Negócios
Com novo resgate de controladores, Marisa aprova aumento de capital de até R$ 750 milhões
A Marisa deu mais um passo na tentativa de costurar uma saída para sair da sua crise. A empresa divulgou um fato relevante na manhã de terça-feira, 11 de junho, informando que seu Conselho de Administração aprovou um novo aumento de capital privado, como já havia sinalizado em março deste ano.
Nesse processo, a rede de varejo de moda pretende levantar entre R$ 590 milhões e R$ 750 milhões, a partir da emissão de 535,7 milhões de novas ações ordinárias com preço de R$ 1,40 cada, o que representa um desconto de 14,6% sobre o preço de fechamento do papel no pregão da segunda-feira, 10 de junho.
A empresa também informou que a família Goldfarb, controladora da rede, se comprometeu a integralizar o valor mínimo de R$ 290 milhões no aumento de capital e ressaltou que essa é uma “demonstração de confiança” do clã na atual gestão da companhia.
Segundo a empresa, os acionistas terão direito a receber dois bônus de subscrição para cada 10 ações que adquirem na operação. Cada bônus de subscrição, por sua vez, dará direita a uma nova ação da companhia.
O anúncio foi precedido por outro fato relevante divulgado na noite da segunda-feira, 10 de junho, quando a Marisa informou que realizará a sétima emissão de notas comerciais em série única, no valor total de R$ 50 milhões e com prazo de vencimento em 31 de julho.
Já no fato relevante publicado hoje, a varejista ressalta que o aumento de capital se conecta com uma série de medidas adotadas desde 2023 em busca da sua reestruturação financeira, buscando otimizar a estrutura de capital, reforçar o capital de giro e reduzir a alavancagem da operação.
A Marisa já havia sinalizado a intenção de realizar um follow on ou um aumento de capital privado em março desse ano para levantar um montante de, no mínimo, R$ 195 milhões. Na oportunidade, a rede informou que a família Goldfarb havia se comprometido a subscrever o aporte mínimo estabelecido.
O novo aumento de capital privado ancorado pelos controladores marca a quarta vez, em pouco mais de dois anos, que o clã injeta recursos na operação. Em dezembro de 2021, no início dessa série, a família contribuiu com R$ 90 milhões no follow on em que a rede captou R$ 250 milhões.
A crise da varejista, porém, vinha em curso muito antes desse follow on e já está perto de completar uma década. A raiz do problema foi a tentativa malsucedida da rede, que ganhou fama junto às consumidoras da Classe C e em moda íntima, de buscar se posicionar em clientes de maior renda.
O pacote que só reforçou esse cenário crítico, marcado por uma sucessão de reestruturações, também é explicado por uma abertura desenfreada de lojas que acabaram por compor um parque muito heterogêneo em formatos, tamanhos e localizações.
Alta rotatividade
Em seu turnaround mais recente, a empresa anunciou em março a contratação de Edson Garcia como novo CEO. Com mais de 25 anos de experiência no varejo, ele estava no comando da Caedu, rede com perfil de clientes similares ao histórico da Marisa, em uma sinalização de volta às raízes da varejista.
Apesar da boa recepção ao nome, o anúncio só reforçou um outro componente que vem marcando as iniciativas da rede nos últimos anos: a alta rotatividade no comando da operação. Salles é o quinto CEO da Marisa pouco mais de dois anos.
Como um fator agravante nesse cenário, o executivo foi nomeado para o cargo exatamente um mês depois de a companhia apresentar Andreia Menezes como sua nova CEO. Na nova dança das cadeiras, ela deixou o posto e foi nomeada presidente do Conselho de Administração da empresa.
Em abril desse ano, a Marisa informou que iria atrasar a divulgação do seu resultado referente ao primeiro trimestre de 2024. Retrato mais recente do quadro da operação, o balanço do quarto trimestre e do ano consolidado de 2023 foram divulgados naquele mesmo mês.
No acumulado de 2023, a companhia reportou um prejuízo de R$ 520,8 milhões, um ligeiro crescimento de 0,3% sobre a perda registrada um ano antes. No período, a receita líquida recuou 29,3%, para R$ 1,57 bilhão. A dívida líquida foi reduzida em 55,9% nesse intervalo, para R$ 72,4 milhões.
As ações da Marisa fecharam o pregão de ontem em queda de 4,65%, cotadas a R$ 1,64. Em 2024, os papéis registram uma desvalorização de 55,9% e a rede está avaliada em R$ 112,3 milhões.
Negócios
O “kit Brasil 2.0” da AlphaKey para enfrentar os solavancos da bolsa brasileira
Nos anos 2000, o “Kit Brasil” foi uma estratégia de investimento focada em três apostas: alta da bolsa, queda do dólar e redução dos juros. Agora, a situação do mercado brasileiro é exatamente a inversa.
E a gestora de ações AlphaKey, que tem entre os seus investidores os family offices Aguassanta, de Rubens Ometto, e Citrino, de José Ermírio Moraes Neto, montou o seu próprio “kit Brasil” versão 2.0 para enfrentar os solavancos da bolsa brasileira.
“Você deve investir em empresas com receita em dólar e despesas em real. E ficar longe de companhias com pouco poder de repassar preços e que têm muita dívida”, diz Christian Keleti, fundador e CEO da AlphaKey, ao Café com Investidor, programa do NeoFeed que entrevista os principais investidores do Brasil.
Outros ingredientes do novo “kit Brasil” da AlphaKey são empresas boas pagadoras de dividendos, que tenham uma boa governança corporativa e estruturas de capital adequadas.
“As empresas de energia têm boa proteção contra inflação e gosto muito de shopping, de companhias como Multiplan, Iguatemi e Allos”, afirma Keleti.
Em sua carteira, estão empresas como Cyrela e Direcional, mas também companhias que estão fora do radar do mercado e que estão trazendo um bom retorno para os fundos da AlphaKey.
Uma delas é a C&A, na qual a gestora investiu quando a ação estava na faixa de R$ 4, mas que chegou a quase R$ 13 em novembro deste ano – na quarta-feira, 11 de dezembro, fechou em R$ 10,90.
“Esse é um caso emblemático. No terceiro trimestre de 2023, observamos que a empresa gerou de caixa quase todo o market cap dela. E ninguém olhava para ela”, afirma Keleti.
Agora, a AlphaKey montou uma posição, através de um fundo que captou exclusivamente para investir em um único ativo, na Priner, um spin-off da Mills, que está diversificando sua estratégia.
Na visão de Keleti, a Priner, que presta serviços industriais, tem aproximadamente o mesmo valor do IPO, que aconteceu em fevereiro de 2020, mas, desde então, multiplicou a receita e o Ebitda por aproximadamente cinco vezes, além de ter feito aquisições.
O M&A mais recente foi o da Real Estruturas e Construções, uma aquisição de R$ 170,7 milhões, que vai aumentar o faturamento da Priner em 30%. “É uma empresa diferenciada que está sendo negociada a 3X o Ebitda e crescendo de 20% a 25% por ano, com margens crescentes”, afirma Keleti.
Nesta entrevista, que você assiste no vídeo acima, Keleti detalha as teses da gestora, fala por que aposta em Cyrela e Direcional e conta sobre outra posição que montou em que ganhou 80% em quatro meses.
Negócios
Cimed entra no mercado de oral care para disputar mais de R$ 8 bilhões
Marca de hidratantes labiais da Cimed, a Carmed rapidamente caiu no gosto dos consumidores. Especialmente a partir do boca a boca digital gerado pelos posts dos irmãos – e influencers – João Adibe Marques e Karla Felmanas, respectivamente, o CEO e a vice-presidente da farmacêutica brasileira.
Um número traduz a escalada da linha lançada em junho de 2023. A partir do burburinho nas redes sociais, onde a dupla soma 5,5 milhões de seguidores, a marca deve fechar 2024 com um faturamento de cerca de R$ 400 milhões. E está pronta para turbinar ainda mais essas cifras.
Em uma estratégia antecipada ao NeoFeed, a Cimed está ampliando o alcance e o portfólio da Carmed com o lançamento de cremes dentais e enxaguantes bucais, produtos que marcam a sua entrada no mercado de oral care.
“O impacto do oral care para a Carmed é 20 vezes maior do que o hidratante labial”, diz João Adibe Marques, ao NeoFeed. “A marca já fatura R$ 1 bilhão no sell-out (volume total vendido no varejo). Mas com o oral care, nossa projeção é bater o primeiro bilhão no sell-in (vendas para o varejo) em 2025.”
À parte desse discurso, o que motiva a Cimed são os indicadores da categoria no Brasil.
O setor movimenta R$ 8,2 bilhões anualmente, é o segundo em termos de recorrência e está presente em 98% dos lares do País, atrás apenas de detergentes, segundo a consultoria Kantar.
De acordo com Marques, atualmente, três multinacionais respondem por cerca de 90% do faturamento do setor: as americanas Colgate-Palmolive e Procter & Gamble (P&G), e a britânica GSK, dona de marcas como Sensodyne.
“Nosso objetivo é chegar ao top 3 do segmento em três anos”, afirma o CEO da Cimed. Ele faz uma ressalva, porém, dentro dessa ambição. “Como fazemos em todo mercado que entramos, a ideia não é destruir a categoria. Nossa pegada é de construção de prateleira.”
Com um investimento cujo valor não foi revelado, o projeto para ocupar esse novo espaço teve início há seis meses. A fórmula para se diferenciar e alcançar o pódio da categoria, por sua vez, é conhecida e segue o modelo já adotado pela Carmed.
A começar pelas ações de divulgação, que irão combinar o poder de viralização da marca nas redes sociais com mídias tradicionais, como a TV aberta. Já no que diz respeito ao portfólio, a estreia também vem embalada em uma parceria com a fabricante de balas Fini, assim como feito nos hidratantes labiais.
“Nossa ideia é ter a primeira linha com sabores que fogem dos tradicionais menta e hortelã”, explica Marques. Sob essa orientação, os produtos que chegaram às gôndolas neste mês de dezembro trazem os sabores Fini Beijos e Fini Dentadura, com preços na faixa de R$ 14 a R$ 18.
Em linha com a abordagem de apostar nos sabores mais vendidos em hidratantes, em janeiro, cereja e melancia serão adicionados a esse pacote. E, no segundo semestre de 2025, o plano é complementar esse portfólio com fio dental e escovas de dente.
Nessa largada, a Carmed já contabiliza bons números. Desde a estreia no varejo, mesmo sem nenhum lançamento oficial, a marca registrou a venda de 7 milhões de cremes dentais. Para o primeiro ano da operação, a meta é chegar a um volume de até 100 milhões.
No caminho para perseguir esses números, a Cimed vai se concentrar inicialmente no varejo farmacêutico, que responde por 40% das vendas da categoria no Brasil, aproveitando-se da sua presença em 98% das farmácias no País.
“Com essa penetração, queremos chegar a um market share de 30% no canal farma nesse primeiro ano de operação”, afirma Marques. “E, para 2025, nosso desafio é estruturar a entrada no canal alimentar, de supermercados e lojas de conveniência, que concentra os 60% restantes das vendas.”
Em uma terceira via, o plano é dar sequência aos projetos de lojas pop-ups da Carmed, por meio da repaginação de farmácias parceiras, por períodos que podem se estender de 60 a 120 dias. Nesse ano, foram 14 projetos nesse modelo, contra os quatro inicialmente orçados.
“Ainda vamos entender como vamos avançar nessa frente em 2025, mas já temos mais de mil pedidos de parceiros nesse formato”, diz. “No fundo, ninguém quer visitar uma farmácia. Então, nossa ideia é justamente provocar outra experiência no consumidor e construir um novo mercado.”
Com esse mesmo viés, mas sob a ótica de aproximar as farmácias com o público das academias, em 2025, o formato das pop-ups será estendido à Lavitan, linha de vitaminas e suplementos alimentares da Cimed.
Hoje, excluindo a categoria de medicamentos genéricos, que segue como carro-chefe da Cimed, as linhas Carmed e Lavitan já são as duas principais marcas da farmacêutica, dona de um portfólio de mais de 600 produtos.
Os atalhos para os R$ 5 bilhões
O fato de a companhia reservar cada vez mais investimentos e tempo a essas duas operações dialoga diretamente com a sua meta de alcançar um faturamento de R$ 5 bilhões em 2025. Para esse ano, a projeção é registar um crescimento de 25% sobre 2023, quando a receita bruta foi de R$ 3 bilhões.
“A entrada em novos setores é justamente a alavanca para batermos essa meta”, diz Marques. Nesse contexto, a estreia em oral care, prevista inicialmente para 2025, foi antecipada para cobrir a lacuna de outra iniciativa que figurava no pacote de novos mercados da Cimed para esse ano.
Há pouco mais de três meses, a farmacêutica viu frustrada sua tentativa de comprar a Jequiti, do Grupo Silvio Santos. A aquisição marcaria, na prática, sua entrada no canal de vendas diretas, o famoso “porta a porta”.
“A não compra da Jequiti foi substituída pelo oral care. Do contrário, seria muito difícil entregarmos o que planejamos no ano que vem”, diz. Ele projeta o investimento – orgânico ou via M&As – em novas categorias para 2025. Protetores solares, shampoos e condicionadores são alguns deles que estão no radar.
Em contrapartida, Marques não comenta a matéria publicada no início de setembro pelo jornal Valor Econômico, afirmando que a Cimed teria contratado o J.P. Morgan para vender uma fatia minoritária de sua operação.
Para realçar o momento e as perspectivas da Cimed, ele não se esquiva de falar, porém, sobre outra possível movimentação recente no mercado farmacêutico, revelada pelo portal Pipeline: a notícia de que a francesa Sanofi teria contratado a Lazard para vender a operação da Medley no Brasil.
“Estamos muito atentos para o caixa, mas agora que a Medley voltou ao mercado, vamos entrar nessa disputa”, ressalta. “Então, hoje, num primeiro momento, somos muito mais compradores do que vendedores.”
Negócios
A Caatinga, bioma mais pobre do Brasil, pode ser uma solução para a fome
Com o fim da temporada das chuvas, as folhas caem, deixando os troncos esbranquiçados à amostra. Do tupi, “caa”, “mata” e “tinga“, “branca”. Na Caatinga, a natureza parece morta — só que não.
As plantas desfolham para reduzir a perda de água pela transpiração e, dessa forma, sobreviver aos períodos mais secos. Basta a chuva voltar a cair para a paisagem esverdear de novo. Deveria ser assim, como sempre foi. Mas o caos climático está subvertendo a dinâmica do único bioma 100% brasileiro.
Com secas cada vez mais longas e frequentes, a Caatinga está ameaçada virar deserto. E, com o declínio ambiental, vem o agravamento da miséria, da fome e da sede de uma gente há muito depauperada — quase 20% da população rural mais pobre do país vive no bioma e depende dele para sobreviver.
Mas ainda há esperança, revela estudo recém-divulgado pelo Instituto Escolhas. Intitulado Os bons frutos da recuperação de florestas: do investimento aos benefícios, o levantamento da ONG socioambiental mostra: a restauração de 1 milhão de hectares da Caatinga, em áreas de preservação permanente e reserva legal, criaria 465,8 mil empregos e produziria 7,4 milhões de toneladas de frutas, hortaliças e verduras.
É comida em quantidade o suficiente para alimentar as comunidades locais e ainda proporcionar renda extra aos agricultores. Os produtos, aponta o relatório da entidade, poderiam ser incorporados ao Programa Nacional de Alimentação Escolar e vendidos nas feiras e mercados das localidades onde são produzidos — muitas delas, inseridas em desertos alimentares, onde o acesso a alimentos frescos e nutritivos é precário.
Ao fim e ao cabo, os R$ 15 bilhões necessários para a recuperação do 1 milhão de hectares resultariam em R$ 29,7 bilhões em receita líquida — quase o dobro do total investido.
“Isso é renda, isso é gente comendo, isso é mais alimentos nas feiras, isso é a agricultura familiar sendo empoderada”, diz Sergio Leitão, diretor executivo do Instituto Escolhas, em conversa com o NeoFeed. “Ou seja, a recuperação do que já foi desmatado na Caatinga é uma estratégia também de redução da pobreza, de combate às desigualdades e pelo fim da fome.”
O modelo avaliado pela organização é o chamado sistema agroflorestal (SAF). As agroflorestas alinham os interesses ecológicos aos econômicos, conciliando o plantio de espécies nativas com culturas agrícolas — os dois interagindo entre si e ambos se beneficiando mutuamente.
De um lado, a preservação ambiental, com a promoção da biodiversidade, melhoria da qualidade do solo, controle da erosão, preservação dos recursos hídricos… e de outro, o cultivo sustentável de alimentos, com alívio da pressão sobre a terra e a água, queda na incidência de pragas e doenças e, consequentemente, redução da necessidade de agrotóxicos.
Luz no fim do túnel
Atualmente, no Brasil, a produção agroflorestal é desenvolvida majoritariamente pela agricultura familiar. E, como define a Confederação Nacional dos Agricultores Familiares, a Caatinga é “o bioma mais rural do país”. Cerca de 32% dos estabelecimentos agropecuários estão na região.
E pouco mais de 25% de seus 28 milhões de habitantes trabalham no setor agropecuário, enquanto a média nacional é de cerca de 6%, informa o estudo Agricultores familiares da Caatinga e do Cerrado: Mapeamento para a promoção de uma transição rural justa no Brasil, elaborado pela ONG Climate Policy Initiative (CPI).
Das cerca de 1,6 milhão de propriedades rurais da região, 75% têm, no máximo, 20 hectares. Ou seja, o bioma é dos pequenos produtores. Mas há um (enorme) problema, como alertam os analistas da CPI.
“Os agricultores familiares da Caatinga apresentam níveis mais baixos de produtividade e de acesso à assistência técnica. Ainda mais importante é o fato de que um grande número de agricultores familiares depende da agricultura de subsistência e vive em locais de extrema pobreza. Tal realidade os expõe ainda mais ao risco climático, devido ao acesso restrito a mecanismos de mitigação, como seguros ou insumos resilientes ao clima.”
Um passo importante rumo à preservação produtiva do bioma foi dado nesta quarta-feira, 11 de dezembro. Por unanimidade, a Comissão de Meio Ambiente do Senado aprovou o projeto de lei (PL) 1990/2024, que institui a Política Nacional para a Recuperação da Vegetação da Caatinga.
Proposto pela senadora Janaína Farias, do PT, do Ceará, o dispositivo determina, entre outras medidas, a ação articulada da União, Estados, municípios e ONGs para a formulação e implementação de políticas públicas para a restauração e o uso sustentável dos recursos ambientais do ecossistema. E, isso, com a participação das comunidades locais, prevendo a capacitação dos trabalhadores. O projeto segue agora para apreciação da Câmara dos Deputados.
“A aprovação do PL é um marco histórico. Pela primeira vez, um bioma no Brasil terá uma política própria para guiar a sua recuperação”, comemora o diretor executivo do Instituto Escolhas. “Para que a bioeconomia possa crescer, essas comunidades precisam de apoio. O Brasil, por exemplo, é forte no agro porque foi feito todo um aporte de investimentos e formação de pessoal.”
Uma evolução muito peculiar
Se aprovado também na Câmara, o PL acena com a promessa de um olhar mais atento e cuidadoso para uma região que, desde sempre, sofre com a “falta de vigor institucional”, como definem os pesquisadores do projeto No Clima da Caatinga.
“Há menos conhecimento científico produzido sobre o bioma e menos grupos de pesquisadores seniores em atividade, se compararmos com a Amazônia e a Mata Atlântica, mesmo a Caatinga apresentando biodiversidade comparável”, escrevem os especialistas no relatório Caatinga, a floresta que é a cara do Brasil.
Estendendo-se pelos nove estados do Nordeste e o extremo norte de Minas Gerais, a Caatinga já perdeu 34 milhões de seus 82,6 milhões de hectares. É o quarto maior bioma brasileiro, atrás apenas da Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado e à frente do Pampa e do Pantanal.
Durante milênios, a região passou por oscilações intensas de temperaturas, curtos períodos de tempo nos quais o calor e o frio se alternavam drástica e rapidamente, submetendo a flora e fauna a um processo evolutivo muito particular.
Assim, algumas espécies não são encontradas em nenhuma outra floresta semiárida, apenas aqui — o que explica a importância do bioma para o planeta.
Três em cada dez plantas da região são endêmicas. Mandacaru, xique-xique, catingueira, barriguda e umbuzeiro, por exemplo, são privilégio brasileiro. Tal qual 317 dos 1.1824 tipos de animais. Entre eles, o tatu-bola, o periquito-cara-suja, o mocó, o tamanduá-mirim, o veado catingueiro… dos quais 47 estão ameaçados de extinção.
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