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“Fusão com a Mobly é o abraço dos afogados”, diz fundador da Tok&Stok

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Regis Dubrule_TokStok
Tempo de Leitura:22 Minuto, 40 Segundo


Regis e Ghislaine Dubrule tinham o hábito de almoçar juntos todas as segundas-feiras na loja da Tok&Stok da marginal Pinheiros, em São Paulo. Ele, conselheiro, e ela, CEO, aproveitavam para circular pelo espaço e estreitar os planos para tentar recuperar a empresa de móveis e decoração fundada por eles em janeiro de 1978.

Mas essa rotina foi interrompida em 17 de julho quando o conselho de administração aprovou a destituição de Ghislaine Dubrule do comando da Tok&Stok. Votaram pela saída da CEO o chairman, Fernando Borges, que representa a controladora da empresa, a gestora SPX, e o conselheiro independente Roberto Szachnowicz.

A partir desse dia, a relação entre a família Dubrule e a SPX, que assumiu a operação de private equity do Carlyle no Brasil em 2021, entrou em rota de colisão. A implosão desse relacionamento ocorreu há um mês, em 9 de agosto, quando a Mobly e a SPX se acertaram para fusão com a Tok&Stok.

“A Mobly é uma empresa que, desde que ela existe, é um avião caindo. Nunca ganhou dinheiro”, diz Regis Drubrule, fundador da Tok&Stok, ao NeoFeed. “Somos contra o negócio porque a gente quer salvar a Tok&Stok, porque estamos convictos que conseguimos salvar com o aumento de capital, que é isso que foi a nossa divergência.”

A partir do anúncio da fusão com a Mobly, a família Dubrule, como acionista minoritária, entrou na Justiça para desfazer o negócio que o controlador vinha tentando há um ano. “Quando reunimos tudo, nessas três semanas, a Mobly estava ressuscitando. E a SPX disse: esquece o aumento de capital, vamos fazer a fusão”, afirma Dubrule.

Esse tudo a que o fundador da empresa de móveis e decoração se refere era um acordo com os bancos feito pela família para levantar R$ 100 milhões e fazer um aumento de capital na Tok&Stok, uma operação que Dubrule detalha o passo a passo nesta entrevista.

Ao conseguir a aprovação dos bancos, após anuência da SPX, segundo Dubrule, foi requisitada a assembleia para aprovação da capitalização. Ele e Szachnowicz aprovaram a proposta, mas a gestora não mandou representante.

A partir desse ponto, na visão da família Dubrule, começa uma série de irregularidades cometidas pela SPX. A assembleia para destituir o conselheiro independente, a convocação de outra para indicar um substituto e o não reconhecimento do aumento de capital. E, por fim, uma reunião extraordinária que indicaria emergência financeira.

Além dessa sequência, a família Dubrule questiona o fee de R$ 20 milhões pago aos bancos pela transação com a Mobly. “Ignorar o nosso aumento de capital foi uma irregularidade. Ignorar a questão do fee foi uma irregularidade. Não é normal ter um fee desse tamanho pago pela Mobly. Tem ainda recursos. Não estamos por cima no momento, mas estamos vivos.”

Em uma rara entrevista, Regis Dubrule conta ao NeoFeed se sente arrependimento de ter trazido um sócio-controlador, responde sobre cada um dos executivos que passaram pela companhia, fala o que pensa sobre a Mobly, a desgastada relação com Fernando Borges e a SPX e por que não abandona tudo e vai para a Riviera Francesa.

“O Fernando falou para mim em uma reunião: “não entendo por que vocês não vão para a Riviera Francesa e abandonam isso tudo?” Eu respondi: “porque eu não sou você”, conta Dubrule. “Ele não consegue imaginar que, para nós, não é a questão emocional, que existe. A gente acredita. É uma tristeza ver a empresa desaparecer.”

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:

A família Dubrule se arrepende de ter acertado a venda da Tok&Stok para o Carlyle em 2012?
Não gosto de dizer arrependimento, porque isso já faz 12 anos. Não dá para se arrepender de coisas tão antigas. E também porque tinha um plano, de venda e sucessão. Tenho cinco filhos e todo o nosso patrimônio estava na empresa. Eu já tinha passado dos 60 anos, não queria ter de repassar um negócio complicado, porque o varejo não é fácil, apesar do nosso sucesso. Passamos por diversas crises, planos econômicos, inflação, etc. Não é fácil. E nós dois [ele e Ghislaine] conseguimos passar. Repassar todo o patrimônio em uma empresa é difícil. A ideia era fazer um IPO, antes de vender. Seríamos diluídos, mas manteríamos a gestão, mesmo com participação minoritária.

A ideia do IPO foi antes da negociação com o Carlyle?
Isso. Aí tentamos vender para um fundo uma participação minoritária, em 2007. Fizemos um processo competitivo com o Rothschild, mas me desgostei porque estávamos bem avançados com um fundo brasileiro, muito bom, mas acontece que eles queriam a governança corporativa, apesar de serem minoritários. Eles colocaram tanta coisa que me senti amarrado e no fim achei perigoso, não valia. Depois aconteceu a crise e pensamos em vender o controle porque assim, pelo menos, venderíamos a governança a um valor maior. E vamos ajudar a fazer esse IPO que não conseguimos fazer, porque nenhum desses fundos quer entrar para ficar. Fizemos um processo competitivo com o BTG e o Carlyle não foi que ofereceu o maior valor.

“Ainda estamos contando que não vamos perder a empresa”

Então, por que a foi a gestora escolhida?
Porque eles gostavam da Tok&Stok, da cultura, de tudo o que eles não gostam mais e não respeitam. Mas no início respeitaram tanto que a Ghislaine se ofereceu para ser a CEO. Eles concordaram em ficar até dois anos e ela ficou quase cinco. E respeitaram absolutamente a companhia. Tínhamos divergência às vezes, mas nada relevante. Foi muito bem com o Carlyle. Havia um outro fundo, que estava com uma proposta nitidamente melhor, porém queria assumir no dia seguinte, que a gente saísse de uma vez. Não queríamos perder a empresa, era dividir com eles [investidores] e fazer o IPO, que acabou não acontecendo por tudo o que aconteceu nos anos seguintes. Mas lamentar? Eu vou lamentar mesmo se a gente não conseguir sair dessa situação inexplicável que estamos hoje. Ainda estamos contando que não vamos perder a empresa.

Por que a família Dubrule é contra a fusão com a Mobly?
A Mobly é uma empresa que, desde que ela existe, é um avião caindo. Nunca ganhou dinheiro. Conseguiram fazer um IPO brilhantemente, capturaram R$ 800 milhões há três anos e está sobrando R$ 150 milhões. Na última apresentação, conseguimos ver que no primeiro semestre deste ano queimaram R$ 70 milhões de caixa. Eles vão se espatifar mesmo. Com a Tok&Stok, eles querem se amarrar nas sinergias.

Os números são bem robustos.
Colocaram sinergias que vão entre R$ 70 milhões e R$ 130 milhões. Nós acreditamos em R$ 50 milhões. Mas vamos imaginar que o número deles está certo. Vamos pegar a média de R$ 100 milhões de captura. Eles estão queimando R$ 140 milhões de caixa por ano. Então, no melhor dos casos, vão parar de queimar caixa. E a Tok&Stok? Não é um avião que está embicado para baixo, é um avião que está muito fragilizado, mas o resultado está positivo. A Ghislaine estava chegando no resultado positivo. O mês de agosto deve ter sido excelente, julho já estava melhor.

“A Tok&Stok não é um avião que está embicado para baixo, é um avião que está muito fragilizado, mas o resultado está positivo”

No ano passado, a receita tinha sido de pouco mais de R$ 1 bilhão e o plano este ano era chegar a R$ 1,5 bilhão. Vai chegar?
Não vai chegar a R$ 1,5 bilhão, mas não vai ser muito longe disso. Mas o mais importante é o resultado. Porque no ano passado foi um prejuízo importante, mas neste ano vai ter um lucro miserável em relação à dívida. E um Ebitda entre R$ 10 milhões e R$ 20 milhões. Logicamente que, com a dívida que está, é insuportável. Mas, no curto prazo, passa. A dívida já foi reperfilada e em 2024 não tem nenhum vencimento. Inclusive vai terminar o ano com um caixa de R$ 100 milhões novamente.

Mas a fusão não faz sentido?
De um lado está a nossa empresa que tem o muro da dívida chegando e que está tentando endireitar as coisas, e os outros que vão vir na sinergia vão interferir em toda a operação. Por exemplo, no centro de distribuição de Extrema. Eles querem colocar tudo lá. Mas mexer em um centro de distribuição em um momento como estamos hoje é pior que uma mudança porque prejudica a operação. E não podemos nos permitir não faturar, já vimos esse filme no momento de mudar para lá. Tivemos de voltar para São Paulo porque não funcionava. Esse é um dos exemplos das sinergias que não funciona com duas empresas independentes. A nossa convicção é que eles precisam das sinergias, então não podiam demorar.

Mas e a fusão?
Podemos até imaginar um cenário. Deixa a Tok&Stok se consolidar e depois a fusão, um dia, para nós seria pensável se eles não tivessem essa queima de caixa e se nós tivermos em uma situação boa. Mas você pega duas empresas como estão… Somos contra o negócio porque a gente quer salvar a Tok&Stok, porque estamos convictos que conseguimos salvar com o aumento de capital, que é isso que foi a nossa divergência.

Qual foi a proposta da família que a SPX desconsidera?
Temos um aumento de capital na empresa, trazendo R$ 100 milhões, que dizemos que vamos trazer, e temos dívida na empresa que pode ser convertida em capital. Então é um aumento de capital de R$ 210 milhões. Fizemos uma reunião de conselho, que foi convocada conforme os estatutos da empresa, por dois conselheiros, eu e o independente, Roberto [Szachnowicz], e foi evidentemente apresentada ao Fernando Borges, da SPX, que não compareceu. Depois ele fez uma assembleia geral demitindo o Roberto, uma nova reunião do conselho apresentou um novo conselheiro e fez uma RE [reunião extraordinária] para conseguir fazer a fusão com Mobly, em uma sequência.

Quais são os erros nesse processo, na sua visão?
Primeira anomalia: ele desconsiderou a nossa reunião, que foi feita conforme os estatutos, está registrada na Junta Comercial e eles nem impugnaram. E, segundo, fizeram essa RE, que só pode ser feita em emergência, para consenso de pagamento. Fizeram a RE, mas não tem nenhuma emergência. A Tok&Stok está muito fragilizada, porque não tinha resultado, mas está melhorando, não queima mais caixa. O problema é o ano que vem e o seguinte, quando vai ter de pagar os vencimentos da dívida. Nós realmente achamos que temos de fazer um acordo com os bancos.

De que maneira seria esse acordo?
No nosso aumento de capital, pedimos 90 dias para apresentar aos bancos, porque em todo caso eles têm de concordar. Já tínhamos feito reuniões anteriores com os bancos há três meses. Para nós, a Tok&Stok é salvável. Montamos vários cenários de business plan e estamos confiantes que a gente consiga recuperar a empresa e daqui a três, quatro anos, quando vencerão todos os principais da dívida, a gente terá resultado suficiente para convencer investidores a colocar mais recursos na empresa ou até nós mesmos.

“Estamos dispostos a assumir o controle, mas não é o que queremos. Queremos salvar a empresa. E um acordo de acionistas para poder definir o CEO e manter as boas práticas para recuperar a empresa”

A família Dubrule quer recuperar o controle da Tok&Stok?
O Fernando sempre fala que nós fizemos isso porque queremos o controle. Mas não é. Propusemos o aumento de capital e queremos que eles participem. A gente quer salvar a empresa. E queremos que eles participem para dar mais recursos para a companhia garantir o futuro. Mas eles não quiseram. Porque eles têm um medo danado da Tok&Stok. Eles querem sair, desinvestir. Estamos dispostos a assumir o controle, mas não é o que queremos. Queremos salvar a empresa. E um acordo de acionistas para poder definir o CEO e manter as boas práticas para recuperar a empresa.

Quando vocês souberam da venda para a Mobly?
Faz um ano que estavam tentando um negócio com a Mobly. Mas tiveram problemas porque o conselho dos alemães que controla a empresa estava em sérias dúvidas em fazer a fusão com a Tok&Stok que, apesar da boa imagem que tinha, carregava essa dívida. Andava, não andava. No momento em que não andava, o Fernando disse pra nós: “então compra a minha participação?” Eu respondi: “não quero comprar, quero pôr dinheiro na sua companhia. Põe como a gente”. Ele disse: “não vou pôr, me dilua”. O que isso quer dizer, faz um aumento de capital.

Que é a proposta de vocês que está sob análise da Justiça.
Foi o que fizemos. Mas quando chegamos dizendo, ok, vamos pôr. Ele: “vai falar com os bancos”. Fomos falar há três meses. E chegamos a um acordo com os bancos, mas os bancos disseram: “quem define é o controlador. Como vocês estão com eles?” Nós dissemos: “muito bem, ele que nos falou para vir falar com vocês”. Mas quando reunimos tudo, nessas três semanas, a Mobly estava ressuscitando. E a SPX disse: esquece o aumento de capital, vamos fazer a fusão. E começou a desandar tudo.

Você se decepcionou com o comportamento do Fernando Borges e da SPX nesses últimos tempos?
Mas totalmente! Porque o Fernando só tem a visão dele. Não é da empresa. Ele está indiferente à Tok&Stok, que não é o nosso caso. O que quero dizer é que a nossa única visão é salvar a companhia de uma forma, com eles ou sem eles. Eles, não. Querem sair porque não acreditam mais. E não acreditam porque colocaram a companhia nessa situação. Eles falam que a Ghislaine não trouxe o resultado esperado, mas eles tiveram seis anos para demolir e, reconstruir tudo em um ano, é difícil. Estamos percebendo que está melhor. Em agosto, as vendas foram 30% acima do orçamento, pelo jeito. Mas não estou certo.

“Eles [SPX] querem sair porque não acreditam mais [na Tok&Stok]. E não acreditam porque colocaram a companhia nessa situação”

Por quê?
Porque não consigo ver os números neste momento. Me cortaram de tudo. Vamos conseguir ver o resultado do trimestre. É fraca a palavra desapontar, porque cortar a Ghislaine era desnecessário. Mas, tudo bem, vamos admitir que estávamos em rota de colisão. O Fernando não tem interesse na companhia, quer sair e virar a página. Write off.

Qual é a sua avaliação do Roberto Szachnowicz, um conselheiro que votou pela destituição da Ghislaine como CEO, portanto contra a família. E depois pelo aumento de capital na companhia, contra os interesses da SPX?
Minha avaliação é que quando o Roberto votasse contra a SPX ele seria destituído. E a visão que se tinha era que tinha coisa mais importante pela frente. Não que a Ghislaine não fosse algo importante, mas era reversível. O Roberto, que aprendi a conhecer cada vez melhor, estava tentando ver o que era o melhor para a companhia. Às vezes, estávamos alinhados, em outras não totalmente. Mas, no fim, ele estava contra o negócio da Mobly. Ele percebeu, porque era uma evidência. Pega a imagem do avião. Eles vão nos derrubar. Ou vão se derrubar sozinhos.

Mas, com a aprovação do Cade à fusão, a Mobly assumiu a Tok&Stok.
Eles não sabem tocar a Tok&Stok. Se soubessem tocar, porque a Mobly não é uma Tok&Stok? Eles compram de fornecedores de produtos, são commodity. E eles vão aplicar isso na Tok&Stok, que tem os seus próprios produtos. A gente não deixa vender a terceiros, mas os deles vendem para outros clientes, outras lojas. Não funcionamos assim. Tivemos reuniões com eles, que disseram que vão lançar produtos próprios, para melhorar a marca. Faz 10 anos que estão nesse negócio, porque descobriram hoje que tem de fazer isso?

É uma questão emocional?
Não é a questão emocional, somente. É a questão da credibilidade, da competência.

“Consideramos eles culpados de tudo o que aconteceu, então por que vamos ter de comprar?”

Em um cenário que a Justiça atenda o pedido da família Dubrule, como será o dia seguinte? Como será o clima com a SPX e a conversa entre vocês?
Não garanto pelo lado de lá, mas acho que tem acordo. Sempre falamos, o responsável disso é o Carlyle [SPX], não queremos comprar você. Queremos pôr dinheiro na companhia. Consideramos eles culpados de tudo o que aconteceu, então por que vamos ter de comprar? Hoje, poderíamos admitir e dizer: podemos fazer um acordo para vocês saírem dignamente, isso sim é uma das alternativas. Se for razoável, porque sabemos que há o aspecto da responsabilidade E como eles têm pavor da Tok&Stok, eles desconfiam.

Qual é o clima atual?
O clima hoje é: difícil ficarmos juntos. Não tanto por nós, mas por eles. Quando falamos que íamos pôr dinheiro na empresa, eles falam: “eles não vão. Falam isso, mas não vão pôr o dinheiro”. Não é verdade, não faz nenhum sentido. Eles falam porque não acreditam mesmo na Tok&Stok e acham uma loucura. O Fernando falou para mim em uma reunião: “não entendo, por que vocês não vão para a Riviera Francesa e abandonam isso tudo?” Eu respondi: “porque eu não sou você”. Ele não consegue imaginar que, para nós, não é a questão emocional, que existe. A gente acredita. É uma tristeza ver a empresa desaparecer. Porque a SPX quer sair do negócio, a Mobly precisa de uma boia para se salvar e a fusão é o abraço do afogado. Mas um acordo a gente consegue. Estamos dispostos a fazer um esforço porque aprendemos. Se tivermos de fazer isso, faremos.

E se for o contrário, se não der certo?
Se não der certo, se não der certo… Não vou dizer. Ainda tenho ideias, mas que não posso falar porque não sei se vai dar certo. Mas não vamos abandonar tão já para ver se conseguimos vingar nossa posição. Se realmente virmos que não temos opção nenhuma, a gente talvez busque outra solução. Mas não vamos desistir tão rápido de abandonar a Tok&Stok. Vamos achar a solução.

Pelo que você falou, se a Mobly está assumindo a gestão, a família Dubrule enxerga que a destruição de valor da companhia pode ser grande?
Com o Fernando a gente está tentando o acordo. E uma das coisas que a gente fala é que temos de fazer esse acordo antes que seja tarde demais. Não queremos recuperar uma terra arrasada. E você tem toda razão: tem um limite. Esperamos que tudo seja reversível. Estamos trabalhando com a hipótese de que vamos voltar. Vai dar certo.

“Uma das coisas que a gente fala é que temos de fazer esse acordo antes que seja tarde demais. Não queremos recuperar uma terra arrasada”

Quem foi a maior concorrente da Tok&Stok?
Durante os primeiros cinco anos nunca fizemos propaganda e a Tok&Stok funcionou porque não existia nada igual. E pretendo ainda não existe nada igual no Brasil. Mas tiveram tentativas diversas. No início perdemos funcionários e fornecedores para nos copiar. E nenhum deles sobreviveu. O maior que tivemos foi a Etna, que também fechou. Eles tinham dinheiro demais, até. Mas não foi bem administrada. Fizeram tudo enorme, de uma vez só. Nós crescemos aos poucos. Tínhamos lojas grandes porque fechávamos a pequena para fazer uma maior. Não queríamos ter muitas lojas. Foi um crescimento orgânico, devagar. E eles entraram de uma vez, sem experiência nesse business e perderam muito dinheiro. A Etna sempre perdeu. Podia, porque a família [Kaufman, dos controladores da Vivara] tinha muito. Não vou dizer que fazia mal [o negócio de móveis e decoração], porque me assustou. Foi o maior concorrente.

Como foi esse período de concorrência acirrada?
O interessante é que eu acho que foi a época que a Tok&Stok mais cresceu. Sabe por quê? Porque sempre fomos um negócio um pouco sozinho e para muita gente essa coisa [de móveis e decoração] era diferente. Quando teve a Etna, que fez muita propaganda, imediatamente as pessoas iam na Etna e visitavam a Tok&Stok, então aumentou o fluxo, aumentou a visibilidade da marca. Foi uma coisa muito boa. Mas acho ainda melhor eles não estarem mais (risos).

Por que os cinco executivos que comandaram a Tok&Stok não deram certo?
Pegando por ordem. O caso do [Luiz] Fazzio, que era um executivo que tinha muita experiência em hipermercado e corte de custos. Afinal, qual é a diferença de um mercado para o nosso negócio? Lá eles vendem a marca de todo mundo e só tem de ter uma operação logística muito boa, reposição de estoque, preço e custos. Ele entrou no Carrefour para salvar o Carrefour, que estava numa crise violenta. Ele era muito bom nisso. E entrou na Tok&Stok e aplicou a mesma regra: começou a cortar custos. Não estou brincando, ele cortou de tudo. E o que fazia diferença. Ele achava que as nossas coisas eram frescuras.

“O Carlyle queria fazer o IPO. Nós também, estávamos bem alinhados com o Carlyle, sem dúvida, mas não com o método”

Não houve transição?
A Ghislaine pensava em fazer uma transição de seis meses para explicar todos os detalhes, mas ele aceitou ela cinco dias. E tirou fora, dizendo: “vou resolver isso melhor”. Porque tinha de melhorar os custos e melhorar o resultado porque o Carlyle queria fazer o IPO. Nós também, estávamos bem alinhados com o Carlyle, sem dúvida, mas não com o método. Esse é o primeiro, que pediu demissão sozinho. Ele abandonou e só deixou a história de corte: de custos e até das árvores nas lojas.

As árvores são as frescuras a que você se refere?
Tínhamos árvores bonitas, para dar um ar natural nas lojas e ele cortou. Porque são frescuras que ele não entendia. Da mesma forma, a Ghislaine mostrava as prateleiras para ele, todas divididas por cor. Mas qual é a cor que mais vende?, ele perguntou. Preto. Então faz tudo preto. Tinha de funcionar por giro e o nosso business não é só isso. Tem os dados racionais e os estéticos e emocionais. Essa mistura do toque e do estoque, a emoção e a razão. O tok são os valores da emoção e da estética e o estoque são os racionais. E como ele tinha cortado muita da cultura, os que o sucederam nunca conheceram a Tok&Stok como era. Isso foi um problema.

Depois do Fazzio veio o Ivan Murias.
Sim. O primeiro foi o cortador de custo, o segundo foi o estrategista errado. Ele comprou uma empresa de tecnologia, para transformar a Tok&Stok em uma empresa de tecnologia e entrar na bolsa de valores como uma empresa de tecnologia. Os múltiplos eram muito melhores. Era 30 vezes o valuation de uma empresa de varejo. Então, tinha esse objetivo de transformação. O chairman da Tok&Stok [Daniel Sterenberg] na época nos vendeu e fazia sentido. De novo, estávamos de acordo em nos parecer mais tecnológicos. Pode ser, mas o meio…

O que deu errado?
Compramos essa empresa, porque estava difícil contratar pessoas de tecnologia. Veio essa startup e começamos a trocar tudo. Mas tudo funcionava. E ficamos com um site que não funcionava mais e sem a nossa operação de logística e gestão de loja. O sistema que tínhamos era um sistema colcha de retalho, mas totalmente adequado, integrado na operação, desenvolvido em casa. Fizemos um novo centro de distribuição em Extrema, para ter incentivos fiscais, mudamos para lá com o novo sistema que não funcionou. Aí foi a catástrofe. Veio a pandemia, não conseguimos entregar nada. A pandemia atrapalhou? Sim. Teria nos atrapalhado? Sim. Mas jamais como atrapalhou, porque não funcionava mais nada. O segundo foi o estrategista errado.

E o terceiro executivo?
Depois apareceu o Octávio Lopes, era um CEO de sucesso, fez a Equatorial, um IPO de sucesso. Era o nome ideal para levar o IPO para frente. Mas ele não entendia nada de varejo. Esse nunca tinha colocado os pés. Não tinha noção e não tinha modéstia, sinceramente, de saber que ele não sabia. Todo mundo pode não saber, mas ele não sabia que não sabia. Por exemplo, ele falou para nós que éramos bem-vindos para ajudar e disse: “vou chamar vocês”. Respondemos que estávamos à disposição. Nunca nos chamou. E, de novo, a cultura da empresa tinha desaparecido. Ele veio com a proposta de montar novas lojas, mas a gente via que a Tok&Stok estava se endividando, que estava mal. E ele ainda avisou do IPO, pisou no acelerador e abriu 20 lojas, de um novo modelo [Studio], que fechamos quase todos. Sobra uma na Paulista e uma em Brasília. E fez um monte de bobagens, acelerou e aí a dívida… incrível como vai rápido. Ele se deu conta e foi embora, para a Light.

O sucessor dele foi justamente o chairman, o Daniel Sterenberg, certo?
Veio o chairman, que surtou. O Fernando Borges sempre nos culpa: “vocês falam que somos nós, mas vocês quiseram ele. Eu tinha falado que não ia dar certo”. É verdade. Mas por que a gente falou? Porque cada vez ia se buscar o melhor do ramo, o melhor profissional, com currículo perfeito. Mas não aprendemos? Foram três em seguida e cada vez vamos cometer o mesmo erro, com alguém que não sabe nada. Nós temos alguém, que é o Daniel. E ele quer. Teve a mudança no Carlyle, no momento em que foi para a SPX. Ele quer e conhece, gosta da Tok&Stok. Foi ele que levou o deal para o Carlyle. E conversando com ele, a gente entendia que ele sabia o que tinha de fazer.

Novamente, o que deu errado?
Ele entrou lá, se perdeu, entrou em depressão e sumiu. Ficou sete, oito meses. Isso eu reconheço que o Fernando falou com a gente: ‘olha, ele não vai dar certo. Ele é do business de private equity, que se toma uma decisão a cada dois anos. No melhor dos casos, uma por ano. No varejo, você tem de tomar 10 decisões por dia. Ele não vai aguentar. Eu conheço ele bem”. Ele falou certo. Não conseguiu. As pessoas chegavam com pressão, de ter de fazer. Ele entrou em uma empresa muito mal. Não é ele que causa o problema, ele simplesmente não conseguiu endireitar.

Por fim, vem o Roberto Szachnowicz, com a experiência de ter comandado a Etna.
O Roberto apareceu indicado por um amigo, gostei dele e apresentei, mas ele não podia entrar imediatamente. Aí a Ghislaine entrou nessa ponte. E ela percebeu tudo o que tinha de fazer, ela é muito rápida, conhece a operação. Aí vendemos para o Carlyle [SPX] que a Ghislaine tinha de ficar e o Roberto passou a ser do conselho. Fizemos esse entendimento com ele e acho que foi muito melhor. O problema foram os três primeiros: o primeiro que tirou a cultura da empresa, o segundo que fez a estratégia errada e o centro de distribuição e o terceiro que fez a dívida aumentar.





Fonte: Neofeed

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Suzano quer menos “M&As grandiosos” e mais foco na desalavancagem

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Suzano quer menos
Tempo de Leitura:2 Minuto, 36 Segundo


Em seu primeiro investor day desde que assumiu o comando da Suzano, em julho deste ano, Beto Abreu afirmou que a companhia não fará grandes movimentos de aquisição, destacando que o foco está na redução da alavancagem financeira e de custos operacionais do negócio.

“Não vamos implementar na nossa estratégia nenhum movimento significativo em termos de crescimento inorgânico”, disse ele na quinta-feira, 12 de dezembro. “Não temos no pipeline nenhum acordo transformador.”

Isso significa que, em vez de movimentos como a aquisição da International Paper, que criaria uma gigante com um valor de mercado de quase US$ 44 bilhões (mas envolveria um cheque volumoso, na casa dos US$ 15 bilhões, conforme noticiado à época), a empresa pretende apostar em movimentos como a compra da Pactiv Evergreen, por US$ 110 milhões, e de 15% da Lenzing, por R$ 1,3 bilhão.

No caso, serão movimentos em que a companhia possa gerar escala, trazendo suas capacidades operacionais e que possa extrair sinergias. É o caso da Pactiv, em que a Suzano vem trabalhando para ter opções de novas linhas de produtos em até cinco anos.

“Nós consideramos, por exemplo, que acordos que fizemos como da Pactiv e da Lenzing são saudáveis, com equilíbrio entre risco e crescimento no exterior”, disse Abreu. “Queremos alocar capital preservando a tendência do processo de desalavancagem.”

Também novato na cadeira, tendo assumido o posto no final de novembro, o CFO da Suzano, Marcos Assumpção, disse que a alocação de capital será o grande desafio da Suzano indo adiante. Mas ele destacou que a estratégia da companhia seguirá a mesma, com as decisões precisando obedecer os critérios de agregação de valor e com o pagamento do preço justo.

Ele destacou ainda os esforços da companhia de reduzir a alavancagem financeira da Suzano, que no terceiro trimestre alcançou 3,2 vezes em reais, visando alcançar o patamar de 3 vezes. Parte disso vem do fim dos vultosos investimentos para o Projeto Cerrado, nova fábrica de celulose da companhia em Mato Grosso do Sul.

A companhia também destacou que pretende implementar iniciativas para reduzir o custo caixa, apostando em iniciativas como mecanização na parte de silvicultura e aumentando a autossuficiência em madeira.

“O custo de capital é uma vantagem competitiva muito importante para a Suzano e não queremos arriscar isso, considerando que estamos numa indústria intensiva em capital”, afirmou Assumpção.

Como parte dos planos, a Suzano também vem trabalhando para concluir alguns investimentos anunciados, como é o caso da construção da fábrica de papéis higiênicos em Aracruz, no Espírito Santo, anunciada em outubro de 2023.

Ao custo de R$ 650 milhões, a planta deve ficar pronta no quarto trimestre de 2025, antecipando em alguns meses o plano inicial, o primeiro trimestre de 2026, fortalecendo a presença da Suzano na parte de bens de consumo, cujo maior movimento foi a compra das operações da Kimberly Clark no Brasil em 2022.

Por volta de 12h40, a ação SUZB3, da Suzano, recuava 2,29%, a R$ 62,63. No ano, os papéis acumulam alta de 13,6%, levando o valor de mercado a R$ 79,2 bilhões.



Fonte: Neofeed

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Startup de “carros voadores” embarca novo aporte de US$ 430 milhões (e a Stellantis vai de carona)

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As startups de aeronaves elétricas de pouso e decolagem vertical (eVTOL), ainda têm algumas escalas a cumprir para colocarem seus “carros voadores” nos céus, em operações comerciais. Mas não faltam investidores embarcando recursos para que essa tendência decole no mercado.

O mais novo nome a reforçar esse movimento é a Archer Aviation. Fundada em 2020, a startup americana anunciou na quinta-feira, 12 de dezembro, que levantou um novo investimento de US$ 430 milhões. O aporte chega apenas cinco meses depois de um aporte de US$ 230 milhões, liderado pela Stellantis, montadora de veículos de marcas como Fiat, Peugeot e Citroën.

A montadora também está pegando carona nessa nova rodada, assim como a United Airlines, que já integrava o captable da companhia. Entre os novos investidores figuram a Wellington Management e a 2PointZero, holding dos Emirados Árabes Unidos.

Com o aporte, a Archer Aviation, que abriu capital em Nova York por meio de uma Special Purpose Acqusition (SPAC) em setembro de 2021, chega a um volume de aproximadamente US$ 2 bilhões captados.

Parte dos recursos anunciados hoje será aplicada em outro projeto anunciado hoje pela startup. Trata-se de uma parceria com a também americana Anduril, empresa da área de tecnologia de defesa, para o desenvolvimento de aeronaves militares híbridas, na categoria dos eVTOLs.

De acordo com as duas companhias, o projeto tem como alvo um potencial registro da aeronave em um programa de aquisições do governo americano, aprovado e autorizado no âmbito do Departamento de Defesa dos Estados Unidos.

Ao ressaltar que a cadeia de suprimentos já desenvolvida e a experiência da Anduril vão acelerar o desenvolvimento do projeto, a Archer Aviation também informou que a iniciativa será tocada dentro do Archer Defense, um programa lançado recentemente pela companhia.

Com outro projeto de um eVTOL de cinco lugares em curso, a startup destacou ainda que encerrou o terceiro trimestre com US$ 502 milhões no caixa. E acrescentou que, agora, está bem posicionada, com um dos “principais balanços” do setor e sem necessidades de novas captações no curto prazo.

“Com a Anduril ao nosso lado e esse novo influxo de capital, aceleraremos o desenvolvimento e a implantação de tecnologias aeroespaciais avançadas em escala”, afirmou, em nota, Adam Goldstein, fundador e CEO da Archer Aviation.

Após chegarem a cair mais de 5% na Bolsa de Nova York, as ações da Archer Aviation registravam ligeira queda de 0,14% por volta das 10h37 (horário local), cotadas a US$ 7,38. Em 2024, os papéis acumulam, porém, uma valorização de 20,1%, dando à companhia um valor de mercado de US$ 3,1 bilhões.

Em outros exemplos mais recentes de startups capitalizadas da área, no início de outubro, a também americana Joby Aviation levantou US$ 500 milhões junto à Toyota, montadora japonesa que já investia na operação.

Já a brasileira Eve, fruto de um spin-off da Embraer e com capital aberto também na Bolsa de Nova York, onde está avaliada US$ 1,3 bilhão, captou um total de R$ 700 milhões em duas tranches, com um intervalo de nove dias, junto ao BNDES.

O primeiro contrato, de R$ 500 milhões, terá como destino a construção da fábrica de eVTOLs da empresa em Taubaté, no interior de São Paulo. Já o segundo financiamento será aplicado no desenvolvimento do carro voador da fabricante.



Fonte: Neofeed

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O “kit Brasil 2.0” da AlphaKey para enfrentar os solavancos da bolsa brasileira

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Nos anos 2000, o “Kit Brasil” foi uma estratégia de investimento focada em três apostas: alta da bolsa, queda do dólar e redução dos juros. Agora, a situação do mercado brasileiro é exatamente a inversa.

E a gestora de ações AlphaKey, que tem entre os seus investidores os family offices Aguassanta, de Rubens Ometto, e Citrino, de José Ermírio Moraes Neto, montou o seu próprio “kit Brasil” versão 2.0 para enfrentar os solavancos da bolsa brasileira.

“Você deve investir em empresas com receita em dólar e despesas em real. E ficar longe de companhias com pouco poder de repassar preços e que têm muita dívida”, diz Christian Keleti, fundador e CEO da AlphaKey, ao Café com Investidor, programa do NeoFeed que entrevista os principais investidores do Brasil.

Outros ingredientes do novo “kit Brasil” da AlphaKey são empresas boas pagadoras de dividendos, que tenham uma boa governança corporativa e estruturas de capital adequadas.

“As empresas de energia têm boa proteção contra inflação e gosto muito de shopping, de companhias como Multiplan, Iguatemi e Allos”, afirma Keleti.

Em sua carteira, estão empresas como Cyrela e Direcional, mas também companhias que estão fora do radar do mercado e que estão trazendo um bom retorno para os fundos da AlphaKey.

Uma delas é a C&A, na qual a gestora investiu quando a ação estava na faixa de R$ 4, mas que chegou a quase R$ 13 em novembro deste ano – na quarta-feira, 11 de dezembro, fechou em R$ 10,90.

“Esse é um caso emblemático. No terceiro trimestre de 2023, observamos que a empresa gerou de caixa quase todo o market cap dela. E ninguém olhava para ela”, afirma Keleti.

Agora, a AlphaKey montou uma posição, através de um fundo que captou exclusivamente para investir em um único ativo, na Priner, um spin-off da Mills, que está diversificando sua estratégia.

Na visão de Keleti, a Priner, que presta serviços industriais, tem aproximadamente o mesmo valor do IPO, que aconteceu em fevereiro de 2020, mas, desde então, multiplicou a receita e o Ebitda por aproximadamente cinco vezes, além de ter feito aquisições.

O M&A mais recente foi o da Real Estruturas e Construções, uma aquisição de R$ 170,7 milhões, que vai aumentar o faturamento da Priner em 30%. “É uma empresa diferenciada que está sendo negociada a 3X o Ebitda e crescendo de 20% a 25% por ano, com margens crescentes”, afirma Keleti.

Nesta entrevista, que você assiste no vídeo acima, Keleti detalha as teses da gestora, fala por que aposta em Cyrela e Direcional e conta sobre outra posição que montou em que ganhou 80% em quatro meses.





Fonte: Neofeed

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