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O que a ciência diz sobre os prazos de validade e o desperdício de alimentos

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O que a ciência diz sobre os prazos de validade e o desperdício de alimentos
Tempo de Leitura:6 Minuto, 36 Segundo


A 88 voluntários foram apresentados vários frascos de leite. Diferiam uns dos outros o tempo de engarrafamento da bebida — 15, 25, 30 e 40 dias. Algumas embalagens estavam datadas; outras, não. Os participantes foram então convidados a cheirar cada um dos produtos e indicar quais eles topariam tomar.

Em diversos momentos, o olfato “autorizava” um leite que era recusado, se fosse apresentado em uma garrafa com o rótulo de sua idade. O mesmíssimo leite. O que isso significa? Que não dá para confiar em nossos sentidos? Não. Que os prazos de validade podem ser uma armadilha para o desperdício de alimentos.

Liderada pelo americano Brian Roe, professor da Universidade Estadual de Ohio, a “pesquisa do leite” já é um clássico. Ainda que as características sensoriais da comida estejam preservadas, a simples inscrição da data de sua fabricação aumenta em até 40% a probabilidade de ela ser posta no lixo, lê-se no artigo Discard intentions are lower for milk presented in containers without date labels, publicado na revista científica Food Quality and Preference.

O inverso também é verdadeiro. Devido a um problema, provavelmente, de processamento, um dos leites da experiência tinha um odor estranho, apesar de “novo”. Pois bem, sem a informação do frescor da bebida, ninguém quis tomá-la. Mas quando oferecida em uma embalagem com datação recente, os participantes aprovaram-na imediatamente.

Nenhum problema se as inscrições com prazo de validade fossem indicativas de segurança. Mas não são. Majoritariamente, apontam a data a partir da qual os produtos começam a perder qualidade.

Uma questão é o prazo que vencido torna os alimentos uma ameaça à saúde. Outra coisa, completamente diferente, é o período que ultrapassado leva a comida a perder sua potencialidade máxima. Quando ela começa a apresentar alterações em seu valor nutricional e/ou em suas características sensoriais, como sabor, aroma, textura e aparência.

E, como lembram os analistas da ONG americana ReFED, focada no combate  ao desperdício, a maioria das doenças deflagradas pela alimentação acontece pela ingestão de comida infectada e não de comida velha.

Confusão global

Pesquisadores da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos avaliaram os estudos realizados entre 2020 e 2022, em todo o mundo, para concluir: a má interpretação dos prazos de validade é um problema global. E dos mais sérios.

No mundo, seis em cada dez pessoas rejeitam alimentos prestes a expirar. Nos Estados Unidos, a confusão leva ao descarte de 80 milhões de toneladas de comida, por ano, aponta a ReFED.

Pelo mesmo motivo, as famílias britânicas se desfazem, anualmente, de quase 7 milhões de toneladas de alimentos, o equivalente a cerca de 35% de tudo o que elas adquirem. No Brasil, por causa do vencimento, só os supermercados põem fora 36,9% de seus produtos — um prejuízo anual de R$ 3,1 bilhões; ou 0,7% do faturamento do setor.

A confusão compromete, inclusive, a doação de comida a quem tem fome. Pelas leis brasileiras, por exemplo, a exposição, comercialização e distribuição de alimentos fora da data estipulada pelos fabricantes é crime passível de multa e cadeia.

“Valido até” X “antes de”

Com a crise climática, o crescimento exponencial da população e a ameaça à segurança alimentar global, rótulos pouco precisos são um entrave ao desenvolvimento sustentável.

Não à toa, mundo afora, cientistas da alimentação, estudiosos do desperdício, ativistas e representantes da indústria agroalimentar estão em defesa de um sistema de datação baseado na ciência, com informações claras, precisas e padronizadas.

A exemplo de vários países, como os da União Europeia, Reino Unido, Noruega, Canadá e Estados Unidos, aqui, no Brasil, há um movimento em defesa da adoção do termo “consumir preferencialmente antes de” — o equivalente ao “best before“, dos anglófonos.

“O conceito de ‘best before‘ permite uma ampliação da janela de consumo, sempre respeitando os critérios de segurança e saúde”, escrevem João Dornellas, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA), e Vanessa de Amaral Franco, diretora jurídica, compliance e sustentabilidade, da entidade, em artigo para o relatório Propostas para o Brasil 2023-2026 — Agronegócio, elaborado pela Fiesp.

O termo porém só seria usado em produtos não perecíveis e de baixo risco de contaminação, desde que atendidas as orientações de armazenamento determinadas pelo fabricante. Fazem parte do grupo, macarrão, conservas, grãos, sucos de frutas, leite UHT, enlatados, leite condensado, geleia, chocolates, biscoitos… a lista é enorme — tão grande que a validade vencida é a principal causa do desperdício no varejo.

Da Universidade Estadual de Ohio, a “experiência do leite” é um clássico nos estudos sobre como os rótulos atuais (no mundo todo) levam à má interpretação das condições dos alimentos

O inovador sistema de refrigeração da japonesa Cool Innovation mantém os morangos frescos por quase um mês (Foto: cool-innovation.com)

A pesquisadora Khengdauliu Chawang, da Southern Methodist University, criou um dispositivo, equipado com RFID, capaz de medir o pH dos alimentos, ao longo de toda a cadeia (Foto: blog.smu.edu)

A startup sueca Vitsab criou a etiqueta Freshtag, que indica, em tempo real, o frescor dos alimentos, a partir da medição da temperatura do produto (Foto: vitafoods.eu.com)

Inventado pela inglesa Mimica, o Bump sinaliza o grau de frescor dos produtos alimentícios (Foto: minicalab.com)

O consumir preferencialmente antes denão se aplicaria aos alimentos perecíveis, “em razão de seus aspectos microbiológicos”, defendem Dornellas e Vanessa, citando carnes in natura, leite pasteurizado e queijos frescos, por exemplo. Para tais produtos, o “válido até” segue adequado.

A mudança nas inscrições pode parecer firula semântica, só que não. A troca tem o potencial de reduzir em 10% a perda alimentar no varejo e mais 10% nos lares — o que somado proporcionaria uma economia anual de R$ 735 milhões.

Enquanto não acontece, lembra o engenheiro de alimentos Ary Bucione, sócio-fundador da consultoria NutriConnection, em entrevista ao NeoFeed: “Segundo o Guia 18/2024, da Anvisa, pode ser realizado o estudo de acompanhamento, logo após o inicio da comercialização do alimento para confirmar o prazo de validade previamente estabelecido”.

O impacto da datação no descarte de comida é tão grande que o parlamento europeu e países como a Alemanha estudam retirar a validade de produtos como café, arroz, massa seca, geleias, picles, entre outros. “Tudo para ajudar a reduzir o desperdício de alimentos que ainda se encontram em condições adequadas e seguras de consumo”, escrevem Dornellas e Vanessa.

Criatividade a mil

Para além do campo regulatório, pesquisadores e inovadores do ecossistema agrifoodtech se empenham no desenvolvimento de ferramentas capazes de aferir com acurácia o frescor dos alimentos perecíveis.

A startup japonesa Cool Innovation desenvolveu um sistema inovador de refrigeração, capaz de reduzir o desperdício em 95% e as emissões de gases de efeito estufa em 98%. Com o sistema Hyōjun, os morangos foram mantidos frescos por cerca de um mês. As uvas, por 90 dias; e a alface, por 45.

As inovações vêm de todos os cantos do planeta. O Freshtag, da startup sueca Vitsab, funciona à base de um código de cores — verde, amarelo e vermelho, como os sinais de trânsito. Afixado na embalagem, a etiqueta indica, em tempo real, a qualidade do produto, a partir de sua temperatura.

No centro de P&D da Southern Methodist University, nos Estados Unidos, a pesquisadora Khengdauliu Chawang criou um biossensor flexível, que mede mede o pH dos produtos.

Equipado com identificação por radiofrequência (RFID), pode ser usado ao longo de toda a cadeia agroalimentar.

Na Inglaterra, a empresa Mimica criou o Bump, um hidrogel sensível à temperatura, que muda a textura da etiqueta conforme o produto deteriora.

Criatividade, como se vê, não é problema. A combinação das novas tecnologias para os alimentos perecíveis e rótulos menos confusos para os não perecíveis pode representar um grande passo contra o desperdício e a garantia da segurança alimentar global.

ATENÇÃO: Com essa reportagem, o NeoFeed não pretende incentivar o consumo de alimentos vencidos e, sim, retratar uma discussão cada vez mais frequente no setor agroalimentar.





Fonte: Neofeed

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Quatro maiores bancos dos EUA têm a maior fatia dos lucros em quase dez anos. O que isso pode significar?

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Quatro maiores bancos dos EUA têm a maior fatia dos lucros em quase dez anos. O que isso pode significar?
Tempo de Leitura:1 Minuto, 48 Segundo


Os quatro maiores bancos dos Estados Unidos reportaram coletivamente a maior fatia dos lucros da indústria em quase uma década, considerando o período de janeiro a setembro.

De acordo com levantamento do Financial Times, J.P. Morgan Chase, Bank of America, Citigroup e Wells Fargo somaram US$ 88 bilhões, o que equivale a 44% dos rendimentos. 

O resultado coloca as instituições numa posição dominante no mercado. Mas não só isso. Esse pode ser um sinal claro de que o setor financeiro americano caminha para uma consolidação.

Quando se olha para o resultado dos sete maiores bancos dos EUA, incluindo US Bank, PNC e Truist, percebe-se que eles geraram 56% de todo o lucro bancário do país nos nove primeiros meses deste ano.

Os altos custos com burocracias regulatórias, o necessário investimento em tecnologia, além das despesas com marketing deixam a concorrência mais desafiadora para pequenas instituições, visto que as maiores podem dividir esses gastos por um número maior de clientes.

Outro ponto é que os grandes bancos, como J.P. Morgan e BofA, consideram em seus resultados o desempenho de braços de investimento, nos quais, na maioria das vezes, os pequenos nem atuam. 

A solução para que os pequenos bancos consigam competir com os gigantes parece ser, então, a consolidação. E há expectativa de que o governo de Donald Trump incentive isso por meio de políticas mais permissivas.

Em entrevista ao Financial Times, Bob Diamond, antigo presidente do Barclays, sugeriu que o número de bancos americanos deve cair pela metade nos próximos três anos.

Enquanto isso não acontece, quem tem realmente batido de frente com os bancões são as entidades não bancárias, que oferecem soluções financeiras. Na carta anual aos acionistas, o presidente do J.P. Morgan, Jamie Dimon, acusou a Apple de atuar como um banco por movimentar dinheiro e realizar empréstimos.

No mercado imobiliário, empresas não bancárias já são responsáveis por mais da metade dos financiamentos. Em 2011, a representatividade era de apenas 11%. E instituições como Apollo, Affirm e Rocket Mortgage vêm ganhando cada vez mais espaço como credores de empresas e consumidores, disputando esse mercado com bancos.



Fonte: Neofeed

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Os três fatores que deveriam levar governo a reforçar a política fiscal, segundo Leonardo Porto, do Citi

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leonardo porto economista Citi
Tempo de Leitura:9 Minuto, 54 Segundo


Quando boa parte do mercado financeiro acreditava que os juros iriam estar abaixo de um dígito no fim de 2024, Leonardo Porto, economista-chefe do Citi Brasil, era uma das poucas vozes que se levantava contra esse consenso.

O tempo mostrou que Porto estava certo. Os juros estão em 12,25% e o Banco Central já sinalizou que deve fazer mais duas altas de 1% cada em 2025 – a expectativa, agora, é de que a Selic fique na casa dos 15% – com alguns agentes do mercado financeiro apostando que pode ser até mais.

Agora, Porto está elencando três fatores que deveriam fazer o governo federal reforçar a política fiscal, após o mercado financeiro entrar em modo pânico com as medidas, consideradas insuficientes, do pacote anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

“A economia está bombando, a hora de fazer ajuste é agora, pois temos arrecadação forte”, afirma Porto, em entrevista ao NeoFeed. “Reforçar a política fiscal, neste momento, é essencial.”

De acordo com ele, adotar medidas duras tornou-se urgente por causa de uma combinação de três fatores: a recente fuga de capitais, que reflete a falta de confiança na política fiscal; o forte crescimento da economia, que gera pressões inflacionárias; e, por fim, o resultado dos dois fatores anteriores, a desancoragem da expectativa de inflação.

Sobre o desafio do novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que assume o lugar de Roberto Campos Neto em janeiro de 2025, Porto sugere cuidado para o órgão na forma de agir para lidar com a expectativa de inflação e escalada do dólar. “Galípolo tem de atuar somente sobre a parte monetária e deixar a parte fiscal para os cuidados do governo federal.”

Na entrevista que você lê a seguir, Porto detalha as suas propostas para enfrentar essa crise fiscal. Ele também diz que a disparada do dólar precisa ser entendida em um contexto maior.

“A primeira conclusão é que o problema recente não foi só a disparada do dólar. São também os juros, a queda da bolsa e a desancoragem da expectativa de inflação. Não é algo idiossincrático do mercado de câmbio.”

Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida ao NeoFeed:

O governo federal viu em dezembro a situação econômica escapar do controle após a péssima recepção do pacote fiscal, culminando com uma desvalorização do real e fuga de capitais. Qual o cenário para 2025?
É preciso analisar os fatores que levaram a esse desequilíbrio no câmbio num contexto maior para poder pensar em 2025. A primeira conclusão é que o problema recente não foi só a disparada do dólar. São também os juros, a queda da bolsa e a desancoragem da expectativa de inflação. Não é algo idiossincrático do mercado de câmbio. A segunda conclusão é que, quando se compara com preços de outros ativos de mercados emergentes, os nossos são os piores em performance – não é, portanto, um problema ligado à economia global, é doméstico.

Qual o peso do anúncio do pacote fiscal nesse desequilíbrio que vimos em dezembro?
Esse desequilíbrio não começou quando o governo anunciou o pacote, no fim de novembro. Ele vem ocorrendo desde março. Nessa época, o dólar estava a R$ 5 e o mercado acreditava que a Selic ia cair para um dígito. E, desde então começou a acelerar. O que houve com o anúncio do pacote foi uma intensificação desse processo. É bem provável que a parte fiscal seja a principal responsável por essa saída de capital de diversos ativos que vimos na última semana.

“Esse desequilíbrio vem desde março, quando o dólar estava a R$ 5 e o mercado acreditava que a Selic ia cair para um dígito”

O que é preciso fazer em 2025 para reverter esse processo?
É preciso reforçar os marcos da política fiscal. O arcabouço aprovado em 2023 tem muitas inconsistências. Ele estabelece um limite de crescimento de despesas entre 0,6% e 2,5% ao ano, mas as despesas mandatórias estão crescendo acima desse teto, como os benefícios previdenciários. O governo não consegue cortar esse gasto porque não pode deixar de pagar aposentado. Para limitar esse crescimento de despesas até 2,5% é preciso cortar as despesas discricionárias. O drama é que esse tipo de despesa está chegando num limite – que não está longe – de simplesmente não conseguir cortar mais. Quando chegar a esse ponto, o arcabouço fiscal ficará insustentável.

Apostar no fortalecimento da política fiscal é a única forma de evitar o desmoronamento do arcabouço?
Reforçar a política fiscal, neste momento, é essencial porque estamos vivendo uma combinação de três fatores. Um deles é a fuga de capitais e de diversas classes de ativos do País produzida pela desancoragem da política fiscal. Portanto, apertar as medidas fiscais ajuda nessa linha. O segundo fator é o momento ultra-aquecido da economia, que gera pressões inflacionárias crescentes. De novo, apertar o fiscal é necessário para reduzir a demanda, ao mesmo tempo que aprecia o câmbio, ajudando a fazer com que a atividade econômica desacelere e diminua a pressão inflacionária. Terceiro fator: por trás desse cenário desafiador, as expectativas de inflação não param de desancorar. Portanto, se reforçamos a política fiscal, a expectativa de inflação tende a melhorar.

Então, a solução está em casa, dentro do próprio governo, reforçando o compromisso fiscal. Com que iniciativas?
Há várias formas de você sinalizar austeridade fiscal. Tem a questão da sustentabilidade da dívida pública, que vem crescendo nos últimos dois, três anos. O resultado primário hoje roda na casa de -0,5% do PIB. Para estabilizar a dívida, o País teria de gerar um resultado primário positivo de pelo menos 2% do PIB, de forma permanente. Até lá, a dívida vai continuar subindo. Precisamos estabilizá-la e mostrar nosso compromisso neste sentido aos investidores. Não dá para ter dívida ascendente ad infinitum. Por isso, não existe melhor momento de se fazer um ajuste fiscal do que o atual.

Por quê?
Porque a economia está bombando. Portanto, agora é hora de poupar a arrecadação extra que está vindo pelo crescimento do PIB, que deve fechar o ano em 3,5%. Não estamos gerando superávit primário positivo, estamos gerando déficit. Nossa despesa está crescendo próximo de dois dígitos acima da inflação. A hora de poupar é agora, porque temos uma arrecadação forte. Isso é necessário para que, lá no futuro, quando enfrentarmos um novo choque negativo, como o da Covid ou como a crise de 2008, o País tenha gordura para queimar e fazer uma política fiscal contracíclica.

“O melhor momento de poupar e criar gordura é o atual, com economia bombando e arrecadação extra”

Quais são as armas que o governo dispõe para adotar um ajuste fiscal mais severo?
Se o crescimento da despesa já está sendo ancorada pelo arcabouço fiscal, seria muito bem-vindo que o governo acelerasse o processo de melhora do resultado primário. Isso pode ser feito via redução de gasto, que é o que já foi discutido em lei, mas também pode ser feito via aumento de tributo. Então, seria interessante o governo, por exemplo, discutir algum aumento de carga tributária para acelerar o processo de consolidação fiscal.

Mas ao anunciar o pacote, o governo foi na direção contrária, ao propor isentar de imposto de renda quem ganha até R$ 5 mil por mês…
Sem entrar no mérito da medida em si, mesmo que o governo tenha dito que o resultado produzido com o aumento de isenção com a taxação dois super-ricos seria neutro, faltou transparência. O governo precisa convencer a todos que tem os dados mostrando que taxar as pessoas com renda superior a R$ 50 mil por mês, ou seja, R$ 600 mil por ano, vai ser suficiente para bancar a desoneração de quem ganha até R$ 5 mil por mês. Fica uma sugestão: por que não inverter a lógica?

Em que sentido?
Se os investidores, de modo geral, estão querendo acelerar a consolidação fiscal, o governo poderia então iniciar o processo com o aumento de taxação dos mais ricos. Depois de concluir isso no Congresso, será possível estimar qual vai ser a receita proveniente desse projeto de lei. E aí, em função dessa receita, basta desonerar até o teto que banca as pessoas de baixa renda.

Qual seria o recado?
O de que o governo não se compromete com a isenção para todos que ganham até R$ 5 mil, e sim em desonerar um volume superior ao atual, mas restrito no aumento de taxação. Com isso, o governo assegura para os investidores que está sendo fiscalmente neutro.

Alterar a fórmula do reajuste do salário-mínimo, que impacta no crescimento da dívida pública, não seria mais relevante para esse processo positivo que você listou?
Não há dúvida de que o reajuste do salário-mínimo, na atual fórmula, afeta muito as contas públicas. Cerca de 50% das despesas do governo são atreladas à Previdência Social, e 70% dos aposentados pelo INSS recebem um salário-mínimo. Seria, sim, uma medida importante, mas tem há outros gastos públicos impactantes – me refiro ao gasto tributário.

Como reduzir esse gasto? Há muita resistência política no Congresso…
O País perde 4,5% do PIB em arrecadação com incentivo tributário. Ora, se estamos gerando -0,5% do PIB de resultado primário e precisaríamos pelo menos 2% do PIB positivo para evitar o crescimento da dívida, esses 4,5% do PIB de incentivo tributário cobrem e ainda sobra um pouco. Não precisa cortar todos esses gastos tributários. Boa parte deles não vai para as camadas mais pobres, beneficia grandes empresas. Existe muito desperdício de dinheiro público, alguns gastos trazem mais retorno para a sociedade do que outros.

A essa altura o governo não tem argumento político para aumentar impostos. Como levar adiante?
Estou restrito ao diagnóstico econômico. É inegável que há um custo político para fazer ajuste, seja cortando gasto, seja aumentando tributo. Mas cabe ao governo federal assumir o ônus político de adotar medidas no curto prazo, na crença que vão trazer benefícios políticos no médio e longo prazo. Se o governo deixar o câmbio do jeito que está e continuar depreciando, vai ter um choque inflacionário  contratado no primeiro trimestre mais concentrado em itens comercializáveis, em especial alimentos, atingindo o pessoal de baixa renda, com potencial de afetar a popularidade do presidente.

Tem, por fim, a questão dos juros e a posse de Gabriel Galípolo como presidente do Banco Central, assumindo com o compromisso de elevar a Selic para 14,25% até março. Qual será o maior desafio dele e do BC em 2025?
Galípolo e o BC vão enfrentar em 2025 uma situação extremamente desafiadora em termos de pressões inflacionárias, impactadas pelos cenários interno e externo, com o novo governo de Donald Trump. Por aqui, a preocupação não é só a taxa de câmbio, que depreciou 20% desde março, estamos com crescimento muito forte da economia, muito acima da oferta, com desemprego nas mínimas históricas e salários subindo bem acima da inflação, cujas expectativas estão desancoradas.

Não se trata, portanto, de crise cambial?
Nesses últimos dias ficou claro que essa fuga de capitais, com aumento do dólar, tem muito mais a ver com a desancoragem da política fiscal. Neste sentido, o grande desafio do Galípolo é conseguir trabalhar de uma forma que consiga, até certo ponto, criar uma barreira em que a desancoragem fiscal não afete uma eventual desancoragem monetária.

Como equilibrar esses pratos?
A depreciação da taxa de câmbio faz parte do processo de piora da percepção do fundamento fiscal. Só que ela afeta a inflação – e, aí, o Banco Central tem de subir a taxa de juros. Mas há uma linha muito tênue entre agir para endereçar a inflação e para endereçar o câmbio, porque existe uma ligação muito direta entre a política fiscal e a política monetária. Como presidente do Banco Central, Galípolo tem de atuar somente sobre a parte monetária. A parte fiscal deve deixar aos cuidados do governo federal.





Fonte: Neofeed

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Honda e Nissan confirmam conversas para fusão. A “culpa” é da China

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Honda e Nissan confirmam conversas para fusão. A
Tempo de Leitura:2 Minuto, 48 Segundo


A Honda e Nissan, montadoras de carros japonesas, deram o primeiro passo em direção à fusão de suas operações. As empresas assinaram um acordo para dar início às negociações, que devem ser finalizadas até agosto de 2026, segundo comunicado oficial divulgado nesta segunda-feira, 23 de dezembro.

Com a fusão, será criada a 3ª maior montadora do mundo, que também deve incluir as operações da Mitsubishi Motors, na qual a Nissan detém 24,5% de participação. A expectativa é que o novo conglomerado atinja vendas anuais superiores a oito milhões de veículos, ficando atrás apenas da Toyota e Volkswagen.

O anúncio ocorre após um ano complexo para a Nissan. A empresa tem sofrido com a queda de lucros e receitas, em parte devido a uma linha de modelos defasada nos Estados Unidos. No semestre fiscal finalizado em setembro, a empresa registrou uma queda de US$ 540,93 milhões na sua receita, com o lucro operacional reduzindo US$ 2,08 bilhões no período.

Segundo o CEO da Honda, Toshihiro Mibe, a fusão não é um resgate da Nissan, mas sim um reconhecimento de que o desenvolvimento de novas tecnologias tornou-se difícil de ser realizado individualmente.

É nítido que o avanço tecnológico não tem sido fácil para as japonesas. Ambas as empresas enfrentaram quedas significativas na China, onde veículos elétricos e híbridos plug-in estão em rápida ascensão.
Segundo o The Wall Street Journal, no ano passado, a China superou o Japão como maior exportador de automóveis do mundo em número de veículos.

Com a indústria automotiva acelerando em direção a veículos elétricos, as montadoras japonesas chegaram a conclusão que a forma correta – e mais barata -, de competir com os gigantes do segmento, é combinar esforços de pesquisa.

No comunicado à imprensa, as empresas descreveram a fusão como uma forma de aumentar a eficiência, compartilhando linhas de produção, aumentando o volume de compra de peças e combinando projetos de P&D.

Por outro lado, Honda e Nissan compartilham linhas de modelos semelhantes e tem foco no mercado americano, o que pode resultar em cortes de modelos de ambos os lados, além de mudanças estratégias para ajustar o novo negócio ao consumidor dos Estados Unidos.

Nesse processo, as marcas não descartaram cortes de empregos ou o fechamento de fábricas, embora tenham afirmado que esses não são os objetivos principais.

Com a Honda sendo o elo mais forte dessa parceria, o equilíbrio de poder está a favor da companhia. As empresas informaram que a Honda indicará a maioria dos diretores da empresa combinada e que o principal executivo será proveniente da Honda. A Honda prevê um lucro líquido de cerca de US$ 6 bilhões neste ano.

Na visão do governo japonês, a fusão é positiva. “Devemos ter uma visão favorável quando empresas cooperam para fortalecer sua competitividade”, disse Yoji Muto, chefe do Ministério da Economia, Comércio e Indústria. Ele afirmou que realinhamentos na indústria são “um método eficaz para fomentar inovação e aumentar o valor corporativo”.

Durante a coletiva de imprensa, o CEO da Honda negou, repetidamente, que a empresa estaria sendo pressionada por autoridades japonesas a fechar um acordo para garantir a sobrevivência da Nissan.

Ao ser questionado sobre o que o atraiu na Nissan como parceira, Mibe não deu uma resposta concreta, enfatizando que a Honda permanecerá uma marca independente na nova empresa.



Fonte: Neofeed

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