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A incrível história de uma tela de Lasar Segall roubada pelos nazistas e encontrada 80 anos depois

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A incrível história de uma tela de Lasar Segall roubada pelos nazistas e encontrada 80 anos depois
Tempo de Leitura:7 Minuto, 9 Segundo


“Os senhores veem à nossa volta essas abominações da loucura, da insolência, da inépcia e da degeneração. O que os olhos percebem, nos causa, a nós todos, choque e repulsa.”

Assim, Adolf Ziegler, presidente da Câmara do Terceiro Reich de Artes Plásticas, declarou aberta, em 19 de julho de 1937, em Munique, a exposição Arte DegeneradaEntartete Kunst, em alemão.

As “abominações” eram 650 obras, confiscadas de 32 museus alemães. Eram “abominações” porque eram modernistas — e seus criadores, livres. E porque fugiam ao padrão estético nazista, caracterizado pela valorização doentia da perfeição, da ordem e do equilíbrio.

Entre os “degenerados” estavam Pablo Picasso, Marc Chagall, Wassily Kandinsky, Van Gogh, Paul Klee, Lasar Segall, Max Ernst, Otto Dix, Henri Matisse e Lovis Corinth, entre outros.

As obras de artistas já consagrados à época, como Picasso, Chagall e Kandinsky, foram vendidas pelos nazistas, em leilões privados na Suíça. As outras seriam incineradas.

Em 13 de janeiro de 1938, Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Adolf Hitler, escreveu em seu diário: “Nenhum quadro será poupado”.

Oitenta e cinco anos depois, descobriu-se que uma daquelas “abominações” fora, sim, poupada — a tela Viúva (Witwe), do lituano, de origem judaica, Lasar Segall (1889-1957).

Em 2022, o marchand paulista Paulo Kuczynski foi avisado por um amigo francês, também marchand: em meio ao espólio de um artista obscuro, havia uma pintura muito parecida com o quadro de Segall. As únicas referências da obra eram fotografias em branco e preto, em catálogos antigos.

Kuczynski foi até Paris, comprou o quadro e o trouxe para o Brasil. O valor pago, ele prefere não revelar. “Nada é mais importante do que a beleza da história de como o quadro sobreviveu à condenação de ser destruído, no atentado em massa à cultura cometido pelos nazistas”, diz, em conversa com o NeoFeed.

“Quem salvou a obra (talvez um oficial nazista?) tinha sensibilidade ou algum conhecimento de arte porque não a salvou por seu valor monetário, mas por seu valor intrínseco”, avalia o marchand.

Viúva foi muito bem conservada, as cores se mantêm vibrantes, sem nunca ter sido restaurada. A autenticidade da tela foi confirmada pela equipe técnica do Museu Lasar Segall, centro de referência para o estudo da obra do pintor.

De volta à luz

Viúva é uma testemunha da história, uma obra sobrevivente, profunda e intrigante, reencontrada tantos anos depois de seu desaparecimento”, avalia Pierina Camargo, museóloga e pesquisadora da instituição paulistana, há cerca de 40 anos.

Agora, o quadro volta a ser exposto. De 19 de maio a 11 de agosto, a tela está no centro da mostra Witwe, uma pintura reencontrada, do Museu Lasar Segall, junto com gravuras produzidas pelo artista na mesma época.

De 1920, a tela é do auge da fase expressionista de Segall. Foi pintada em Dresden, na Alemanha, para onde o artista se mudara, em 1910, aos 21 anos, para estudar na Academia de Belas Artes.

“O expressionismo foi um movimento cultural de vanguarda que cresceu em tempos sórdidos na Alemanha pré-nazista”, escreve a artista plástica Mazé Leite, no artigo Verdade, fraternidade e arte.

E ela prossegue: “Suas imagens deformadas eram uma expressão da realidade dura que atingia física e subjetivamente o ser humano (…) Deu primazia à expressão dos sentimentos dos artistas, muito mais do que à descrição objetiva da realidade, como protesto mais profundo da alma dos artistas contra uma sociedade que se arruinava. Não havia como idealizar a realidade pois a fome, a doença, o desemprego e o abandono dominavam a vida do povo”.

Em 1919, ano da foto, Segall pertencia ao movimento Secessão de Dresden, dedicado a denunciar os problemas sociais da Alemanha pré-nazista (Crédito: Arquivo fotográfico Lasar Segall – Museu Lasar Segall – Ibram/MinC)

A obra “Cinco Figuras”, de 1921, ponta seca sobre papel, é um dos trabalhos do artista lituano integrante da mostra “Witwe, uma pintura reencontrada” (Crédito: Acervo Museu Lasar Segall– Ibram/MinC)

“Quem salvou a obra tinha sensibilidade, algum conhecimento de arte porque não a salvou por seu valor monetário, mas por seu valor intrínseco”, avalia o marchand Paulo Kuczynski, responsável por trazer a tela de Segall para o Brasil (Crédito: reprodução/artpk.com.br)

A exposição “Arte Degenerada”, idealizada pelo serviço de propaganda nazista, classificou como “abominações” obras de artistas como Picasso, Matisse, Kandinsky e Segall (Crédito: Reprodução/drouot.com)

De 1939, a tela “Femme assise, robe bleue”, de Picasso, foi roubada pelos nazistas em 1940,. No mesmo ano, enquanto a obra era transportada de Paris para a Alemanha, foi recuperada pelas Forças Francesas Livres. Leiloado em 2017, o quadro alcançou US$ 45 milhões (Crédito: Reprodução/christies.com)

“O Astrônomo”, de Johannes Vermeer, foi uma das obras encontradas no esconderijo dos nazistas nas minas de sal da cidade de Altausse (Crédito: Reprodução/Wikipedia)

O pintor russo Marc Chagall foi um dos “degenerados” da mostra nazista de 1937, em Munique. Uma de sua obras, “Le Père”, de 1911, foi roubada pelas forças hitleristas quando seu dono David Cender foi mandado para Auschwitz. Recuperada depois da guerra, em 2022, foi vendida por US$ 7,5 milhões (Crédito: Reprodução/.mahj.org)

Apesar do horror, a cultura estava em ebulição. Alguns artistas, entre eles, Segall, criaram o movimento Secessão de Dresden — Grupo 1919. Dedicados a denunciar os problemas sociais, eles propunham uma mudança radical dos valores da sociedade.

Viúva era uma das 15 pinturas, 30 desenhos e 35 gravuras da primeira grande mostra individual do lituano, realizada no Folkwang Museum, em Essen, no noroeste alemão, em 1920.

“O conceito em forma de afresco, uma premonição daquilo que poderia vir a ser um novo tempo. Viúva, nobre majestade, é apenas uma proteção para os filhos que certamente vão se impor como a vida futura”, escreveu o crítico e historiador de arte alemão Will Grohmann, no catálogo da exibição de Essen.

Dezessete anos depois, o quadro seria sequestrado pelos nazistas e exposto em Munique para execração pública. Para achincalhar seus autores, as peças da exposição Arte Degenerada foram exibidas desorganizadas, os quadros tortos nas paredes, sob uma iluminação igualmente desajustada.

A mostra percorreu várias cidades da Alemanha e da Áustria até 1941, quando foi encerrada. Ao longo de seus quatro anos, Arte Degenerada foi vista por cerca de 2 milhões de pessoas.

A pilhagem nazista

Para Hitler, confiscar peças de arte era quase tão importante quanto as vitórias militares. De 1933 até o fim da 2ª Guerra Mundial, as unidades militares batizadas Kunstschutz (“proteção da arte”, em alemão), estima-se, roubaram 600 mil obras, por toda a Europa ocupada.

No principal esconderijo do ditador nazista, uma mina de sal em Altausse, cidadezinha nos Alpes austríacos, em maio de 1945, os soldados americanos, conhecidos como “monuments men”, encontraram 6,6 mil quadros e 140 esculturas, além de outros objetos de arte, pilhados pelas forças do Terceiro Reich.

Haviam peças de artistas como Rubens, Michelangelo, Tintoretto, Rembrandt, Vermeer, Leonardo da Vinci, Goya e Jan van Eyck.

Em seus delírios megalomaníacos, Hitler planejava construir o maior museu do mundo, o A.H., em Linz, na Áustria, cidade de sua infância e adolescência.

Nessa época, Segall já vivia no Brasil. Com irmãos morando no País, ele veio a São Paulo pela primeira vez em 1912. O pintor foi um dos primeiros a apresentar a arte moderna europeia aos brasileiros, com exposições realizadas na capital paulista e em Campinas.

Em 1923, o artista se mudaria definitivamente para São Paulo. Dois anos depois, se casou com a tradutora, escritora e pianista paulistana Eugenia Klabin (1899-1967).

O Museu Lasar Segall foi idealizado por Jenny, como Eugenia era conhecida, e criado em 1967 pelos filhos do casal, Mauricio e Oscar.

Artista frustrado

A quem possa interessar, Hitler era um artista frustrado. Por duas vezes, em 1907 e 1908, tentou entrar na Academia de Belas Artes de Viena, sendo reprovado em ambas. Mesmo assim, ele pintou muito, sobretudo paisagens.

No livro Inside Europe, de 1938, o premiado escritor americano John Gunther descreve assim os trabalhos do Führer: “Eles são prosaicos, totalmente desprovidos de ritmo, cor, sentimento ou imaginação espiritual (…) Não é de admirar que os professores de Viena lhe dissessem (…) para abandonar a arte pura sem esperança”.

O modo como ele desenhava as figuras humanas, segundo os críticos, demonstrava um profundo desinteresse pelas pessoas.

Apesar da fúria e violência hitleristas, Segall, Picasso, Chagall, Klee, Kandinsky, Van Gogh, Ernst, Matisse… resistiram — a arte resistiu.

Quando isso não acontece, a perda para a humanidade é enorme.

O nazismo, entre tantas atrocidades que perpetrou, não foi eficiente com esses “degenerados”.

Talvez graças a pessoas como aquele provável soldado alemão que se encantou pela Viúva.





Fonte: Neofeed

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No projeto Tão Longe, Tão Perto, o “milagre da expansão” acontece no vinho que sai da torneira

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No projeto Tão Longe, Tão Perto, o
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Fundador, em 2014, do primeiro wine truck do Brasil, o Los Mendozitos, voltado à venda em taça de vinhos de baixa intervenção importados da Argentina, o engenheiro industrial com especialização em sustentabilidade, Ariel Kogan, se rendeu aos vinhos nacionais. “A alta do dólar me obrigou a olhar com mais atenção para o mercado nacional e acompanhar a evolução da qualidade na última década”, conta ao NeoFeed.

Sem perder o foco nos pequenos produtores éticos e no desafio de tornar o consumo da bebida mais descontraído, Kogan vem investindo desde 2021 no projeto Tão Longe, Tão Perto (TLTP), ao lado da sommelière Gabriela Monteleone. Voltada à comercialização de vinhos leves, descomplicados e de fácil entendimento em growlers (garrafas reutilizáveis de 1 a 2 litros) e kegs (barris de 20 litros), engatados a torneiras como as de chopp, a plataforma tem visto sua frente de negócio mais recente, a Casa Tão Longe, Tão Perto, ganhar asas.

Inaugurado em meados de 2023, no bairro paulistano da Barra Funda, o espaço com 12 torneiras, poucas mesas e uma pequena seleção de comidinhas de fácil serviço (principalmente queijos e embutidos), foi pensado para ser uma espécie de showroom da marca. O objetivo era atrair para lá clientes potenciais de restaurantes e hotéis interessados na compra a granel dos vinhos brasileiros de pequenos produtores artesanais selecionados por Gabriela. Além de promover o sistema de torneiras (taps), que permite otimizar a venda em taça.

Para se ter uma ideia das vantagens, enquanto uma garrafa mantém as propriedades sensoriais de um vinho, no máximo, por três a quatro dias depois de aberta, um barril engatado em torneira consegue preservar a qualidade da bebida por até um mês. Além disso, o CMV (custo da mercadoria vendida) por taça pode cair em pelo menos 50%, segundo Kogan, devido ao menor custo da embalagem e transporte.

Assim, não demorou para a Casa chamar a atenção do público final pela oferta de brancos, rosés, tintos e laranjas a preços atrativos. Além de investidores, que viram no modelo inovador, simplificado e de baixo custo do bar uma oportunidade de negócio, puxando organicamente a expansão para outras praças.

Como resultado, em apenas um ano, mais duas unidades foram abertas: uma na cidade do Porto, em Portugal, e outra no Rio de Janeiro, cujo faturamento inicial está superando em 50% o da unidade paulista antes mesmo de fechar o mês.

Não por acaso, uma terceira unidade já está prevista para breve, em Lisboa. “Estamos procurando ponto”, diz Kogan.

Com tíquete médio de R$ 90, as Casas TLTP representam hoje 25% do faturamento da marca, mas a expectativa é que a fatia ultrapasse os 50% nos próximos anos com a ampliação do número de pontos.

“Ainda estamos analisando os dados e os vetores de crescimento com cuidado, mas há um grande potencial de expansão nos pontos de venda, que exigem menor investimento de capital do que a operação de distribuição de vinhos”, avalia o empresário, que não descarta a possibilidade de adotar o modelo de franquias a longo prazo.

Por enquanto, a expansão ocorre com parceiros locais, como, no Rio de Janeiro, com os empresários Nelson Soares e Juan Manoel Prada, do restaurante Sult, e Ricardo Rebello, do gastrobar Sebastian. O investimento em cada loja gira em torno de R$ 400 mil a R$ 500 mil.

A visibilidade trazida pelas Casas deve ainda ajudar a impulsionar as demais operações da plataforma, que atualmente conta com 20 clientes com torneiras instaladas em todo o Brasil. Entre eles estão os restaurantes Shuk, Futuro Refeitório, Cuia, Bráz Trattoria e Le Bulô, em São Paulo; Manga, em Salvador, e Casa Vivá, em Porto Alegre.

Segundo Kogan, a Tão Longe, Tão Perto se guia pela A conexão com o produtor, o diferencial do produto e a sustentabilidade (Foto: Divulgação/Tão Longe,, Tão Perto)

Além de barris, os vinhos são comercializados em growlers, garrafas reutilizáveis de 1 a 2 litros (Divulgação/Tão Longe, Tão Perto)

Hoje, a instalação de torneiras responde por 25% do faturamento da plataforma e a distribuição dos vinhos representa 50% (Divulgação/Tão Longe, Tão Perto)

O projeto Tão Longe, Tão Perto foi lançado em 2020, pela a sommelière Gabriela Monteleone (Reprodução Instagram @gabrielamonteleone)

Atualmente, a instalação de torneiras responde por 25% do faturamento da plataforma e a distribuição dos vinhos curados por Gabriela e envasados em diferentes recipientes representa 50%. “Essa é uma operação que deve crescer junto com as Casas”, acredita Kogan.

Uma nova frente de negócios ainda começa a ser desenhada, retomando a experiência do wine truck, para levar os vinhos da marca a eventos, em carrinhos móveis com torneiras.

Um efeito colateral da expansão, entretanto, já afetou a fidelidade ao produto brasileiro. Com a ida para a Europa, decidiu-se que a oferta de vinhos seguirá priorizando vinhos leves e de fácil entendimento feitos por pequenos produtores voltados à vinicultura de baixa intervenção, mas os rótulos serão selecionados localmente em prol da sustentabilidade. “Este sempre foi nosso principal drive”, enfatiza Kogan, que é um dos idealizadores do Programa Cidades Sustentáveis, da Rede Nossa São Paulo.

“Não estamos fechados a levar uma bebida de um país para o outro, mas terá de ser algo muito diferente, que faça sentido pelo diferencial”, diz Kogan, citando um fermentado de açaí feito no Acre que o surpreendeu recentemente.

Assim, uma nova curadoria começa a tomar corpo em Portugal, onde o número de vinhos naturais selecionados em regiões como Dão e Douro já supera o de torneiras instaladas na Casa TLTP do Porto.

“Já poderíamos colocar mais quatro torneiras, totalizando dez”, conta ele, que não descarta abraçar também a distribuição a granel de seus achados. “Não somos um movimento de exclusão de nada. Nem de garrafas, nem de importados. A conexão com o produtor, o diferencial do produto e a sustentabilidade é que vão nos guiar.”

Então, já que existe a brecha, há chance de vermos vinhos de pequenos produtores argentinos no portfólio da TLTP, voltando para o início do ciclo? “Se tivermos uma Casa em Buenos Aires ou Mendoza, sim. Mas aqui vamos priorizar o Brasil, até porque, pela legislação, não é possível importar vinhos a granel de lá para cá.”





Fonte: Neofeed

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A natureza lírica e avassaladora de Hayao Miyazaki

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A natureza lírica e avassaladora de Hayao Miyazaki
Tempo de Leitura:4 Minuto, 22 Segundo


VENEZA – Documentário exibido no 81º Festival de Veneza ajuda a explicar a genialidade do ícone da animação japonesa Hayao Miyazaki e de seu Studio Ghibli, que há quatro décadas dá profundidade e sofisticação ao gênero.

O foco de Miyazaki, l’Esprit de la Nature (Miyazaki, o Espírito da Natureza) é sobre a preocupação do cineasta de 83 anos com o meio ambiente, refletida em obras-primas como Nausicaä do Vale do Vento (1984), Meu Amigo Totoro (1988), Princesa Mononoke (1997) e A Viagem de Chihiro  (2001), entre outras.

Seja com florestas povoadas por criaturas mágicas ou com uma natureza furiosa por causa dos abusos sofridos, Miyazaki construiu uma filmografia questionando a relação do homem com todas as coisas vivas.

Ao longo de sua trajetória, o diretor, acostumado a encantar a plateia com paisagens silvestres de tirar o fôlego, nunca conseguiu ignorar a capacidade destrutiva da humanidade — embora algumas vezes ele prefira apostar na regeneração da natureza, por ser algo sagrado.

“Para apreciar profundamente a obra de Miyazaki, um dos artistas vivos mais reverenciados no mundo, é preciso analisá-lo em um contexto ambiental”, contou ao NeoFeed o diretor do filme, o francês Léo Favier.

Ele desembarcou no Lido de Veneza, estância balneária onde é realizado o festival italiano, às margens do Mar Adriático, para a première mundial do título que foi selecionado para a mostra Venice Classics, dedicada à memória do cinema.

A natureza é, muitas vezes, impactada nas histórias de Miyazaki por essas refletirem uma sociedade obcecada por conquistas, guerras e consumismo.

“Por mais que o cineasta tenha mudado e evoluído ao longo das décadas, seus filmes foram sempre carregados de guerra e destruição, o que também espelha o que ele enfrentou ainda na infância, moldando a sua visão de mundo”, afirmou Favier.

O documentarista se refere ao fato de Miyazaki ter sobrevivido a bombardeios, quando tinha entre três e quatro anos, ocasiões em que a sua família foi forçada a trocar de cidade. E o pai de Miyazaki ainda foi diretor de fábrica que confeccionava lemes para aviões de combate durante a Segunda Guerra.

Isso explica sua fascinação por aviação e, ao mesmo tempo, a culpa que o diretor já admitiu sentir por sua família ter feito dinheiro com a guerra.

“Nada é preto no branco nos seus filmes de Miyazaki, que sempre abraçou as contradições. Ele deixa que as situações sejam bagunçadas e complicadas, exatamente como é a vida, sem se limitar pensando em uma faixa etária específica para cada história”, comentou Favier.

O fato de suas obras serem concebidas para entreter todas as idades (e não apenas crianças) é o que garantiu mais profundidade, levantando questões filosóficas, sociais e políticas.

Um dos filmes mais ecológicos de Miyazaki foi Princesa Mononoke, onde mais de 144 mil desenhos feitos à mão dão vida a todo um ecossistema, com árvores, plantas, animais e espíritos dividindo uma paisagem estonteante, à beira da extinção. Mas o tom de alarme, pelo conflito aparentemente irremediável entre a natureza e a industrialização, não o impediu de acrescentar lirismo à trama, já que a floresta tem alma própria.

Os filmes do cineasta japonês refletem a grandiosidade da natureza, como Meu Amigo Totoro, de 1988 (Studio Ghibli)

Miyazaki construiu uma filmografia questionando a relação do homem com todas as coisas vivas (Foto: ©M6 MediaBank / Métropole Télévision)

Graças ao sucesso de “Nausicaä do Vale do Vento”, de 1984, Miyazaki conseguiu fundar o Studio Ghibli (Reprodução themoviedb.org)

“A Viagem de Chihiro”, de 2001, é considerada uma das obras-primas da animação (Reprodução themoviedb.org)

Segundo o biólogo Shin-Ichi Fukuoka, entrevistado no documentário, Princesa Mononoke se baseia em duas grandes questões: o que é a vida e o que é ser um humano. “No final, Miyazaki nos faz entender que nós somos parte da natureza, não muito diferente dos outros organismos em termos de mecanismo celular e DNA”, comentou o especialista.

Foi graças ao sucesso de Nausicaä do Vale do Vento, ambientado em futuro distópico onde a humanidade está ameaçado por um ar tóxico e insetos gigantes, que Miyazaki conseguiu fundar o Studio Ghibli.

A cena de abertura, com a princesa Nausicaä pousando em floresta estranha, porém majestosa, dá uma ideia da reconciliação almejada pelo cineasta. E muito antes de a questão ambiental se tornar um tema recorrente na produção audiovisual.

“O que Miyazaki sugere aqui é a interação entre natureza e seres humanos. Em vez de o homem insistir em dominar a natureza, ele deveria se engajar com ela, de modo respeitoso. O que sentimos é uma inteligência amorosa e uma consciência de que todos estamos conectados no universo”, comentou a escritora Susan Napier, autora do livro Miyazakiworld: a Life in Art, também em depoimento no filme.

O documentário examina outros filmes que refletem a grandiosidade da natureza, pelas lentes de Miyazaki, como Meu Amigo Totoro. Aqui o que ajuda duas irmãs a enfrentarem uma fase difícil, com a mãe hospitalizada, são as aventuras que vivenciam com os espíritos da floresta, conhecido como “totoros”.

É com esses seres fantásticos, em especial com o líder deles, que a dupla aprende a encarar a dura realidade, mas sem se esquecer da beleza, da poesia e da magia da vida, em tudo o que nos cerca.





Fonte: Neofeed

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Os planos “íntimos” da Hope: 10,5 milhões de peças e R$ 500 milhões de receita

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sandra chayo hope
Tempo de Leitura:3 Minuto, 42 Segundo


A fábrica do Grupo Hope em Maranguape, localizada na região metropolitana de Fortaleza, vai passar por um “banho de loja”. A marca de moda íntima, praia e fitness prevê um investimento robusto em novas tecnologias de fabricação, que devem dar suporte aos planos ambiciosos da companhia.

O grupo liderado por Sandra Chayo, filha do fundador Nissim Hara, projeta produzir 10,5 milhões de peças em 2024, uma expansão de 50% sobre o ano passado. Esse crescimento vai estar calcado em produtos básicos e acessíveis, uma revisão da estratégia da companhia que contou com a ajuda da consultoria Bain & Company.

“Chegamos à conclusão de que, se conseguíssemos atingir as classes B2 e C [renda estimada entre R$ 2 mil e R$ 6 mil], que ainda não consumiam os nossos produtos, poderíamos aumentar de forma significativa o nosso público endereçável”, afirma Chayo, diretora do Grupo Hope, ao NeoFeed.

A Hope marca está investindo R$ 20 milhões para voltar as suas origens – afinal a empresa, criada em 1966, começou com esse tipo de produto. Nesse orçamento está tanto as peças de marketing, como o desenvolvimento da linha Light, que traz produtos a preço de entrada, partindo de R$ 29,90 (cerca de R$ 10 abaixo das demais coleções).

A coleção, que chegou às mais de 3 mil lojas que atuam com a marca no primeiro semestre, já é a terceira mais expressiva em número de peças vendidas, atrás da Touch e Nude, que partem de R$ 39,90 e R$ 79,90 e estão entre as mais vendidas há anos.

“Quando entrei na empresa, em 1999, o movimento era justamente o contrário, de transformar uma marca popular, que só era vendida em lojas multimarcas, em algo mais sofisticado. E deu certo. Agora, entendemos que precisamos descer esse degrau novamente”, afirma Chayo.

Em 25 anos como diretora da empresa familiar, Chayo foi a responsável por todos os movimentos da operação: desde a expansão via franquias até a criação das outras duas marcas que estão no portfólio: a Bonjour Lingerie e a Hope Resort, de moda praia e fitness.

O próximo passo é dobrar o número de lojas em cinco anos. Hoje, a Hope detém 280 franquias e 9 lojas próprias. Em 2023, o grupo faturou R$ 350 milhões apenas na rede franqueada.

Segundo a Hope, a companhia teve um crescimento de 35% no faturamento no primeiro semestre e projeta acelerar nesta segunda metade do ano, podendo atingir a casa dos 40% no ano contra ano – o que faria a companhia se aproximar dos R$ 500 milhões em receita. Na visão de Chayo, essa receita só deve ser atingida em 2025.

Na visão do sócio da consultoria Varese Retail, Alberto Serrentino, a iniciativa do Grupo Hope é acertada. “O momento da companhia é muito bom. Ao mesmo tempo que eles conseguem conversar com o público premium nas lojas monomarcas, o grupo também tem desempenhado um bom trabalho ao atingir a camada mais baixa de consumidores”, afirma.

Para ele, a recuperação de mercado pode beneficiar ainda mais a companhia nessa nova fase. “A renda está crescendo, o desemprego caindo e o mercado de trabalho se aquecendo, o que ajuda o setor de consumo de semiduráveis, como é o caso da Hope”, diz Serrentino.

Falando em concorrentes, Serrentino acredita que há espaço para todo mundo. Ele afirma que existem diversos players no mercado com posicionamento, perfil de produto e canais distintos, como é o caso de marcas como Valisere, Intimissimi e Loungerie.

O homem na mira

Lançada há dois anos, as peças voltadas ao público masculino da Hope, ainda não decolaram. Isso não impediu o grupo de investir ainda mais no segmento, incluindo peças voltadas para os homens tanto na linha Light, com cuecas, como na Hope Resort, com vestuário fitness, que será lançado em outubro.

“A linha masculina na Hope está crescendo e a cueca da Light está vendendo como água. O consumo por parte dos homens é muito diferente do das mulheres. Eles compram em quantidade, normalmente uma dúzia de cuecas por vez, o que é ótimo para nós”, diz Chayo.

Pensando no público unissex, a marca também está entrando na disputa pelo mercado de meias, que hoje conta com concorrentes como Lupo e gigantes esportivas como Nike e Adidas. Ainda em fase de testes em algumas lojas, a coleção completa o portfólio do grupo e busca atingir todos os públicos que agora consomem os produtos Hope.





Fonte: Neofeed

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