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Mulheres na mineração: empresas se organizam para aumentar a representatividade feminina no setor

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Mulheres na mineração: empresas se organizam para aumentar a representatividade feminina no setor
Tempo de Leitura:6 Minuto, 9 Segundo


A baiana Elis Santana, de 30 anos, executiva do Mining Hub, maior comunidade de inovação aberta do mundo focada apenas na cadeia da mineração, comemora uma conquista recente. Com uma solução muito simples, ela resolveu um problema importante. E não tem nada a ver com minerais, logística, automação ou inteligência artificial.

Coordenadora de inovação do hub, ela foi incumbida de organizar um dos painéis da Exposibram, um dos eventos mais importantes do segmento na América Latina. No total, 22 pessoas deveriam participar. Quando recebeu a primeira lista de inscritos, Elis não ficou surpresa: eram todos homens.

“É claro que havia mulheres capazes de estar ali, mas quem fez a inscrição simplesmente não pensou na questão e colocou o nome da chefia”, diz ela, em conversa com o NeoFeed.

Além de organizar, ela deveria mediar o painel. Diante da lista, não se resignou. Comunicou seu chefe que gostaria de tentar mudar o cenário e foi imediatamente apoiada.

Assim, entrou em contato com os associados do hub e pediu que enviassem uma nova lista, levando em consideração o gênero das pessoas indicadas. “A resposta foi ótima e conseguimos fazer um painel equilibrado, com 11 mulheres e 11 homens”, diz Elis.

Encerrada em 12 de setembro, a Exposibram foi palco de outro marco. Ali foi oficializada a criação do Pretas na Mina, um movimento de mulheres negras, cujo objetivo é combater o racismo e o machismo na indústria minerária.

“Em nosso ambiente, o racismo estrutural ainda é velado. Precisamos aumentar a representatividade de pessoas negras em todas as áreas e funções”, afirma Elis, também integrante do grupo.

Trata-se de uma mudança radical de postura — de Elis, de sua liderança e dos associados do Mining Hub, que não apresentaram resistência às ideias da executiva. O prenúncio de uma transformação ainda maior.

Lá se vão mais de 100 anos desde que as feministas começaram a reivindicar igualdade de condições — direitos, salário, oportunidades — entre homens e mulheres no ambiente de trabalho. Essa luta, aliás, ganhou força justamente com a participação de operárias da Revolução Industrial, entre 1760 e 1850. Ainda hoje, no entanto, a participação feminina é pouco expressiva.

O mais recente levantamento do Women in Mining Brasil é revelador do abismo: apenas 21% do total de trabalhadores são mulheres. Entre os cargos mais altos, o número é ainda menor. Elas são apenas 13% nos times executivos.

E assim o movimento avança

Diante de tal realidade, boa parte das companhias mineradoras e outras empresas do setor resolveram se organizar para criar programas e metas de diversidade. E, assim, nasceu, em 2019, o Women in Mining Brasil.

Levando em conta os avanços alcançados até agora, o futuro soa  mais equânime. Do último levantamento, por exemplo, participaram 33 empresas — mais do que o dobro de 2021, quando apenas 16 companhias se dispuseram a contribuir para o levantamento. Entre as atuais, quase a totalidade (97%) já tem algum tipo de programa de diversidade, equidade e inclusão (DEI).

“Quem não quer viver em um mundo onde todos são ouvidos e respeitados?”, diz Maria Quental, vice-presidente de pessoas da Vale (Foto: Divulgação/Vale)

Como coordenadora de inovação do Mining Hub, aos poucos, Elis Santana ajuda a aumentar a participação das mulheres (Foto: Arquivo Pessoal)

Aos 47 anos, a engenheira química Ana Cristina Calil Ramos passou a maior parte da carreira como engenheira de dutos: (Foto: Arquivo Pessoal)

Andreia Andrade, de 47 anos, trabalha há 18 na Vale. Como gestora de território de relacionamento com a comunidade, foi a primeira mulher a assumir a chefia da operação em Açailândia, no Maranhão: “Me sentia solitária” (Foto: Divulgação/Vale)

Signatária dos Princípios de Empoderamento da Mulher, da ONU Mulheres desde 2013, a Vale tem criado programas para promover a equidade de gênero em todas as suas áreas.

“Diversidade é um tema que deve ser discutido por toda a sociedade”, diz Maria Quental, vice-presidente de pessoas da Vale. “Quem não quer viver em um mundo onde todos são ouvidos e respeitados?”

Em 2019, a mineradora estabeleceu a meta de dobrar a representatividade feminina até 2025, elevando o índice de 13% para 26%. Hoje elas já são 25% no quadro geral de funcionários e o mesmo número em posições de liderança.

“Não quero brigar com mulher”

Entre elas está Andreia Andrade, de 47 anos, 18 deles trabalhando na Vale. No começo da carreira, a proporcionalidade de homens e mulheres não era algo que fazia parte do seu dia a dia. O assunto não estava em pauta e, por isso, as dificuldades não ficavam tão explícitas, lembra ela.

A diferença começou a chamar sua atenção, porém, há oito anos, quando assumiu seu primeiro cargo de liderança como gestora de território de relacionamento com a comunidade, cargo que exerce até hoje. Entre seus pares, ela era a única mulher. “Fui a primeira mulher a assumir a chefia da operação em Açailândia, no Maranhão”, conta. “Me sentia solitária.”

Atualmente, o cenário é outro. Andreia convive com mulheres em várias funções e a presença dela não é mais exceção na região. O desafio está ainda da porta para fora. Entre suas funções está o diálogo com a comunidade onde a mineradora atua. Isso envolve negociações delicadas sobre o território, como uso de recursos e regras de circulação, entre outras.

“Uma vez, um líder comunitário estava se negando a conversar comigo. Perguntei qual era o motivo e ele disse: ‘Não quero brigar com mulher'”, recorda Andreia, rindo do imbróglio.

Mais respeito, banheiros e tecnologia

Hoje Ana Cristina Calil Ramos, de 47 anos, é executiva da Ausenco, prestadora de serviços para diversos segmentos da indústria. Ela se formou em engenharia química, mas, ainda como trainee, entrou para a mineração. Passou a maior parte da carreira como engenheira de duto.

Na prática, seu papel era coordenar equipes que trabalham em uma estrutura de 400 quilômetros de extensão, responsável pelo transporte de minério entre Mariana, em Minas Gerais, e Guarapari, no Espírito Santo.

Embora fosse uma atividade exaustiva e bruta, nunca foi um impedimento ou um incômodo para ela. “Eu gostava muito. Mesmo grávida, eu ia para o campo, acompanhava a limpeza do duto, me enfiava no meio do mato”, diz Ana Cristina.

O desafio era se manter firme para impor respeito entre os colegas e os funcionários: “Eu não podia dar muita abertura, ficava sempre em alerta”. Com o tempo, o número de mulheres no ambiente foi aumentando e, com isso, melhorias vieram.

Em 2014, Ana Cristina lembra de começar a ver mulheres operando os gigantescos caminhões fora de estrada. Com elas, vieram os banheiros femininos e uma mudança de postura dos homens, que deixaram não só de se espantar com a presença delas, como a respeitá-las de fato.

A maquinista

A chegada feminina aos campos de operação se deve muito aos avanços das tecnologias minerárias. A automatização das máquinas, por exemplo, dispensa hoje a necessidade de uso de (tanta) força física. “Para mim, é mais um trabalho intelectual do que qualquer outra coisa”, afirma Gabrielle Castro, de 22 anos.

Ela é maquinista da primeira locomotiva 100% elétrica da Vale, usada no transporte de minérios em São Luís, no Maranhão. “Os homens estão acostumados a usar a força para operar as máquinas e, agora, com mais mulheres trabalhando ao lado deles, a gente vai mostrando que nem sempre a força se faz necessária”, diz. “Há outras formas de trabalhar que também funcionam bem.”





Fonte: Neofeed

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Governo prepara “concessões light” de rodovias, com pedágio menor (mas sem ambulância ou guincho)

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Governo prepara “concessões light” de rodovias, com pedágio menor (mas sem ambulância ou guincho)
Tempo de Leitura:5 Minuto, 2 Segundo


O governo federal tem mostrado apetite em viabilizar novas concessões de rodovias federais. Além dos três leilões feitos no primeiro semestre e outros quatro agendados até dezembro, o Ministério dos Transportes passou o ano trabalhando em uma nova modelagem para atrair a iniciativa privada: as chamadas concessões inteligentes, voltadas a rodovias com menor volume de tráfego.

Batizada de “concessão light” pelo ministro Renan Filho, dos Transportes, nesse modelo o pedágio seria no formato free flow (cobrança eletrônica) e com tarifa menor. O concessionário teria como foco a manutenção da estrada, sem a obrigação de oferecer serviços como guincho ou ambulância.

Os contratos seriam de no máximo 10 anos. Após esse período, o governo avaliará se o trecho será objeto de uma nova concessão ou se a rodovia será reassumida. Pelo menos 15 projetos de concessões inteligentes estão em estudo pela pasta.

Na mira, estão rodovias de médio porte, com relevância regional e tráfego entre 2 mil e 5 mil veículos por dia – bem menos que uma concessão de grande porte, como a Rodovia Presidente Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro e por onde transitam 180 mil veículos nos dois sentidos apenas na Região Metropolitana de São Paulo.

A BR-393, cuja concessão o governo federal pretende revogar por não cumprimento do contrato por parte da concessionária KInfra, tem sido citada como um exemplo para ser oferecido ao mercado. Com 200 quilômetros de extensão, a chamada Rodovia do Aço se estende entre a divisa Minas Gerais/Rio de Janeiro e a cidade de Volta Redonda.

Em abril, o secretário-executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro, liderou comitiva da pasta que foi aos Estados Unidos para apresentar carteira de projetos de concessões rodoviárias e buscar investimentos. Logo depois, o governo solicitou ao Banco Mundial um empréstimo de US$ 700 milhões para financiar esse novo modelo.

A intenção do Ministério dos Transportes é concluir a modelagem desse tipo de certame este ano e realizar o primeiro leilão no primeiro semestre de 2025.

Especialistas consultados pelo NeoFeed elogiaram o novo modelo em estudo, com potencial de atrair empresas e investidores que não têm fôlego para concessões tradicionais, que exigem grandes aportes em contratos de longo prazo, de 20 a 30 anos.

Roberto Guimarães, diretor de planejamento e economia da Abdib (Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base), afirma que o surgimento de um modelo alternativo para gerenciamento de rodovias federais pelo setor privado reforça o amadurecimento das concessões.

“Esse avanço começou com a Lei 14.133, de 2021, a nova lei de licitações, que trouxe melhorias desde a preparação do edital até na modelagem dos contratos, com matriz de riscos adequada, tudo isso trouxe segurança jurídica e estimulou a entrada de novos participantes nos leilões, como fundos de investimentos”, diz Guimarães.

O especialista aponta algumas vantagens de se optar por uma concessão menor em vez de o próprio Dnit (órgão do ministério encarregado de fazer obras) fazer a manutenção ou contratar uma empresa terceirizada para executar o serviço.

“O setor privado tem mais agilidade para contratar equipamento e mão de obra que o setor público, além disso é mais comprometido com a gestão do ativo quando assume uma concessão, que exige padrões mínimos de qualidade se comparada a uma obra terceirizada”, afirma Guimarães.

Quanto aos potenciais interessados em participar das concessões inteligentes, Guimarães cita empreiteiras que fazem obras para o Dnit a fundos e consórcios, dependendo do certame. “O ativo concessão de rodovia é um bom investimento, mas o projeto tem de dar retorno para o plano de negócios da empresa interessada.”

Novos investidores

Lucas Hellmann, especialista em direito administrativo do escritório Schiefler Advocacia, acredita que as concessões inteligentes poderão atrair ao setor uma nova camada de interessados.

Hellmann observa que muitos dos operadores atuais de concessões estão com o caixa comprometido após assumirem diversos contratos e anos de investimentos pesados. “Isso explica por que alguns leilões recentes atraíram poucos ou nenhum participante”, afirma Hellmann.

Ele adverte, no entanto, que esse novo modelo, que não prevê grandes obras e ainda cobra por serviços adicionais, pode gerar resistência de uma parcela da população, especialmente entre aqueles que se questionam por que devem pagar pedágio se já contribuem com tantos outros tributos.

“O governo vai precisar de uma comunicação eficaz para explicar à população os benefícios e a lógica por trás desse projeto”, diz Hellmann.

Outro especialista em concessões, Fernando Gallacci, sócio do escritório Souza Okawa Advogados, lembra que a atual legislação de concessões não diferencia o porte dos projetos, trazendo direitos e deveres uniformes para o tipo de parceria, seja por concessões ou parcerias público-privadas (PPPs).

Segundo ele, as diretrizes atuais são bastante abertas, e o mercado aguarda exemplo mais concreto desse novo modelo de concessão, com a publicação de maiores detalhes de um primeiro projeto para 2025. “A redução de encargos e investimentos pode atrair apenas agentes mais focados na manutenção do asfalto, deixando de lado grandes investidores”, afirma Gallacci.

Nos primeiros anúncios de concessão inteligente, o ministro Renan Calheiros chegou a citar a possibilidade de o modelo ajudar a trazer de volta ao setor as grandes empreiteiras, que monopolizaram os 16 leilões de rodovias federais realizados entre 2007 e 2014.

A maioria acabou sofrendo com a crise econômica de 2014-2016, que causou uma queda de 50% no mercado de obras públicas e inviabilizou investimentos previstos nas concessões fechadas nos anos anteriores.

Grandes empreiteiras, como Novonor (antiga Odebrecht), Andrade Gutierrez, Galvão Engenharia, Camargo Corrêa e UTC, também padeceram com a sangria causada pela Operação Lava-Jato e acabaram deixando o setor de concessões. O faturamento do setor caiu mais de 80%, segundo o Sinicon (Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada-Infraestrutura).

As empreiteiras investigadas foram reabilitadas para contratos públicos em 2023 e voltaram a participar de concorrência para obras da Petrobras, mas ainda não se arriscaram nos leiloes recentes de rodovias federais.

“Se a matriz de risco/retorno for adequada, não vejo problemas de as construtoras entrarem nos leilões de concessões inteligentes”, diz Guimarães, da Abdib.





Fonte: Neofeed

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Um dilema de quase US$ 14 bilhões para a OpenAI e a Microsoft

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Um dilema de quase US$ 14 bilhões para a OpenAI e a Microsoft
Tempo de Leitura:3 Minuto, 6 Segundo


Dona do ChatGPT, a OpenAI reforçou seu status como protagonista do hype em torno da inteligência artificial (IA) ao anunciar um aporte de US$ 6,6 bilhões no início deste mês. A rodada foi liderada pela Thrive Capital e trouxe ainda nomes como Softbank, Tiger Global e Nvidia para o captable da operação.

Com o cheque de múltiplos dígitos, a startup criada em 2015 como um laboratório chegou a um total de US$ 21,9 bilhões captados, além de ver seu valuation dar um salto de US$ 86 bilhões para US$ 157 bilhões. E de ganhar fôlego para o seu projeto de se transformar em uma empresa com fins lucrativos.

Esses montantes escondem, porém, aquela que deve ser uma das principais dores desse crescimento e dessa transição. E que está expressa em uma cifra, em particular: o volume total próximo de US$ 14 bilhões já aportado pela Microsoft na OpenAI.

Com a mudança de patamar para uma empresa com fins lucrativos, tanto a startup como a sua maior “patrocinadora” nessa jornada contrataram bancos de investimento para ajudá-las a solucionar o dilema sobre qual será a participação detida pela Microsoft quando a OpenAI concluir esse processo.

Segundo o The Wall Street Journal, que citou pessoas familiarizadas com essas negociações, a Microsoft está trabalhando com o Morgan Stanley, enquanto a OpenAI contratou o Goldman Sachs para assessorá-la no imbróglio.

Além de definir qual será a fatia que cabe à Microsoft naquela que hoje é considerada a segunda startup mais valiosa do mundo, atrás apenas da SpaceX, de Elon Musk, o que também está em jogo são os direitos de governança que cada um terá nessa nova composição.

O que torna o processo mais desafiador é o fato de que é incomum que organizações sem fins lucrativos se transformem em empresas com fins lucrativos, especialmente para uma companhia com o porte e o valuation da OpenAI.

Hoje, a Microsoft, outros investidores e funcionários da OpenAI têm direitos sobre lucros futuros gerados por uma subsidiária com fins lucrativos controlada pelo conselho sem fins lucrativos da startup americana.

Desde 2019, a gigante de Redmond investiu US$ 13,75 bilhões na OpenAI, incluindo sua participação na última rodada de US$ 6,6 bilhões. Os aportes anteriores foram realizados quando a startup valia substancialmente menos do que o seu patamar atual.

Segundo as fontes próximas ao tema, a OpenAI também está sendo assessorada por Michael Klein, um ex-banqueiro do Citigroup com laços estreitos com Sam Altman, o CEO da startup. Definir a fatia de Altman será outra questão importante nesse processo.

Em outro fator agravante, é provável que, quanto maior for a participação da Microsoft, maior será a ofensiva dos órgãos antitruste sobre a empresa, dado que esses reguladores já estão adotando uma série de medidas para conter o avanço das big techs.

Os elos que ligam as duas empresas além da questão financeira são mais um elemento complicador nesse caso. A Microsoft é a provedora exclusiva de infraestrutura de nuvem para a OpenAI e usa a tecnologia da investida para o seu aplicativo Copilot AI.

Ao mesmo tempo, a gigante americana não vem medindo esforços para ampliar suas próprias capacidades de inteligência artificial. Em paralelo, a OpenAI também tem buscado outras fontes de poder computacional na nuvem.

Essa equação de difícil resolução passa ainda pelos termos da última rodada de investimentos da startup. Os investidores receberam dívidas que serão convertidas em equity quando a OpenAI se tornar uma empresa com fins lucrativos.

O aporte bilionário estabeleceu ainda que a OpenAI terá dois anos para concluir esse processo. Caso contrário, os investidores que participaram dessa última rodada terão direito ao reembolso dos recursos que injetaram na operação.



Fonte: Neofeed

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Os planos do A.C. Camargo para ir além do atendimento médico oncológico

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Os planos do A.C. Camargo para ir além do atendimento médico oncológico
Tempo de Leitura:5 Minuto, 36 Segundo


O A.C. Camargo é referência no tratamento contra o câncer no País. Em mais de 70 anos, a instituição filantrópica atendeu milhares de pacientes da rede pública e privada. Agora, toda essa bagagem de protocolos e tratamentos será empacotada em produtos e oferecida a terceiros.

O plano do A.C. Camargo, que no ano passado teve faturamento de R$ 1,75 bilhão, uma alta de 14,4% em relação a 2022, é conseguir aumentar sua fonte de receita através das verticais de ensino e pesquisa, além de oferecer serviços para hospitais e clínicas.

Atualmente, o atendimento médico responde por mais de 90% da receita anual do A.C. Camargo. Em três anos, a ideia é que essa diversificação de receita saia do patamar atual de 6% para 14%. E a instituição deixe de ser totalmente dependente das operadoras de saúde.

“A assistência médica é a área que nos sustenta, mas ela vem sendo desafiada por conta dos custos da saúde”, afirma Victor Piana, médico patologista, doutor em oncologia e diretor-geral do A.C. Camargo, ao NeoFeed. “Ela [a assistência médica] é a principal fonte de recursos do A.C. Camargo, mas daqui para frente acreditamos que vamos ter que encontrar um mosaico mais equilibrado de receita.”

No ensino, o A.C. Camargo está investindo para ampliar o alcance do que chama de “Universidade do Câncer”, sua iniciativa na parte de educação. Ainda que não tenha pretensões de ter uma graduação, a instituição está aportando R$ 45 milhões na construção de um novo prédio, em São Paulo, voltado para a parte de ensino técnico e capacitação de médicos.

“A expectativa é de que o câncer dobre de frequência em 30, 40 anos, e isso vai exigir muito mais gente especializada para cuidar dessas pessoas”, afirma Piana.

A instituição desenvolveu um portfólio de cursos voltados à capacitação de profissionais da saúde para tratar e lidar com pacientes com câncer, com cursos técnicos, especialização, pós-graduação e mestrado. No caso de graduação, a ideia é oferecer conteúdo de oncologia para as universidades, inspirados nos moldes dos sistemas de ensino como Etapa e Objetivo.

Uma das primeiras iniciativas foi firmada no ano passado, quando o A.C. Camargo fechou uma parceria com a Cogna para lançar cursos de capacitação em oncologia. Na parte Lato Sensu, são oferecidos os cursos de nutrição oncológica, na modalidade presencial, e enfermagem oncológica na modalidade EAD.

A instituição também está trabalhando com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) para criar um conteúdo para capacitar 400 mil agentes de saúde que sãos funcionários das Unidades Básicas de Saúde (UBS). E está estendendo esse trabalho às empresas, para que possam saber lidar com um funcionário no momento em que ele é diagnosticado e após o seu tratamento.

Na parte de pesquisa, o A.C. Camargo quer ampliar as parcerias com a indústria farmacêutica, em que testa novos medicamentos e tratamentos em suas dependências, pelos quais é remunerado.

A pesquisa clínica vem gerando uma receita de R$ 60 milhões por ano e representa a décima fonte pagadora do A.C. Camargo, considerando as operadoras de saúde, como SulAmérica e Bradesco Saúde. Já o ensino ainda está caminhando, com a receita anual com cursos na casa de R$ 2 milhões a R$ 3 milhões por ano.

O plano do A.C Camargo envolve ainda a venda de seu conhecimento e expertise em oncologia para outros hospitais e clínicas. A ideia é oferecer diversos tipos de produtos e serviços para outras instituições, desde prover os protocolos médicos e apoio na gestão da área até ir para a linha de frente, assumindo a operação do serviço de oncologia.

Victor Piana, diretor-geral do A.C. Camargo

Esse último caso ocorreu apenas no hospital infantil Sabará, em São Paulo. Por ser raro, o câncer pediátrico é de difícil diagnóstico e a maioria dos hospitais não está preparada para oferecer tratamento, por serem generalistas. Neste caso, o A.C. Camargo estabeleceu equipes dentro do Sabará, realizando a parte clínica no hospital e realizando procedimentos como radioterapia e transplante de medula óssea no A.C. Camargo.

“Ao saber que o hospital Sabará tem estrutura e uma equipe do A.C. Camargo, os pediatras têm encaminhado casos para o hospital, porque sabem que a criança terá tudo aquilo que precisa”, conta Piana.

Ele cita ainda o caso de uma clínica de oncologia no interior de São Paulo, chamada Clínica COE, de um ex-aluno do A.C. Camargo, para aumentar a oferta de tratamentos e conseguir competir com hospitais da região.

“O A.C. Camargo apoia com questões de backoffice, mas também na parte clínica, com exames que essas clínicas não oferecem. Os pacientes podem vir aqui para fazer os exames”, diz.

Autossustentável

A decisão de ampliar as outras áreas faz parte do histórico recente do AC Camargo de buscar sua sustentabilidade financeira. Ela também está alinhada ao posicionamento de “câncer center”, adotado em 2013, que implica que a instituição não apenas realiza tratamento oncológico, tendo atuação em frentes como prevenção, ensino e pesquisa.

Segundo Piana, desde o início dos anos 2000, a instituição “se desafiou” a não depender de doações, depois de ter passado por “um desafio” de sustentabilidade em 1997, com risco de fechar as portas, justamente por conta do aumento do avanço da medicina oncológica, que gerou custos elevados.

“A gente tinha 600 pessoas captando doações, mas ficou insuficiente”, afirma. “A oncologia se transformou demais, deixando de ser uma especialidade com um cirurgião bem treinado, se incrementando em equipamentos, máquinas, e como fazíamos alto volume de procedimentos, para continuar nesse ritmo, a gente precisava ter muitos recursos.”

Uma das decisões foi ampliar o atendimento para a rede privada, para que gerasse os recursos para sustentar as operações. Isso ocorreu pouco antes do forte aumento do número de pessoas com planos de saúde, que passou de 30 milhões de usuários em 2004 para 50 milhões em 2014, de acordo com Piana.

A situação permitiu a A.C. Camargo ter superávits anuais, com os recursos gerados com o atendimento ao setor privado sendo totalmente reinvestidos na instituição, não apenas na parte clínica, sem depender de doações.

Mas a atividade core, que sustenta a fundação, é intensiva em capital e a medicina oncológica vem avançando, trazendo consigo custos bastante elevados, exigindo um volume maior de investimentos. Além disso, o setor de saúde passa por dificuldades, com falta de crescimento desde 2014, fazendo com que as operadoras passem a transferir aos prestadores de serviços os custos de atendimento.

“Tudo aquilo que a gente financiava com o superávit operacional, o ensino, a pesquisa, a inovação, a responsabilidade social, tem que ser readequado e repensado”, diz Piana. “Por isso, estamos fazendo adaptações.”





Fonte: Neofeed

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