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Na profecia de Scott Galloway, este é o ano da OpenVidia, da energia nuclear e do IPO da Shein

O ano parece pronto para começar quando as profecias de Scott Galloway são publicadas no blog “No Mercy, No Malice”. Aos 60 anos, o professor da Stern School of Business da Universidade de Nova York e guru do Vale do Silício mostra as 12 previsões do que ele espera para 2025.
Na tecnologia, todo o poder para OpenAI e Nvidia. Segundo Galloway, as duas empresas formam o poderoso casal OpenVidia, que será dominante em tudo o que se refere à inteligência artificial (IA).
A ascensão da IA também trouxe de volta a discussão sobre a capacidade das fontes de energia para alimentar as máquinas. Segundo Galloway, a IA está acelerando a transformação das big techs de uma indústria que vende computadores para uma indústria que vende computação. E numa economia do conhecimento, computação é energia.
“A energia eólica e a solar são excelentes, mas carecem da escala e da confiabilidade da energia nuclear. Um reator nuclear produz o equivalente a 800 turbinas eólicas, ou 8,5 milhões de painéis solares”, escreveu o professor da Universidade de Nova York.
Nas contas de Galloway, as fusões e aquisições serão dominantes (não é por outro motivo que muitos investidores estão indo em busca de ativos nos mercados ilíquidos). Ele cita um fator político para isso: nos últimos anos a administração de Joe Biden foi implacável com leis antitruste. E a tendência é que o governo de Donald Trump seja mais pró-business – mesmo com todos os embates contra empresas de tecnologia e de mídia.
“Algumas previsões são sobre quem estará no topo de algumas grandes transações: Comcast, Uber e Elon Musk. Além disso, acredito que alguém fechará o capital da Intel e/ou da Boeing”, escreve ele.
No ano passado, Galloway destacou 17 previsões. Dessas, oito aconteceram, como o IPO do Reddit, a inflação nos Estados Unidos voltando para o centro da meta, a consolidação de Disney e Paramount no streaming e o TikTok pressionando Netflix e Spotify.
Entre os “quase” acertos, ele destaca a Alphabet como a melhor escolha entre as ações das big techs (o papel subiu mais de 35% no ano), Elon Musk perdendo o controle ou vendendo o X e Joe Biden eleito e Donald Trump sentenciado (a segunda parte ainda pode acontecer). Mas ele errou ao prever um boom na venda de casas nos EUA, a normalização das relações sino-americanas e a normalização das relações com Israel.
Confira, a seguir, os principais temas abordados por Galloway:
1 – Casal poderoso: OpenVidia
Desde o lançamento do ChatGPT em novembro de 2022, os investidores adicionaram US$ 8,2 trilhões ao valor de mercado de Alphabet, Amazon, Apple, Meta, Microsoft e Nvidia (o orçamento federal de 2024 foi de US$ 6,8 trilhões). Hoje, o ecossistema de IA está se dividindo em três camadas: aplicativos (Duolingo, Netflix, Tesla), modelos de IA (Anthropic, Gemini, OpenAI) e infraestrutura (AWS, Google Cloud, Nvidia). Duas empresas dominam: a OpenAI, com seu ChatGPT, que é responsável por 56% das assinaturas premium de LLM, ou seja, pessoas sacando seus cartões de crédito. E a Nvidia, cujos chips são citados 19 vezes mais em pesquisas do que os de seus concorrentes juntos;
2 – A empresa de IA de 2025: Meta
Nenhuma empresa está melhor posicionada para registrar progresso em IA do que a Meta. Nove em cada 10 usuários da internet (excluindo a China) estão ativos em plataformas Meta. A empresa tem acesso a dados de linguagem humana mais exclusivos, ou seja, dados brutos de treinamento, do que Google, Reddit, Wikipedia e X combinados;
3 – Tecnologia de 2025: Nuclear
O ponto de estrangulamento da IA é a energia. Uma consulta ao ChatGPT exige 10 vezes mais energia do que uma consulta ao Google. A maioria das 10 empresas mais valiosas em 1980 e 2024 eram/são do setor de energia e de tecnologia. No entanto, a construção de hectares de centros de dados e os investimentos energéticos necessários para os alimentar refletem uma convergência mais profunda. A IA está acelerando a transformação da uma indústria que vende computadores para uma que vende computação. Numa economia do conhecimento, computação é energia;
A energia eólica e a solar são excelentes, mas carecem da escala e da confiabilidade da energia nuclear. Um reator nuclear produz o equivalente a 800 turbinas eólicas, ou 8,5 milhões de painéis solares. A energia nuclear também é livre de carbono: 48% da energia limpa nos EUA vem do nuclear. A energia nuclear pode ser a marca mais mal gerida da história. Se você reunisse todo o combustível nuclear usado produzido pelos EUA nos últimos 60 anos, ocuparia apenas 10 metros de um campo de futebol (observação: não chegue perto desse campo);
4 – Tendência de negócios: fusões e aquisições
Uma quantia histórica de dinheiro está à margem. Desde 2003, o capital comprometido ainda não alocado aumentou oito vezes, para US$ 4 bilhões. O caixa corporativo totaliza US$ 4,1 trilhões. Contexto: o PIB nos EUA gira em torno de US$ 27 trilhões. O tempo médio de fechamento de negócios nos EUA em 2022 foi de 161 dias, um aumento de 14% desde 2018. Para negócios superiores a US$ 10 bilhões em valor, o tempo de fechamento aumentou 66%, para uma média de 323 dias. Nos últimos quatro anos, a administração Biden publicou 209 regulamentações “economicamente significativas” – mais do que qualquer presidente desde Reagan. A lição? As eleições têm consequências. Deixando de lado quaisquer queixas que Trump possa ter contra empresas específicas de tecnologia e mídia, a percepção é que a sua administração provavelmente será mais amigável com fusões e aquisições.
Algumas previsões são sobre quem estará no topo de algumas grandes transações: Comcast, Uber e Musk. Além disso, acredito que alguém fechará o capital da Intel e/ou da Boeing.
5 – Musk faz ofertas pela Warner Bros. Discovery/CNN
O Wall Street Journal informou que Elon Musk é viciado em cetamina [um anestésico que alivia dores]. Acredito que esse seja o mecanismo de entrega, mas a nicotina (onde reside seu verdadeiro vício) é a atenção. Por 10% de seu patrimônio líquido (US$ 44 bilhões para o Twitter), ele pode se impor a todos nós, quase o tempo todo.
De qualquer forma, o Warner Bros. Discovery (WBD) tem um valor de mercado de US$ 26 bilhões (mais dívida). Se a ideia parece ultrajante, não é. John Stankey (CEO, AT&T) impôs à venda do conglomerado WDB a condição de que fosse uma única classe de ações, para obter o preço mais alto e render à empresa um prêmio de aquisição; nas palavras de Gordon Gecko, o WBD é quebrável, ou seja, pode ser adquirido.
6 – Palíndromo: serviço como software
Esta é uma maneira elegante de dizer que haverá mais aplicações de IA voltadas para o consumidor. Até agora, os benefícios da IA foram acumulados para os jogadores existentes. O próximo conjunto de vencedores serão as empresas que capitalizarem o serviço como software, ou seja, assumindo serviços com utilização intensiva de recursos humanos e colocando uma espessa camada de IA no topo para escalar com menos mão-de-obra.
7 – Acostume-se com isso: Drones
Radar, motores a jato, energia nuclear, GPS e bancos de sangue foram desenvolvidos durante a guerra. Há algo na guerra e na perda potencial de uma civilização que inspira criatividade. No início da guerra na Ucrânia, o orçamento de defesa e o exército permanente da Rússia eram 10 vezes e 5 vezes maiores que os da Ucrânia, respectivamente. Os drones são a principal inovação tecnológica nascida do conflito. Eles fornecem capacidades de vigilância constante e permitem ataques de precisão por uma fração dos custos tradicionais. Um ataque bem-sucedido com drones pode gerar um retorno de 100.000% (por exemplo, drones de US$ 400 destroem rotineiramente tanques de US$ 4 milhões).
8 – Oportunidade de investimento: mercados emergentes
O S&P 500 superou o ETF da Vanguard All-World ex-EUA por +56% a +23%, respectivamente, de 2023 a 2024. Historicamente, quando as ações caem nos EUA, os mercados emergentes sobem. Esses ciclos normalmente duram cerca de uma década. Acredito que já estamos na hora de uma correção de curso. Nos EUA, o mercado de ações representa agora 50% do valor total do mercado global; quando as ações ficam tão caras, os retornos caem e o capital procura retornos maiores em outros lugares. Desde 1989, os mercados emergentes têm normalmente superado os mercados desenvolvidos em 27%, após um corte nas taxas da Fed. A percentagem de capital institucional investido nos mercados encontra-se num mínimo cíclico. Uma reversão para a média representaria entradas de US$ 910 bilhões para os mercados emergentes.
9 – Plataforma: YouTube
A Netflix não venceu a guerra do streaming, foi o YouTube. No ano passado, o YouTube, que não gasta nenhum dólar em conteúdo – compartilha receitas com os criadores em vez de pagá-los – tornou-se a primeira plataforma de streaming a atingir 10% de todas as visualizações de televisão. Oitenta e um por cento dos espectadores da Geração Alfa disseram ter assistido ao YouTube recentemente, em comparação com 62% que disseram ter assistido a um serviço de streaming por assinatura e 44% que disseram ter assistido ao TikTok. Além disso, o YouTube é a plataforma de podcast número 1, adicionando um vento favorável que nenhum outro streamer tem. Se a Alphabet fosse forçada a desmembrar o YouTube, a empresa provavelmente valeria meio trilhão de dólares versus um valor de mercado da Netflix de US$ 350 bilhões.
10 – Mídia: Podcasts
Estou falando do meu próprio livro aqui, mas estou no ramo de podcasting há quase uma década e esta é a primeira vez que o chamo de mídia do ano. O único meio apoiado por anúncios que cresce tão rápido quanto Meta, TikTok, Alphabet e Reddit é o podcast. Dos estimados 3,2 milhões de pods, 600 mil lançam conteúdo a cada semana, e estimo que apenas 600 são economicamente viáveis. Esta é uma concentração de poder impressionante, com os 10 principais grupos comandando 35% da audiência. A parcela de atenção dos podcasts está bem à frente de sua parcela de receita publicitária. Este delta será fechado.
11 – IPO: Shein (Divulgação: Investidor)
Um terço dos consumidores da Geração Z dizem que são “viciados” em fast fashion. Os varejistas tradicionais lançam 100 novos estilos por semana. Os varejistas de fast fashion lançam 100 estilos por dia. Shein lança 7.000 estilos por dia. Suas operações são notavelmente leves em ativos, já que a Shein é uma empresa de propriedade intelectual que não possui fábricas, caminhões ou lojas. Em vez disso, o seu software monitora a atividade no local, envia encomendas às fábricas com base na sua capacidade de calibrar a procura e, em seguida, põe o transporte em movimento. Além disso, efetivamente não há devoluções (o calcanhar de Aquiles de qualquer negócio de varejo), pois os produtos são tão baratos que as pessoas não se dão ao trabalho de devolvê-los. Semelhante a outros vencedores de ativos leves (por exemplo, Airbnb, Nvidia, Uber), a receita por funcionário da Shein supera a dos operadores históricos.
12 – Movimento tecnológico: proibição de telefones
Quando olhamos para trás, para esta época, o que mais nos arrependeremos é ter deixado nossos filhos se tornarem viciados. A substância são as redes sociais, o mecanismo de entrega é o telefone. Num dia normal, um adolescente recebe 237 notificações. Um estudo descobriu que 97% das crianças usam seus telefones durante o horário escolar, em média, cerca de 43 minutos por dia. Pense nisso: basicamente todo adolescente na América falta 10% à escola todos os dias. Dar aos alunos acesso irrestrito aos telefones foi uma grande medida, disse nenhum professor. Bani-los na escola é um retorno à sanidade.
Negócios
Itaú prepara ofensiva na disputa com as carteiras digitais

O Itaú prepara duas ações para tentar derrubar uma liminar da Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que impôs uma medida preventiva contra o banco no âmbito de um processo administrativo que apura imposição de barreiras em transações de carteiras digitais de concorrentes, apurou o NeoFeed.
A primeira das medidas é um recurso no próprio Cade para que a liminar possa ser analisada pelo tribunal do conselho, colegiado que conta com sete participantes. A liminar foi uma decisão de Alexandre Barreto, superintendente-geral do Cade.
Além de recorrer ao próprio Cade, o Itaú vai entrar na Justiça Federal do Distrito Federal para tentar anular a decisão do órgão concorrencial brasileiro, alegando que não exerceu o direito ao contraditório e que teve o seu direito de defesa cerceado.
Nos dois casos, o objetivo do Itaú é derrubar a liminar, que ordena ao banco que cesse imediatamente as condutas consideradas irregulares sob pena de uma multa diária de R$ 250 mil. A decisão é de 14 de fevereiro, mas se tornou pública na sexta-feira, 21 de fevereiro. A informação foi noticiada em primeira mão pelo jornal Valor Econômico.
A tese da defesa do Itaú, além de recorrer do mérito da questão, é que ao longo do processo administrativo, a área jurídica do banco não teve acesso a todo o processo, pois muitas das acusações feitas ao Itaú estavam tarjadas (não podiam ser vistas), segundo uma fonte próxima ao banco.
O processo foi aberto no Cade, no ano passado, a partir de uma representação do Ministério Público Federal, que recebeu denúncia da Associação Brasileira de Internet (Abranet), que tem entre seus associados PicPay, Mercado Pago, RecargaPay, entre outras carteiras digitais.
A Abranet alega que o Itaú está bloqueando transferência de recursos de cartões emitidos pelo banco na modalidade de crédito de forma discriminatória. Segundo a liminar, “foram coletadas informações, fundadas em ampla documentação, relativas à existência de recusa/negativa de transações via cartões de crédito”.
Em nota enviada ao NeoFeed (confira a íntegra no fim do texto), o Itaú diz que “teve seus direitos gravemente violados, quando lhe foi negado acesso à íntegra dos autos e, estranhamente, é o único implicado na medida preventiva, ainda que haja evidências no processo de que outros bancos e fintechs possuem práticas semelhantes de negativa de transação. Nesse contexto, o Itaú está convicto de que não violou qualquer regra de livre concorrência e recorrerá contra a medida preventiva para as instâncias competentes”.
Uma fonte próxima ao banco diz que desde 2022 o Itaú notou que titulares de cartões emitidos pelo banco usavam o cartão na modalidade crédito para transferir dinheiro para carteiras digitais. E que as taxas de inadimplência desses clientes eram altas.
Na nota enviada ao NeoFeed, o Itaú informa que “apurou que transações com cartões de crédito em carteiras digitais, realizadas para transferências de valores e pagamento de contas e boletos, apresentavam inadimplência até cinco vezes superior às transações de compra com cartão de crédito”.
A partir disso, o Itaú criou ratings para os clientes de carteiras digitais. Aqueles com boas notas, podiam transferir dinheiro para qualquer carteira, sem restrições. Os de pior, não conseguiam fazer o cash in. Nas notas intermediárias, havia também algumas restrições.
“Essas regras valem para todas as carteiras digitais, inclusive o iti, que é do próprio Itaú”, afirma essa fonte. “Tanto que o Itaú aprovou, em 2024, mais de 70% das transferências solicitadas para o PicPay. Não há nenhuma discriminação.”
Outro ponto da defesa do Itaú é que, como emissor do cartão, ele tem o direito de administrar os limites dos clientes, bem como aprovar ou negar autorizações de transferências e compras.
No texto que justifica a medida preventiva, Alexandre Barreto, superintendente-geral do Cade, escreve que as práticas “relatadas ao Ministério Público Federal pela PicPay envolvem o fato de que o Banco Itaú recusa transações com cartão de crédito embarcado em sua plataforma para pagamento de boletos, transferências Pix ou transferências entre clientes (P2P), ao passo que este banco emissor permite que os mesmos tipos de transações sejam realizadas nos seus próprios canais, como aplicativos digitais e sites.”
Uma fonte próxima ao PicPay disse ao NeoFeed que o Itaú não só começou a negar as transações, como também, após identificar que era via uma carteira digital, oferecer o seu serviço. “E você sabe o poder de mercado que o Itaú tem. Principalmente na área de cartões”, afirma.
Sobre o Mercado Pago, o superintendente-geral do Cade diz que a empresa “relatou que, além das recusas relacionadas à autorização das transações nas carteiras digitais, o Representado não estaria utilizando os códigos de respostas acerca dos motivos da recusa, o que dificulta a visibilidade e a transparência nos critérios adotados.”
E, Abranet, por sua vez, segundo o texto de Barreto, destaca que a atuação do Itaú “revela que as Associadas narram uma série de problemas por elas vivenciados em relação àquele banco emissor”.
Procurada, a Abranet não retornou aos pedidos de comentários. O PicPay disse que não iria comentar. E o Itaú enviou a nota abaixo:
“O Itaú Unibanco apurou que transações com cartões de crédito em carteiras digitais, realizadas para transferências de valores e pagamento de contas e boletos, apresentavam inadimplência até cinco vezes superior às transações de compra com cartão de crédito. Essa alta inadimplência leva ao desequilíbrio financeiro das transações com prejuízos mensais relevantes para a instituição, além de contribuir para um aumento significativo do superendividamento das famílias. Por essas razões e com base nas regras de boas práticas bancárias, aplicáveis ao produto cartão de crédito, e na lei de prevenção ao superendividamento, o Itaú iniciou a negativa de algumas transações com cartão em carteiras digitais, especialmente aquelas tentadas por pessoas economicamente vulneráveis. Desde 2022, essa decisão foi compartilhada com as carteiras digitais e com o Banco Central, que sempre ratificou a legitimidade da conduta do Itaú. Em relação à preventiva, o Itaú teve seus direitos gravemente violados, quando lhe foi negado acesso à íntegra dos autos e, estranhamente, é o único implicado na medida preventiva, ainda que haja evidências no processo de que outros bancos e fintechs possuem práticas semelhantes de negativa de transação. Nesse contexto, o Itaú está convicto de que não violou qualquer regra de livre concorrência e recorrerá contra a medida preventiva para as instâncias competentes.”
Negócios
Onda verde: como o pistache se tornou uma mania global

Não é preciso ser ligado em gastronomia para ver que o Brasil “pistacheou“. Originária do Oriente Médio, a noz de cor esverdeada está por todos cantos. Em petiscos, pratos salgados, doces, bolos, sorvetes. Se é comida, pode apostar, há sempre um jeito de incluir o ingrediente-fenômeno na receita.
A febre do pistache é, com o perdão do trocadilho, fruto de um dos cases de marketing mais bem-sucedidos dos últimos anos — no mundo todo. E tudo começa nos Estados Unidos. Graças a uma série de inovações agrícolas, os americanos começaram a produzir a noz em quantidades colossais. Como o mercado interno não daria conta de absorver safras cada vez maiores da oleaginosa, decidiram pintar o planeta de verde.
Até a década passada, o grande produtor de pistache era o Irã. Ainda que a noz não esteja na lista de sanções impostas ao governo dos aiatolás por boa parte do Ocidente, os agricultores iranianos têm sofrido com as restrições ao acesso a apoios financeiros internacionais.
Assim, os americanos assumiram a liderança global. Hoje, eles são responsáveis por 523,9 mil toneladas anuais, segundo dados do portal Atlas Big. Enquanto no Irã as colheitas chegam a 135 mil toneladas. Em terceiro lugar está a Turquia, com 119,3 mil toneladas.
E é aí que entra o trabalho da American Pistachio Growers (APG), uma associação sem fins lucrativos que representa mais de 800 produtores da Califórnia, Arizona, Novo México e Texas, criada justamente para dar visibilidade ao produto dos Estados Unidos e ajudar na vazão do estoque do país. Foi criado até o dia mundial do pistache: 26 de fevereiro.
Uma das principais iniciativas do grupo foi promover o produto nas redes sociais, com influenciadores e chefs estrelados de todo mundo enaltecendo a versatilidade e o sabor leve, entre o doce e o salgado, do pistache. E, claro, os benefícios para a saúde de uma das proteínas vegetais mais completas, rica em antioxidantes e fibras.
Publicação recente na plataforma da associação garante: “Dois punhados diários de pistache podem ajudar a proteger os olhos dos danos causados pela luz azul [de telas de computador e celular] e podem reduzir o risco de problemas de visão relacionados à idade”. Apelar para a saúde é cartada das mais certeiras.
No Brasil, desde 2021, o escritório de São Paulo do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos também ajudou a impulsionar as vendas do produto, com ações publicitárias no País, incluindo depoimentos em redes muito utilizadas pela geração Z, como o TikTok. Deu certo.
Em 2003, as importações de pistache movimentavam apenas US$ 400 mil. Vinte anos depois bateram US$ 8,8 milhões, aumento de 2.200%, em duas décadas, segundo estudo da fintech de comércio exterior Vixtra, com base em dados da Secretaria de Comércio Exterior, do governo federal.
E, das 608 toneladas que chegam hoje ao mercado brasileiro, quase 80% vem dos Estados Unidos, movimentando US$ 6,8 milhões. A noz argentina fica com 18,2% (US$ 1,6 milhão) e a iraniana, com 4,1% (US$ 0,4 milhão).
“A estratégia dos Estados Unidos foi extremamente bem-sucedida. A geração Z é muito conectada à novidade”, diz Luciana Florêncio, professora do mestrado Profissional em Comportamento do Consumidor, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em entrevista ao NeoFeed.
Para ela, a “glamourização” do produto importado e a grande exploração nas redes sociais foram fundamentais para o sucesso de vendas da oleaginosa, em suas mais variadas formas.
“As nossas atitudes impactam o comportamento de consumo. E isso também vem de olhar o que o outro faz”, afirma Florêncio. “O pistache viralizou nas redes sociais, somado ao discurso da moda de um produto saudável e da facilidade do acesso.”
E, isso, apesar do preço do fruto ser ainda um tanto salgado: R$ 200, em média, o quilo.
O sucesso da noz gelada
Na gelateria Bacio di Latte, ainda que todo o pistache consumido nas lojas do País venha do Sul da Itália, a empresa percebeu, em volume e em faturamento, o crescimento do consumo no Brasil a partir das plantações dos Estados Unidos.
Em 2022, a empresa importava 30 toneladas da noz. No ano passado, foram 100 toneladas, exatamente para suprir o aumento da demanda.
Nas 200 lojas da rede no país e nas nove nos Estados Unidos, além dos 8 mil pontos de venda no varejo, o gelato de pistache lidera no volume de vendas em todas elas. No top 5 dos produtos mais pedidos, está a mousse… de pistache.
“Hoje as vendas de produtos com pistache representam 50% a mais do que o segundo colocado, o chocolate belga”, diz Fábio Medeiros, diretor de marketing da Bacio di Latte.
Dos R$ 850 milhões faturados pela empresa em 2024 (e que deve chegar a R$ 1,2 bilhão em 2025), 20% vêm dos produtos com sabor pistache. Hoje são mais de 15 itens oferecidos pela empresa de sabores derivados da oleaginosa.
E, para Medeiros, acreditem, ainda há espaço para crescer. “Com mais marcas e mais pistache disponível, sendo produzidos por docerias menores e grandes marcas, o produto entra mais na cabeça do consumidor. E quem oferece algo de qualidade, sai ganhando com isso”, afirma executivo.
Veio para ficar
Os analistas de mercado e especialistas em marketing concordam. Para Florêncio, da ESPM, a febre do pistache não é moda passageira, não. O produto, segundo ela, deve ser incorporado de vez ao hábito de consumo do brasileiro.
“Vai chegar o momento da análise crítica sobre as várias formas do pistache, mas acredito que o ingrediente em si passe a fazer parte da realidade do consumidor. Essa associação de que é um produto saudável está na base de consumo. E isso já foi feito”, afirma a professora da ESPM.
Ela acredita que o marketing do pistache poderia ser uma boa inspiração para o crescimento de volume das oleaginosas brasileiras no exterior, como a castanha do Pará, conhecida globalmente como “castanha do Brasil”.
Mas, para José Eduardo Camargo, presidente da Associação Brasileira de Nozes, Castanhas e Frutas Secas (ABNC), ainda é necessário que o setor faça a lição de casa.
“O marketing precisa estar associado à disponibilidade do produto, que é o ocorre nos Estados Unidos”, diz Camargo. “Para nós, seria importante aumentar a produção da castanha. Mas o exemplo dos americanos deve, sim, servir de inspiração.”
Ainda que haja demanda para aumento no volume da importação, é possível que o Brasil comece a dar alguns pequenos passos para sair da condição de apenas comprador para se transformar também em produtor de pistache.
A Embrapa Agroindústria Tropical, por exemplo, desenvolve projeto para o início de cultivo do pistache até 2027 no Ceará, com colheitas previstas para 2035. O momento agora é de definição do material genético, para adaptação da planta no Nordeste brasileiro. E de onde virão as amostras dos genes? Dos Estados Unidos, claro. O pistache realmente veio para ficar.
Negócios
O peso de ser filha de um mito chamado Elvis Presley

Lisa Marie Presley era filha de um rei. O do rock. Mas, em sua mente de criança, a grandiosidade de Elvis ia muito além: “Eu achava que meu pai podia mudar o clima. Para mim, ele era um Deus. Um ser humano eleito”. Para o bem e para o mal: “Se estivesse de péssimo humor, o tempo lá fora ficava terrível; se o dia estivesse tempestuoso, era porque ele estava prestes a estourar”.
As lembranças de Lisa Marie com o pai são os melhores momentos da autobiografia póstuma Rumo ao grande mistério: Memórias. Ela tinha apenas oito anos, quando o corpo do astro foi encontrado em 16 de agosto de 1977, em um dos banheiros da mansão Graceland, em Memphis, no Tennessee.
O livro estava quase pronto quando a autora morreu em 12 de janeiro, de 2023, aos 54 anos, vítima de uma obstrução intestinal, em decorrência de uma cirurgia bariátrica para perda de peso. Rumo ao grande mistério foi finalizado por sua filha mais velha, a modelo e atriz Riley Keough, de 35 anos.
Lisa vinha trabalhando na autobiografia há bastante tempo, mas não conseguia terminá-la. Em janeiro de 2022, um mês antes de morrer, pediu ajuda a Ryle para finalmente encerrá-lo. No processo, a atriz usou gravações feitas pela mãe.
E o resultado impressiona pela sinceridade — e pela riqueza de detalhes. O amor incondicional pelo pai; a vida em Graceland; a convivência com a mãe Priscilla; as frequentes mudanças de escola por causa de mau comportamento; a luta contra o vício em álcool, drogas e remédios; o relacionamento com o ator e músico Danny Keough; o casamento com Michael Jackson; o luto pela morte do filho Benjamin Keough, entre outras passagens. Da narrativa emerge uma mulher apaixonada, alegre, carinhosa e complexa. De uma solidão comovente.
A convivência entre Lisa e Elvis era restrita às férias escolares, já que ela vivia com a mãe, em Los Angeles — Elvis e Priscilla se divorciaram em 1973. Apesar do tempo restrito, pai e filha mantiveram uma relação estreita, marcada pela busca quase obsessiva da menina para agradar a Elvis.
“Fazê-lo feliz, fazê-lo rir — era este o meu mundo inteiro. Se eu descobrisse que ele achava certa coisa engraçada, faria aquilo o máximo possível para diverti-lo”, lê-se na obra, lançada no Brasil pela editora Rocco. “Nossa proximidade era muito maior do que eu jamais deixei transparecer a qualquer pessoa no passado. Ele me amava muito e era muito dedicado, mil por cento presente o tanto quanto podia, apesar de todos ao seu redor.”
Mas a vida ao lado do cantor não era fácil. “Ele era intenso e ninguém queria ser o alvo da sua raiva”, lembrou Lisa. Se ela o aborrecia, ou se ele estava zangado com a filha, parecia que era o fim do mundo: “Eu não conseguia suportar. Quando ele se chateava comigo, eu levava para o lado pessoal e ficava simplesmente destroçada. Queria a aprovação dele em tudo”.
Mesmo depois de anos, mesmo adulta, a filha nunca superou a perda do pai: “Houve noites em que eu simplesmente fiquei bêbada, ouvi sua música, sentei-me e chorei. A tristeza ainda vem. Ela ainda está lá”, contou.
Erguida em 1939 por um médico e comprada por Elvis vinte anos depois, Graceland merece uma longa, emotiva e minuciosa descrição de Lisa. Tão minuciosa que o leitor parece passear pelo lugar, em sua companhia.
Lisa Marie tentou carreira na música e chegou a lançar três álbuns, mas nunca deslanchou. Em 1994, se casou com outro rei — o do pop, Michael Jackson. A união foi o oficializada apenas 20 dias depois do divórcio de Keough e durou apenas dois anos.
“Michael (lhe) disse: ‘Não sei se você notou, Lisa Marie, mas estou completamente apaixonado por você. Quero que nos casemos e que você tenha meus filhos’. Eu não disse nada imediatamente, mas então falei: ‘Estou realmente lisonjeada, não consigo nem falar’. Naquela época, eu sentia que estava apaixonada por ele também”, relatou a autora.
“Acho que Michael tinha beijado Tatum O’Neal e ele teve um caso com Brooke Shields, que não foi físico, exceto por um beijo. Ele também disse que Madonna tentou ficar com ele uma vez, mas nada aconteceu entre os dois. Eu estava apavorada porque não queria fazer o movimento errado.”
Em uma entrevista de 2023, Priscilla disse que o astro só se casara com Lisa por causa de sua obsessão por Elvis.
Rumo ao grande mistério traz ainda outra passagem dolorosa da vida de Lisa: a perda do filho Benjamin. Em julho de 2020, no auge da pandemia, o jovem de 27 anos cometeu suicídio e, até enterrá-lo em Graceland, ela manteve seu corpo em casa, em gelo seco, por dois meses — o que suscitou uma enorme polêmica, quando livro foi lançado nos Estados Unidos.
Por não saber como lidar com a morte de Benjamin, Lisa justificou: aquele tempo fora importante para que ela conseguisse se despedir do filho.
Uma sensação muito semelhante à vivida por ela com Elvis, cujo corpo ficou em caixão aberto por dois dias, na mansão de Memphis: “Ter meu pai em casa após sua morte me ajudou muito, porque eu podia passar tempo com ele e falar com ele.”
As memórias de Lisa são dolorosas, mas pontuadas por situações de humor. Quando era criança, por exemplo, divertia-se às custas dos fãs que se aboletavam nos portões de Graceland. Por US$ 20, prometia a menina, ela tiraria uma foto de Elvis. Em vez do cantor, no entanto, ela fotografava a mansão.
Eram tempos alegres. Mas Lisa cresceu e teve de enfrentar as dificuldades da vida adulta e o peso de ser a filha única de uma lenda.
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