Connect with us

Negócios

GPA entra na “última milha” da reestruturação

Prublicadas

sobre

GPA entra na “última milha” da reestruturação
Tempo de Leitura:11 Minuto, 2 Segundo


Com um mandato de reestruturação nas mãos, uma das primeiras medidas de Marcelo Pimentel quando assumiu o comando do GPA, em abril de 2022, foi interromper mais de 300 projetos e focar no que era essencial para o grupo de varejo alimentar, dono do Pão de Açúcar e avaliado em R$ 1,47 bilhão.

Uma das frentes que ganharam espaço nessa prateleira foi o Minuto Pão de Açúcar. Enquanto boa parte do varejo olhava para o formato de atacarejo, a rede de proximidade foi eleita como o foco de expansão em lojas físicas e, ao mesmo tempo, como o posto avançado para as entregas do e-commerce do grupo.

Entre outros ganhos, essa estratégia fez com que a empresa saltasse de um índice de 45% para 80% as entregas feitas no mesmo dia na casa dos consumidores. E, num roteiro mais amplo, é um dos indicadores que mostram o trajeto percorrido pelo GPA em pouco mais de dois anos.

“Estamos na reta final da nossa reestruturação. O turnaround operacional já foi feito. Agora, temos que terminar o trabalho de estrutura de capital”, diz Marcelo Pimentel, CEO do GPA, ao NeoFeed. “E a última milha, para mim, é dar lucro. Nossa ambição é tornar a empresa lucrativa o mais rápido possível.”

No que diz respeito à estrutura de capital e à redução da alavancagem, o executivo diz que ainda há espaço para novas vendas de ativos não core. Mas não na magnitude do que foi feito desde a sua chegada à operação.

De lá para cá, o GPA “arrecadou” quase R$ 2 bilhões com um pacote que incluiu a venda da sua sede administrativa e da sua rede de postos de combustível. Nesse carrinho, o grupo também se desfez de suas fatias na Cnova e na rede de supermercados colombiana Éxito.

“Trouxemos uma receita adicional com a venda de ativos e participações que foi toda endereçada para a redução da dívida”, afirma Pimentel. “O fato é que esse paciente já saiu do hospital e estamos numa recuperação muito mais saudável.”

O GPA fechou o segundo trimestre com uma margem bruta recorde de 28,2% e um avanço de 34,8% no Ebitda ajustado, para R$ 396 milhões. Na última linha do balanço teve, porém, um prejuízo líquido de R$ 332 milhões, contra R$ 425 milhões, um ano antes.

Mais recentemente, outro fator também inspirou cuidados. No fim de setembro, o Assaí informou que foi notificado pela Receita Federal sobre o arrolamento de bens no valor de R$ 1,25 bilhão, em função de contingências tributárias relacionadas ao GPA, anteriores à cisão dos dois grupos, em 2020.

No fato relevante, o Assaí ressaltou que vem monitorando o tema de forma próxima ao GPA e que o grupo, conforme os termos da cisão, deverá indenizar a empresa por qualquer prejuízo decorrente. Na visão de Pimentel, o caso não traz, porém, reflexos no turnaround da varejista.

“Todos esses passivos estavam devidamente demonstrados no nosso balanço e nas nossas interações com o mercado. Então, em termos de reação do nosso lado, teve pouca surpresa”, diz Pimentel. “Não há nenhum complicador. Vida que segue. A cada dia que passa, o GPA tem menos riscos.”

Nesta entrevista, Pimentel dá mais detalhes do que o GPA está fazendo para virar a chave em direção à rentabilidade e fala ainda de expansão, da bandeira Extra, de inteligência artificial, de hiper personalização e do braço de retail media, uma das apostas mais recentes do grupo. Confira:

Como você vê o GPA após pouco mais de dois anos da sua gestão? Quais são as perspectivas do grupo?
Eu diria que estamos na reta final da nossa reestruturação. O turnaround operacional já foi completo. Agora, temos que terminar o trabalho de estrutura de capital. E a última milha da reestruturação, para mim, é dar lucro. No próximo triênio, a partir de 2025, nossa ambição é tornar a empresa lucrativa o mais rápido possível.

O que falta ser feito em termos de estrutura de capital?
Trouxemos uma receita adicional próxima de R$ 2 bilhões com a venda de ativos e participações que foi toda endereçada para a redução da dívida. E o próximo passo, que é uma consequência disso, é o custo da dívida, que vem reduzindo drasticamente. O segundo é seguir avançando com o operacional para que as margens e o controle de despesa tornem a empresa autossustentável. O fato é que esse paciente já saiu do hospital e estamos numa recuperação muito mais saudável.

Existem outras frentes para seguir avançando nesses indicadores e em direção à lucratividade?
Outro tema que estamos endereçando tem a ver com a saída do Extra como hipermercado, o que envolve todo o passivo trabalhista decorrente desse movimento. Muitas pessoas foram desligadas e isso tende a melhorar a cada ano, já que o prazo para entrar com processos foi expirado.

Qual é o tamanho desse passivo?
Hoje, está na faixa de R$ 400, R$ 500 milhões. Tudo já contabilizado e provisionado. E nós começamos um land down disso, o que também vai liberar um caixa importante.

“No próximo triênio, a partir de 2025, nossa ambição é tornar a empresa lucrativa o mais rápido possível”

Há outras medidas em curso?
Em 2023, contratamos a Falconi para construir um orçamento base zero. Na primeira rodada, já encontramos cerca de R$ 240 milhões de redução de despesas. Renovamos a parceria e, em 2024, estamos próximos de R$ 250 milhões e vamos fazer novamente esse trabalho para 2025. Então, tem sido uma visão constante de entrar em absolutamente todos os contratos, todas as áreas e questionar absolutamente tudo.

E quanto à venda de ativos? Há margem para mais desinvestimentos?
Ainda temos alguns imóveis e outros pontos que podem nos ajudar a acelerar essa desalavancagem. Será algo muito menor agora, nada comparado ao que foi feito nos últimos dois anos. Mas vamos tirar proveito de qualquer oportunidade que tivermos.

Recentemente, veio à tona o caso do arrolamento de bens do Assaí por conta de contingências tributárias do GPA, anteriores à cisão das duas operações. De que maneira isso pode impactar o GPA?
O contrato feito na cisão tem sido 100% cumprido e não há qualquer sinal de incapacidade de cumprimento desse contrato. Esse é o primeiro ponto. Segundo, não tem nenhuma surpresa com relação ao GPA, porque todos esses passivos estavam devidamente demonstrados no nosso balanço e nas nossas interações com o mercado. Então, em termos de reação do nosso lado, teve pouca surpresa. Não há nenhum complicador. Vida que segue. A cada dia que passa, o GPA tem menos riscos. Eu tinha um risco muito maior dois anos atrás.

Alguns analistas reconhecem os avanços do GPA, mas questionam o fôlego para dar sequência a esse turnaround. Como você enxerga essas avaliações?
A melhor forma de responder é com números. Pegamos a operação com margem bruta de 23% e já estamos acima de 27%. Tínhamos margem Ebitda de 1,5%, que, no último trimestre, foi de 8,8%. Reduzimos 12 dias de estoque, 50% a ruptura e melhoramos a disponibilidade de produto em prateleira. Avançamos com a penetração de perecíveis e já ultrapassamos 50% e reduzimos a alavancagem que estava acima de 10 vezes para menos de 3 vezes. Agora, qual é a missão? O foco principal é resgatar a marca Pão de Açúcar, seja ela na proximidade, no supermercado ou no online. Esse é o primeiro ponto. É daqui que tem surgido toda essa renovação do resultado.

Nesse sentido, com a estrutura de capital reforçada, há alguma possibilidade de revisar para cima a projeção de expansão de lojas?
Tirando um player específico de proximidade, o GPA foi quem mais abriu lojas no varejo alimentar nos últimos dois anos. Foram 110 lojas, sua maioria, do Minuto Pão de Açúcar. Estamos abrindo, em média, 50, 60 lojas por ano e não temos planos de pisar no freio. Ao contrário, vamos seguir acelerando.

Qual será a prioridade nessa próxima onda em termos de geografias e formatos?
Vamos seguir totalmente concentrados em São Paulo. É o nosso quintal e não vamos sair daqui enquanto realmente não adensarmos a cidade. E a nossa visão é continuar expandindo o Minuto, que bebe da marca Pão de Açúcar. E é onde eu ganho escala, pois preciso de muitas lojas próximas para reduzir meu custo logístico. Vemos muito espaço em bairros afluentes e altamente verticalizados. E isso tem sido uma grata surpresa, pois, historicamente, uma loja leva, em média, três anos para chegar à sua maturação. E o que temos visto no Minuto é que ela tem maturado nos primeiros 12 meses.

E quanto à bandeira Extra? Quais são os planos?
Estamos fazendo no Extra o mesmo trabalho de revisão de sortimento que fizemos no Pão de Açúcar. E não vamos em hipótese alguma entrar numa briga direta com o atacarejo. Evitamos cair nessa armadilha. Não somos e não vamos ser atacarejo. O foco para o Extra é ser um supermercado de bairro, local, muito forte em perecíveis. E diferentemente do Pão de Açúcar, em que a experiência completa é muito relevante, aqui, a comodidade e uma boa precificação vai ser muito mais importante.

Quantas lojas o Extra tem hoje e em que estágio está essa remodelagem da bandeira?
Temos algo próximo de 150 lojas e a remodelagem já foi feita em praticamente todas elas. O que estamos fazendo agora é uma revisão nas fachadas, pois era um ativo que estava muito depreciado. Mas, nesse ano, o Extra já dobra o Ebitda e vai seguir entregando resultado.

“Não vamos em hipótese alguma entrar numa briga direta com o atacarejo. Nós evitamos cair nessa armadilha”

E quanto ao digital? Como essa operação tem evoluído?
Fechamos o James, que era uma operação deficitária, cara e que atendia poucos clientes, e também o centro de distribuição do canal, que era um problema, pois só conseguia vender produtos não perecíveis. Hoje, não tem absolutamente nada do e-commerce que saia de um CD. Tudo sai de uma loja e isso mudou completamente o cenário. Fazemos praticamente 80% das entregas no mesmo dia e reduzimos nosso custo logístico. E 37% de toda a nossa venda é de perecíveis. O resultado é que saímos de uma operação que beirava o deficitário para algo muito próximo ao duplo dígito de rentabilidade.

E em termos de tecnologia? Qual tem sido o foco dos investimentos?
Começamos a usar inteligência artificial para fazer a segmentação dos clientes do Pão de Açúcar Mais, nosso programa de fidelidade, e oferecer o que tem, de fato, correlação com o que eles querem. Isso tem dado um uplift de venda muito importante e está totalmente ligado ao lançamento, em meados de 2023, da nossa área de retail media.

O que já foi feito e quais são os planos para esse braço?
O primeiro passo foi tirar valor de cada metro quadrado onde conseguíssemos trazer exposição. Agora, iniciamos um segundo caminho que é olhar para a inteligência de dados e para um dos nossos maiores ativos, que é a base do Pão de Açúcar Mais, com mais de 20 milhões de clientes cadastrados e mais de 3 milhões ativos. Nós tratávamos todos eles de forma única. Agora, contratamos uma ferramenta chamada Customer Data Platform, da Adobe, e estamos começando a olhá-los individualmente.

Você pode dar exemplos de como estão fazendo isso na prática?
O brasileiro, por natureza, chega no fim de semana e quer fazer o seu churrasco. Geralmente, eu oferecia para esse consumidor o carvão e a cerveja. Era o vínculo óbvio. E, com a ferramenta, começamos a estudar o que não era óbvio. E uma das coisas que percebemos foi que esse consumidor também comprava cápsula de café. Então, fizemos um teste com um parceiro da indústria e as vendas de cápsulas desse fornecedor cresceram 700%, o que nos deu o insight para pensar em dois vieses. Um, de oferecer o que é de fato relevante para o cliente e, o segundo, de monetizar essa informação com a indústria. Porque, em vez dele dar um tiro de canhão, é um investimento muito mais assertivo.

Muitos varejistas estão investindo em retail media. Qual espaço o GPA pode ocupar nessa área?
Estamos avançando nesses projetos e, no primeiro semestre, já vendemos mais do que em todo o ano passado e a beleza da área é que ela tem uma margem desproporcionalmente alta comparada ao varejo alimentar. O potencial é enorme, mas vai ser enorme para alguns players. E o GPA tem o privilégio de ser um deles, pelo público que atende, que tem uma receita discricionária maior e está disposto a ativar essas ações caso seja provocado.

E quais são os próximos passos nessa unidade?
Ainda vamos avançar no que estamos chamando de hiper personalização, que é realmente conhecer o consumidor, seu comportamento de compra e o da sua família. Até chegar no ponto de ter uma interação que torne quase inviável a necessidade desse cliente ir para outro lugar. Mas ainda é embrionário. Hoje, o que temos é um hiper cluster de comportamentos de compra muito semelhantes. Mas ainda não falamos com o CPF. E não é algo imediato. Devemos materializar isso no segundo semestre de 2025. Mas é para onde queremos ir. Conseguir personalizar essa conversa por meio da inteligência artificial.





Fonte: Neofeed

Negócios

Nas empresas familiares, os herdeiros estão indo para o conselho antes de assumir a gestão

Prublicadas

sobre

Nas empresas familiares, os herdeiros estão indo para o conselho antes de assumir a gestão
Tempo de Leitura:4 Minuto, 42 Segundo


O que Magalu, Votorantim, Gerdau, JBS, Safra, Marfrig e Weg têm em comum? Além de serem companhias brasileiras extremamente robustas em seus segmentos, elas possuem o DNA familiar na formação de suas histórias. Ainda que com executivos de mercados em posições estratégias, a maior parte delas é dirigida por integrantes de familiares ligados aos fundadores.

Mas qual é o segredo para que essas empresas, geridas por familiares, tenham sucesso? E, mais do que isso: como garantir a perenidade dos negócios? Esses talvez sejam os principais desafios das empresas familiares brasileiras.

Fato é que, ainda que com esses grandes cases de sucessos, os números trabalham contra essa realidade. Levantamento realizado pelo Banco Mundial mostrou que apenas 30% das empresas familiares chegam à terceira geração. E apenas 15% sobrevivem a essa sucessão. E o principal motivo é a falta de planejamento sucessório.

Segundo a 11ª Pesquisa Global sobre Empresas Familiares da PwC, somente 24% das companhias familiares se preparam para a sucessão. O resultado são conflitos entre os integrantes da família. E, por consequência, da empesa. O problema é que, sem a clareza de uma liderança, a empresa acaba vendida ou até mesmo indo à falência.

“O grande desafio das empresas familiares é separar as três caixinhas de cada um como família, como sócio e como funcionário. Nem todo mundo tem perfil para ser funcionário, muito menos executivo. Mas todos devem saber cobrar os executivos por resultados como sócios. E isso não pode afetar a relação familiar entre eles”, diz Gilson Faust, sócio da consultoria GoNext, que atuou em mais de 200 sucessões familiares.

Uma ideia está começando a ganhar corpo no mundo corporativo: o conselho de herdeiros. Na prática, são como conselhos de administração, mas que reúnem herdeiros de todas as idades. O objetivo é ensinar sobre o papel de sócios, discutindo questões da empresa e entendendo se possuem o perfil para serem executivos ou não.

No conselho, os herdeiros têm como principal objetivo aprenderem sobre a empresa e seus valores, o mercado que está inserida e seus desafios e oportunidades, além de começarem a acompanhar os resultados da empresa para aprendem a sua futura função de sócios e seus deveres e responsabilidades.

Isso já acontece na rede de supermercados Jacomar, uma das maiores redes de supermercados de Curitiba, fundada em 1966, que já passou de forma organizada para a segunda geração composta por oito irmãos, e que tem 20 pessoas da terceira geração que compõe o conselho de herdeiros.

Priscila Fantin, 27 anos, economista e especialista em gestão empresarial, é uma delas. Primeiro trabalhou no mercado e depois foi para a empresa da família, onde está há sete anos como analista de controladoria. O seu pai é o atual CEO da empresa, mas isso não muda a trajetória que ela precisa seguir na empresa. Ela veio para a área porque havia a vaga e ela tinha a experiencia.

“Nós já não tivemos o contato com os fundadores como a segunda geração, então muito do que fazemos é ver quais são os valores da empresa e como modernizar isso para os novos tempos. E levamos essa ideia para os sócios atuais”, afirma Fantin.

As reuniões do conselho são mensais e híbridas, para contemplar tanto os herdeiros que trabalham na empresa como os que não e estão em outra cidade ou país. Os herdeiros mais atuantes também passam a partilhar das reuniões do Conselho de Administração da empresa como ouvintes para ficarem por dentro das questões atuais, e também absorverem conhecimento para o momento em que passarem a atuar de forma definitiva na empresa.

A família Nichele, dona da Nichele Materiais de Construção, em Curitiba, descobriu as dificuldades de uma sucessão não planejada na prática. O fundador da empresa preparou o filho, Cristiano, para assumir o comando da empresa. Mas, na última hora, resolver compartilhar a gestão com suas outras duas filhas.

A consultoria GoNext foi acionada para ajudar e foi entender qual seria o melhor papel de cada um na empresa. Cristiano se tornou CEO com a aprovação de todos os sócios. As irmãs assumiram as diretorias financeiras e comercial. Já no marketing, ninguém da família tinha vocação e foi contratado um profissional de mercado.

“Meu pai sempre me preparou para assumir, mas depois não sabia muito bem o que fazer com as minhas irmãs e tentou colocar nós três na liderança”, diz Cristian. “Foi muito bom passar todo esse processo mais científico porque assim a aceitação da família foi muito melhor, sem deixar brechas que um ou outro estava sendo beneficiado”.

A terceira geração da família Nichele já começou a ser preparada desde cedo e passou a integrar o conselho de herdeiros com a orientação da consultoria. Já são nove pessoas de um grupo heterogêneo com crianças, adolescente e adultos. Todos os maiores de 14 anos já podem participar das reuniões.

Para Helena Rocha, sócia da PwC Brasil, apesar da transferência do controle para a próxima geração ser um evento extremamente importante e único na vida da empresa familiar, na prática é algo sobre o qual raramente se fala. E isso gera problemas, principalmente quando a sucessão precisa ser antecipada de forma inesperada.

“Ausência de comunicação, de alinhamento e planejamento estratégico comprometem qualquer negócio, mas principalmente as empresas familiares, onde as emoções se misturam entre família e negócio. É imprescindível a comunicação entre as gerações e um contrato geracional honesto”, afirma Rocha.

A organização e sucesso das empresas familiares beneficia a economia. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 90% das empresas brasileiras são familiares e empregam 75% dos brasileiros. Elas são responsáveis por mais de 60% do Produto Interno Bruto (PIB).



Fonte: Neofeed

Continue Lendo

Negócios

Os “quadros de lã” de uma brasileira autodidata ganham exposição nos EUA

Prublicadas

sobre

Os
Tempo de Leitura:4 Minuto, 7 Segundo


É uma irônica coincidência que algumas semanas após o governo Trump começar a prender e deportar imigrantes, o American Folk Art Museum, em Nova York, dê voz para uma brasileira que viveu à margem do sistema de produção da arte. Madalena Santos Reinbolt nasceu em Vitória da Conquista, na Bahia, em 1912, trabalhou a maior parte da vida como empregada doméstica e hoje suas obras valem mais de US$ 100 mil.

Esta será a sua primeira exposição individual no exterior e a visibilidade que tem ganhado seu trabalho fez com que o preço de suas obras dobrasse nos últimos dois anos. “Madalena Santos Reinbolt: Uma cabeça cheia de planetas” é o título da exposição com 42 obras têxteis que vai de 12 de fevereiro a 25 de maio. A artista autodidata, mais conhecida por seus bordados em grande escala, feitos com centenas de fios coloridos e vibrantes, e chamados “quadros de lã”, teve reconhecimento tardio.

Durante toda a vida, ela serviu em casas da elite brasileira e uma das fazendas onde trabalhou como cozinheira foi a Samambaia, em Petrópolis, no Rio de Janeiro, onde viviam a arquiteta Lota Macedo Soares e sua mulher, a escritora norte-americana Elisabeth Bishop. Madalena morreu em Petrópolis, em 1976.

Novas datas de nascimento e morte são apresentadas pela primeira vez nessa exposição novaiorquina em consequência das pesquisas feitas por um dos curadores, Blau Edelstein, que ficou vários meses no Brasil apurando detalhes da vida da artista.

“Achei o cemitério onde ela teria sido enterrada e esta exposição está oferecendo novas datas, diferentes das que você encontrará se pesquisar online, porque como empregada doméstica ela meio que escapa dos arquivos”, diz Edelstein, ao NeoFeed.

Blau é americano, mas começou a estudar português na faculdade, veio para o Brasil várias vezes e acabou criando uma relação com o País. Atualmente, ele prepara uma tese de doutorado na Universidade de Princeton, em Nova Jersey, no departamento de espanhol e português.

O tema central é a circulação de obras produzidas em hospitais psiquiátricos brasileiros, algo pensado a partir do projeto de Nise da Silveira, psiquiatra brasileira que se tornou conhecida por revolucionar o tratamento destinado a doentes mentais internados no país.

A exposição do American Folk Art Museum é uma parceria com o Museu de Arte de São Paulo (Masp), que realizou com o mesmo título a primeira individual da artista em 2022. “Estamos atualizando a exposição de alguma forma, com novas pesquisas e contextualizando para o público norte americano, que não só desconhece a obra dela como desconhece muito a arte brasileira”.

Trabalhos realizados por Madalena hoje podem chegar a custar US$ 100 mil

Artista brasileira usava lã em suas obras e produziu muitos quadros bordados

Nascida em Vitória da Conquista, na Bahia, em 1912, Madalena morreu em Petrópolis, no Rio de Janeiro, em 1976

Atualmente, com todo o movimento decolonial da arte, várias nomenclaturas passaram a ser rejeitadas. Uma delas é arte “naif” ou “ingênua” ou “primitiva”, categorias nas quais a obra de Madalena foi enquadrada. “Rejeito essas palavras”, diz Edelstein. “Um dos motivos que me levou a fazer a pesquisa foi ajudar a criar uma imagem dela como pessoa, que ia além dessas categorias.”

O valor do bordado

O curador conta que Madalena era descrita como uma grande primitiva, em cartas de Elizabeth Bishop, nas quais a escritora dizia que seria possível ganhar uma fortuna vendendo obras dela na Quinta Avenida, em Nova York. Nessas cartas, escritas por volta de 1952, e posteriormente publicadas, ela dizia que “Madalena era uma grande artista, mas que ela, Bishop, tinha que optar entre a paz e tranquilidade na casa ou a arte. Ela optou pela tranquilidade e Madalena saiu de lá”.

Trabalhou em outras casas de veraneio, sempre como doméstica e cozinheira. O trabalho artístico era feito nas horas vagas. Madalena começou com pinturas, teve uma alergia à tinta e a partir de meados da década de 1960 passa a produzir bordados. “Ela tinha consciência do valor do bordado”, diz o curador. “Embora demorasse muito mais tempo para fazer um quadro bordado ganhava mais dinheiro com ele”.

Anos mais tarde, foi a crítica de arte, curadora, museóloga e antropóloga Lélia Coelho Frota, que descobriu Madalena e foi duas vezes a Petrópolis para entrevistá-la. A artista já tinha morrido quando, em 1978, Lélia foi curadora da seleção dos artistas brasileiros na Bienal Internacional de Veneza e incluiu Madalena.

A presidente Curatorial do American Folk Art Museum, Valerie Rousseau, ao comentar a obra da artista, afirma que só agora, quase 50 anos após sua morte, as realizações artísticas de Madalena começam a receber a atenção crítica que merecem. “O trabalho dela apresenta espaços de liberdade criativa tanto quanto expressões de resistência, ecoando sua própria existência”.

Num dos poucos depoimentos que há da artista, ela diz: “Resolvo tudo na cabeça. Posso ver tudo, mesmo com os olhos fechados… Na verdade, são as agulhas que fazem o desenho”.





Fonte: Neofeed

Continue Lendo

Negócios

O “mar agitado” para o design de interiores dos iates em águas brasileiras

Prublicadas

sobre

O
Tempo de Leitura:6 Minuto, 12 Segundo


O segmento de iates de luxo no Brasil está indo de vento em popa. Neste ano, o setor deve alcançar um faturamento de R$ 4 bilhões, segundo projeções da Associação Brasileira de Construtores de Barcos e seus Implementos (Acobar) e do Conselho Internacional de Associação da Indústria Marinha (Icomia). Esse número representa o dobro do faturamento de 2021, que foi impulsionado pela busca por isolamento no mar durante a pandemia pelas pessoas mais abastadas.

Com o avanço do setor, um mercado altamente especializado vem ganhando força: o design de interiores náuticos. “Com o aumento da venda de barcos novos e o crescimento da procura por refit, que é a reforma de embarcações antigas, a minha área está aquecida”, diz ao NeoFeed Naiara Bogo, designer náutica que trabalha para a grife italiana Azimut Yachts. Entre os mais de 300 projetos de barcos que ela assina, estão o iate de Roberto Justus e o do jogador de futebol Thiago Silva.

Diferentemente de um projeto para apartamento ou para casa, o de design de interiores de um iate exige um planejamento minucioso e é preciso ter bastante conhecimento sobre embarcações. “Todos os projetos precisam ser pensados e estudados junto com a engenharia de cada estaleiro. E os desafios são inúmeros, desde considerar o peso dos itens que vão compor os ambientes – que interferem na estabilidade do barco – até o aproveitamento de cada canto da embarcação”, afirma Bogo.

Os móveis que serão colocados no barco têm de ser fixados ao chão ou equipados com travas de segurança para evitar deslocamentos durante a navegação. No mobiliário, as quinas arredondas e as formas orgânicas são sempre as mais utilizadas por não oferecerem riscos de acidentes.

Objetos decorativos como vasos, esculturas e bandejas também devem ser presos com uma fita apropriada para evitar quedas. Berços de acrílicos são feitos para aninhar parte das louças, dos copos e de outros utensílios do barco. Já o uso de materiais como mármores e vidros devem ser usados com muito critério porque podem trincar ou quebrar.

“A maresia, a exposição ao sol e a umidade aceleram o desgaste, então optamos por tecidos náuticos, madeiras tratadas e metais resistentes à corrosão”, afirma Fabianne Domingos, dona da Fabianne Domingos Luxury Decor.

E até os eletrodomésticos marinizados, ideais para as embarcações, podem entrar no planejamento dos projetos que, em média, levam entre 6 meses e um ano para ficarem prontos.

Com mais de 20 anos de experiência, Domingos faz projetos de interiores para embarcações de luxo e é bastante conhecida por criar enxovais de cama, mesa e banho, além de louças customizados, como os que apresentou recentemente no Rio Boat Show 2024.

Mais recentemente, ela criou uma linha pet para atender aos clientes que, cada vez mais, têm levado seus animais de estimação para navegar. “Oferecemos caminha, lençol, toalha, travesseiro, bolsa de brinquedos, além de personalização de colete salva-vidas, boné e até óculos de natação”, conta.

Tudo isso pode parecer exagero. No entanto, para uma pessoa que faz um investimento de milhões na compra de um barco de luxo não faz o menor sentido economizar na customização, até porque ela também reflete na valorização do iate. Por isso, os clientes querem ambientes harmoniosos e que imprimam seu gosto pessoal, já que um barco é seu outro lar.

“Muito desejam exclusividade. Por isso, querem, além do design de interiores, que a gente crie estampas personalizadas com suas iniciais ou com logotipo do barco em jogo de cama, toalhas e louças”, explica Domingos.

Academias, cinemas particulares e até adegas climatizadas são alguns dos pedidos que costumam ser feitos às designers de interiores náuticas, revelando que há uma grande preocupação em manter a bordo um estilo de vida bastante próximo do que costumam levar em terra firme. Mesmo que isso signifique abrir mão de algum espaço.

“Roberto Justus, por exemplo, me pediu para transformar uma das suítes em um mini cinema com telão e poltronas de couro. Fiz o projeto e o resultado ficou incrível”, conta Bogo.

Para ela, isso mostra que o design náutico está sendo elevado a um novo patamar nos últimos anos. Mesmo quando se trata de iates antigos, os proprietários têm investido em refit para que atender aos padrões de luxo e de tecnologia.

“Antes, essas embarcações seguiam um padrão mais tradicional, com madeiras nobres e elementos clássicos. Hoje, quem tem um iate deseja mais. Quer algo único e que reflita sua identidade”, diz Bogo.

Fabianne Domingos utiliza tecidos náuticos e madeiras tratadas para evitar a corrosão

Móveis instalados nos iates precisam ser fixados no chão para evitar deslocamentos durante a navegação

Projetos nos iates são pensados também para valorizar os espaços e garantir contemplação

Dormitórios das embarcações também atendem ao conforto e praticidade

Naiara Bogo trabalha para a grife italiana Azimut Yachts e já fez trabalhos para Roberto Justus e Thiago Silva

A conexão imersiva com o exterior é outro ponto que costuma marcar presença nos projetos de iates de luxo. Para isso são instaladas janelas panorâmicas, que vão do chão ao teto, com vista do mar, que ainda permitem a entrada de luz natural; além de ambiente ar livre conectado com a parte interna por meio de portas de vidros retrateis.

Universo minimalista nos mares

As tendências em design de interiores náuticos são inspiradas pelo que dita o universo da decoração e da arquitetura. Fato é que uma das mais fortes é o minimalismo, bastante comum nos projetos de casas e apartamentos de altíssimo padrão. Mas o design de interiores de iates não segue apenas tendências da arquitetura.

“As grandes marcas de moda de luxo, como Fendi, Hermès e Louis Vuitton, influenciam diretamente nos acabamentos e em materiais que utilizamos. E muitos clientes desejam tecidos e móveis assinados por designers renomados”, diz Domingos.

A crescente preocupação ambiental tem levado o design de interiores de iates a olhar com mais atenção para a sustentabilidade. Essa nova forma de pensar a decoração leva em conta o impacto ambiental.

“Hoje, utilizamos materiais ecológicos, como madeira certificada, tintas naturais e tecidos reciclados e temos priorizado a reutilização e o upcycling de objetos”, diz Domingos.

Além da sustentabilidade, a automação e o uso eficiente de energia estão ganhando importância no design de interior náutico. Sistemas de purificação de água e iluminação de LED são alguns exemplos desse interesse em causar baixo impacto.

Soluções tecnológicas também têm sido incorporadas ao universo náutico de luxo. “A automação está cada vez mais presente nos projetos. Estamos incluindo em nossos projetos sistemas de iluminação, áudio e vídeo que podem ser controlados por aplicativo para que os clientes tenham uma experiência melhor e muito mais prática enquanto estiverem navegando”, diz Domingos.

Entre as inovações aplicadas estão a iluminação e a temperatura do ambiente que podem ser ativadas antes mesmo de a pessoa embarcar. Cortinas automatizadas, fechaduras digitais e climatização inteligente também estão se tornando cada vez mais comuns em iates de luxo. Além disso, os óculos de realidade virtual já estão sendo utilizados no processo de design.

“Conseguimos simular a experiência do barco pronto para que o cliente veja já no pré-projeto como ficariam os ambientes depois de prontos”, afirma Domingos.

Para ela e outros profissionais do setor, o trabalho do designer de interiores náutico não se trata apenas de decorar embarcações, mas de criar espaços que transformam a experiência de navegação. Por isso, mais do que nunca a criatividade e a especialização são as chaves para continuar navegando nesse oceano de oportunidades.





Fonte: Neofeed

Continue Lendo

Popular