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Em Paris, teve micróbios, faltou comida e os ônibus eram uma sauna. Imagina se fosse no Brasil?

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Em Paris, teve micróbios, faltou comida e os ônibus eram uma sauna. Imagina se fosse no Brasil?
Tempo de Leitura:6 Minuto, 51 Segundo


Em um evento esportivo da magnitude de uma Olimpíada, os atletas deveriam se preocupar apenas com seus desempenhos nas competições. Mas não foi o que aconteceu em Paris 2024. Esportistas de várias delegações se viram também apreensivos com a qualidade da água do rio Sena, da comida e das acomodações na vila olímpica.

Apesar do US$ 1,4 bilhão investido em projetos de despoluição, do pensamento positivo do presidente Emmanuel Macron e da prefeita Anne Hidalgo e da beleza majestosa da ponte Alexander III, um dos cartões postais da cidade e ponto de largada das provas realizadas no rio, os coliformes fecais e outros micróbios nas águas do Sena já entraram para a história dos jogos de Paris.

Os mais prejudicados foram os competidores do triatlo e da maratona aquática. “Ficávamos com a insegurança ao acordar se a prova aconteceria mesmo ou se seria cancelada”, contou a brasileira Viviane Junglbut. Ela nadou no Sena na manhã de quinta-feira, 8 de agosto, para a maratona aquática, da qual saiu na 11ª posição. Disse não ter sentido nada, mas só teria certeza mesmo dali alguns dias.

A inquietação da esportista se justifica. Em cinco ocasiões, treinamentos e provas foram adiados ou cancelados por “razões sanitárias”. Pior ainda para a equipe belga de revezamento misto de triatlo, que perdeu a atleta Claire Michel para a poluição.

Ao participar da prova de triatlo feminino e, depois de três dias de vômito e diarreia, teve de ser hospitalizada. Sem Claire, os belgas abandonaram a competição.

Segundo a plataforma investigativa francesa Mediapart, a qualidade da água só esteve satisfatória em dois de dez dias de análises. O comitê organizador contestou as informações, ressaltando que os testes, apontados como problemáticos, estavam próximas do limite aceitável.

E que, além disso, a área de coleta das amostras estava fora do percurso do triatlo, embora se situasse a cerca de 300 metros.

Garganta higienizada com álcool

A húngara Bettina Fabian preferiu acreditar que “as coisas marrons” que viu no Sena eram plantas podres. “Engoli muita água, mas vamos higienizar minha garganta com álcool e tudo bem”, afirmou ela.

Já a belga Jolien Vermeylen, parceria de equipe de Claire, foi mais incisiva: “Enquanto nadava sob a ponte, senti e vi coisas nas quais não deveríamos pensar muito. O Sena está sujo há 100 anos, então eles não podem dizer que a segurança dos atletas é prioridade. Isso é besteira.”

Os banhos no Sena estavam proibidos desde 1923 —. até os anos 1950, a prática foi tolerada. Do momento em que o rio foi escolhido como local do triatlo e da maratona aquática na Olímpiada 2024, as autoridades francesas iniciaram uma corrida contra o relógio para limpar o Sena.

A atleta belga Claire Michel teve de ser hospitalizada depois de participar de prova de natação no Sena. Sem ela, a equipe de triatlo misto da Bélgica abandonou os jogos (Crédito: Reprodução Instagram @clairemichel)

“Enquanto nadava sob a ponte, senti e vi coisas nas quais não deveríamos pensar muito. O Sena está sujo há cem anos, então eles não podem dizer que a segurança dos atletas é prioridade. Isso é besteira”., reclamou Jolien Vermeylen, colega de Claire Michel, na equipe de triatlo da Bélgica (Crédito: Reprodução Instagram @jolien_vermeylen)

Para o nadador britânico Adam Peaty, o problema foi a falta de proteína nos cardápios disponíveis no restaurante da vila olímpica: “Eu quero carne, eu preciso de carne para perfomar e é isso que eu como em casa. Por que deveria mudar?”(Crédito: Reprodução Instagram @adampeaty)

A skatista Rayssa Leal usou o filtro “cara de palhaço”, do Instagram, para reclamar por ter sido esquecida depois de um treino (Crédito: Reprodução Instagram @rayssalealsk8)

Para as meninas do handball sueco, os colchões, feitos de linha de pesca reciclada, eram duros demais. Novos foram comprados às pressas (Crédito: Reprodução Instagram @handballlandslaget)

O menu da vila olímpica pode até ter sido elaborado por chefs estrelados, mas Simone Biles não se convenceu: “Não acho que sirvam comida francesa na vila como a que comemos lá fora. As pizzas são boas” (Crédito: Reprodução Instagram @simonebiles)

Dias antes da abertura dos jogos, a prefeita Anne Hidalgo nadou no Sena para provar que o rio estava limpo (Crédito: Ville de Paris)

A principal causa da poluição são os despejos das estações de tratamento de água. A prefeitura modernizou o sistema com novas tecnologias, como filtros e raios ultravioletas, para matar os micróbios resistentes ao tratamento de esgoto.

Em dias de chuva forte, os túneis subterrâneos e as estações de tratamento ficavam sobrecarregados e o excesso escoava para o Sena. Em maio, após “obras titanescas”, como definiram as autoridades municipais, foi inaugurado em Paris um centro de estocagem de águas pluviais, equivalente a 20 piscinas olímpicas.

Para provar que o rio voltaria a fazer parte da vida dos parisienses, dias antes da abertura dos jogos, Anne Hidalgo mergulhou no Sena. Macron prometeu o mesmo, mas até agora, nada.

“Eu quero carne”

O Sena não foi o único alvo de críticas e polêmicas. A meta ecológica dos jogos deixou muito atleta desconfortável — a ausência de ar-condicionado na vila olímpica, as camas de papelão (mais fáceis de reciclar) e os colchões duros demais (feitos com linhas de pesca).

Descontentes, as jogadoras da seleção de handball da Suécia solicitaram novos colchões, comprados às pressas em uma loja da gigante sueca Ikea, de móveis e decoração. “O problema não é a cama de papel, é o colchão duro. Precisava de um tempo para amaciar, mas não podíamos esperar”, justificou a atleta Jamina Roberts.

Tenistas americanas nem quiseram mudar os móveis. Preferiram trocar as acomodações olímpicas por um hotel. Já os jogadores da seleção de basquete dos Estados Unidos ficaram alheios a isso tudo. Eles se instalaram diretamente em um hotel de luxo, como fazem há anos em Olimpíadas.

Para alguns nadadores sul-coreanos o problema não era nem tanto a cama dura, mas a “sauna” nos ônibus que transportavam os atletas até os locais de competição. “Era mais fresco fora do que dentro do veículo”, comentou o nadador Hwang Sun-woo.

A skatista brasileira Rayssa Leal usou as redes sociais para um “desabafo”: depois do treino do dia 24 de julho, ela e um grupo atletas foram “esquecidos” na pista da La Concorde.

“A gente ia sair 16h20 daqui da pista pra ir pra vila pra poder comer, tomar um banho e descansar. Adivinha que horas são? São 19h17, está todo mundo aqui esperando um tal de ônibus chegar e não chega”, esbravejou, no vídeo do Instagram, usando um filtro de “cara de palhaço”. “Eu quero chegar na vila, poder comer, estou com fome.”

Mas talvez o que mais tenha causado irritação foi justamente a alimentação. Vários esportistas comentaram nas redes sociais sobre as longas filas de espera, as porções pequenas e a falta de proteínas. “O único problema é a falta de comida. É um pouco surpreendente”, disse o nadador hondurenho Julio Horrego.

O britânico Adam Peaty, prata nos 100 metros peito, foi duro. Disse que os competidores encontraram vermes na comida e mais: “O serviço não é bom o suficiente para o nível no qual os atletas devem performar. Precisamos dar o nosso melhor. Não há opções de proteínas suficientes. Eu quero carne, eu preciso de carne para perfomar e é isso que eu como em casa. Por que deveria mudar?”

“As pizzas são boas”

A ideia inicial dos organizadores era que 60% da refeições fossem carne e um terço delas baseadas em vegetais. Responsável pela administração do restaurante, a Sodexo fez os ajustes nas quantidades de proteínas.

Para os jogos, foram criadas mais de 550 receitas, incluindo uma seleção de menus, desenvolvidos por chefs estrelados, como Alexandre Mazzia.

Não convenceu muito, pelo menos não a estrela da ginástica Simone Biles: “Não acho que sirvam comida francesa na vila como a que comemos lá fora. Para os atletas é um pouco mais saudável. As pizzas são boas”.

Apesar dos problemas, muitos atletas vibraram em Paris e viveram momentos emocionantes nas competições, sobretudo os que voltam agora para casa com medalhas fabricadas com pedaços da Torre Eiffel.

Que o digam Rebeca Andrade, Beatriz Souza, Rayssa Leal, William Lima, Isaquias Queiroz, Augusto Akio, Tatiana Weston-Webb, Gabriel Medina, Duda, Ana Patrícia…



Fonte: Neofeed

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O “kit Brasil 2.0” da AlphaKey para enfrentar os solavancos da bolsa brasileira

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Nos anos 2000, o “Kit Brasil” foi uma estratégia de investimento focada em três apostas: alta da bolsa, queda do dólar e redução dos juros. Agora, a situação do mercado brasileiro é exatamente a inversa.

E a gestora de ações AlphaKey, que tem entre os seus investidores os family offices Aguassanta, de Rubens Ometto, e Citrino, de José Ermírio Moraes Neto, montou o seu próprio “kit Brasil” versão 2.0 para enfrentar os solavancos da bolsa brasileira.

“Você deve investir em empresas com receita em dólar e despesas em real. E ficar longe de companhias com pouco poder de repassar preços e que têm muita dívida”, diz Christian Keleti, fundador e CEO da AlphaKey, ao Café com Investidor, programa do NeoFeed que entrevista os principais investidores do Brasil.

Outros ingredientes do novo “kit Brasil” da AlphaKey são empresas boas pagadoras de dividendos, que tenham uma boa governança corporativa e estruturas de capital adequadas.

“As empresas de energia têm boa proteção contra inflação e gosto muito de shopping, de companhias como Multiplan, Iguatemi e Allos”, afirma Keleti.

Em sua carteira, estão empresas como Cyrela e Direcional, mas também companhias que estão fora do radar do mercado e que estão trazendo um bom retorno para os fundos da AlphaKey.

Uma delas é a C&A, na qual a gestora investiu quando a ação estava na faixa de R$ 4, mas que chegou a quase R$ 13 em novembro deste ano – na quarta-feira, 11 de dezembro, fechou em R$ 10,90.

“Esse é um caso emblemático. No terceiro trimestre de 2023, observamos que a empresa gerou de caixa quase todo o market cap dela. E ninguém olhava para ela”, afirma Keleti.

Agora, a AlphaKey montou uma posição, através de um fundo que captou exclusivamente para investir em um único ativo, na Priner, um spin-off da Mills, que está diversificando sua estratégia.

Na visão de Keleti, a Priner, que presta serviços industriais, tem aproximadamente o mesmo valor do IPO, que aconteceu em fevereiro de 2020, mas, desde então, multiplicou a receita e o Ebitda por aproximadamente cinco vezes, além de ter feito aquisições.

O M&A mais recente foi o da Real Estruturas e Construções, uma aquisição de R$ 170,7 milhões, que vai aumentar o faturamento da Priner em 30%. “É uma empresa diferenciada que está sendo negociada a 3X o Ebitda e crescendo de 20% a 25% por ano, com margens crescentes”, afirma Keleti.

Nesta entrevista, que você assiste no vídeo acima, Keleti detalha as teses da gestora, fala por que aposta em Cyrela e Direcional e conta sobre outra posição que montou em que ganhou 80% em quatro meses.





Fonte: Neofeed

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Cimed entra no mercado de oral care para disputar mais de R$ 8 bilhões

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Cimed entra no mercado de oral care para disputar mais de R$ 8 bilhões
Tempo de Leitura:5 Minuto, 34 Segundo


Marca de hidratantes labiais da Cimed, a Carmed rapidamente caiu no gosto dos consumidores. Especialmente a partir do boca a boca digital gerado pelos posts dos irmãos – e influencers – João Adibe Marques e Karla Felmanas, respectivamente, o CEO e a vice-presidente da farmacêutica brasileira.

Um número traduz a escalada da linha lançada em junho de 2023. A partir do burburinho nas redes sociais, onde a dupla soma 5,5 milhões de seguidores, a marca deve fechar 2024 com um faturamento de cerca de R$ 400 milhões. E está pronta para turbinar ainda mais essas cifras.

Em uma estratégia antecipada ao NeoFeed, a Cimed está ampliando o alcance e o portfólio da Carmed com o lançamento de cremes dentais e enxaguantes bucais, produtos que marcam a sua entrada no mercado de oral care.

“O impacto do oral care para a Carmed é 20 vezes maior do que o hidratante labial”, diz João Adibe Marques, ao NeoFeed. “A marca já fatura R$ 1 bilhão no sell-out (volume total vendido no varejo). Mas com o oral care, nossa projeção é bater o primeiro bilhão no sell-in (vendas para o varejo) em 2025.”

À parte desse discurso, o que motiva a Cimed são os indicadores da categoria no Brasil.
O setor movimenta R$ 8,2 bilhões anualmente, é o segundo em termos de recorrência e está presente em 98% dos lares do País, atrás apenas de detergentes, segundo a consultoria Kantar.

De acordo com Marques, atualmente, três multinacionais respondem por cerca de 90% do faturamento do setor: as americanas Colgate-Palmolive e Procter & Gamble (P&G), e a britânica GSK, dona de marcas como Sensodyne.

“Nosso objetivo é chegar ao top 3 do segmento em três anos”, afirma o CEO da Cimed. Ele faz uma ressalva, porém, dentro dessa ambição. “Como fazemos em todo mercado que entramos, a ideia não é destruir a categoria. Nossa pegada é de construção de prateleira.”

Com um investimento cujo valor não foi revelado, o projeto para ocupar esse novo espaço teve início há seis meses. A fórmula para se diferenciar e alcançar o pódio da categoria, por sua vez, é conhecida e segue o modelo já adotado pela Carmed.

A começar pelas ações de divulgação, que irão combinar o poder de viralização da marca nas redes sociais com mídias tradicionais, como a TV aberta. Já no que diz respeito ao portfólio, a estreia também vem embalada em uma parceria com a fabricante de balas Fini, assim como feito nos hidratantes labiais.

“Nossa ideia é ter a primeira linha com sabores que fogem dos tradicionais menta e hortelã”, explica Marques. Sob essa orientação, os produtos que chegaram às gôndolas neste mês de dezembro trazem os sabores Fini Beijos e Fini Dentadura, com preços na faixa de R$ 14 a R$ 18.

Em linha com a abordagem de apostar nos sabores mais vendidos em hidratantes, em janeiro, cereja e melancia serão adicionados a esse pacote. E, no segundo semestre de 2025, o plano é complementar esse portfólio com fio dental e escovas de dente.

Nessa largada, a Carmed já contabiliza bons números. Desde a estreia no varejo, mesmo sem nenhum lançamento oficial, a marca registrou a venda de 7 milhões de cremes dentais. Para o primeiro ano da operação, a meta é chegar a um volume de até 100 milhões.

No caminho para perseguir esses números, a Cimed vai se concentrar inicialmente no varejo farmacêutico, que responde por 40% das vendas da categoria no Brasil, aproveitando-se da sua presença em 98% das farmácias no País.

“Com essa penetração, queremos chegar a um market share de 30% no canal farma nesse primeiro ano de operação”, afirma Marques. “E, para 2025, nosso desafio é estruturar a entrada no canal alimentar, de supermercados e lojas de conveniência, que concentra os 60% restantes das vendas.”

Em uma terceira via, o plano é dar sequência aos projetos de lojas pop-ups da Carmed, por meio da repaginação de farmácias parceiras, por períodos que podem se estender de 60 a 120 dias. Nesse ano, foram 14 projetos nesse modelo, contra os quatro inicialmente orçados.

“Ainda vamos entender como vamos avançar nessa frente em 2025, mas já temos mais de mil pedidos de parceiros nesse formato”, diz. “No fundo, ninguém quer visitar uma farmácia. Então, nossa ideia é justamente provocar outra experiência no consumidor e construir um novo mercado.”

Com esse mesmo viés, mas sob a ótica de aproximar as farmácias com o público das academias, em 2025, o formato das pop-ups será estendido à Lavitan, linha de vitaminas e suplementos alimentares da Cimed.

Hoje, excluindo a categoria de medicamentos genéricos, que segue como carro-chefe da Cimed, as linhas Carmed e Lavitan já são as duas principais marcas da farmacêutica, dona de um portfólio de mais de 600 produtos.

Os atalhos para os R$ 5 bilhões

O fato de a companhia reservar cada vez mais investimentos e tempo a essas duas operações dialoga diretamente com a sua meta de alcançar um faturamento de R$ 5 bilhões em 2025. Para esse ano, a projeção é registar um crescimento de 25% sobre 2023, quando a receita bruta foi de R$ 3 bilhões.

“A entrada em novos setores é justamente a alavanca para batermos essa meta”, diz Marques. Nesse contexto, a estreia em oral care, prevista inicialmente para 2025, foi antecipada para cobrir a lacuna de outra iniciativa que figurava no pacote de novos mercados da Cimed para esse ano.

Há pouco mais de três meses, a farmacêutica viu frustrada sua tentativa de comprar a Jequiti, do Grupo Silvio Santos. A aquisição marcaria, na prática, sua entrada no canal de vendas diretas, o famoso “porta a porta”.

“A não compra da Jequiti foi substituída pelo oral care. Do contrário, seria muito difícil entregarmos o que planejamos no ano que vem”, diz. Ele projeta o investimento – orgânico ou via M&As – em novas categorias para 2025. Protetores solares, shampoos e condicionadores são alguns deles que estão no radar.

Em contrapartida, Marques não comenta a matéria publicada no início de setembro pelo jornal Valor Econômico, afirmando que a Cimed teria contratado o J.P. Morgan para vender uma fatia minoritária de sua operação.

Para realçar o momento e as perspectivas da Cimed, ele não se esquiva de falar, porém, sobre outra possível movimentação recente no mercado farmacêutico, revelada pelo portal Pipeline: a notícia de que a francesa Sanofi teria contratado a Lazard para vender a operação da Medley no Brasil.

“Estamos muito atentos para o caixa, mas agora que a Medley voltou ao mercado, vamos entrar nessa disputa”, ressalta. “Então, hoje, num primeiro momento, somos muito mais compradores do que vendedores.”





Fonte: Neofeed

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A Caatinga, bioma mais pobre do Brasil, pode ser uma solução para a fome

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A Caatinga, bioma mais pobre do Brasil, pode ser uma solução para a fome
Tempo de Leitura:5 Minuto, 47 Segundo


Com o fim da temporada das chuvas, as folhas caem, deixando os troncos esbranquiçados à amostra. Do tupi, “caa”, “mata” e “tinga“, “branca”. Na Caatinga, a natureza parece morta — só que não.

As plantas desfolham para reduzir a perda de água pela transpiração e, dessa forma, sobreviver aos períodos mais secos. Basta a chuva voltar a cair para a paisagem esverdear de novo. Deveria ser assim, como sempre foi. Mas o caos climático está subvertendo a dinâmica do único bioma 100% brasileiro.

Com secas cada vez mais longas e frequentes, a Caatinga está ameaçada virar deserto. E, com o declínio ambiental, vem o agravamento da miséria, da fome e da sede de uma gente há muito depauperada — quase 20% da população rural mais pobre do país vive no bioma e depende dele para sobreviver.

Mas ainda há esperança, revela estudo recém-divulgado pelo Instituto Escolhas. Intitulado Os bons frutos da recuperação de florestas: do investimento aos benefícios, o levantamento da ONG socioambiental mostra: a restauração de 1 milhão de hectares da Caatinga, em áreas de preservação permanente e reserva legal, criaria 465,8 mil empregos e produziria 7,4 milhões de toneladas de frutas, hortaliças e verduras.

É comida em quantidade o suficiente para alimentar as comunidades locais e ainda proporcionar renda extra aos agricultores. Os produtos, aponta o relatório da entidade, poderiam ser incorporados ao Programa Nacional de Alimentação Escolar e vendidos nas feiras e mercados das localidades onde são produzidos — muitas delas, inseridas em desertos alimentares, onde o acesso a alimentos frescos e nutritivos é precário.

Ao fim e ao cabo, os R$ 15 bilhões necessários para a recuperação do 1 milhão de hectares resultariam em R$ 29,7 bilhões em receita líquida — quase o dobro do total investido.

“Isso é renda, isso é gente comendo, isso é mais alimentos nas feiras, isso é a agricultura familiar sendo empoderada”, diz Sergio Leitão, diretor executivo do Instituto Escolhas, em conversa com o NeoFeed. “Ou seja, a recuperação do que já foi desmatado na Caatinga é uma estratégia também de redução da pobreza, de combate às desigualdades e pelo fim da fome.”

O modelo avaliado pela organização é o chamado sistema agroflorestal (SAF). As agroflorestas alinham os interesses ecológicos aos econômicos, conciliando o plantio de espécies nativas com culturas agrícolas — os dois interagindo entre si e ambos se beneficiando mutuamente.

De um lado, a preservação ambiental, com a promoção da biodiversidade, melhoria da qualidade do solo, controle da erosão, preservação dos recursos hídricos… e de outro, o cultivo sustentável de alimentos, com alívio da pressão sobre a terra e a água, queda na incidência de pragas e doenças e, consequentemente, redução da necessidade de agrotóxicos.

Luz no fim do túnel

Atualmente, no Brasil, a produção agroflorestal é desenvolvida majoritariamente pela agricultura familiar. E, como define a Confederação Nacional dos Agricultores Familiares, a Caatinga é “o bioma mais rural do país”. Cerca de 32% dos estabelecimentos agropecuários estão na região.

E pouco mais de 25% de seus 28 milhões de habitantes trabalham no setor agropecuário, enquanto a média nacional é de cerca de 6%, informa o estudo Agricultores familiares da Caatinga e do Cerrado: Mapeamento para a promoção de uma transição rural justa no Brasil, elaborado pela ONG Climate Policy Initiative (CPI).

Das cerca de 1,6 milhão de propriedades rurais da região, 75% têm, no máximo, 20 hectares. Ou seja, o bioma é dos pequenos produtores. Mas há um (enorme) problema, como alertam os analistas da CPI.

“Os agricultores familiares da Caatinga apresentam níveis mais baixos de produtividade e de acesso à assistência técnica. Ainda mais importante é o fato de que um grande número de agricultores familiares depende da agricultura de subsistência e vive em locais de extrema pobreza. Tal realidade os expõe ainda mais ao risco climático, devido ao acesso restrito a mecanismos de mitigação, como seguros ou insumos resilientes ao clima.”

“A recuperação do que já foi desmatado na Caatinga é uma estratégia também de redução da pobreza, de combate às desigualdades e pelo fim da fome”, diz Sergio Leitão, diretor executivo do Instituto Escolhas (Foto: Divulgação/Instituto Escolhas)

Cerca de 30% das espécies de plantas da Caatinga são endêmicas, como o mandacaru

Adaptado ao calor extremo e à escassez de alimento e água, o roedor mocó é um dos 317 tipos de animal que só existe na Caatinga

Um passo importante rumo à preservação produtiva do bioma foi dado nesta quarta-feira, 11 de dezembro. Por unanimidade, a Comissão de Meio Ambiente do Senado aprovou o projeto de lei (PL) 1990/2024, que institui  a Política Nacional para a Recuperação da Vegetação da Caatinga.

Proposto pela senadora Janaína Farias, do PT, do Ceará, o dispositivo determina, entre outras medidas, a ação articulada da União, Estados, municípios e ONGs para a formulação e implementação de políticas públicas para a restauração e o uso sustentável dos recursos ambientais do ecossistema. E, isso, com a participação das comunidades locais, prevendo a capacitação dos trabalhadores. O projeto segue agora para apreciação da Câmara dos Deputados.

“A aprovação do PL é um  marco histórico. Pela primeira vez, um bioma no Brasil terá uma política própria para guiar a sua recuperação”, comemora o diretor executivo do Instituto Escolhas. “Para que a bioeconomia possa crescer, essas comunidades precisam de apoio. O Brasil, por exemplo, é forte no agro porque foi feito todo um aporte de investimentos e formação de pessoal.”

Uma evolução muito peculiar

Se aprovado também na Câmara, o PL acena com a promessa de um olhar mais atento e cuidadoso para uma região que, desde sempre, sofre com a “falta de vigor institucional”, como definem os pesquisadores do projeto No Clima da Caatinga.

“Há menos conhecimento científico produzido sobre o bioma e menos grupos de pesquisadores seniores em atividade, se compararmos com a Amazônia e a Mata Atlântica, mesmo a Caatinga apresentando biodiversidade comparável”, escrevem os especialistas no relatório Caatinga, a floresta que é a cara do Brasil.

Estendendo-se pelos nove estados do Nordeste e o extremo norte de Minas Gerais, a Caatinga já perdeu 34 milhões de seus 82,6 milhões de hectares. É o quarto maior bioma brasileiro, atrás apenas da Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado e à frente do Pampa e do Pantanal.

Durante milênios, a região passou por oscilações intensas de temperaturas, curtos períodos de tempo nos quais o calor e o frio se alternavam drástica e rapidamente, submetendo a flora e fauna a um processo evolutivo muito particular.

Assim, algumas espécies não são encontradas em nenhuma outra floresta semiárida, apenas aqui — o que explica a importância do bioma para o planeta.

Três em cada dez plantas da região são endêmicas. Mandacaru, xique-xique, catingueira, barriguda e umbuzeiro, por exemplo, são privilégio brasileiro. Tal qual 317 dos 1.1824 tipos de animais. Entre eles, o tatu-bola, o periquito-cara-suja, o mocó, o tamanduá-mirim, o veado catingueiro… dos quais 47 estão ameaçados de extinção.





Fonte: Neofeed

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