Negócios
“Vamos sofrer com isso”, alerta Bill Gates sobre propostas protecionistas de Trump
A ameaça do ex-presidente Donald Trump de elevar as tarifas de importação dos Estados Unidos fez com Bill Gates ligasse o sinal de alerta para as consequências de medidas que possam afetar o livre comércio.
Para o cofundador da Microsoft, medidas como essa vão ter duras consequências sobre o bem estar das pessoas, considerando a perspectiva de retaliação dos outros países. A grande questão, segundo ele, é fazer com que o público perceba a situação faltando menos de duas semanas para as eleições.
“A dificuldade é convencer os eleitores que o livre comércio é algo que está totalmente em seu favor, é difícil argumentar esse caso, então eu entendo um político que queira se aproveitar disso, mas vamos sofrer com isso”, disse Gates, nesta quarta-feira, 23 de outubro, durante participação virtual no evento Bloomberg New Economy, que ocorreu em São Paulo.
Gates destacou também que medidas protecionistas ventiladas por Trump também acabam afetando a velocidade de inovação, especialmente num momento em que a tecnologia é essencial para lidar com as mudanças climáticas.
Ele abordou ainda as consequências que uma eleição de Trump pode ter em projetos ligados à questão climática, considerando que o ex-presidente já sinalizou o interesse em promover combustíveis fósseis e que diminuiria subsídios para energia limpa, além de questionar a crise climática.
Para ele, esse é um tema a ser observado, considerando os diversos projetos que estão sendo construídos em estados majoritariamente republicanos através de recursos oriundos do Inflation Reduction Act (IRA).
Ele espera um apoio bipartidário para a manutenção desse projetos e também em temas como energia nuclear, mas acredita que alguns incentivos fiscais devem de fato desaparecer, especialmente para indústrias maduras, como carros elétricos, que caminham para ficarem mais baratos.
No entanto, Gates afirmou que indústrias como aço e cimento e o setor de transporte aéreo ainda precisam de tempo para maturar, ainda precisando serem apoiadas. “Ainda estamos construindo a infraestrutura [para esses segmentos] e sem apoio governamental, a transição desse tipo de indústria vai desacelerar bastante”, afirmou.
Segundo Gates, ainda é preciso investir bastante na tecnologia para que ela ganhe escala e fique mais barata para adoção. Sem isso, não será possível adotar medidas em escala global para reduzir os riscos oriundos da crise climática. “Essas tecnologias são mais intensivas em capital do que a revolução digital”, disse.
Em sua fala, Gates também tratou sobre o Brasil, destacando que o País tem feito esforços para reduzir a questão do desmatamento, citando as pesquisas conduzidas pela Embrapa. “É fantástico que a questão ganhou importância”, disse.
Questionado se está otimista com o País, ele afirmou que o Brasil é uma “história mista”, tendo feito avanços na frente de desmatamento e combate à desnutrição, mas citou desafios na parte de governança, com a necessidade de envolver diversas partes na questão da mudança climática.
Sobre este ponto, ele ponderou que se trata de um desafio global e que é preciso colaborar com o Brasil para criar políticas que ajudem a reduzir ainda mais a redução da Amazônia.
“Somos muito bons em medir [a redução da Amazônia], por conta dos satélites, mas as políticas que nos levarão até isso ainda são muito complexas, especialmente engajar diferentes partes para isso”, disse.
Negócios
Ineficaz e prejudicial às farmácias: a visão do Itaú BBA sobre venda de remédio em supermercados
O impacto dos preços dos alimentos na inflação tem levado o governo a buscar alternativas para reduzir o custo de vida da população. Uma das medidas em estudo seria a liberação da venda de medicamentos isentos de prescrição (MIPs) em supermercados.
A proposta, que resgata o projeto de lei nº 1774/2019 atualmente travado na Câmara, parte da premissa de que as redes de supermercados poderiam aumentar sua rentabilidade graças às margens mais altas dos medicamentos, o que supostamente permitiria controlar a alta dos preços dos alimentos.
Analistas do Itaú BBA, no entanto, avaliam a medida como insuficiente para conter a inflação dos alimentos, além de preverem impactos significativos sobre as farmácias, que atualmente detêm a exclusividade na venda desses medicamentos. Os MIPs representam cerca de 15% das receitas das principais redes de farmácia, segundo o banco.
Os medicamentos isentos de prescrição possuem margens brutas médias de 30% a 35%, consideravelmente maiores do que as de produtos alimentícios, que variam entre 16% e 20%. “Para os varejistas de alimentos, isso é claramente positivo”, afirma o Itaú BBA. Ainda assim, o banco ressalta que esse ganho adicional não necessariamente resultaria em preços de alimentos mais baixos.
“Temos muita dificuldade em imaginar como isso ajudaria a controlar a inflação alimentar. É difícil supor que as redes de supermercados repassarão esse adicional de lucro para reduzir os preços dos alimentos – e parece bastante impossível controlar isso”, avaliam os analistas.
O Itaú BBA também destaca que é “praticamente impossível” estimar com precisão as potenciais receitas ou lucros adicionais, considerando que as redes de supermercados enfrentariam custos elevados devido aos requisitos sanitários. Gastos com farmacêuticos, manipulação e armazenamento, por exemplo, poderiam impactar negativamente a rentabilidade do negócio.
“Várias grandes redes de varejo de alimentos já operaram farmácias dentro de suas lojas, mas essas operações não foram vistas como bem-sucedidas em termos de execução e rentabilidade.”
Outro entrave significativo para a aprovação da medida, na visão do Itaú, são as preocupações com a automedicação, uma das principais causas de intoxicação no Brasil. O banco lembra que esse debate ocorre pelo menos desde 2013, sendo essa questão um dos maiores obstáculos ao avanço da proposta.
“Muitas compras de OTCs são feitas por impulso, de modo que uma eventual aprovação dessa medida provavelmente aumentaria o mercado endereçável desses produtos, em vez de apenas tirar participação das farmácias”, afirma o Itaú BBA em seu relatório. “Acreditamos que a probabilidade de a proposta se tornar lei é baixa.”
Embora considere improvável a aprovação da medida, o Itaú avalia que o aumento da demanda pelo novo canal de vendas poderia fortalecer as farmacêuticas. Nessa linha, os analistas destacam a Hypera como a principal beneficiada, dada sua sólida relação comercial com as varejistas, com as vendas de produtos como Zero-Cal e Engov After.
“A liberação de medicamentos em redes de supermercados deve ter um efeito positivo nas vendas devido ao maior consumo por impulso, mas consideramos que o impacto potencial para as empresas farmacêuticas seja menos significativo do que para as empresas de varejo alimentar.”
Negócios
Na JHSF, investimentos em receita recorrente estão se pagando (e vêm mais por aí)
Os investimentos da JHSF nas áreas de negócios com receita recorrente feitos nos últimos anos, intensificado ao longo de 2024, vêm dando frutos financeiros e operacionais para o grupo centrado na alta renda.
E no momento em que o cenário econômico começa a ficar negativo, em vez de ficar tímida, a companhia pretende “ir para cima”, com lançamentos e inaugurações previstas para 2025, para cumprir com o objetivo de que a receita recorrente responda por dois terços da geração de caixa no médio e longo prazo.
“Estamos bastante focados em ativos de renda recorrente, por fazerem a companhia em ciclo macroeconômicos mais complicados tomar decisões de forma segura, preservando capital, balanceando a companhia”, diz Augusto Martins, CEO da JHSF, ao NeoFeed, diretamente da Suíça, onde participa do Fórum Econômico Mundial, em Davos. “E a prévia operacional do quarto trimestre mostra que estamos no caminho certo.”
De acordo com a prévia operacional divulgada nesta quinta-feira, 23 de janeiro, a parte de shopping centers foi um dos destaques do quarto trimestre. As vendas totais apresentaram crescimento de 19,7% na comparação com o quarto trimestre de 2023, somando R$ 1,7 bilhão, e 20% ante o consolidado do ano anterior, a R$ 5,3 bilhões.
As vendas dos shoppings Cidade Jardim e Jardins e do Catarina Fashion Outlet cresceram 32%, 31,4% e 9,2% nos últimos três meses de 2024, respectivamente. Na comparação com o ano de 2023, o crescimento foi de 20,8% no Cidade Jardim, 29,3% no Shops Jardins e 26,3% no Catarina, com Martins destacando que o resultado na outlet ocorreu mesmo após a expansão, que dobrou sua área.
Os indicadores de aluguel também tiveram alta no trimestre e no ano. O chamado Aluguel Mesma Área (SAR), a variação entre o aluguel faturado em uma mesma área no período versus no ano anterior, por exemplo, subiu 16,7% nos últimos três meses e 11,3% no ano.
A JHSF também reviu o portfólio de ativos, concentrando em shoppings de alta renda. No ano passado, saiu dos shoppings Ponta Negra, em Manaus, e Bela Vista, em Salvador. A empresa vendeu fatias na expansão do Catarina e do Shops Faria Lima, previsto para ficar pronto em 2026.
No total, foram levantados R$ 733 milhões. Combinado com os R$ 1,3 bilhão captados via duas emissões de CRI, a JHSF reforçou sua estrutura de capital. Com essas captações, a duration da dívida consolidada passou de 4,5 anos para 6,2 anos.
Outro segmento que mostrou força foi a divisão de locação residencial e de clubes, que registrou um NOI anual estabilizado consolidado de R$ 110 milhões. O segmento fechou o ano com cerca de 75 mil metros quadrados de área, distribuídos entre casas, apartamentos e clubes.
Em hospitalidade e gastronomia, a JHSF registrou uma RevPar (receita por quarto disponível) de R$ 2,6 mil em seus hotéis no quarto trimestre, alta de 25,4%, com a diária média aumentando 19%, a R$ 4,4 mil. A taxa de ocupação aumentou 3,1 pontos percentuais, a 58,8%.
No ano, a diária média subiu 15,5%, para R$ 3,9 mil, com a RevPar aumentando 20,7%, a R$ 2,1 mil, e taxa de ocupação evoluindo 2,3 pontos percentuais, para 54,1%. Em meados de dezembro, houve a inauguração do Boa Vista Surf Lodge Hotel, localizado junto à piscina de surf do Boa Vista Village.
O São Paulo Catarina Aeroporto Executivo Internacional também apresentou bons resultados. O número de movimentos aumentou em 34,7% e os litros abastecidos em 41,4% na comparação com o quarto trimestre de 2023. Em relação a 2023, os crescimentos foram 41,1% e 49,6%, respectivamente.
Aumentando a receita recorrente
Para 2025, a JHSF planeja uma série de lançamentos e inaugurações nos segmentos de receita recorrente. Em shoppings, a ideia é fortalecer o mix de lojas.
No fim do ano passado, houve a abertura da flagship exclusiva da joalheria Van Cleef & Arpels no Shopping Cidade Jardim. Isso fez com que a unidade passasse a contar com as flagships das quatro principais joalherias do mundo – Van Cleef & Arpels, Tiffany&Co., Cartier e Bulgari.
Neste ano, haverá a inauguração da flagship da marca de roupas italiana Brunello Cucinelli no Shops Jardins. “Estamos há um bom tempo reforçando o mix de lojas, na curadoria das lojas, focadas em alta renda, reforçando o desempenho da parte de malls”, diz Martins.
Na divisão de locação residencial e de clubes, a parte de clubes é uma das principais apostas. No ano passado, a companhia iniciou comercialização de memberships, a operação do Boa Vista Village Surf Club e o desenvolvimento das obras do São Paulo Surf Club e do Fasano Club.
A piscina de surf do São Paulo Surf Club já está em fase final de acabamento, com abertura prevista para o primeiro semestre. Já as obras do Fasano Club foram concluídas e sua abertura está prevista para o primeiro trimestre de 2025. “É um novo negócio que começamos a operar no ano passado e está maturando, com uma evolução muito grande”, diz Martins.
A companhia também pretende pegar parte dos estoques de imóveis desenvolvidos pela parte de incorporação e vai destinar para locação, na operação chamada JHSF Residence, inaugurada em 2023. “Ela visa a atender alguns clientes que ao invés de investir para comprar querem alugar um produto pronto”, diz Martins.
O São Paulo Catarina Aeroporto Executivo Internacional, por sua vez, passa por uma expansão com a construção de quatro novos hangares neste ano, elevando o total para 16 hangares, com o objetivo de atender a demanda.
Ainda que o foco seja crescer a parte de receita recorrente, a JHSF seguirá investindo em incorporação, mantendo a estratégia de preservação de margens e valorização dos estoques. As vendas contratadas subiram 2,6% no quarto trimestre, para R$ 242,7 milhões, e 5,2% no ano, a R$ 1,1 bilhão.
“A companhia não vai abrir mão de preços, porque, no médio e longo prazo, não traz a solidez que a companhia precisa”, diz Martins.
A estratégia da receita recorrente e seus resultados foram elogiados pelos analistas da XP. Para eles, os números do quarto trimestre foram positivos, especialmente os segmentos não residenciais, que continuam a apresentar desempenho superior.
“Em nossa opinião, isso reforça o sólido domínio dos shopping no portfolio da empresa, que agora está significativamente focado em clientes de alto padrão após os desinvestimentos nos shoppings Bela Vista e Ponta Negra”, dizem os analistas Ygor Altero e Ruan Argenton.
Por volta das 15h37, as ações da JHSF caíam 2,11%, a R$ 3,71. Em 12 meses, os papéis recuam 27,7%, levando o valor de mercado a R$ 2,5 bilhões.
Negócios
Wealth Point #34 – Luiz Osório, da SOMMA Investimentos, e Rodrigo Samaia, da EQI
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