Negócios
O plano da DM, investida da Vinci Partners, para ser como “uma Caixa” para a baixa renda

A DM se tornou a maior operadora independente do mercado de cartões de crédito private label. A empresa triplicou seu volume de carteira, que superou a marca de R$ 4,1 bilhões, e registrou uma receita anualizada de mais de R$ 3,2 bilhões após fechar a aquisição da combalida Credz, em abril deste ano, operação antecipada pelo NeoFeed.
Com esses números, a companhia, investida da Vinci Partners, quer agora dar mais um salto. O plano envolve ser a instituição financeira referência no mercado para a baixa renda, que tem a Caixa como principal opção. É um público com renda na faixa de dois salários mínimos mensais que muitos bancos e fintechs deixaram de lado nos últimos anos.
“Nós estamos desbravando um mercado para absorver parte daquilo que a Caixa não consegue atender e operar”, diz Denis Correia, fundador e CEO da DM, ao NeoFeed. “Operamos por muito tempo em crédito, com cartão, e estamos começando a ter mais produtos para atender esses clientes.”
Acostumada a operar com a baixa renda graças à experiência desenvolvida na concessão de crédito com os cartões que emite para varejistas como Sondas e Spani Atacadista, a DM vê uma oportunidade de se tornar referência no mercado. O plano é praticamente dobrar sua base de clientes e alcançar uma receita bruta de R$ 8 bilhões até o fim de 2026.
Correia diz que a proposta da DM é ter uma oferta simplificada, aderente a esse público. A conta digital vem ganhando uma série de produtos, como empréstimo pessoal, Pix parcelado no formato buy now pay later e consignado privado com uma empresa parceira que a DM tem uma participação, cujo nome não foi informado.
A estratégia da companhia é ir agregando a maioria dos produtos até o fim do ano, com foco em operações com tíquetes mais baixos. A empresa não considera, neste momento, o financiamento imobiliário, Mas, na parte de financiamento de automóveis, conta com a Omni, que virou sócia da companhia em maio deste ano.
“A baixa renda precisa de poucas coisas, o que torna a operação bem mais leve”, diz Correia. “Se entregarmos uma gama de produtos básicos a esses clientes, vamos conseguir atendê-los de forma satisfatória e, assim, brigar de igual para igual com qualquer um no mercado de baixa renda.”
A ideia é que a conta digital agregue todos os produtos da DM, incluindo o cartão private label relacionado a alguma varejista. “Não estamos trabalhando os produtos de forma apartada, estamos alocando tudo em cima da conta digital e é a conta digital que vai prestar todos os serviços financeiros aos clientes”, diz Tharik Moura, diretor estratégico da companhia.
A iniciativa deve representar um forte aumento de receita, principalmente com a combinação da expansão da base de clientes e do aumento do tíquete médio por cliente. Hoje, a receita da DM é de R$ 90 por ano por cliente. “Quando a gente acelerar o empréstimo pessoal, o tíquete é um pouco maior do que o cartão, assim como o consignado”, diz Moura.
A DM conta atualmente com cerca de 1,5 milhão de contas, mas projeta chegar a 3,5 milhões até o fim do próximo ano com a migração da base de clientes das administradoras de cartões que adquiriu nos últimos anos. Além da Credz, a DM fechou a aquisição da FortBrasil, ocorrida em abril de 2023, e da UZE, também no ano anterior.
Para alcançar 7 milhões de clientes ativos na base até 2026, a DM planeja conquistar clientes de forma orgânica, por meio dos cartões private label e bandeirado. Esse plano não invalida a contínua busca por M&A, que visa a reforçar a prateleira de produtos.
“Aprendemos a fazer aquisições de operações de cartão de crédito”, diz Correia. “A partir de agora, vamos ao mercado fazer aquisições de produtos que não tem a ver conosco.”

Segundo ele, se for uma companhia que não tem funding, mas tem originação e uma quantidade razoável de clientes, a DM vai considerar realizar uma aquisição. “O grande segredo é a originação, porque você vai no mercado e encontra sistemas, mas originar na ponta é mais complicado”, diz ele.
Riscos mitigados
A decisão de ir além dos cartões veio do que Correia e sua equipe viram durante a pandemia, em 2020. No prédio que está instalada parte das operações da DM, em São Paulo, existe uma agência da Caixa. E as longas filas de pessoas em busca de recursos do Auxílio Emergencial geraram o insight sobre as possibilidades que esse segmento da população apresenta, no momento em que poucas instituições olham para esse público.
E ele não é pequeno: representa mais de 60% da população economicamente ativa, mas que continuam sem acessos financeiros básicos além das ofertas da Caixa, que é encarregada de operar os programas sociais do governo e produtos que vinculam a população ao banco, caso do FGTS. Dentre os poucos nomes privados nesse segmento está a fintech Neon, apoiado por nomes como BBVA, General Atlantic, BV e Blackrock.
Ainda que possa oferecer boas perspectivas de crescimento, o público de baixa renda tende a ser mais arriscado. Pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) apontou que, em junho, a inadimplência no grupo com renda familiar mensal de até três salários mínimos foi de 36,5%. O levantamento leva em conta dívidas com cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, cheque pré-datado e prestações de carro e casa.
Para lidar com essa situação, a DM aposta na tecnologia. Mecanismos de análise de risco de crédito, desenvolvidos por ela nos últimos 20 anos, olham desde indicadores financeiros tradicionais até questões que, a princípio, podem não estar relacionadas à capacidade de pagamento, mas contam bastante a respeito da pessoa. Um exemplo é que a DM percebeu que pessoas que deixam acabar a bateria do aparelho celular tem um índice de inadimplência maior.
A tecnologia também permitiu captar quais clientes são rentáveis ou não, mesmo aqueles negativados. Segundo o CEO da DM, em torno de 42% dos clientes da base são negativados, mas o sistema é capaz de identificar se a pessoa é um devedor contumaz ou está apenas passando por uma fase difícil.
O risco também é parcialmente mitigado pela precificação do crédito, maior do que o oferecido por outras instituições. Segundo Correia, enquanto um grande banco cobra de 3,9% a 7,9% de juros em empréstimo para pessoa física com bom score, a DM cobra entre 5,9% e 11,9%.
Para ele, esse custo não é uma questão central para o cliente, ficando atrás de limite baixo e falta de bandeira em alguns dos cartões. “O consumidor não está preocupado em pagar anuidade, juros, mais caros, desde que concedam crédito e limite coerente”, diz Correia.
Em 2023, o índice de inadimplência acima de 90 dias da DM foi de 13,2%, abaixo dos 14,1% de 2022. Quando comparado com os bancos, o número é elevado – no Nubank, por exemplo, ele chegou a 7% no segundo trimestre –, mas Moura destaca que os índices de aprovação de crédito são maiores na DM.
Apesar disso, ele diz que a tecnologia permite recuperar muito bem o crédito durante sua vida útil, com uma perda final baixa, de 4,5%. “Nós aprovamos o triplo e não temos o triplo de inadimplência e de perda final”, afirma Correia.
Negócios
Prosus, dona do iFood, compra Just Eat Takeaway por € 4,1 bilhões

O grupo de investimentos Prosus, controlador do iFood, anunciou nesta segunda-feira, 24 de fevereiro, a intenção de comprar a Just Eat Takeaway por de € 4,1 bilhões. Com o negócio, o grupo cria a quarta maior empresa de delivery do mundo, atrás da chinesa Meituan e das americanas DoorDash e Uber Eats.
A oferta de € 20,30 por ação representa um prêmio de 22% em relação à máxima dos últimos três meses da empresa de delivery. Porém, é inferior aos € 23,50 por ação praticado pela companhia quando abriu seu capital em 2016 na bolsa de valores. O valor será pago em dinheiro.
Com a negociação, a Just Eat deixará de ser uma empresa pública. Para seu CEO, Jitse Groen, o acordo oferece um “valor imediato, certo e atraente para os investidores” e permitirá mais investimentos no negócio do que seria possível como uma empresa de capital aberto.
“É um prêmio muito significativo em relação ao preço atual das ações. E isso é sempre o mais importante nessas discussões”, afirmou Groen.
A visão do CEO é baseada nos últimos anos difíceis da companhia. A Just Eat Takeaway, com sede em Amsterdã, na Holanda, viu suas ações dispararem durante a pandemia de Covid-19 e caírem drasticamente após o fim dos lockdowns, com o retorno dos consumidores às ruas. Ao mesmo tempo, concorrentes como Deliveroo e Delivery Hero ganharam espaço.
No auge do boom do delivery no mundo, em 2021, a Just Eat Takeaway adquiriu a concorrente americana Grubhub, por US$ 7,3 bilhões. Porém, com a situação ruim, a empresa acabou vendendo a operação em novembro de 2024 por apenas US$ 650 milhões, o que mostra o momento delicado.
Na perspectiva da Prosus, o negócio seria a maior transação desde que Fabricio Bloisi, um dos fundadores do iFood, assumiu como CEO em maio.
O grupo de investimentos buscava adquirir a Just Eat há anos, mas sem sucesso. Em 2020, eles foram superados pela Takeaway.com, que ofereceu £ 5,5 bilhões pela pioneira britânica de delivery.
Com esse histórico, Erving Tu, diretor de investimentos da Prosus, disse que o acordo não significa que a empresa esteja “fora do jogo” para futuros negócios no setor de delivery, mas deixou claro que a sua prioridade é concluir a aquisição da Just Eat até o final de 2025.
A oferta da Prosus ainda precisará da aprovação dos acionistas. Porém, com a notícia, os papéis da Just Eat Takeaway subiram cerca de 52%, enquanto as concorrentes Deliveroo e Delivery Hero tiveram altas de 4% e 7%, respectivamente.
Essa é a mais nova movimentação do grupo de investimentos que, no fim de 2024, adquiriu a Decolar por US$ 1,7 bilhão e entrou no segmento de turismo online, onde ainda não estava presente.
Negócios
Recompra de ações e fechamentos de capital secam bolsa e gestores temem falta de papel para comprar
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Em fevereiro deste ano, a empresa de telefonia TIM anunciou um programa de recompra de ações estimado em R$ 1 bilhão. Na semana passada, a mineradora Vale informou ao mercado que pode tirar quase R$ 7 bilhões em ações do mercado. E a varejista Renner, R$ 1 bilhão.
Esses são os mais recentes exemplos de uma onda que, em meio ao marasmo da renda variável, movimentou a bolsa nos últimos meses. O Itaú BBA fez as contas e chegou a números impressionantes. Há 127 programas de recompras de ações abertos de 108 companhias, um volume de R$ 72,3 bilhões, quase a totalidade disso anunciado nos últimos 12 meses. Só em 2025, 11 programas foram aprovados.
Somado a isso, muitas empresas estão fechando o capital e deixando a bolsa de valores brasileira. De 2018 a 2024 foram 39 ofertas públicas de aquisição de ações (OPAs). Em 2013, ocorreram 13 fechamentos de capital, o maior patamar do período. No ano passado, foram nove OPAs.
E a lista não para de crescer. Na fila para fechar o capital estão Kora Saúde, Eletromídia, ClearSale, Carrefour Brasil, Wilson Sons e Santos Brasil. A Serena é também uma empresa que pode ir para esse caminho.
Diante desse cenário, os gestores estão se perguntando: quando o mercado voltar, vai haver ações para comprar? A tese foi lançada por Christian Keleti, sócio e fundador da gestora AlphaKey, e está ganhando cada vez mais adeptos na Faria Lima. “É matemático e pode ser uma oportunidade para a bolsa mudar de patamar quando o mercado virar”, diz Keleti, ao NeoFeed.
Uma coisa não há dúvida: o mercado de ações brasileiro, que não tem uma abertura de capital desde a dupla listagem do Nubank, em dezembro de 2021, está “secando”.
De acordo com dados compilados pela consultoria financeira Elos Ayta a pedido do NeoFeed, o volume financeiro da bolsa vem caindo desde 2021, quando atingiu o pico de R$ 35,16 bilhões em média por dia, em valor ajustado pelo IPCA.
Esse indicador caiu para R$ 28,29 bilhões em 2022. No ano seguinte foi para R$ 22,07 bilhões. Em 2024, bateu em R$ 19,35 bilhões e, neste início de 2025, o volume médio está em R$ 17,57 bilhões.
“O volume financeiro vem caindo muito fortemente, embora o preço esteja subindo. Tem poucos players fazendo o mercado e isso não é legal. O ideal seria que o Ibovespa tivesse uma valorização significativa, mas alavancada por um grande volume financeiro”, diz Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria.
“As coisas estão indo na contramão. O mercado subir com volumes baixos é perigoso porque são poucos players transacionando e levantando preço. Isso pode trazer uma insegurança com relação à realidade da pontuação do índice”, complementa.
A AlphaKey resolveu fazer também as contas sobre a variação do free float (o universo de ações que não estão em posse dos controladores) nos últimos três anos e chegou à conclusão de que ele caiu 13% desde janeiro de 2022, passando de R$ 1,96 trilhão para R$ 1,7 trilhão – R$ 260 bilhões a menos para comprar.
O free float caiu 13% desde janeiro de 2022, passando de R$ 1,96 trilhão para R$ 1,7 trilhão
“Essa queda se dá pela combinação de redução no preço, dividendos pagos e recompras”, afirma Keleti. “Em nossas estimativas, somente as recompras enxugaram algo como R$ 60 bilhões do float neste período.”
De acordo com o fundador da AlphaKey, olhando os dados da B3, fica evidente que as pessoas físicas e jurídicas foram os compradores finais dos últimos anos por conta das vendas massivas de institucionais locais e estrangeiros.
“Temos menos free float para negociar ações. Por isso que, no mês de janeiro, entra comprador e já puxa a bolsa para cima. O estrangeiro comprou pouquinho, os fundos se posicionaram um pouco, mas nada absurdo”, diz Marco Saravalle, sócio e CIO da MSX Invest.
Faroeste acionário
Em paralelo à queda do volume financeiro está a baixa volatilidade da bolsa de valores, que está no piso histórico. Esse comportamento tem duas explicações.
A primeira é a saída dos estrangeiros da bolsa e a aversão dos fundos locais ao mercado de ações. A segunda é que, no ambiente atual de juros altos, há poucas operações long e short de ações, que ajudam nessa movimentação diária.
Um exemplo é a ação preferencial da Petrobras, que sempre negociou mais de R$ 1 bilhão por dia. Em fevereiro deste ano, o papel PETR4, que está sendo negociado na casa de R$ 38,36, tem um volume financeiro médio diário de R$ 966 milhões. Um volume financeiro parecido, de R$ 972 milhões, aconteceu em julho de 2017, quando a ação estava perto de R$ 5.
Por outro lado, em outubro de 2022, quando o volume financeiro médio diário da Petrobras atingiu R$ 3,71 bilhões, o preço da ação estava em torno de R$ 15. “A volatilidade do Ibovespa nos menores níveis da história juntamente com o baixo volume dá a imagem perfeita do que está acontecendo no mercado brasileiro”, diz Rivero.
E isso ajuda a criar outras distorções. “Cenário de baixa liquidez é o de faroeste. Tem puxada de papéis ilíquidos de gestores que querem salvar suas cotas, movimentos atípicos, manipulação de mercado, até de coisas que a CVM deveria ir atrás e não vai. Você num papel como esse pode se beneficiar ou sofrer muito se acontecer o inverso. Baixa liquidez é ruim para todo mundo, até para os malandros”, diz um gestor, que pediu para não ser identificado.
Outro gestor, que tem mais de R$ 20 bilhões de recursos sob gestão, diz que a tese de que vai faltar papel para comprar é “a cereja do bolo, mas não pode ser confundida com o bolo todo.” De acordo com essa fonte, se o Brasil melhorar, por qualquer razão, esse aspecto, de poucas ações para comprar, vai potencializar a alta.
“Mas se a bolsa subir, as empresas que estão recomprando vão voltar a emitir ações, vão acontecer follow-ons e novas emissões que vão suprir essa falta de papel”, afirma esse gestor.
Poucas empresas, valuations baixos
Não são apenas as recompras de ações e os fechamentos de capital que estão deixando a bolsa brasileira cada vez mais seca. A AlphaKey resolveu fazer um filtro sobre o tamanho das empresas listadas na B3 em valor de mercado.
Os resultados, mais uma vez, mostram um cenário preocupante. Em janeiro de 2022, havia 254 empresas (o critério foi número de companhias e não de classes de ações) com valor acima de R$ 300 milhões. Hoje, são 218.
Desse universo, 42% empresas valem menos de R$ 2 bilhões (91 companhias). Outras 18% estão entre R$ 2 bilhões e R$ 5 bilhões. De acordo com os dados da AlphaKey, quase 75% das empresas estão abaixo de R$ 10 bilhões em valor de mercado.
“Em 2024, a Índia teve mais IPOs (334) do que todas as empresas listadas no Brasil. E a Polônia conta atualmente com mais de 400 companhias na bolsa de Varsóvia”, afirma Keleti.
Em janeiro de 2022, havia 254 empresas com valor acima de R$ 300 milhões. Hoje, são 218
A combinação de empresas de baixo valor de mercado sendo negociadas a múltiplos comprimidos tem feito outros atores, que negociam no mercado privado, a entrar em transações com companhias abertas, muitas vezes para fechar o capital.
São os casos dos fundos de private equity e compradores estratégicos. Nos últimos meses, várias transações deste tipo aconteceram. A Evertec, por exemplo, comprou a Sinqia. A Warburg Pincus, a Alper Seguros. A Equifax ficou com a BoaVista. A Experian com a ClearSale. A Globo com a Eletromídia. E o Ultra entrou na Hidrovias.
“Por que olhar um business privado se os valores na bolsa estão descontados? Há muitas oportunidades na bolsa”, afirma Gustavo Heilberg, sócio da gestora de ações HIX Capital.
Por conta desse cenário, qualquer notícia, por mínima que seja, que aponte para uma mudança de cenário é capaz de gerar uma onda de otimismo que puxa as cotações para cima.
A mais recente delas é a queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o mais baixo patamar de todos os seus três mandados, segundo pesquisa do instituto DataFolha – apenas 24% aprovam o atual governo, contra 41% que desaprovam.
Em janeiro, o Ibovespa, principal índice da B3, registrou 4,86% de valorização. Foi o melhor mês do mercado acionário desde agosto do ano passado, quando o indicador teve alta de 6,54% e bateu seu recorde nominal de pontuação, aos 137.343 pontos. Em 2024, foram oito meses de índice negativo. Neste ano, até sexta-feira, 21 de fevereiro, o Ibovespa acumula 5,83% de alta, aos 127.128 pontos (mas em 12 meses o indicador cai 2,4%).
Segundo Keleti, da AlphaKey, na Argentina, mesmo sem nenhum sinal de um governo reformista, as mínimas dos mercados se deram um ano e meio antes do pleito presidencial, muito antes de qualquer possibilidade de alguém como Javier Milei subir ao poder, simplesmente pela reponderação da probabilidade da não-continuidade do Kirschnerismo.
A questão é se o “efeito Orloff”, referência a uma frase de comercial de vodka que ficou popular nos anos 1980 (“Eu sou você… amanhã”), vai acontecer no Brasil. Se o mercado virar, uma coisa parece certa: um rally que vai elevar rapidamente os papéis porque vai faltar ações para comprar.
E a B3?
Como fica a B3 com o mercado de ações “secando” no Brasil? Esse é um tema na qual o presidente da empresa, Gilson Finkelsztain, tem sido constantemente questionado por investidores. E a resposta está na ponta da língua: a estratégia de diversificação que a companhia tem empreendido nos últimos anos tem dado resultados.
“Temos uma diversificação que protege a nossa receita”, afirmou Finkelsztain, em dezembro do ano passado, durante o B3 Day, acrescendo que a renda variável já representa menos de 20% do faturamento da B3. “O potencial de crescimento da companhia está protegido.”
Os resultados do quarto trimestre de 2024, divulgados na semana passada, ajudam a ilustrar isso. A receita líquida total atingiu R$ 2,7 bilhões, alta de 7% em relação ao mesmo período do ano passado.
Destaque para os derivativos listados, cujo volume médio diário negociado totalizou 6,1 milhões de contratos. As emissões de renda fixa cresceram 13,8% e o estoque avançou 23,9% – principalmente as dívidas corporativas. Também vale citar o crescimento de ETFs (39,1%), BDRs (91,5%) e fundos listados (43,1%).
De acordo com relatórios do Goldman Sachs e do Itaú BBA, os resultados da B3 vieram em linha com expectativa do mercado. Ambos mantiveram o rating de “compra” para a B3 dado o desconto que vem sendo negociada em relação ao seus pares globais (10,5 vezes o preço/lucro para 2026). Em 2025, as ações sobem 10%.
Em tempo: até a B3 entrou na onda de recompra de ações. No ano passado, recomprou 340 milhões de ações, aproximadamente 6% de seu capital social. E aprovou outro programa para comprar até 380 milhões de ações ordinárias, além de entrar em novos contratos derivativos relacionados às suas próprias ações (swap de ações). Com isso, a empresa pode recomprar um total de aproximadamente 7,2% de seu free float se o programa for totalmente implementado.
Negócios
Em “Crentes”, um manual para entender o fenômeno evangélico no Brasil
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O antropólogo Juliano Spyer tem uma missão quase de fé: descortinar o universo evangélico para quem, por preconceito, ainda não entendeu a força social, eleitoral e econômica desse grupo de mais de 80 milhões de pessoas no Brasil.
Há cinco anos, ele lançou O povo de Deus, que ampliou o tema para parte da academia — e da esquerda —, refratária a assuntos envolvendo esse grupo religioso. Agora, junto com os colegas Guilherme Damasceno e Raphael Khalil, Spyer apresenta Crentes — Pequeno manual sobre um grande fenômeno.
Em entrevista ao NeoFeed, Spyer afirma que a necessidade de se lançar um manual sobre o fenômeno evangélico está ligada à dificuldade de setores da sociedade, principalmente as universidades, em buscar entender esse grupo de pessoas.
“A cara do evangélico brasileiro é preta, pobre, periférica. É, portanto, urbana e predominantemente feminina. Então, a princípio, esse é um universo fora do universo aqui dos pensadores do Brasil, dos intelectuais, das pessoas que escrevem em jornal”, diz Spyer.
Para o antropólogo, a academia ainda vê esse grupo religioso de uma maneira preconceituosa e superficial. Mas acredita que isso está mudando, principalmente entre empresários, que percebem como o seu negócio pode ser prejudicado ou impulsionado a partir da forma que for apresentado.
“Os evangélicos são um grupo muito sensível a alguns temas morais. E esses temas apareceram com muita intensidade nos últimos anos. Esse tipo de publicidade que toca, de alguma forma, a sensibilidade do campo evangélico, dá margem para descontentamento e afastamento”, afirma Spyer.
Em 237 páginas, o trio de autores explica as estruturas das igrejas evangélicas, noções básicas sobre protestantismo, a importância da música, as gírias, o gênero, a sexualidade e a política. Uma miríade de temas, sempre tratados de forma clara, como deve ser um manual:
Confira a seguir os principais trechos da conversa de Spyer com o NeoFeed.
O que mudou entre o lançamento de O povo de Deus, em 2020, e o de Crentes, em 2025, principalmente diante de um período de eleição presidencial?
Vejo uma coisa mudando: o entendimento de que o universo evangélico deve ser tratado de um jeito mais interessante. Estou me referindo principalmente a candidatos, políticos, pessoas ligadas a partidos de esquerda, entendendo que existe alguma coisa mais interessante, mais complicada do que simplesmente a visão anterior de que o crente variava entre um coitadinho que não foi para escola e um pastor manipulador carismático.
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Mas ainda há entraves nesse entendimento sobre os evangélicos, não?
Eu chamo isso de bloqueio cognitivo, esse entendimento racional da importância do campo evangélico — um universo que tem hoje em torno de quase 80 milhões de pessoas. Eu não vi esses partidos de esquerda fazendo um movimento mais profundo no sentido de alterar a percepção de que a esquerda é inimiga do cristianismo evangélico. Isso eu não vi acontecer.
Em sua opinião, por que não?
Eu tenho a impressão de que é um uma questão geracional, um bloqueio mesmo. Mas esse entendimento começa a vir de outros espaços, principalmente do mercado. Então, pensando em que medida o evangélico também pode ser visto ou como alguém que pode prejudicar o seu negócio, ou alguém que pode ser um consumidor mais ávido, mais envolvido, dependendo também de como você se comunica.
Por que um manual se, como o próprio título do livro indica, os evangélicos são um grande fenômeno? A quem se destina o manual?
O fenômeno evangélico existe fundamentalmente (ou evoluiu fundamentalmente) nas camadas populares do Brasil, do Brasil periférico. A cara do evangélico brasileiro é preta, pobre, periférica. É, portanto, urbana e predominantemente feminina. Então, a princípio, esse é um universo fora do universo dos pensadores do Brasil, dos intelectuais. Foi isso que motivou o manual, o fenômeno continua a crescer fora; ou principalmente fora dos muros acadêmicos. E que é visto por quem está dentro dos muros acadêmicos, em geral, de uma maneira preconceituosa e superficial.
Em relação à economia, então, há uma sensibilidade maior do setor empresarial sobre esse grupo?
Sim, a primeira sensibilidade tem a ver com o tema da perspectiva de um grande número de brasileiros. Um grupo muito sensível a alguns temas morais, que apareceram com muita intensidade nos últimos anos. A publicidade que toca, de alguma forma, a sensibilidade do campo evangélico, dá margem para descontentamento e afastamento. O evangélico, por exemplo, não quer que determinados conteúdos, como os envolvendo sexualidade, apareçam no corpo comercial de televisão durante o dia, quando os filhos estão assistindo televisão. Isso cria uma sensação de distanciamento em relação à marca. Então essa é a primeira coisa.
“A cara do evangélico brasileiro é preta, pobre, periférica. É, portanto, urbana e predominantemente feminina. Então, a princípio, esse é um universo fora do universo dos pensadores do Brasil”
Quais são as oportunidades de negócios oferecidas pelos evangélicos?
No setor de moda e de beleza, por exemplo. Existe muita demanda por esse tipo de produto, principalmente entre os evangélicos pentecostais — que zelam por sua aparência, pela maneira como são vistos e percebidos. A demanda por roupas, por exemplo, ainda é reprimida: roupas que mostrem menos o corpo. Mas a gente pode falar de comida, de bebida, de serviços bancários, de eletrônicos. Para todos esses campos existem oportunidades a serem exploradas.
A direita apostou no voto dos evangélicos para eleger Bolsonaro. Isso se confirmou de maneira efetiva?
Sim, foi efetiva nas duas últimas eleições presidenciais. Em torno de 70% do voto evangélico foi para o candidato de direita. A esquerda praticamente não conseguiu ser eficiente na comunicação com esse eleitor. As pessoas que continuam votando na esquerda dentro das igrejas e que suportaram essa pressão, se mantiveram de forma discreta. Quando a gente fala da presença bolsonarista, a gente fala dessa presença mais aguerrida, que não aceita a alternativa, que não aceita a diferença, que acha que o outro está completamente errado. Isso cria tensionamentos dentro das igrejas.
Qual perfil dos evangélicos que não apoiam o ex-presidente?
São dois principalmente. O primeiro está nas igrejas que chamamos de históricas ou missionárias. São igrejas mais antigas, tipo batista, metodista, luterana e, em certo sentido, também a presbiteriana. São igrejas de classe média, mais reservadas, em que esse proselitismo não acontece de uma maneira tão enfática. O segundo está nas igrejas pentecostais tradicionais, numa faixa de renda até dois salários mínimos. São pessoas que ainda dependem ou dependeram até pouco tempo atrás da ajuda do governo — portanto, mantém-se o elo de gratidão.
A defesa do armamento por parte de Bolsonaro foi vista como um entrave para o avanço do então presidente no eleitorado feminino mais pobre. Isso faz sentido?
Faz muito sentido. Nada é mais “anti-Jesus” — como disse o pastor Nelson Gomes, que era da Assembleia de Deus e acabou perseguido — do que uma pessoa com revólver na mão. Tem aí uma série de momentos bastante importantes da história de Jesus narrada na Bíblia, em que Jesus rejeita esse tipo de posicionamento, pela espada, pela guerra, por esse tipo de confronto. E nesse sentido existia aí uma percepção bastante refratária em relação a Bolsonaro —muito ligado ao Exército, à polícia, uma pessoa com uma atitude grosseira. Isso criou de fato um distanciamento entre mulheres, principalmente mulheres evangélicas.
Como os bolsonaristas abordaram essa questão?
Isso foi resolvido de forma muito poderosa pelo envolvimento crescente de Michelle Bolsonaro, atuando de uma maneira muito diligente, muito disciplinada, muito organizada, nos eventos, encontros e reuniões com mulheres. Já ouvi inúmeras vezes que o voto do Bolsonaro hoje é uma coisa que acontece com facilidade como um voto de confiança na Michelle e no que ela pode fazer junto com a atuação de Deus.
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