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A previsibilidade do Brasil, a surpresa dos EUA e a dúvida da Argentina, segundo o economista-chefe do Citi

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A previsibilidade do Brasil, a surpresa dos EUA e a dúvida da Argentina, segundo o economista-chefe do Citi
Tempo de Leitura:10 Minuto, 53 Segundo


Economista-chefe para América Latina do Citigroup, o mexicano Ernesto Revilla precisa dedicar atenção para uma região com economias díspares, de um Brasil com inflação baixa a uma Argentina ainda lutando para fugir da hiperinflação, além da incógnita que representa o futuro governo da presidente eleita do México, Claudia Sheinbaum. E, de quebra, acompanhar impacto dos juros nos Estados Unidos na região.

Nesta entrevista ao NeoFeed, Revilla, no entanto, demonstra equilíbrio ao analisar cada cenário. Chega a ser surpreendente sua moderação ao comentar a turbulência política e econômica recente no Brasil: elogiou a decisão do Copom de manter, de forma unânime, a taxa Selic em 10,5% e não acredita que um impulso fiscal do governo altere a previsão do banco de crescimento do PIB do Brasil para 2024 e 2025, por exemplo.

“Estamos nos aproximando de um longo período de manutenção da Selic sem alteração, apesar de existirem pressões nos dois sentidos caso surjam riscos”, diz Revilla. “Mas uma taxa Selic de 10,5% ao ano é consistente com uma inflação que está na meta no horizonte da política monetária”.

Além disso, Revilla prevê uma recuperação do real em relação à moeda americana, fechando 2024 cotado a R$ 5,16 por dólar e, no fim de 2025, a R$ 5,07 – bem abaixo da cotação atual (R$ 5,39). A recente oscilação da moeda, assegura, foi determinada, em parte, pela reação “exagerada” do mercado a notícias ruins, como as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

O otimismo de Revilla se estende à queda dos juros pelo Federal Reserve, o BC dos EUA. Diferentemente dos economistas americanos, que preveem dois cortes dos juros em 2024, o Citi trabalha com três cortes de 0,25 ponto percentual nos juros até dezembro, seguidos de mais oito cortes em 2025.

Leia a seguir trechos da entrevista, concedida por Revilla antes de desembarcar em São Paulo para participar da 16ª edição da Equity Conference do Citi Brasil, cuja programação terá painéis com analistas globais a partir desta terça-feira, 25 de junho.

Quais as perspectivas do Citi para a taxa Selic no Brasil? Foram alteradas depois que o Banco Central manteve a Selic em 10,5%?
Foi uma decisão esperada e responsável do BC. Estávamos esperando a manutenção da Selic sem mudança e achamos interessante ter sido unânime, uma mostra de que a decisão foi técnica, com a qual o mercado concorda.

Para o Citi, manter a taxa Selic no patamar atual é suficiente para prever uma inflação dentro da meta de 3% para 2025?
Acreditamos que sim. E acho que, de fato, estamos nos aproximando de um longo período de manutenção da Selic sem alteração, apesar de existirem pressões nos dois sentidos. Se a economia voltar a acelerar ou tivermos uma maior expansão fiscal haverá tendência para uma taxa de juro mais elevada. Se ocorrer um abrandamento inesperado na economia, os juros devem cair. Mas apostamos que estes riscos permanecerão equilibrados e uma taxa Selic de saída de 10,5% ao ano é consistente com uma inflação que está na meta no horizonte da política monetária.

“Uma taxa Selic de 10,5% é consistente com uma inflação na meta no horizonte da política monetária”

O que poderia ter maior impacto na trajetória da inflação brasileira: mercado de trabalho aquecido, setor de serviços ou pressão fiscal?
No momento, uma atenção maior deve ser dada ao comportamento do mercado de trabalho, que continua apertado. Prevemos uma taxa de desemprego no Brasil fechando o ano em 7,0%, baixando em 2025 para a 6,8%. Também é preciso ficar atento à inflação de serviços e a de bens comercializáveis, devido à desvalorização do real, e ao comportamento recente dos mercados de commodities. O mercado está prestando atenção para ver se a inflação externa não afeta os preços locais no Brasil.

Essa instabilidade fiscal pode afetar a expectativa do Citi de crescimento do Produto Interno Bruto do Brasil para 2024?
Temos uma expectativa de crescimento de 2% do PIB em 2024 e 1,5% do PIB em 2025. Não acreditamos que um impulso fiscal maior possa mudar significativamente essas trajetórias de crescimento, mas poderia aumentar o prêmio de risco sobre os ativos brasileiros.

A cotação do real já estava sendo impactada pelo cenário americano, mas caiu mais com a tensão interna. Qual a previsão do Citi do câmbio para 2024 e 2025?
Fizemos alguns ajustes, na perspectiva de um dólar mais forte na economia dos EUA e de maiores riscos nas economias emergentes. Mas continuamos otimistas quanto à redução dos prêmios de risco. Nossas estimativas para o real são muito favoráveis: R$ 5,16 por dólar no fim de 2024 e R$ 5,07 por dólar no fim de 2025.

O que explica essas cotações futuras do dólar bem inferiores às atuais?
O mercado reagiu de forma exagerada a algumas questões locais. Tivemos as enchentes no Rio Grande do Sul e muito ruído com a questão fiscal e o voto dividido do Copom anterior. Mas, na nossa visão, apenas a tragédia das cheias e o custo fiscal que isso terá são fatores relevantes. As outras questões serão absorvidas pelo mercado e desaparecerão.

Uma taxa Selic mais elevada por mais tempo é preocupante?
A alta taxa de juros será um atrativo suficiente para continuar investindo em ativos brasileiros, que vão dar suporte à moeda. É por isso que estamos mais otimistas de que a volatilidade poderá passar no fim do ano.

As críticas do presidente Lula ao Banco Central indicam que a tensão causada com a sucessão de Roberto Campos Neto na presidência do BC, até a escolha do nome, deverá prosseguir. O Citi trabalha com esse cenário?
Os debates que existem entre o Poder Executivo de vários países e seus bancos centrais sempre existiram e continuarão. Isso já vinha ocorrendo até mesmo nos EUA, quando Donald Trump foi o presidente. Isso faz parte do novo normal, ao qual o mercado vai se acostumar. Dito isso, acredito que a forma com que esse debate é conduzido é importante.

A forma na condução desse debate recente no Brasil foi equivocada?
Se o mercado perceber que há pressão, isso é contraproducente porque o prêmio de risco aumenta, a moeda se desvaloriza e torna a inflação mais difícil de baixar. Mas em todos os países, os debates são bem-vindos.

O presidente Lula completou um ano e meio de governo. Qual sua avaliação?
Acredito que, tendo em conta as difíceis circunstâncias internas e externas, foi feito um bom trabalho. O presidente Lula soube guiar a economia em decisões difíceis, equilibrando as necessidades de crescimento e as demandas sociais, mantendo esses dois fundamentos macroeconômicos.

Algo o surpreendeu?
O Brasil fez conquistas que não esperávamos antes do governo Lula, como a reforma tributária que o novo imposto sobre valor agregado nos dará. Acho que essas reformas serão transformadoras, embora demorem porque temos um longo período de transição. Mas contextualizando, principalmente com a preocupação antes da presidência do Lula, parece-me que o mercado tem geralmente recebido em bons termos as decisões de política econômica desta administração.

Qual a previsão do Citi para o início da queda dos juros nos EUA?
Durante o ciclo de aumento das taxas fomos mais hawkish (duros) do que o mercado e estávamos certos. Agora, o mercado está apostando em dois cortes do Fed na taxa de juros, de 0,25 ponto percentual (pp) cada. No Citi, esperamos três cortes de 0,25 pp até dezembro, começando em setembro, e oito cortes de juros em 2025.

“Esperamos três cortes dos juros nos EUA até dezembro e outros oito cortes em 2025”

Qual razão para esse otimismo maior em relação ao mercado?
O motivo é o enfraquecimento da economia americana, que agora é mais evidente no mercado imobiliário, no consumo de bens e principalmente em alguns setores do mercado de trabalho.

Qual o impacto da demora do início do ciclo de cortes de juros nos EUA nos países da América Latina?
Está, sem dúvida, menor do que no passado. Desde a Segunda Guerra, quando o Fed subia os juros, a América Latina caminhava para uma crise. A crise da dívida latino-americana da década de 1980 começou com o México, quando a Fed começou a aumentar as taxas de juros, e depois espalhou-se pela região. O recente ciclo de aumento de juros nos EUA felizmente não atrapalhou as economias da região porque elas se encontram mais fortes do que no passado.

Entre os países da região, quais os que exigem mais atenção?
Aqueles onde o Fundo Monetário Internacional (FMI) está envolvido como, por exemplo, Argentina, Equador e El Salvador. E não falemos da Venezuela, que sequer permite a intervenção de organismos multilaterais.

O Citi prevê uma rápida recuperação econômica da Argentina sob o governo de Javier Milei ou ainda é cedo para fazer uma previsão segura?
O desempenho econômico da Argentina tem sido melhor que o esperado até agora, e isso tem que ser comemorado. A inflação foi reduzida significativamente, mas o mercado ainda tem dúvidas sobre o quão permanente será esse ajuste.

Quais dúvidas?
O ajuste foi feito, em grande parte, em setores onde pode não ser sustentável mantê-lo, como por exemplo na redução dos salários públicos. Isto pode ser alcançado durante um certo tempo, mas pode não ser permanente, tal como a redução das transferências para governos estaduais. A analogia que faço é de um paciente na UTI que tem muitos problemas, que está muito frágil e os médicos conseguiram estabilizá-lo, mas ele ainda não está fora de perigo.

O México também entra num período de mudança de governo. Qual a perspectiva do Citi para a economia mexicana no curto e médio prazo?
O México vive um momento interessante de profundas mudanças. Na parte política, o modelo de partido único, hegemônico e extremamente poderoso do passado voltou, com a surpresa da última eleição, onde o Morena, o partido no poder, obteve uma supermaioria. Isso deixou o mercado nervoso com a possibilidade de uma série de reformas que irão enfraquecer os pesos e contrapesos e o quadro institucional.

A presidente eleita Claudia Sheinbaum é mais pró-mercado que o atual presidente, López Obrador?
Ainda não sabemos. Sheinbaum reiterou o programa que López Obrador estabeleceu para a reforma social e institucional e acredita nos princípios fundamentais do Morena, que é maior participação do Estado na economia. O México começa a apresentar pressões fiscais que não se viam nos últimos anos. O que é difícil de prever é se ela vai cumprir a promessa de responsabilidade fiscal e de uma macroeconomia ordenada.

No ano passado, o México ultrapassou a China como o maior exportador de bens para os EUA. O país tem aproveitado essa briga comercial EUA-China?
Sim, mas não no potencial que poderia. O governo López Obrador não fez investimentos para eliminar os gargalos existentes em alguns setores, como eletricidade, água e infraestrutura logística. Talvez isto mude na próxima presidência, pois Sheinbaum apresentou um ambicioso programa de investimentos. Mas isso exigirá espaço fiscal e é precisamente isso que não existe hoje.

É um fardo para Sheinbaum suceder a um líder muito popular como Lopez Obrador?
No México, muitos analistas fazem uma analogia de Sheinbaum com a presidência de Dilma Rousseff no Brasil. Em ambos os casos foram precedidas de presidentes carismáticos – Lula e López Obrador – que eram vistos com reserva pelo mercado antes da posse, mas foram relativamente bem na parte macroeconômica porque tiveram sorte no exterior, com as commodities no Brasil e o near-shoring do México com os EUA. Ambos os presidentes receberam os seus países com grau de investimento e elegeram as sucessoras.

O Citi tem previsões diferentes sobre a economia dos EUA em caso de vitória de Joe Biden ou de Donald Trump?
Ainda não estabelecemos cenários alternativos dependendo de quem vencer. Biden é mais fácil prever, porque tende a ser um governo de continuidade. Mas, caso saia vitorioso, Trump será um presidente mais focado e disciplinado na concretização dos seus objetivos, com uma equipe próxima e que estará mais preparada desde o primeiro dia para atingir os objetivos da sua agenda conservadora.

Quais objetivos?
Tem um documento que está circulando muito nos Estados Unidos chamado Projeto 2025, que foi coordenado pela think-tank Heritage Foundation, que serve como um guia do que seria uma presidência sob Trump. O que os conservadores querem é obter muitas conquistas rapidamente. Essa seria a diferença para o mandato anterior dele, ou seja, será mais disciplinado que o primeiro.

O Citi prevê uma recuperação econômica da China no curto prazo?
Para a China estimamos um crescimento de 5% em 2024. E depois alguma desaceleração em 2025 para 4,6%. Mas acreditamos que a partir daí a China regressará ao crescimento, ou seja, 5% – o que é o novo normal. Nossos economistas chineses acreditam que grande parte da desaceleração já passou e que o governo tem dado prioridade a um pouco mais de estímulo marginal no futuro para a economia interna e para a economia global.





Fonte: Neofeed

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No projeto Tão Longe, Tão Perto, o “milagre da expansão” acontece no vinho que sai da torneira

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No projeto Tão Longe, Tão Perto, o
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Fundador, em 2014, do primeiro wine truck do Brasil, o Los Mendozitos, voltado à venda em taça de vinhos de baixa intervenção importados da Argentina, o engenheiro industrial com especialização em sustentabilidade, Ariel Kogan, se rendeu aos vinhos nacionais. “A alta do dólar me obrigou a olhar com mais atenção para o mercado nacional e acompanhar a evolução da qualidade na última década”, conta ao NeoFeed.

Sem perder o foco nos pequenos produtores éticos e no desafio de tornar o consumo da bebida mais descontraído, Kogan vem investindo desde 2021 no projeto Tão Longe, Tão Perto (TLTP), ao lado da sommelière Gabriela Monteleone. Voltada à comercialização de vinhos leves, descomplicados e de fácil entendimento em growlers (garrafas reutilizáveis de 1 a 2 litros) e kegs (barris de 20 litros), engatados a torneiras como as de chopp, a plataforma tem visto sua frente de negócio mais recente, a Casa Tão Longe, Tão Perto, ganhar asas.

Inaugurado em meados de 2023, no bairro paulistano da Barra Funda, o espaço com 12 torneiras, poucas mesas e uma pequena seleção de comidinhas de fácil serviço (principalmente queijos e embutidos), foi pensado para ser uma espécie de showroom da marca. O objetivo era atrair para lá clientes potenciais de restaurantes e hotéis interessados na compra a granel dos vinhos brasileiros de pequenos produtores artesanais selecionados por Gabriela. Além de promover o sistema de torneiras (taps), que permite otimizar a venda em taça.

Para se ter uma ideia das vantagens, enquanto uma garrafa mantém as propriedades sensoriais de um vinho, no máximo, por três a quatro dias depois de aberta, um barril engatado em torneira consegue preservar a qualidade da bebida por até um mês. Além disso, o CMV (custo da mercadoria vendida) por taça pode cair em pelo menos 50%, segundo Kogan, devido ao menor custo da embalagem e transporte.

Assim, não demorou para a Casa chamar a atenção do público final pela oferta de brancos, rosés, tintos e laranjas a preços atrativos. Além de investidores, que viram no modelo inovador, simplificado e de baixo custo do bar uma oportunidade de negócio, puxando organicamente a expansão para outras praças.

Como resultado, em apenas um ano, mais duas unidades foram abertas: uma na cidade do Porto, em Portugal, e outra no Rio de Janeiro, cujo faturamento inicial está superando em 50% o da unidade paulista antes mesmo de fechar o mês.

Não por acaso, uma terceira unidade já está prevista para breve, em Lisboa. “Estamos procurando ponto”, diz Kogan.

Com tíquete médio de R$ 90, as Casas TLTP representam hoje 25% do faturamento da marca, mas a expectativa é que a fatia ultrapasse os 50% nos próximos anos com a ampliação do número de pontos.

“Ainda estamos analisando os dados e os vetores de crescimento com cuidado, mas há um grande potencial de expansão nos pontos de venda, que exigem menor investimento de capital do que a operação de distribuição de vinhos”, avalia o empresário, que não descarta a possibilidade de adotar o modelo de franquias a longo prazo.

Por enquanto, a expansão ocorre com parceiros locais, como, no Rio de Janeiro, com os empresários Nelson Soares e Juan Manoel Prada, do restaurante Sult, e Ricardo Rebello, do gastrobar Sebastian. O investimento em cada loja gira em torno de R$ 400 mil a R$ 500 mil.

A visibilidade trazida pelas Casas deve ainda ajudar a impulsionar as demais operações da plataforma, que atualmente conta com 20 clientes com torneiras instaladas em todo o Brasil. Entre eles estão os restaurantes Shuk, Futuro Refeitório, Cuia, Bráz Trattoria e Le Bulô, em São Paulo; Manga, em Salvador, e Casa Vivá, em Porto Alegre.

Segundo Kogan, a Tão Longe, Tão Perto se guia pela A conexão com o produtor, o diferencial do produto e a sustentabilidade (Foto: Divulgação/Tão Longe,, Tão Perto)

Além de barris, os vinhos são comercializados em growlers, garrafas reutilizáveis de 1 a 2 litros (Divulgação/Tão Longe, Tão Perto)

Hoje, a instalação de torneiras responde por 25% do faturamento da plataforma e a distribuição dos vinhos representa 50% (Divulgação/Tão Longe, Tão Perto)

O projeto Tão Longe, Tão Perto foi lançado em 2020, pela a sommelière Gabriela Monteleone (Reprodução Instagram @gabrielamonteleone)

Atualmente, a instalação de torneiras responde por 25% do faturamento da plataforma e a distribuição dos vinhos curados por Gabriela e envasados em diferentes recipientes representa 50%. “Essa é uma operação que deve crescer junto com as Casas”, acredita Kogan.

Uma nova frente de negócios ainda começa a ser desenhada, retomando a experiência do wine truck, para levar os vinhos da marca a eventos, em carrinhos móveis com torneiras.

Um efeito colateral da expansão, entretanto, já afetou a fidelidade ao produto brasileiro. Com a ida para a Europa, decidiu-se que a oferta de vinhos seguirá priorizando vinhos leves e de fácil entendimento feitos por pequenos produtores voltados à vinicultura de baixa intervenção, mas os rótulos serão selecionados localmente em prol da sustentabilidade. “Este sempre foi nosso principal drive”, enfatiza Kogan, que é um dos idealizadores do Programa Cidades Sustentáveis, da Rede Nossa São Paulo.

“Não estamos fechados a levar uma bebida de um país para o outro, mas terá de ser algo muito diferente, que faça sentido pelo diferencial”, diz Kogan, citando um fermentado de açaí feito no Acre que o surpreendeu recentemente.

Assim, uma nova curadoria começa a tomar corpo em Portugal, onde o número de vinhos naturais selecionados em regiões como Dão e Douro já supera o de torneiras instaladas na Casa TLTP do Porto.

“Já poderíamos colocar mais quatro torneiras, totalizando dez”, conta ele, que não descarta abraçar também a distribuição a granel de seus achados. “Não somos um movimento de exclusão de nada. Nem de garrafas, nem de importados. A conexão com o produtor, o diferencial do produto e a sustentabilidade é que vão nos guiar.”

Então, já que existe a brecha, há chance de vermos vinhos de pequenos produtores argentinos no portfólio da TLTP, voltando para o início do ciclo? “Se tivermos uma Casa em Buenos Aires ou Mendoza, sim. Mas aqui vamos priorizar o Brasil, até porque, pela legislação, não é possível importar vinhos a granel de lá para cá.”





Fonte: Neofeed

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A natureza lírica e avassaladora de Hayao Miyazaki

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A natureza lírica e avassaladora de Hayao Miyazaki
Tempo de Leitura:4 Minuto, 22 Segundo


VENEZA – Documentário exibido no 81º Festival de Veneza ajuda a explicar a genialidade do ícone da animação japonesa Hayao Miyazaki e de seu Studio Ghibli, que há quatro décadas dá profundidade e sofisticação ao gênero.

O foco de Miyazaki, l’Esprit de la Nature (Miyazaki, o Espírito da Natureza) é sobre a preocupação do cineasta de 83 anos com o meio ambiente, refletida em obras-primas como Nausicaä do Vale do Vento (1984), Meu Amigo Totoro (1988), Princesa Mononoke (1997) e A Viagem de Chihiro  (2001), entre outras.

Seja com florestas povoadas por criaturas mágicas ou com uma natureza furiosa por causa dos abusos sofridos, Miyazaki construiu uma filmografia questionando a relação do homem com todas as coisas vivas.

Ao longo de sua trajetória, o diretor, acostumado a encantar a plateia com paisagens silvestres de tirar o fôlego, nunca conseguiu ignorar a capacidade destrutiva da humanidade — embora algumas vezes ele prefira apostar na regeneração da natureza, por ser algo sagrado.

“Para apreciar profundamente a obra de Miyazaki, um dos artistas vivos mais reverenciados no mundo, é preciso analisá-lo em um contexto ambiental”, contou ao NeoFeed o diretor do filme, o francês Léo Favier.

Ele desembarcou no Lido de Veneza, estância balneária onde é realizado o festival italiano, às margens do Mar Adriático, para a première mundial do título que foi selecionado para a mostra Venice Classics, dedicada à memória do cinema.

A natureza é, muitas vezes, impactada nas histórias de Miyazaki por essas refletirem uma sociedade obcecada por conquistas, guerras e consumismo.

“Por mais que o cineasta tenha mudado e evoluído ao longo das décadas, seus filmes foram sempre carregados de guerra e destruição, o que também espelha o que ele enfrentou ainda na infância, moldando a sua visão de mundo”, afirmou Favier.

O documentarista se refere ao fato de Miyazaki ter sobrevivido a bombardeios, quando tinha entre três e quatro anos, ocasiões em que a sua família foi forçada a trocar de cidade. E o pai de Miyazaki ainda foi diretor de fábrica que confeccionava lemes para aviões de combate durante a Segunda Guerra.

Isso explica sua fascinação por aviação e, ao mesmo tempo, a culpa que o diretor já admitiu sentir por sua família ter feito dinheiro com a guerra.

“Nada é preto no branco nos seus filmes de Miyazaki, que sempre abraçou as contradições. Ele deixa que as situações sejam bagunçadas e complicadas, exatamente como é a vida, sem se limitar pensando em uma faixa etária específica para cada história”, comentou Favier.

O fato de suas obras serem concebidas para entreter todas as idades (e não apenas crianças) é o que garantiu mais profundidade, levantando questões filosóficas, sociais e políticas.

Um dos filmes mais ecológicos de Miyazaki foi Princesa Mononoke, onde mais de 144 mil desenhos feitos à mão dão vida a todo um ecossistema, com árvores, plantas, animais e espíritos dividindo uma paisagem estonteante, à beira da extinção. Mas o tom de alarme, pelo conflito aparentemente irremediável entre a natureza e a industrialização, não o impediu de acrescentar lirismo à trama, já que a floresta tem alma própria.

Os filmes do cineasta japonês refletem a grandiosidade da natureza, como Meu Amigo Totoro, de 1988 (Studio Ghibli)

Miyazaki construiu uma filmografia questionando a relação do homem com todas as coisas vivas (Foto: ©M6 MediaBank / Métropole Télévision)

Graças ao sucesso de “Nausicaä do Vale do Vento”, de 1984, Miyazaki conseguiu fundar o Studio Ghibli (Reprodução themoviedb.org)

“A Viagem de Chihiro”, de 2001, é considerada uma das obras-primas da animação (Reprodução themoviedb.org)

Segundo o biólogo Shin-Ichi Fukuoka, entrevistado no documentário, Princesa Mononoke se baseia em duas grandes questões: o que é a vida e o que é ser um humano. “No final, Miyazaki nos faz entender que nós somos parte da natureza, não muito diferente dos outros organismos em termos de mecanismo celular e DNA”, comentou o especialista.

Foi graças ao sucesso de Nausicaä do Vale do Vento, ambientado em futuro distópico onde a humanidade está ameaçado por um ar tóxico e insetos gigantes, que Miyazaki conseguiu fundar o Studio Ghibli.

A cena de abertura, com a princesa Nausicaä pousando em floresta estranha, porém majestosa, dá uma ideia da reconciliação almejada pelo cineasta. E muito antes de a questão ambiental se tornar um tema recorrente na produção audiovisual.

“O que Miyazaki sugere aqui é a interação entre natureza e seres humanos. Em vez de o homem insistir em dominar a natureza, ele deveria se engajar com ela, de modo respeitoso. O que sentimos é uma inteligência amorosa e uma consciência de que todos estamos conectados no universo”, comentou a escritora Susan Napier, autora do livro Miyazakiworld: a Life in Art, também em depoimento no filme.

O documentário examina outros filmes que refletem a grandiosidade da natureza, pelas lentes de Miyazaki, como Meu Amigo Totoro. Aqui o que ajuda duas irmãs a enfrentarem uma fase difícil, com a mãe hospitalizada, são as aventuras que vivenciam com os espíritos da floresta, conhecido como “totoros”.

É com esses seres fantásticos, em especial com o líder deles, que a dupla aprende a encarar a dura realidade, mas sem se esquecer da beleza, da poesia e da magia da vida, em tudo o que nos cerca.





Fonte: Neofeed

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Os planos “íntimos” da Hope: 10,5 milhões de peças e R$ 500 milhões de receita

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sandra chayo hope
Tempo de Leitura:3 Minuto, 42 Segundo


A fábrica do Grupo Hope em Maranguape, localizada na região metropolitana de Fortaleza, vai passar por um “banho de loja”. A marca de moda íntima, praia e fitness prevê um investimento robusto em novas tecnologias de fabricação, que devem dar suporte aos planos ambiciosos da companhia.

O grupo liderado por Sandra Chayo, filha do fundador Nissim Hara, projeta produzir 10,5 milhões de peças em 2024, uma expansão de 50% sobre o ano passado. Esse crescimento vai estar calcado em produtos básicos e acessíveis, uma revisão da estratégia da companhia que contou com a ajuda da consultoria Bain & Company.

“Chegamos à conclusão de que, se conseguíssemos atingir as classes B2 e C [renda estimada entre R$ 2 mil e R$ 6 mil], que ainda não consumiam os nossos produtos, poderíamos aumentar de forma significativa o nosso público endereçável”, afirma Chayo, diretora do Grupo Hope, ao NeoFeed.

A Hope marca está investindo R$ 20 milhões para voltar as suas origens – afinal a empresa, criada em 1966, começou com esse tipo de produto. Nesse orçamento está tanto as peças de marketing, como o desenvolvimento da linha Light, que traz produtos a preço de entrada, partindo de R$ 29,90 (cerca de R$ 10 abaixo das demais coleções).

A coleção, que chegou às mais de 3 mil lojas que atuam com a marca no primeiro semestre, já é a terceira mais expressiva em número de peças vendidas, atrás da Touch e Nude, que partem de R$ 39,90 e R$ 79,90 e estão entre as mais vendidas há anos.

“Quando entrei na empresa, em 1999, o movimento era justamente o contrário, de transformar uma marca popular, que só era vendida em lojas multimarcas, em algo mais sofisticado. E deu certo. Agora, entendemos que precisamos descer esse degrau novamente”, afirma Chayo.

Em 25 anos como diretora da empresa familiar, Chayo foi a responsável por todos os movimentos da operação: desde a expansão via franquias até a criação das outras duas marcas que estão no portfólio: a Bonjour Lingerie e a Hope Resort, de moda praia e fitness.

O próximo passo é dobrar o número de lojas em cinco anos. Hoje, a Hope detém 280 franquias e 9 lojas próprias. Em 2023, o grupo faturou R$ 350 milhões apenas na rede franqueada.

Segundo a Hope, a companhia teve um crescimento de 35% no faturamento no primeiro semestre e projeta acelerar nesta segunda metade do ano, podendo atingir a casa dos 40% no ano contra ano – o que faria a companhia se aproximar dos R$ 500 milhões em receita. Na visão de Chayo, essa receita só deve ser atingida em 2025.

Na visão do sócio da consultoria Varese Retail, Alberto Serrentino, a iniciativa do Grupo Hope é acertada. “O momento da companhia é muito bom. Ao mesmo tempo que eles conseguem conversar com o público premium nas lojas monomarcas, o grupo também tem desempenhado um bom trabalho ao atingir a camada mais baixa de consumidores”, afirma.

Para ele, a recuperação de mercado pode beneficiar ainda mais a companhia nessa nova fase. “A renda está crescendo, o desemprego caindo e o mercado de trabalho se aquecendo, o que ajuda o setor de consumo de semiduráveis, como é o caso da Hope”, diz Serrentino.

Falando em concorrentes, Serrentino acredita que há espaço para todo mundo. Ele afirma que existem diversos players no mercado com posicionamento, perfil de produto e canais distintos, como é o caso de marcas como Valisere, Intimissimi e Loungerie.

O homem na mira

Lançada há dois anos, as peças voltadas ao público masculino da Hope, ainda não decolaram. Isso não impediu o grupo de investir ainda mais no segmento, incluindo peças voltadas para os homens tanto na linha Light, com cuecas, como na Hope Resort, com vestuário fitness, que será lançado em outubro.

“A linha masculina na Hope está crescendo e a cueca da Light está vendendo como água. O consumo por parte dos homens é muito diferente do das mulheres. Eles compram em quantidade, normalmente uma dúzia de cuecas por vez, o que é ótimo para nós”, diz Chayo.

Pensando no público unissex, a marca também está entrando na disputa pelo mercado de meias, que hoje conta com concorrentes como Lupo e gigantes esportivas como Nike e Adidas. Ainda em fase de testes em algumas lojas, a coleção completa o portfólio do grupo e busca atingir todos os públicos que agora consomem os produtos Hope.





Fonte: Neofeed

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