Negócios
Na Panvel, o retail media vai ganhar espaço no balcão
A partir do Rio Grande do Sul, a Panvel foi uma das primeiras redes de farmácias do Brasil a explorar fronteiras nas quais, posteriormente, se tornou uma das referências do setor. Entre elas, os investimentos em canais digitais e em marcas próprias.
Após consolidar esses cases, o grupo, que também abriga a Dimed Distribuidora e o laboratório Lifar, quer avançar em um outro balcão, ainda bastante recente para todo o varejo: o retail media, um segmento que, no Brasil, tem a RD (Raia Drogasil) como pioneira entre as farmácias.
“Estou há 28 anos no varejo e, desde então, escuto que o varejo é mídia”, diz Julio Mottin Neto, CEO do grupo Panvel, ao NeoFeed. “E agora virou mídia mesmo. Quando se tem 7 milhões de acessos nas suas plataformas digitais, isso é audiência. Então, está na hora de ganharmos dinheiro com isso.”
O volume de acessos mensais em seu site e aplicativo foi um dos fatores que levaram a Panvel a decidir investir na estruturação de um braço dedicado a essa vertente, há pouco mais de um ano. Atualmente, o time da área, que tem perspectivas de expansão, conta com 15 profissionais.
Se a audiência digital foi um dos motores da criação da unidade, as lojas físicas mostram como a Panvel está acelerando essa aposta. Em 2024, a rede realizou um projeto-piloto com a instalação de duas telas de mídia – uma no balcão e outra no check-out – em 20 de suas unidades no Rio Grande do Sul.
Agora, o plano é começar a escalar esse piloto e chegar a 100 lojas com displays até o fim do primeiro semestre de 2025. Incluindo nessa conta Santa Catarina, Paraná e São Paulo, os outros três estados em que a rede tem presença.
“A RD (Raia Drogasil) já andou muito rápido nisso. Mas estamos tendo uma procura muito grande”, afirma Neto. “E, nesse caso, acho que vamos extrapolar a fronteira dos fornecedores do setor para outros segmentos, como empresas de viagens e hotéis.”
Esse projeto reforça o portfólio da Panvel nesse novo espaço, hoje mais concentrado em uma plataforma “self-service”, na qual os anunciantes conseguem escolher e comprar mídia nos canais digitais do grupo – de banners a uma posição privilegiada na busca do app e do site da empresa.
“Eles escolhem, por exemplo, os canais e o tipo de público. Um anúncio de fralda não vai aparecer para todo mundo”, afirma Neto. “É aí que está o furo da bala do retail media. Você consegue ir peneirando, em vez de espalhar chumbo.”
No que diz respeito a essa plataforma, a lista de anunciantes que trabalham com a Panvel já conta com mais de 20 empresas de grande porte. A relação inclui nomes como Unilever, Nestlé, Nivea e Sanofi.
“A indústria percebeu que investir na mídia tradicional já não dá mais o mesmo retorno. E, na mídia digital, os preços estão subindo cada vez mais”, diz Neto. “Então, o varejo está entrando para resolver esse problema. Com os dados do setor, a assertividade e o retorno aumentam, enquanto o custo cai.”
Como a operação ainda é recente, ele ressalta que esse braço ainda “não virou o ponteiro” dentro do balanço do grupo, que faturou R$ 3,1 bilhões de janeiro a setembro deste ano. Mas que a projeção é dobrar a receita da unidade entre 2024 e 2025, de R$ 10 milhões para R$ 20 milhões.
Outros dados dão mais otimismo a Panvel. Com a participação de 150 grandes anunciantes, uma pesquisa de outubro divulgada pela plataforma Newtail mostra que 67% dessas empresas ampliaram seus investimentos em retail media nos últimos 12 meses.
Dentro de um universo que incluiu companhias como BRF, Ambev, Coca-Cola e Casas Bahia, os anunciantes responderam com quais varejistas fizeram essas ações. A Panvel foi citada por 29% deles, o mesmo índice de Magazine Luiza e RD. E ficou atrás apenas da Amazon (81%) e do Mercado Livre (62%).
Uma segunda pesquisa reforça essas boas perspectivas. Conduzido pela consultoria eMarketer, o estudo projeta que os gastos com retail media na América Latina chegarão a quase US$ 2 bilhões em 2024, com destaque para o Brasil, que terá o dobro da média global de 20,3% de crescimento, e o México.
Em expansão, a mesma batida
Se planeja apertar o passo em retail media, em expansão de lojas, a ideia da Panvel não é acelerar, mas sim, manter o ritmo de 60 aberturas anuais registrado desde 2020. Na época, o grupo captou R$ 480 milhões em um re-IPO para dar mais velocidade a essa frente, que, hoje, inclui 612 unidades.
“Se o cenário macro fosse mais favorável, 2025 seria um ano de acelerar o crescimento”, diz Neto. “Mas o que está se desenhando é desafiador, não vamos nos arriscar a crescer mais. Vamos manter a mesma batida e será um ano mais de colhermos o que plantamos desde 2020.”
Ele ressalta que o patamar de investimento do ano também vai se manter em R$ 160 milhões. Há mudanças, porém, na tese de expansão. Incluindo o maior foco no Paraná e em Santa Catarina, além de 4 unidades em São Paulo, o maior volume desde que a rede desembarcou nessa praça, em 2016.
Antes de cumprir esse roteiro, na B3, as ações da Panvel encerraram as negociações da segunda-feira, 12 de dezembro, com queda de 1,63%, cotadas a R$ 9,06. No ano, os papéis da companhia, avaliada em R$ 1,3 bilhão, acumulam um recuo de 32,1%.
Negócios
A crise dos fundos multimercados não tem fim e a sangria bilionária continua. Há saída à vista?
Os fundos multimercados, que têm maior liberdade de alocação de recursos em diversas classes de ativos, tiveram uma sangria de R$ 324 bilhões de janeiro a novembro de 2024, segundo dados da Anbima. A explicação de boa parte dos gestores para esses saques está no desmonte de fundos exclusivos, que passaram a pagar come-cotas.
Mas um levantamento do BTG Pactual, no qual o NeoFeed teve acesso com exclusividade, mostra que os saques vão além dos recursos dos fundos exclusivos. O banco de investimento identificou o fluxo para os fundos multimercados “puro sangue”, sem considerar aqueles exclusivos ou que seguem outras estratégias, como de crédito, mas que recebem a mesma classificação.
A conclusão não deixa dúvidas sobre a crise dos multimercados: os resgates somaram R$ 100 bilhões em 2024, superando os R$ 60 bilhões do ano passado. Desde 2022, as retiradas dos fundos analisados como multimercados “puro sangue” acumulam R$ 180 bilhões. Para chegar aos números, o BTG aplicou critérios como tamanho, estratégias, análises qualitativas das gestoras e número de cotistas.
A questão que se coloca é quando essa sangria vai parar? E o que explica essa debandada dos investidores rumo a outros ativos? Uma das razões está no desempenho dos multimercados.
Um levantamento da Elos Ayta Consultoria mostrou que apenas 34% dos fundos multimercado ficaram acima do CDI no ano de 2023. Em 2024 até novembro, esse número subiu um pouco, para 42% acima do benchmark.
“Os resgates são resultados de uma performance ruim, mas acima de tudo porque eles não cumprem o seu papel de diversificação na carteira há três anos”, diz Eduardo Castro, CIO da Portofino Multi Family Office. “Neste mundo pós-pandemia, os fundos vão bem quando o mercado vai bem. E quando vai mal, em vez de minimizarem as perdas como esperado, perdem até mais.”
É importante lembrar que a indústria viveu um grande boom entre 2012 e 2019 com o crescimento das plataformas digitais e a democratização dos investimentos, o que possibilitou o surgimento de várias novas assets e levou os multimercados ao investidor de varejo.
Quando a taxa de juros foi caindo e chegou a 2% em 2020, os investidores tomaram mais risco. Mas, à medida que o Brasil voltou à taxa média anual de juros de dois dígitos, o investidor foi saindo do risco.
Os investidores mais sofisticados, que seguraram a posição em seus altos e baixos até este ano, olharam a relação risco-retorno dos últimos 36 meses e avaliaram que não compensava ficar alocado nessa estratégia.
O que se espera é um retorno de CDI+3% no longo prazo para esse risco. O Itaú Fund of Funds fez um filtro para ver qual é, de fato, um multimercado “puro sangue”, e não um fundo temático com essa classificação, e analisou quais (dos 102 fundos na lista) nos últimos cinco anos teve um retorno de CDI +3%.
Em 2019 e 2020, 57% e 42%, respectivamente, entregaram essa rentabilidade. Em 2021 e 2022, apenas 22% e 16% respectivamente. E em 2023 e 2024, menos de 10% conseguiram esse resultado desejado.
“Sem dúvida estamos vivendo um momento de crise da indústria, que “inchou” muito nos últimos anos. E agora vive-se um processo de seleção de quem realmente está apto para lidar com as adversidades e entregar valor para o cliente”, afirma Rodrigo Giordano, superintendente da área de fund of funds do Itaú.
A tributação dos fundos exclusivos acelerou os resgate. Agora, com o imposto sendo pago de forma recorrente, ficou mais caro ter essa estratégia. Muitos investidores revisaram o portfólio e se sentiram livres para mandar mais recursos para o exterior e investir em títulos isentos no Brasil.
“Com a tributação, os clientes buscaram mais eficiência no Brasil em títulos isentos e aumentaram a sua exposição em moeda forte”, afirma Marcos Macedo, head de research e alocação da Fami Capital. “Mas além disso, a paciência do investidor com os multimercados acabou. Uma indústria que tem volatilidade, cobra 2% de taxa mais 20% de performance para entregar, na média, 110% do CDI”.
A decisão de resgatar os recursos dos multimercados também é técnica de alocação. Pelo cenário completamente incerto no Brasil, os poucos gestores que têm conseguido bons resultados estão capturando beta do mercado americano, com exposição a juros e bolsa.
Nada que não seja possível de conseguir com ETFs internacionais a custos mais baixos. Muito diferente de fundos de ações e crédito privado, por exemplo, em que uma seleção criteriosa se mostra fundamental.
“Os multimercados sempre foram um instrumento de geração de alfa em mercados difíceis e custosos de operar pelos alocadores. Mas agora o escopo das estratégias ganhadoras tem sido relativamente trivial, a gente pode montar a posição até mesmo na B3”, afirma Castro, da Portofino Multi Family Office.
O que se espera para 2025?
Mesmo após todos esses resgates, a sangria pode não ter estancado, mas vem mostrando desaceleração. Os gestores de grandes fortunas afirmam que ainda há fundos exclusivos para serem analisados e desmontados. E, com os juros subindo possivelmente para 15% ao ano, os investidores devem sair de fato do risco.
Em meio a isso, algumas gestoras começam a passar apertos para conseguir gerar melhores resultados. Com a queda de volume sob gestão, a receita fica menor para manter o mesmo time. O que se espera é uma consolidação da indústria.
Na segunda semana de dezembro deste ano, a gestora BlueLine anunciou o encerramento de suas operações, citando “condições de mercado” como motivo. De acordo com Fabio Akira, economista-chefe e um dos sócios, fatores como a alta de juros e a concorrência com a renda fixa pesaram para a decisão.
Guilherme Zaczac, head de investimentos alternativos líquidos no Brasil do UBS Global Wealth Management, destaca que, embora as saídas tenham “reduzido significativamente”, ainda não cessaram. “A barreira de entrada para ser um gestor multimercado é bem maior do que se pensava. Faz parte do amadurecimento do mercado”, afirma.
Apesar das dificuldades, Zaczac acredita que os fundos multimercados podem voltar a captar no próximo ano, desde que entreguem retornos atrativos. Ele aponta uma melhora significativa no desempenho dos principais fundos nos últimos seis meses. “Se a indústria performar bem até o fim do primeiro trimestre, haverá fluxo para esses gestores”, diz.
A questão está em saber quem serão esses vencedores. E os grandes alocadores estão muito mais criteriosos com suas escolhas. Para Fernando Donnay, portfólio manager da G5 Partners, a conversa com os gestores tem sido mais próxima, entendendo quem pode aproveitar a crise para capturar bons profissionais no mercado, ou quem está com a corda no pescoço.
“Esse é o momento de estar em casas sólidas e ver quem está em transformação e está investindo para ter um produto mais robusto do que o clássico trade de bolsa e juros”, afirma Donnay.
Esse movimento de consolidação pode ser também o início de uma transformação da indústria, como ocorreu com os hedge funds americanos. Por lá, a competição com a indústria de fundos indexadas obrigou os gestores a diminuírem os seus custos e buscarem mais alfa no longo prazo. E para conseguirem diversificar mais o risco, sem aumentar custos, passaram a usar massivamente tecnologia para alocação globalmente.
“Para cobrar caro é preciso dar um retorno mais agressivo, ao mesmo tempo não há espaço para grandes drawdown. Estamos vendo, corretamente, alguns gestores aumentando a sua exposição no exterior, adicionando novas fontes de alfa. Mas, para isso, é necessário investimento em pessoas e tecnologia”, afirma Adilson Ferrarezi, head de soluções de investimentos da Bradesco Asset.
Desde 2021, grandes gestoras de multimercado têm se desafiado no mercado global. Em 2022, conseguiram bons retornos com isso, mas em 2023 erraram. E a grande aposta para 2025 da indústria é o mercado internacional, que parece ter uma tendência mais clara para operar.
Ao mesmo tempo, no Brasil, cada vez mais o mercado global se abre para os pequenos investidores, que podem ter acesso a grandes gestoras internacionais e com o apoio de um assessor de investimentos.
“É importante os gestores ‘operarem mundo’, mas é preciso humildade em saber onde está o seu diferencial em relação a grandes gestores sentados em Nova York ou Londres”, afirma Ferrarezi. “Na nossa opinião, é replicar o aprendizado no Brasil para outros países que possam vir a passar por movimentos semelhantes e entender os impactos para emergentes.”
Lá fora, os hedge funds perderam estruturalmente espaço na carteira, mas são um dos grandes responsáveis pela geração de alfa. Por aqui, ainda não dá para saber se eles podem reconquistar o espaço que tiveram antes.
Mas já se espera que os vencedores sejam poucos e com uma estrutura muito mais robusta do que aquela que ganhou espaço anos atrás.
Negócios
Antigas minas se transformam em parques e centros culturais
No sopé da Serra do Curral, o Parque das Mangabeiras é um dos cartões-postais de Belo Horizonte. Seus 2,4 milhões de metros quadrados (m²) de mata nativa abrigam uma grande variedade de fauna e flora. Não é raro avistar micos, gambás, esquilos e quatis circulando por entre bromélias, jequitibás e gabirobas.
Quem passeia pelos jardins projetados pelo paisagista Roberto Burle Marx dificilmente imagina que bem ali funcionou, entre 1961 e 1979, uma mina de minério de ferro. A única lembrança do passado minerário do lugar está exposto em uma de suas praças: um antigo britador usado pela Ferrobel, empresa de economia mista, que tinha a prefeitura da cidade como seu principal acionista.
Inaugurado em 1982, o Parque das Mangabeiras serve de modelo para o encerramento ideal de um projeto mineral. A céu aberto ou subterrâneas, ao movimentar quantidades enormes de terra, as minas alteram drasticamente as paisagens das regiões onde estão instaladas. Terminada a exploração, a recuperação e reabilitação do ecossistema é tida hoje como uma dos pilares mais essenciais da mineração sustentável.
A quase mil quilômetros da capital mineira, em Curitiba, outro parque, o das Pedreiras, também serve de exemplo para a revitalização de áreas, um dia, exploradas pela indústria da mineração. Com 103 mil m², o lugar abriga o Espaço Cultural Paulo Leminski, o maior auditório ao ar livre da América Latina, e a Ópera de Arame, um dos centros de cultura mais importantes do Brasil.
Como o britador do parque mineiro, em Curitiba, um imenso paredão de pedra não deixa esquecer que, naquele local, a prefeitura operou uma pedreira que, ao longo de três décadas, forneceu material para as empresa de construção civil da cidade.
Os parques das Mangabeiras e das Pedreiras, no entanto, são exceção. Existem hoje, no país, 800 minas desativadas, sem qualquer projeto de recomposição ambiental, conforme estimativas do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).
Consideradas verdadeiras “bombas-relógios”, as minas abandonadas representam um enorme risco à saúde pública e ao meio ambiente. Em caso de rompimento de uma barragem de rejeitos, pode acontecer a contaminação de córregos, rios e lençóis freáticos. Sem tratamento, os resíduos ameaçam ainda a qualidade do solo.
Como esses lugares não contam com nenhum tipo de supervisão, com o tempo, suas estruturas ficam cada vez mais instáveis e podem colapsar de uma hora para outra.
As regras para o encerramento de um projeto minerário de forma segura e responsável estão esmiuçadas na resolução número 68, de 2021, da Agência Nacional de Mineração (ANM), ligada ao Ministério de Minas e Energia.
Por lei, todo trabalho de recuperação cabe às mineradoras, mesmo quando a área explorada foi arrendada, frisa Julio Nery, diretor de Sustentabilidade do Ibram, em entrevista ao NeoFeed.
E, entre as medidas exigidas, está a obrigatoriedade de apresentação do Plano de Fechamento de Mina (PMF) antes do início das atividades da mina — informações que devem ser revisadas e atualizadas ao longo de toda a exploração.
Devem constar do documento, além de alternativas viáveis para a desativação, as estimativas de gastos com a recuperação da área pós-mineração. Para que o plano realmente funcione, é essencial incluir as comunidades locais na discussão do que será feito da mina depois de seu fechamento.
Nem sempre as exigências são cumpridas. “Infelizmente temos maus exemplos, com casos em que as empresas quebraram e deixaram para o Estado tomar à frente”, diz Nery.
Uma solução seria cobrar uma garantia financeira das mineradoras já no momento de abertura da mina. “Uma espécie de seguro, garantindo sua recuperação, ao fim de sua vida útil. Mas ainda não adotamos essa prática no Brasil”, explica Hernani Mota de Lima, professor do Departamento de Engenharia de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), em conversa com o NeoFeed.
Como o governo federal não se movimentou nesse sentido, o Tribunal de Contas da União (TCU) recomendou à ANM que regulamente o provisionamento financeiro para o fechamento de minas no Brasil.
Antes de adotar a medida, a agência abriu uma consulta pública em seu site, em 25 de novembro, para receber sugestões para a proposta de regulamentação das garantias financeiras na execução dos fechamentos de forma adequada. O prazo para envio de sugestões vai até 22 de fevereiro de 2025.
Entre os pontos, estão a cobertura total das garantias em até 15 anos e a reavaliação do valor garantido a cada cinco anos.
Um dos grandes entraves ao fechamento adequado dos projetos minerários no país é a falta de recursos e escassez de mão-de-obra técnica para uma fiscalização mais efetiva.
Esse dinheiro deveria vir da chamada Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM), uma contraprestação paga pelas companhias mineradoras pelo uso econômico dos recursos minerais. Responsável pela fiscalização, a ANM tem direito a um orçamento anual correspondente a 7% do CFEM — algo em torno de R$ 400 milhões anuais.
Atualmente, porém, os repasses chegam a, no máximo, R$ 90 milhões, por causa de contingenciamentos de recursos federais. E a agência conta hoje com 680 funcionários para atender todo o Brasil, quando deveria ter pelo menos o triplo desse número.
Para minimizar parte desse problema, a ANM lançou, em 22 de novembro, edital de concurso público para contratação de 40 analistas administrativos e 180 especialistas em recursos minerais. A ideia é melhorar a eficiência na fiscalização das mineradoras.
Os países mais avançados tanto na legislação quanto no controle das exigências para o fechamento de minas são Estados Unidos, Austrália e Canadá. As mineradoras são obrigadas garantir o dinheiro a ser usado no fechamento de uma mina, antes de abri-la.
Finalizar um projeto de exploração mineral não é fácil — como também não é iniciá-lo. Mas o trabalho deve ser encarado pelas mineradoras como uma nova fase do projeto. Um dos desafios refere-se à topografia da região onde as minas estão instaladas, em geral, muito acidentadas, explica o diretor do Ibram.
“Há casos em que as empresas fazem acordos com donos das áreas para saber como querem receber o local. E tentam pelo menos deixar a área mais uniforme, para que possam usar, por exemplo, na agricultura”, diz o executivo.
Outro ponto de atenção é em relação à drenagem ácida. Um dos impactos ambientais mais graves da mineração, trata-se de uma solução aquosa e ácida, proveniente do contato de minerais sulfetados com a água, muito comum em minas de ouro e de cobre.
As escavações mais profundas, frequentemente, atingem o lençol freático. Enquanto a área está em uso, a água é bombeada para fora da cava. Do contrário, é impossível trabalhar. Uma vez encerradas as operações, deixada a seu próprio curso, a água acumula e pode contaminar os mananciais hídricos.
“Para evitar que isso aconteça, é preciso construir estruturas de barragens, de modo a fazer o tratamento do material, incluindo a impermeabilização do espaço”, explica Nery.
Os parques das Mangabeiras e das Pedreiras estão aí para mostrar que as minas desativadas podem ter um bom destino. Um fim social e ambientalmente responsável.
Negócios
Por que o Cinquecento elétrico virou o pesadelo da Stellantis
A crise da Stellantis causada pelas baixas vendas do modelo elétrico Fiat 500e aprofundou o dilema vivido pela montadora desde a demissão do CEO Carlos Tavares, no início do mês.
O chefe da Stellantis Europa, Jean-Philippe Impparato, reuniu-se na terça-feira, 17 de dezembro, em Roma, com o ministro da Indústria da Itália, Adolfo Urso, e líderes sindicais para discutir medidas para aumentar a produção de carros da montadora no país.
Após o encontro, a Stellantis se comprometeu a investir € 2 bilhões na Itália no próximo ano e desenvolver um novo modelo popular. O plano também incluirá um número maior de modelos híbridos a serem fabricados na Itália.
Enquanto isso, a imprensa europeia repercutia uma promoção inédita de uma concessionária da Stellantis nos Estados Unidos que causou constrangimento aos italianos.
Preocupada com o encalhe de vendas do Fiat 500e nos EUA, uma concessionária de Aurora, no estado do Colorado, está anunciando uma promoção que prevê “aluguel de graça” do Cinquecento elétrico por 27 meses. Na verdade, os interessados terão de arcar com o pagamento de impostos e taxas, que totalizam US$ 62 por mês.
A oferta revela o fiasco de venda do Fiat 500e, um modelo compacto elétrico com apenas 400 unidades comercializadas nos EUA este ano. Suas características não se encaixaram no mar de modelos EV que estão inundando o mercado americano.
O 500e tem uma bateria de 42 quilowatts-hora que oferece até 240 quilômetros de alcance com uma carga. Seu preço inicial de venda, de US$ 34.095 (incluindo a taxa de destino de US$ 1.595) tampouco é competitivo – o tamanho pequeno e o alcance limitado do modelo o tornam perfeito para a condução urbana, mas também limitam seu público.
O contrato de arrendamento termina em 31 de dezembro e está disponível apenas para residentes no Colorado. Os locatários terão a opção de comprar o EV por US$ 17.388 assim que o contrato expirar.
Fiasco na Itália
As vendas baixas do modelo não se limitam aos EUA. A Stellantis tem lutado para vender a versão EV do popular modelo da Fiat desde o seu lançamento e, em setembro, a montadora – que tem em seu portfólio marcas globais como Peugeot, Citroën, Alfa Romeo, Chrysler, Dodge, Jeep, Lancia, Maserati e Opel, além da Fiat – decidiu paralisar a produção do Fiat 500e na planta de Marinelo, concentrando-a em Turim.
As taxas de utilização da montadora é a mais baixa da Europa, de apenas 64%. Nos EUA, é ainda menor, de 52%. O fiasco de vendas do Fiat 500e ameaçou os 40 mil funcionários da Stellantis na Itália, o que levou os sindicatos do país a exigirem mudanças na montadora.
Enquanto as montadoras de toda a Europa estão lutando com a diminuição da demanda por veículos elétricos e o aumento da concorrência de fabricantes chineses como a BYD, a situação da Itália foi agravada pela decisão de Tavares de transferir a produção de alguns modelos da Stellantis para países de baixo custo, como a Polônia.
Na semana passada, a Stellantis anunciou uma parceria com a CATL, maior fabricante de baterias do mundo, para abrir uma fábrica à base de lítio avaliada em € 4,1 bilhões (pouco mais de R$ 26 bilhões) em Zaragoza, no nordeste da Espanha. O objetivo é acelerar a transição de montadora para veículos elétricos.
“Após a renúncia de Tavares, a atmosfera mudou, e o plano de hoje prova isso”, disse o ministro Urso, na coletiva de imprensa. De acordo com o plano anunciado, a Stellantis prevê uma produção italiana de 500.000 veículos em 2025 e um aumento de 50% em 2026, para cerca de 750.000 unidades.
A Stellantis anunciou ainda que começará a fabricar veículos em uma nova plataforma em suas instalações no sul da Itália, em Pomigliano. Por sua vez, o governo liderado pela primeira-ministra Giorgia Meloni disse que está pronto para gastar mais de € 1 bilhão para o setor em 2025.
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