Negócios
Herdeiro de Bernard Arnault fecha sua primeira aquisição: uma relojoaria suíça de 185 anos
Aos 28 anos, o francês Frédéric Arnault vem construindo uma sólida carreira no mercado da alta relojoaria. Quarto dos cinco filhos de Bernard Arnault, presidente e diretor executivo do conglomerado de luxo LVMH, o rapaz acaba de fechar seu primeiro grande negócio como CEO da LVMH Watches.
O grupo comprou a Swiza, dona da sofisticada L’Epée 1839, a fabricante suíça, famosa por suas peças extravagantes — o valor da aquisição não foi revelado. É o lance mais recente da LVHM para se consolidar no mercado de relógios de alto padrão. Do portfólio da companhia já fazem parte TAG Heuer, Hublot e Zenith.
Fundada há 185 anos, em Delémont, no cantão de Jura, por Auguste L’Epée (1798-1875), a empresa nasceu como uma fábrica de caixinhas de música. Em 1857, a L’Epée lançou moda ao colocar esses mecanismos dentro de objetos, como bonecas, porta-joias e carrinhos.
O domínio sobre peças mecânicas de precisão levou à produção de relógios de mesa. Desde então, a L’Epée se consagrou não só pela qualidade, mas pelo design arrojado de seus modelos. Entre os mais célebres está o Grenade, inspirado no desenho de uma granada, com 12 centímetros de altura.
Uma curiosidade: cem relógios da marca, em estojos de couro Hermès, foram oferecidos aos convidados mais importantes do casamento do então príncipe Charles com Diana, em 1981.
A L’Epée é famosa também por suas parcerias. Com o relojoeiro suíço Maximilian Büsser, fundador e diretor criativo da MB&F, criou relógios com a forma de aranhas, robôs e foguetes.
Para celebrar o 175º aniversário da relojoaria Ulysse Nardin, em 2021, inventou o modelo OVNI.
Ao longo de sua história, a L’Epée já se unira a várias maisons da LVMH em coleções históricas. Para a Louis Vuitton, produziu o Montgolfière Aéro, réplica de um balão de ar quente.
Para a Tiffany & Co, um carrilhão no formato dos primeiros carros de Fórmula 1, da década de 1950 — em comemoração à reabertura da boutique da joalheria na 5ª Avenida, em Nova Iorque, no ano passado.
“A L’Epée iniciou uma série de parcerias que manteremos e desenvolveremos com Arnaud Nicolas [diretor criativo da marca], e estou animado com o potencial criativo inexplorado das várias maisons do Grupo LVMH associadas a essa expertise excepcional”, diz Frédéric, em comunicado.
Lufada de renovação
Nascido em Neuilly-sur-Seine, nos arredores de Paris, filho do segundo casamento de Arnault, com Hèlène Mercier, o herdeiro assumiu o comando da LVMH Watches no início do ano, em janeiro. Mas ele já estava no grupo desde 2017, quando se juntou à TAG Heuer, como diretor de estratégia e digital.
Três anos depois, Frédéric foi nomeado CEO da relojoaria. Ele expandiu e reforçou a presença da empresa no digital e, mais do que isso, trouxe uma lufada de inovação e renovação para o negócio, fundado em 1860, em La Chaux-de-Fonds, no cantão suíço de Neuchâtel.
Sua missão na TAG Heuer era fortalecer a marca no mercado dos relógios digitais e inteligentes. Em 2021, em entrevista ao jornal americano The New York Times, o então CEO definiu a grife como “o relógio para pessoas que alcançarão o sucesso, que estão sempre em busca da próxima conquista”.
Frédéric estabeleceu collabs com famosos, como os atores Jacob Elordi e Patrick Dempsey e o cantor chinês Cai Xukun. Uma dos clássicos da fabricante, o modelo Carrera, em ouro maciço, foi parar no filme Barbie, no pulso do personagem Ken, interpretado por Ryan Gosling.
O executivo até arriscou uma parceria com a Nintendo e, em 2022, lançou uma coleção inspirada em Mario Bros, um dos personagens mais ilustres da história dos jogos eletrônicos.
E ele fez tudo isso mantendo-se fiel à tradição de uma empresa secular, reconhecida pela excelência de seu relógios analógicos e extremamente “complicados” — o que, no universo da alta relojoaria, é sinônimo de qualidade e sofisticação.
A estratégia de Frédéric funcionou. Em 2022, as vendas da TAG Heuer somaram CHF 729 milhões (cerca de R$ 5 bilhões) — CHF 682 milhões (aproximadamente R$ 4,2 bilhões) acima dos valores de 2021, conforme dados do banco Morgan Stanley.
Um cargo sob medida
O crescimento e a modernização da relojoaria levaram o alto comando da LVMH a criar um cargo especialmente para Frédéric. A divisão chefiada por ele está subordinada à de Relógios e Joias, comandada por Stéphane Bianchi, no grupo desde 2018.
Agora o jovem CEO tem o desafio de comandar um braço cada vez mais estratégico dentro conglomerado.
No primeiro trimestre de 2024, a área de relógios e joias movimentou Є 2,5 bilhões. Em 2023, foram Є 11 bilhões — quase 13% do total da LVMH.
A participação da LVMH Watches no faturamento geral do grupo tende a se tornar cada vez mais robusto, acompanhando a ascensão do mercado global de relógios de luxo.
Avaliado em US$ 43,56 bilhões, em 2023, deve chegar a US$ 65,35 bilhões, nos próximos sete anos, avançando a uma taxa de crescimento anual composta de 5,2%.
E pensar que Frédéric, formado em matemática aplicada e computacional pela Escola Politécnica, de Paris, e pianista na adolescência, começou sua vida profissional como estagiário da consultoria McKinsey. Antes de entrar para o universo da alta relojoaria, o herdeiro de Arnault trabalhou no centro de pesquisa de inteligência artificial do Facebook.
Negócios
Números Falam #31 – Junior Durski, CEO do Madero, e Ariel Szwarc, CFO do Madero
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Negócios
XP se une a três executivos ex-Santander e reforça ligação com o agronegócio
O agronegócio não tem importância apenas para o PIB brasileiro. Entre os clientes ligados ao agro atendidos pelas assessorias de investimento da XP, 25% são empresas com mais de R$ 100 milhões de faturamento.
Se o agro ajudou a XP a ganhar market share no investment banking, estruturando dívidas como CRAs e CRIs para o setor enquanto os grandes bancos consideravam o segmento pequeno e difícil, chegou o momento de olhar com mais cuidado para o wealth management. E a estratégia para agregar tudo isso é o B2B.
E surgiu uma oportunidade para a XP ampliar a sua rede de assessoria de investimentos focada no agronegócio com três ex-executivos do Santander. Eles lançaram a Sogima, assessoria de investimentos que nasce totalmente dedicada aos clientes do agronegócio, e plugada à XP.
“Eu realmente me surpreendi: XP no agro? Mas fomos conversando e percebi que há uma grande estrutura e ao mesmo tempo uma grande oportunidade de crescimento na rede”, afirma Ricardo França, sócio fundador da Sogima, ao NeoFeed.
França, que era superintendente regional de agronegócios do Santander, foi convencido por dois colegas de trabalho no banco, David Mailler Bocalon e Clemilson Franco, a empreender.
Neste início, eles estão movimentando a própria carteira de relacionamento e deram início a conversas com cerca de 90 potenciais clientes. A sede da Sogima será na capital paulista, mas os sócios planejam abrir escritórios no interior – embora ainda não tenham um destino definido.
Nos próximos meses, eles saem em busca de contratações de assessores que conhecem o agro para ajudar na meta de chegar a R$ 1 bilhão de captação em dois anos.
Para a XP, que criou mesas específicas de atendimento, como as de hedge cambial e commodities, para o cliente agro para o seu B2B, o diferencial está nas soluções customizadas para esse público, que não encontra o que procura nas grandes instituições financeiras.
“Já temos a Nexgen muito forte em Goiânia, e a Rio Negro em Campo Grande e agora temos a Sogima atuando mais no interior do Sudeste. E assim a gente ocupa bem esse tabuleiro”, afirma Bruno Ballista, sócio e head de assessoria e relacionamento com o cliente XP.
Atualmente, os clientes agro dos escritórios parceiros da XP estão localizados principalmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás e Paraná. E as principais soluções demandadas são commodities, operações compromissadas, renda variável, câmbio e produtos estruturados.
A Sogima nasce atendendo clientes pessoas jurídica e física ao mesmo tempo, e tendo como estratégia explorar o crédito colateralizado para ajudar produtores a se financiarem.
Na visão de França, o agronegócio cada vez mais procura o mercado de capitais, já que as linhas subsidiadas pelo governo são limitadas a R$ 3 milhões por CPF ou CNPJ, o que só atende ao micro produtor rural.
“Os muito pequenos têm acesso a linhas do governo, como tem que ser. E os grandes têm acesso ao mercado de capitais com grandes bancos. Há um vácuo para os players médios, e achamos que há uma grande oportunidade aí”, diz ele.
A crise do agronegócio, que registrou um boom de recuperações judiciais neste ano, não preocupa o sócio-fundador da Sogima. Ele vê um ciclo natural desse mercado, que apenas não era notado pelo setor financeiro antes porque não havia ninguém lá. E com a atenção conquistada nos últimos anos, muitos aventureiros entraram nesse mercado.
“O agronegócio é cíclico. Mas o que aconteceu este ano não foi uma quebra de safra, foi muito aventureiro que alavancou e deu problema. Os produtores mais maduros já passaram por isso e estão preparados para fases ruins”, afirma França.
Negócios
O preço da morosidade: governo desiste de construir hidrelétrica de R$ 2,5 bilhões em Mato Grosso
BRASÍLIA – Depois de 13 anos de tentativas para licenciar a construção da usina hidrelétrica Castanheira, projeto de R$ 2,5 bilhões que seria construído na região nordeste do Mato Grosso, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) resolveu desistir do plano.
O NeoFeed obteve detalhes do caso, que teve seu desfecho final na sexta-feira, 13 de dezembro. A EPE, órgão que é vinculado ao Ministério de Minas e Energia, pediu o cancelamento formal de registro da usina, sob argumento de que a Secretaria do Meio Ambiente (Sema) do Mato Grosso teria imposto uma série de dificuldades para licenciar a obra ao longo dos últimos anos.
Segundo a EPE, a secretaria ambiental agendou e cancelou, em dois momentos, as audiências públicas que seriam realizadas para discussão do projeto, além de não ter emitido um parecer técnico sobre o empreendimento.
Paralelamente, a construção da hidrelétrica na região norte do Mato Grosso, próximo ao Estado do Amazonas, também sofreu um revés com a Fundação Nacional do Índio (Funai). Depois de uma série de audiências e visitas a terras indígena da região, a Funai havia dado sinal verde para o projeto em 2022. Em 2023, porém, a nova diretoria da fundação suspendeu o ato anterior e colocou todo o processo em suspenso.
Ao formalizar a desistência do processo para a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a EPE relatou dezenas de encontros e pedidos sobre a usina realizados desde 2011, quando obteve autorização para elaboração dos estudos de viabilidade técnico-econômica do projeto.
Nos últimos 13 anos, conforme cálculos apresentados, a estatal diz que foram gastos mais de R$ 15,4 milhões de dinheiro público para estudar a hidrelétrica, envolvendo a mobilização de centenas de pessoas, contratações de terceiros e levantamento de dados técnicos. Tudo isso, agora, será inutilizado.
Prevista para ser erguida no rio Arinos, um dos principais afluentes no Juruena, a hidrelétrica Castanheira tinha capacidade projetada de 140 megawatts de energia, potência capaz de atender ao consumo elétrico de cerca de 1,9 milhão de pessoas, o suficiente para atender o consumo residencial de capitais como Recife (PE) ou Porto Alegre (RS).
A usina previa a construção de um reservatório de 94,7 km², nos municípios de Juara e Novo Horizonte do Norte, em Mato Grosso. De acordo com os dados técnicos, a hidrelétrica não interferia diretamente em unidades de conservação ambiental, terras indígenas ou áreas urbanas dos municípios.
“Fica evidente a complexidade de temas tratados no âmbito do licenciamento ambiental da hidrelétrica Castanheira, assim como a diversidade de interlocutores envolvidos no processo”, diz a EPE. “Por mais de uma década a EPE empenhou esforços em diálogos com os órgãos envolvidos no licenciamento.”
Em fevereiro de 2024, a Sema sinalizou que faria o arquivamento do licenciamento da usina, por causa da “inércia do interessado”. Em abril, a EPE apresentou contrapontos e pediu que a secretaria revisasse sua posição. Paralelamente, o órgão federal acionou a Casa Civil do Estado do Mato Grosso, para reforçar o interesse na obra e reclamar da “impossibilidade de debate sobre o projeto e a ausência de oportunidade de pactuar os compromissos”.
Em resposta, a Casa Civil encaminhou uma manifestação da Sema, que manteve o indeferimento por “não atendimento das solicitações de estudos complementares”. Segundo a EPE, a secretaria ambiental não apresentou justificativas sobre os pontos elencados pela autarquia federal.
Sobre os estudos indígenas, a EPE afirma que ocorreram visitas a várias aldeias da região, em maio de 2022, para os povos Rikbaktsa, Kayabi, Apiaká e Munduruku. “As reuniões contaram com a participação das comunidades e principais lideranças indígenas, de profissionais da empresa de consultoria responsável pelos estudos, representantes da Funai (Sede e Regional) e da EPE”, afirma.
A Funai aprovou o Estudo de Componente Indígenas e considerou que a oitiva foi realizada com êxito. No entanto, em março de 2024, a EPE diz que “foi surpreendida”, quando “a Funai informou a revisão dos seus posicionamentos expressos em julho de 2022, sem que fossem apresentados fatos novos ou justificativa técnica para motivar tal mudança de entendimento”.
Com a desistência, a EPE afirmou que os estudos de engenharia realizados, incluindo levantamentos de campo, investigações geológicas, além das informações socioambientais e de sondagens manuais e mecânicas, estão armazenados na autarquia, mas que o material deverá ser doado ou descartado após o cancelamento do processo.
“A EPE se compromete a disponibilizar os estudos até então realizados para que a sociedade possa ter conhecimento dos dados apurados e eventualmente possam utilizá-los futuramente”, afirmou a autarquia à Aneel. “Por todos os motivos elencados não há justificativa para a EPE continuar conduzindo o processo deste projeto.”
A decisão do governo federal de colocar a obtenção da licença prévia ambiental de projetos hidrelétricos sob responsabilidade da EPE se deve, justamente, à sensibilidade do tema, principalmente quando se trata do bioma Amazônia.
Ao entrar diretamente no processo de licenciamento, o governo federal quer mostrar aos investidores que o projeto é viável e seguro. Logo, o empreendimento pode ir à leilão, porque já tem uma chancela que sinaliza a sua viabilidade. Foi tudo o que não ocorreu neste caso.
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