Negócios
Os negócios (e o recorde) da São Silvestre
Nas conversas da Faria Lima, é comum ouvir que tudo pode se transformar em negócio — ou melhor, em business. Há, claro, um certo exagero na afirmação, mas em alguns casos ela se aplica perfeitamente. A Corrida Internacional de São Silvestre é um deles.
Realizada religiosamente todo 31 de dezembro, em São Paulo, ao longo de seus 99 anos de existência, a mais importante prova de rua da América Latina vem se revelando uma poderosa fonte de lucros para seus organizadores e patrocinadores.
Apenas com a venda das inscrições, a edição de 2024 rendeu R$ 10 milhões à Vega Sports, holding de negócios esportivos, responsável pela primeira vez pelo planejamento da corrida.
O pool de patrocinadores deste ano conta com 11 empresas, lideradas pela Asics e pela Caixa Econômica Federal, donas das maiores cotas de patrocínio. E, para realizar o evento principal e as ações especiais, como a São Silvestrinha, destinada a crianças e adolescentes, o investimento girou em torno de R$ 5 milhões.
“A ideia de trazer a São Silvestre para a Vega nasceu muito antes da empresa existir”, afirma Marcos Yano, CEO e fundador da Vega Sports, em conversa com o NeoFeed. “Grande parte dos brasileiros tem lembranças afetivas com a prova e comigo não é diferente. Como corredor amador e integrante desse segmento de esportes, sempre foi um sonho poder organizar a prova.”
Para adquirir os direitos da prova, além de participar de uma concorrência, Yano teve de assumir o compromisso de que, mais importante do que os dois ano à frente do evento, a Vega estaria empenhada na construção do legado da corrida para o próximo século.
E é efetivamente isso que a empresa está tentando fazer. A prova de 2024 já se consagra a maior da história, com 37,5 mil corredores profissionais e amadores — 2,7 mil mais participantes do que o ano passado, incluindo os atletas estrangeiros, vindos de aproximadamente 50 países.
Entre torcedores e equipes de apoio, o evento deve reunir cerca de 120 mil pessoas. Um público formado por brasileiros de pelo menos 1,5 mil cidades, de todos os cantos do país.
“A nossa estratégia é fazer a corrida ir muito além do dia 31 de dezembro”, diz Yano. “Para isso, desenvolvemos, ao longo do ano, diversos pontos de contato com os corredores por meios digitais e físicos, junto às marcas patrocinadoras, o que nos ajudou a criar um universo da São Silvestre e fortalecer a marca.”
Esses esforços trouxeram resultados relevantes para a empresa. Se as inscrições, em 2023, levaram 30 dias para esgotar, nesta edição, acabaram em 27 minutos.
“Não existe um brasileiro que não conheça a São Silvestre. Então, estar na corrida como marca faz todo o sentido para a Asics, que busca se tornar mais conhecida por um público mais amplo e democrático”, afirma Alexandre Fiorati, presidente da Asics América Latina, ao NeoFeed.
Por ser uma das patrocinadoras master da corrida, a marca japonesa participou de todos os eventos preparatórios da prova e assumiu o desenvolvimento dos uniformes a serem usados na corrida. Além disso, como conta Fiorati, no dia, serão realizadas diversas ações, para reforçar a presença da Asics na São Silvestre.
A Asics já está presente em algumas das maratonas mais importantes do mundo, como as de Paris, Tóquio e Sidney. E é notável, diz Fiorati, o aumento na procura pelos produtos da marca, com a participação em eventos do tipo.
Para 2025, ano em que a São Silvestre chega à sua 100ª edição, a Vega está planejando um rebranding para a prova e espera atingir um total de 50 mil corredores. A expectativa é investir R$ 10 milhões, quadruplicando o número de patrocinadores.
Para alcançar tais objetivos, Yano pretende internacionalizar ainda mais a corrida, investindo em preparatórios realizados em diversos países da América Latina.
“Nós já estamos conversando com novas marcas interessadas em participar desta edição tão especial para a São Silvestre e temos certeza que ela será ainda mais completa e memorável para os corredores”, diz o CEO da Vega.
Interrompida em apenas uma ocasião, em 2020, por causa da pandemia de covid-19, a São Silvestre foi idealizada pelo jornalista Cásper Líbero, inspirado por uma corrida noturna francesa, na qual os atletas carregavam tochas durante o percurso.
Ao longo da história, a prova paulistana alterou seu trajeto dezenas de vezes até chegar aos atuais 15 quilômetros. No início, era realizada na noite de réveillon. Em 1989, passou para a tarde e, 23 anos depois, para a manhã da véspera de Ano-Novo.
Negócios
Prio tinha a Petrobras como única cliente do seu gás natural. Agora, o mercado é “sem limite”
A ação da Prio fechou o primeiro pregão de 2025 em alta de 1,54%, ao contrário do Ibovespa, que encerrou o dia em queda de 0,13%. O que ajudou a impulsionar o papel da companhia de óleo e gás foi o anúncio do início da comercialização direta de gás natural para o mercado.
Em comunicado na quinta-feira, 2 de janeiro, a Prio informou que o produto, que antes era vendido integralmente para a Petrobras, passa a ser oferecido de forma ampla ao mercado.
A decisão de passar a ser comercializadora direta de gás acompanha a estratégia de verticalização da companhia, que inclui as etapas de produção e venda do gás natural aos distribuidores. É a mesma estratégia feita com o petróleo, que passou a ser vendido diretamente em 2023.
“Agora a gente passa a ter a oportunidade de fazer com que o nosso gás chegue ao consumidor final, por meio das distribuidoras. Assim, vamos estar mais próximos dos clientes”, diz Gustavo Hooper, head de trading e shipping da Prio, em entrevista ao NeoFeed.
A produção inicial será de 300 mil m³/dia, mas a perspectiva é de alcançar a marca de 1 milhão de m³/dia ao longo de 2025, a partir do início da produção do campo de Wahoo, em área de pré-sal, no Espírito Santo.
A empresa ainda aguarda, no entanto, o licenciamento ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para dar início ao processo de perfuração dos poços.
A expectativa é de que a nova unidade de produção comece a operar oito meses após a autorização ambiental. O executivo acredita que a liberação possa ocorrer ainda no primeiro quadrimestre do ano, o que asseguraria o início das atividades ainda em 2025.
Para iniciar a venda de gás natural, a petroleira firmou acordo com a Petrobras para utilizar a infraestrutura da empresa por meio do Sistema Integrado de Escoamento da Bacia de Campos (RJ) e da Unidade de Processamento de Gás Natural de Cabiúnas, em Macaé (RJ).
Mas, a partir de agora, a gigante petrolífera não terá mais a exclusividade do produto da Prio. Segundo o executivo, a produção atual já está comercializada para outras empresas do País. Ele, no entanto, não revela os nomes das companhias. Dessa forma, a Prio pode vender de forma direta para Comgás, Eneva, entre outros players do setor.
Atualmente, a companhia produz o equivalente a 100 mil barris de petróleo/dia, dos campos de Albacora Leste e Frade, em Macaé, de onde também saem os 4 mil barris equivalentes/dia de gás natural. Com a nova configuração a partir do campo de Wahoo, a produção de petróleo vai alcançar 150 mil barris/dia, e a de gás deve ficar em 10 mil barris equivalentes/dia.
“Por mais que ainda tenha uma participação pequena no nosso portfólio, o gás tem um peso relevante para a indústria, pois a Prio é uma das maiores produtoras do País. Se hoje representa perto de 5% da nossa carteira, deve chegar a algo em torno de 10% com o campo de Wahoo”, afirma Hooper. O gás natural da Prio é o chamado associado, que vem junto com a produção de petróleo.
Do volume total produzido pela empresa, 80% são destinados à produção de gás natural, 15% para gás liquefeito de petróleo (GLP, o gás de cozinha) e 5% no formato condensado, usado na produção de gasolina.
Mesmo com o aumento da capacidade de produção, a porcentagem de distribuição, em massa, deve ser mantida. No caso do petróleo, 90% são destinados ao exterior e, no gás natural, 100% da produção é distribuída no Brasil.
Os investimentos da Prio, uma das principais júnior oils brasileiras, para colocar o campo de Wahoo em operação chegam a R$ 4,5 bilhões, com 80% destinado a contratações e desenvolvimento de empresas fornecedoras.
Para otimizar os recursos e garantir mais sinergia da operação, o gás produzido a partir de Wahoo vai passar pela mesma estrutura usada no campo de Frade, e, a partir daí, também entrar na tubulação da Petrobras.
O projeto terá um tieback submarino de 35 quilômetros, o maior da América Latina, entre Wahoo e Frade. O novo campo deve gerar mais de R$ 3 bilhões de royalties para o estado do Espírito Santo e União.
Com valor de mercado de R$ 36,4 bilhões, a ação PRIO3 acumula queda de 10,1% em 12 meses.
Negócios
Hindenburg liga o “sinal vermelho” para plataforma americana de carros usados
Depois do Adani Group e da Roblox, a Hindenburg Research tem um novo alvo: a Carvana, uma plataforma americana de compra e venda de carros usados, que está sendo acusada de manipulação contábil.
Em relatório divulgado na quinta-feira, 2 de janeiro, a Hindenburg alega que o portfólio de empréstimos subprime da Carvana possui riscos substanciais e o crescimento dos resultados é insustentável. A casa de research especializada em vendas a descoberto diz que estudou a companhia ao longo de quatro meses, conversando com ex-funcionários e concorrentes.
A Hindenburg, que naturalmente está short na Carvana, diz que o portfólio de empréstimos da empresa é “tóxico”, resultado de “padrões frouxos” de controle. Um ex-diretor da companhia teria dito que a empresa “aprova 100% dos pedidos” de empréstimo, emulando o período anterior à crise financeira de 2008, quando algo parecido ocorria no setor imobiliário.
A casa de research afirma que, através de terceiros, a Carvana esconde o risco de seu portfólio de empréstimos. O objetivo seria valorizar as ações e permitir que o CEO da companhia, Ernest Garcia III, e seu pai, Ernest Garcia II, possam aproveitar a valorização das ações e lucrar com a venda de participação. A prática não seria recente, com a dupla embolsando cerca de US$ 3,6 bilhões entre agosto de 2020 e agosto de 2021.
Segundo Hindenburg, mesmo correndo risco de falência em 2022 e 2023, as ações acumularam alta de 284% no ano passado. Para a casa de research, o turnaround promovido em 2024 não passou de “uma miragem” por conta das manipulações contábeis.
O relatório da Hindenburg pesou sobre as ações da Carvana. Depois de um recuo de queda de mais de 5%, os papéis recuavam 3,94% por volta das 16h52, a R$ 195,34. A companhia está avaliada em US$ 40 bilhões. Procurada por uma série de veículos de mídia, a Carvana não se pronunciou.
A Carvana é o mais recente alvo da Hindenburg, frequentemente acusada de tentar manipular o mercado através de seus relatórios. Em outubro, a casa de research acusou a plataforma de videogames Roblox de inflar seus dados financeiros, além de priorizar crescimento em detrimento da segurança dos usuários, que em sua maioria são crianças.
A Hindenburg também foi considerada responsável por destruir o acordo entre a General Motors (GM) e a montadora de caminhões elétricos Nikola. A empresa acusou a startup e seu fundador, Trevor Milton, de fraude por declarações feitas sobre o desenvolvimento da tecnologia e dos produtos da Nikola.
Outro caso emblemático foi contra o Adani Group, do bilionário indiano Gautam Adani. No começo de 2023, a Hindenburg acusou a holding de manter companhias de fachada em paraísos fiscais para lavagem de dinheiro.
A consultoria também acusou o Adani Group de estar no centro “da maior fraude corporativa da história” e que sua operação apresenta uma “situação financeira precária”, em função de um endividamento excessivo, com alto risco de falta de liquidez no curto prazo.
Como resultado, sete operações que compõem o grupo perderam o equivalente a cerca de US$ 47 bilhões em valor de mercado na ocasião.
Negócios
Gestora prepara o lançamento do primeiro fundo em mais de 30 anos
A Millennium Management é uma gestora sui generis. Desde a sua criação, em 1989, ela possui apenas um fundo de investimento. Agora, mais de 30 anos após o seu lançamento, a ideia é lançar um novo fundo para se expor a ativos ilíquidos, como crédito privado.
O mercado financeiro em países desenvolvidos viu um boom no crédito privado nos últimos anos com o fim da taxa de juros zero e com os bancos tirando o pé do business de crédito com mais risco. Isso abriu espaço para emissões no mercado privado, que hoje já somam quase US$ 2 trilhões.
Na visão do hedge fund, apesar do grande crescimento recente, ainda há muitas oportunidades para serem exploradas nesse mercado e também em outros menos líquidos, o que justificaria um fundo de investimento específico para essa estratégia.
De acordo com jornais internacionais, a Millennium não decidiu se captaria dinheiro para um novo fundo ou se transferiria de sua base de capital existente. Recentemente, a Millennium levantou US$ 10 bilhões em ativos para investir quando surgirem oportunidades.
O possível movimento de expansão busca sustentar o crescimento que transformou a Millennium em um negócio de cerca de US$ 70 bilhões desde que foi fundada por Izzy Englander. Ele ainda é dono de 100% da gestora, que foi fundada por ele com apenas US$ 35 milhões em ativos.
A casa possui mais de 330 pessoas em seus times de investimentos ao redor do mundo para apenas um fundo, que negocia ações em estratégias fundamentalista e de arbitragem, renda fixa, commodities e estratégias quantitativas em mercados líquidos.
Em 2024, o fundo teve um retorno de 15%, e alcançou US$ 72,1 bilhão sob gestão. Desde o início, o fundo tem um retorno anual médio de 14%.
O Millennium compete com outros grandes hedge funds, como o Citadel, de Ken Griffin, e o Point72, de Steve Cohen.
A Millennium e a Citadel foram os primeiros hedge funds multigestores do mercado, que nos últimos anos têm sido o segmento de crescimento mais rápido da indústria de fundos de hedge de US$ 4,5 trilhões.
Mas o grau de liquidez da Millennium é menor que o resto do mercado. O seu fundo exige cinco anos de investimento, sendo mais perto de prazos de fundos de private equity do que de crédito privado.
Outros fundos de hedge já tentaram entrar no mercado de crédito privado. O Man Group, o maior fundo de hedge listado do mundo, por exemplo, adquiriu no ano passado a empresa de crédito privado dos EUA, Varagon.
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