, principalmente entre empresários, que percebem como o seu negócio pode ser prejudicado ou impulsionado a partir da forma que for apresentado.

“Os evangélicos são um grupo muito sensível a alguns temas morais. E esses temas apareceram com muita intensidade nos últimos anos. Esse tipo de publicidade que toca, de alguma forma, a sensibilidade do campo evangélico, dá margem para descontentamento e afastamento”, afirma Spyer.

Em 237 páginas, o trio de autores explica as estruturas das igrejas evangélicas, noções básicas sobre protestantismo, a importância da música, as gírias, o gênero, a sexualidade e a política. Uma miríade de temas, sempre tratados de forma clara, como deve ser um manual:

Confira a seguir os principais trechos da conversa de Spyer com o  NeoFeed.

O que mudou entre o lançamento de O povo de Deus, em 2020, e o de Crentes, em 2025, principalmente diante de um período de eleição presidencial?
Vejo uma coisa mudando: o entendimento de que o universo evangélico deve ser tratado de um jeito mais interessante. Estou me referindo principalmente a candidatos, políticos, pessoas ligadas a partidos de esquerda, entendendo que existe alguma coisa mais interessante, mais complicada do que simplesmente a visão anterior de que o crente variava entre um coitadinho que não foi para escola e um pastor manipulador carismático.

Com 237 páginas, o livro custa R$ 69 (Foto: Divulgação/Editora Record)

Mas ainda há entraves nesse entendimento sobre os evangélicos, não?
Eu chamo isso de bloqueio cognitivo, esse entendimento racional da importância do campo evangélico — um universo que tem hoje em torno de quase 80 milhões de pessoas. Eu não vi esses partidos de esquerda fazendo um movimento mais profundo no sentido de alterar a percepção de que a esquerda é inimiga do cristianismo evangélico. Isso eu não vi acontecer.

Em sua opinião, por que não? 
Eu tenho a impressão de que é um uma questão geracional, um bloqueio mesmo. Mas esse entendimento começa a vir de outros espaços, principalmente do mercado. Então, pensando em que medida o evangélico também pode ser visto ou como alguém que pode prejudicar o seu negócio, ou alguém que pode ser um consumidor mais ávido, mais envolvido, dependendo também de como você se comunica.

Por que um manual se, como o próprio título do livro indica, os evangélicos são um grande fenômeno? A quem se destina o manual?
O fenômeno evangélico existe fundamentalmente (ou evoluiu fundamentalmente) nas camadas populares do Brasil, do Brasil periférico. A cara do evangélico brasileiro é preta, pobre, periférica. É, portanto, urbana e predominantemente feminina. Então, a princípio, esse é um universo fora do universo dos pensadores do Brasil, dos intelectuais. Foi isso que motivou o manual, o fenômeno continua a crescer fora; ou principalmente fora dos muros acadêmicos. E que é visto por quem está dentro dos muros acadêmicos, em geral, de uma maneira preconceituosa e superficial.

Em relação à economia, então, há uma sensibilidade maior do setor empresarial sobre esse grupo?
Sim, a primeira sensibilidade tem a ver com o tema da perspectiva de um grande número de brasileiros. Um grupo muito sensível a alguns temas morais, que apareceram com muita intensidade nos últimos anos. A publicidade que toca, de alguma forma, a sensibilidade do campo evangélico, dá margem para descontentamento e afastamento. O evangélico, por exemplo, não quer que determinados conteúdos, como os envolvendo sexualidade, apareçam no corpo comercial de televisão durante o dia, quando os filhos estão assistindo televisão. Isso cria uma sensação de distanciamento em relação à marca. Então essa é a primeira coisa.

“A cara do evangélico brasileiro é preta, pobre, periférica. É, portanto, urbana e predominantemente feminina. Então, a princípio, esse é um universo fora do universo dos pensadores do Brasil”

Quais são as oportunidades de negócios oferecidas pelos evangélicos?
No setor de moda e de beleza, por exemplo. Existe muita demanda por esse tipo de produto, principalmente entre os evangélicos pentecostais — que zelam por sua aparência, pela maneira como são vistos e percebidos. A demanda por roupas, por exemplo, ainda é reprimida: roupas que mostrem menos o corpo. Mas a gente pode falar de comida, de bebida, de serviços bancários, de eletrônicos. Para todos esses campos existem oportunidades a serem exploradas.

A direita apostou no voto dos evangélicos para eleger Bolsonaro. Isso se confirmou de maneira efetiva? 
Sim, foi efetiva nas duas últimas eleições presidenciais. Em torno de 70% do voto evangélico foi para o candidato de direita. A esquerda praticamente não conseguiu ser eficiente na comunicação com esse eleitor. As pessoas que continuam votando na esquerda dentro das igrejas e que suportaram essa pressão, se mantiveram de forma discreta. Quando a gente fala da presença bolsonarista, a gente fala dessa presença mais aguerrida, que não aceita a alternativa, que não aceita a diferença, que acha que o outro está completamente errado. Isso cria tensionamentos dentro das igrejas.

Qual perfil dos evangélicos que não apoiam o ex-presidente?
São dois principalmente. O primeiro está nas igrejas que chamamos de históricas ou missionárias. São igrejas mais antigas, tipo batista, metodista, luterana e, em certo sentido, também a presbiteriana. São igrejas de classe média, mais reservadas, em que esse proselitismo não acontece de uma maneira tão enfática. O segundo está nas igrejas pentecostais tradicionais, numa faixa de renda até dois salários mínimos. São pessoas que ainda dependem ou dependeram até pouco tempo atrás da  ajuda do governo — portanto, mantém-se o elo de gratidão.

A defesa do armamento por parte de Bolsonaro foi vista como um entrave para o avanço do então presidente no eleitorado feminino mais pobre. Isso faz sentido?
Faz muito sentido. Nada é mais “anti-Jesus” — como disse o pastor Nelson Gomes, que era da Assembleia de Deus e acabou perseguido — do que uma pessoa com revólver na mão. Tem aí uma série de momentos bastante importantes da história de Jesus narrada na Bíblia, em que Jesus rejeita esse tipo de posicionamento, pela espada, pela guerra, por esse tipo de confronto. E nesse sentido existia aí uma percepção bastante refratária em relação a Bolsonaro —muito ligado ao Exército, à polícia, uma pessoa com uma atitude grosseira. Isso criou de fato um distanciamento entre mulheres, principalmente mulheres evangélicas.

Como os bolsonaristas abordaram essa questão?
Isso foi resolvido de forma muito poderosa pelo envolvimento crescente de Michelle Bolsonaro, atuando de uma maneira muito diligente, muito disciplinada, muito organizada, nos eventos, encontros e reuniões com mulheres. Já ouvi inúmeras vezes que o voto do Bolsonaro hoje é uma coisa que acontece com facilidade como um voto de confiança na Michelle e no que ela pode fazer junto com a atuação de Deus.





Fonte: Neofeed

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