Negócios
A previsibilidade do Brasil, a surpresa dos EUA e a dúvida da Argentina, segundo o economista-chefe do Citi
Economista-chefe para América Latina do Citigroup, o mexicano Ernesto Revilla precisa dedicar atenção para uma região com economias díspares, de um Brasil com inflação baixa a uma Argentina ainda lutando para fugir da hiperinflação, além da incógnita que representa o futuro governo da presidente eleita do México, Claudia Sheinbaum. E, de quebra, acompanhar impacto dos juros nos Estados Unidos na região.
Nesta entrevista ao NeoFeed, Revilla, no entanto, demonstra equilíbrio ao analisar cada cenário. Chega a ser surpreendente sua moderação ao comentar a turbulência política e econômica recente no Brasil: elogiou a decisão do Copom de manter, de forma unânime, a taxa Selic em 10,5% e não acredita que um impulso fiscal do governo altere a previsão do banco de crescimento do PIB do Brasil para 2024 e 2025, por exemplo.
“Estamos nos aproximando de um longo período de manutenção da Selic sem alteração, apesar de existirem pressões nos dois sentidos caso surjam riscos”, diz Revilla. “Mas uma taxa Selic de 10,5% ao ano é consistente com uma inflação que está na meta no horizonte da política monetária”.
Além disso, Revilla prevê uma recuperação do real em relação à moeda americana, fechando 2024 cotado a R$ 5,16 por dólar e, no fim de 2025, a R$ 5,07 – bem abaixo da cotação atual (R$ 5,39). A recente oscilação da moeda, assegura, foi determinada, em parte, pela reação “exagerada” do mercado a notícias ruins, como as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
O otimismo de Revilla se estende à queda dos juros pelo Federal Reserve, o BC dos EUA. Diferentemente dos economistas americanos, que preveem dois cortes dos juros em 2024, o Citi trabalha com três cortes de 0,25 ponto percentual nos juros até dezembro, seguidos de mais oito cortes em 2025.
Leia a seguir trechos da entrevista, concedida por Revilla antes de desembarcar em São Paulo para participar da 16ª edição da Equity Conference do Citi Brasil, cuja programação terá painéis com analistas globais a partir desta terça-feira, 25 de junho.
Quais as perspectivas do Citi para a taxa Selic no Brasil? Foram alteradas depois que o Banco Central manteve a Selic em 10,5%?
Foi uma decisão esperada e responsável do BC. Estávamos esperando a manutenção da Selic sem mudança e achamos interessante ter sido unânime, uma mostra de que a decisão foi técnica, com a qual o mercado concorda.
Para o Citi, manter a taxa Selic no patamar atual é suficiente para prever uma inflação dentro da meta de 3% para 2025?
Acreditamos que sim. E acho que, de fato, estamos nos aproximando de um longo período de manutenção da Selic sem alteração, apesar de existirem pressões nos dois sentidos. Se a economia voltar a acelerar ou tivermos uma maior expansão fiscal haverá tendência para uma taxa de juro mais elevada. Se ocorrer um abrandamento inesperado na economia, os juros devem cair. Mas apostamos que estes riscos permanecerão equilibrados e uma taxa Selic de saída de 10,5% ao ano é consistente com uma inflação que está na meta no horizonte da política monetária.
“Uma taxa Selic de 10,5% é consistente com uma inflação na meta no horizonte da política monetária”
O que poderia ter maior impacto na trajetória da inflação brasileira: mercado de trabalho aquecido, setor de serviços ou pressão fiscal?
No momento, uma atenção maior deve ser dada ao comportamento do mercado de trabalho, que continua apertado. Prevemos uma taxa de desemprego no Brasil fechando o ano em 7,0%, baixando em 2025 para a 6,8%. Também é preciso ficar atento à inflação de serviços e a de bens comercializáveis, devido à desvalorização do real, e ao comportamento recente dos mercados de commodities. O mercado está prestando atenção para ver se a inflação externa não afeta os preços locais no Brasil.
Essa instabilidade fiscal pode afetar a expectativa do Citi de crescimento do Produto Interno Bruto do Brasil para 2024?
Temos uma expectativa de crescimento de 2% do PIB em 2024 e 1,5% do PIB em 2025. Não acreditamos que um impulso fiscal maior possa mudar significativamente essas trajetórias de crescimento, mas poderia aumentar o prêmio de risco sobre os ativos brasileiros.
A cotação do real já estava sendo impactada pelo cenário americano, mas caiu mais com a tensão interna. Qual a previsão do Citi do câmbio para 2024 e 2025?
Fizemos alguns ajustes, na perspectiva de um dólar mais forte na economia dos EUA e de maiores riscos nas economias emergentes. Mas continuamos otimistas quanto à redução dos prêmios de risco. Nossas estimativas para o real são muito favoráveis: R$ 5,16 por dólar no fim de 2024 e R$ 5,07 por dólar no fim de 2025.
O que explica essas cotações futuras do dólar bem inferiores às atuais?
O mercado reagiu de forma exagerada a algumas questões locais. Tivemos as enchentes no Rio Grande do Sul e muito ruído com a questão fiscal e o voto dividido do Copom anterior. Mas, na nossa visão, apenas a tragédia das cheias e o custo fiscal que isso terá são fatores relevantes. As outras questões serão absorvidas pelo mercado e desaparecerão.
Uma taxa Selic mais elevada por mais tempo é preocupante?
A alta taxa de juros será um atrativo suficiente para continuar investindo em ativos brasileiros, que vão dar suporte à moeda. É por isso que estamos mais otimistas de que a volatilidade poderá passar no fim do ano.
As críticas do presidente Lula ao Banco Central indicam que a tensão causada com a sucessão de Roberto Campos Neto na presidência do BC, até a escolha do nome, deverá prosseguir. O Citi trabalha com esse cenário?
Os debates que existem entre o Poder Executivo de vários países e seus bancos centrais sempre existiram e continuarão. Isso já vinha ocorrendo até mesmo nos EUA, quando Donald Trump foi o presidente. Isso faz parte do novo normal, ao qual o mercado vai se acostumar. Dito isso, acredito que a forma com que esse debate é conduzido é importante.
A forma na condução desse debate recente no Brasil foi equivocada?
Se o mercado perceber que há pressão, isso é contraproducente porque o prêmio de risco aumenta, a moeda se desvaloriza e torna a inflação mais difícil de baixar. Mas em todos os países, os debates são bem-vindos.
O presidente Lula completou um ano e meio de governo. Qual sua avaliação?
Acredito que, tendo em conta as difíceis circunstâncias internas e externas, foi feito um bom trabalho. O presidente Lula soube guiar a economia em decisões difíceis, equilibrando as necessidades de crescimento e as demandas sociais, mantendo esses dois fundamentos macroeconômicos.
Algo o surpreendeu?
O Brasil fez conquistas que não esperávamos antes do governo Lula, como a reforma tributária que o novo imposto sobre valor agregado nos dará. Acho que essas reformas serão transformadoras, embora demorem porque temos um longo período de transição. Mas contextualizando, principalmente com a preocupação antes da presidência do Lula, parece-me que o mercado tem geralmente recebido em bons termos as decisões de política econômica desta administração.
Qual a previsão do Citi para o início da queda dos juros nos EUA?
Durante o ciclo de aumento das taxas fomos mais hawkish (duros) do que o mercado e estávamos certos. Agora, o mercado está apostando em dois cortes do Fed na taxa de juros, de 0,25 ponto percentual (pp) cada. No Citi, esperamos três cortes de 0,25 pp até dezembro, começando em setembro, e oito cortes de juros em 2025.
“Esperamos três cortes dos juros nos EUA até dezembro e outros oito cortes em 2025”
Qual razão para esse otimismo maior em relação ao mercado?
O motivo é o enfraquecimento da economia americana, que agora é mais evidente no mercado imobiliário, no consumo de bens e principalmente em alguns setores do mercado de trabalho.
Qual o impacto da demora do início do ciclo de cortes de juros nos EUA nos países da América Latina?
Está, sem dúvida, menor do que no passado. Desde a Segunda Guerra, quando o Fed subia os juros, a América Latina caminhava para uma crise. A crise da dívida latino-americana da década de 1980 começou com o México, quando a Fed começou a aumentar as taxas de juros, e depois espalhou-se pela região. O recente ciclo de aumento de juros nos EUA felizmente não atrapalhou as economias da região porque elas se encontram mais fortes do que no passado.
Entre os países da região, quais os que exigem mais atenção?
Aqueles onde o Fundo Monetário Internacional (FMI) está envolvido como, por exemplo, Argentina, Equador e El Salvador. E não falemos da Venezuela, que sequer permite a intervenção de organismos multilaterais.
O Citi prevê uma rápida recuperação econômica da Argentina sob o governo de Javier Milei ou ainda é cedo para fazer uma previsão segura?
O desempenho econômico da Argentina tem sido melhor que o esperado até agora, e isso tem que ser comemorado. A inflação foi reduzida significativamente, mas o mercado ainda tem dúvidas sobre o quão permanente será esse ajuste.
Quais dúvidas?
O ajuste foi feito, em grande parte, em setores onde pode não ser sustentável mantê-lo, como por exemplo na redução dos salários públicos. Isto pode ser alcançado durante um certo tempo, mas pode não ser permanente, tal como a redução das transferências para governos estaduais. A analogia que faço é de um paciente na UTI que tem muitos problemas, que está muito frágil e os médicos conseguiram estabilizá-lo, mas ele ainda não está fora de perigo.
O México também entra num período de mudança de governo. Qual a perspectiva do Citi para a economia mexicana no curto e médio prazo?
O México vive um momento interessante de profundas mudanças. Na parte política, o modelo de partido único, hegemônico e extremamente poderoso do passado voltou, com a surpresa da última eleição, onde o Morena, o partido no poder, obteve uma supermaioria. Isso deixou o mercado nervoso com a possibilidade de uma série de reformas que irão enfraquecer os pesos e contrapesos e o quadro institucional.
A presidente eleita Claudia Sheinbaum é mais pró-mercado que o atual presidente, López Obrador?
Ainda não sabemos. Sheinbaum reiterou o programa que López Obrador estabeleceu para a reforma social e institucional e acredita nos princípios fundamentais do Morena, que é maior participação do Estado na economia. O México começa a apresentar pressões fiscais que não se viam nos últimos anos. O que é difícil de prever é se ela vai cumprir a promessa de responsabilidade fiscal e de uma macroeconomia ordenada.
No ano passado, o México ultrapassou a China como o maior exportador de bens para os EUA. O país tem aproveitado essa briga comercial EUA-China?
Sim, mas não no potencial que poderia. O governo López Obrador não fez investimentos para eliminar os gargalos existentes em alguns setores, como eletricidade, água e infraestrutura logística. Talvez isto mude na próxima presidência, pois Sheinbaum apresentou um ambicioso programa de investimentos. Mas isso exigirá espaço fiscal e é precisamente isso que não existe hoje.
É um fardo para Sheinbaum suceder a um líder muito popular como Lopez Obrador?
No México, muitos analistas fazem uma analogia de Sheinbaum com a presidência de Dilma Rousseff no Brasil. Em ambos os casos foram precedidas de presidentes carismáticos – Lula e López Obrador – que eram vistos com reserva pelo mercado antes da posse, mas foram relativamente bem na parte macroeconômica porque tiveram sorte no exterior, com as commodities no Brasil e o near-shoring do México com os EUA. Ambos os presidentes receberam os seus países com grau de investimento e elegeram as sucessoras.
O Citi tem previsões diferentes sobre a economia dos EUA em caso de vitória de Joe Biden ou de Donald Trump?
Ainda não estabelecemos cenários alternativos dependendo de quem vencer. Biden é mais fácil prever, porque tende a ser um governo de continuidade. Mas, caso saia vitorioso, Trump será um presidente mais focado e disciplinado na concretização dos seus objetivos, com uma equipe próxima e que estará mais preparada desde o primeiro dia para atingir os objetivos da sua agenda conservadora.
Quais objetivos?
Tem um documento que está circulando muito nos Estados Unidos chamado Projeto 2025, que foi coordenado pela think-tank Heritage Foundation, que serve como um guia do que seria uma presidência sob Trump. O que os conservadores querem é obter muitas conquistas rapidamente. Essa seria a diferença para o mandato anterior dele, ou seja, será mais disciplinado que o primeiro.
O Citi prevê uma recuperação econômica da China no curto prazo?
Para a China estimamos um crescimento de 5% em 2024. E depois alguma desaceleração em 2025 para 4,6%. Mas acreditamos que a partir daí a China regressará ao crescimento, ou seja, 5% – o que é o novo normal. Nossos economistas chineses acreditam que grande parte da desaceleração já passou e que o governo tem dado prioridade a um pouco mais de estímulo marginal no futuro para a economia interna e para a economia global.
Negócios
A Caatinga, bioma mais pobre do Brasil, pode ser uma solução para a fome
Com o fim da temporada das chuvas, as folhas caem, deixando os troncos esbranquiçados à amostra. Do tupi, “caa”, “mata” e “tinga“, “branca”. Na Caatinga, a natureza parece morta — só que não.
As plantas desfolham para reduzir a perda de água pela transpiração e, dessa forma, sobreviver aos períodos mais secos. Basta a chuva voltar a cair para a paisagem esverdear de novo. Deveria ser assim, como sempre foi. Mas o caos climático está subvertendo a dinâmica do único bioma 100% brasileiro.
Com secas cada vez mais longas e frequentes, a Caatinga está ameaçada virar deserto. E, com o declínio ambiental, vem o agravamento da miséria, da fome e da sede de uma gente há muito depauperada — quase 20% da população rural mais pobre do país vive no bioma e depende dele para sobreviver.
Mas ainda há esperança, revela estudo recém-divulgado pelo Instituto Escolhas. Intitulado Os bons frutos da recuperação de florestas: do investimento aos benefícios, o levantamento da ONG socioambiental mostra: a restauração de 1 milhão de hectares da Caatinga, em áreas de preservação permanente e reserva legal, criaria 465,8 mil empregos e produziria 7,4 milhões de toneladas de frutas, hortaliças e verduras.
É comida em quantidade o suficiente para alimentar as comunidades locais e ainda proporcionar renda extra aos agricultores. Os produtos, aponta o relatório da entidade, poderiam ser incorporados ao Programa Nacional de Alimentação Escolar e vendidos nas feiras e mercados das localidades onde são produzidos — muitas delas, inseridas em desertos alimentares, onde o acesso a alimentos frescos e nutritivos é precário.
Ao fim e ao cabo, os R$ 15 bilhões necessários para a recuperação do 1 milhão de hectares resultariam em R$ 29,7 bilhões em receita líquida — quase o dobro do total investido.
“Isso é renda, isso é gente comendo, isso é mais alimentos nas feiras, isso é a agricultura familiar sendo empoderada”, diz Sergio Leitão, diretor executivo do Instituto Escolhas, em conversa com o NeoFeed. “Ou seja, a recuperação do que já foi desmatado na Caatinga é uma estratégia também de redução da pobreza, de combate às desigualdades e pelo fim da fome.”
O modelo avaliado pela organização é o chamado sistema agroflorestal (SAF). As agroflorestas alinham os interesses ecológicos aos econômicos, conciliando o plantio de espécies nativas com culturas agrícolas — os dois interagindo entre si e ambos se beneficiando mutuamente.
De um lado, a preservação ambiental, com a promoção da biodiversidade, melhoria da qualidade do solo, controle da erosão, preservação dos recursos hídricos… e de outro, o cultivo sustentável de alimentos, com alívio da pressão sobre a terra e a água, queda na incidência de pragas e doenças e, consequentemente, redução da necessidade de agrotóxicos.
Luz no fim do túnel
Atualmente, no Brasil, a produção agroflorestal é desenvolvida majoritariamente pela agricultura familiar. E, como define a Confederação Nacional dos Agricultores Familiares, a Caatinga é “o bioma mais rural do país”. Cerca de 32% dos estabelecimentos agropecuários estão na região.
E pouco mais de 25% de seus 28 milhões de habitantes trabalham no setor agropecuário, enquanto a média nacional é de cerca de 6%, informa o estudo Agricultores familiares da Caatinga e do Cerrado: Mapeamento para a promoção de uma transição rural justa no Brasil, elaborado pela ONG Climate Policy Initiative (CPI).
Das cerca de 1,6 milhão de propriedades rurais da região, 75% têm, no máximo, 20 hectares. Ou seja, o bioma é dos pequenos produtores. Mas há um (enorme) problema, como alertam os analistas da CPI.
“Os agricultores familiares da Caatinga apresentam níveis mais baixos de produtividade e de acesso à assistência técnica. Ainda mais importante é o fato de que um grande número de agricultores familiares depende da agricultura de subsistência e vive em locais de extrema pobreza. Tal realidade os expõe ainda mais ao risco climático, devido ao acesso restrito a mecanismos de mitigação, como seguros ou insumos resilientes ao clima.”
Um passo importante rumo à preservação produtiva do bioma foi dado nesta quarta-feira, 11 de dezembro. Por unanimidade, a Comissão de Meio Ambiente do Senado aprovou o projeto de lei (PL) 1990/2024, que institui a Política Nacional para a Recuperação da Vegetação da Caatinga.
Proposto pela senadora Janaína Farias, do PT, do Ceará, o dispositivo determina, entre outras medidas, a ação articulada da União, Estados, municípios e ONGs para a formulação e implementação de políticas públicas para a restauração e o uso sustentável dos recursos ambientais do ecossistema. E, isso, com a participação das comunidades locais, prevendo a capacitação dos trabalhadores. O projeto segue agora para apreciação da Câmara dos Deputados.
“A aprovação do PL é um marco histórico. Pela primeira vez, um bioma no Brasil terá uma política própria para guiar a sua recuperação”, comemora o diretor executivo do Instituto Escolhas. “Para que a bioeconomia possa crescer, essas comunidades precisam de apoio. O Brasil, por exemplo, é forte no agro porque foi feito todo um aporte de investimentos e formação de pessoal.”
Uma evolução muito peculiar
Se aprovado também na Câmara, o PL acena com a promessa de um olhar mais atento e cuidadoso para uma região que, desde sempre, sofre com a “falta de vigor institucional”, como definem os pesquisadores do projeto No Clima da Caatinga.
“Há menos conhecimento científico produzido sobre o bioma e menos grupos de pesquisadores seniores em atividade, se compararmos com a Amazônia e a Mata Atlântica, mesmo a Caatinga apresentando biodiversidade comparável”, escrevem os especialistas no relatório Caatinga, a floresta que é a cara do Brasil.
Estendendo-se pelos nove estados do Nordeste e o extremo norte de Minas Gerais, a Caatinga já perdeu 34 milhões de seus 82,6 milhões de hectares. É o quarto maior bioma brasileiro, atrás apenas da Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado e à frente do Pampa e do Pantanal.
Durante milênios, a região passou por oscilações intensas de temperaturas, curtos períodos de tempo nos quais o calor e o frio se alternavam drástica e rapidamente, submetendo a flora e fauna a um processo evolutivo muito particular.
Assim, algumas espécies não são encontradas em nenhuma outra floresta semiárida, apenas aqui — o que explica a importância do bioma para o planeta.
Três em cada dez plantas da região são endêmicas. Mandacaru, xique-xique, catingueira, barriguda e umbuzeiro, por exemplo, são privilégio brasileiro. Tal qual 317 dos 1.1824 tipos de animais. Entre eles, o tatu-bola, o periquito-cara-suja, o mocó, o tamanduá-mirim, o veado catingueiro… dos quais 47 estão ameaçados de extinção.
Negócios
Com Selic em alta, empresas enfrentam desafio ainda maior em rentabilidade
Na última reunião presidida por Roberto Campos Neto, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu, nesta quarta-feira, 11 de dezembro, elevar a taxa Selic em 1 ponto percentual, para 12,25% ao ano.
A decisão representa um baque para muitas companhias listadas na B3, que se encontram num momento em que não conseguem rentabilizar o capital em magnitude suficiente para cobrir o custo do dinheiro, prejudicando a atração de recursos para investimentos.
E considerando que a Selic deve seguir subindo em 2025, as companhias devem sofrer ainda mais para entregar uma rentabilidade capaz de atrair investidores, pagar suas dívidas e ter recursos para expandir as operações.
Esta é a conclusão de um estudo conduzido pela Málaga Assessoria em Finanças Corporativas e Contabilidade Societária, obtido com exclusividade pelo NeoFeed, que analisou 261 empresas listadas na Bolsa no período de 12 meses até 30 de setembro.
O estudo calculou a rentabilidade das companhias listadas, numa média histórica. O que se viu é que 75% das empresas apresentam rentabilidade inferior a 10% ao ano. A média foi de 7,76% ao ano, com 45 companhias apresentando rentabilidade negativa.
“O Brasil está desestimulando os investimentos corporativos, a iniciativa, o empreendedorismo, a pesquisa e o desenvolvimento, por conta do ambiente de juros elevados”, diz Flávio Málaga, sócio fundador da Málaga Assessoria, ao NeoFeed.
Os juros são apenas uma parte da equação da questão da rentabilidade, mas representam um aspecto importante da equação, considerando o peso que tem sobre as despesas financeiras das companhias, além de ser um sintoma de uma questão que poderia ter sido endereçado pelo governo através de um ajuste fiscal crível.
Málaga destaca que existe uma “trava concorrencial estrutural” para as empresas aumentarem sua rentabilidade, o que é natural, considerando que muitas companhias enfrentam mercados concorridos, o que naturalmente acaba limitando os ganhos.
“Muitas empresas enfrentam um ambiente concorrencial que impede de auferir grandes rentabilidades, muitas têm teto para aquilo que podem render”, afirma ele. “Mas temos um país que não cresce e uma alta despesa com juros. Essa combinação toda derruba a rentabilidade.”
São poucas as empresas que conseguem contornar a situação, que é o caso da WEG. Um dos principais nomes de seu setor no Brasil e no mundo, com claros diferenciais competitivos, a companhia catarinense consegue entregar uma rentabilidade de 30% ao ano, melhor resultado entre as empresas do estudo. A Ambev e a Vale são outras que estão neste grupo privilegiado, considerando seus tamanhos e relevâncias em seus mercados.
“Para ser uma empresa com uma rentabilidade ótima, a companhia precisa ter uma rentabilidade de 20% ao ano, estaria entre as top 20 ou top 30 do Brasil”, diz o sócio fundador da assessoria financeira.
Málaga destaca que o cenário atual é particularmente nefasto para as empresas de varejo, em que a diferenciação é mais difícil, as rentabilidades são estruturalmente menores e as companhias dependem de dívida para girar estoques e recebíveis.
Das empresas analisadas, 25 delas atuam neste segmento, de RD Saúde e Track&Field, que conseguem apresentar bons índices de rentabilidade, até Casas Bahia e Magazine Luiza, nas últimas posições.
Nesse grupo, segundo Málaga, a margem de lucro gira na casa dos quatro e cinco pontos percentuais sobre a receita. “E as despesas com juros come praticamente todo o lucro operacional”, diz ele. “Se essas companhias estiverem com um desempenho apenas mediano, os juros vão corroer o lucro.”
Para incentivar novamente os investimentos em empresas, Malaga diz que os juros precisariam estar, nominalmente, entre 7% e 8% ao ano, para incentivar novamente os investimentos em empresas, levando em conta a rentabilidade que as companhias vêm apresentando. Mas sem um sinal de ajuste crível do governo federal, a situação deve permanecer difícil para as empresas.
Negócios
A estratégia da Novo Nordisk para enfrentar o fim da patente do Ozempic no Brasil
A menos de dois anos da expiração da patente no Brasil dos blockbusters Ozempic e Wegovy, a farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk se prepara para a inevitável perda de mercado com o fim da exclusividade sobre a molécula da semaglutida. Sua estratégia: a modernização e ampliação bilionária da fábrica de Montes Claros, em Minas Gerais.
A companhia acaba de anunciar o investimento de R$ 500 milhões, na unidade fabril brasileira. Com o novo aporte, o total destinado às obras, apenas em 2024, chega a R$ 1,36 bilhão. A ideia é triplicar, até 2027, a produção da enzima enteroquinase, essencial para a produção de dois de seus medicamentos mais vendidos no mundo. A substância “made in Brazil” garante o abastecimento do Ozempic e do Wegovy para mais de 70 países.
“A demanda para produtos da empresa teve uma explosão no mundo. Por isso, a gente precisa produzir mais esses medicamentos, o que explica a importância da ampliação da fábrica de enzimas em Montes Claros”, afirma Reinaldo Costa, vice-presidente corporativo da unidade mineira da farmacêutica, em conversa com o NeoFeed.
“A companhia viu a possibilidade de o Brasil ser um fornecedor global de enzimas ao invés de comprar de outras empresas. E isso nos garante um diferencial competitivo”, complementa.
O resultado global do terceiro trimestre da Novo Nordisk explica a decisão da companhia. Só com o Wegovy, o aumento foi de 79%, entre julho e setembro deste ano. No período, o faturamento global alcançou 34 bilhões de coroas dinamarquesas (o equivalente a R$ 28,8 bilhões). O crescimento geral das vendas foi de 24% sobre o terceiro trimestre de 2023.
Corrida pelo genérico
Com o aumento da produção da enzima, o custo de fabricação dos remédios naturalmente cai. E isso é também um fator importante a se considerar no momento em que é dada a largada na corrida pelos genéricos da semaglutida. Laboratórios nacionais, como EMS, Biomm, Cimed e Prati-Donaduzzi, já demonstraram interesse em produzir o composto ativo.
“Toda vez que expira uma patente a concorrência aumenta, e isso é muito bom para o setor de saúde no Brasil”, diz Nelson Mussolini, presidente-executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos do Estado de São Paulo (Sindusfarma), em entrevista ao NeoFeed.
Para ele, faz sentido o investimento da Novo Nordisk em solo nacional para reduzir os custos da fabricação do medicamento. “Com mais capacidade, o custo por unidade vai reduzir. E aí a empresa passa a ter condições de competir em patamar mais flexível com quem for lançar o genérico da semaglutida.”
Ainda que não admita, com a nova fábrica, a Novo Nordisk trabalha para minimizar o possível impacto da perda de parte da fatia de R$ 3,3 bilhões, segundo dados da IQVIA dos últimos 12 meses, das vendas dos dois remédios no Brasil. Por determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os genéricos devem custar, no mínimo, 35% menos do que suas contrapartes de referência.
Atualmente o antidiabético Ozempic e o antiobesidade Wegovy são encontrados nas farmácias por cerca de R$ 1,2 mil e R$ 2,3 mil, respectivamente. Ou seja, os genéricos não poderão ultrapassar R$ 780 e R$ 1,5 mil. Como a competição se anuncia ser acirrada a queda no preço deve ser ainda maior.
No Brasil, a participação dos produtos de marca corresponde a 85% do valor total dos medicamentos vendidos no País. Em unidades, porém, os negócios respondem por 39% do mercado.
Decisão judicial
A Novo Nordisk tentou ampliar o prazo da exclusividade no Brasil, mas não teve sucesso. A empresa entrou com depósito da patente da semaglutida junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) em 2006, o que garante a exclusividade do produto durante 20 anos.
Mas a farmacêutica foi à Justiça, alegando que o prazo venceria em 2029 por causa do atraso do Inpi no processo de registro. Em 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou que a patente teria validade de duas décadas, a partir da entrada do registro. E, em 2023, o Tribunal Regional Federal (TRF-1) confirmou a decisão.
“A dona da patente queria mais prazo do que lei permite, e isso não é possível. Se a empresa é nórdica, argentina ou brasileira, a duração é igual para todas”, diz ao NeoFeed o advogado Pedro Marques Nunes Barbosa, especialista em propriedade intelectual e que atuou em defesa da Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades (Abifina) justamente sobre a patente da semaglutida no Brasil.
No Brasil, o Wegovy chegou às prateleiras das farmácias em julho deste ano, 18 meses após aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em janeiro de 2023, para utilização como medicamento contra obesidade.
Já o Ozempic começou a ser comercializado no País em 2019. A alta procura resultou em escassez do produto no Brasil em alguns períodos deste ano. O medicamento não tem aprovação para uso off-label (fora da recomendação da bula) e é indicado apenas para tratamento do diabetes tipo 2.
Com valor de mercado de US$ 375 bilhões (R$ 2,3 trilhões), segundo a Nasdaq Copenhagen, a ação da Novo Nordisk tem valorização de 13,4% no ano.
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