Negócios
GPA entra na “última milha” da reestruturação
Com um mandato de reestruturação nas mãos, uma das primeiras medidas de Marcelo Pimentel quando assumiu o comando do GPA, em abril de 2022, foi interromper mais de 300 projetos e focar no que era essencial para o grupo de varejo alimentar, dono do Pão de Açúcar e avaliado em R$ 1,47 bilhão.
Uma das frentes que ganharam espaço nessa prateleira foi o Minuto Pão de Açúcar. Enquanto boa parte do varejo olhava para o formato de atacarejo, a rede de proximidade foi eleita como o foco de expansão em lojas físicas e, ao mesmo tempo, como o posto avançado para as entregas do e-commerce do grupo.
Entre outros ganhos, essa estratégia fez com que a empresa saltasse de um índice de 45% para 80% as entregas feitas no mesmo dia na casa dos consumidores. E, num roteiro mais amplo, é um dos indicadores que mostram o trajeto percorrido pelo GPA em pouco mais de dois anos.
“Estamos na reta final da nossa reestruturação. O turnaround operacional já foi feito. Agora, temos que terminar o trabalho de estrutura de capital”, diz Marcelo Pimentel, CEO do GPA, ao NeoFeed. “E a última milha, para mim, é dar lucro. Nossa ambição é tornar a empresa lucrativa o mais rápido possível.”
No que diz respeito à estrutura de capital e à redução da alavancagem, o executivo diz que ainda há espaço para novas vendas de ativos não core. Mas não na magnitude do que foi feito desde a sua chegada à operação.
De lá para cá, o GPA “arrecadou” quase R$ 2 bilhões com um pacote que incluiu a venda da sua sede administrativa e da sua rede de postos de combustível. Nesse carrinho, o grupo também se desfez de suas fatias na Cnova e na rede de supermercados colombiana Éxito.
“Trouxemos uma receita adicional com a venda de ativos e participações que foi toda endereçada para a redução da dívida”, afirma Pimentel. “O fato é que esse paciente já saiu do hospital e estamos numa recuperação muito mais saudável.”
O GPA fechou o segundo trimestre com uma margem bruta recorde de 28,2% e um avanço de 34,8% no Ebitda ajustado, para R$ 396 milhões. Na última linha do balanço teve, porém, um prejuízo líquido de R$ 332 milhões, contra R$ 425 milhões, um ano antes.
Mais recentemente, outro fator também inspirou cuidados. No fim de setembro, o Assaí informou que foi notificado pela Receita Federal sobre o arrolamento de bens no valor de R$ 1,25 bilhão, em função de contingências tributárias relacionadas ao GPA, anteriores à cisão dos dois grupos, em 2020.
No fato relevante, o Assaí ressaltou que vem monitorando o tema de forma próxima ao GPA e que o grupo, conforme os termos da cisão, deverá indenizar a empresa por qualquer prejuízo decorrente. Na visão de Pimentel, o caso não traz, porém, reflexos no turnaround da varejista.
“Todos esses passivos estavam devidamente demonstrados no nosso balanço e nas nossas interações com o mercado. Então, em termos de reação do nosso lado, teve pouca surpresa”, diz Pimentel. “Não há nenhum complicador. Vida que segue. A cada dia que passa, o GPA tem menos riscos.”
Nesta entrevista, Pimentel dá mais detalhes do que o GPA está fazendo para virar a chave em direção à rentabilidade e fala ainda de expansão, da bandeira Extra, de inteligência artificial, de hiper personalização e do braço de retail media, uma das apostas mais recentes do grupo. Confira:
Como você vê o GPA após pouco mais de dois anos da sua gestão? Quais são as perspectivas do grupo?
Eu diria que estamos na reta final da nossa reestruturação. O turnaround operacional já foi completo. Agora, temos que terminar o trabalho de estrutura de capital. E a última milha da reestruturação, para mim, é dar lucro. No próximo triênio, a partir de 2025, nossa ambição é tornar a empresa lucrativa o mais rápido possível.
O que falta ser feito em termos de estrutura de capital?
Trouxemos uma receita adicional próxima de R$ 2 bilhões com a venda de ativos e participações que foi toda endereçada para a redução da dívida. E o próximo passo, que é uma consequência disso, é o custo da dívida, que vem reduzindo drasticamente. O segundo é seguir avançando com o operacional para que as margens e o controle de despesa tornem a empresa autossustentável. O fato é que esse paciente já saiu do hospital e estamos numa recuperação muito mais saudável.
Existem outras frentes para seguir avançando nesses indicadores e em direção à lucratividade?
Outro tema que estamos endereçando tem a ver com a saída do Extra como hipermercado, o que envolve todo o passivo trabalhista decorrente desse movimento. Muitas pessoas foram desligadas e isso tende a melhorar a cada ano, já que o prazo para entrar com processos foi expirado.
Qual é o tamanho desse passivo?
Hoje, está na faixa de R$ 400, R$ 500 milhões. Tudo já contabilizado e provisionado. E nós começamos um land down disso, o que também vai liberar um caixa importante.
“No próximo triênio, a partir de 2025, nossa ambição é tornar a empresa lucrativa o mais rápido possível”
Há outras medidas em curso?
Em 2023, contratamos a Falconi para construir um orçamento base zero. Na primeira rodada, já encontramos cerca de R$ 240 milhões de redução de despesas. Renovamos a parceria e, em 2024, estamos próximos de R$ 250 milhões e vamos fazer novamente esse trabalho para 2025. Então, tem sido uma visão constante de entrar em absolutamente todos os contratos, todas as áreas e questionar absolutamente tudo.
E quanto à venda de ativos? Há margem para mais desinvestimentos?
Ainda temos alguns imóveis e outros pontos que podem nos ajudar a acelerar essa desalavancagem. Será algo muito menor agora, nada comparado ao que foi feito nos últimos dois anos. Mas vamos tirar proveito de qualquer oportunidade que tivermos.
Recentemente, veio à tona o caso do arrolamento de bens do Assaí por conta de contingências tributárias do GPA, anteriores à cisão das duas operações. De que maneira isso pode impactar o GPA?
O contrato feito na cisão tem sido 100% cumprido e não há qualquer sinal de incapacidade de cumprimento desse contrato. Esse é o primeiro ponto. Segundo, não tem nenhuma surpresa com relação ao GPA, porque todos esses passivos estavam devidamente demonstrados no nosso balanço e nas nossas interações com o mercado. Então, em termos de reação do nosso lado, teve pouca surpresa. Não há nenhum complicador. Vida que segue. A cada dia que passa, o GPA tem menos riscos. Eu tinha um risco muito maior dois anos atrás.
Alguns analistas reconhecem os avanços do GPA, mas questionam o fôlego para dar sequência a esse turnaround. Como você enxerga essas avaliações?
A melhor forma de responder é com números. Pegamos a operação com margem bruta de 23% e já estamos acima de 27%. Tínhamos margem Ebitda de 1,5%, que, no último trimestre, foi de 8,8%. Reduzimos 12 dias de estoque, 50% a ruptura e melhoramos a disponibilidade de produto em prateleira. Avançamos com a penetração de perecíveis e já ultrapassamos 50% e reduzimos a alavancagem que estava acima de 10 vezes para menos de 3 vezes. Agora, qual é a missão? O foco principal é resgatar a marca Pão de Açúcar, seja ela na proximidade, no supermercado ou no online. Esse é o primeiro ponto. É daqui que tem surgido toda essa renovação do resultado.
Nesse sentido, com a estrutura de capital reforçada, há alguma possibilidade de revisar para cima a projeção de expansão de lojas?
Tirando um player específico de proximidade, o GPA foi quem mais abriu lojas no varejo alimentar nos últimos dois anos. Foram 110 lojas, sua maioria, do Minuto Pão de Açúcar. Estamos abrindo, em média, 50, 60 lojas por ano e não temos planos de pisar no freio. Ao contrário, vamos seguir acelerando.
Qual será a prioridade nessa próxima onda em termos de geografias e formatos?
Vamos seguir totalmente concentrados em São Paulo. É o nosso quintal e não vamos sair daqui enquanto realmente não adensarmos a cidade. E a nossa visão é continuar expandindo o Minuto, que bebe da marca Pão de Açúcar. E é onde eu ganho escala, pois preciso de muitas lojas próximas para reduzir meu custo logístico. Vemos muito espaço em bairros afluentes e altamente verticalizados. E isso tem sido uma grata surpresa, pois, historicamente, uma loja leva, em média, três anos para chegar à sua maturação. E o que temos visto no Minuto é que ela tem maturado nos primeiros 12 meses.
E quanto à bandeira Extra? Quais são os planos?
Estamos fazendo no Extra o mesmo trabalho de revisão de sortimento que fizemos no Pão de Açúcar. E não vamos em hipótese alguma entrar numa briga direta com o atacarejo. Evitamos cair nessa armadilha. Não somos e não vamos ser atacarejo. O foco para o Extra é ser um supermercado de bairro, local, muito forte em perecíveis. E diferentemente do Pão de Açúcar, em que a experiência completa é muito relevante, aqui, a comodidade e uma boa precificação vai ser muito mais importante.
Quantas lojas o Extra tem hoje e em que estágio está essa remodelagem da bandeira?
Temos algo próximo de 150 lojas e a remodelagem já foi feita em praticamente todas elas. O que estamos fazendo agora é uma revisão nas fachadas, pois era um ativo que estava muito depreciado. Mas, nesse ano, o Extra já dobra o Ebitda e vai seguir entregando resultado.
“Não vamos em hipótese alguma entrar numa briga direta com o atacarejo. Nós evitamos cair nessa armadilha”
E quanto ao digital? Como essa operação tem evoluído?
Fechamos o James, que era uma operação deficitária, cara e que atendia poucos clientes, e também o centro de distribuição do canal, que era um problema, pois só conseguia vender produtos não perecíveis. Hoje, não tem absolutamente nada do e-commerce que saia de um CD. Tudo sai de uma loja e isso mudou completamente o cenário. Fazemos praticamente 80% das entregas no mesmo dia e reduzimos nosso custo logístico. E 37% de toda a nossa venda é de perecíveis. O resultado é que saímos de uma operação que beirava o deficitário para algo muito próximo ao duplo dígito de rentabilidade.
E em termos de tecnologia? Qual tem sido o foco dos investimentos?
Começamos a usar inteligência artificial para fazer a segmentação dos clientes do Pão de Açúcar Mais, nosso programa de fidelidade, e oferecer o que tem, de fato, correlação com o que eles querem. Isso tem dado um uplift de venda muito importante e está totalmente ligado ao lançamento, em meados de 2023, da nossa área de retail media.
O que já foi feito e quais são os planos para esse braço?
O primeiro passo foi tirar valor de cada metro quadrado onde conseguíssemos trazer exposição. Agora, iniciamos um segundo caminho que é olhar para a inteligência de dados e para um dos nossos maiores ativos, que é a base do Pão de Açúcar Mais, com mais de 20 milhões de clientes cadastrados e mais de 3 milhões ativos. Nós tratávamos todos eles de forma única. Agora, contratamos uma ferramenta chamada Customer Data Platform, da Adobe, e estamos começando a olhá-los individualmente.
Você pode dar exemplos de como estão fazendo isso na prática?
O brasileiro, por natureza, chega no fim de semana e quer fazer o seu churrasco. Geralmente, eu oferecia para esse consumidor o carvão e a cerveja. Era o vínculo óbvio. E, com a ferramenta, começamos a estudar o que não era óbvio. E uma das coisas que percebemos foi que esse consumidor também comprava cápsula de café. Então, fizemos um teste com um parceiro da indústria e as vendas de cápsulas desse fornecedor cresceram 700%, o que nos deu o insight para pensar em dois vieses. Um, de oferecer o que é de fato relevante para o cliente e, o segundo, de monetizar essa informação com a indústria. Porque, em vez dele dar um tiro de canhão, é um investimento muito mais assertivo.
Muitos varejistas estão investindo em retail media. Qual espaço o GPA pode ocupar nessa área?
Estamos avançando nesses projetos e, no primeiro semestre, já vendemos mais do que em todo o ano passado e a beleza da área é que ela tem uma margem desproporcionalmente alta comparada ao varejo alimentar. O potencial é enorme, mas vai ser enorme para alguns players. E o GPA tem o privilégio de ser um deles, pelo público que atende, que tem uma receita discricionária maior e está disposto a ativar essas ações caso seja provocado.
E quais são os próximos passos nessa unidade?
Ainda vamos avançar no que estamos chamando de hiper personalização, que é realmente conhecer o consumidor, seu comportamento de compra e o da sua família. Até chegar no ponto de ter uma interação que torne quase inviável a necessidade desse cliente ir para outro lugar. Mas ainda é embrionário. Hoje, o que temos é um hiper cluster de comportamentos de compra muito semelhantes. Mas ainda não falamos com o CPF. E não é algo imediato. Devemos materializar isso no segundo semestre de 2025. Mas é para onde queremos ir. Conseguir personalizar essa conversa por meio da inteligência artificial.
Negócios
O dólar nas alturas e Lula em um mundo paralelo
O Banco Central vem intervindo fortemente no câmbio nos últimos dias. Desde o início de dezembro, o País já queimou perto de US$ 21 bilhões de suas reservas internacionais para evitar uma desvalorização (maior) do real sobre o dólar.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse na manhã de quinta-feira, 18, que a autoridade monetária “vai atuar quando necessário” para estabilizar a moeda. O País detém, hoje, cerca de US$ 360 bilhões em reservas.
O BC vem atuando no câmbio tanto para conter a tendência de alta do dólar como para manter a liquidez de um mercado vendedor – sem isso o dólar já poderia ter batido R$ 7. Mas por trás de toda essa movimentação está um governo federal inepto com o rumo desenfreado das contas públicas.
Um empresário com trânsito na Faria Lima e em Brasília disse ao NeoFeed que a situação é preocupante. “É perigoso entrar na espiral de queimar reserva para conter a alta do dólar todos os dias”, disse, reforçando que foram US$ 8 bilhões na quinta-feira, 18 de dezembro, nos leilões no mercado à vista, na maior intervenção diária já feita desde 1999.
Outro empresário de alta patente, espantado com a deterioração rápida do mercado, mesclou incredulidade e indignação ao analisar o momento atual. “O que está acontecendo com o Brasil!?”, disse. “O governo está brincando com fogo, as coisas começam devagar e vão tomando uma proporção que depois fica difícil de controlar.”
Mas o presidente, ao que parece, não está nem aí. Em entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, o presidente Lula disse que “ninguém nesse país, do mercado, tem mais responsabilidade fiscal do que eu”.
“Entreguei esse país numa situação muito privilegiada. É isso que eu quero fazer outra vez. E não é o mercado que tem ficar preocupado com os gastos do governo. É o governo. Porque, se eu não controlar os gastos, se eu gastar mais do que eu tenho, quem vai pagar é o povo pobre”, disse ele, no domingo, 15 de dezembro.
“O governo deveria se preocupar porque essa saída de dólares é um sinal de perda de credibilidade no País. Lembrando que essas pessoas estão decidindo sair com o câmbio no nível mais barato de todos os tempos [o real está no nível mais barato ante o dólar]”, diz Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central e professor-adjunto na Georgetown University, ao NeoFeed. “Tem gente que jogou a toalha, não está esperando para ver se haverá mais medidas de Lula.”
Um gestor com algumas dezenas de bilhões sob gestão se disse ainda mais preocupado porque o Congresso, que poderia atuar na questão, vai focar nas eleições para a Presidência da Câmara e do Senado. “Essa situação vai correr solta e o Lula parece que está vivendo em um mundo paralelo. Quem manda no governo é o Rui Costa e a Janja”, diz, referindo-se ao ministro da Casa Civil e à primeira-dama.
Fabio Giambiagi, economista do FGV Ibre, reforça a barreira imposta pela mudança das lideranças no Congresso: nos próximos 40 dias não há condições de ir além do que foi proposto até agora pelo governo federal.
“Imagino que no começo de fevereiro, já definidos os novos interlocutores no Senado e na Câmara, será feita uma avaliação da situação”, diz Giambiagi. “Se o dólar ficar em torno de R$ 6, provavelmente se tentará levar o ano sem novos ajustes, mas se o clima dos últimos dias persistir, creio que será inevitável pensar numa agenda mais ambiciosa pelo lado do gasto.”
A volatilidade do mercado vem da impressão de que o governo não fará mais nenhum esforço fiscal além do que foi apresentado até agora. Para desfazer essa impressão, seria preciso uma ação rápida e uma certa dose de coragem política, uma combinação que não deve vir do governo.
É difícil acreditar que essa situação pode ser sustentável no médio prazo. Desde o segundo trimestre deste ano, o mercado financeiro vem alertando sobre o perigo do aumento das contas públicas. Um gestor disse ao NeoFeed que a “impressão atual é que está beirando o descontrole”.
Essa impressão com o pouco caso do governo começou logo após o anúncio em cadeia nacional do pacote de corte de gastos feito pelo ministro Fernando Haddad, em 27 de novembro. Na ocasião, o mercado financeiro entendeu a mensagem do governo como uma propaganda político-eleitoreira em um “embrulho mal feito”. Na rede social X, o gestor Pedro Cerize, da Skopos, escreveu: “caro ministro, vai dar m…”
A mensagem não era uma ameaça da Faria Lima para começar com o que vem sendo chamado de “ataque especulativo” – como o ministro Haddad sugeriu em entrevista em Brasília. Era apenas a percepção de que o governo federal não tratou com a devida urgência o problema fiscal do País.
“Não concordo com o Haddad que estamos sofrendo um ataque especulativo, porque há fundamentos para mostrar esse desequilíbrio. O problema é que a incerteza é tão grande que os piores cenários estão na mesa”, diz Valter Bianchi Filho, CEO da gestora Fundamenta.
Gabriel Galípolo, que assume a presidência do Banco Central a partir de 1º de janeiro de 2025, vai na mesma direção: “Ataque especulativo como algo coordenado não representa bem [o que está acontecendo]”, disse ele na manhã de quinta-feira, 18.
As medidas anunciadas estavam na direção correta, mas foram implodidas pelo próprio governo. Ao NeoFeed, Luis Stuhlberger, da gestora Verde Asset, um dos maiores nomes da indústria de investimentos do Brasil, disse que o pacote pareceu uma “gorjeta” diante do tamanho dos gastos do governo que vêm subindo ano a ano.
“O que apareceu foi ‘vamos subir a isenção de imposto para R$ 5 mil’. Foi um discurso extremamente populista. Não foi discurso de quem está pregando austeridade”, disse ele nesta entrevista.
O pacote, embalado pela isenção do IR, não foi suficientes para garantir a estabilidade fiscal. Nas semanas seguintes, inúmeras trocas com o Congresso para aprovação mostram que não devem ser feitas mais medidas, além das apresentadas, de ajuste fiscal até 2027.
“Não há nenhuma bala de prata que possa ser usada, o que falta é uma medida fiscal mais tempestiva por parte do governo. É clara a ausência de vontade política do governo de conter os gastos”, diz Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter.
“O pacote foi na direção correta, mas frustrou as expectativas, as medidas foram tímidas no conjunto. O Congresso está desidratando as medidas e, neste cenário, não vejo o governo com intenção de adotar uma atuação energética.”
No cálculo dos economistas, o câmbio médio do atual governo, entre R$ 5,50 e R$ 6, já reflete uma inflação de 5% e uma taxa Selic na faixa de 14% – está em 12,25% neste momento com guidance do BC de duas altas de um ponto percentual nas próximas duas reuniões.
O dólar, que fechou a quarta-feira, 18 de dezembro, negociado a R$ 6,29, chegou a tocar em R$ 6,30 no ínicio da negociação de quinta-feira. E fechou o dia em R$ 6,12, queda de 2,27%.
“Para reverter essa tendência, para chegar num ponto de estabilidade ou até mesmo o dólar voltar a cair, a gente vai precisar de novas medidas de corte de gastos. E isso para logo”, afirma Alexandre Viotto, chefe da mesa de câmbio da EQI Investimentos.
“Se isso não acontecer, é provável que o dólar siga descolando e não tem, pelo menos no momento, nenhum teto”, complementa.
Nos últimos 12 meses, o real se desvalorizou 26% sobre o dólar. O mercado projetava, no início de 2024, um câmbio entre R$ 4,90 e R$ 5,10 para o ano. O primeiro boletim Focus trazia uma divisa a R$ 5. Mas está tudo bem, é claro, porque ninguém, na história deste País, tem mais responsabilidade fiscal do que o presidente Lula. Concorda?
(Colaboraram Ivan Ryngelblum, José Eduardo Barella e Patricia Valle)
Negócios
Natal e Ano Novo podem dar uma mãozinha ao governo na batalha do câmbio?
Selic a 15%, inflação a 5%, dólar acima de R$ 6, juro real a 9,5%, PIB em queda e crédito firme, mas com bancos na retranca em novas concessões e de olho na inadimplência compõem o cenário econômico do Brasil até onde a vista alcança. E o Ano Novo não dá pinta de ser tão novo assim.
Nem a desova de US$ 20 bilhões pelo Banco Central em dezembro, até a quinta-feira, 19, nem o avanço nas votações do pacote fiscal no Congresso, a regulamentação da Reforma Tributária sobre o consumo e o encaminhamento do Orçamento de 2025 neutralizaram o mau humor do mercado.
A desidratação do pacote pelos parlamentares aprofundou a desconfiança nos rumos da política fiscal e não há sinal de alívio consistente à frente porque o mercado quer mais medidas. E para já.
A visão de que o governo só vai driblar o risco fiscal se cortar gastos, que gastar menos não conta e que o momento exige melhor articulação no Congresso mantém o dólar pressionado. E o dólar arrasta os juros.
A persistir o movimento – por demanda para hedge e remessas ao exterior ou especulação – o câmbio não tardará a elevar o risco Brasil, afastando, de vez, o investidor estrangeiro do País. O financeiro e o focado na economia real.
A aprovação da Reforma Tributária sobre o consumo, que levará o Brasil à liderança global em cobrança do IVA com alíquota de 28%, em vez de ser comemorada agrava expectativas com a reforma sobre a renda. E a percepção de analistas é de que ela reservará surpresas para além da taxação de quem ganha R$ 50 mil para compensar a isenção de quem ganha até R$ 5 mil.
E prevalece o entendimento de que a tensão fiscal não será atenuada tão cedo e tampouco haverá reancoragem de expectativas de inflação. Há possibilidade de arrefecimento de preços com dólar em alta de quase 28% no ano?
Embora pontual, mas com chance de aprofundar a instabilidade dos mercados, a valorização do dólar poderá aumentar nos próximos dias com os feriados de Natal e Ano Novo que levam à redução da liquidez das operações pelo fechamento da B3 nos dias 24, 25, 31 de dezembro e 1º de janeiro.
A queda no volume de negócios poderá provocar e/ou ampliar a distorção de preços dos ativos – especialmente câmbio e juros – negociados em instrumentos derivativos na bolsa. Mas não pode ser descartada uma trégua no debate sobre a escalada desses indicadores pelo esvaziamento previsto (e sazonal) das mesas de operações, sobretudo, de tesourarias bancárias.
Ainda que mais brando após o BC bombardear o mercado com US$ 8 bilhões na quinta, 19, o câmbio produzirá estrago na inflação e sob o risco de abater a popularidade de Lula, praticamente estável em dezembro ante outubro, segundo as pesquisas Quaest e Datafolha divulgadas, respectivamente, em 11 e 18 de dezembro. Porém, a sondagem da Quaest disparou alertas relevantes.
Entre eles, a percepção dos entrevistados – 8.598 em todo o País – de forte elevação nos preços de alimentos, contas de água e luz e combustíveis. Melhora do mercado de trabalho, mas menor poder aquisitivo.
Para 43% dos pesquisados hoje está mais fácil conseguir um emprego. Entretanto, para 68%, o poder de compra é menor que um ano atrás. E, tão relevante quanto inesperado, “economia” e “violência” encabeçam o ranking de maiores problemas do Brasil, segundo a sondagem da Quaest.
Freio de arrumação sem recessão
Apesar da turbulência no mercado e de indicadores apontarem para um 2025 menos favorável, é arriscado apostar em cenário péssimo. Um “socorro” poderá vir do campo. Grandes bancos preveem fortalecimento importante do agronegócio, gerando renda e suporte ao PIB já no primeiro trimestre.
“A economia passará por um freio de arrumação devido à política monetária altamente restritiva, mas sem recessão”, avalia Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional de Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi).
Em entrevista ao NeoFeed, Tingas observa que a desaceleração da atividade já está dada com inflação e câmbio em forte alta. Um binômio que levará a remarcações de preços e à abertura de um ano difícil, sem contar as repercussões das medidas fiscais e do próprio Orçamento do governo. Entretanto, sem recessão à frente. “Para 2025, estima-se PIB em alta de 1,8% a 2,2%. Expansão menor que 2024, mas não há sinal de retração”, reforça.
Para o economista, o País atravessa uma crise com origem sobretudo fiscal e política, com o governo entregando incerteza ao demonstrar dificuldade em sinalizar claramente sua política fiscal.
E o câmbio, diz, reflete essa deficiência local, além da incerteza decorrente da vitória de Trump à Casa Branca e quanto à política econômica futura dos EUA que coloca em xeque a política de juros executada pelo Federal Reserve. Na quarta-feira, 18, o Fed reduziu sua taxa em 0,25 ponto – para 4,25% a 4,50% – e sinalizou um freio para 2025 que sacudiu ativos no mundo inteiro.
Essas condições apontam para um ambiente mais hostil, observa Tingas, que considera provável que uma parte do sistema financeiro se afaste de um ano muito bom que foi 2024, para um 2025 pautado pela desalavancagem.
“Empresas e famílias vão tentar tomar menos crédito ao mesmo tempo em que as instituições financeiras vão tentar montar carteiras com mais qualidade e, portanto, tomar menos risco. Mas o crédito deverá ter crescimento ainda expressivo no próximo ano”, afirma Tingas.
Ele destaca que em períodos de desaceleração econômica e fluxo de caixa mais apertado muitas empresas refinanciam suas dívidas, mantendo as operações bancárias.
Quanto à demanda das famílias por crédito, o economista é positivo. Avalia que o mercado de trabalho não enfraquece de um dia para o outro e que o governo poderá dar fôlego às operações por meio de bancos públicos. A expansão geral das carteiras poderá recuar de cerca de 11% esse ano para 8% em 2025. “É uma queda, mas a taxa ainda forte”, garante.
Negócios
Herdeiro do grupo Votorantim vira sócio da holding esportiva OutField
Lucas Moraes, membro da quinta geração da família fundadora do Grupo Votorantim e um dos principais pilotos da nova geração de Rally brasileira, está virando sócio da holding esportiva OutField, que foi fundada por Pedro Oliveira e Lucas de Paula.
Ele está comprando uma fatia minoritária não revelada da empresa, que também tem como sócia a gestora Spectra, e atende empresas como a New Balance, Unilever, Banco BMG, Flamengo, São Paulo FC, Red Bull Bragantino, NBA e Ironman Brasil.
Além disso, a OutField tem investimentos em mais de 10 empresas destes setores, dois clubes de futebol (SAFs) e faz a gestão de fundos de investimento com mais de R$ 500 milhões sob gestão.
“Sempre tive um desejo de tentar conectar as minhas duas paixões, que são tecnologia e esporte”, afirma Moraes, ao NeoFeed. “E, por um amigo em comum, conheci a OutField, que me impressionou com a capacidade de conectar finanças, tecnologia e esporte, de uma forma que eu nunca tinha visto. Isso foi o que me motivou a investir na holding”.
Moraes, que é filho de Marcos Ermírio de Moraes, já foi campeão do Rally dos Sertões e ficou na terceira posição do Dakar 2024, feito inédito para um brasileiro no campeonato comparável à Fórmula 1 na categoria de rallys. Para 2025, o atleta já renovou seu contrato com a equipe Toyota Gazoo Racing, com a qual espera ganhar o primeiro título do Dakar.
Na faceta de empreendedor, Moraes foi um dos fundadores da startup de inteligência artificial para planejamento de gastos, a Olivia. Criada em 2016 nos Estados Unidos, ao lado do cofundador Cristiano Oliveira, a startup chegou ao Brasil em 2019. Em dois anos, a companhia avaliada em mais de R$ 200 milhões, foi vendida para o Nubank.
Com nove anos de experiência no mercado, a OutField Holding é formada por uma gestora de fundos com foco no esporte, aliada a uma boutique de consultoria estratégica e M&A e uma agência de comunicação.
“Muito do nosso desafio do lado da gestora é atrair capital do mercado tradicional, mostrando que o segmento de esportes está evoluindo, amadurecendo e se tornando um ativo cada vez mais seguro para os investidores”, afirma Pedro Oliveira, fundador da OutField.
A negociação mais recente da companhia foi a estruturação do fundo de reorganização financeira do São Paulo Futebol Clube, realizado em parceria com a Galapagos Capital.
De acordo com Oliveira, a gestora sempre teve a pretensão de trazer atletas para o time, seguindo os moldes do que acontecesse fora do país com nomes como Tom Brady e Lebron James, para eles pudessem reinvestir no setor.
“O Lucas chega exatamente para isso e demonstra que ele, como atleta de alto nível, entende a importância de participar como investidor desse mercado, o que vai além do dinheiro”, diz o sócio da OutField.
Em relação a estrutura da empresa, Oliveira afirma que a OutField não tem um board estruturado, mas que Moraes participará das decisões tomadas daqui para frente. Moraes, por sua vez, se define como um “investidor curioso”, que está disposto a aprender mais sobre o mercado.
“O meu desejo com o investimento é ajudar o ecossistema que eu já participei como empreendedor, fazendo com que ele tenha força para se manter e crescer nos próximos anos, dentro de um segmento tão importante quanto o de esportes”, diz Moraes.
Com a sua chegada, a OutField espera expandir seus negócios para outros esportes, indo além do futebol, que tem sido o core business nos últimos anos, com 60% dos projetos voltados para o esporte. Com Moraes, a empresa mira modalidades de nicho como automobilismo, tênis e triathlon.
Para tirar esse projeto do papel, a companhia conta com dois fundos, o OTF Capital e o OTF Capital 2, voltados para suportar empresas do segmento de esportes. Os fundos já investem em 10 startups do setor.
No início de 2024, a Spectra, gestora com mais de R$ 7 bilhões em ativos, deu suporte para o lançamento do OTF Capital 2, com o investimento de R$ 50 milhões. Para 2025, OutField está anunciando uma nova captação de R$ 25 milhões em capital para o mesmo fundo, podendo chegar a até R$ 50 milhões ao fim do ano.
“Com essa nova captação, queremos aumentar o número de investidas do OutField Capital 2, passando de quatro empresas para dez até o fim do ano”, afirma Oliveira. “Nós já temos diversas empresas bacanas no pipeline que giram em torno de tecnologias para a indústria e também de eventos e ligas do setor de esportes, então agora só falta tomar as decisões”.
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