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Ennui, a emoção “blasé” do filme “Divertida Mente 2”, reacende o debate sobre tédio e mídias digitais

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Ennui, a emoção
Tempo de Leitura:9 Minuto, 16 Segundo


Letárgica e indiferente, ela está sempre largada no sofá. Raras situações são interessantes o bastante para fazê-la desviar a atenção do celular. E, quando se digna a levantar a cabeça, revira os olhos, boceja e responde com piadas sarcásticas e críticas ácidas; quando não, com irritação.

Seu nome vem do francês — Ennui, tédio. E ela é uma das quatro novas emoções do filme Divertida Mente 2, em cartaz nos cinemas brasileiros. Junto com a Ansiedade, a Vergonha e a Inveja, marca a chegada da menina Riley à adolescência.

Com a silhueta inspirada em um fio de espaguete amolecido, moletom e meias, fisionomia e postura de quem está profundamente aborrecida, a personagem da Pixar reacende o debate sobre a relação entre o tédio e as mídias digitais — e vice-versa.

E uma das vozes mais ativas da nova ciência sobre o sentir-se enfadado é Tina Kendall, professora associada de cinema, mídias e estudos da comunicação na Universidade Anglia Ruskin, em Cambridge, na Inglaterra, e PhD em teoria da crítica pela Universidade da Califórnia, em Davis, nos Estados Unidos.

“Embora o entretenimento em rede seja amplamente promovido como uma ‘cura’ para o tédio, as últimas pesquisas mostram que quanto mais usamos essas tecnologias para nos distrairmos, mais entediados corremos o risco de ficar”, diz ela, em conversa com o NeoFeed. “É o tédio que alimenta e sustenta nosso envolvimento com essas plataformas e aplicativos.”

Não à toa Ennui vive grudada em seu smartphone.

Enquanto todas as outras emoções devem ir até o “centro de comando”, instalado no cérebro de Riley, a apática Ennui, com o dom de não dar a mínima, faz tudo de seu aparelho, rolando o feed sem parar.

“O tédio prospera com a repetição”, defende Tina. “A estimulação da repetição pode criar um ciclo de feedback negativo de tédio cada vez mais superficial — uma forma de tédio que continua ressurgindo, mas, que nunca cria raízes o suficiente para ‘amadurecer’ em reflexão ativa.”

Apesar de sua atitude blasé (e por causa dela), Ennui protege Riley. Ajuda a baixar a intensidade (sempre elevada) das emoções típicas da vida aos 13 anos. E procura manter a adolescente distante de tudo o que não vale seu tempo e sua energia ou que possa lhe causar embaraço — inclusive de seus pais.

“O paradoxo é que, embora o entretenimento em rede seja amplamente promovido como uma “cura” para o tédio, o tédio permeia toda a cultura digital”, diz a professora Tina Kendall

No livro “Out of My Skull: The Psychology of Boredom”, de 2020, os psicólogos John Eastwood e James Danckert defendem que o tédio serve como uma espécie de alerta de que o que quer que estejamos fazendo não está funcionando. Que estamos falhando em satisfazer nossa necessidade psicológica básica de nos sentirmos engajados e eficazes (Crédito: Reprodução psychwire.com e jamesdanckert.com)

O psicanalista britânico Adam Phillips classifica o tédio como “aquele estado de animação suspensa em que as coisas começam e nada começa, o clima de inquietação que contém o desejo mais absurdo e paradoxal, o desejo de um desejo” (Crédito: Reprodução thebrick.keble.net)

A escritora e ensaísta americana Susan Sontag (1933-2004) defendia: “A vida de uma pessoa criativa é conduzida e controlada pelo tédio. Evitá-lo é um dos objetivos mais vitais para nós” (Crédito: Reprodução britannica.com)

Para o poeta português Fernando Pessoa (1888-1935), “não é o tédio a doença do aborrecimento de nada ter que fazer, mas a doença maior de se sentir que não vale a pena fazer nada (Crédito: Reprodução wikimidia.org)

Como um dos primeiros pensadores a refletir sobre a vida moderna, o sociólogo alemão Georg Simmel (1858-1918), dizia que o tédio não era uma “questão pessoal, mas um sintoma moderno, enraizado na industrialização” e que a atitude “blasé” funcionava como uma espécie de proteção contra o frenesi da vida na cidade (Crédito: Reprodução ringmar.net)

“Não admira, pois, que o mundo vá de mal a pior e que os males aumentem cada vez mais (…) o tédio é a raiz de todo o mal (…) Os deuses estavam entediados, pelo que criaram o homem. Adão estava entediado por estar sozinho, e por isso foi criada Eva. Assim o tédio entrou no mundo e aumentou na proporção do aumento da população”, defendia o filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard, no século 19 (Crédito: Reprodução wikimidia.org)

No filme da Pixar, a atriz francesa Adèle Exarchoupolos, de 31 anos, dubla Ennui, para dar ao tédio um ar mais “cool” (Crédito: Reprodução Instagram @adèleexarchoupolos)

O homem antigo não se entediava — talvez, a nobreza e o clero, em momentos muito específicos, deflagrados por causas evidentes. O tédio existencial, aquele “de se sentir que não vale a pena fazer nada”, como definia o poeta português Fernando Pessoa… esse tédio nasce como conceito no início do século 19, na efervescência das descobertas e invenções que embasariam os avanços tecnológicos do século 20.

Desde então, pensadores de todas as áreas do conhecimento debatem o papel do sentimento no desenvolvimento humano (veja nas imagens acima o que alguns deles disseram a respeito do tema).  A crença predominante hoje em dia é a de que o tédio pode ser tanto positivo quanto negativo.

E aqui a definição do psicanalista britânico Adam Phillips dá a dimensão das possibilidades abertas por “aquele estado de ânimo suspenso (…) o clima de inquietação difusa que contém o desejo mais absurdo e paradoxal, o desejo de um desejo”.

O “desejo de um desejo” que não sabemos qual é e muito menos como satisfazê-lo.

“O tédio pode levar a comportamentos prejudiciais, como a ‘rolagem compulsiva’ das telas e o tempo perdido nessa atividade, ou servir como um apelo à ação, para que nos engajemos mais ou para que tentemos algo diferente”, diz Tina.

Veja a seguir, os principais trechos da entrevista da pesquisadora da Universidade Anglia Ruskin ao NeoFeed:

Como o tédio modula o conteúdo e o uso das novas mídias?
Na minha próxima monografia, Entertained or Else: Boredom and Networked Media, a ser publicada em 2025, avalio como o tédio vem sendo cada vez mais instrumentalizado para impulsionar o envolvimento das pessoas com o entretenimento em rede. Foco, sobretudo, em como o tédio foi direcionado em dois níveis: o discursivo e o técnico.

Como se dá o nível discursivo?
A cultura de rede coloca o tédio como uma ameaça oculta e apresenta o streaming de entretenimento e as plataformas de mídia social como ferramentas para ajudar os indivíduos a “administrar” o “problema do tédio”. Constantemente nos informam que, se baixarmos o software e os aplicativos certos e se seguirmos os feeds indicados, nunca mais ficaremos entediados.

E o que acontece do ponto de vista técnico?
Essas plataformas e programas foram projetados para automatizar nossos gestos — para que cliquemos ou deslizemos as telas antes que tenhamos tempo de perceber que estamos entediados. O tempo necessário entre o tédio se transformar em uma reflexão consciente e a tomada de decisão tem sido significativamente reduzido.

Ou seja, quanto mais entediados nós nos sentimos, melhor para as empresas de tecnologia.
Claro! O paradoxo é que, embora o entretenimento em rede seja amplamente promovido como uma “cura” para o tédio, o tédio permeia toda a cultura digital. O tédio é o sentimento que alimenta e sustenta nosso envolvimento com as plataformas e os aplicativos, nos entediando ainda mais e produzindo receita para as corporações de mídia social e de streaming.

Você pode dar um exemplo de como esse processo funciona na prática?
Veja o que aconteceu durante a pandemia do novo coronavírus. O TikTok capitalizou explicitamente a ameaça do tédio durante o isolamento social — o que alimentou a ascensão meteórica da plataforma. Com o desafio #BoredInTheHouse, o TikTok conseguiu consolidar uma conexão forte com os usuários. O tédio foi e é até hoje um fator chave no sucesso da plataforma.

Devemos levar o tédio a sério, como um instrumento para nos abrirmos a novos desejos, novas experiência e novos futuros

Como o entretenimento em rede aumenta ainda mais o tédio?
O tédio prospera com a repetição. Veja, para sair do tédio, é preciso uma mudança, algo novo que nos faça pensar, ser ou fazer de modo diferente. A estimulação da repetição pode criar um
ciclo de feedback negativo de tédio cada vez mais superficial — uma forma de tédio que continua ressurgindo, mas, que nunca cria raízes o suficiente para “amadurecer” em reflexão ativa. O tédio está, portanto, ligado a experiências mais amplas daquilo que Tung-Hui Hu [escritor americano] chama “letargia digital”: sentimentos de exaustão, decepção, falta de objetivo e dissociação que as plataformas digitais podem produzir.

Mas, afinal, quais são especificamente os perigos do tédio?
Todos nós sentimos tédio em nossas vidas cotidianas. Muitas vezes vivenciamos esse sentimento como uma experiência desagradável — não saber o que fazer ou não poder fazer o que queremos nos dá a sensação de que estamos presos no momento. O tédio crônico, porém, pode se transformar em um problema sério. Os estudos mais recentes sugerem uma forte correlação entre a tendência ao tédio e os comportamentos de risco, como o vício em jogos de azar.

E quais são os aspectos positivos?
O tédio desempenha um papel importante em nosso desenvolvimento, nos dando o tempo necessário para descobrirmos o que desejamos e o espaço para experimentemos fazer as coisas de outra forma. Por isso, o tédio é apontado por muitos como a porta de entrada para a criatividade. Devemos levá-lo a sério, como um instrumento para nos abrirmos a novos desejos, novas experiências e novos futuros. É muito fácil presumir que as tecnologias digitais colonizaram completamente o tempo e o espaço que costumávamos ter para o tédio. Meu trabalho tenta mostrar como os sentimentos de tédio se relacionam com as mídias sociais, nem todas negativas.

Não?
Um método que eu costumo adotar é rastrear hashtags e descritores com temas relacionados ao tédio em plataformas de mídia social, como YouTube e TikTok. E, olhando para os comportamentos e expressões que essas hashtags incentivam, vemos como o tédio pode de fato encorajar as pessoas a experimentar criativamente novas formas de fazer, ser e viver —mesmo que essas mudanças sejam fortemente influenciadas pelas tendências e normas das plataformas. Os tutoriais do Youtube sobre “o que que fazer quando você está entediado”, por exemplo. Graças a iniciativas como essa, foram criados espaços de intimidade e solidariedade para que os jovens compartilhem seus desejos e frustrações.

Como você avalia o sotaque francês da personagem Ennui, em Divertida Mente 2?
Também acho curioso! Tem havido muita discussão em fóruns da internet sobre porque Ennui tem sotaque francês. Claramente a escolha da atriz francesa Adèle Exarchoupolos, para dublar a personagem, segue a decisão da Pixar de usar a palavra “ennui” em vez do termo em inglês “boredom”. A palavra francesa carrega conotações de cansaço e aborrecimento com o mundo. O termo em francês tem ainda uma espécie de prestígio cultural. Ennui  exala o que os franceses chamam de “je m’em foutisme”, a arte de não dar a mínima. E essa indiferença, digamos, cool, ajuda a modular as outras emoções da adolescente, estabelecendo, quando necessário, uma distância entre ela e o mundo.





Fonte: Neofeed

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No projeto Tão Longe, Tão Perto, o “milagre da expansão” acontece no vinho que sai da torneira

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No projeto Tão Longe, Tão Perto, o
Tempo de Leitura:5 Minuto, 9 Segundo


Fundador, em 2014, do primeiro wine truck do Brasil, o Los Mendozitos, voltado à venda em taça de vinhos de baixa intervenção importados da Argentina, o engenheiro industrial com especialização em sustentabilidade, Ariel Kogan, se rendeu aos vinhos nacionais. “A alta do dólar me obrigou a olhar com mais atenção para o mercado nacional e acompanhar a evolução da qualidade na última década”, conta ao NeoFeed.

Sem perder o foco nos pequenos produtores éticos e no desafio de tornar o consumo da bebida mais descontraído, Kogan vem investindo desde 2021 no projeto Tão Longe, Tão Perto (TLTP), ao lado da sommelière Gabriela Monteleone. Voltada à comercialização de vinhos leves, descomplicados e de fácil entendimento em growlers (garrafas reutilizáveis de 1 a 2 litros) e kegs (barris de 20 litros), engatados a torneiras como as de chopp, a plataforma tem visto sua frente de negócio mais recente, a Casa Tão Longe, Tão Perto, ganhar asas.

Inaugurado em meados de 2023, no bairro paulistano da Barra Funda, o espaço com 12 torneiras, poucas mesas e uma pequena seleção de comidinhas de fácil serviço (principalmente queijos e embutidos), foi pensado para ser uma espécie de showroom da marca. O objetivo era atrair para lá clientes potenciais de restaurantes e hotéis interessados na compra a granel dos vinhos brasileiros de pequenos produtores artesanais selecionados por Gabriela. Além de promover o sistema de torneiras (taps), que permite otimizar a venda em taça.

Para se ter uma ideia das vantagens, enquanto uma garrafa mantém as propriedades sensoriais de um vinho, no máximo, por três a quatro dias depois de aberta, um barril engatado em torneira consegue preservar a qualidade da bebida por até um mês. Além disso, o CMV (custo da mercadoria vendida) por taça pode cair em pelo menos 50%, segundo Kogan, devido ao menor custo da embalagem e transporte.

Assim, não demorou para a Casa chamar a atenção do público final pela oferta de brancos, rosés, tintos e laranjas a preços atrativos. Além de investidores, que viram no modelo inovador, simplificado e de baixo custo do bar uma oportunidade de negócio, puxando organicamente a expansão para outras praças.

Como resultado, em apenas um ano, mais duas unidades foram abertas: uma na cidade do Porto, em Portugal, e outra no Rio de Janeiro, cujo faturamento inicial está superando em 50% o da unidade paulista antes mesmo de fechar o mês.

Não por acaso, uma terceira unidade já está prevista para breve, em Lisboa. “Estamos procurando ponto”, diz Kogan.

Com tíquete médio de R$ 90, as Casas TLTP representam hoje 25% do faturamento da marca, mas a expectativa é que a fatia ultrapasse os 50% nos próximos anos com a ampliação do número de pontos.

“Ainda estamos analisando os dados e os vetores de crescimento com cuidado, mas há um grande potencial de expansão nos pontos de venda, que exigem menor investimento de capital do que a operação de distribuição de vinhos”, avalia o empresário, que não descarta a possibilidade de adotar o modelo de franquias a longo prazo.

Por enquanto, a expansão ocorre com parceiros locais, como, no Rio de Janeiro, com os empresários Nelson Soares e Juan Manoel Prada, do restaurante Sult, e Ricardo Rebello, do gastrobar Sebastian. O investimento em cada loja gira em torno de R$ 400 mil a R$ 500 mil.

A visibilidade trazida pelas Casas deve ainda ajudar a impulsionar as demais operações da plataforma, que atualmente conta com 20 clientes com torneiras instaladas em todo o Brasil. Entre eles estão os restaurantes Shuk, Futuro Refeitório, Cuia, Bráz Trattoria e Le Bulô, em São Paulo; Manga, em Salvador, e Casa Vivá, em Porto Alegre.

Segundo Kogan, a Tão Longe, Tão Perto se guia pela A conexão com o produtor, o diferencial do produto e a sustentabilidade (Foto: Divulgação/Tão Longe,, Tão Perto)

Além de barris, os vinhos são comercializados em growlers, garrafas reutilizáveis de 1 a 2 litros (Divulgação/Tão Longe, Tão Perto)

Hoje, a instalação de torneiras responde por 25% do faturamento da plataforma e a distribuição dos vinhos representa 50% (Divulgação/Tão Longe, Tão Perto)

O projeto Tão Longe, Tão Perto foi lançado em 2020, pela a sommelière Gabriela Monteleone (Reprodução Instagram @gabrielamonteleone)

Atualmente, a instalação de torneiras responde por 25% do faturamento da plataforma e a distribuição dos vinhos curados por Gabriela e envasados em diferentes recipientes representa 50%. “Essa é uma operação que deve crescer junto com as Casas”, acredita Kogan.

Uma nova frente de negócios ainda começa a ser desenhada, retomando a experiência do wine truck, para levar os vinhos da marca a eventos, em carrinhos móveis com torneiras.

Um efeito colateral da expansão, entretanto, já afetou a fidelidade ao produto brasileiro. Com a ida para a Europa, decidiu-se que a oferta de vinhos seguirá priorizando vinhos leves e de fácil entendimento feitos por pequenos produtores voltados à vinicultura de baixa intervenção, mas os rótulos serão selecionados localmente em prol da sustentabilidade. “Este sempre foi nosso principal drive”, enfatiza Kogan, que é um dos idealizadores do Programa Cidades Sustentáveis, da Rede Nossa São Paulo.

“Não estamos fechados a levar uma bebida de um país para o outro, mas terá de ser algo muito diferente, que faça sentido pelo diferencial”, diz Kogan, citando um fermentado de açaí feito no Acre que o surpreendeu recentemente.

Assim, uma nova curadoria começa a tomar corpo em Portugal, onde o número de vinhos naturais selecionados em regiões como Dão e Douro já supera o de torneiras instaladas na Casa TLTP do Porto.

“Já poderíamos colocar mais quatro torneiras, totalizando dez”, conta ele, que não descarta abraçar também a distribuição a granel de seus achados. “Não somos um movimento de exclusão de nada. Nem de garrafas, nem de importados. A conexão com o produtor, o diferencial do produto e a sustentabilidade é que vão nos guiar.”

Então, já que existe a brecha, há chance de vermos vinhos de pequenos produtores argentinos no portfólio da TLTP, voltando para o início do ciclo? “Se tivermos uma Casa em Buenos Aires ou Mendoza, sim. Mas aqui vamos priorizar o Brasil, até porque, pela legislação, não é possível importar vinhos a granel de lá para cá.”





Fonte: Neofeed

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A natureza lírica e avassaladora de Hayao Miyazaki

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A natureza lírica e avassaladora de Hayao Miyazaki
Tempo de Leitura:4 Minuto, 22 Segundo


VENEZA – Documentário exibido no 81º Festival de Veneza ajuda a explicar a genialidade do ícone da animação japonesa Hayao Miyazaki e de seu Studio Ghibli, que há quatro décadas dá profundidade e sofisticação ao gênero.

O foco de Miyazaki, l’Esprit de la Nature (Miyazaki, o Espírito da Natureza) é sobre a preocupação do cineasta de 83 anos com o meio ambiente, refletida em obras-primas como Nausicaä do Vale do Vento (1984), Meu Amigo Totoro (1988), Princesa Mononoke (1997) e A Viagem de Chihiro  (2001), entre outras.

Seja com florestas povoadas por criaturas mágicas ou com uma natureza furiosa por causa dos abusos sofridos, Miyazaki construiu uma filmografia questionando a relação do homem com todas as coisas vivas.

Ao longo de sua trajetória, o diretor, acostumado a encantar a plateia com paisagens silvestres de tirar o fôlego, nunca conseguiu ignorar a capacidade destrutiva da humanidade — embora algumas vezes ele prefira apostar na regeneração da natureza, por ser algo sagrado.

“Para apreciar profundamente a obra de Miyazaki, um dos artistas vivos mais reverenciados no mundo, é preciso analisá-lo em um contexto ambiental”, contou ao NeoFeed o diretor do filme, o francês Léo Favier.

Ele desembarcou no Lido de Veneza, estância balneária onde é realizado o festival italiano, às margens do Mar Adriático, para a première mundial do título que foi selecionado para a mostra Venice Classics, dedicada à memória do cinema.

A natureza é, muitas vezes, impactada nas histórias de Miyazaki por essas refletirem uma sociedade obcecada por conquistas, guerras e consumismo.

“Por mais que o cineasta tenha mudado e evoluído ao longo das décadas, seus filmes foram sempre carregados de guerra e destruição, o que também espelha o que ele enfrentou ainda na infância, moldando a sua visão de mundo”, afirmou Favier.

O documentarista se refere ao fato de Miyazaki ter sobrevivido a bombardeios, quando tinha entre três e quatro anos, ocasiões em que a sua família foi forçada a trocar de cidade. E o pai de Miyazaki ainda foi diretor de fábrica que confeccionava lemes para aviões de combate durante a Segunda Guerra.

Isso explica sua fascinação por aviação e, ao mesmo tempo, a culpa que o diretor já admitiu sentir por sua família ter feito dinheiro com a guerra.

“Nada é preto no branco nos seus filmes de Miyazaki, que sempre abraçou as contradições. Ele deixa que as situações sejam bagunçadas e complicadas, exatamente como é a vida, sem se limitar pensando em uma faixa etária específica para cada história”, comentou Favier.

O fato de suas obras serem concebidas para entreter todas as idades (e não apenas crianças) é o que garantiu mais profundidade, levantando questões filosóficas, sociais e políticas.

Um dos filmes mais ecológicos de Miyazaki foi Princesa Mononoke, onde mais de 144 mil desenhos feitos à mão dão vida a todo um ecossistema, com árvores, plantas, animais e espíritos dividindo uma paisagem estonteante, à beira da extinção. Mas o tom de alarme, pelo conflito aparentemente irremediável entre a natureza e a industrialização, não o impediu de acrescentar lirismo à trama, já que a floresta tem alma própria.

Os filmes do cineasta japonês refletem a grandiosidade da natureza, como Meu Amigo Totoro, de 1988 (Studio Ghibli)

Miyazaki construiu uma filmografia questionando a relação do homem com todas as coisas vivas (Foto: ©M6 MediaBank / Métropole Télévision)

Graças ao sucesso de “Nausicaä do Vale do Vento”, de 1984, Miyazaki conseguiu fundar o Studio Ghibli (Reprodução themoviedb.org)

“A Viagem de Chihiro”, de 2001, é considerada uma das obras-primas da animação (Reprodução themoviedb.org)

Segundo o biólogo Shin-Ichi Fukuoka, entrevistado no documentário, Princesa Mononoke se baseia em duas grandes questões: o que é a vida e o que é ser um humano. “No final, Miyazaki nos faz entender que nós somos parte da natureza, não muito diferente dos outros organismos em termos de mecanismo celular e DNA”, comentou o especialista.

Foi graças ao sucesso de Nausicaä do Vale do Vento, ambientado em futuro distópico onde a humanidade está ameaçado por um ar tóxico e insetos gigantes, que Miyazaki conseguiu fundar o Studio Ghibli.

A cena de abertura, com a princesa Nausicaä pousando em floresta estranha, porém majestosa, dá uma ideia da reconciliação almejada pelo cineasta. E muito antes de a questão ambiental se tornar um tema recorrente na produção audiovisual.

“O que Miyazaki sugere aqui é a interação entre natureza e seres humanos. Em vez de o homem insistir em dominar a natureza, ele deveria se engajar com ela, de modo respeitoso. O que sentimos é uma inteligência amorosa e uma consciência de que todos estamos conectados no universo”, comentou a escritora Susan Napier, autora do livro Miyazakiworld: a Life in Art, também em depoimento no filme.

O documentário examina outros filmes que refletem a grandiosidade da natureza, pelas lentes de Miyazaki, como Meu Amigo Totoro. Aqui o que ajuda duas irmãs a enfrentarem uma fase difícil, com a mãe hospitalizada, são as aventuras que vivenciam com os espíritos da floresta, conhecido como “totoros”.

É com esses seres fantásticos, em especial com o líder deles, que a dupla aprende a encarar a dura realidade, mas sem se esquecer da beleza, da poesia e da magia da vida, em tudo o que nos cerca.





Fonte: Neofeed

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Os planos “íntimos” da Hope: 10,5 milhões de peças e R$ 500 milhões de receita

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sandra chayo hope
Tempo de Leitura:3 Minuto, 42 Segundo


A fábrica do Grupo Hope em Maranguape, localizada na região metropolitana de Fortaleza, vai passar por um “banho de loja”. A marca de moda íntima, praia e fitness prevê um investimento robusto em novas tecnologias de fabricação, que devem dar suporte aos planos ambiciosos da companhia.

O grupo liderado por Sandra Chayo, filha do fundador Nissim Hara, projeta produzir 10,5 milhões de peças em 2024, uma expansão de 50% sobre o ano passado. Esse crescimento vai estar calcado em produtos básicos e acessíveis, uma revisão da estratégia da companhia que contou com a ajuda da consultoria Bain & Company.

“Chegamos à conclusão de que, se conseguíssemos atingir as classes B2 e C [renda estimada entre R$ 2 mil e R$ 6 mil], que ainda não consumiam os nossos produtos, poderíamos aumentar de forma significativa o nosso público endereçável”, afirma Chayo, diretora do Grupo Hope, ao NeoFeed.

A Hope marca está investindo R$ 20 milhões para voltar as suas origens – afinal a empresa, criada em 1966, começou com esse tipo de produto. Nesse orçamento está tanto as peças de marketing, como o desenvolvimento da linha Light, que traz produtos a preço de entrada, partindo de R$ 29,90 (cerca de R$ 10 abaixo das demais coleções).

A coleção, que chegou às mais de 3 mil lojas que atuam com a marca no primeiro semestre, já é a terceira mais expressiva em número de peças vendidas, atrás da Touch e Nude, que partem de R$ 39,90 e R$ 79,90 e estão entre as mais vendidas há anos.

“Quando entrei na empresa, em 1999, o movimento era justamente o contrário, de transformar uma marca popular, que só era vendida em lojas multimarcas, em algo mais sofisticado. E deu certo. Agora, entendemos que precisamos descer esse degrau novamente”, afirma Chayo.

Em 25 anos como diretora da empresa familiar, Chayo foi a responsável por todos os movimentos da operação: desde a expansão via franquias até a criação das outras duas marcas que estão no portfólio: a Bonjour Lingerie e a Hope Resort, de moda praia e fitness.

O próximo passo é dobrar o número de lojas em cinco anos. Hoje, a Hope detém 280 franquias e 9 lojas próprias. Em 2023, o grupo faturou R$ 350 milhões apenas na rede franqueada.

Segundo a Hope, a companhia teve um crescimento de 35% no faturamento no primeiro semestre e projeta acelerar nesta segunda metade do ano, podendo atingir a casa dos 40% no ano contra ano – o que faria a companhia se aproximar dos R$ 500 milhões em receita. Na visão de Chayo, essa receita só deve ser atingida em 2025.

Na visão do sócio da consultoria Varese Retail, Alberto Serrentino, a iniciativa do Grupo Hope é acertada. “O momento da companhia é muito bom. Ao mesmo tempo que eles conseguem conversar com o público premium nas lojas monomarcas, o grupo também tem desempenhado um bom trabalho ao atingir a camada mais baixa de consumidores”, afirma.

Para ele, a recuperação de mercado pode beneficiar ainda mais a companhia nessa nova fase. “A renda está crescendo, o desemprego caindo e o mercado de trabalho se aquecendo, o que ajuda o setor de consumo de semiduráveis, como é o caso da Hope”, diz Serrentino.

Falando em concorrentes, Serrentino acredita que há espaço para todo mundo. Ele afirma que existem diversos players no mercado com posicionamento, perfil de produto e canais distintos, como é o caso de marcas como Valisere, Intimissimi e Loungerie.

O homem na mira

Lançada há dois anos, as peças voltadas ao público masculino da Hope, ainda não decolaram. Isso não impediu o grupo de investir ainda mais no segmento, incluindo peças voltadas para os homens tanto na linha Light, com cuecas, como na Hope Resort, com vestuário fitness, que será lançado em outubro.

“A linha masculina na Hope está crescendo e a cueca da Light está vendendo como água. O consumo por parte dos homens é muito diferente do das mulheres. Eles compram em quantidade, normalmente uma dúzia de cuecas por vez, o que é ótimo para nós”, diz Chayo.

Pensando no público unissex, a marca também está entrando na disputa pelo mercado de meias, que hoje conta com concorrentes como Lupo e gigantes esportivas como Nike e Adidas. Ainda em fase de testes em algumas lojas, a coleção completa o portfólio do grupo e busca atingir todos os públicos que agora consomem os produtos Hope.





Fonte: Neofeed

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