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O que o exclusivo clube de empresas com mais de 200 anos ensina aos negócios do século 21

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O que o exclusivo clube de empresas com mais de 200 anos ensina aos negócios do século 21
Tempo de Leitura:9 Minuto, 40 Segundo


O que o banco Mirabaud tem a ver com a confeitaria Toraya, dos tradicionais docinhos wagashi? E qual é a relação entre a editora musical Henry Lemoine e a joalheria Mellerio? Ou da fabricante de tecidos Vitale Barberis Canonico com o armador Augustea?

Elas… e também Zaiso Lumber, Möller, Amarelli, Köchert, Pollet, Hottinger, Revol, Pinto Basto, Gekkeikan, Lobmeyr, De Kupyer, Beretta… grandes, médias e pequenas, dedicadas às mais diversas atividades, são todas empresas “enoqueanas”.

Sexto patriarca depois de Adão, pai de Matusalém e bisavô de Noé, Enoque tinha 365 anos, quando “não apareceu mais, porquanto Deus para si o tomou”, lê-se no Antigo Testamento. Na mitologia bíblica, Enoque não morreu: ele foi elevado aos céus.

Por sua perenidade, o personagem serviu de inspiração para a associação Les Hénokiens — um seletíssimo clube cujos afiliados são negócios familiares com, no mínimo, 200 anos de história.

Exigência difícil de cumprir, mas não impossível. As regras, porém, são ainda mais rigorosas.

Condição número 2: a companhia deve ser administrada por um descendente do fundador. Três: mais de 50% do patrimônio da empresa deve estar nas mãos da família original.

Quatro: saúde financeira equilibrada. Cinco: governança alinhada aos preceitos da sustentabilidade socioambiental.

E, por fim, talvez, a premissa mais complicada: para fazer parte do grupo, é preciso ser convidado.

Ah… deve-se ainda pagar uma taxa proporcional ao faturamento do negócio. E, é de bom tom, confirmar presença nas reuniões anuais do grupo.

Não à toa, apenas 56 organizações compõem hoje a comunidade — 15 francesas, 14 italianas, dez japonesas, cinco suíças, quatro alemãs, duas holandesas, duas belgas, duas austríacas, uma inglesa e uma portuguesa.

Desde 1981, quando a associação foi lançada, o número de empresas vem se alterando. É natural. Conforme envelhecem, novos sócios chegam. E, alguns saem. Quando aconteceu, na maioria das vezes, foram desfiliados porque os descendentes da família fundadora renunciaram ao negócio.

O próprio idealizador da Les Hénokiens, o francês Gérard Gotlin teve de sair do grupo em 2006. Na ocasião, a marca de bebidas de sua família, a Marie Brizard & Roger, foi vendida para o grupo Belvédère, por € 410 milhões. De 1755, a empresa criou o primeiro licor de anis do mundo.

Tradições preservadas

Ao atravessar o tempo, sobrevivendo a guerras, insurreições, crises financeiras, catástrofes naturais, epidemias e conflitos internos, as enoqueanas transformaram culturas, ajudaram a remodelar a política e a revigorar a economia global.

Na mesma família há 46 gerações, a hospedaria Hōshi é reveladora da riqueza imbuída nos negócios familiares bicentenários. A mais antiga entre as 56 companhias da Les Hénokiens, foi fundada no século 8, na província de Ishikawa, no litoral do Mar do Japão.

Nos últimos 1.307 anos, o hotel, claro, evoluiu. Com capacidade para acomodar 450 pessoas, os 100 quartos oferecem televisão de tela plana e Wi-Fi

As tradições, no entanto, estão preservadas. Até hoje, ao chegar, o visitante recebe um yukata, o quimono de algodão usados pelos antigos nobres no onsen, o banho em águas termais. Como a cerimônia do chá, o jantar se mantém fiel à vocação da região, com pratos à base de mariscos frescos.

Em 717, reza lenda, o monge budista Taicho Daishi subiu o monte Hakusan para meditar. Certa noite, a divindade guardiã do lugar teria lhe apareceu em sonho: “no sopé da montanha, na vila Awazu, haveria uma fonte subterrânea de água quente com poderes curativos: “Desenterre a fonte termal e ela os servirá para sempre”. Profecia confirmada, Taicho determinou ao discípulo Garyo Hōshi que construísse um spa no local e administrasse a propriedade. Assim nasceu a pousada Hōshi, (Crédito: Reprodução ho-shi.co .jp)

A confeitaria Toraya foi fundada em Kyoto, no Japão, por volta de 1500, por Enchu Kurokawa. Especializada nos tradicionais bolinhos wagashi, a casa era a fornecedora oficial da corte imperial , durante o reinado do imperador Goyosei (1586-1611). Em 1976, a empresa já equiparava os salários de mulheres e homens. Hoje, sob o comando da 17ª geração, a marca conta com 80 lojas no Japão e uma casa de chá em Paris (Crédito: Reprodução global.toraya-group.co.jp)

O primeiro negócio fechado pela italiana Vitale Barberis Canonico data de 1663 — um corte de lã cinza vendido para o duque de Savoia, uma das mais antigas famílias de nobres da Europa. Sob o comando da nona geração, a empresa é frequentemente premiada por suas iniciativas de sustentabilidade. E, para se manter em sintonia com os novos consumidores, costuma fazer parcerias com marcas jovens, como a milanesa Driade., de móveis e objetos para casa. Dessa collab nasceu, por exemplo, a poltrona da imagem (Crédito: Reprodução driade.com)

Fundada há 256 anos, em Drôme, no sudeste francês, pelo casal de artesãos Pierre e Magdeleine Revol, as peças de cerâmica da Revol continuam sendo feitas à mão — o que garante a transferência de conhecimento entre gerações e fideliza os funcionários. Mas isso não impede a empresa de inovar., como a criação recente de uma pasta que pode ser submetida a várias fontes de calor (Crédito: Reprodução revol1768.com)

Certo dia em 1780, o vendedor ambulante Jean-Baptiste Mellerio, de 14 anos, expunha suas mercadorias na frente do palácio de Versailles, quando uma carruagem para e a dama de companhia de Maria Antonieta desce e compra o bracelete decorado com sete camafeus, cada um deles com a efígie de um imperador romano, circundado por rubis. Assim, a joalheria Mellerio conquistou os nobres europeus e hoje é uma das mais sofisticadas grifes da alta joalheria francesa. (Crédito: Reprodução mellerio.fr)

Fundada em 1755, em Bordeaux, na França, pela enfermeira Marie Brizard e seu sobrinho Jean-Baptiste Roger, a empresa criou o primeiro licor de anis do mundo. Ela tinha 40 anos quando cuidou de um marinheiro ferido e ele, em agradecimento, lhe presentou com a “receita secreta” de uma bebida à base de “especiarias muito especiais”. Apreciado pelo rei Luís XV (1710-1774), a partir de 1763, o Anisette se tornou obrigatório nas festas em Versailles, ganhou o mundo e rendeu € 410 milhões aos herdeiros de Marie, quando o negócio foi vendido há quase vinte anos (Crédito: Reprodução mariebrizard.com)

Além de contar histórias instigantes, as enoqueanas são uma lição para as companhias familiares de todo o mundo sobre como ter sucesso em tempos de transformação acelerada dos negócios (conheça algumas delas nas fotos acima).

No Brasil, conforme dados do IBGE, 90% das empresas têm perfil familiar. Delas, porém, apenas três em cada dez chegam à terceira geração, revela estudo do Banco Mundial. E, somente 15% sobrevivem à sucessão de três gerações.

O cenário americano é bem parecido. Cerca de 70% fecham depois da morte do fundador e não mais do que 13% ultrapassam o 60º aniversário.

“A associação Les Hénokiens exemplifica os fatores que contribuem para a longevidade e resiliência das empresas familiares”, diz Andrea Maia, vice-presidente de mediação do Centro Brasileiro de Mediação e Arbitragem (Cbma), em entrevista ao NeoFeed. “Elas conseguem equilibrar a herança cultural com a inovação, garantindo que os valores fundamentais sejam preservados ao longo das gerações.”

Além disso, as enoqueanas souberam construir e manter uma forte identidade de marca ao longo tempo. “Empresas longevas são conhecidas por sua qualidade, confiabilidade e capacidade de entregar valor consistentemente, o que cria uma base de clientes leal”, afirma a executiva.

Mas, sobretudo, essas companhias têm “planos de sucessão claros e bem definidos, o que garante a continuidade e transferência de conhecimento entre gerações”, como define Andrea.

A Les Hénokiens oferece um extenso programa de formação para os futuros líderes, com base nas teorias de William O’Hara (1932-2018), um dos grandes nomes nos estudos sobre empresas familiares.

Valor X hereditariedade

Na olaria Revol, fabricante de utensílios de cozinha e mesa de porcelana, fundada há 256 anos, em Drôme, no sudeste da França, apenas a hereditariedade não garante um lugar na empresa — € 18 milhões em vendas anuais e clientes em 84 países. “Existem duas condições”, diz Oliver Passot, CEO da companhia, à revista Demeure Historique. “Demonstrar competência nos estudos e trabalhar em outro lugar antes, para provar seu valor.”

No comando do negócio desde 2007, quando assumiu o posto do pai, o empresário pertence à nona geração de descendentes do casal de artesãos Pierre e Magdeleine Revol. Passot estudou administração nos Estados Unidos, trabalhou nas indústrias têxtil e de transportes, antes de ir para a Revol.

Apesar da ancestralidade da empresa, não há nenhuma pressão sobre a nova geração em relação aos negócios da família. Duas irmãs de Passot nunca se interessaram pelo negócio de porcelana.

Abrir um canal de conversa fluido e sincero sobre quem quer assumir a empresa, aliás, é imprescindível, defende a VP de mediação, da Cbma. “Parece obvio, mas já estive em mais de uma mediação em que o filho me confessou, em sessão privada, que não queria ser o sucessor do pai, mas não sabia como comunicar isso à família, sem gerar frustração ou decepção”, lembra Andrea.

O valor da sustentabilidade

Se as enoqueanas tivessem uma única filosofia, seria: atualizar as tradições. Nesse movimento, muitos negócios de família, parecem entender mais profundamente o valor da visão de longo prazo — o significado de legado e propósito.

“As empresas familiares têm vivido e prosperado com base em princípios básicos de sustentabilidade ao longo das gerações”, escreve Tom McGiness, sócio-líder global de empresas familiares e private enterprise da consultoria KPMG, no Reino Unido, no relatório Uma estrada bem percorrida, do 2023 Global family business report.

Fundada nos anos 1600, em Kyoto, no Japão, a confeitaria Toraya, em 1976, já equiparava os salários de mulheres e homens e concedia licenças maternidade e paternidade mais longas do que as registradas por outras companhias do setor.

A italiana Vitale Barberis Canonico (VBC), fabricante de tecidos finos, de Patrivero, no coração do Piemonte, é outra bicentenária alinhada aos preceitos da sustentabilidade socioambiental.

Famosa por sua lã merino saxônica, tida como a melhor do mundo e sob o comando de três primos, da 13ª geração da família, a VBC já recebeu diversos prêmios por suas práticas limpas.

A fábrica, onde trabalham 480 pessoas, é movida 100% a energia renovável e a companhia compensa suas emissões de gases de efeito estufa. Além disso, adota um programa de rastreabilidade de toda a cadeia de matéria-prima e incentiva os criadores de ovelhas a buscarem certificações de bem-estar animal.

“Ser sustentável significa olhar para o passado para construir o futuro”, costuma dizer o CEO Alessandro Barberis Canonico.

Fornecedora de lã para grifes de luxo, como Ermenegildo Zegna, a VBC se renova também em collabs com marcas jovens, sem gênero e de tendência athleisure, como a T_Coat, VitoVI e Quantico.

Na última Milan Design Week 2024, a empresa apresentou a coleção Unveiling Threads, em parceria com a Driade, fábrica italiana de móveis e objetos para casa. As lãs dos Barberis Canonico estofaram sofás e poltronas.

Presente em uma centena de países, a VBC fechou 2023 com € 166 milhões, em vendas — um crescimento de 13% em relação a 2022.

A resiliência do longo prazo

Princípios sólidos, visão de longo prazo e práticas socioambientais bem consolidadas propiciam às companhias de controle familiar um desempenho financeiro melhor, mostram os analistas do Credit Suisse Research Institute.

Em seu último relatório, intitulado The Family 100: family values and value creation, de 2023, os negócios familiares geraram um retorno anual ajustado de 300 pontos-base a mais do que os de controle pulverizado. Para a pesquisa, foram consultadas mil empresas de capital aberto, no mundo todo.

Foi o que possibilitou a elas, por exemplo, atravessar a pandemia do novo coronavírus com relativa tranquilidade — inclusive, segundo o banco, demitindo menos.





Fonte: Neofeed

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agricultor capixaba se torna campeão de day trade

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Da lavoura à bolsa de valores: agricultor capixaba se torna campeão brasileiro de day trade
Tempo de Leitura:4 Minuto, 16 Segundo


Mais de 1.000 quilômetros separam a Faria Lima de Rio Bananal, uma cidade com menos de 20 mil habitantes localizada ao norte do Espírito Santo, próximo da fronteira com a Bahia. É lá, longe do centro financeiro de São Paulo, que mora Leonardo da Costa, vencedor do 1º Campeonato Brasileiro de Trade Nelogica.

Sem nunca ter participado de uma competição do tipo, o agricultor de 34 anos obteve o melhor resultado na fase final do campeonato, realizada entre 11 e 12 de dezembro. Em dois dias, acumulou um lucro de R$ 21 mil, respeitando os limites operacionais do campeonato: 10 contratos de mini-índice e mini-dólar.

Todas as etapas foram realizadas por meio de um simulador, sem perdas ou ganhos reais. Mas o prêmio em dinheiro foi ainda maior que o lucro obtido nas operações, totalizando R$ 65 mil.

Costa, que trabalha com a família em lavouras de café na região de Rio Bananal, conta que ficou surpreso com o próprio desempenho. Ele, que nunca cursou universidade, diz que descobriu o mercado financeiro há cinco anos por meio de seu irmão mais novo, Lucas, então com 19 anos.

“Em algumas épocas do ano, tem menos trabalho no campo. Então, estava procurando algo para ganhar um dinheiro extra”, diz ele.

Encantado com o momento promissor do mercado brasileiro na época, o irmão disse que era uma forma de “ganhar dinheiro fácil”. Costa logo desconfiou de seu irmão mais novo. “Achei estranho, porque se fosse tão fácil teria muito mais gente fazendo. Depois de um tempo ele não falou mais sobre isso, acho que porque perdeu dinheiro”, relembra.

Já havia deixado a ideia de lado quando um comprador de café o apresentou novamente ao mercado financeiro. “Ele exportava café e estava olhando um gráfico. Perguntei o que era, mas não entendi muito. Foi então que comecei a pesquisar e encontrei algumas mentorias na internet”, recorda.

Após mais de um ano de estudos e simulações no home broker, Costa decidiu começar a operar com dinheiro real. “Tinha dia que eu estudava das 19h até 4h da manhã. No começo, fiz muita coisa errada. Fui ajustando as estratégias até começar a ter algum lucro. No mercado, você nunca sabe tudo. O segredo é ter um bom plano de gestão de risco e não relaxar.”

Sem a arrogância de muitos profissionais do mercado, ele acredita que a dinâmica do campeonato favoreceu seu estilo de negociação. “Tinha muita gente boa competindo. Outros poderiam ter vencido. Mas fico feliz de ter ganhado, mostra que estou no caminho certo.”

Organizado pela Nelogica, o Campeonato Brasileiro de Trade teve mais de 500 traders inscritos. O segundo e o terceiro colocado receberam R$ 26 mil e R$ 12 mil, respectivamente. A premiação do 4º ao 50º colocado foi de R$ 2 mil. A competição foi organizada em duas fases, com os 50 primeiros se classificando para a final. Costa terminou a primeira etapa em 36º.

“Descobrimos verdadeiros talentos com muito potencial, inclusive, para seguirem carreira em instituições financeiras se desejarem”, afirma Layonel Pinheiro dos Santos, especialista em plataformas de trading da Nelogica.

Desde o início de seus estudos, Costa se dedicou ao day trade, que consiste em montar e desmontar as operações no mesmo dia — uma das regras do campeonato. “Tenho como base análise técnica e tendências, quase sempre usando gráficos. Na competição, tive que me adaptar, porque o prazo era muito curto.”

Mesmo fora do campeonato, Costa nunca dormiu com uma posição aberta, encerrando todas no mesmo dia. Isso, porém, não o impediu de ter a madrugada como um de seus horários preferidos para operar. Geralmente, acordo às 4h da manhã para negociar no mercado americano de futuros e vou até  às 7h.”

Essa rotina permite que ele concilie o trabalho na lavoura com o day trade. Na época da colheita de café, entre março e julho, a alta demanda de trabalho na roça o impede de operar no mercado de futuros local, que funciona das 9h às 18h.

No mercado brasileiro, quando tem tempo, Costa opera contratos futuros de mini-índice e mini-dólar, mas nunca ações. “Gosto mais de ficar na frente do gráfico.” Mas, mesmo quando tem a oportunidade, o trader não opera todo dia. “Tem dia em que o mercado não está favorável ao perfil de negociação. Saber quando não operar também é uma forma de operar.”

Moradores da área rural de Rio Bananal, a família de Costa fica com metade da produção de café, enquanto a outra metade vai para o “patrão”. Todo o trabalho é feito manualmente. “As máquinas chegaram há quatro anos na região, mas só os grandes produtores têm acesso a elas.”

O sucesso no mercado financeiro já faz Costa pensar em mudar de carreira. Ele planeja cursar faculdade de economia no ano que vem e se aprofundar ainda mais no mundo dos investimentos. “Em dois anos, pretendo fazer disso minha principal fonte de renda.”

Ele descarta, por ora, trabalhar para alguma instituição financeira. “Meu foco era encontrar uma profissão que me permitisse trabalhar de qualquer lugar, sem ficar ‘preso’, e o day trade proporciona isso.”



Fonte: Neofeed

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Negócios

Uma conversa com Fernando Pessoa, Luís de Camões e José Saramago

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Uma conversa com Fernando Pessoa, Luís de Camões e José Saramago
Tempo de Leitura:4 Minuto, 46 Segundo


Era véspera de Natal de 2024, e Cesar, após um dia intenso de reflexões e trabalho, tomou sua taça e caiu no sono. Mas não era um sono comum. Ele logo percebeu estar caindo por um túnel de palavras, como se fosse sugado por um redemoinho de livros, algoritmos e estrelas natalinas. Tudo girava ao seu redor, até que ele aterrissou suavemente em um lugar que parecia ao mesmo tempo antigo e futurista, iluminado por velas cintilantes e circuitos dourados.

Diante dele, três figuras extraordinárias emergiram da névoa — Fernando Pessoa, Luís de Camões e José Saramago. Cesar esfregou os olhos, sem acreditar no que via. Parecia ter entrado em um sonho que misturava o espírito de celebração com um encontro impossível, como se tivesse tropeçado em seu próprio País das Maravilhas.

Pessoa: Bem-vindo, Cesar. Não se assuste. Às vezes, o Natal nos concede presentes inesperados, como este encontro. Eu sou Fernando Pessoa. Dizem que sou múltiplo, mas prefiro me ver como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que distorcem, refletindo falsamente uma única realidade que não está em nenhum e está em todos.

Camões: Saudações, Cesar! Sou Luís de Camões, navegante das palavras e dos mares. Este é um tempo propício para contemplar os novos mundos que desbravamos. Por suas vestes e seu ar, vejo que vens do moderno, como quem navega as águas da inovação.

Saramago: Cesar, um prazer tê-lo conosco. Sou José Saramago, um questionador do óbvio. Parece que este seu devaneio nos reuniu para discutirmos o que significa ser humano em um tempo em que máquinas pensam e o mundo busca sentido. E, claro, neste Natal, entendido não apenas como celebração religiosa, mas como um tempo de união, reflexão e renovação, valores humanos universais que transcendem qualquer crença. Valores que até um ateu rabugento como eu consegue apreciar.

Cesar, ainda atônito, percebeu que o sonho parecia mais real do que podia imaginar. Ele, que sempre se viu como um sonhador e entusiasta da tecnologia, agora dividia espaço com três gigantes da literatura. Recuperando-se, decidiu embarcar na conversa, tratando cada pronome e conjunção como se fossem peças de porcelana fina.

Cesar: É uma honra conhecê-los. Se este é um sonho, é o mais extraordinário que já tive. Estamos em um momento em que a tecnologia avança exponencialmente, mas também nos confronta com questões profundas sobre propósito e humanidade. E é Natal, uma época que sempre nos convida à reflexão. Aqui estamos, no limiar de um novo ano…

Pessoa: Ah, Cesar, o humano, por essência, é um navegante do desconhecido. A inteligência artificial que agora molda teu mundo funciona como um espelho: reflete nossas inquietações, nossos anseios e nossos temores. Mas eu me pergunto: será que sabemos o que realmente desejamos encontrar nesse reflexo?

Camões: Diria que enfrentamos monstros e tempestades, como outrora. Mas hoje os monstros são invisíveis, feitos de dados e códigos. Dizer-se-ia que, pelo menos, esses não me custaram um olho… O Natal, porém, nos lembra de olhar para o essencial — o humano, o afeto, o desejo de construir algo que transcenda o tempo.

Saramago: E será que estamos olhando para isso, Cesar? Ou estamos cegos, como em minha história? O Natal é cheio de luzes, mas será que essas luzes não nos ofuscam? Criamos máquinas que pensam, mas ainda falta pensarmos profundamente sobre o que queremos delas — e de nós mesmos.

Cesar refletiu por um momento, sentindo o peso das palavras daqueles mestres. Ele sabia que aquelas questões eram fundamentais, tanto para a tecnologia quanto para a vida.

Cesar: Concordo, Saramago. A tecnologia deve ser um meio para criar valor humano, não um fim em si mesma. O Natal é um bom lembrete de que precisamos equilibrar o avanço com a ética, com a sabedoria que direciona nosso conhecimento. Afinal, inovação sem humanidade é como uma caravela sem destino.

Pessoa: Belo pensamento, Cesar. Então dirias que inovar é como escrever um poema? Cada palavra, cada linha deve estar carregada de significado. No final, é o espírito humano que precisa brilhar, mesmo em um mundo repleto de máquinas.

Camões: E que nunca percamos a coragem, Cesar. Navegar é preciso, como sempre digo, mas é igualmente necessário conter os ventos quando ameaçam nos levar ao abismo. O Natal nos dá uma bússola: olhar para o próximo, celebrar o que somos e planejar com sabedoria o que seremos.

Saramago: E com olhos abertos, sobretudo. A tecnologia é um mar fascinante, mas exige vigilância constante. Este rabugento apenas deseja que, neste Natal e no ano que se inicia, a humanidade encontre o equilíbrio entre o que pode criar e o que deve preservar.

Cesar sentiu o coração aquecido, inspirado por aquelas vozes que transcenderam o tempo. Ele ergueu os olhos para as três lendas e respondeu com convicção.

Cesar: Levarei essas reflexões comigo, senhores. Que a inovação seja guiada pela poesia, pela prudência e pela paixão humana. Que este Natal nos lembre que, por mais avançados que sejamos, o essencial sempre será invisível às máquinas: a empatia, a solidariedade e a esperança.

E assim, no coração de um sonho impossível, Cesar ergueu a taça de tinto e brindou com três imortais da literatura portuguesa. Juntos, em meio ao espírito do Natal de 2024, refletiram sobre o humano, o tecnológico e o eterno.

Quando Cesar despertou, trazia consigo não apenas o calor de uma noite natalina, mas também a sabedoria de um encontro extraordinário, que o inspiraria nos mares do ano novo. Ao seu lado, uma taça vazia, com borras que curiosamente formavam as letras P, C e S, como um lembrete sutil de que algumas companhias são mais que um sonho.

*Cesar Gon é fundador e CEO da CI&T



Fonte: Neofeed

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Negócios

Ornare mobília novos “territórios” (no Brasil e no mundo)

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Ornare mobília novos
Tempo de Leitura:5 Minuto, 23 Segundo


Depois de “aterrissar” em Dubai, em maio do ano passado, onde inaugurou seu primeiro showroom no Oriente Médio, a Ornare está de malas prontas para reforçar suas operações na Europa e nos Estados Unidos.

A marca brasileira de mobiliário referência no mercado high-end está desembarcando em Lisboa, onde abriu seu segundo showroom no Velho Continente. E estreou, em novembro, uma loja em Nova Jersey, consolidando sua presença nos Estados Unidos, onde está presente desde 2006.

Segundo Esther Schattan, fundadora e diretora da Ornare, a expansão internacional é parte da estratégia de diversificação das receitas da companhia, movimento que conta com uma nova frente: a incorporação.

“Atendemos um mercado de alto padrão e esse mercado é mais restrito em todos os lugares”, diz Esther, ao NeoFeed. “Como temos potencial e temos capacidade de atender outros países, fomos buscando o mercado de alto padrão em outros lugares.”

O showroom lisboeta está sendo instalado no bairro Amoreiras, região de classe média alta e que abriga o Centro Comercial das Amoreiras, o primeiro shopping da capital portuguesa, além de cafés, hotéis e restaurantes.

A expectativa é de que as obras da loja sejam finalizadas até o primeiro semestre de 2025, mas a Ornare já está operando em Portugal, recebendo pedidos dos clientes.

A empresa conta com dois sócios brasileiros para entrar no mercado português: Alexandre Mangabeira, ex-co-CEO da RNI Construtora e com passagem pela Tecnisa, e Luciana Vassalo, antiga diretora de negócios da RNI, tendo trabalhado também na Melnick.

É o mesmo formato que a empresa utilizou quando foi para Dubai, em que se associou a Carina Fontes e Shalise Basso, dupla de arquitetas brasileiras residentes um dos sete emirados que integram os Emirados Árabes Unidos (EAU). As lojas da Ornare se dividem entre franquias, sociedades e unidades próprias.

Segundo Stephan Schattan, diretor de exportação da empresa, a escolha por Lisboa para abrir a segunda loja europeia ocorreu pela questão da língua, pelo fato da empresa conhecer e ter clientes em Portugal e também para aproveitar o forte contingente de brasileiros e de outras nacionalidades, atraídos pelas políticas migratórias portuguesas.

A Ornare começou a se instalar na Europa no ano passado, quando inaugurou seu primeiro showroom em Milão. A unidade está localizada no imponente Palazzo Gallarati, datado do século XVIII, localizado no famoso Quadrilatero della Moda, na Via Manzoni, região conhecida pelas diversas marcas de alto padrão.

“A ideia é que Portugal possa atender toda a região de Lisboa e Porto, e também a Espanha”, diz Stephan. “Associado a Milão, conseguimos atender melhor a Europa. Quando falamos que temos loja em Milão e em Lisboa, reforçamos a marca na Europa.”

A chegada a Portugal é mais um passo da estratégia de expansão da Ornare, iniciada em 2006, via Miami. O plano é baseado em três frentes: Estados Unidos, onde possui 11 lojas, Europa, que conta com duas, e Oriente Médio, com a unidade de Dubai.

“Como temos potencial e temos capacidade de atender outros países, fomos buscando o mercado de alto padrão em outros lugares”, diz Esther Schattan (Foto: Rodrigo Zorzi)

As operações internacionais representam cerca de 25% a 30% do faturamento da Ornare, que não foi informado. Com as expansões planejadas, a expectativa é de que possa chegar a 40% de participação.

No curto prazo, a Ornare planeja ampliar sua presença nos Estados Unidos para mais três cidades: Palm Beach, Washington e Boston. Mas isso não quer dizer que a empresa está deixando o Brasil de lado.

Com 17 lojas no País, a empresa pretende abrir unidades em Recife (PE), Balneário Camboriú (SC) e Campo Grande (MS), ainda que já opere nessas localidades.

Para conseguir atender essas novas unidades, a Ornare vai ampliar a capacidade de sua fábrica, localizada em Cotia, no interior de São Paulo. O valor do investimento na fábrica não foi revelado, nem quanto a capacidade de produção aumentará. A fábrica roda em dois turnos e os investimentos abrem caminho para adicionar mais um.

Assinatura Ornare

Junto com a expansão internacional, a Ornare está fechando uma série de parcerias com construtoras e incorporadoras para terem empreendimentos com a assinatura “by Ornare”.

A companhia fez um primeiro empreendimento em Goiânia, em parceria com a O.M. Incorporadora. Batizado de Autoria by Ornare, o prédio possui 143 apartamentos, com unidades de uma e duas suítes, de 49 a 88 metros quadrados. A Ornare ficou responsável pela mobília da área comum e armários em alguns apartamentos.

Com entrega prevista para novembro de 2027, o empreendimento apresenta um valor geral de venda (VGV) de R$ 120 milhões e teve 60% das unidades comercializadas nos seis primeiros meses de lançamento.

A companhia também assinou, no fim de novembro, um acordo com a incorporadora Next e com o escritório do arquiteto Olegário de Sá, para desenvolver um empreendimento no Itaim, em São Paulo, voltado para renda, chamado Next Itaim by Ornare.

Com VGV de R$ 70 milhões, o prédio conta com 83 unidades de 20 a 60 metros quadrados, com previsão de entrega em 2027. A Ornare ficou responsável pelos móveis.

“No começo fomos um pouco céticos, mas a gente gostou do primeiro lançamento, em Goiânia, e pretendemos continuar”, diz Pitter Schattan, diretor comercial da Ornare São Paulo e Brasil.

A companhia já tem atuação no mercado imobiliário, mas vendendo seus produtos para empreendimentos. Em Miami, a Ornare é responsável pelos closets nos apartamentos das duas torres do St. Regis Sunny Isles, que prometem se tornar ícones arquitetônicos da cidade. O apartamento mais barato é de US$ 7 milhões.

A Ornare pretende, agora, crescer essa vertical de empreendimentos assinados. Em Goiânia, o plano é repetir a parceria com a O.M. Incorporadora em um novo prédio, previsto para ser lançado em 2025.. Segundo Pitter, esse tipo de iniciativa vai ganhar espaço na Ornare, com o setor imobiliário se tornando um novo braço de negócios, capaz de representar 10% do faturamento da empresa.

A assinatura de projetos por nomes da moda e do design vem ganhando força no mundo da incorporação. A Cyrela fechou uma parceria com a Armani para construir um empreendimento residencial em São Paulo, que promete ser um dos mais altos da capital paulista, com a marca Armani/Casa, marca de móveis da grife italiana de luxo.

A Mitre Realty também lançou um empreendimento premium em São Paulo com a marca Daslu, que virou referência no mercado de luxo brasileiro e trouxe para o País grifes como Chanel, Gucci e Prada.





Fonte: Neofeed

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