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O Brasil rumo ao futuro prometido pelo hidrogênio verde

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O Brasil rumo ao futuro prometido pelo hidrogênio verde
Tempo de Leitura:6 Minuto, 42 Segundo


Santo Graal da descarbonização, combustível do futuro ou mina de ouro da transição energética — são muitos (e sempre superlativos) os títulos conferidos ao hidrogênio verde (H2V) por sua importância na luta contra a crise climática.

Até 2030, a nova tecnologia deve movimentar, globalmente, US$ 350 bilhões, em investimentos, conforme dados da consultoria Thymos Energia. Ao Brasil, cabem 8% desse total — o equivalente a US$ 28 bilhões. Pode parecer pouco, mas não é.

“O país tem um grande potencial para a produção de hidrogênio verde, pois nossas condições climáticas e geográficas nos permitem produzir energia limpa em abundância”, diz Jaques Paes, professor do MBA de ESG da Fundação Getúlio Vargas (FGV), ao NeoFeed.

Cerca de 80% da matriz elétrica brasileira vem de fontes renováveis. E energia limpa e abundante barateia o custo de fabricação do gás sustentável.

Pelas análises do instituto de pesquisas financeiras BloombergNEF, seríamos um dos poucos países capazes de oferecer, nos próximos seis anos, H2V a menos de US$ 1, o quilo — os outros são Chile e China. Segundo as estimativas mais conservadoras, no resto do mundo, a mesma quantidade do produto deve sair, por no mínimo, US$ 3.

Pois bem, o Brasil acabar de dar um passo fundamental para fazer com que o combustível do futuro deixe de ser apenas uma promessa. O Senado finalmente votou o marco legal, que regulamenta o setor, define os critérios para a produção de H2V e concede créditos para sua exploração.

Ao longo de cinco anos, entre 2028 e 2032, serão liberados R$ 18 bilhões, em incentivos fiscais. Como o texto base do projeto de lei foi alterado, o tema retorna para aval da Câmara e, em seguida, segue para sanção presidencial.

A expectativa agora é a de que, com uma regulamentação específica e o potencial brasileiro para a produção do combustível do futuro, os investidores passem a olhar com mais atenção para o país.

Os parâmetros do verde

Os critérios para definir o H2V variam mundo afora. E este foi um dos pontos de alteração do texto do projeto de lei no Senado. Segundo a versão original, o hidrogênio só poderia receber a classificação de verde se viesse de processos alimentados por energia eólica ou solar.

Quando se usa a força dos ventos e dos raios solares para a obtenção do gás, um quilo do composto lança na atmosfera, no máximo, 4 quilos de carbono. Do jeito como o marco legal foi aprovado pelos senadores, agora, admite-se também o emprego do etanol, o que praticamente dobra o seu potencial poluente da produção exatos 7 quilos de CO².

A mudança no texto do projeto de lei veio com uma emenda do senador Fernando Farias (MDB-AL) e parte da justificativa de que os critérios anteriores seriam muito rígidos.

No mundo, porém, os parâmetros são ainda mais estreitos. Para a ONG Green Hydrogen Organization, por exemplo, só é sustentável o hidrogênio extraído 100% de fontes renováveis e que libere, no máximo, 1 quilo de gases de efeito estufa (GEE) para a mesma proporção do produto.

Na União Europeia, o máximo aceitável são 4,4 quilos e na China, 4,9 quilos. Alemanha e Estados Unidos são mais rigorosos, impondo um teto de 2,8 quilos e 2 quilos, respectivamente.

Os desafios

Altamente energético, com capacidade para liberar três vezes mais energia do que a gasolina, o hidrogênio (H2) é usado para fins industriais há mais de um século. Alimenta maquinários em processos como refinamento de petróleo, produção de metanol e fabricação de compostos orgânicos. Também é útil como combustível para veículos pesados, como trens, navios e ônibus.

Pelos métodos tradicionais, a conversão do gás é feita pela queima de combustíveis fósseis.  A um custo entre US$ 0,50 e US$ 1,7, pelos levantamentos da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), o processo é barato, mas favorece o lançamento de GEE na atmosfera, favorecendo ainda mais o aquecimento global.

As condições climáticas e geográficas do Brasil favorecem a produção de energia eólica, tida como uma das mais adequadas à produção de hidrogênio verde

No ano passado, foi inaugurada na Universidade Federal do Rio de Janeiro uma planta piloto de produção do gás, a partir de energia fotovoltaica

Pesquisadores da Universidade de São Paulo estudam como usar um subproduto da produção de cana para produzir hidrogênio

Apesar de comum, o hidrogênio não está naturalmente disponível para uso. Para obter o gás, é preciso quebrar as moléculas de água

O hidrogênio usado hoje por indústrias de todo o mundo vem 99% da queima de combustíveis fósseis, agravando o aquecimento global

Até que o H2V cumpra seu destino como Santo Graal da descarbonização, há muitos desafios a vencer, apesar dos avanços registrados nos últimos anos.

Além de encontrar formas sustentáveis de produção do gás em grande escala, a preços competitivos, é preciso investir em infraestrutura. A versão verde do hidrogênio deve ser transportada para os diferentes setores da indústria. Para longas distâncias, o produto é transformado em amônia e embarcado em navios — por ser menos denso, o composto ocupa grande volume para ser transportado na forma de gás.

Ultrapassados tais obstáculos, o H2V pode ser a chave para um mundo de emissões zero, onde o desenvolvimento não represente uma ameaça à sobrevivência de nossa espécie.

Água e energia

O mais leve dos elementos químicos, o hidrogênio é também o mais abundante do universo — as estrelas, incluindo o Sol, são formadas sobretudo por H2. Na Terra, ocorre principalmente em combinação com o oxigênio, formando a água, e com os hidrocarbonetos, grupo de substâncias compostas apenas por hidrogênio e carbono, como o petróleo.

Apesar de abundante, o gás não está  naturalmente disponível para uso.

A forma mais fácil de obtê-lo é por meio da eletrólise, processo físico-químico que utiliza a energia (de uma fonte qualquer) para a produção de substâncias ou difíceis de encontrar na natureza ou de extração complicada.

No caso, o H2 é obtido a partir da eletrólise da água — nela, a molécula, formada por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio, é quebrada, dando origem ao elemento puro. Dessa reação, sobram apenas água e energia.

Na contas da IEA, apenas 0,1% de todo o hidrogênio produzido hoje no mundo é obtido por meio de eletrólise. O restante todo vem da queima do gás natural, do cravão e de derivados de petróleo.

“Também se estudam formas de captar o gás no núcleo da Terra. Mas essas inovações ainda estão muito distantes da realidade”, afirma o professor da FGV.

Do bagaço da cana

Vários centros de pesquisas brasileiros investigam novas formas de tornar a produção de hidrogênio mais sustentável e barata. No ano passado, foi inaugurada, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, uma planta piloto para o aperfeiçoamento do uso de energia fotovoltaica no abastecimento da eletrólise da água.

Além dos ventos e do sol, nós temos também os campos de cana. Deles é possível extrair não só o etanol, mas um resíduo de sua produção, a vinhaça, altamente poluente, mais agressivo à natureza e aos homens do que, por exemplo, o esgoto doméstico.

Mas, um projeto do Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa, da Escola Politécnica, da Universidade de São Paulo, estuda como usar o subproduto para produzir hidrogênio, já que 95% de sua composição é de água.

O mesmo laboratório trabalha em mais duas pesquisas iniciativas para a produção do gás sustentável. Uma delas utiliza calor para converter etanol em hidrogênio. E a outra atua em outra via, esta eletroquímica.

“Há iniciativas também em outras partes do Brasil, como no nordeste. Muitas funcionam em hubs que combinam não só a produção como a distribuição logística do combustível”, conta Paes.

Para ele, porém, a chave para o pleno desenvolvimento do potencial brasileiro para a produção e o uso do hidrogênio verde é o investimento do governo em iniciativas privadas.

Como o professor defende: “Sem as parcerias público privadas, os projetos dificilmente irão para frente. E aí está a grande esperança com a aprovação do marco legal.”





Fonte: Neofeed

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A peça que faltava na biografia de Pharrell Williams (um filme de animação)

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pharrell williams lego
Tempo de Leitura:4 Minuto, 27 Segundo


“Eu sou um maverick”. É com esse termo, usado nos EUA para descrever o gado que não foi marcado pelo dono, que Pharrell Williams explica a sua trajetória profissional, seja como rapper, produtor musical, beatmaker, designer de móveis, modelo, empreendedor de moda ou ícone fashion. “Sempre quis fazer todo tipo de coisa e já pensando no que vem depois. E faço tudo do meu jeito”, diz ele.

Essas declarações estão do documentário Peça por Peça – Uma História de Pharrell Williams, longa-metragem que chega aos cinemas brasileiros na quinta-feira, 9 de janeiro, confirmando a vocação não conformista do artista. Como um filme tradicional não lhe faria justiça, sua vida é repassada inteiramente no universo da animação. E com Williams e todos os demais personagens ganhando versões como bonequinhos de plástico da Lego.

É como se o artista tivesse sido transportando ao mundo dos tijolinhos para contar a sua história. A ideia, que partiu do próprio Williams, ganhou vida graças à computação gráfica, que dá a impressão de tudo ter sido realmente filmado com pecinhas montáveis. A franquia de filmes de animação Lego já existe, mas até então só personagens como Batman ou os heróis de Ninjago tinham sidos “legotizados”.

Peça por Peça começa com uma entrevista de Williams concedida em sua casa, ao diretor do filme, Morgan Neville, em que a dupla discute qual a melhor abordagem para o documentário. “E se a vida fosse um cenário de Lego e você pudesse juntar tudo do jeito que quisesse?”, pergunta Williams, com a sua voz, mas já na forma de boneco articulado.

Por mais que o artista se esconda por trás de uma máscara, ao ser projetado em um brinquedinho de cerca de 5 centímetros de altura, o resultado combina com o percurso trilhado pelo artista. Williams é uma grande influência criativa nos setores onde atua, sendo conhecido pelo poder de “transformar em ouro tudo o que toca”.

Na música, ele se firmou como um dos maiores produtores da sua geração, trabalhando com vários gêneros, como R&B, hip-hop e pop, e misturando-os, muitas vezes. Com um ouvido apurado para ritmos e melodias, ele é responsável por hits cativantes, como Happy, Beautiful e Get Lucky.

Com Williams produzindo ou cantando, as batidas de suas músicas são geralmente originais e carregadas de energia. São daquelas que, quando tocadas em festas, põem os convidados para dançar. Ao longo de sua carreira, ganhou 13 estatuetas no formato de gramofone do Grammy Awards.

Na música e na moda

Graças ao seu senso de estilo, o artista também entrou para a elite da moda, com vários empreendimentos. Ele lançou as marcas de streetwear (Billionaire Boys Club) e de calçados (Ice Cream), ao mesmo tempo em que colaborou com grifes como Chanel, Moncler, Tiffany & Co. e Adidas. Desde 2023, Williams é o diretor criativo de coleções masculinas da Louis Vuitton, grife que ele revitalizou, imprimindo mais energia, reinventando clássicos e apostando na moda multicultural.

“Eu sou o maior exemplo de um pensador híbrido”, conta o artista de 51 anos, no filme, onde toda a sua vida é revisitada, desde a infância humilde, em Virginia Beach. Ainda menino, ganhou o primeiro tambor (ou tarol) de sua avó e começou a desenvolver uma forte conexão emocional com a música. Foi com Chad Hugo, seu amigo de adolescência, que Williams deu o primeiro passo profissional, formando o Neptunes, em 1992.

São tantos os feitos de Williams que alguns deles certamente vão surpreender. Em uma cena de depoimentos sobre o protagonista, até seu pai demonstra que não sabia que o filho era responsável por jingle de sucesso do McDonald’s, o “Da-da-da-da-da”, da campanha “amo muito tudo isso”.

Assim como os pais, vários artistas e colaboradores são entrevistados aqui, contribuindo com insights sobre Williams. Entre eles, Timbaland, Pusha-T, Jay-Z, Justin Timberlake, Gwen Stefani e Snoop Dogg, entre outros – todos em versão Lego, claro. E tudo o que dizem é para exaltar as qualidades do artista, embora ele mesmo admita ser um cara “convencido” em suas declarações no filme.

Peça por Peça não abre espaço para polêmicas, como as geradas pela canção Blurred Lines, de 2013, que integra a trilha sonora brevemente. A música acabou banida, acusada de ter letra que promove a cultura do estupro, e ainda resultou em processo de plágio, no qual Williams e outros nomes envolvidos foram obrigados a pagar cerca de US$ 5 milhões à família do músico Marvin Gaye.

Um dos destaques do filme é a abordagem das batidas musicais criadas por Williams como pecinhas de Lego, tirando vantagem do seu diversificado conjunto de cores. Algo que seria tão difícil de ilustrar em um documentário tradicional é facilmente traduzido aqui como tijolinhos transparentes que brilham, dançam e podem ser guardados no armário – à espera da melhor música.

Essa coreografia de Legos ainda é perfeita para o entendimento da sinestesia, a condição neurológica da qual Williams sofre. Graças a esse fenômeno sensorial, em que o som ativa também a visão, ele diz não apenas ouvir a música, mas também percebê-la como cores. E o espectador tem aqui uma ideia do que é experimentar essa estranha sensação, o que talvez explique, em parte, a força criativa do artista: a de ver cores se movendo ao ritmo da música.



Fonte: Neofeed

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Albert Camus além do seu próprio existencialismo

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albert camus uma vida biografia
Tempo de Leitura:5 Minuto, 54 Segundo


Não é difícil explicar ou compreender o significado da corrente literária surgida na França entre as duas guerras mundiais chamada “existencialismo”. Como o próprio termo sugere, pense em histórias com personagens atormentados, perdidos no mundo e na vida, que questionam o sentido de tudo.

Seus adeptos exploravam em romances e contos o que costuma ser definido dilemas da existência, como liberdade, responsabilidade e ação individual. Sua filosofia propõe, portanto, que a existência preceda a essência, ou seja, que os seres humanos definam quem são por meio de suas escolhas e ações.

Desse conceito surgiram grandes obras como A Náusea, de Jean-Paul Sartre, e O Estrangeiro e A Peste, de Albert Camus. Esses livros transformaram os dois autores em escritores dos mais significativos do século XX no mundo. E ainda continuam com poder e apelo atemporais, estudados por gerações, enquanto seus trabalhos filosóficos mantêm influência duradoura.

Como expoente dessa escola, Camus ganhou o Prêmio Nobel de Literatura com apenas 44 anos, em 1957, e sua morte em um acidente de carro em 1960 ironicamente fez jus ao movimento existencialista, pelo modo dramático como aconteceu. Embora tenha se empenhado em driblar pelo menos quatro biógrafos que queriam saber detalhes da sua vida, ele acabaria por ganhar uma das biografias mais celebradas e elogiadas do final século passado.

Com 882 páginas, Albert Camus: Uma vida, Olivier Todd, acaba de ganhar uma edição brasileira pela Record. Não é preciso ter lido romance algum do escritor para se deleitar nessa história, não apenas por ser um personagem real e importante, como também por tratar de uma das épocas mais ricas e fascinantes dos últimos cem anos, quando a França se envolveu em suas guerras mundiais e promoveu o nascimento de movimentos de vanguarda na pintura, na literatura e no cinema.

Autorizado pela família de Camus a escrever sua vida de forma “definitiva”, Todd construiu um rico painel de época (vale por uma pós-graduação em história da Europa). Tudo é mostrado a partir da vida do escritor, que nasceu em 1913 em uma fazenda perto de Mondovi, na Argélia. Ele se baseou principalmente em depoimentos para suprir a falta de informações de um personagem que escondeu ao máximo sua vida pessoal.

Camus temia ser biografado. Não por acaso, o psicanalista e filósofo francês J. B. Pontalis, citado por Todd, observou que “há uma centena de biografias possíveis para cada ser humano”. Assim, pode-se ter uma ideia da dificuldade de contar a vida de alguém. “Destaquei, assim espero, os momentos e os personagens importantes de uma vida”, observou o autor.

Para Todd, não foi uma tarefa fácil por um outro aspecto: uma personalidade literária tem inimigos verdadeiros durante a vida e quase o mesmo número de falsos amigos depois da morte. Historiadores, juízes, biógrafos, todos esbarram na fragilidade dos depoimentos, acrescentou. Trinta anos depois da morte de Camus, escreveu ele, era tempo de fazer uma triagem de quem poderia falar.

Mesmo assim, o desafio não foi menor. Alguns de seus íntimos permaneciam pouco conhecidos ou desconhecidos até ele procurá-los, às vezes anônimos, recolhidos à reserva de uma amizade ou de um amor. “Terminado o luto, pessoas próximas fazem confidências”, observou. Antes do falecimento de sua viúva Francine Camus, em 24 de dezembro de 1979, também a decência impunha reservas, segundo ele.

oliver todd escritor
Para o escritor Oliver Todd, a vida de Albert Camus foi marcada por escolhas impossíveis e uma luta perpétua

Camus teve uma infância empobrecida em Argel e prosseguiu em seu conflito entre a simpatia pela classe trabalhadora argelina e pelos colonos franceses, que tiveram participação importante em sua terra adotiva.

Para o biógrafo, sua vida foi marcada por escolhas impossíveis e luta perpétua: a intimidade com a poderosa família Gallimard, dona da mais respeitada editora francesa, apesar de suas atividades colaboracionistas; seu envolvimento no conflito entre Sartre e Simone de Beauvoir; suas próprias batalhas por causa da tuberculose e com a natureza apaixonada e inquieta que nunca o deixaria se estabelecer.

Com base também na correspondência pessoal de Camus, em gravações inéditas e entrevistas com familiares, amigos e amantes do escritor, Todd deixa os acontecimentos falarem por si e esse é o trunfo do seu livro: a sutileza.

Ele entrega ao leitor a missão de interpretar o que acontece, enquanto revive a vida de Camus, que terminou em 4 de janeiro de 1960, quando ele voltava para Paris depois de um feriado e sofreu um acidente de carro. Como ele costumava dizer a respeito de fatalidades em acidentes automobilísticos, a sua foi “uma morte imbecil”.

albert camus: uma vida
Albert Camus: uma vida, da Editora Record. Preço sugerido: R$ 169,90

Chamada pelo The Sunday Times de “biografia monumental”, a parte da guerra é uma das mais empolgantes do livro, pois Camus foi um herói da Resistência Francesa, um defensor dos árabes muçulmanos de sua Argélia natal, um militante de esquerda que se posicionava contra o regime ditatorial do stalinismo e um dos principais líderes de sua geração de escritores.

No jornalismo, Camus descobriu a “profissão superior”, quando começou a escrever para o periódico liberal Alger Républicain. Ao mesmo tempo, produzia peças publicitárias para o centro de cultura da Argélia, que contribuíram para campanhas políticas de denúncia da miséria dos muçulmanos que o obrigaram a abandonar seu país natal, onde não conseguia mais trabalho, e a se exilar em 1940, em Paris, em um momento crítico da guerra para os franceses.

Proximidade com Sartre e Simone de Beauvoir

Não podia imaginar a guinada que sua vida daria na capital francesa, onde produziu suas principais obras, como os aclamados O mito de Sísifo e O Estrangeiro, depois que se aproximou do casal Sartre e Simone de Beauvoir e os três se tornaram inseparáveis. No fim da Segunda Guerra, pelo seu papel no conflito, tornou-se uma celebridade em Paris.

Precoce, virou romancista respeitado com boas vendas, filósofo, editor de um importante jornal. E se assumiu personagem polêmico, a ponto de recusar a Legião de Honra e um convite para ingressar na Académie Française de Letras. Em 1951, afastou-se do Partido Comunista, depois de brigar com Sartre e com os intelectuais franceses de esquerda.

Ao revelar sua vida pública e privada, sem se desvincular da corrente existencialista que consagrou Camus, Todd expõe a complexidade de um escritor que ele definiu como “charmoso e virulento, sincero e teatral, arrogante e inseguro”. Ao mesmo tempo, contrapõe a vida de Camus a momentos históricos, como a ocupação francesa do norte da África, e ao ambiente da Paris literária do pós-guerra.

Ele resume seu biografado por sua vida privada conturbada, com uma atração compulsiva por mulheres, a luta contra uma tuberculose debilitante e as polêmicas intelectuais em defesa de suas posições intelectuais.

Sua vida pública foi uma longa batalha por ideias generosas, por sua arte e contra o terrorismo ideológico e material por parte de seus oponentes e inimigos. Para ele, na vida de um ser humano, ações e pensamentos devem coincidir. E sua filosofia podia ser resumida em três palavras: liberdade, justiça e revolta – dentro de si, como elementos transformadores de cada um.



Fonte: Neofeed

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JHSF vende fatia no Shopping Ponta Negra e conclui reciclagem de ativos de olho na alta renda

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JHSF vende fatia no Shopping Ponta Negra e conclui reciclagem de ativos de olho na alta renda
Tempo de Leitura:3 Minuto, 18 Segundo


Os últimos meses de 2024 foram marcados pelo aquecimento nas transações de compra e venda no mercado brasileiro de shopping centers. E, ao que tudo indica, o setor segue com apetite para novos acordos nos primeiros dias de 2025.

Quem está movimentando esse balcão já nesse início de ano é a JHSF. O grupo de real estate acaba de anunciar que assinou um memorando de entendimentos para a venda de sua fatia de 18% no Shopping Ponta Negra, de Manaus (AM).

O acordo em questão foi firmado com parte dos atuais coproprietários do empreendimento pelo montante de R$ 82 milhões. Segundo a companhia, o valor da transação vai muito além, no entanto, dessa cifra.

“Com esse negócio, concluímos logo no início de 2025 um processo importante de venda de ativos que não estavam alinhados com os objetivos estratégicos da companhia”, afirmou Augusto Martins, CEO da JHSF, em comunicado.

“Vamos focar nossos investimentos e nossa energia em ativos de renda recorrente voltados para o setor de alta renda”, acrescentou. Esse foi justamente o mandato que Martins recebeu quando assumiu o comando da JHSF, no início de 2024.

Na época, com o objetivo de diversificar sua operação para além da sua origem – a incorporação -, o grupo passou a reforçar negócios de receita recorrente centrados na alta renda em segmentos como hotéis, restaurantes, um aeroporto e até mesmo clubes de surfe.

No que diz respeito ao braço de shopping centers, o acordo anunciado hoje dá sequência a outras transações envolvendo ativos do portfólio que não se encaixavam nessa tese. A mais recente delas envolveu a venda, em junho de 2024, de uma fatia de 10,7% do Shopping Bela Vista, em Salvador (BA).

O acordo em questão foi fechado com parte dos coproprietários do empreendimento, no valor de R$ 79,1 milhões. E deu sequência à venda de uma participação de 14,31% no mesmo ativo, realizada em maio do ano passado.

Levando-se em conta outras transações realizadas em 2024 e o acordo anunciado hoje, a JHSF vendeu mais de R$ 700 milhões em participações de shoppings. Além desse valor e do alinhamento estratégico, Martins ressaltou outro componente nesses M&As.

“Essas transações trazem para a companhia uma reciclagem bem-sucedida de capital conduzida pela JHSF Capital, o braço financeiro do grupo, em condições positivas”, ressaltou o CEO da JHSF no comunicado.

Com a conclusão dessas movimentações, o portfólio de shoppings já em operação do grupo inclui agora o Shopping Cidade Jardim e o Shopping Jardins, ambos em São Paulo, e o Catarina Fashion Outlet, em São Roque (SP).

Já a base de ativos em desenvolvimento envolve centros como o Shopping Faria Lima, também na capital paulista, com previsão de inauguração em 2026, e o Boa Vista Village Town Center, localizado em Porto Feliz (SP) e com projeção de entrar em operação no início desse ano.

Nos números mais recentes da JHSF, a divisão de shopping centers registrou uma receita líquida de R$ 73,7 milhões no terceiro trimestre de 2024, alta de 20% sobre igual período de 2023. Nesse intervalo, o lucro líquido dessa operação cresceu 108,1%, para R$ 156,3 milhões.

Com uma taxa de ocupação de 97,5%, os empreendimentos do grupo nesse segmento reportaram um total de vendas de R$ 1,3 bilhão entre julho e setembro do ano passado, o que representou um crescimento anual de 25,3%.

Já a receita líquida total da JHSF no período teve uma retração de 4,6%, para R$ 373,3 milhões. A receita dos negócios de renda recorrente ajudou a compensar, no entanto, parte desse recuo, com um salto de 17,6%, para R$ 245,8 milhões.

As ações da JHSF encerraram o pregão da sexta-feira com ligeira alta de 0,27%, cotadas a R$ 3,65. Nos últimos doze meses, os papéis acumulam, porém, uma desvalorização de 30,7%, dando à companhia um valor de mercado de R$ 2,4 bilhões.



Fonte: Neofeed

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