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“Casamento” entre OpenAI e Microsoft está estremecido? Stargate mostrou que sim

A OpenAI e a Microsoft mantêm uma parceria de longa data, na qual a gigante de tecnologia fundada por Bill Gates destinou mais de US$ 13 bilhões ao caixa da empresa comandada por Sam Altman. Porém, a relação entre as duas companhias parece ter ficado estremecida desde a posse de Donald Trump.
O choque ocorreu após a Microsoft ficar de fora do anúncio da joint venture que reúne OpenAI, Oracle, Softbank, feito na quarta-feira, 22 de janeiro, na Casa Branca. A nova empresa, denominada Stargate, projeta investir até US$ 500 bilhões na construção de data centers para inteligência artificial nos Estados Unidos, que busca apoiar o desenvolvimento da OpenAI.
Na ocasião, Altman, Larry Ellison, CEO da Oracle, Masayoshi Son, CEO do SoftBank e o presidente americano Donald Trump discutiram os diversos destinos da inteligência artificial, que pode ser utilizada para gerar empregos e até curar o câncer, na visão dos empresários.
Naquele momento, o CEO da Microsoft, Satya Nadella, estava muito longe da Casa Branca, participando do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça.
Esse, na verdade, parece ter sido apenas o estopim de uma relação que já vinha apresentando problemas nos últimos meses. De acordo com o The Wall Street Journal, as empresas vinham negociando como lidar com a demanda “insaciável” da OpenAI por poder computacional.
Para Altman, a Microsoft não conseguia mais atender essa necessidade da companhia. Porém, o acordo entre elas dificultava que a OpenAI buscasse outras alternativas.
A realidade é que, até o momento, a OpenAI depende da Microsoft para ter acesso aos data centers necessários para continuar operando o seu software de IA. Porém, o acordo entre as empresas, que foi firmado em 2019, parece estar ficando obsoleto, sem acompanhar os avanços da companhia de IA.
Outra questão é que, do lado da Microsoft, não existe exclusividade. Assim como outros gigantes do setor, a empresa aumentou seu investimento em infraestrutura de IA nos últimos anos e anunciou recentemente que gastará US$ 80 bilhões em data centers de IA neste ano fiscal. Esse valor, entretanto, será utilizado para também atender a outros clientes e parceiros além da OpenAI.
No momento, a OpenAI pede que a Microsoft permita que ela utilize outros provedores, como o Google. Por outro lado, a Microsoft insiste que essa permissão violaria o acordo de exclusividade.
Apesar de a Microsoft não ter participado do anúncio do projeto Stargate, Altman destacou que sua relação com o principal investidor da OpenAI continua boa.
Questionado no X sobre o possível fim da parceria entre as empresas, Altman escreveu: “De forma alguma! Essa será uma parceria muito importante e enorme por um bom tempo. Nós só precisamos de mais capacidade computacional.”
Do lado da Microsoft, a empresa também afirmou que a relação continua boa. Porém, Nadella declarou, em uma entrevista, que Altman quer construir modelos de IA gigantescos, enquanto a Microsoft quer se concentrar em integrá-los ao software, o que mostra dois caminhos distintos a serem seguidos.
Negócios
Em “Crentes”, um manual para entender o fenômeno evangélico no Brasil
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O antropólogo Juliano Spyer tem uma missão quase de fé: descortinar o universo evangélico para quem, por preconceito, ainda não entendeu a força social, eleitoral e econômica desse grupo de mais de 80 milhões de pessoas no Brasil.
Há cinco anos, ele lançou O povo de Deus, que ampliou o tema para parte da academia — e da esquerda —, refratária a assuntos envolvendo esse grupo religioso. Agora, junto com os colegas Guilherme Damasceno e Raphael Khalil, Spyer apresenta Crentes — Pequeno manual sobre um grande fenômeno.
Em entrevista ao NeoFeed, Spyer afirma que a necessidade de se lançar um manual sobre o fenômeno evangélico está ligada à dificuldade de setores da sociedade, principalmente as universidades, em buscar entender esse grupo de pessoas.
“A cara do evangélico brasileiro é preta, pobre, periférica. É, portanto, urbana e predominantemente feminina. Então, a princípio, esse é um universo fora do universo aqui dos pensadores do Brasil, dos intelectuais, das pessoas que escrevem em jornal”, diz Spyer.
Para o antropólogo, a academia ainda vê esse grupo religioso de uma maneira preconceituosa e superficial. Mas acredita que isso está mudando, principalmente entre empresários, que percebem como o seu negócio pode ser prejudicado ou impulsionado a partir da forma que for apresentado.
“Os evangélicos são um grupo muito sensível a alguns temas morais. E esses temas apareceram com muita intensidade nos últimos anos. Esse tipo de publicidade que toca, de alguma forma, a sensibilidade do campo evangélico, dá margem para descontentamento e afastamento”, afirma Spyer.
Em 237 páginas, o trio de autores explica as estruturas das igrejas evangélicas, noções básicas sobre protestantismo, a importância da música, as gírias, o gênero, a sexualidade e a política. Uma miríade de temas, sempre tratados de forma clara, como deve ser um manual:
Confira a seguir os principais trechos da conversa de Spyer com o NeoFeed.
O que mudou entre o lançamento de O povo de Deus, em 2020, e o de Crentes, em 2025, principalmente diante de um período de eleição presidencial?
Vejo uma coisa mudando: o entendimento de que o universo evangélico deve ser tratado de um jeito mais interessante. Estou me referindo principalmente a candidatos, políticos, pessoas ligadas a partidos de esquerda, entendendo que existe alguma coisa mais interessante, mais complicada do que simplesmente a visão anterior de que o crente variava entre um coitadinho que não foi para escola e um pastor manipulador carismático.
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Mas ainda há entraves nesse entendimento sobre os evangélicos, não?
Eu chamo isso de bloqueio cognitivo, esse entendimento racional da importância do campo evangélico — um universo que tem hoje em torno de quase 80 milhões de pessoas. Eu não vi esses partidos de esquerda fazendo um movimento mais profundo no sentido de alterar a percepção de que a esquerda é inimiga do cristianismo evangélico. Isso eu não vi acontecer.
Em sua opinião, por que não?
Eu tenho a impressão de que é um uma questão geracional, um bloqueio mesmo. Mas esse entendimento começa a vir de outros espaços, principalmente do mercado. Então, pensando em que medida o evangélico também pode ser visto ou como alguém que pode prejudicar o seu negócio, ou alguém que pode ser um consumidor mais ávido, mais envolvido, dependendo também de como você se comunica.
Por que um manual se, como o próprio título do livro indica, os evangélicos são um grande fenômeno? A quem se destina o manual?
O fenômeno evangélico existe fundamentalmente (ou evoluiu fundamentalmente) nas camadas populares do Brasil, do Brasil periférico. A cara do evangélico brasileiro é preta, pobre, periférica. É, portanto, urbana e predominantemente feminina. Então, a princípio, esse é um universo fora do universo dos pensadores do Brasil, dos intelectuais. Foi isso que motivou o manual, o fenômeno continua a crescer fora; ou principalmente fora dos muros acadêmicos. E que é visto por quem está dentro dos muros acadêmicos, em geral, de uma maneira preconceituosa e superficial.
Em relação à economia, então, há uma sensibilidade maior do setor empresarial sobre esse grupo?
Sim, a primeira sensibilidade tem a ver com o tema da perspectiva de um grande número de brasileiros. Um grupo muito sensível a alguns temas morais, que apareceram com muita intensidade nos últimos anos. A publicidade que toca, de alguma forma, a sensibilidade do campo evangélico, dá margem para descontentamento e afastamento. O evangélico, por exemplo, não quer que determinados conteúdos, como os envolvendo sexualidade, apareçam no corpo comercial de televisão durante o dia, quando os filhos estão assistindo televisão. Isso cria uma sensação de distanciamento em relação à marca. Então essa é a primeira coisa.
“A cara do evangélico brasileiro é preta, pobre, periférica. É, portanto, urbana e predominantemente feminina. Então, a princípio, esse é um universo fora do universo dos pensadores do Brasil”
Quais são as oportunidades de negócios oferecidas pelos evangélicos?
No setor de moda e de beleza, por exemplo. Existe muita demanda por esse tipo de produto, principalmente entre os evangélicos pentecostais — que zelam por sua aparência, pela maneira como são vistos e percebidos. A demanda por roupas, por exemplo, ainda é reprimida: roupas que mostrem menos o corpo. Mas a gente pode falar de comida, de bebida, de serviços bancários, de eletrônicos. Para todos esses campos existem oportunidades a serem exploradas.
A direita apostou no voto dos evangélicos para eleger Bolsonaro. Isso se confirmou de maneira efetiva?
Sim, foi efetiva nas duas últimas eleições presidenciais. Em torno de 70% do voto evangélico foi para o candidato de direita. A esquerda praticamente não conseguiu ser eficiente na comunicação com esse eleitor. As pessoas que continuam votando na esquerda dentro das igrejas e que suportaram essa pressão, se mantiveram de forma discreta. Quando a gente fala da presença bolsonarista, a gente fala dessa presença mais aguerrida, que não aceita a alternativa, que não aceita a diferença, que acha que o outro está completamente errado. Isso cria tensionamentos dentro das igrejas.
Qual perfil dos evangélicos que não apoiam o ex-presidente?
São dois principalmente. O primeiro está nas igrejas que chamamos de históricas ou missionárias. São igrejas mais antigas, tipo batista, metodista, luterana e, em certo sentido, também a presbiteriana. São igrejas de classe média, mais reservadas, em que esse proselitismo não acontece de uma maneira tão enfática. O segundo está nas igrejas pentecostais tradicionais, numa faixa de renda até dois salários mínimos. São pessoas que ainda dependem ou dependeram até pouco tempo atrás da ajuda do governo — portanto, mantém-se o elo de gratidão.
A defesa do armamento por parte de Bolsonaro foi vista como um entrave para o avanço do então presidente no eleitorado feminino mais pobre. Isso faz sentido?
Faz muito sentido. Nada é mais “anti-Jesus” — como disse o pastor Nelson Gomes, que era da Assembleia de Deus e acabou perseguido — do que uma pessoa com revólver na mão. Tem aí uma série de momentos bastante importantes da história de Jesus narrada na Bíblia, em que Jesus rejeita esse tipo de posicionamento, pela espada, pela guerra, por esse tipo de confronto. E nesse sentido existia aí uma percepção bastante refratária em relação a Bolsonaro —muito ligado ao Exército, à polícia, uma pessoa com uma atitude grosseira. Isso criou de fato um distanciamento entre mulheres, principalmente mulheres evangélicas.
Como os bolsonaristas abordaram essa questão?
Isso foi resolvido de forma muito poderosa pelo envolvimento crescente de Michelle Bolsonaro, atuando de uma maneira muito diligente, muito disciplinada, muito organizada, nos eventos, encontros e reuniões com mulheres. Já ouvi inúmeras vezes que o voto do Bolsonaro hoje é uma coisa que acontece com facilidade como um voto de confiança na Michelle e no que ela pode fazer junto com a atuação de Deus.
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O “mea culpa” alemão em filmes sobre os horrores do Holocausto
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BERLIM — Barbeiro cai no choro ao se lembrar do trabalho que foi obrigado a fazer para os nazistas: cortar os cabelos das mulheres, sem que as prisioneiras, famintas e exaustas, desconfiassem de seu destino: a câmara de gás.
A cena é um dos momentos mais avassaladores de Shoah (1985), documentário de mais de nove horas de duração, que foi reexibido na íntegra durante a Berlinale, como é conhecido o festival de cinema da capital alemã, que chega em 2025 à sua 75ª edição.
O Holocausto raramente é ignorado pelo comitê que seleciona os filmes para o evento, com sede em Potsdamer Platz. Até porque os alemães não se cansam de lamentar o passado, definindo o Terceiro Reich como um capítulo obscuro da história do país.
Mas a programação de mea culpa está reforçada este ano, para marcar o 80º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Para que as atrocidades cometidas por Adolf Hitler (1889-1945) não sejam negadas ou esquecidas, filmes novos e antigos pontuam o festival, que será encerrado neste domingo.
Até agora, Shoah foi um dos pontos altos, com uma exibição na mostra Berlinale Special, com ingressos esgotados rapidamente, apesar de a projeção ter tomado o dia inteiro do público que compareceu à Akademie der Künste (AdK).
Apontado como o documentário mais importante sobre o Holocausto já feito, o filme assinado pelo francês Claude Lanzmann (1925-2018) se tornou um marco na história do cinema por não se apoiar em imagens de arquivo. Ele reuniu testemunhos de sobreviventes, nazistas e outros entrevistados que pudessem, de alguma forma, ajudar a reencenar o genocídio de seis milhões de judeus.
A riqueza de detalhes nos depoimentos é suficiente para que o espectador use a imaginação para visualizar os horrores. Um exemplo é o depoimento de Franz Schalling, registrado sem o conhecimento do guarda de segurança alemão, que descreve o processo de execução por gás em Chełmno, na Polônia.
Segundo ele, quando os judeus chegavam em caminhões ao campo de extermínio, os prisioneiros estavam “congelados, famintos e sujos”. Os oficiais nazistas diziam que eles teriam trabalho para fazer ali, mas que, antes de entrar, eles precisariam tomar banho. A caminho do porão, onde estavam as câmaras de gás (e não os banheiros), os presos tinham de se despir e entregar todos os objetos de valor.
Outro documentário, mais recente, dirigido pelo também francês Guillaume Ribot, resgata como foi revolucionária a representação do Holocausto em Shoah. Batizado Je n’avais que le néant (“Eu nada tinha, além do nada”, na tradução literal), esse é um filme sobre o filme anterior, com destaque para a jornada de mais de 12 anos de Lanzmann, período em que o cineasta percorreu 14 países em busca de testemunhas.
Ribot usou como base mais de 200 horas de material da filmagem original, além de recorrer a trechos do livro de memórias de Lanzmann, para estruturar a narrativa. Aqui entram não só os contratempos no caminho do documentarista de Shoah, como as artimanhas que ele usou para conseguir certos depoimentos, bem como suas inseguranças e dúvidas.
Lanzmann morreu, sem ter visto seu filme entrar, em 2023, para o Registro da Memória do Mundo da UNESCO.
Os moradores de hoje
Buscando outro ângulo do Holocausto, a Berlinale também apresenta nesta edição Bedrock, longa-metragem documental de Kinga Michalska, selecionado para a mostra Panorama. O que se vê aqui é um raio X psicológico da Polônia atual, a partir de depoimentos de quem mora nos locais de referência para o Holocausto até hoje.
Vários entrevistados ajudam a entender como as sombras do passado reverberam no presente, forçando os moradores a aprenderem a lidar com a memória coletiva traumática. Muitos ainda vivem sob um julgamento constante, como os residentes da cidade de Auschwitz — como se eles tivessem de se sentir culpados por viver no lugar onde foi erguido um campo de concentração.
A produção japonesa Underground, dirigida por Kaori Oda, também confronta presente e passado, ao revisitar as cavernas da ilha de Okinawa, onde os civis se escondiam durante os bombardeios conduzidos pelas tropas dos Estados Unidos, na Segunda Guerra Mundial. Buscando um efeito mais sensorial, a ferida histórica é traduzida por imagens que alternam escuridão e luz.
Para as gerações mais jovens
Os traumas da Segunda Guerra também atormentam o protagonista de série The Narrow Road to the Deep North, outro destaque da Berlinale Special deste ano. Foram exibidos os dois primeiros dos cinco episódios da produção, com foco em um herói de guerra (vivido por Jacob Elordi) com dificuldades para superar as memórias dolorosas do período em que foi prisioneiro dos japoneses.
Também foi programada para esta Berlinale a projeção de uma cópia restaurada de Das Falsche Wort (“A palavra equivocada”, em tradução literal), rodado em 1987, dentro da programação da mostra Forum Special. As documentaristas Katrin Seybold e Melanie Spitta resgatam aqui a perseguição nazista ao povo nômade conhecido como Sinti.
Elas revelam que o preconceito não acabou com o fim da guerra. Na época do lançamento, as cineastas reclamaram não terem tido acesso a certos documentos oficiais para a realização do filme.
Melanie Spitta (1946-2005), que perdeu seis irmãos durante o Holocausto, foi representada na sessão de Das Falsche Wort pela filha, a ativista Carmen Spitta.
Na ocasião, ela lembrou que mais de 500 mil ciganos da Europa foram assassinatos na era nazista, incluindo muitos de seus parentes.
Como Carmen disse, no cinema Arsenal: “Faz parte da nossa resistência, passar continuamente a nossa história às gerações mais jovens”.
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De quem é o texto: do aluno ou da inteligência artificial?
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NOVA YORK — Em dezembro passado, os alunos de oitava série de Nova York passaram pelo tradicional moedor de carne de final curso: as aplicações para as high schools, as escolas de nona a 12ª séries. Algumas exigem redações, que desde a pandemia são submetidas na plataforma digital do Departamento de Educação da cidade.
Desta vez, no entanto, a Bard High School Early College, um dos colégios mais procurados pelas famílias nova-iorquinos, voltou aos tempos pré-covid: as redações deveriam ser produzidas presencialmente. O motivo? O número alarmante de textos escritos pela inteligência artificial (IA).
“Estudantes, como qualquer um de nós, sempre tiveram formas de plagiar”, diz, em entrevista ao NeoFeed, Rebecca Wallace-Seagel, fundadora e CEO da Writopia Lab, em Manhattan — organização de fomento à escrita criativa, com foco em crianças, adolescentes e jovens. “A novidade neste debate é a confusão em torno do papel da escrita na vida dos alunos.”
No processo de alfabetização, frequentemente a leitura é privilegiada em detrimento da escrita. Muitos especialistas, no entanto, defendem que o desenvolvimento da escrita, sobretudo da criativa e da crítica, é tão importante quando a capacidade ler. Aliás, o hábito de escrever melhora a capacidade da leitura — e vice-versa, um aperfeiçoando o outro, em um sistema de retroalimentação. Tem mais.
Não importa a área profissional, até na mais exata das carreiras de exatas, saber escrever bem é imprescindível para a formação de adultos independentes, capazes de se apropriar de suas próprias histórias e ideias e de comunicá-las de maneira clara.
“A menos que queiramos um sistema educacional focado apenas em tornar as pessoas consumidoras e não em ajudá-las a se tornarem produtoras, essa ênfase apenas na leitura — o que acontece em muitos lugares — é muito míope”, costuma defender Elyse Eidman-Aadahl, líder do National Writing Project, de apoio a professores que querem incentivar os alunos a escrever mais.
Mas, como diz Rebecca, o uso indiscriminado de ferramentas de IA pode minar os objetivos dos estudantes, em vez de ajudá-los. Cerca de 60% dos alunos, ela lembra, não foram letrados na linguagem da tecnologia. “E há uma ingenuidade generalizada sobre o quanto a escrita feita por IA é identificável”, completa.
Recentemente, a CEO da Writopia Lab avaliou a redação de um aluno, que estava se candidatando a uma vaga na universidade. O texto, em sua palavras, estava “sem alma”. Ela acabou descobrindo que o autor da redação, na realidade, era a IA — o que pegou o jovem de surpresa.
Um estudo da Universidade Harvard, em parceria com o Common Sense Media e o Hopelab, entrevistou 1,5 mil jovens, entre 14 e 22 anos. Metade deles já recorreu à tecnologia em um algum momento. Apenas 4%, no então, são usuários diários, lê-se em Teen and Young Adult Perspectives on Generative AI.
Pouco mais da metade usa a ferramenta para obter informações (51%) e brainstorming (53%). Muitos admitiram usar a IA para “colar” em tarefas realizadas em aula, lições de casa e/ou provas.
Mas, embora a integridade acadêmica continue sendo uma preocupação tanto para adultos quanto para adolescentes, muitos participantes do estudo destacaram as experiências acadêmicas positivas, chamado a IA de “a abordagem moderna para o aprendizado” e “a capacidade de pedir ajuda para começar trabalhos ou criar um plano de aprendizado individualizado”.
Na Bronx Science, uma das cinco escolas de high school da elite acadêmica de Nova York, os professores avisam que vão dar zero para qualquer trabalho ou prova feito com inteligência artificial, conta Yael Mehler, de 15 anos, estudante da 10ª série, ao NeoFeed.
Mas, certa vez, lembra ela, um aluno tirou a nota mais baixa, acusado de recorrer à IA. Detalhe: ele não tinha usado a tecnologia para realizar a tarefa.
Uma grande confusão
Está uma confusão danada. Na Boston University, aconteceu caso semelhante. Como conta Priscila Kligerman, estudante de administração e marketing, em um trabalho em grupo, um dos colegas usou a IA para fazer a sua parte. O professor detectou a fraude reduziu a nota dos quatro alunos.
“Por outro lado, este mesmo professor marcou uma parte da redação de um amigo como IA — mas não era o caso”, diz Priscila.
Algumas escolas permitem a ferramenta em atividades específicas, com a supervisão dos professores. Na Bronx Science, por exemplo, os alunos são incentivados a usá-la nas pesquisas de biologia, por exemplo, para ajudar a resumir uma ideia de forma mais clara. Na Boston University, como tecnologia de brainstorm.
No Brasil, o cenário não é diferente. Muitas escolas já adotaram a inteligência artificial, inclusive na rede pública. Para os estudiosos do assunto, a IA traz boas oportunidades, mas também grandes preocupações — sobretudo, em relação ao uso excessivo.
Entre eles, um dos principais pontos é alertar que o material produzido pela tecnologia não é uma criação intelectual própria; mas do robô.
“Detetives” de textos
Identificar se um texto foi produzido por inteligência artificial é motivo crescente de preocupação não apenas nas escolas e universidades, como também no mundo corporativo. Como os textos gerados por IA costumam ter uma produção otimizada para SEO, o conjunto de técnicas e estratégias para que um determinado site fique mais bem posicionados nos buscadores, para os mais experientes, é fácil identificar quando o robô foi o “autor” de uma redação.
Ele costuma ser impessoal, de estrutura previsível e polida e excessivamente formal. A máquina adora frases longas e não se incomoda com a repetição de palavras e de ideias. É useira e vezeira nos exemplos genéricos e pouco profunda ou profunda demais em temas mais complexos.
Em entrevista ao podcast The Daily, do jornal The New York Times, em janeiro de 2023, dois meses depois do lançamento do ChatGPT, Andrew Reeves, professor de história da Middle Georgia State University, relatou que uma de suas aulas abrange o início da Era Moderna. Ele debateu com seus alunos, em torno da faixa etária de 20 anos, algumas questões sobre a continuidade das políticas do Protetorado de Cromwell, pela monarquia Stuart.
Pouco depois, ao ler um texto de um aluno sobre o tema, Reeves notou que a riqueza de detalhes extrapolava o conteúdo abordado em sala de aula. O texto tinha uma voz de “alguém” totalmente familiarizado com as Relações Exteriores da Inglaterra do século XVII. “Mesmo um aluno brilhante, entusiasmado e que domina o material, ele não soa como uma “Wikipédia destilada”’, disse ele.
“Ainda há uma espécie de personalidade própria e um entendimento idiossincrático na escrita destes jovens”, explicou Reeves. “Ao escrever sobre estes temas, sempre há algo que pode ter escapado, algo extremamente perspicaz, ou até uma visão nova, justamente por eles não estarem mergulhados no assunto.”
Mas aquela publicação não tinha nada disso: “Foi aí que senti o estômago embrulhar”.
Conforme as tecnologias avançam, a IA para produção de textos torna-se mais e mais sofisticada. Paralelamente a esse movimento, as ferramentas para detecção do uso de inteligência artificial também se refinam e avançam ritmo acelerado. O mercado global desses “detetives” previsto crescer 24%, entre 2024 e 2030, no cálculos da consultoria Luncitel.
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