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Caso Edanbank: o CEO fala sobre o imbróglio
Na quarta-feira, 3 de julho, o NeoFeed publicou a história da M3 Securitizadora de Crédito, que abriu um processo contra o Edanbank para reaver um total de R$ 6,5 milhões.
No documento protocolado no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo na quinta-feira, 27 de junho, a empresa de médio porte que atua no Sudeste e no Nordeste do País afirma que foram feitas “supostas operações bancárias, levadas a cabo por meio de dissimulação de atividades supostamente bancárias. Ocorre que esses valores depositados pela M3 sob custódia do Edanbank não foram, até a presente data, investidos ou restituídos”.
Mais de 24 horas após a publicação da reportagem, o Edanbank encaminhou um posicionamento ao NeoFeed. E, agora, o CEO Eduardo Silva concedeu a entrevista que você lê a seguir.
No início da conversa, Silva explica que recebeu o pedido de entrevista do NeoFeed, mas estava em uma audiência no Fórum João Mendes, diante da juíza Camila de Moraes Bariani, para tentar recuperar uma garantia financeira que foi dada por Rayner Caio Andrade de Souza em uma operação de crédito que não foi paga.
Souza é o triângulo que liga a M3 ao Edanbank. Em 2022, em meio a um processo de captação com family and friends, Souza aportou R$ 10 milhões no Edanbank via Socofit, empresa da qual é sócio-administrador.
Com isso, a Socofit passou a deter 4,76% de ações do Edanbank. Com a operação, o Banking as a Service (BaaS) foi avaliado em cerca de R$ 200 milhões.
O advogado de Souza confirmou ao NeoFeed a compra da participação, mas diz que as ações adquiridas não foram entregues em sua totalidade (veja a íntegra do posicionamento após a entrevista).
Apesar de ser um sócio-investidor do negócio por meio da pessoa jurídica, Souza, acusa o CEO do Edanbank, vem causando prejuízos milionários. O Edanbank calcula um passivo de R$ 20 milhões deixado por seu sócio-investidor.
“Fizemos o processo de venda de ações para a Socofit, que se tornou acionista. Foi a hora que colocamos o pé na armadilha. A partir desse momento, nós demos para ele [Rayner] uma credencial para ele ir nos lugares e dizer: ‘olha, sou sócio do Edan’”, diz Silva.
Além do prejuízo financeiro ao Edanbank, há uma “conta aberta” com terceiros. Para atrair clientes, diz Silva, o sócio-investidor se apresentava como sócio-executivo, fazia a ponte para abertura de conta no Edanbank e colocava uma pessoa de sua confiança (que não era funcionária da fintech) para realizar a movimentação financeira.
As comunicações e assinaturas tinham a marca do Edanbank como garantia para as operações. Mas o que acontecia é que o dinheiro dos clientes da carteira de Souza eram transferidos para uma terceira empresa pertencente a ele, a G2N Telecomunicações. A partir daí, o dinheiro desaparecia. Segundo o Edanbank, eram quatro empresas.
“No decorrer dos próximos dias nós estamos entrando com um pedido de exclusão desse indivíduo da sociedade. Ele é maléfico para a corporação porque tem esse modus operandi”, diz o CEO.
A M3 é uma das quatro empresas que chegou ao Edanbank via Rayner Andrade de Souza, que colocou como “gerente” da conta sua secretária, Tereza Marigliani.
Nesta entrevista, Silva explica como o sócio-investidor foi apresentado ao Edanbank, o prejuízo que ele vem causando ao negócio, as atitudes que vem tomando e o que pensa sobre a M3, que abriu um processo contra eles e não contra o responsável pela transferência do dinheiro – que alega ter provas de que os sócios da securitizadora de crédito, Maicon e Mikael dos Santos Oliveira, deram autorização e acesso para Marigliani fazer as movimentações.
“Tanto a M3 como nós somos vítimas dele [Rayner]”, diz Antonio Pulchinelli Junior, vice-presidente comercial do Edanbank, que estava na sala de reunião onde foi realizada a entrevista com Silva.
Confira, a seguir, os principais trechos:
Como o Rayner Andrade de Souza chegou no Edanbank?
Ele frequenta um clube de charuto e um dos frequentadores é nosso amigo. Assim que nós montamos a operação, esse amigo falou assim: ‘olha, eu queria apresentar para vocês uma pessoa que diz que é do mercado financeiro, faz gestão de investimentos para famílias endinheiradas do Brasil e de fora. É representante da família Tata aqui no Brasil’. Isso remete a 2021. De vez em quando ele vinha tomar café, vinha fazendo algumas operações. A gente sempre achava ele muito cheio de história e a gente sempre refutando em fazer qualquer negócio. Tinha um histórico desse tipo de operação com o Rayner, mas até então nada que desabonasse.
Como ele fez a empresa dele ser acionista?
Em 2022, começamos a crescer e, obviamente, demanda investimento. A gente não consegue com o próprio bolso acompanhar uma empresa que cresce com os números que eu te falei. Já tínhamos feito uma captação de recursos em 2021 e faríamos outra em 2022 para reforçar o caixa da empresa para suportar esse crescimento. Era um bom motivo para buscar dinheiro no mercado. Fizemos um teaser para rodar para várias pessoas e esse indivíduo [Rayner] rapidamente se prontificou. Ele falou assim: ‘olha, eu conversei com o Raul Mehta, que é do grupo Tata.
Era verdade?
Eu vi que Raul Mehta é como José Silva, pode ser qualquer um. Mas, ok, batia o nome e havia uma empresa de sucesso na Inglaterra com produtos esportivos. Então, tudo fechava. E esse indivíduo viria com o recurso de lá para cá para fazer o investimento. Que ótimo, afinal, era um recurso de fora totalmente mapeável, de uma pessoa conhecida, referendada e apresentada por outra pessoa aqui dentro de casa. Vamos tocar.
Vocês cuidaram desse processo?
Seguindo a cartilha, não vamos nós tocar esse negócio, vamos colocar um profissional para negociar e tirar essa passionalidade. Chamamos um terceiro para tocar esse processo e fazer essa negociação toda. Num dado momento, a história mudou e ele [Rayner] fala assim: o recurso vai chegar na terça, vai chegar na quinta, vai chegar na sexta. E temos tudo aqui comprovando, nossas cobranças. Não mandou? Não, veio ordem errada. Falamos, cara, muita historinha, vamos fazer um distrato e seguimos a vida adiante? Não, peraí porque eu fiz uma operação de M&A. Ajudei um empresário a vender a empresa dele e tenho mais de R$ 10 milhões para receber. Ok, vamos esperar.
Por que desta vez o dinheiro existia?
Checamos o empresário que ele apresentou para ser cliente. O empresário, de fato, vendeu uma empresa por cerca de R$ 90 milhões e ele recebeu o recurso. Fizemos aqui uma carta TED, onde esse empresário assinou, que ele estava encaminhando os recursos para a conta da Socofit, que é a empresa do Rayner, no Edan para compra de ações do Edanbank. Ficamos tranquilos, conhecemos a origem do recurso, sabemos que se o empresário está transferindo para ele essa cifra, por mais que não tenha um contrato. Mas tem ali um acordo de bigode que está tudo escrito nessa carta TED, assinada pelo empresário, pelo Rayner.
O que aconteceu?
O recurso veio e fizemos o processo de venda de ações para a Socofit e não para o Rayner, que não é o sócio. Quem é sócio é a Socofit, que é essa empresa. Ele é o administrador da Socofit. Ele se tornou, a Socofit se tornou acionista. E aí foi a hora que colocamos o pé na armadilha.
Por que você chama de armadilha?
A partir desse momento, nós demos para ele uma credencial em que ele ia nos lugares e dizia: ‘olha, sou sócio do Edan’. Mas para uma S.A. aparece quem é sócio? Não aparece, se puxar o CNPJ está o nome dos administradores, não tem nome de Socofit, de Rayner. Então, seja lá quem foi que acreditou que ele fazia parte, que ele era um sócio com todo esse grau de influência, que ele dizia ter, que o Edan era dele, era um subterfúgio. E o Maicon [sócio da M3], aqui em reunião, disse para mim que ele fazia assim: ‘não adianta vocês ligarem lá que o Eduardo é meu arqui-inimigo e não vai confirmar’. Então ele contava uma historinha e ele já dizia para a outra ponta não ligar. E o meu telefone está disponível o tempo todo, se não atender eu retorno depois, porque é um dos princípios que temos.
Como a M3 chegou até o Edanbank?
O Rayner trouxe a M3 para dentro do Edan. Nós não sabemos quem era a M3, não conhecíamos. Trouxe a M3 dizendo assim: ‘tenho uma empresa, que eu assessoro, faço a gestão financeira deles, com a minha secretária. Eles trabalham fazendo um processo de cobrança para o BRB’. Fomos checar no Reclame Aqui quem são esses caras e, de fato, tem lá que fazem cobranças para o BRB. É uma empresa que existe, que presta serviço para o Banco Regional de Brasília, feito. A gente coloca ela aqui por ter uma atividade conhecida. E ele trouxe mais outros quatro ou cinco clientes, eu não me lembro.
Quando é que a coisa começou a se deteriorar com o Rayner?
Em outubro de 2022, ele tomou um crédito através de uma outra empresa que ele é administrador, chamada G2N. Ele precisava comprar um barco para uma atividade que ele tinha com um cliente. Ele tinha parte do capital e precisava de alguma coisa para finalizar. Fizemos uma rodada no mercado, as outras corporações não aprovaram, mas a gente tinha aqui um caixa, a garantia era boa, muito maior do que o valor. Falamos ok. Essa é uma operação que para rentabilizar o fundo nos interessa. E ele começou a perder capacidade financeira, porque talvez ele não estivesse conseguindo pedalar mais e enrolar as pessoas.
E depois disso?
No que ele começou a perder capacidade financeira, a gente entrou com processo. Primeiro uma cobrança amigável. Mas quando percebemos que isso não ia acontecer, a gente começou a cobrar legalmente este bem que está vinculado ao fundo que nós somos consultores, o Edanbank I, que estava na Reag e agora está na Planner. Vamos cobrar porque esse cara virou um devedor contumaz, não é possível. Começamos a cobrar amigavelmente em abril. Ele conseguiu dar umas pedaladas e a partir de maio não conseguiu mais. Ali começou a criar dúvida na relação.
Não houve tentativa de quitação?
Para quitar, ele disse que estava recebendo um recurso do exterior: ‘estou mandando um swift [abreviação de Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication, uma sequência de códigos com 11 caracteres para identificar instituições financeiras no mundo] de um recurso que vai para vocês’. Pegamos aquela informação e mandamos para uma corretora que é a parceira. Falamos, o cara vai receber esse swift e precisamos checar para ver se é verdade. Eles ligaram dando risada: isso aqui nem é número de swift, a quantidade é irregular, nem existe. Percebemos que o cara estava ali transformando documentos para poder empurrar cada vez mais. Na sequência disso tudo, o Maicon, da M3, me ligou: ‘queria conversar com você porque o Rayner desviou dinheiro da nossa empresa’. Eu já pensei: ‘pronto, a nossa desconfiança já começou a virar merda’.
Vocês receberam os sócios da M3?
Poucos dias depois recebemos aqui no escritório. E veio esse contexto: teve uma transferência, um desvio de recursos que vocês participaram. Falei que não tinha como a gente participar porque tecnologicamente é impossível que isso aconteça. Nós não fazemos programação, nós não temos tecnologia, está tudo absolutamente fora daqui. O que fazemos aqui é basicamente uma operação de monitoramento da transferência da tua conta para tua conta. E a partir da tua conta você faz o que quiser. Vamos levantar a informação, checar se teve falha e o que aconteceu.
O que aconteceu?
Enquanto estávamos tomando café, pedimos para que a nossa área de tesouraria levantasse junto do nosso parceiro de tecnologia, o que aconteceu. Puxar o extrato, que a gente não enxerga, e ver quem fez a movimentação, o código e o nome para identificar. Da conta para conta empresa ou pagamento quem fez foi o Maicon, e posso te falar o nome porque eu tenho a documentação aqui, e desta conta para outra, para fora, foi essa tal de Tereza, que é secretária do Rayner. O Maicon que deu autorização e cadastrou ela. Eu mostrei a foto para ele com o documento, que ele mesmo tirou, porque é assim que funciona. Se vocês quiserem o nosso apoio, se vocês quiserem detalhes, e eu não sei qual que é o tipo de relação comercial que vocês têm, mas se ela está fazendo movimentação e ela foi cadastrada com senha master dentro do sistema por um dos sócios da empresa, quem somos nós para questionar o que o sócio está fazendo?
A Teresa era a gerente das contas que o Rayner atendia?
Isso. E o que nós fizemos? A partir desse momento, nós levantamos todas as contas que tinham a Teresa lá como master, administradora ou seja lá o que for, e mandamos uma mensagem para cada um desses clientes perguntando qual era o relacionamento e por que a Tereza era a administradora dessas contas. Eram quatro empresas, além da G2N, que era do próprio Rayner, da Socofit e da M3. Essas três empresas não retornaram a mensagem e as outras todas disseram que não tinham nenhuma relação direta, que podíamos cancelar o acesso dela. E cancelamos. Agora, por que a M3 não respondeu essa correspondência até hoje? Eu não sei. A G2N e a Socofit eu sei porque não responderam.
Para cancelar a movimentação dela?
Nós cancelamos de qualquer maneira, não tem conversa. Assim como solicitamos o encerramento da conta da G2N também, mas da Socofit tinham todas as questões legais, se podíamos fazer ou não. E da M3 só não encerramos por uma determinação do nosso jurídico. Deixa essa conta aberta para podermos monitorar para ver se o modus operandi continua, se algum deles vai transferir eventualmente para alguma empresa do Rayner porque aí nós temos a comprovação de que eles eventualmente estão dissimulando para tentar entrar aqui.
E por quê?
Porque num dado momento quando o Rayner estava sem recurso financeiro para pagar, ele veio aqui com uma pseudo conversa, e eu tenho isso no WhatsApp, dizendo assim: ‘olha, aquele pessoal da M3 eles têm o interesse de se tornar também acionistas no Edanbank. Então eu vou vender uma parte das minhas ações para eles e eles vão se tornar acionistas também do Edanbank e o dinheiro vai servir para pagar o que devo para vocês’.
Vocês não aceitaram?
Quando nós olhamos, estrategicamente, não fazia sentido a gente ter alguém aqui como acionista que presta serviço para outras instituições financeiras, sabendo de tudo o que nós fazemos minimamente em uma reunião de conselho. Dissemos, desculpa, não nos interessa e dissemos que não não teve aprovação interna, do ponto de vista de compliance, por ‘n’ fatores estratégicos, não aceitaremos eles como acionista.
O que vocês estranharam?
Temos o Rayner querendo colocá-los dentro de casa, agora temos eles que nos acionam [na Justiça] em vez de acionar o Rayner, eu não estou entendendo nada. Temos toda documentação, que não foi gerada pelo Edanbank, mas por parceiros tecnológicos e por instituições financeiras que trabalhamos como banking as a service, que comprovam isso.
Qual é o próximo passo?
Sabemos que esse Rayner trará esses transtornos, que já estão conhecidos, e outros aqui contra o Edan. Estamos preparados, com bons escritórios nos assessorando para que a gente possa combater. E a gente não tem o que fazer além disso. É o tempo que vai acabar corrigindo tudo o que aconteceu. Uma vez que nós fomos impactados, é como um machucado. Vamos tratar desse machucado até recuperar dessa semi-fratura.
Você tem ideia de qual é o prejuízo que o Rayner deixou?
Para nós, esse prejuízo está passando de R$ 20 milhões.
A Socofit continua como sócia?
Desde o ano passado a gente tem trabalhado para saber os elementos para tirar. Do jeito que estamos, tem de ter fatos materializados porque você não pode falar para um sócio sair da corporação do nada. Todos esses elementos estão unidos em um processo, porque tudo neste momento está em discussão, não tem nada julgado. No decorrer dos próximos dias, estamos entrando com um pedido de exclusão desse indivíduo da sociedade, da Socofit da sociedade, dizendo que ele é maléfico para a corporação como um todo porque ele tem esse modus operandi: a Socofit tem participação, dessa participação ele fala que tem influência, abre a conta e faz desvio, entendeu?
Vocês pensam em entrar com pedido para ser uma instituição autorizada pelo Banco Central?
É um processo natural e isso não está começando agora. No ano passado nós contratamos uma consultoria, que é super reconhecida por diversas instituições, que fez um diagnóstico e estamos fazendo a lição de casa para poder elaborar isso aqui adequadamente. Agora, o que a gente está fazendo aqui é IP [Instituição de Pagamento] ou SCD [Sociedade de Crédito Direto]. Tem uma dúvida: como a gente se enquadra? Porque tem um pouco dos dois. Contratamos uma grande firma, para poder olhar o mercado como um todo, que falou: o que vocês fazem é um bicho novo. É um bicho que talvez ninguém enxergou: vocês fazem uma gestão terceirizada de tesouraria. Onde é que está enquadrado numa legislação do Banco Central? Porque ninguém enxerga e nós percebemos que tinha essa lacuna não atendida e que era uma deficiência de mercado.
Ao NeoFeed, Thiago Miller, do escritório Ruy de Mello Miller Advogados, encaminhou este posicionamento:
“Rayner Caio esclarece que a Socofit adquiriu uma participação no EDANBANK e efetuou o pagamento integral; contudo, as sócias do EDAN não entregaram a totalidade das ações adquiridas. A Socofit solicitou, por diversas vezes e através de múltiplos meios, acesso a todos os documentos contábeis do EDAN, sendo esse pedido negado sem justificativa razoável. Ingressamos com uma ação judicial para obter acesso a essa documentação.
“No que tange aos financiamentos contratados pela G2N junto ao EDAN, oferecemos as ações como forma de quitação, que, segundo avaliação do próprio EDAN, valiam significativamente mais do que as dívidas, mas as ações foram recusadas(!), o que nos causou grande surpresa e preocupação, colocando-nos em posição de alerta. Alguns clientes estão enfrentando dificuldades para reaver os valores investidos no EDAN”.
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Quatro maiores bancos dos EUA têm a maior fatia dos lucros em quase dez anos. O que isso pode significar?
Os quatro maiores bancos dos Estados Unidos reportaram coletivamente a maior fatia dos lucros da indústria em quase uma década, considerando o período de janeiro a setembro.
De acordo com levantamento do Financial Times, J.P. Morgan Chase, Bank of America, Citigroup e Wells Fargo somaram US$ 88 bilhões, o que equivale a 44% dos rendimentos.
O resultado coloca as instituições numa posição dominante no mercado. Mas não só isso. Esse pode ser um sinal claro de que o setor financeiro americano caminha para uma consolidação.
Quando se olha para o resultado dos sete maiores bancos dos EUA, incluindo US Bank, PNC e Truist, percebe-se que eles geraram 56% de todo o lucro bancário do país nos nove primeiros meses deste ano.
Os altos custos com burocracias regulatórias, o necessário investimento em tecnologia, além das despesas com marketing deixam a concorrência mais desafiadora para pequenas instituições, visto que as maiores podem dividir esses gastos por um número maior de clientes.
Outro ponto é que os grandes bancos, como J.P. Morgan e BofA, consideram em seus resultados o desempenho de braços de investimento, nos quais, na maioria das vezes, os pequenos nem atuam.
A solução para que os pequenos bancos consigam competir com os gigantes parece ser, então, a consolidação. E há expectativa de que o governo de Donald Trump incentive isso por meio de políticas mais permissivas.
Em entrevista ao Financial Times, Bob Diamond, antigo presidente do Barclays, sugeriu que o número de bancos americanos deve cair pela metade nos próximos três anos.
Enquanto isso não acontece, quem tem realmente batido de frente com os bancões são as entidades não bancárias, que oferecem soluções financeiras. Na carta anual aos acionistas, o presidente do J.P. Morgan, Jamie Dimon, acusou a Apple de atuar como um banco por movimentar dinheiro e realizar empréstimos.
No mercado imobiliário, empresas não bancárias já são responsáveis por mais da metade dos financiamentos. Em 2011, a representatividade era de apenas 11%. E instituições como Apollo, Affirm e Rocket Mortgage vêm ganhando cada vez mais espaço como credores de empresas e consumidores, disputando esse mercado com bancos.
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Os três fatores que deveriam levar governo a reforçar a política fiscal, segundo Leonardo Porto, do Citi
Quando boa parte do mercado financeiro acreditava que os juros iriam estar abaixo de um dígito no fim de 2024, Leonardo Porto, economista-chefe do Citi Brasil, era uma das poucas vozes que se levantava contra esse consenso.
O tempo mostrou que Porto estava certo. Os juros estão em 12,25% e o Banco Central já sinalizou que deve fazer mais duas altas de 1% cada em 2025 – a expectativa, agora, é de que a Selic fique na casa dos 15% – com alguns agentes do mercado financeiro apostando que pode ser até mais.
Agora, Porto está elencando três fatores que deveriam fazer o governo federal reforçar a política fiscal, após o mercado financeiro entrar em modo pânico com as medidas, consideradas insuficientes, do pacote anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
“A economia está bombando, a hora de fazer ajuste é agora, pois temos arrecadação forte”, afirma Porto, em entrevista ao NeoFeed. “Reforçar a política fiscal, neste momento, é essencial.”
De acordo com ele, adotar medidas duras tornou-se urgente por causa de uma combinação de três fatores: a recente fuga de capitais, que reflete a falta de confiança na política fiscal; o forte crescimento da economia, que gera pressões inflacionárias; e, por fim, o resultado dos dois fatores anteriores, a desancoragem da expectativa de inflação.
Sobre o desafio do novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que assume o lugar de Roberto Campos Neto em janeiro de 2025, Porto sugere cuidado para o órgão na forma de agir para lidar com a expectativa de inflação e escalada do dólar. “Galípolo tem de atuar somente sobre a parte monetária e deixar a parte fiscal para os cuidados do governo federal.”
Na entrevista que você lê a seguir, Porto detalha as suas propostas para enfrentar essa crise fiscal. Ele também diz que a disparada do dólar precisa ser entendida em um contexto maior.
“A primeira conclusão é que o problema recente não foi só a disparada do dólar. São também os juros, a queda da bolsa e a desancoragem da expectativa de inflação. Não é algo idiossincrático do mercado de câmbio.”
Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida ao NeoFeed:
O governo federal viu em dezembro a situação econômica escapar do controle após a péssima recepção do pacote fiscal, culminando com uma desvalorização do real e fuga de capitais. Qual o cenário para 2025?
É preciso analisar os fatores que levaram a esse desequilíbrio no câmbio num contexto maior para poder pensar em 2025. A primeira conclusão é que o problema recente não foi só a disparada do dólar. São também os juros, a queda da bolsa e a desancoragem da expectativa de inflação. Não é algo idiossincrático do mercado de câmbio. A segunda conclusão é que, quando se compara com preços de outros ativos de mercados emergentes, os nossos são os piores em performance – não é, portanto, um problema ligado à economia global, é doméstico.
Qual o peso do anúncio do pacote fiscal nesse desequilíbrio que vimos em dezembro?
Esse desequilíbrio não começou quando o governo anunciou o pacote, no fim de novembro. Ele vem ocorrendo desde março. Nessa época, o dólar estava a R$ 5 e o mercado acreditava que a Selic ia cair para um dígito. E, desde então começou a acelerar. O que houve com o anúncio do pacote foi uma intensificação desse processo. É bem provável que a parte fiscal seja a principal responsável por essa saída de capital de diversos ativos que vimos na última semana.
“Esse desequilíbrio vem desde março, quando o dólar estava a R$ 5 e o mercado acreditava que a Selic ia cair para um dígito”
O que é preciso fazer em 2025 para reverter esse processo?
É preciso reforçar os marcos da política fiscal. O arcabouço aprovado em 2023 tem muitas inconsistências. Ele estabelece um limite de crescimento de despesas entre 0,6% e 2,5% ao ano, mas as despesas mandatórias estão crescendo acima desse teto, como os benefícios previdenciários. O governo não consegue cortar esse gasto porque não pode deixar de pagar aposentado. Para limitar esse crescimento de despesas até 2,5% é preciso cortar as despesas discricionárias. O drama é que esse tipo de despesa está chegando num limite – que não está longe – de simplesmente não conseguir cortar mais. Quando chegar a esse ponto, o arcabouço fiscal ficará insustentável.
Apostar no fortalecimento da política fiscal é a única forma de evitar o desmoronamento do arcabouço?
Reforçar a política fiscal, neste momento, é essencial porque estamos vivendo uma combinação de três fatores. Um deles é a fuga de capitais e de diversas classes de ativos do País produzida pela desancoragem da política fiscal. Portanto, apertar as medidas fiscais ajuda nessa linha. O segundo fator é o momento ultra-aquecido da economia, que gera pressões inflacionárias crescentes. De novo, apertar o fiscal é necessário para reduzir a demanda, ao mesmo tempo que aprecia o câmbio, ajudando a fazer com que a atividade econômica desacelere e diminua a pressão inflacionária. Terceiro fator: por trás desse cenário desafiador, as expectativas de inflação não param de desancorar. Portanto, se reforçamos a política fiscal, a expectativa de inflação tende a melhorar.
Então, a solução está em casa, dentro do próprio governo, reforçando o compromisso fiscal. Com que iniciativas?
Há várias formas de você sinalizar austeridade fiscal. Tem a questão da sustentabilidade da dívida pública, que vem crescendo nos últimos dois, três anos. O resultado primário hoje roda na casa de -0,5% do PIB. Para estabilizar a dívida, o País teria de gerar um resultado primário positivo de pelo menos 2% do PIB, de forma permanente. Até lá, a dívida vai continuar subindo. Precisamos estabilizá-la e mostrar nosso compromisso neste sentido aos investidores. Não dá para ter dívida ascendente ad infinitum. Por isso, não existe melhor momento de se fazer um ajuste fiscal do que o atual.
Por quê?
Porque a economia está bombando. Portanto, agora é hora de poupar a arrecadação extra que está vindo pelo crescimento do PIB, que deve fechar o ano em 3,5%. Não estamos gerando superávit primário positivo, estamos gerando déficit. Nossa despesa está crescendo próximo de dois dígitos acima da inflação. A hora de poupar é agora, porque temos uma arrecadação forte. Isso é necessário para que, lá no futuro, quando enfrentarmos um novo choque negativo, como o da Covid ou como a crise de 2008, o País tenha gordura para queimar e fazer uma política fiscal contracíclica.
“O melhor momento de poupar e criar gordura é o atual, com economia bombando e arrecadação extra”
Quais são as armas que o governo dispõe para adotar um ajuste fiscal mais severo?
Se o crescimento da despesa já está sendo ancorada pelo arcabouço fiscal, seria muito bem-vindo que o governo acelerasse o processo de melhora do resultado primário. Isso pode ser feito via redução de gasto, que é o que já foi discutido em lei, mas também pode ser feito via aumento de tributo. Então, seria interessante o governo, por exemplo, discutir algum aumento de carga tributária para acelerar o processo de consolidação fiscal.
Mas ao anunciar o pacote, o governo foi na direção contrária, ao propor isentar de imposto de renda quem ganha até R$ 5 mil por mês…
Sem entrar no mérito da medida em si, mesmo que o governo tenha dito que o resultado produzido com o aumento de isenção com a taxação dois super-ricos seria neutro, faltou transparência. O governo precisa convencer a todos que tem os dados mostrando que taxar as pessoas com renda superior a R$ 50 mil por mês, ou seja, R$ 600 mil por ano, vai ser suficiente para bancar a desoneração de quem ganha até R$ 5 mil por mês. Fica uma sugestão: por que não inverter a lógica?
Em que sentido?
Se os investidores, de modo geral, estão querendo acelerar a consolidação fiscal, o governo poderia então iniciar o processo com o aumento de taxação dos mais ricos. Depois de concluir isso no Congresso, será possível estimar qual vai ser a receita proveniente desse projeto de lei. E aí, em função dessa receita, basta desonerar até o teto que banca as pessoas de baixa renda.
Qual seria o recado?
O de que o governo não se compromete com a isenção para todos que ganham até R$ 5 mil, e sim em desonerar um volume superior ao atual, mas restrito no aumento de taxação. Com isso, o governo assegura para os investidores que está sendo fiscalmente neutro.
Alterar a fórmula do reajuste do salário-mínimo, que impacta no crescimento da dívida pública, não seria mais relevante para esse processo positivo que você listou?
Não há dúvida de que o reajuste do salário-mínimo, na atual fórmula, afeta muito as contas públicas. Cerca de 50% das despesas do governo são atreladas à Previdência Social, e 70% dos aposentados pelo INSS recebem um salário-mínimo. Seria, sim, uma medida importante, mas tem há outros gastos públicos impactantes – me refiro ao gasto tributário.
Como reduzir esse gasto? Há muita resistência política no Congresso…
O País perde 4,5% do PIB em arrecadação com incentivo tributário. Ora, se estamos gerando -0,5% do PIB de resultado primário e precisaríamos pelo menos 2% do PIB positivo para evitar o crescimento da dívida, esses 4,5% do PIB de incentivo tributário cobrem e ainda sobra um pouco. Não precisa cortar todos esses gastos tributários. Boa parte deles não vai para as camadas mais pobres, beneficia grandes empresas. Existe muito desperdício de dinheiro público, alguns gastos trazem mais retorno para a sociedade do que outros.
A essa altura o governo não tem argumento político para aumentar impostos. Como levar adiante?
Estou restrito ao diagnóstico econômico. É inegável que há um custo político para fazer ajuste, seja cortando gasto, seja aumentando tributo. Mas cabe ao governo federal assumir o ônus político de adotar medidas no curto prazo, na crença que vão trazer benefícios políticos no médio e longo prazo. Se o governo deixar o câmbio do jeito que está e continuar depreciando, vai ter um choque inflacionário contratado no primeiro trimestre mais concentrado em itens comercializáveis, em especial alimentos, atingindo o pessoal de baixa renda, com potencial de afetar a popularidade do presidente.
Tem, por fim, a questão dos juros e a posse de Gabriel Galípolo como presidente do Banco Central, assumindo com o compromisso de elevar a Selic para 14,25% até março. Qual será o maior desafio dele e do BC em 2025?
Galípolo e o BC vão enfrentar em 2025 uma situação extremamente desafiadora em termos de pressões inflacionárias, impactadas pelos cenários interno e externo, com o novo governo de Donald Trump. Por aqui, a preocupação não é só a taxa de câmbio, que depreciou 20% desde março, estamos com crescimento muito forte da economia, muito acima da oferta, com desemprego nas mínimas históricas e salários subindo bem acima da inflação, cujas expectativas estão desancoradas.
Não se trata, portanto, de crise cambial?
Nesses últimos dias ficou claro que essa fuga de capitais, com aumento do dólar, tem muito mais a ver com a desancoragem da política fiscal. Neste sentido, o grande desafio do Galípolo é conseguir trabalhar de uma forma que consiga, até certo ponto, criar uma barreira em que a desancoragem fiscal não afete uma eventual desancoragem monetária.
Como equilibrar esses pratos?
A depreciação da taxa de câmbio faz parte do processo de piora da percepção do fundamento fiscal. Só que ela afeta a inflação – e, aí, o Banco Central tem de subir a taxa de juros. Mas há uma linha muito tênue entre agir para endereçar a inflação e para endereçar o câmbio, porque existe uma ligação muito direta entre a política fiscal e a política monetária. Como presidente do Banco Central, Galípolo tem de atuar somente sobre a parte monetária. A parte fiscal deve deixar aos cuidados do governo federal.
Negócios
Honda e Nissan confirmam conversas para fusão. A “culpa” é da China
A Honda e Nissan, montadoras de carros japonesas, deram o primeiro passo em direção à fusão de suas operações. As empresas assinaram um acordo para dar início às negociações, que devem ser finalizadas até agosto de 2026, segundo comunicado oficial divulgado nesta segunda-feira, 23 de dezembro.
Com a fusão, será criada a 3ª maior montadora do mundo, que também deve incluir as operações da Mitsubishi Motors, na qual a Nissan detém 24,5% de participação. A expectativa é que o novo conglomerado atinja vendas anuais superiores a oito milhões de veículos, ficando atrás apenas da Toyota e Volkswagen.
O anúncio ocorre após um ano complexo para a Nissan. A empresa tem sofrido com a queda de lucros e receitas, em parte devido a uma linha de modelos defasada nos Estados Unidos. No semestre fiscal finalizado em setembro, a empresa registrou uma queda de US$ 540,93 milhões na sua receita, com o lucro operacional reduzindo US$ 2,08 bilhões no período.
Segundo o CEO da Honda, Toshihiro Mibe, a fusão não é um resgate da Nissan, mas sim um reconhecimento de que o desenvolvimento de novas tecnologias tornou-se difícil de ser realizado individualmente.
É nítido que o avanço tecnológico não tem sido fácil para as japonesas. Ambas as empresas enfrentaram quedas significativas na China, onde veículos elétricos e híbridos plug-in estão em rápida ascensão.
Segundo o The Wall Street Journal, no ano passado, a China superou o Japão como maior exportador de automóveis do mundo em número de veículos.
Com a indústria automotiva acelerando em direção a veículos elétricos, as montadoras japonesas chegaram a conclusão que a forma correta – e mais barata -, de competir com os gigantes do segmento, é combinar esforços de pesquisa.
No comunicado à imprensa, as empresas descreveram a fusão como uma forma de aumentar a eficiência, compartilhando linhas de produção, aumentando o volume de compra de peças e combinando projetos de P&D.
Por outro lado, Honda e Nissan compartilham linhas de modelos semelhantes e tem foco no mercado americano, o que pode resultar em cortes de modelos de ambos os lados, além de mudanças estratégias para ajustar o novo negócio ao consumidor dos Estados Unidos.
Nesse processo, as marcas não descartaram cortes de empregos ou o fechamento de fábricas, embora tenham afirmado que esses não são os objetivos principais.
Com a Honda sendo o elo mais forte dessa parceria, o equilíbrio de poder está a favor da companhia. As empresas informaram que a Honda indicará a maioria dos diretores da empresa combinada e que o principal executivo será proveniente da Honda. A Honda prevê um lucro líquido de cerca de US$ 6 bilhões neste ano.
Na visão do governo japonês, a fusão é positiva. “Devemos ter uma visão favorável quando empresas cooperam para fortalecer sua competitividade”, disse Yoji Muto, chefe do Ministério da Economia, Comércio e Indústria. Ele afirmou que realinhamentos na indústria são “um método eficaz para fomentar inovação e aumentar o valor corporativo”.
Durante a coletiva de imprensa, o CEO da Honda negou, repetidamente, que a empresa estaria sendo pressionada por autoridades japonesas a fechar um acordo para garantir a sobrevivência da Nissan.
Ao ser questionado sobre o que o atraiu na Nissan como parceira, Mibe não deu uma resposta concreta, enfatizando que a Honda permanecerá uma marca independente na nova empresa.
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