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SAF não existe para dar lucro, mas para criar valor, diz Pedro Mesquita, da Exa Capital

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pedro mesquita paulista de jundiaí
Tempo de Leitura:12 Minuto, 47 Segundo


A criação da Lei da Sociedade Anônima de Futebol (SAF), em 2021, trouxe à tona um novo modelo societário para adequar os clubes brasileiros, a maioria endividado e gerido de forma amadora, aos desafios mercadológicos e financeiros de um negócio que movimenta R$ 53 bilhões na economia do País, de acordo com a consultoria EY.

Em três anos, os clubes geridos por SAF já começam a ocupar espaço relevante na elite do futebol nacional. Oito dos 20 clubes da Série A do Campeonato Brasileiro, o mais rentável, adotaram esse modelo: América (MG), Atlético (MG), Bahia, Botafogo, Cruzeiro, Cuiabá, Fortaleza e Vasco da Gama, além do Red Bull Bragantino, que se tornou clube-empresa.

E quem teve participação relevante nesse processo foi Pedro Mesquita, CEO e sócio do gestora Exa Capital, criada, neste ano, para investir em negócios do esporte, agro e real este – a ambição é chegar a R$ 5 bilhões sob gestão em dois anos.

Quando ainda era chefe do banco de investimento da XP, Mesquita assessorou, em dezembro de 2021, o Cruzeiro na venda de 90% das ações da SAF para o grupo comandado por Ronaldo Fenômeno – hoje, o clube mineiro foi vendido para Pedro Lourenço, dono do Supermercados BH.

“Clube de futebol é um ativo no qual se investe como num ativo escasso, semelhante a um quadro de um grande pintor”, afirma Mesquita, nesta entrevista ao NeoFeed. “Para valorizá-lo, o investidor precisa gerar receita para pagar as dívidas do clube, contratar jogadores e ganhar títulos. Essa criação de valor é o que dará retorno ao investidor na eventual venda desse clube.”

No início do mês, a Exa assinou um Memorando de Entendimento (MoU) para aquisição de 90% da SAF do Paulista, de Jundiaí – tradicional clube do interior paulista, campeão brasileiro da Série C (2001) e da Copa do Brasil (2005), mas que está afundado em dívidas e disputando o equivalente à quinta divisão do futebol estadual.

A dívida potencial do Paulista, 80 vezes equivalente à receita anual – que assustaria qualquer investidor de outro setor da economia -, não preocupa Mesquita. “Quanto pior a situação de um clube, maior é o valor que se pode criar dentro de um ativo, principalmente se ele tem potencial, como o Paulista”, assegura o empresário, para quem a dinâmica de negócio no futebol é diferente.

A tendência, diz o empresário, é que a maioria dos clubes virem SAF, por causa do modelo profissional de gestão, que gera resultados no campo, incluindo títulos. “Os clubes grandes, endividados, vão perceber que as chances de caírem para a Série B vão aumentar cada vez mais.”

Leia, a seguir, trechos da entrevista, na qual também abordou o mercado externo e a invasão das bets, as casas de apostas, no futebol:

A compra do Paulista de Jundiaí pelo modelo SAF ainda não está concluída. O que falta para a Exa assumir o controle?
Não chegamos na parte final do contrato porque ainda estamos “abrindo as gavetas” para ver o tamanho da dívida. Não sabemos ao certo, mas a dívida gira em torno de R$ 80 milhões por ano, sendo que o faturamento anual não passa de R$ 1 milhão. Ou seja, é uma dívida que precisa ser renegociada, ou via recuperação judicial ou outro instrumento. Mas já definimos os termos para a compra e estamos no processo de diligência, que vai demorar uns quatro meses para concluir. Só depois saberemos o aporte que tem de ser feito.

A maioria dos clubes grandes que viram SAF tem uma dívida gigantesca. Por que são esses os que mais atraem interesse de investidores, como seu fundo?
Como fundo, não vou ser hipócrita, nosso objetivo é obter retorno – e ele virá a partir do que se investe e se consegue extrair de valor no longo prazo. Basicamente, é uma situação na qual, pelo fato de o clube estar endividado, é possível fazer um bom negócio. Renegociar uma dívida envolve um risco muito grande. E tem a questão que o atual processo de virar SAF no futebol brasileiro ainda é muito novo. A SAF acaba sendo a última opção para os clubes endividados.

Veja alguns trechos da entrevista com Pedro Mesquita, CEO da Exa Capital

Já temos nove times da Série A do Campeonato Brasileiro sob o modelo de SAF ou de clube-empresa. Qual é a tendência no médio prazo?
Vislumbro que, no médio e longo prazo, a maioria das SAFs – não digo todas – terá mais sucesso do que a maioria dos clubes sem SAF. Isso vai criar um desequilíbrio, o que vai fazer com que mesmo os clubes que não estão numa situação tão difícil comecem a olhar a SAF com outros olhos.

Em que sentido?
Na média, as SAFs tendem a ter muito mais sucesso que o modelo associativo. Temos dois bons exemplos: o Red Bull Bragantino, que adotou uma gestão privada diferente da SAF e já se solidificou na Série A, é um deles. Outro é o Bahia, clube que sempre figurou entre a primeira e a segunda divisão, e hoje como SAF dificilmente vai voltar a disputar rebaixamento. A tendência é de os clubes grandes, endividados, olhando esse movimento, percebam que as chances de caírem para a Série B vão aumentar cada vez mais.

Como é o cenário do modelo semelhante ao de SAF no exterior?
Lá fora o futebol já é privado. Entre os grandes clubes do mundo, apenas dois – Real Madrid e Barcelona – continuam como associação. O Real já é uma associação “quase SAF”, com uma gestão muito boa. O Barcelona é, vamos dizer, um pouco mais bagunçado em relação a dívidas e desempenho. Todo o resto é privado. O campeonato de maior sucesso do mundo, a Premier League (Inglaterra), que tem maior faturamento e os maiores craques, é inteiramente privado.

A lei da SAF foi criada em 2021. O que impede um clube brasileiro de ir além e fazer IPO?
A lei brasileira autoriza fazer IPO de qualquer ativo privado, inclusive de uma SAF. A grande questão é se há demanda de investidores por IPO de um clube de futebol. No mundo todo, há poucos clubes que são abertos em bolsa, é muito raro [o Borussia Dortmund, finalista da Liga dos Campeões em 2023/24, é um exemplo].

Por quê?
Porque o clube de futebol não é um ativo que vai te gerar lucro. Basicamente, quanto mais receita, mais Ebitda, mais investimento no próprio futebol. A tendência é que todos os clubes fiquem no “zero a zero” – esse é o caso de um clube bem administrado, pois o objetivo é ser competitivo e contratar bons jogadores. A questão é a valorização do ativo.

A valorização do ativo então se sobressai em relação ao lucro no futebol?
Costumo comparar um clube de futebol com o quadro de um grande pintor. Quanto melhor o pintor, quanto mais escasso o ativo, maior é a demanda. Então, quanto maior o clube, maior sua torcida, maior a demanda de investidores. Ou seja, os grandes valores – os grandes clubes – são escassos. Então é uma teoria de escassez, muito mais do que uma teoria de geração de lucro.

Como o investidor de bolsa entende essa lógica?
Ele vai olhar o lucro, mas não tem lucro… Como assim? Ele vai ser dono de um bem, de uma pequena parte de um ativo escasso. Porque a grande atratividade de ser dono de um ativo é poder explorar as sinergias que aquele ativo te gera. Já um sócio super minoritário não consegue extrair isso. Por isso que não existe demanda, nem no mundo nem aqui, de IPO de clube de futebol.

Quais são os principais impulsionadores para um clube gerido por SAF passar a dar lucro para o investidor e títulos para a torcida? Existe uma receita?
Essa é a grande questão. O torcedor acha que o clube que virou privado vai dar lucro. Nenhum clube grande no mundo dá lucro, ou quase nenhum. Clube de futebol é criação de valor. No limite, o clube vai usar o lucro do ano para reinvestir no próprio clube, e não para gerar dividendo. Torcedor tem de entender que o investidor compra um clube para que esse ativo se valorize e, um dia, se ele quiser, vendê-lo ou não.

“Nenhum clube grande dá lucro, pois o ganho é usado para reinvestir no clube, e não para gerar dividendo”

Como o investidor vai tornar esse ativo mais valioso?
Montando estrutura, centro de treinamento, ganhando mais títulos. Mas se trata de uma teoria completamente diferente daquela de se olhar uma empresa, porque ela vai dar lucro e gerar dividendo com a solidez.

Então, a compra de um clube no modelo SAF, para o investidor, tem dois objetivos: criar valor para esse ativo e depois passar para frente. Não foi o que o Ronaldo acaba de fazer com o Cruzeiro?
Se um investidor quiser passar o clube para frente, ele pode passar com valorização de ativo, por ter mudado o patamar daquele clube que estava no vermelho. O caso do Ronaldo, no Cruzeiro, é exemplar: subiu o clube para a primeira divisão, fez um trabalho magnífico de redução de dívida, por meio de uma recuperação judicial, reestruturou a categoria de base e melhorou o centro de treinamento. Mas ele tomou seus riscos – o Cruzeiro poderia não ter subido ou até caído para a terceira divisão. No meio desse processo houve um comprador que quis pegar o ativo para valorizá-lo ainda mais. O Ronaldo nem tinha a intenção de vendê-lo agora, mas foi uma questão de oportunidade.

Entre os clubes que viraram SAF temos um exemplo que destoa: o Vasco, que rompeu com a gestora 777, fundo americano que havia comprado o clube e não fez os aportes prometidos. Qual sua avaliação desse caso?
A primeira coisa que um clube interessado em virar SAF precisa saber é de onde vem o dinheiro e quais são os planos desse investidor. Na época da transformação do Cruzeiro em SAF, a 777 fez uma proposta. Como assessor da XP contratado pelo Cruzeiro para escolher o investidor, preferi o Ronaldo, dentro de um contexto: tinha muito mais credibilidade e experiência no futebol, embora não fosse o investidor mais capitalizado naquele momento. Fizemos uma análise criteriosa da 777 e não conseguimos identificar quem entendia de futebol lá dentro nem de onde vinha o dinheiro. Infelizmente, quem assessorou o Vasco escolheu a 777. De qualquer forma, mesmo fazendo diligência e fechando um bom contrato, quem vai comprar pode fazer um trabalho ruim.

Quem precisa evoluir mais no futebol brasileiro em direção à profissionalização: os dirigentes, comissão técnica ou atletas?
Nosso futebol é reflexo da sociedade brasileira, do ponto de vista prático. Temos menos educação e mais desigualdade se comparado a outros países. A profissionalização do futebol vai obrigar todos que dele participam que também se profissionalizem. Há dez anos, um ou outro clube tinha treinador estrangeiro. Hoje, eles são maioria, pois os treinadores estrangeiros são mais bem formados, estudam mais. A mesma coisa são as reclamações com arbitragem. Não acredito que haja conluio ou armação. O que existe no Brasil é uma arbitragem de péssima qualidade, até porque ela é amadora. Na Inglaterra, por exemplo, o juiz de futebol é profissional, treina e vive como um atleta de clube, focado em melhorar. Por isso que a arbitragem é melhor lá fora.

O mesmo vale para dirigentes?
Sem dúvida, não vai ter espaço para amadorismo. Flamengo e Palmeiras são clubes que não são SAF e estão muito bem administrados, com dívida sob controle, dinheiro em caixa e ganhando títulos. Por quê? Seus presidentes, Rodolpho Landim (Flamengo) e Leila Pereira (Palmeiras) são empresários de sucesso em seus setores de atuação. Não são simplesmente como os antigos políticos do futebol que estavam lá dirigindo o clube. Antes deles, o Bandeira de Mello e o Paulo Nobre já haviam administrado Flamengo e Palmeiras de forma profissional. Por isso, esses dois clubes são exceção.

“Flamengo e Palmeiras não são SAFs, mas dão lucro porque seus presidentes são empresários de sucesso”

De que adiante termos clubes geridos por SAF se a CBF é comandada por dirigentes amadores?
O futebol está se estruturando e, aos poucos, isso não vai mudar do dia para a noite. Somos hoje o investidor da Liga Forte União, que junto com outro bloco, a Libra, está tentando montar uma liga para organizar o Campeonato Brasileiro. A Liga Forte União tem a adesão de mais de 30 clubes. O ideal seria todos os clubes dentro de uma liga, mas já é um avanço. A partir do momento que tivermos uma liga, poderemos profissionalizar a arbitragem do Brasil, por exemplo.

O que chama a atenção nesse movimento de criação da liga são os baixíssimos valores propostos de negociação de direitos de TV, se comparados aos das grandes ligas. O que explica esse descompasso?
Os valores são baixos porque os clubes negociam sozinhos. Esse é um ponto. Os clubes querem antecipação de receita, então acabam negociando direitos futuros para poder ter dinheiro no presente. Outro ponto é que nosso produto também não é dos melhores: o calendário é ruim, incompatível com os de outros países, os gramados são péssimos e nossos melhores jogadores vão para o exterior, entre outros problemas.

Corremos o risco de ver algum outro esporte ocupar o lugar do futebol no Brasil?
O próprio futebol – só que do exterior – invadiu o País, ocupando um espaço que era nosso. Quando era criança, eu usava a camisa do Cruzeiro, meu time de coração. Hoje, os filhos dos meus amigos usam a camisa do Real Madrid, do Manchester City, do Barcelona…

Como reverter isso?
O que falta é profissionalização. O futebol é um esporte que, no Brasil, tem pouca concorrência de outras modalidades. Somos um dos maiores consumidores de futebol do mundo em comparação com qualquer outro país que tem ligas superiores em termos de faturamento. Nossa economia é maior do que a da Espanha, país do maior clube do mundo, o Real Madrid. Temos tudo aqui para fazer bem-feito, é só profissionalizar.

As casas de apostas, as bets, invadiram o futebol, patrocinando clubes brasileiros e do exterior. Isso ocorre em meio a casos de jogadores envolvidos com apostas. Não é preocupante?
É importante e preocupante não só no Brasil como no mundo e não só no futebol, como em outros esportes. Primeiro ponto: não vejo problema de as bets patrocinarem o futebol ou suas marcas estarem nas camisas dos times de futebol – elas geram uma receita importantíssima para os clubes. Além disso, elas não invadiram só o Brasil como a Inglaterra, que é principal campeonato mais organizado do mundo. O problema para mim não é esse, tanto que teve atletas da NBA sendo expulsos do esporte por estarem envolvidos com apostas – e aposta a favor de vitória do próprio time – e lá não tem patrocínio de bets na camisa dos clubes.

Então o problema é a questão da aposta de jogadores, como o caso que está sendo investigado envolvendo o Lucas Paquetá, atleta da Seleção Brasileira?
O que tem de ficar claro é que jogador não pode apostar, nem pode ter familiares ou amigos apostando. Eu vejo menos como um problema das bets e mais como um problema de conscientização dos atletas. Quando alguém cometer um deslize e for comprovado que esse jogador influenciou algo no jogo, não resta dúvidas de que a punição tem de ser exemplar.





Fonte: Neofeed

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No projeto Tão Longe, Tão Perto, o “milagre da expansão” acontece no vinho que sai da torneira

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No projeto Tão Longe, Tão Perto, o
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Fundador, em 2014, do primeiro wine truck do Brasil, o Los Mendozitos, voltado à venda em taça de vinhos de baixa intervenção importados da Argentina, o engenheiro industrial com especialização em sustentabilidade, Ariel Kogan, se rendeu aos vinhos nacionais. “A alta do dólar me obrigou a olhar com mais atenção para o mercado nacional e acompanhar a evolução da qualidade na última década”, conta ao NeoFeed.

Sem perder o foco nos pequenos produtores éticos e no desafio de tornar o consumo da bebida mais descontraído, Kogan vem investindo desde 2021 no projeto Tão Longe, Tão Perto (TLTP), ao lado da sommelière Gabriela Monteleone. Voltada à comercialização de vinhos leves, descomplicados e de fácil entendimento em growlers (garrafas reutilizáveis de 1 a 2 litros) e kegs (barris de 20 litros), engatados a torneiras como as de chopp, a plataforma tem visto sua frente de negócio mais recente, a Casa Tão Longe, Tão Perto, ganhar asas.

Inaugurado em meados de 2023, no bairro paulistano da Barra Funda, o espaço com 12 torneiras, poucas mesas e uma pequena seleção de comidinhas de fácil serviço (principalmente queijos e embutidos), foi pensado para ser uma espécie de showroom da marca. O objetivo era atrair para lá clientes potenciais de restaurantes e hotéis interessados na compra a granel dos vinhos brasileiros de pequenos produtores artesanais selecionados por Gabriela. Além de promover o sistema de torneiras (taps), que permite otimizar a venda em taça.

Para se ter uma ideia das vantagens, enquanto uma garrafa mantém as propriedades sensoriais de um vinho, no máximo, por três a quatro dias depois de aberta, um barril engatado em torneira consegue preservar a qualidade da bebida por até um mês. Além disso, o CMV (custo da mercadoria vendida) por taça pode cair em pelo menos 50%, segundo Kogan, devido ao menor custo da embalagem e transporte.

Assim, não demorou para a Casa chamar a atenção do público final pela oferta de brancos, rosés, tintos e laranjas a preços atrativos. Além de investidores, que viram no modelo inovador, simplificado e de baixo custo do bar uma oportunidade de negócio, puxando organicamente a expansão para outras praças.

Como resultado, em apenas um ano, mais duas unidades foram abertas: uma na cidade do Porto, em Portugal, e outra no Rio de Janeiro, cujo faturamento inicial está superando em 50% o da unidade paulista antes mesmo de fechar o mês.

Não por acaso, uma terceira unidade já está prevista para breve, em Lisboa. “Estamos procurando ponto”, diz Kogan.

Com tíquete médio de R$ 90, as Casas TLTP representam hoje 25% do faturamento da marca, mas a expectativa é que a fatia ultrapasse os 50% nos próximos anos com a ampliação do número de pontos.

“Ainda estamos analisando os dados e os vetores de crescimento com cuidado, mas há um grande potencial de expansão nos pontos de venda, que exigem menor investimento de capital do que a operação de distribuição de vinhos”, avalia o empresário, que não descarta a possibilidade de adotar o modelo de franquias a longo prazo.

Por enquanto, a expansão ocorre com parceiros locais, como, no Rio de Janeiro, com os empresários Nelson Soares e Juan Manoel Prada, do restaurante Sult, e Ricardo Rebello, do gastrobar Sebastian. O investimento em cada loja gira em torno de R$ 400 mil a R$ 500 mil.

A visibilidade trazida pelas Casas deve ainda ajudar a impulsionar as demais operações da plataforma, que atualmente conta com 20 clientes com torneiras instaladas em todo o Brasil. Entre eles estão os restaurantes Shuk, Futuro Refeitório, Cuia, Bráz Trattoria e Le Bulô, em São Paulo; Manga, em Salvador, e Casa Vivá, em Porto Alegre.

Segundo Kogan, a Tão Longe, Tão Perto se guia pela A conexão com o produtor, o diferencial do produto e a sustentabilidade (Foto: Divulgação/Tão Longe,, Tão Perto)

Além de barris, os vinhos são comercializados em growlers, garrafas reutilizáveis de 1 a 2 litros (Divulgação/Tão Longe, Tão Perto)

Hoje, a instalação de torneiras responde por 25% do faturamento da plataforma e a distribuição dos vinhos representa 50% (Divulgação/Tão Longe, Tão Perto)

O projeto Tão Longe, Tão Perto foi lançado em 2020, pela a sommelière Gabriela Monteleone (Reprodução Instagram @gabrielamonteleone)

Atualmente, a instalação de torneiras responde por 25% do faturamento da plataforma e a distribuição dos vinhos curados por Gabriela e envasados em diferentes recipientes representa 50%. “Essa é uma operação que deve crescer junto com as Casas”, acredita Kogan.

Uma nova frente de negócios ainda começa a ser desenhada, retomando a experiência do wine truck, para levar os vinhos da marca a eventos, em carrinhos móveis com torneiras.

Um efeito colateral da expansão, entretanto, já afetou a fidelidade ao produto brasileiro. Com a ida para a Europa, decidiu-se que a oferta de vinhos seguirá priorizando vinhos leves e de fácil entendimento feitos por pequenos produtores voltados à vinicultura de baixa intervenção, mas os rótulos serão selecionados localmente em prol da sustentabilidade. “Este sempre foi nosso principal drive”, enfatiza Kogan, que é um dos idealizadores do Programa Cidades Sustentáveis, da Rede Nossa São Paulo.

“Não estamos fechados a levar uma bebida de um país para o outro, mas terá de ser algo muito diferente, que faça sentido pelo diferencial”, diz Kogan, citando um fermentado de açaí feito no Acre que o surpreendeu recentemente.

Assim, uma nova curadoria começa a tomar corpo em Portugal, onde o número de vinhos naturais selecionados em regiões como Dão e Douro já supera o de torneiras instaladas na Casa TLTP do Porto.

“Já poderíamos colocar mais quatro torneiras, totalizando dez”, conta ele, que não descarta abraçar também a distribuição a granel de seus achados. “Não somos um movimento de exclusão de nada. Nem de garrafas, nem de importados. A conexão com o produtor, o diferencial do produto e a sustentabilidade é que vão nos guiar.”

Então, já que existe a brecha, há chance de vermos vinhos de pequenos produtores argentinos no portfólio da TLTP, voltando para o início do ciclo? “Se tivermos uma Casa em Buenos Aires ou Mendoza, sim. Mas aqui vamos priorizar o Brasil, até porque, pela legislação, não é possível importar vinhos a granel de lá para cá.”





Fonte: Neofeed

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A natureza lírica e avassaladora de Hayao Miyazaki

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A natureza lírica e avassaladora de Hayao Miyazaki
Tempo de Leitura:4 Minuto, 22 Segundo


VENEZA – Documentário exibido no 81º Festival de Veneza ajuda a explicar a genialidade do ícone da animação japonesa Hayao Miyazaki e de seu Studio Ghibli, que há quatro décadas dá profundidade e sofisticação ao gênero.

O foco de Miyazaki, l’Esprit de la Nature (Miyazaki, o Espírito da Natureza) é sobre a preocupação do cineasta de 83 anos com o meio ambiente, refletida em obras-primas como Nausicaä do Vale do Vento (1984), Meu Amigo Totoro (1988), Princesa Mononoke (1997) e A Viagem de Chihiro  (2001), entre outras.

Seja com florestas povoadas por criaturas mágicas ou com uma natureza furiosa por causa dos abusos sofridos, Miyazaki construiu uma filmografia questionando a relação do homem com todas as coisas vivas.

Ao longo de sua trajetória, o diretor, acostumado a encantar a plateia com paisagens silvestres de tirar o fôlego, nunca conseguiu ignorar a capacidade destrutiva da humanidade — embora algumas vezes ele prefira apostar na regeneração da natureza, por ser algo sagrado.

“Para apreciar profundamente a obra de Miyazaki, um dos artistas vivos mais reverenciados no mundo, é preciso analisá-lo em um contexto ambiental”, contou ao NeoFeed o diretor do filme, o francês Léo Favier.

Ele desembarcou no Lido de Veneza, estância balneária onde é realizado o festival italiano, às margens do Mar Adriático, para a première mundial do título que foi selecionado para a mostra Venice Classics, dedicada à memória do cinema.

A natureza é, muitas vezes, impactada nas histórias de Miyazaki por essas refletirem uma sociedade obcecada por conquistas, guerras e consumismo.

“Por mais que o cineasta tenha mudado e evoluído ao longo das décadas, seus filmes foram sempre carregados de guerra e destruição, o que também espelha o que ele enfrentou ainda na infância, moldando a sua visão de mundo”, afirmou Favier.

O documentarista se refere ao fato de Miyazaki ter sobrevivido a bombardeios, quando tinha entre três e quatro anos, ocasiões em que a sua família foi forçada a trocar de cidade. E o pai de Miyazaki ainda foi diretor de fábrica que confeccionava lemes para aviões de combate durante a Segunda Guerra.

Isso explica sua fascinação por aviação e, ao mesmo tempo, a culpa que o diretor já admitiu sentir por sua família ter feito dinheiro com a guerra.

“Nada é preto no branco nos seus filmes de Miyazaki, que sempre abraçou as contradições. Ele deixa que as situações sejam bagunçadas e complicadas, exatamente como é a vida, sem se limitar pensando em uma faixa etária específica para cada história”, comentou Favier.

O fato de suas obras serem concebidas para entreter todas as idades (e não apenas crianças) é o que garantiu mais profundidade, levantando questões filosóficas, sociais e políticas.

Um dos filmes mais ecológicos de Miyazaki foi Princesa Mononoke, onde mais de 144 mil desenhos feitos à mão dão vida a todo um ecossistema, com árvores, plantas, animais e espíritos dividindo uma paisagem estonteante, à beira da extinção. Mas o tom de alarme, pelo conflito aparentemente irremediável entre a natureza e a industrialização, não o impediu de acrescentar lirismo à trama, já que a floresta tem alma própria.

Os filmes do cineasta japonês refletem a grandiosidade da natureza, como Meu Amigo Totoro, de 1988 (Studio Ghibli)

Miyazaki construiu uma filmografia questionando a relação do homem com todas as coisas vivas (Foto: ©M6 MediaBank / Métropole Télévision)

Graças ao sucesso de “Nausicaä do Vale do Vento”, de 1984, Miyazaki conseguiu fundar o Studio Ghibli (Reprodução themoviedb.org)

“A Viagem de Chihiro”, de 2001, é considerada uma das obras-primas da animação (Reprodução themoviedb.org)

Segundo o biólogo Shin-Ichi Fukuoka, entrevistado no documentário, Princesa Mononoke se baseia em duas grandes questões: o que é a vida e o que é ser um humano. “No final, Miyazaki nos faz entender que nós somos parte da natureza, não muito diferente dos outros organismos em termos de mecanismo celular e DNA”, comentou o especialista.

Foi graças ao sucesso de Nausicaä do Vale do Vento, ambientado em futuro distópico onde a humanidade está ameaçado por um ar tóxico e insetos gigantes, que Miyazaki conseguiu fundar o Studio Ghibli.

A cena de abertura, com a princesa Nausicaä pousando em floresta estranha, porém majestosa, dá uma ideia da reconciliação almejada pelo cineasta. E muito antes de a questão ambiental se tornar um tema recorrente na produção audiovisual.

“O que Miyazaki sugere aqui é a interação entre natureza e seres humanos. Em vez de o homem insistir em dominar a natureza, ele deveria se engajar com ela, de modo respeitoso. O que sentimos é uma inteligência amorosa e uma consciência de que todos estamos conectados no universo”, comentou a escritora Susan Napier, autora do livro Miyazakiworld: a Life in Art, também em depoimento no filme.

O documentário examina outros filmes que refletem a grandiosidade da natureza, pelas lentes de Miyazaki, como Meu Amigo Totoro. Aqui o que ajuda duas irmãs a enfrentarem uma fase difícil, com a mãe hospitalizada, são as aventuras que vivenciam com os espíritos da floresta, conhecido como “totoros”.

É com esses seres fantásticos, em especial com o líder deles, que a dupla aprende a encarar a dura realidade, mas sem se esquecer da beleza, da poesia e da magia da vida, em tudo o que nos cerca.





Fonte: Neofeed

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Os planos “íntimos” da Hope: 10,5 milhões de peças e R$ 500 milhões de receita

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sandra chayo hope
Tempo de Leitura:3 Minuto, 42 Segundo


A fábrica do Grupo Hope em Maranguape, localizada na região metropolitana de Fortaleza, vai passar por um “banho de loja”. A marca de moda íntima, praia e fitness prevê um investimento robusto em novas tecnologias de fabricação, que devem dar suporte aos planos ambiciosos da companhia.

O grupo liderado por Sandra Chayo, filha do fundador Nissim Hara, projeta produzir 10,5 milhões de peças em 2024, uma expansão de 50% sobre o ano passado. Esse crescimento vai estar calcado em produtos básicos e acessíveis, uma revisão da estratégia da companhia que contou com a ajuda da consultoria Bain & Company.

“Chegamos à conclusão de que, se conseguíssemos atingir as classes B2 e C [renda estimada entre R$ 2 mil e R$ 6 mil], que ainda não consumiam os nossos produtos, poderíamos aumentar de forma significativa o nosso público endereçável”, afirma Chayo, diretora do Grupo Hope, ao NeoFeed.

A Hope marca está investindo R$ 20 milhões para voltar as suas origens – afinal a empresa, criada em 1966, começou com esse tipo de produto. Nesse orçamento está tanto as peças de marketing, como o desenvolvimento da linha Light, que traz produtos a preço de entrada, partindo de R$ 29,90 (cerca de R$ 10 abaixo das demais coleções).

A coleção, que chegou às mais de 3 mil lojas que atuam com a marca no primeiro semestre, já é a terceira mais expressiva em número de peças vendidas, atrás da Touch e Nude, que partem de R$ 39,90 e R$ 79,90 e estão entre as mais vendidas há anos.

“Quando entrei na empresa, em 1999, o movimento era justamente o contrário, de transformar uma marca popular, que só era vendida em lojas multimarcas, em algo mais sofisticado. E deu certo. Agora, entendemos que precisamos descer esse degrau novamente”, afirma Chayo.

Em 25 anos como diretora da empresa familiar, Chayo foi a responsável por todos os movimentos da operação: desde a expansão via franquias até a criação das outras duas marcas que estão no portfólio: a Bonjour Lingerie e a Hope Resort, de moda praia e fitness.

O próximo passo é dobrar o número de lojas em cinco anos. Hoje, a Hope detém 280 franquias e 9 lojas próprias. Em 2023, o grupo faturou R$ 350 milhões apenas na rede franqueada.

Segundo a Hope, a companhia teve um crescimento de 35% no faturamento no primeiro semestre e projeta acelerar nesta segunda metade do ano, podendo atingir a casa dos 40% no ano contra ano – o que faria a companhia se aproximar dos R$ 500 milhões em receita. Na visão de Chayo, essa receita só deve ser atingida em 2025.

Na visão do sócio da consultoria Varese Retail, Alberto Serrentino, a iniciativa do Grupo Hope é acertada. “O momento da companhia é muito bom. Ao mesmo tempo que eles conseguem conversar com o público premium nas lojas monomarcas, o grupo também tem desempenhado um bom trabalho ao atingir a camada mais baixa de consumidores”, afirma.

Para ele, a recuperação de mercado pode beneficiar ainda mais a companhia nessa nova fase. “A renda está crescendo, o desemprego caindo e o mercado de trabalho se aquecendo, o que ajuda o setor de consumo de semiduráveis, como é o caso da Hope”, diz Serrentino.

Falando em concorrentes, Serrentino acredita que há espaço para todo mundo. Ele afirma que existem diversos players no mercado com posicionamento, perfil de produto e canais distintos, como é o caso de marcas como Valisere, Intimissimi e Loungerie.

O homem na mira

Lançada há dois anos, as peças voltadas ao público masculino da Hope, ainda não decolaram. Isso não impediu o grupo de investir ainda mais no segmento, incluindo peças voltadas para os homens tanto na linha Light, com cuecas, como na Hope Resort, com vestuário fitness, que será lançado em outubro.

“A linha masculina na Hope está crescendo e a cueca da Light está vendendo como água. O consumo por parte dos homens é muito diferente do das mulheres. Eles compram em quantidade, normalmente uma dúzia de cuecas por vez, o que é ótimo para nós”, diz Chayo.

Pensando no público unissex, a marca também está entrando na disputa pelo mercado de meias, que hoje conta com concorrentes como Lupo e gigantes esportivas como Nike e Adidas. Ainda em fase de testes em algumas lojas, a coleção completa o portfólio do grupo e busca atingir todos os públicos que agora consomem os produtos Hope.





Fonte: Neofeed

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