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“Alta de 0,25 ponto percentual na Selic agrada todo mundo e dá tempo ao tempo”, diz economista da JGP

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fernando rocha economista JGP
Tempo de Leitura:12 Minuto, 23 Segundo


A superquarta começou com o Federal Reserve (Fed) cortando a taxa de juros americana em 0,50 ponto percentual (pp), para a faixa de 4,75% e 5%, e terminou com o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumentando a Taxa Selic em 0,25 pp, para 10,75%.

As direções das decisões das autoridades monetárias eram esperadas pelo mercado financeiro local e estrangeiro, mas havia dúvida sobre o calibre do corte nos Estados Unidos.

“O mercado estava em dúvida se seria 0,25 pp ou 50 pp. Geralmente o Fed vai para a reunião com muita certeza, mas desta vez estava meio enrolado pela comunicação deles”, diz Fernando Rocha, economista-chefe da JGP, ao NeoFeed. “Mas o mercado nesses últimos dias caminhou para o 0,50 pp.”

Se nos EUA a redução dos juros é a primeira desde 2020, no Brasil a elevação da Selic é a primeira desde agosto de 2022. Neste momento, o que explica as direções contrárias é a perspectiva de aumento da inflação no mercado local. Em 12 meses, o IPCA acumulado está em 4,24% – e com tendência de se aproximar do teto da meta do Banco Central.

“O cenário de inflação tende a ficar um pouco pior no fim do ano”, diz Rocha. “Tenho impressão que caminhando três, quatro, cinco meses à frente, teremos uma inflação mensal desconfortável e talvez o Copom tenha que acelerar o ritmo para 0,50 pp.”

Na projeção do economista-chefe da JGP, gestora de André Jakurski com quase R$ 30 bilhões sob gestão, o ciclo de alta da Selic termina em 12%. Neste ano, serão mais duas altas de 0,25 pp e 0,50 pp.

“Como as coisas não são sincronizadas, o que acho que vai acontecer é que a economia vai desacelerar, porque já estamos subindo os juros e o fiscal provavelmente vai moderar um pouco, mas a inflação vai subir”, afirma Rocha.

Nesta entrevista, ele fala também sobre os olhares do mercado sobre Gabriel Galípolo, explica por que prefere a manutenção da meta de inflação, os motivos para o investidor estrangeiro estar distante da dívida pública brasileira e o motivo para o governo não se incomodar com o equilíbrio fiscal.

“Pergunta para o Haddad ou para o Lula: você prefere gastar menos, botar o pé no freio e fazer um arrocho fiscal para baixar o juro ou continuar gastando e deixar o juro onde está? Acho que eles preferem continuar gastando”, diz Rocha.

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:

Por que subir 0,25 ponto percentual (pp) e não 0,50 pp?
Estou vendo da seguinte forma: na comunicação oficial, o Copom foi mudando aos poucos. Quando parou de cortar o juro, ele falou em pausa, ou seja, deu a entender que poderia voltar a cortar. Depois, deu a entender que tinha parado por um bom tempo. E nessa última começou a falar em assimetria de riscos e destacou mais os riscos negativos. Na ata, ele apertou mais um pouquinho o tom. Mas tenho a impressão que, na ata da reunião passada, ele não imaginava subir agora. Tenho essa impressão.

Por quê?
Acho que ele estava pensando: ‘pode ser que eu tenha que subir num horizonte próximo’, mas ele não tinha certeza de que subiria em setembro. Porém, à medida que foi se consolidado que o Fed cortaria o juro e o câmbio continuou entre R$ 5,50 e R$ 5,60 e os dados de inflação vieram mais ou menos em linha com a atividade econômica surpreendendo para cima, ele foi consolidando o cenário de que ele subiria. E outra coisa: as expectativas de inflação no Brasil não melhoraram nada, até pioraram um pouco.

“As expectativas de inflação no Brasil não melhoraram nada, até pioraram um pouco”

Mas houve uma comunicação distinta dos membros do Copom nas últimas semanas.
Pela comunicação extra-oficial deles, dos membros do Copom, tenho a impressão que o Roberto Campos [Neto] temperou um pouco para baixo. A fala dele era no sentido de alguém que estava em dúvida entre subir ou subir um pouco. Se fosse só o [Gabriel] Galípolo, você poderia até induzir o mercado a achar que era 0,50 pp porque ele foi mais hawkish [mais preocupado com a inflação]. Mas o Roberto segurou um pouco. E o Diogo [Guillen] eu tenho a impressão que foi mais comedido também. Então, o 0,25 pp acaba sendo uma síntese. Mas existe uma diferença de visão lá dentro.

Em que sentido?
O Roberto presta muita atenção na parte externa, que é essa questão do Fed. E o 0,25 pp agradava todo mundo, começa de forma gradual. Se não me engano ele até usou essa palavra. Ele quis endereçar o mercado e chegou a falar o seguinte: a precificação do juro curto está errada. O pessoal estava, naquele momento, com 0,50 pp. E ele falou: está errado. Se a gente decidir subir, vai ser gradual. Foi uma intervenção muito direta. Ele conseguiu colocar as expectativas mais ou menos, em uma certa coesão em torno desse número.

Você também começaria com um corte de 0,25 pp?
Sim, porque uma vez você entrando em um círculo de alta, você não sai a hora que você quer. Tem de sair quando as expectativas tiverem convergido, quando a situação tiver melhorado. A experiência geralmente mostra que os ciclos, tanto de queda quanto de alta de juros, são mais longos do que inicialmente imaginado. Como ele parte de 10,5%, que não é um juro baixo, se ele começa com 0,50 pp, em cinco reuniões já estaria em 13% de juros. Começar com 0,25 pp dá um pouco mais de tempo ao tempo.

“Se ele começa com 0,50 pp, em cinco reuniões já estaria em 13% de juros. Começar com 0,25 pp dá um pouco mais de tempo ao tempo”

É preciso saber o que tem pela frente?
Tem coisas interessantes acontecendo. As que preocupam é pelo lado da inflação, com a atividade superaquecida. Mas tem algumas coisas externas que podem ajudar. As commodities estão caindo, o petróleo caiu bem, o minério de ferro… A China está fraca e exportando deflação. Os Estados Unidos estão começando a cortar juros, algo que pode ajudar no câmbio, afinal, em geral quando eles cortam juros lá o capital financeiro flui para países que pagam juros mais altos e são mais arriscados, como o Brasil. Tem uma série de coisas externas que podem ajudar. Por isso, o 0,25 pp endereça o fato de que eu me dou tempo ao tempo para ser gradual e esperar que alguma coisa externa ajude um pouco.

Qual é o seu cenário completo de alta de juros?
Meu cenário aqui é de 200 basis points (2 pontos percentuais) de alta, indo para 12,5% a Selic, e com aceleração para 0,50 pp na terceira reunião.

Por quê?
O cenário de inflação tende a ficar um pouco pior no fim do ano. Geralmente tem uma aceleração sazonal nessa época, pelas festas. A alimentação estava ajudando bastante a deflação, mas isso tende a sair. E com o passar do tempo, pelo fato de a gente estar com a economia aquecida, vai gerar uma inflação de serviços um pouco mais alta. Tenho impressão que caminhando três, quatro, cinco meses à frente, teremos uma inflação mensal desconfortável e talvez o Copom tenha que acelerar o ritmo para 0,50 pp.

Em quem o mercado vai prestar mais atenção daqui para frente: Roberto Campos Neto, presidente em exercício do Banco Central, ou o futuro, Gabriel Galípolo?
Normalmente, o presidente sempre teve um papel muito importante de coordenação do grupo. Mas temos um grupo que, na teoria, pode ter opiniões divergentes e placar divergente. Na prática, são poucas as ocasiões que têm divergência. Então, de fato, o presidente é uma figura sênior, respeitada, que coordena os demais. Teve uma experiência recente com com o voto dissidente, que foi essa do 0,25 pp e 0,50 pp, que gerou muito ruído porque a turma nova voltou diferente. Ficou um pouco expresso nas opiniões, tanto do Roberto como do Galípolo, que parece que eles têm um uma urgência diferente agora, mas eu acho que eles vão buscar o consenso. Agora, o que acontece daqui até o fim do ano? Naturalmente as pessoas vão prestar mais atenção no Galípolo do que no Roberto porque é ele que vai tocar o Copom nos próximos anos e o Roberto vai sair de cena.

“Naturalmente as pessoas vão prestar mais atenção no Galípolo do que no Roberto Campos porque é ele que vai tocar o Copom nos próximos anos”

Por que a inflação preocupa e tende a subir?
Em economia, às vezes, você tem leads e lags [adiantamentos e atrasos]. Este ano contamos com um benefício que vinha desde o ano passado de desinflação externa. Na pandemia houve um aumento brutal de preço de tudo e depois vem tendo uma desinflação. À medida que você vai normalizando as cadeias produtivas, vai tirando os gargalos. O fato da inflação este ano ter sido igual à do ano passado pegou essa inércia positiva, favorável. Mas está começando a virar, e é isso que me preocupa. Quando eu olho para o ano que vem, se o PIB continuar crescendo 3%, teremos 5% a 6% de inflação porque não vamos ter mais essa desinflação vindo de fora na mesma magnitude, na mesma intensidade que tivemos.

O Copom está nessa mesma linha?
Acho que eles estão olhando para isso também. Quando começaram a destacar os riscos, estão olhando para isso. E a inflação de serviços normalmente tem muita correlação com o mercado de trabalho: quanto mais alta a taxa de desemprego menor a inflação de serviço e vice-versa. Mas está se chegando em um desemprego tão baixo que começa a projetar uma inflação de serviço mais alta. Tem uma série de sinais bem preocupantes. Como as coisas não são sincronizadas, o que acho que vai acontecer é que a economia vai desacelerar, porque já estamos subindo os juros e o fiscal provavelmente vai moderar um pouco, mas a inflação vai subir.

Não faria mais sentido para o Brasil rever a meta de inflação?
Para cumprir a meta de 3% de inflação precisaria ter uma política fiscal diferente. Teria de ter um gasto público que não cresce em termos reais ou até decresce. Entre 2017 e 2020, no período em que isso funcionou, o gasto não teve crescimento real. O gasto sobre o PIB caiu e a inflação ficou baixa, ao redor de 3%. Eu acho que quem advoga que 3% não é compatível, diz o seguinte: ‘olha, o Brasil não tem disciplina fiscal, nunca vai conseguir ter uma uma política fiscal que o gasto cai em proporção ao PIB. Então é melhor ter 4% de inflação do que um juros lá em cima’. É um argumento válido. Mas não seria mais desejável termos uma política fiscal correta, com gasto sob controle, uma inflação baixa, padrão internacional, e uma taxa de juro mais baixa também?

“Não seria mais desejável termos uma política fiscal correta, com gasto sob controle, uma inflação baixa, padrão internacional, e uma taxa de juro mais baixa também?”

Seria o desejado.
Entendo o argumento de quem fala: ‘esquece, isso é sonho, não vai acontecer então vamos ser mais realista’. Mas eu entendo a coisa mais ou menos dessa forma: é possível ter a inflação baixa, tanto é que tem vários países emergentes tem, desde que você faça uma política fiscal compatível. Se não tiver ajuda do fiscal, não consegue. É como se você tivesse um carro em que acelera e freia ao mesmo tempo. Você pisa no acelerador fiscal e pisa no freio monetário. E fica desgastado o pneu, ou seja, gastando dinheiro com juros. Isso é ineficiente. Mas é o que o Brasil faz, de certa forma. É um antagonismo. De um lado você tem um governo querendo gastar e acelerando e o banco central freando porque está committed com a inflação.

O governo Lula aceitaria essa troca?
O governo atual não acredita que você consiga ter um crescimento se frear o fiscal e deixar a política monetária mais relaxada. Eles não acreditam que isso geraria um crescimento. Eu acredito. Você baixa a taxa de juro real de equilíbrio da economia e consegue gerar um crescimento com crédito e investimento privado. Mas estamos entrando em um modelo que a já tivemos no passado: acelera o fiscal e o monetário tem de ser mais apertado. Paga mais juros, sua dívida sobe, mas você cresce.

Crescimento é algo que agrada o governo.
Esse é um modelo que agrada muita gente. Mas, intergeracionalmente, ele é mais problemático porque você vai acumulando dívida para a geração futura. Mas ele agrada porque crescimento é bom e todo mundo gosta, transferência fiscal também é legal e taxa de juro alta quem paga é a viúva, ou seja, o governo, então não sai do bolso de ninguém. E geralmente a taxa de juro alta tem um efeito de apreciação da taxa de câmbio, que no governo Lula I funcionou muito bem. Você está pagando muito mais juro do que no resto do mundo e o dinheiro vem para cá pegar esse jurinho. Seu câmbio aprecia e você fica rico em dólar. Isso aconteceu de 2002 até 2009, mas é lesivo do ponto de vista intertemporal. É esse modelo que estamos agora.

O PIB está crescendo, mas o câmbio não mudou. Onde está o erro?
Não está funcionando muito a parte cambial. Porque as pessoas entenderam que o nosso nível de dívida subiu e as preocupações fiscais aumentaram. Hoje, existe muito mais mal-estar com a dívida, com a parte fiscal, do que existia no passado. Esse modelo está sendo colocado em xeque. A taxa de câmbio, que é o termômetro, não consegue apreciar muito. O brasileiro está desconfiado, o investidor estrangeiro também, tanto que a participação dele na nossa dívida pública diminuiu muito, está no low.

Por que o investidor estrangeiro está distante do Brasil?
Não estou falando que seja de agora, porque a redução da participação do estrangeiro na nossa dívida já vem acontecendo. E teve motivos diversos no passado. Um pouco do Bolsonaro ser visto como um pária internacional, vamos dizer assim. Um cara que não respeitava o meio ambiente, não respeitava regras de convivência. A gente escutou muita gente de fundos institucionais estrangeiros que pararam de comprar título brasileiro por causa da questão do meio ambiente. Mas o pessoal tomou um susto ali na Dilma, com aquela recessão toda. Depois no governo Bolsonaro todo mundo achava que melhoraria, e não melhorou. Na pandemia, a dívida foi para mais de 90% do PIB pessoal e todo mundo ficou assustado. Ela caiu, mas agora entrou o governo do PT e a dívida começou a subir novamente.





Fonte: Neofeed

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Para acabar com as “ferrovias de papel”, governo quer mexer no marco legal do setor. Não será fácil

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Tempo de Leitura:5 Minuto, 38 Segundo


Menos de quatro anos depois de entrar em vigor, a Lei das Ferrovias deverá passar por uma série de mudanças até o final do ano para destravar projetos e viabilizar investimentos visando a melhora e ampliação da malha ferroviária.

Entre as medidas que estão sendo formatadas – e que vão exigir alterações regulatórias complexas pelo Congresso Nacional -, a que mais chama a atenção é a permissão aportes de recursos públicos no regime de autorizações ferroviárias, hoje exclusivo de projetos, obras e financiamento do setor privado.

O anúncio, feito esta semana pelo secretário Nacional de Transporte Ferroviário, Leonardo Ribeiro, durante uma audiência pública na Câmara dos Deputados, foi bem recebido pelo setor, que vinha cobrando do Ministério dos Transportes a mesma iniciativa que a pasta dedica ao segmento rodoviário.

O cenário atual do setor ferroviário é marcado por muitos anúncios de projetos bilionários de expansão da malha, mas poucas obras em andamento. Muito por conta da dificuldade de deslanchar justamente a maior inovação do marco regulatório de 2021 – a criação do regime de autorizações ferroviárias.

No papel, a iniciativa tinha tudo para dar certo: a empresa interessada apresenta projeto no qual fica encarregada de obter licenciamentos junto aos órgãos competentes, de tocar os projetos de engenharia e de viabilidade socioambiental, além da busca de financiamento para construir e explorar novos trechos, a maioria para o transporte de cargas.

Desde 2021, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) recebeu 106 requerimentos, que geraram 45 contratos de autorizações ferroviárias. Juntos, prometem R$ 241,14 bilhões em investimentos para explorar 12.546 km de trilhos, quase metade da malha existente. Apenas dois contratos, porém, saíram da prancheta – o que rendeu às autorizações o apelido de “ferrovias de papel”.

De acordo com especialistas, é muito difícil viabilizar projetos ferroviários apenas com recursos privados, pois normalmente são de longo prazo de construção, com rentabilidade baixa. A participação do Estado é essencial não só com aportes financeiros, principalmente no início, mas também com incentivos fiscais e outros benefícios.

A solução proposta pelo governo de fazer parceria com o setor privado, na prática, se dará por meio de um contrato no formato de PPP (parceria público-privada). No caso das autorizações, o modelo ainda não está definido.

Em outros modelos, caso um determinado projeto necessite de aporte de recursos públicos para sua viabilidade via PPP, haverá um leilão onde qualquer interessado que se qualifique poderá fazer um lance. Este lance será na forma de propor o volume de recursos públicos a ser aplicado no projeto. Quem propor menor volume vence o certame.

“Até então fizemos obras públicas para depois conceder, mas o mundo nos ensina que é possível fazer diferente, fazer leilões com aporte, para elevar a taxa interna de retorno dos projetos para obter uma taxa mínima de atratividade que estimule o setor privado”, disse Ribeiro na Câmara.

Outra mudança é a regulamentação de um chamamento público para trechos com baixa utilização ou mesmo abandonados pelas atuais concessionárias.

Incentivos fiscais por meio de debêntures incentivadas, aceleração da renovação antecipada de concessões (que podem render R$ 20 bilhões ao governo) e a questão da interoperalidade – facilitar à empresa que obteve autorização ferroviária o direito de passagem por uma ferrovia sob concessão para chegar ao destino– também foram citados por Ribeiro.

Esforço político

Luiz Baldez, presidente da Associação Nacional dos Usuários do Transporte de Carga (ANUT), elogia o pacote de promessas do governo, mas reconhece que vai exigir um grande esforço político para ser aprovado no Congresso.

Segundo ele, a solução de adotar a parceria com o poder público como forma de impulsionar as autorizações ferroviárias vai exigir uma mudança importante tanto na Lei das Ferrovias – que cita as autorizações ferroviárias exclusivamente como um modelo de atuação do setor privado – como na lei das PPPs, de 2004.

Isso porque a lei da PPP, por exemplo, fala que o poder público só pode injetar recursos ao longo do projeto, e precisaria fazer uma alteração legal para permitir que o governo coloque o dinheiro na assinatura do contrato.

“Sem um aporte inicial grande do governo, o setor privado não tem segurança jurídica de colocar a parte dele, pois ao longo do projeto o Orçamento público pode ter contingenciamento e outras limitações fiscais”, diz Baldez.

A boa notícia, segundo ele,  é que, em tese, bastaria acrescentar um capítulo à lei das PPPs prevendo essa modelagem. Já a alteração na lei original das autorizações ferroviárias para permitir a parceria com o poder público terá necessariamente de passar pelo Congresso Nacional.

O setor também vê com esperança a possibilidade de destravar outro gargalo, a obtenção de licenciamento ambiental. Baldez explica que um projeto ferroviário de porte (500 km) pode levar de nove a dez anos para entrar em operação.

“São dois anos para fazer projeto, mais dois anos para as licenças ambientais prévias – em caso sensíveis, como na Amazônia, pelo menos mais dois anos” – e outros cinco a seis de obras”, diz.

A esperança repousa num projeto de lei da bancada ruralista que está parado no Senado, o PL 2.159/2021, que afrouxa controles para acelerar a aprovação de licença ambiental. “Na prática, o PL libera a licença prévia ambiental para iniciar o projeto sob o compromisso de a empresa cumprir todas as exigências, sob risco de multa e outras penalizações”, diz Baldez.

Eduardo Schiefler, especialista em direito público e sócio do escritório Schiefler Advocacia, vê muitas dificuldades para aprovar as medidas sugeridas. Isso porque as modelagens de PPPs são complexas em se tratando de obras federais de grande porte – tanto que não há nenhuma em andamento no setor de infraestrutura.

Ele lembra que o marco regulatório do setor ferroviário cita as concessões como regime público de execução de projetos e as autorizações ferroviárias como regime da iniciativa privada.

“Não são alterações simples, viabilizar a utilização da lei da PPP na lei das autorizações teria de se criar uma nova figura jurídica, pois o marco faz menção às concessões”, diz. “Se houver aporte de dinheiro público nas autorizações, por que não fazer por concessão?”

Schiefler adverte que essa alteração no regime de autorização ferroviária sem que isso configure regime público de concessão abre brecha para questionamentos de constitucionalidade. Basta que algum setor que se considere prejudicado entre com uma ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal: “Aí fica a dúvida: quem vai investir num projeto assim?”

O especialista aponta, tanto na questão da PPP quanto do licenciamento, dificuldades políticas tão graves como jurídicas para serem superadas.

“Com essa discussão sobre a crise fiscal do governo não será simples aprovar aportes públicos num regime de autorização que previa apenas investimentos privados; da mesma forma que, com essas queimadas e todo o debate ambiental, vejo dificuldade política para abrandar a liberação de licenciamento”, prevê Schiefler.



Fonte: Neofeed

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Bank of America vê bolha “se aproximando” da bolsa. E recomenda ouro e bonds como proteção

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Bank of America vê bolha
Tempo de Leitura:2 Minuto, 39 Segundo


O tão esperado corte de juros nos Estados Unidos representou tamanha injeção de ânimo no mercado de equity que o Bank of America (BofA) está sugerindo cautela aos investidores.

Diante do risco de formação de bolhas na renda variável, o estrategista Michael Hartnett optou por um call um pouco mais conservador, recomendando bonds e ouro como hedges atrativos para se proteger, segundo relatório obtido pelo site MarketWatch.

Na quarta-feira, 18 de setembro, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano), começou o afrouxamento da política monetária dos Estados Unidos com força, decidindo por um corte de 0,50 ponto percentual, levando os juros para a faixa de 4,75% a 5% ao ano. Essa foi a primeira redução desde 2020.

A decisão fez com o S&P 500 fechasse o pregão seguinte com recorde, alimentando o ganho visto desde o começo do ano – o índice acumula alta de 20% em 2024. Nesta sexta-feira, 20 de setembro, o índice recuava, em movimento de ajuste após o rally de ontem. Por volta das 16h51, ele caia 0,12%, aos 5.706,84 pontos.

Diante da expectativa de que o movimento pode estimular ainda mais o mercado – isso e a perspectiva de crescimento de dois dígitos dos lucros das companhias –, Hartnett diz que é preciso ter cautela antes de embarcar no otimismo, num momento em que uma recessão ou uma retomada da inflação não estão descartados.

Para investidores que querem se posicionar em ativos mais arriscados, o estrategista do BofA recomenda posições em commodities e ações internacionais. Hartnett diz que essas duas classes devem se beneficiar se o Fed conseguir conduzir o soft landing da economia, sendo que commodities possuem a vantagem de oferecer um hedge contra pressões inflacionárias.

Segundo ele, as ações fora dos Estados Unidos estão mais baratas e estão começando a superar o desempenho dos ativos americanos.

Não é a primeira vez que o estrategista do BofA alerta para bolhas no mercado de renda variável dos Estados Unidos. Ao longo do último ano, ele tratou dos riscos trazidos pelo tema da inteligência artificial (IA), que tem elevado muito fortemente o valuation das big techs.

No caso da situação das empresas de tecnologia, Hartnett não está sozinho. No mês passado, a gestora ativista Elliott Management, que conta com cerca de US$ 70 bilhões em ativos sob gestão, afirmou que as expectativas em torno da IA são “exageradas”, com a tecnologia ainda não entregando as promessas de ganho de produtividade.

Hartnett também já demonstrou preocupação com o afrouxamento monetário. Em junho, segundo a Bloomberg, ele disse que o corte de juros nos Estados Unidos pode ser um indício de problemas na economia.

Muitos economistas destacam que, no passado, o Fed optou por cortes de juros agressivos quando entendia que a economia estava perto de uma recessão ou de uma profunda crise.

Na coletiva após a decisão de reduzir os juros em 0,50 ponto percentual, o presidente da autoridade monetária, Jerome Powell, disse que o ritmo de desaceleração da inflação permitiu o Fed a focar no mercado de trabalho, a fim de evitar uma queda muito dura nos índices de emprego.



Fonte: Neofeed

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Publicidade nas plataformas de streamings é um “caminho sem volta”, diz Sergio Gordilho

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O modo com que o consumidor é impactado pela publicidade vem mudando de acordo com o avanço da tecnologia. Antes, um comercial de 30 segundos no intervalo da novela das nove era a melhor forma de fazer anúncios. Agora, não é mais.

De uns tempos para cá, as marcas perceberam que é possível impactar com mais eficiência nichos específicos de clientes por meio do celular, onde cada indivíduo acessa conforme suas preferências.

No NeoConference, primeiro evento do NeoFeed, Sergio Gordilho, sócio da Agência Africa Creative, disse que a publicidade nos streamings segue a mesma lógica e é a bola da vez para ganhar cada vez mais espaço.

“Antigamente, o brasileiro mudava de roupa para fazer compras. Hoje, ele faz compras o tempo todo, de casa ou onde ele estiver. Essa é uma alteração de comportamento que a publicidade também teve que se adequar”, diz Gordilho.

Gordilho disse que, ao longo das últimas décadas, as marcas deixaram de ser imperadoras na comunicação com o consumidor para se tornarem apenas participantes da conversa.

Com avanço dos vídeos sob demanda e maior uso de redes sociais, segundo ele, as agências publicitárias precisaram pensar em comerciais mais curtos com mensagens assertivas.

Para o sócio da Agência Africa Creative, o surgimento de novos canais de streamings aumenta a concorrência e abre uma janela de oportunidade para as agências publicitárias, com a inserção de comerciais nessas plataformas. Em sua visão, a adoção de mais anúncios é o único caminho viável para conseguir aumentar os lucros nesse tipo de negócio.

“Todo mundo falou que os comerciais terminariam nas plataformas de streaming. Mas, daqui a pouco, as plataformas de streamings devem ter renda maior vinda de comerciais do que assinaturas, porque o dinheiro está aí, investimento está aí”, afirma Gordilho.

Esse é um caminho que muitos já aderiram. Há dois anos, a Netflix lançou um plano com anúncios e o Prime Video, da Amazon, também incluiu comerciais no seu plano básico nos Estados Unidos e na Europa.

“Não tem como achar que só na adesão, em cima de assinatura, qualquer marca se posiciona, porque quando tem a crise, a primeira coisa que você corta são os canais de streaming para economizar. E não tem condição de aumentar o preço porque existe uma competição muito grande”, diz o sócio da Agência Africa Creative.





Fonte: Neofeed

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