Negócios
EXCLUSIVO: Uma disputa entre Davi e Golias no mundo fitness pode parar no Cade (de novo)
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) recebeu um pedido para instaurar uma nova apuração sobre condutas do Wellhub. Na quarta-feira, 26 de junho, duas academias de ginástica protocolaram documentos no órgão por prática de anti concorrência da nova marca da Gympass.
A questão da exclusividade é um tema recorrente para a plataforma de benefícios fitness, que em abril deste ano rebatizou a sua marca de Gympass para Wellhub. Em 2020, uma primeira denúncia foi feita ao Cade pela TotalPass. Na época, a empresa criada nos corredores da Smart Fit acusou a rival de prejudicar a concorrência ao firmar acordos dessa natureza com as academias.
Na sequência, uma decisão preliminar proibiu a então Gympass (agora Wellhub) de fechar novos contratos nesses moldes a partir do fim de 2021. Já em 2022, o Wellhub assinou um Termo de Compromisso de Cessação (TCC) com o Cade, que, entre outras questões, limitava a exclusividade a 20% da sua base em cada região.
Agora, a Tecfit, conhecida como a academia sem peso, com quase 50 unidades em todo o País, e a Power Life Gym, academia localizada em Bauru, no interior de São Paulo, acusam o Wellhub de descumprimento do TCC com o Cade.
“Eu fui coagido a ter de assinar um novo contrato de exclusividade com o Wellhub”, diz Felipe Castro, fundador e CEO da Tecfit, ao NeoFeed, sobre a principal alegação da rede. “Ou eu assinava nesses termos ou eles me ‘ejetavam’ da plataforma. Essa foi a ameaça.”
Com presença em 11 países, o Wellhub não divulga dados do mercado local, tampouco seu volume de parceiros e usuários. No mundo, a companhia diz atender mais de 15 mil empresas clientes.
Mas, após o compromisso assinado com o Cade, o Wellhub viu a TotalPass avançar várias casas e abocanhar boa parte desse mercado – um segmento com uma base estimada de 29 mil academias no Brasil.
Há pouco mais de um ano, a plataforma tinha 8 mil academias em sua rede e cerca de 3 mil empresas clientes. Nesse período, a TotalPass chegou a acordos com aproximadamente 20 mil academias no Brasil e, assim como a rival, aposta num modelo B2B, com uma carteira de 10 mil empresas e 5 milhões de usuários.
“Eles me disseram que não tinha como coexistir com a TotalPass na minha rede”, conta Castro, da Tecfit. “A sensação é que perderam a mão. Até pouco tempo, eles tinham praticamente todo o mercado e, agora, olham um rival que começou a ganhar terreno. E decidiram que precisam frear esse cara.”
Em resposta por escrito encaminhada ao NeoFeed, o Wellhub diz que “nós não forçamos nenhum parceiro a ser exclusivo em nossa plataforma. Muitas das academias e estúdios em nossa rede veem o grande valor de ter uma parceria exclusiva com o Wellhub, dada a nossa ampla rede de clientes corporativos e seus milhões de colaboradores. Especialmente quando não há conflito de interesse em relação a outras plataformas, nossos parceiros decidem voluntariamente trabalhar apenas conosco. Reservamo-nos o direito de manter parcerias ou não, de acordo com as condições comerciais acordadas entre ambas as partes”.
“Estamos investindo nesse mercado há 12 anos e estamos orgulhosos do que construímos junto com nossos parceiros, investindo em seus estabelecimentos e vendo-os expandir e crescer seus negócios junto conosco. Seguimos rigorosamente as orientações do compromisso que assinamos com o Cade e estamos comprometidos a continuar agindo dessa forma. Continuaremos a investir em nossos parceiros – pois essa é a nossa estratégia central – especialmente os menores que por vezes têm dificuldades para enfrentar a concorrência com grandes players”, complementa o Wellhub.
Convivência tempestuosa
A rede de estúdios de eletroestimulação Tecfit, distribuída em 22 cidades, é parceira exclusiva do Wellhub praticamente desde que foi fundada, em 2017.
Mas, segundo Castro, a plataforma não vinha demonstrando pressa para renovar o último contrato, que vigorou até agosto de 2023 e que, devido ao impasse na negociação, ainda não foi atualizado.
Essa postura mudou, porém, em fevereiro deste ano, a partir de um primeiro piloto com a TotalPass, em uma unidade próxima à avenida Paulista, em São Paulo. Um mês depois, a Tecfit iniciou a expansão da plataforma para toda a sua rede, o que coincidiu com o início da pressão do Wellhub pela renovação.
Em sua denúncia apresentada ao Cade, cujo trâmite, assim como o da Power Life, pode gerar uma investigação e eventuais sanções, a Tecfit ressalta um segundo elemento além das ameaças visando a exclusividade.
De acordo com a empresa, seu faturamento com o Wellhub começou a registrar uma queda acentuada, “sem qualquer explicação racional”, a partir de fevereiro deste ano, o que coincidiu exatamente com o início da parceria com a TotalPass.
“Essa coincidência temporal sugere que a Gympass, ao tomar ciência da nova parceria da denunciante com a concorrência, deliberadamente reduziu o direcionamento de seus novos usuários para as academias da rede Tecfit”, destaca um trecho do documento, ao qual o NeoFeed teve acesso.
A companhia pontuou, por exemplo, que em março de 2024, já sem o contrato de exclusividade em vigor, a redução de novos usuários foi de 35% sobre igual período de 2023. Em abril e maio deste ano, as quedas foram de 27% e 28%, respectivamente.
“É um impacto grande de fluxo, mas eu tenho várias unidades. Eu não morro e tenho como pagar um advogado para me defender”, diz Castro. “Mas isso mata a academia menor. O Cade precisa se mobilizar e criar um canal para escutar essas pessoas que não querem se expor como eu estou me expondo.”
Das entrelinhas aos descontos
Em condição de anonimato, um desses pequenos empresários falou ao NeoFeed. Proprietário de uma academia no interior de São Paulo, ele também tem uma relação duradoura com o Wellhub, que data de 2017. Mas em 2022, após a decisão do Cade, incluiu a TotalPass nesse pacote.
Há cerca de um mês, ele foi contatado pela antiga parceira. O e-mail informava que, em função da mudança de nome de Gympass para Wellhub, era preciso assinar um novo contrato, que estava anexado à mensagem.
“Nós sempre tivemos uma boa relação e eu assinei normalmente, como eu sempre fiz”, afirma ele. “Cerca de 15 dias depois, eu recebi uma nova mensagem me cobrando o comprovante de que eu havia cancelado o meu contrato com o concorrente.”
Foi quando ele descobriu que havia assinado um contrato que, em suas 14 páginas, incluía uma cláusula de exclusividade. Entre outros termos, o documento estabelecia uma multa no valor do faturamento da academia com o Wellhub nos últimos seis meses, caso mantivesse sua parceria com a rival.
“Eu sou leigo nesses assuntos. Minha inocência foi assinar como se fosse a renovação pela mudança da marca [Gympass para Wellhub]”, diz ele. “Agora, o prejuízo é 100% meu. O Wellhub representa 25% do meu faturamento, mas a TotalPass já respondia por 10% e vinha crescendo. Para mim, o ideal é ter os dois.”
Em resposta enviada ao NeoFeed, o Wellhub diz que “nenhum de nossos parceiros foi obrigado a assinar novos contratos ou contratos de exclusividade como parte do nosso rebranding, pois apenas mudamos nosso nome fantasia, não nossa razão social. Desde a nossa mudança de marca, as empresas continuam a ver a oportunidade de trabalhar com o Wellhub para promover o bem-estar dos colaboradores, e esse efeito continua a beneficiar o nosso ecossistema de parceiros com novos clientes e novas fontes de receita”.
O NeoFeed teve acesso ao “formulário de serviços para parceiros”. A cláusula 3 trata de responsabilidades do parceiro, que traz no item 3.9: “Durante o Período de Garantia, o Parceiro não poderá celebrar ou continuar qualquer parceria, direta ou indiretamente, com qualquer empresa que preste serviços de intermediação de atividade física e/ou quaisquer fornecedores de serviços que forneçam serviços semelhantes ao Gympass”.
Nos subitens 3.9.1 e 3.9.1.1, há um reforço sobre as penalidades: “O Parceiro reconhece que esta cláusula 3.9 é importante para este Contrato devido ao investimento feito pelo Gympass em forma de Garantia. Se o Parceiro violar a obrigação de exclusividade, tal violação será considerada uma violação de uma obrigação essencial nos termos deste Contrato e, sem prejuízo de quaisquer outros direitos do Gympass, será aplicado o seguinte: o Preço por validação e o Pagamento total máximo por usuário por mês serão reduzidos em 50%”.
Conforme apurou o NeoFeed, há mais casos de parceiros que estão recebendo essas mensagens com a mesma alegação. E que, sem conhecimento jurídico ou recursos para submeter o documento a um advogado, acabam por assinar o acordo sem ler todas as cláusulas.
“Infelizmente, no nosso mercado, a grande maioria das pessoas não entende do próprio negócio”, afirma o proprietário de uma outra rede de academias de São Paulo. “Boa parte se formou em Educação Física e não tem conhecimento de gestão.”
Ele ressalta, porém, que essa não é a única tática que vem sendo adotada pelo Wellhub para convencer ou mesmo pressionar os parceiros. Uma das condutas que têm sido recorrentes é o chamado desconto por volume, que também foi alvo do TCC assinado com o Cade.
Essa prática envolve a cobrança de taxas progressivas de até 20% sobre os valores totais a serem repassados pela Wellness aos parceiros. O índice varia de acordo com o faturamento alcançado pelas academias com usuários da plataforma.
A inclusão dessa cláusula é um dos pontos citados na denúncia da Power Life Gym ao Cade. O Wellhub teria feito essa sugestão em 2023, como uma condição para reajustar os valores repassados à parceira, depois de a academia questionar o fato deles estarem defasados.
“Em vez de ser recompensada pelo aumento do volume de clientes, a academia parceira é, a bem da verdade, penalizada, recebendo menos dinheiro por cliente adicional atendido”, observou a Power Life, ao recorrer ao Cade.
Já no início de 2024, o Wellhub passou a propor a celebração de um contrato de exclusividade e, em uma de suas interações, via e-mail, informou “explicitamente” que a academia não teria descontos adicionais na receita se concordasse com esse modelo.
“Eles têm feito essa ameaça a muitos parceiros”, diz o dono de outra academia. “O fato é que a plataforma não traz só malefícios. Eu teria perdido muitos clientes para as grandes redes sem eles. Mas o Gympass virou um monstro e se você não toma cuidado, ele te estrangula e engole teu negócio.”
O que dizem as plataformas
Nesse contexto, na ponta da concorrência, a TotalPass ressaltou em nota ao NeoFeed que foi surpreendida no último mês com 150 pedidos de rescisão de academias que alegaram a imposição de cláusula de exclusividade feita por “um concorrente”.
A plataforma destacou que, ainda que esse volume represente menos de 1% de sua rede de mais de 20 mil academias parceiras, o número é dez vezes maior que a sua média mensal de cancelamentos.
“Ao mesmo tempo, passamos a receber centenas de contatos de pequenos empresários assustados e desnorteados com a inclusão de uma cláusula de exclusividade imposta por este concorrente que tenta obrigá-los a romper a parceria com a TotalPass”, observa a empresa.
“A TotalPass estuda as medidas judiciais cabíveis e também representações junto ao Cade para resguardar seus direitos e preservar a livre concorrência no mercado fitness do país”, complementa a nota da empresa.
Rebatizada como Wellhub em abril de 2024, a nova marca da Gympass busca representar a mudança do modelo da empresa brasileira. Da “Netflix das academias”, quando foi fundada em 2012, para uma plataforma de bem-estar, com acesso à nutrição, mindfullness, além do fitness. Com seu nome de batismo, a startup atraiu fundos como Softbank, captou US$ 605 milhões e foi avaliada em US$ 2,4 bilhões.
“O Wellhub tem colaborado com o Cade e sempre agiu eticamente, cumprindo toda a legislação antitruste. Seguimos dedicados a apoiar o crescimento de nossos parceiros e estamos exclusivamente posicionados para fazer isso através de nossa base global de clientes corporativos e milhões de assinantes. O Wellhub desenvolveu um modelo de parceria único que permite um crescimento escalável e o sucesso a longo prazo desse próspero ecossistema. Mais de 80% dos membros do Wellhub não tinham uma assinatura de academia antes de ingressar na nossa plataforma e 90% são novos clientes para os nossos parceiros.”
Negócios
Nas empresas familiares, os herdeiros estão indo para o conselho antes de assumir a gestão
O que Magalu, Votorantim, Gerdau, JBS, Safra, Marfrig e Weg têm em comum? Além de serem companhias brasileiras extremamente robustas em seus segmentos, elas possuem o DNA familiar na formação de suas histórias. Ainda que com executivos de mercados em posições estratégias, a maior parte delas é dirigida por integrantes de familiares ligados aos fundadores.
Mas qual é o segredo para que essas empresas, geridas por familiares, tenham sucesso? E, mais do que isso: como garantir a perenidade dos negócios? Esses talvez sejam os principais desafios das empresas familiares brasileiras.
Fato é que, ainda que com esses grandes cases de sucessos, os números trabalham contra essa realidade. Levantamento realizado pelo Banco Mundial mostrou que apenas 30% das empresas familiares chegam à terceira geração. E apenas 15% sobrevivem a essa sucessão. E o principal motivo é a falta de planejamento sucessório.
Segundo a 11ª Pesquisa Global sobre Empresas Familiares da PwC, somente 24% das companhias familiares se preparam para a sucessão. O resultado são conflitos entre os integrantes da família. E, por consequência, da empesa. O problema é que, sem a clareza de uma liderança, a empresa acaba vendida ou até mesmo indo à falência.
“O grande desafio das empresas familiares é separar as três caixinhas de cada um como família, como sócio e como funcionário. Nem todo mundo tem perfil para ser funcionário, muito menos executivo. Mas todos devem saber cobrar os executivos por resultados como sócios. E isso não pode afetar a relação familiar entre eles”, diz Gilson Faust, sócio da consultoria GoNext, que atuou em mais de 200 sucessões familiares.
Uma ideia está começando a ganhar corpo no mundo corporativo: o conselho de herdeiros. Na prática, são como conselhos de administração, mas que reúnem herdeiros de todas as idades. O objetivo é ensinar sobre o papel de sócios, discutindo questões da empresa e entendendo se possuem o perfil para serem executivos ou não.
No conselho, os herdeiros têm como principal objetivo aprenderem sobre a empresa e seus valores, o mercado que está inserida e seus desafios e oportunidades, além de começarem a acompanhar os resultados da empresa para aprendem a sua futura função de sócios e seus deveres e responsabilidades.
Isso já acontece na rede de supermercados Jacomar, uma das maiores redes de supermercados de Curitiba, fundada em 1966, que já passou de forma organizada para a segunda geração composta por oito irmãos, e que tem 20 pessoas da terceira geração que compõe o conselho de herdeiros.
Priscila Fantin, 27 anos, economista e especialista em gestão empresarial, é uma delas. Primeiro trabalhou no mercado e depois foi para a empresa da família, onde está há sete anos como analista de controladoria. O seu pai é o atual CEO da empresa, mas isso não muda a trajetória que ela precisa seguir na empresa. Ela veio para a área porque havia a vaga e ela tinha a experiencia.
“Nós já não tivemos o contato com os fundadores como a segunda geração, então muito do que fazemos é ver quais são os valores da empresa e como modernizar isso para os novos tempos. E levamos essa ideia para os sócios atuais”, afirma Fantin.
As reuniões do conselho são mensais e híbridas, para contemplar tanto os herdeiros que trabalham na empresa como os que não e estão em outra cidade ou país. Os herdeiros mais atuantes também passam a partilhar das reuniões do Conselho de Administração da empresa como ouvintes para ficarem por dentro das questões atuais, e também absorverem conhecimento para o momento em que passarem a atuar de forma definitiva na empresa.
A família Nichele, dona da Nichele Materiais de Construção, em Curitiba, descobriu as dificuldades de uma sucessão não planejada na prática. O fundador da empresa preparou o filho, Cristiano, para assumir o comando da empresa. Mas, na última hora, resolver compartilhar a gestão com suas outras duas filhas.
A consultoria GoNext foi acionada para ajudar e foi entender qual seria o melhor papel de cada um na empresa. Cristiano se tornou CEO com a aprovação de todos os sócios. As irmãs assumiram as diretorias financeiras e comercial. Já no marketing, ninguém da família tinha vocação e foi contratado um profissional de mercado.
“Meu pai sempre me preparou para assumir, mas depois não sabia muito bem o que fazer com as minhas irmãs e tentou colocar nós três na liderança”, diz Cristian. “Foi muito bom passar todo esse processo mais científico porque assim a aceitação da família foi muito melhor, sem deixar brechas que um ou outro estava sendo beneficiado”.
A terceira geração da família Nichele já começou a ser preparada desde cedo e passou a integrar o conselho de herdeiros com a orientação da consultoria. Já são nove pessoas de um grupo heterogêneo com crianças, adolescente e adultos. Todos os maiores de 14 anos já podem participar das reuniões.
Para Helena Rocha, sócia da PwC Brasil, apesar da transferência do controle para a próxima geração ser um evento extremamente importante e único na vida da empresa familiar, na prática é algo sobre o qual raramente se fala. E isso gera problemas, principalmente quando a sucessão precisa ser antecipada de forma inesperada.
“Ausência de comunicação, de alinhamento e planejamento estratégico comprometem qualquer negócio, mas principalmente as empresas familiares, onde as emoções se misturam entre família e negócio. É imprescindível a comunicação entre as gerações e um contrato geracional honesto”, afirma Rocha.
A organização e sucesso das empresas familiares beneficia a economia. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 90% das empresas brasileiras são familiares e empregam 75% dos brasileiros. Elas são responsáveis por mais de 60% do Produto Interno Bruto (PIB).
Negócios
Os “quadros de lã” de uma brasileira autodidata ganham exposição nos EUA
É uma irônica coincidência que algumas semanas após o governo Trump começar a prender e deportar imigrantes, o American Folk Art Museum, em Nova York, dê voz para uma brasileira que viveu à margem do sistema de produção da arte. Madalena Santos Reinbolt nasceu em Vitória da Conquista, na Bahia, em 1912, trabalhou a maior parte da vida como empregada doméstica e hoje suas obras valem mais de US$ 100 mil.
Esta será a sua primeira exposição individual no exterior e a visibilidade que tem ganhado seu trabalho fez com que o preço de suas obras dobrasse nos últimos dois anos. “Madalena Santos Reinbolt: Uma cabeça cheia de planetas” é o título da exposição com 42 obras têxteis que vai de 12 de fevereiro a 25 de maio. A artista autodidata, mais conhecida por seus bordados em grande escala, feitos com centenas de fios coloridos e vibrantes, e chamados “quadros de lã”, teve reconhecimento tardio.
Durante toda a vida, ela serviu em casas da elite brasileira e uma das fazendas onde trabalhou como cozinheira foi a Samambaia, em Petrópolis, no Rio de Janeiro, onde viviam a arquiteta Lota Macedo Soares e sua mulher, a escritora norte-americana Elisabeth Bishop. Madalena morreu em Petrópolis, em 1976.
Novas datas de nascimento e morte são apresentadas pela primeira vez nessa exposição novaiorquina em consequência das pesquisas feitas por um dos curadores, Blau Edelstein, que ficou vários meses no Brasil apurando detalhes da vida da artista.
“Achei o cemitério onde ela teria sido enterrada e esta exposição está oferecendo novas datas, diferentes das que você encontrará se pesquisar online, porque como empregada doméstica ela meio que escapa dos arquivos”, diz Edelstein, ao NeoFeed.
Blau é americano, mas começou a estudar português na faculdade, veio para o Brasil várias vezes e acabou criando uma relação com o País. Atualmente, ele prepara uma tese de doutorado na Universidade de Princeton, em Nova Jersey, no departamento de espanhol e português.
O tema central é a circulação de obras produzidas em hospitais psiquiátricos brasileiros, algo pensado a partir do projeto de Nise da Silveira, psiquiatra brasileira que se tornou conhecida por revolucionar o tratamento destinado a doentes mentais internados no país.
A exposição do American Folk Art Museum é uma parceria com o Museu de Arte de São Paulo (Masp), que realizou com o mesmo título a primeira individual da artista em 2022. “Estamos atualizando a exposição de alguma forma, com novas pesquisas e contextualizando para o público norte americano, que não só desconhece a obra dela como desconhece muito a arte brasileira”.
Atualmente, com todo o movimento decolonial da arte, várias nomenclaturas passaram a ser rejeitadas. Uma delas é arte “naif” ou “ingênua” ou “primitiva”, categorias nas quais a obra de Madalena foi enquadrada. “Rejeito essas palavras”, diz Edelstein. “Um dos motivos que me levou a fazer a pesquisa foi ajudar a criar uma imagem dela como pessoa, que ia além dessas categorias.”
O valor do bordado
O curador conta que Madalena era descrita como uma grande primitiva, em cartas de Elizabeth Bishop, nas quais a escritora dizia que seria possível ganhar uma fortuna vendendo obras dela na Quinta Avenida, em Nova York. Nessas cartas, escritas por volta de 1952, e posteriormente publicadas, ela dizia que “Madalena era uma grande artista, mas que ela, Bishop, tinha que optar entre a paz e tranquilidade na casa ou a arte. Ela optou pela tranquilidade e Madalena saiu de lá”.
Trabalhou em outras casas de veraneio, sempre como doméstica e cozinheira. O trabalho artístico era feito nas horas vagas. Madalena começou com pinturas, teve uma alergia à tinta e a partir de meados da década de 1960 passa a produzir bordados. “Ela tinha consciência do valor do bordado”, diz o curador. “Embora demorasse muito mais tempo para fazer um quadro bordado ganhava mais dinheiro com ele”.
Anos mais tarde, foi a crítica de arte, curadora, museóloga e antropóloga Lélia Coelho Frota, que descobriu Madalena e foi duas vezes a Petrópolis para entrevistá-la. A artista já tinha morrido quando, em 1978, Lélia foi curadora da seleção dos artistas brasileiros na Bienal Internacional de Veneza e incluiu Madalena.
A presidente Curatorial do American Folk Art Museum, Valerie Rousseau, ao comentar a obra da artista, afirma que só agora, quase 50 anos após sua morte, as realizações artísticas de Madalena começam a receber a atenção crítica que merecem. “O trabalho dela apresenta espaços de liberdade criativa tanto quanto expressões de resistência, ecoando sua própria existência”.
Num dos poucos depoimentos que há da artista, ela diz: “Resolvo tudo na cabeça. Posso ver tudo, mesmo com os olhos fechados… Na verdade, são as agulhas que fazem o desenho”.
Negócios
O “mar agitado” para o design de interiores dos iates em águas brasileiras
O segmento de iates de luxo no Brasil está indo de vento em popa. Neste ano, o setor deve alcançar um faturamento de R$ 4 bilhões, segundo projeções da Associação Brasileira de Construtores de Barcos e seus Implementos (Acobar) e do Conselho Internacional de Associação da Indústria Marinha (Icomia). Esse número representa o dobro do faturamento de 2021, que foi impulsionado pela busca por isolamento no mar durante a pandemia pelas pessoas mais abastadas.
Com o avanço do setor, um mercado altamente especializado vem ganhando força: o design de interiores náuticos. “Com o aumento da venda de barcos novos e o crescimento da procura por refit, que é a reforma de embarcações antigas, a minha área está aquecida”, diz ao NeoFeed Naiara Bogo, designer náutica que trabalha para a grife italiana Azimut Yachts. Entre os mais de 300 projetos de barcos que ela assina, estão o iate de Roberto Justus e o do jogador de futebol Thiago Silva.
Diferentemente de um projeto para apartamento ou para casa, o de design de interiores de um iate exige um planejamento minucioso e é preciso ter bastante conhecimento sobre embarcações. “Todos os projetos precisam ser pensados e estudados junto com a engenharia de cada estaleiro. E os desafios são inúmeros, desde considerar o peso dos itens que vão compor os ambientes – que interferem na estabilidade do barco – até o aproveitamento de cada canto da embarcação”, afirma Bogo.
Os móveis que serão colocados no barco têm de ser fixados ao chão ou equipados com travas de segurança para evitar deslocamentos durante a navegação. No mobiliário, as quinas arredondas e as formas orgânicas são sempre as mais utilizadas por não oferecerem riscos de acidentes.
Objetos decorativos como vasos, esculturas e bandejas também devem ser presos com uma fita apropriada para evitar quedas. Berços de acrílicos são feitos para aninhar parte das louças, dos copos e de outros utensílios do barco. Já o uso de materiais como mármores e vidros devem ser usados com muito critério porque podem trincar ou quebrar.
“A maresia, a exposição ao sol e a umidade aceleram o desgaste, então optamos por tecidos náuticos, madeiras tratadas e metais resistentes à corrosão”, afirma Fabianne Domingos, dona da Fabianne Domingos Luxury Decor.
E até os eletrodomésticos marinizados, ideais para as embarcações, podem entrar no planejamento dos projetos que, em média, levam entre 6 meses e um ano para ficarem prontos.
Com mais de 20 anos de experiência, Domingos faz projetos de interiores para embarcações de luxo e é bastante conhecida por criar enxovais de cama, mesa e banho, além de louças customizados, como os que apresentou recentemente no Rio Boat Show 2024.
Mais recentemente, ela criou uma linha pet para atender aos clientes que, cada vez mais, têm levado seus animais de estimação para navegar. “Oferecemos caminha, lençol, toalha, travesseiro, bolsa de brinquedos, além de personalização de colete salva-vidas, boné e até óculos de natação”, conta.
Tudo isso pode parecer exagero. No entanto, para uma pessoa que faz um investimento de milhões na compra de um barco de luxo não faz o menor sentido economizar na customização, até porque ela também reflete na valorização do iate. Por isso, os clientes querem ambientes harmoniosos e que imprimam seu gosto pessoal, já que um barco é seu outro lar.
“Muito desejam exclusividade. Por isso, querem, além do design de interiores, que a gente crie estampas personalizadas com suas iniciais ou com logotipo do barco em jogo de cama, toalhas e louças”, explica Domingos.
Academias, cinemas particulares e até adegas climatizadas são alguns dos pedidos que costumam ser feitos às designers de interiores náuticas, revelando que há uma grande preocupação em manter a bordo um estilo de vida bastante próximo do que costumam levar em terra firme. Mesmo que isso signifique abrir mão de algum espaço.
“Roberto Justus, por exemplo, me pediu para transformar uma das suítes em um mini cinema com telão e poltronas de couro. Fiz o projeto e o resultado ficou incrível”, conta Bogo.
Para ela, isso mostra que o design náutico está sendo elevado a um novo patamar nos últimos anos. Mesmo quando se trata de iates antigos, os proprietários têm investido em refit para que atender aos padrões de luxo e de tecnologia.
“Antes, essas embarcações seguiam um padrão mais tradicional, com madeiras nobres e elementos clássicos. Hoje, quem tem um iate deseja mais. Quer algo único e que reflita sua identidade”, diz Bogo.
A conexão imersiva com o exterior é outro ponto que costuma marcar presença nos projetos de iates de luxo. Para isso são instaladas janelas panorâmicas, que vão do chão ao teto, com vista do mar, que ainda permitem a entrada de luz natural; além de ambiente ar livre conectado com a parte interna por meio de portas de vidros retrateis.
Universo minimalista nos mares
As tendências em design de interiores náuticos são inspiradas pelo que dita o universo da decoração e da arquitetura. Fato é que uma das mais fortes é o minimalismo, bastante comum nos projetos de casas e apartamentos de altíssimo padrão. Mas o design de interiores de iates não segue apenas tendências da arquitetura.
“As grandes marcas de moda de luxo, como Fendi, Hermès e Louis Vuitton, influenciam diretamente nos acabamentos e em materiais que utilizamos. E muitos clientes desejam tecidos e móveis assinados por designers renomados”, diz Domingos.
A crescente preocupação ambiental tem levado o design de interiores de iates a olhar com mais atenção para a sustentabilidade. Essa nova forma de pensar a decoração leva em conta o impacto ambiental.
“Hoje, utilizamos materiais ecológicos, como madeira certificada, tintas naturais e tecidos reciclados e temos priorizado a reutilização e o upcycling de objetos”, diz Domingos.
Além da sustentabilidade, a automação e o uso eficiente de energia estão ganhando importância no design de interior náutico. Sistemas de purificação de água e iluminação de LED são alguns exemplos desse interesse em causar baixo impacto.
Soluções tecnológicas também têm sido incorporadas ao universo náutico de luxo. “A automação está cada vez mais presente nos projetos. Estamos incluindo em nossos projetos sistemas de iluminação, áudio e vídeo que podem ser controlados por aplicativo para que os clientes tenham uma experiência melhor e muito mais prática enquanto estiverem navegando”, diz Domingos.
Entre as inovações aplicadas estão a iluminação e a temperatura do ambiente que podem ser ativadas antes mesmo de a pessoa embarcar. Cortinas automatizadas, fechaduras digitais e climatização inteligente também estão se tornando cada vez mais comuns em iates de luxo. Além disso, os óculos de realidade virtual já estão sendo utilizados no processo de design.
“Conseguimos simular a experiência do barco pronto para que o cliente veja já no pré-projeto como ficariam os ambientes depois de prontos”, afirma Domingos.
Para ela e outros profissionais do setor, o trabalho do designer de interiores náutico não se trata apenas de decorar embarcações, mas de criar espaços que transformam a experiência de navegação. Por isso, mais do que nunca a criatividade e a especialização são as chaves para continuar navegando nesse oceano de oportunidades.
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