Negócios
Luiz Fernando Figueiredo, da Jive: “Com o mercado frágil, a correção acaba sendo maior”
Quem olha o fechamento do dólar em queda na segunda-feira, 5 de agosto, não imagina a volatilidade do câmbio ao longo do dia. Antes de fechar com recuo de 0,10%, aos R$ 5,72, o dólar chegou a encostar em R$ 5,83 no fim da manhã.
“As pessoas estão se protegendo [comprando dólar] porque o Brasil tem vindo na contramão do resto do mundo”, diz Luiz Fernando Figueiredo, chairman da JiveMauá. “As bolsas no mundo subindo e a nossa bolsa caindo barbaramente.”
O ex-diretor do Banco Central (BC) afirma que o pânico global que começou nos mercados asiáticos foi um exagero. E, em certa medida, uma correção nos ativos de tecnologia, principalmente os ligados à inteligência artificial.
Para ele, a preocupação do Brasil tem de ser com ele mesmo. O mercado local tem um nível a mais de nervosismo em razão da situação fiscal do Brasil e da pressão do presidente Lula sobre Roberto Campos Neto.
Nas últimas semanas, Lula vem dizendo que o próximo presidente do BC vai reduzir a taxa básica de juros – a Selic está em 10,5%.
“Ele está colocando em xeque a própria independência do Banco Central”, diz Figueiredo. “E uma expectativa negativa provocada pelo próprio Lula.”
Nesta entrevista, ele analisa a aversão ao risco dos investidores, a possibilidade de recessão nos EUA, o que vem impactando o Brasil e a perspectiva para o Copom.
A aversão ao risco que se viu na segunda-feira, 5 de agosto, é pontual?
É uma reação excessiva, completamente excessiva. O que estava acontecendo é que a economia americana não desacelerava. De repente, vieram alguns números muito mais fracos. Nossa, será que ela [economia americana] não só vai desacelerar como vai entrar em recessão? A novidade no final é uma certa piração.
Mas há um desaquecimento.
A verdade é que foram dados que realmente mostraram um desaquecimento no mercado de trabalho. O índice de sentimento da indústria veio muito fraco também, só que o de serviços, que é 75% economia, veio bem. E até melhorando. Isso mostra claramente porque os mercados inclusive deram uma melhorada ao longo do dia. E mostra que aquilo lá foi um enorme exagero.
Mas esses dados vão influenciar na queda dos juros pelo Fed?
Claro que esses dados estão ajudando a perspectiva de queda de juros em setembro. O mercado até aumentou a porcentagem de chance de ter uma reunião antecipada…
Faz sentido?
Zero. Mas, em geral, o mercado exagera para o lado do otimismo ou do pessimismo. Tem outro fator que é o seguinte: o mercado acionário estava bastante caro, principalmente as grandes empresas de tecnologia. E daí tem duas questões. A primeira é que existe um excesso de investimentos no tema inteligência artificial. E existe um questionamento se todo esse investimento vai ter retorno.
E o segundo?
O segundo ponto é que as ações de empresas de tecnologia, principalmente de alguma maneira associadas à inteligência artificial, estão na Lua. Então, o mercado acionário também estava frágil.
Acaba sendo uma oportunidade de correção?
Exatamente. Com o mercado frágil, a correção acaba sendo maior do que numa situação normal. “Olha aí, a bolsa levou um tombo e todos estamos ferrados”. No final, evidentemente, é uma bobagem e não vai acontecer.
“As pessoas estão se protegendo [comprando dólar] porque o Brasil tem vindo na contramão do resto do mundo. As bolsas no mundo subindo e a nossa bolsa caindo barbaramente”
Como esse cenário externo impacta o Brasil?
Sem dúvida, as pessoas estão se protegendo [comprando dólar] porque o Brasil tem vindo na contramão do resto do mundo. As bolsas no mundo subindo e a nossa bolsa caindo barbaramente; caindo 22%, 23% em dólar. Não é pouco, é bastante. E está caindo porque não paramos de fazer bobagem.
Você diz em relação à situação fiscal?
Aquela agenda do Haddad de equilíbrio fiscal via aumento de receita meio que se esgotou. Daí o governo agora está falando, mas demorou muito tempo para falar, em despesa. De alguma maneira, segurar a despesa. O governo está falando, mas ninguém acredita muito. E tem outro fator também que é o Lula não parar de brigar com o presidente do Banco Central.
Essa posição aumenta a inquietação do mercado?
O Lula conseguiu uma façanha. Como ele disse que o novo presidente do Banco Central irá reduzir os juros, como se fosse isso uma determinação dele, ele está colocando em xeque a própria independência do Banco Central. Então, até acontecer e o cara não reduzir os juros, que acho que é uma coisa possível, talvez até provável, vamos ficar na expectativa. E uma expectativa negativa provocada pelo próprio Lula.
O segundo semestre vai ser nesse ritmo de expectativas ruins e qualquer notícia do exterior nos afetando?
Eu não sei dizer, porque o Brasil está bem atrasado em relação aos outros países. É aquela coisa de ir esticando a corda, mas chega uma hora que não consegue esticar mais. Ou seja, eu não acredito que o governo vá para um populismo desenfreado. É um populismo gradual, então o Brasil tende a ir piorando gradualmente, mas os ativos foram muito à frente.
Os ativos tendem a continuar performando mal?
Eu não sei dizer porque foi um desastre o que aconteceu com os ativos brasileiros (bolsa, taxa de câmbio e curva de juros) neste ano até aqui. Agora que a economia tende, na margem, a sofrer, eu não tenho a menor dúvida.
Você tinha uma visão de que a Taxa Selic era imprevisível até o fim do ano. Mantém essa visão?
A tendência é que o Banco Central tenha de ser mais conservador. O que quero dizer é que provavelmente não teremos queda de juros.
Negócios
Suzano quer menos “M&As grandiosos” e mais foco na desalavancagem
Em seu primeiro investor day desde que assumiu o comando da Suzano, em julho deste ano, Beto Abreu afirmou que a companhia não fará grandes movimentos de aquisição, destacando que o foco está na redução da alavancagem financeira e de custos operacionais do negócio.
“Não vamos implementar na nossa estratégia nenhum movimento significativo em termos de crescimento inorgânico”, disse ele na quinta-feira, 12 de dezembro. “Não temos no pipeline nenhum acordo transformador.”
Isso significa que, em vez de movimentos como a aquisição da International Paper, que criaria uma gigante com um valor de mercado de quase US$ 44 bilhões (mas envolveria um cheque volumoso, na casa dos US$ 15 bilhões, conforme noticiado à época), a empresa pretende apostar em movimentos como a compra da Pactiv Evergreen, por US$ 110 milhões, e de 15% da Lenzing, por R$ 1,3 bilhão.
No caso, serão movimentos em que a companhia possa gerar escala, trazendo suas capacidades operacionais e que possa extrair sinergias. É o caso da Pactiv, em que a Suzano vem trabalhando para ter opções de novas linhas de produtos em até cinco anos.
“Nós consideramos, por exemplo, que acordos que fizemos como da Pactiv e da Lenzing são saudáveis, com equilíbrio entre risco e crescimento no exterior”, disse Abreu. “Queremos alocar capital preservando a tendência do processo de desalavancagem.”
Também novato na cadeira, tendo assumido o posto no final de novembro, o CFO da Suzano, Marcos Assumpção, disse que a alocação de capital será o grande desafio da Suzano indo adiante. Mas ele destacou que a estratégia da companhia seguirá a mesma, com as decisões precisando obedecer os critérios de agregação de valor e com o pagamento do preço justo.
Ele destacou ainda os esforços da companhia de reduzir a alavancagem financeira da Suzano, que no terceiro trimestre alcançou 3,2 vezes em reais, visando alcançar o patamar de 3 vezes. Parte disso vem do fim dos vultosos investimentos para o Projeto Cerrado, nova fábrica de celulose da companhia em Mato Grosso do Sul.
A companhia também destacou que pretende implementar iniciativas para reduzir o custo caixa, apostando em iniciativas como mecanização na parte de silvicultura e aumentando a autossuficiência em madeira.
“O custo de capital é uma vantagem competitiva muito importante para a Suzano e não queremos arriscar isso, considerando que estamos numa indústria intensiva em capital”, afirmou Assumpção.
Como parte dos planos, a Suzano também vem trabalhando para concluir alguns investimentos anunciados, como é o caso da construção da fábrica de papéis higiênicos em Aracruz, no Espírito Santo, anunciada em outubro de 2023.
Ao custo de R$ 650 milhões, a planta deve ficar pronta no quarto trimestre de 2025, antecipando em alguns meses o plano inicial, o primeiro trimestre de 2026, fortalecendo a presença da Suzano na parte de bens de consumo, cujo maior movimento foi a compra das operações da Kimberly Clark no Brasil em 2022.
Por volta de 12h40, a ação SUZB3, da Suzano, recuava 2,29%, a R$ 62,63. No ano, os papéis acumulam alta de 13,6%, levando o valor de mercado a R$ 79,2 bilhões.
Negócios
Startup de “carros voadores” embarca novo aporte de US$ 430 milhões (e a Stellantis vai de carona)
As startups de aeronaves elétricas de pouso e decolagem vertical (eVTOL), ainda têm algumas escalas a cumprir para colocarem seus “carros voadores” nos céus, em operações comerciais. Mas não faltam investidores embarcando recursos para que essa tendência decole no mercado.
O mais novo nome a reforçar esse movimento é a Archer Aviation. Fundada em 2020, a startup americana anunciou na quinta-feira, 12 de dezembro, que levantou um novo investimento de US$ 430 milhões. O aporte chega apenas cinco meses depois de um aporte de US$ 230 milhões, liderado pela Stellantis, montadora de veículos de marcas como Fiat, Peugeot e Citroën.
A montadora também está pegando carona nessa nova rodada, assim como a United Airlines, que já integrava o captable da companhia. Entre os novos investidores figuram a Wellington Management e a 2PointZero, holding dos Emirados Árabes Unidos.
Com o aporte, a Archer Aviation, que abriu capital em Nova York por meio de uma Special Purpose Acqusition (SPAC) em setembro de 2021, chega a um volume de aproximadamente US$ 2 bilhões captados.
Parte dos recursos anunciados hoje será aplicada em outro projeto anunciado hoje pela startup. Trata-se de uma parceria com a também americana Anduril, empresa da área de tecnologia de defesa, para o desenvolvimento de aeronaves militares híbridas, na categoria dos eVTOLs.
De acordo com as duas companhias, o projeto tem como alvo um potencial registro da aeronave em um programa de aquisições do governo americano, aprovado e autorizado no âmbito do Departamento de Defesa dos Estados Unidos.
Ao ressaltar que a cadeia de suprimentos já desenvolvida e a experiência da Anduril vão acelerar o desenvolvimento do projeto, a Archer Aviation também informou que a iniciativa será tocada dentro do Archer Defense, um programa lançado recentemente pela companhia.
Com outro projeto de um eVTOL de cinco lugares em curso, a startup destacou ainda que encerrou o terceiro trimestre com US$ 502 milhões no caixa. E acrescentou que, agora, está bem posicionada, com um dos “principais balanços” do setor e sem necessidades de novas captações no curto prazo.
“Com a Anduril ao nosso lado e esse novo influxo de capital, aceleraremos o desenvolvimento e a implantação de tecnologias aeroespaciais avançadas em escala”, afirmou, em nota, Adam Goldstein, fundador e CEO da Archer Aviation.
Após chegarem a cair mais de 5% na Bolsa de Nova York, as ações da Archer Aviation registravam ligeira queda de 0,14% por volta das 10h37 (horário local), cotadas a US$ 7,38. Em 2024, os papéis acumulam, porém, uma valorização de 20,1%, dando à companhia um valor de mercado de US$ 3,1 bilhões.
Em outros exemplos mais recentes de startups capitalizadas da área, no início de outubro, a também americana Joby Aviation levantou US$ 500 milhões junto à Toyota, montadora japonesa que já investia na operação.
Já a brasileira Eve, fruto de um spin-off da Embraer e com capital aberto também na Bolsa de Nova York, onde está avaliada US$ 1,3 bilhão, captou um total de R$ 700 milhões em duas tranches, com um intervalo de nove dias, junto ao BNDES.
O primeiro contrato, de R$ 500 milhões, terá como destino a construção da fábrica de eVTOLs da empresa em Taubaté, no interior de São Paulo. Já o segundo financiamento será aplicado no desenvolvimento do carro voador da fabricante.
Negócios
O “kit Brasil 2.0” da AlphaKey para enfrentar os solavancos da bolsa brasileira
Nos anos 2000, o “Kit Brasil” foi uma estratégia de investimento focada em três apostas: alta da bolsa, queda do dólar e redução dos juros. Agora, a situação do mercado brasileiro é exatamente a inversa.
E a gestora de ações AlphaKey, que tem entre os seus investidores os family offices Aguassanta, de Rubens Ometto, e Citrino, de José Ermírio Moraes Neto, montou o seu próprio “kit Brasil” versão 2.0 para enfrentar os solavancos da bolsa brasileira.
“Você deve investir em empresas com receita em dólar e despesas em real. E ficar longe de companhias com pouco poder de repassar preços e que têm muita dívida”, diz Christian Keleti, fundador e CEO da AlphaKey, ao Café com Investidor, programa do NeoFeed que entrevista os principais investidores do Brasil.
Outros ingredientes do novo “kit Brasil” da AlphaKey são empresas boas pagadoras de dividendos, que tenham uma boa governança corporativa e estruturas de capital adequadas.
“As empresas de energia têm boa proteção contra inflação e gosto muito de shopping, de companhias como Multiplan, Iguatemi e Allos”, afirma Keleti.
Em sua carteira, estão empresas como Cyrela e Direcional, mas também companhias que estão fora do radar do mercado e que estão trazendo um bom retorno para os fundos da AlphaKey.
Uma delas é a C&A, na qual a gestora investiu quando a ação estava na faixa de R$ 4, mas que chegou a quase R$ 13 em novembro deste ano – na quarta-feira, 11 de dezembro, fechou em R$ 10,90.
“Esse é um caso emblemático. No terceiro trimestre de 2023, observamos que a empresa gerou de caixa quase todo o market cap dela. E ninguém olhava para ela”, afirma Keleti.
Agora, a AlphaKey montou uma posição, através de um fundo que captou exclusivamente para investir em um único ativo, na Priner, um spin-off da Mills, que está diversificando sua estratégia.
Na visão de Keleti, a Priner, que presta serviços industriais, tem aproximadamente o mesmo valor do IPO, que aconteceu em fevereiro de 2020, mas, desde então, multiplicou a receita e o Ebitda por aproximadamente cinco vezes, além de ter feito aquisições.
O M&A mais recente foi o da Real Estruturas e Construções, uma aquisição de R$ 170,7 milhões, que vai aumentar o faturamento da Priner em 30%. “É uma empresa diferenciada que está sendo negociada a 3X o Ebitda e crescendo de 20% a 25% por ano, com margens crescentes”, afirma Keleti.
Nesta entrevista, que você assiste no vídeo acima, Keleti detalha as teses da gestora, fala por que aposta em Cyrela e Direcional e conta sobre outra posição que montou em que ganhou 80% em quatro meses.
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