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“El Pibe de Oro” agita o bilionário mercado de memorabilia

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Tempo de Leitura:8 Minuto, 13 Segundo


Semifinal da Copa do Mundo de 1986, 25 de junho. Cerca de 115 mil espectadores lotam o estádio Azteca, no México, para assistir Argentina e Bélgica. O primeiro tempo termina em 0 a 0. A partida recomeça e a disputa segue acirrada. No 51º minuto, Diego Maradona faz um gol. Doze minutos depois, outro. A seleção sul-americana está classificada para a final contra a Alemanha.

Jogo encerrado, Maradona troca sua camisa pelas luvas do goleiro Jean-Marie Plaff, com a dedicatória: “Para el simpatico, Jean Marie com todo mi cariño, Diego”.

Passados 38 anos do jogo e quatro da morte do argentino, o atleta belga decide levar o presente a leilão, a ser realizado, no início de agosto, pela Sotheby’s, em Nova York. Nas estimativas dos organizadores, a peça deve atingir entre US$ 800 mil e US$ 1,2 milhão. Mas, não será surpresa, se alcançar valor ainda mais alto.

A casa de leilões inglesa já vendera outra camisa de Maradona, cujo preço superou as expectativas em US$ 1,5 milhão: a azul, com a qual o meio-campista marcou o lendário gol “Mão de Deus”, nas quartas de final contra a Inglaterra, do mesmo mundial — a Copa de 1986, aliás, foi a Copa dele, El Pibe de Oro, como era conhecido.

Em maio de 2022, quando a batida do martelo soou para o lance de US$ 9,3 milhões a veste foi alçada à memorabilia esportiva mais valiosa do mundo. Não duraria muito tempo, porém.

Três meses depois, uma “figurinha” de 1952, autografada pelo jogador americano de beisebol Mickey Mantle, tirou a camisa de Maradona do topo do ranking, ao ser vendida por US$ 12,6 milhões., em um evento da Heritage Auctions.

No “mercado das recordações” é assim mesmo. Um recorde atrás do outro, onde a posse de um objeto raro, exclusivo e único alimenta a vaidade e os lances estratosféricos (e anônimos) dos HNWIs, os high net worth individuals — em bom português, os ultrarricos.

O que são US$ 4,6 milhões para ser “o” dono do vestido branco e esvoaçante de Marylin Monroe, no filme O pecado mora ao lado, de 1955? Ou US$ 8 milhões pelo  privilégio de possuir os seis tênis (sem seus pares), com os quais Michael Jordan conquistou os seis títulos da NBA? Ou ainda US$ 3 milhões para ser a única pessoa do planeta a ter o violão Framus Hootenanny, de 12 cordas, usado por John Lennon para gravar os álbuns Help! e Rubber Soul?

Globalmente, os leilões de memorabilia movimentam hoje US$ 61 bilhões. Mas, até 2031, devem girar US$ 106,2 bilhões. A taxa de crescimento anual composta prevista para o período, segundo a consultoria americana Market Research, é de 8,25%. Uma consistência superior à do mercado de arte.

Depois de dois anos de crescimento, em 2023, por causa dos juros altos, a inflação, a instabilidade econômica e política, entre os principais fatores, as vendas globais de obras de artes despencaram 4% e foram avaliadas em US$ 65 bilhões, conforme relatório da organização Art Basel, produzido em parceria com o banco UBS.

“Don’t stop me now”

Enquanto isso, o aperfeiçoamento das tecnologias de autenticação e o apelo emocional levam os chamados colecionáveis às alturas.

Nada ilustra a efervescência dos negócios de memorabilia com tanta perfeição quanto o frenesi em torno da venda, no ano passado, do espólio de Freddie Mercury.

Em setembro, na sede da Sotheby’s em Londres, por quatro horas e meia, 2 mil compradores, de 61 países, deram 41,8 mil lances na disputa por uma lembrança da vida e da carreira do líder do Queen — 60% deles eram clientes de primeira viagem da casa de leilões inglesa.

De joias a roupas, de objetos de higiene pessoal a instrumentos musicais, de manuscritos a móveis, os 60 lotes renderam US$ 50,4 milhões — contra os US$ 11,3 milhões projetados pelos organizadores.

Talvez um dos objetos mais simbólicos da explosão das expectativas seja o pente de bigode do músico. De prata, foi vendido por cerca de US$ 200 mil, quando o esperado era, no máximo, US$ 715. Sim, 28 mil vezes acima do estimado!

A quantidade de contato

Ostentar artigos que, no passado, pertenceram a alguma celebridade é motivo de orgulho e prazer. Mas, não só isso. A disposição para investir fortunas em memorabilia passa também pelo campo do pensamento mágico.

Pesquisadores da Universidade Yale, nos Estados Unidos, explicam o fascínio despertado pelos colecionáveis com a teoria do contágio.

“Algumas pessoas acreditam que as qualidades imateriais ou a essência de alguém podem ser transferidas para um objeto, por meio do contato físico”, explicam Paul Bloom, professor de psicologia e ciência cognitiva, e George Newman, de comportamento organizacional, em artigo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.

Assim, quanto maior o contato do famoso com o artigo, maior a valorização do item.

Na semifinal do mundial de 1986, os dois gols que levaram a Argentina à final foram marcados por Maradona, no finalzinho do segundo tempo (Crédito: Reprodução X @AlRedentore)

O goleiro belga Jean-Marie Plaff guardou a camisa do craque argentino por quase 40 anos, mas, agora, decidiu levá-la a leilão (Crédito: Reprodução sothebys.com)

A camisa usada por Maradona, no lendário gol “Mão de Deus”, foi vendida em 2022, pela Sotheby’s por US$ 9.3 milhões — US$ 1,5 milhão acima do esperado (Crédito: Reprodução sothebys.com)

Na primeira conquista do Chicago Bulls (e de Michael Jordan) de um título da NBA, em 1991, Tim Hallam, então executivo de RP do time, pediu um dos tênis do jogador de lembrança. Por superstição, a cada final vencida, Jordan deu presente a Hallam um pé dos sapatos usados em quadra. Pelo conjunto desfalcado, batizado “Dynasty Collection”, um comprador anônimo pagou US$ 8 milhões (Crédito: Montagem com fotos reproduzidas de sothebys.com)

O card autografado, em 1952, pelo jogador americano de beisebol Mickey Mantle está no topo das memorabilias de esporte mais caras do mundo: US$ 12,6 milhões (Crédito: Reprodução ha.com)

No leilão do espólio de Freddie Mercury, no ano passado, o pente de bigode do líder do Queen estava previsto arrecadar, no máximo, US$ 775. Foi vendido por US$ 200 mil (Crédito: Reprodução sothebys.com)

Entre 1993 e 2022, o terno listrado usado pelo ator Dick Van Dyke, no filme “Mary Poppins”, foi de pouco mais de US$ 4 mil para US$ 200 mil (Crédito: Montagem com imagens reproduzidas de themoviedb.org e ha.com)

“John Lennon, 1980. Devolvendo”, escreveu o ex-Beatle no LP “Double Fantasy”, poucas horas antes de morrer, a pedido de seu assassino David Chapman (no fundo à direita). O disco foi vendido em 2020, por US$ 1,5 milhão (Crédito: Montagem com imagens reproduzidas de goldin.co)

Depois de analisar os dados dos leilões do espólio do ex-presidente John F. Kennedy e Jacqueline Onassis, de Marylin Monroe e do golpista Bernie Madoff e sua mulher Ruth, a dupla propôs um exercício de imaginação a um grupo de voluntários.

Quantos eles estariam dispostos a pagar pelo suéter de um famoso por quem tivessem simpatia? E, se a peça pertencesse a uma personalidade que julgassem desprezível?

Em seguida, o que mudaria caso a roupa tivesse sido esterilizada? Os participantes pagariam 14% a menos pelo pulôver da celebridade querida. E, 17% a mais pelo casaco da desprezível.

As cinzas de Capote

Mas sempre surpreende a venda de objetos mórbidos, alguns marcados por histórias de ódio e violência — o que suscita um debate mais profundo sobre moral e ética. Vários países europeus, como França e Alemanha, proíbem, por exemplo, os leilões de memorabilia nazista.

Em 2023, em um evento da Heritage Auctions, em Dallas, 40 pessoas disputaram a porta do número 10050, da Cielo Drive, em Los Angeles.

Naquele endereço, na noite de 9 de agosto de 1969, a atriz Sharon Tate, aos 26 anos, grávida de oito meses, foi morta a facadas por Charles Manson e seus asseclas. Pois é… o lance vencedor levou a porta por US$ 127 mil — a cotação inicial não ultrapassava US$ 4 mil.

A pedido de Yoko Ono, Darren Julien, fundador e CEO da Julien’s Auctions, suspendeu o leilão do álbum Double Fantasy, autografado por Lennon, poucas horas antes de morrer. “John Lennon, 1980. Devolvendo” foi a dedicatória bem humorada do ex-Beatle para David Chapman, seu assassino. O LP, no entanto, foi parar na Goldin Auctions e alcançou, em 2020, US$ 1,5 milhão.

Com os restos mortais do escritor e roteirista Truman Capote, Julien até ficou em dúvida, mas acabou levando-os a leilão: “Ele [Capote] adorava publicidade. E tenho certeza de que está olhando aqui para baixo, rindo e dizendo: ‘Isso é algo que eu teria feito”, conta o empresário, à revista americana The New Yorker.

E, assim, o punhado de cinzas do autor de A sangue frio e Bonequinha de luxo, guardado em uma caixa japonesa, foi descansar em outras paragens por US$ 43,75 mil.

Um investimento alternativo

Movimentando cada vez mais dinheiro, os leilões de memorabilia começam a atrair um novo perfil de compradores: quem faz das recordações um investimento alternativo, modelo de operação em alta no mercado financeiro global.

“Em 2005, apenas 5% da carteira dos investidores institucionais estava alocada em alternativos. Em 2018, este percentual cresceu para 25% e a perspectiva é de que atinja 40% em 2030”, diz Arthur Farache, CEO da Hurst Capital, ao NeoFeed. “Esses ativos não são tradicionalmente negociados nos mercados financeiros, mas podem apreciar significativamente em valor ao longo do tempo.”

Em 1993, por exemplo, a Christie’s vendeu o casaco de listras roas, amarelas e laranjas, usado pelo ator Dick Van Dyke, no filme Mary Poppins, de 1964, por US$ 4,37 mil. Quase 30 anos depois, a veste alcançou US$ 200 mil, em leilão da Heritage Auctions — valorização de quase 4.480%.





Fonte: Neofeed

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No projeto Tão Longe, Tão Perto, o “milagre da expansão” acontece no vinho que sai da torneira

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No projeto Tão Longe, Tão Perto, o
Tempo de Leitura:5 Minuto, 9 Segundo


Fundador, em 2014, do primeiro wine truck do Brasil, o Los Mendozitos, voltado à venda em taça de vinhos de baixa intervenção importados da Argentina, o engenheiro industrial com especialização em sustentabilidade, Ariel Kogan, se rendeu aos vinhos nacionais. “A alta do dólar me obrigou a olhar com mais atenção para o mercado nacional e acompanhar a evolução da qualidade na última década”, conta ao NeoFeed.

Sem perder o foco nos pequenos produtores éticos e no desafio de tornar o consumo da bebida mais descontraído, Kogan vem investindo desde 2021 no projeto Tão Longe, Tão Perto (TLTP), ao lado da sommelière Gabriela Monteleone. Voltada à comercialização de vinhos leves, descomplicados e de fácil entendimento em growlers (garrafas reutilizáveis de 1 a 2 litros) e kegs (barris de 20 litros), engatados a torneiras como as de chopp, a plataforma tem visto sua frente de negócio mais recente, a Casa Tão Longe, Tão Perto, ganhar asas.

Inaugurado em meados de 2023, no bairro paulistano da Barra Funda, o espaço com 12 torneiras, poucas mesas e uma pequena seleção de comidinhas de fácil serviço (principalmente queijos e embutidos), foi pensado para ser uma espécie de showroom da marca. O objetivo era atrair para lá clientes potenciais de restaurantes e hotéis interessados na compra a granel dos vinhos brasileiros de pequenos produtores artesanais selecionados por Gabriela. Além de promover o sistema de torneiras (taps), que permite otimizar a venda em taça.

Para se ter uma ideia das vantagens, enquanto uma garrafa mantém as propriedades sensoriais de um vinho, no máximo, por três a quatro dias depois de aberta, um barril engatado em torneira consegue preservar a qualidade da bebida por até um mês. Além disso, o CMV (custo da mercadoria vendida) por taça pode cair em pelo menos 50%, segundo Kogan, devido ao menor custo da embalagem e transporte.

Assim, não demorou para a Casa chamar a atenção do público final pela oferta de brancos, rosés, tintos e laranjas a preços atrativos. Além de investidores, que viram no modelo inovador, simplificado e de baixo custo do bar uma oportunidade de negócio, puxando organicamente a expansão para outras praças.

Como resultado, em apenas um ano, mais duas unidades foram abertas: uma na cidade do Porto, em Portugal, e outra no Rio de Janeiro, cujo faturamento inicial está superando em 50% o da unidade paulista antes mesmo de fechar o mês.

Não por acaso, uma terceira unidade já está prevista para breve, em Lisboa. “Estamos procurando ponto”, diz Kogan.

Com tíquete médio de R$ 90, as Casas TLTP representam hoje 25% do faturamento da marca, mas a expectativa é que a fatia ultrapasse os 50% nos próximos anos com a ampliação do número de pontos.

“Ainda estamos analisando os dados e os vetores de crescimento com cuidado, mas há um grande potencial de expansão nos pontos de venda, que exigem menor investimento de capital do que a operação de distribuição de vinhos”, avalia o empresário, que não descarta a possibilidade de adotar o modelo de franquias a longo prazo.

Por enquanto, a expansão ocorre com parceiros locais, como, no Rio de Janeiro, com os empresários Nelson Soares e Juan Manoel Prada, do restaurante Sult, e Ricardo Rebello, do gastrobar Sebastian. O investimento em cada loja gira em torno de R$ 400 mil a R$ 500 mil.

A visibilidade trazida pelas Casas deve ainda ajudar a impulsionar as demais operações da plataforma, que atualmente conta com 20 clientes com torneiras instaladas em todo o Brasil. Entre eles estão os restaurantes Shuk, Futuro Refeitório, Cuia, Bráz Trattoria e Le Bulô, em São Paulo; Manga, em Salvador, e Casa Vivá, em Porto Alegre.

Segundo Kogan, a Tão Longe, Tão Perto se guia pela A conexão com o produtor, o diferencial do produto e a sustentabilidade (Foto: Divulgação/Tão Longe,, Tão Perto)

Além de barris, os vinhos são comercializados em growlers, garrafas reutilizáveis de 1 a 2 litros (Divulgação/Tão Longe, Tão Perto)

Hoje, a instalação de torneiras responde por 25% do faturamento da plataforma e a distribuição dos vinhos representa 50% (Divulgação/Tão Longe, Tão Perto)

O projeto Tão Longe, Tão Perto foi lançado em 2020, pela a sommelière Gabriela Monteleone (Reprodução Instagram @gabrielamonteleone)

Atualmente, a instalação de torneiras responde por 25% do faturamento da plataforma e a distribuição dos vinhos curados por Gabriela e envasados em diferentes recipientes representa 50%. “Essa é uma operação que deve crescer junto com as Casas”, acredita Kogan.

Uma nova frente de negócios ainda começa a ser desenhada, retomando a experiência do wine truck, para levar os vinhos da marca a eventos, em carrinhos móveis com torneiras.

Um efeito colateral da expansão, entretanto, já afetou a fidelidade ao produto brasileiro. Com a ida para a Europa, decidiu-se que a oferta de vinhos seguirá priorizando vinhos leves e de fácil entendimento feitos por pequenos produtores voltados à vinicultura de baixa intervenção, mas os rótulos serão selecionados localmente em prol da sustentabilidade. “Este sempre foi nosso principal drive”, enfatiza Kogan, que é um dos idealizadores do Programa Cidades Sustentáveis, da Rede Nossa São Paulo.

“Não estamos fechados a levar uma bebida de um país para o outro, mas terá de ser algo muito diferente, que faça sentido pelo diferencial”, diz Kogan, citando um fermentado de açaí feito no Acre que o surpreendeu recentemente.

Assim, uma nova curadoria começa a tomar corpo em Portugal, onde o número de vinhos naturais selecionados em regiões como Dão e Douro já supera o de torneiras instaladas na Casa TLTP do Porto.

“Já poderíamos colocar mais quatro torneiras, totalizando dez”, conta ele, que não descarta abraçar também a distribuição a granel de seus achados. “Não somos um movimento de exclusão de nada. Nem de garrafas, nem de importados. A conexão com o produtor, o diferencial do produto e a sustentabilidade é que vão nos guiar.”

Então, já que existe a brecha, há chance de vermos vinhos de pequenos produtores argentinos no portfólio da TLTP, voltando para o início do ciclo? “Se tivermos uma Casa em Buenos Aires ou Mendoza, sim. Mas aqui vamos priorizar o Brasil, até porque, pela legislação, não é possível importar vinhos a granel de lá para cá.”





Fonte: Neofeed

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A natureza lírica e avassaladora de Hayao Miyazaki

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A natureza lírica e avassaladora de Hayao Miyazaki
Tempo de Leitura:4 Minuto, 22 Segundo


VENEZA – Documentário exibido no 81º Festival de Veneza ajuda a explicar a genialidade do ícone da animação japonesa Hayao Miyazaki e de seu Studio Ghibli, que há quatro décadas dá profundidade e sofisticação ao gênero.

O foco de Miyazaki, l’Esprit de la Nature (Miyazaki, o Espírito da Natureza) é sobre a preocupação do cineasta de 83 anos com o meio ambiente, refletida em obras-primas como Nausicaä do Vale do Vento (1984), Meu Amigo Totoro (1988), Princesa Mononoke (1997) e A Viagem de Chihiro  (2001), entre outras.

Seja com florestas povoadas por criaturas mágicas ou com uma natureza furiosa por causa dos abusos sofridos, Miyazaki construiu uma filmografia questionando a relação do homem com todas as coisas vivas.

Ao longo de sua trajetória, o diretor, acostumado a encantar a plateia com paisagens silvestres de tirar o fôlego, nunca conseguiu ignorar a capacidade destrutiva da humanidade — embora algumas vezes ele prefira apostar na regeneração da natureza, por ser algo sagrado.

“Para apreciar profundamente a obra de Miyazaki, um dos artistas vivos mais reverenciados no mundo, é preciso analisá-lo em um contexto ambiental”, contou ao NeoFeed o diretor do filme, o francês Léo Favier.

Ele desembarcou no Lido de Veneza, estância balneária onde é realizado o festival italiano, às margens do Mar Adriático, para a première mundial do título que foi selecionado para a mostra Venice Classics, dedicada à memória do cinema.

A natureza é, muitas vezes, impactada nas histórias de Miyazaki por essas refletirem uma sociedade obcecada por conquistas, guerras e consumismo.

“Por mais que o cineasta tenha mudado e evoluído ao longo das décadas, seus filmes foram sempre carregados de guerra e destruição, o que também espelha o que ele enfrentou ainda na infância, moldando a sua visão de mundo”, afirmou Favier.

O documentarista se refere ao fato de Miyazaki ter sobrevivido a bombardeios, quando tinha entre três e quatro anos, ocasiões em que a sua família foi forçada a trocar de cidade. E o pai de Miyazaki ainda foi diretor de fábrica que confeccionava lemes para aviões de combate durante a Segunda Guerra.

Isso explica sua fascinação por aviação e, ao mesmo tempo, a culpa que o diretor já admitiu sentir por sua família ter feito dinheiro com a guerra.

“Nada é preto no branco nos seus filmes de Miyazaki, que sempre abraçou as contradições. Ele deixa que as situações sejam bagunçadas e complicadas, exatamente como é a vida, sem se limitar pensando em uma faixa etária específica para cada história”, comentou Favier.

O fato de suas obras serem concebidas para entreter todas as idades (e não apenas crianças) é o que garantiu mais profundidade, levantando questões filosóficas, sociais e políticas.

Um dos filmes mais ecológicos de Miyazaki foi Princesa Mononoke, onde mais de 144 mil desenhos feitos à mão dão vida a todo um ecossistema, com árvores, plantas, animais e espíritos dividindo uma paisagem estonteante, à beira da extinção. Mas o tom de alarme, pelo conflito aparentemente irremediável entre a natureza e a industrialização, não o impediu de acrescentar lirismo à trama, já que a floresta tem alma própria.

Os filmes do cineasta japonês refletem a grandiosidade da natureza, como Meu Amigo Totoro, de 1988 (Studio Ghibli)

Miyazaki construiu uma filmografia questionando a relação do homem com todas as coisas vivas (Foto: ©M6 MediaBank / Métropole Télévision)

Graças ao sucesso de “Nausicaä do Vale do Vento”, de 1984, Miyazaki conseguiu fundar o Studio Ghibli (Reprodução themoviedb.org)

“A Viagem de Chihiro”, de 2001, é considerada uma das obras-primas da animação (Reprodução themoviedb.org)

Segundo o biólogo Shin-Ichi Fukuoka, entrevistado no documentário, Princesa Mononoke se baseia em duas grandes questões: o que é a vida e o que é ser um humano. “No final, Miyazaki nos faz entender que nós somos parte da natureza, não muito diferente dos outros organismos em termos de mecanismo celular e DNA”, comentou o especialista.

Foi graças ao sucesso de Nausicaä do Vale do Vento, ambientado em futuro distópico onde a humanidade está ameaçado por um ar tóxico e insetos gigantes, que Miyazaki conseguiu fundar o Studio Ghibli.

A cena de abertura, com a princesa Nausicaä pousando em floresta estranha, porém majestosa, dá uma ideia da reconciliação almejada pelo cineasta. E muito antes de a questão ambiental se tornar um tema recorrente na produção audiovisual.

“O que Miyazaki sugere aqui é a interação entre natureza e seres humanos. Em vez de o homem insistir em dominar a natureza, ele deveria se engajar com ela, de modo respeitoso. O que sentimos é uma inteligência amorosa e uma consciência de que todos estamos conectados no universo”, comentou a escritora Susan Napier, autora do livro Miyazakiworld: a Life in Art, também em depoimento no filme.

O documentário examina outros filmes que refletem a grandiosidade da natureza, pelas lentes de Miyazaki, como Meu Amigo Totoro. Aqui o que ajuda duas irmãs a enfrentarem uma fase difícil, com a mãe hospitalizada, são as aventuras que vivenciam com os espíritos da floresta, conhecido como “totoros”.

É com esses seres fantásticos, em especial com o líder deles, que a dupla aprende a encarar a dura realidade, mas sem se esquecer da beleza, da poesia e da magia da vida, em tudo o que nos cerca.





Fonte: Neofeed

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Os planos “íntimos” da Hope: 10,5 milhões de peças e R$ 500 milhões de receita

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sandra chayo hope
Tempo de Leitura:3 Minuto, 42 Segundo


A fábrica do Grupo Hope em Maranguape, localizada na região metropolitana de Fortaleza, vai passar por um “banho de loja”. A marca de moda íntima, praia e fitness prevê um investimento robusto em novas tecnologias de fabricação, que devem dar suporte aos planos ambiciosos da companhia.

O grupo liderado por Sandra Chayo, filha do fundador Nissim Hara, projeta produzir 10,5 milhões de peças em 2024, uma expansão de 50% sobre o ano passado. Esse crescimento vai estar calcado em produtos básicos e acessíveis, uma revisão da estratégia da companhia que contou com a ajuda da consultoria Bain & Company.

“Chegamos à conclusão de que, se conseguíssemos atingir as classes B2 e C [renda estimada entre R$ 2 mil e R$ 6 mil], que ainda não consumiam os nossos produtos, poderíamos aumentar de forma significativa o nosso público endereçável”, afirma Chayo, diretora do Grupo Hope, ao NeoFeed.

A Hope marca está investindo R$ 20 milhões para voltar as suas origens – afinal a empresa, criada em 1966, começou com esse tipo de produto. Nesse orçamento está tanto as peças de marketing, como o desenvolvimento da linha Light, que traz produtos a preço de entrada, partindo de R$ 29,90 (cerca de R$ 10 abaixo das demais coleções).

A coleção, que chegou às mais de 3 mil lojas que atuam com a marca no primeiro semestre, já é a terceira mais expressiva em número de peças vendidas, atrás da Touch e Nude, que partem de R$ 39,90 e R$ 79,90 e estão entre as mais vendidas há anos.

“Quando entrei na empresa, em 1999, o movimento era justamente o contrário, de transformar uma marca popular, que só era vendida em lojas multimarcas, em algo mais sofisticado. E deu certo. Agora, entendemos que precisamos descer esse degrau novamente”, afirma Chayo.

Em 25 anos como diretora da empresa familiar, Chayo foi a responsável por todos os movimentos da operação: desde a expansão via franquias até a criação das outras duas marcas que estão no portfólio: a Bonjour Lingerie e a Hope Resort, de moda praia e fitness.

O próximo passo é dobrar o número de lojas em cinco anos. Hoje, a Hope detém 280 franquias e 9 lojas próprias. Em 2023, o grupo faturou R$ 350 milhões apenas na rede franqueada.

Segundo a Hope, a companhia teve um crescimento de 35% no faturamento no primeiro semestre e projeta acelerar nesta segunda metade do ano, podendo atingir a casa dos 40% no ano contra ano – o que faria a companhia se aproximar dos R$ 500 milhões em receita. Na visão de Chayo, essa receita só deve ser atingida em 2025.

Na visão do sócio da consultoria Varese Retail, Alberto Serrentino, a iniciativa do Grupo Hope é acertada. “O momento da companhia é muito bom. Ao mesmo tempo que eles conseguem conversar com o público premium nas lojas monomarcas, o grupo também tem desempenhado um bom trabalho ao atingir a camada mais baixa de consumidores”, afirma.

Para ele, a recuperação de mercado pode beneficiar ainda mais a companhia nessa nova fase. “A renda está crescendo, o desemprego caindo e o mercado de trabalho se aquecendo, o que ajuda o setor de consumo de semiduráveis, como é o caso da Hope”, diz Serrentino.

Falando em concorrentes, Serrentino acredita que há espaço para todo mundo. Ele afirma que existem diversos players no mercado com posicionamento, perfil de produto e canais distintos, como é o caso de marcas como Valisere, Intimissimi e Loungerie.

O homem na mira

Lançada há dois anos, as peças voltadas ao público masculino da Hope, ainda não decolaram. Isso não impediu o grupo de investir ainda mais no segmento, incluindo peças voltadas para os homens tanto na linha Light, com cuecas, como na Hope Resort, com vestuário fitness, que será lançado em outubro.

“A linha masculina na Hope está crescendo e a cueca da Light está vendendo como água. O consumo por parte dos homens é muito diferente do das mulheres. Eles compram em quantidade, normalmente uma dúzia de cuecas por vez, o que é ótimo para nós”, diz Chayo.

Pensando no público unissex, a marca também está entrando na disputa pelo mercado de meias, que hoje conta com concorrentes como Lupo e gigantes esportivas como Nike e Adidas. Ainda em fase de testes em algumas lojas, a coleção completa o portfólio do grupo e busca atingir todos os públicos que agora consomem os produtos Hope.





Fonte: Neofeed

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