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Nas ferrovias, bilhões de reais em projetos, mas poucas obras em andamento

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Nas ferrovias, bilhões de reais em projetos, mas poucas obras em andamento
Tempo de Leitura:7 Minuto, 18 Segundo


O termo “ferrovias de papel” foi cunhado pela oposição ao governo Jair Bolsonaro para descrever o resultado de uma iniciativa, elogiada pelos especialistas, para estimular os investimos privados no setor: o regime de autorizações ferroviárias, anunciado em 2021.

A empresa interessada apresenta projeto no qual fica encarregada de obter licenciamentos junto aos órgãos competentes, de tocar os projetos de engenharia e de viabilidade socioambiental, além da busca de financiamento para construir e explorar novos trechos, a maioria para o transporte de cargas.

No papel, a iniciativa parece uma boa ideia. Desde então, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) recebeu 106 requerimentos, que geraram 45 contratos de autorizações ferroviárias. Juntos, prometem R$ 241,14 bilhões em investimentos para explorar 12.546 km de trilhos, quase metade da malha existente.

O problema é que, deste total, apenas dois contratos saíram da prancheta, ainda em fase de captação de recursos ou de obtenção de licença ambiental – o que explica o termo jocoso de “ferrovias de papel”.

E o governo federal atual manteve o hábito de anunciar projetos grandiosos em várias regiões do País. Só o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), anunciado no ano passado, prevê o aporte de R$ 94 bilhões no transporte ferroviário até 2026, entre dinheiro público e privado.

Alguns projetos que estavam parados foram retomados e houve uma conclusão importante – o da Ferrovia Norte-Sul, com 2,2 mil quilômetros de extensão, iniciada há 36 anos e com último trecho inaugurado há um ano -, o que animou especialistas e investidores.

Mas a sensação de quem espera ver a rápida modernização do sistema ferroviário brasileiro é a mesma de andar num trem a vapor dos anos 1830, época da primeira concessão de uma estrada de ferro no Brasil.

“Ferrovias custam caro e as obras são demoradas, mas para atrair investimentos precisamos criar leilões mais modernos e valorizar o ativo público federal nas renovações antecipadas de concessões para garantir um aporte ao setor privado nos projetos”, diz Renan Filho, ministro dos Transportes, em entrevista ao NeoFeed.

> Leia entrevista com Renan Filho, ministro dos Transportes

Renan Filho diz que as autorizações não avançaram porque ferrovia precisa de recurso público para deixar o VPL (Valor Presente Líquido, fórmula para identificar o valor presente de pagamentos futuros) positivo e atrair o setor privado.

“Para deixar o VPL positivo num investimento em infraestrutura pesada, como de ferrovia, é necessário um abatimento de capex colocado pelo Estado”, afirma o ministro. “Como nos projetos do governo anterior o Estado nunca botava nada, os projetos não andaram.”

Valores baixos

Das 16 concessões ferroviárias em operação, quatro tiveram contrato prorrogado pelo governo anterior, com a inclusão de investimentos obrigatórios em obras de capacidade e de solução de conflitos urbanos. O governo atual, no entanto, considera os valores negociados baixos.

A atual tentativa de revisão envolve a renovação antecipada de concessões de duas ferrovias da Vale (Estrada de Ferro Carajás e Estrada de Ferro Vitória-Minas), no valor de R$ 25,7 bilhões. Outros R$ 3,7 bilhões poderiam vir de uma concessão da MRS Logística, que administra 1.643 quilômetros de trilhos em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Procurada, a Vale se posicionou e informou que “a empresa segue em discussões com o Ministério dos Transportes sobre as condições gerais para otimizar os planos de investimentos nos contratos de concessão da Estrada de Ferro Carajás (EFC) e da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), nos termos estabelecidos e divulgados ao mercado em 16 de dezembro de 2020.” A MRS não retornou ao pedido de posicionamento.

O ministro diz que, após negociações, espera obter entre R$ 25 bilhões e R$ 30 bilhões nesses contratos de renovação antecipadas. “Acreditamos que um aporte de 20% transforma um VPL negativo em positivo”, estima Renan Filho. “Se isso for verdade em leilão, porque vai ter que ser verificado empiricamente em leilão, podemos levantar ao menos R$ 125 bilhões para obras com esses aportes, desde que eu bote os meus R$ 25 bilhões.”

O ministro acredita que essa estratégia deverá impulsionar novos projetos além dos que estão andando. Ele se refere à Ferrovia de Integração Centro-Oeste (FICO), ligando o Centro-Oeste à Ferrovia Norte-Sul e, consequentemente, aos portos estratégicos de Santos e São Luís. O trecho de 383 quilômetros, conectando Mara Rosa (GO) a Água Boa (MT), deverá ter um terço do trajeto concluído até dezembro.

Os estudos para a construção a Ferrogrão, ferrovia de 933 km ligando Sinop (MT) ao porto paraense de Miritituba, devem ser concluídos em seis meses. Esta semana, o governo deve assinar contrato de R$ 350 milhões de investimentos públicos na Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), licitado pela Infra S/A.

“Temos também a Transnordestina, ferrovia de R$ 7 bilhões que hoje já está com obra retomada, a qual estamos aplicando R$ 1 bilhão por ano”, diz Renan Filho.

Ferrovias “ineficientes”

O Brasil tem 30.653 km de extensão de malha ferroviária, dos quais 18,5 mil km se encontram ociosos — ou seja, são utilizados menos de 30% da capacidade instalada, de acordo com levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU).

Para Renan Filho, o País não tem ferrovias ociosas, mas sim “ineficientes”. “Aquele trem que passava nas cidades pequenas, andando a 10 quilômetros por hora, não concorre hoje nem com van, muito menos com caminhão”, diz. “Por isso o modelo quebrou, ficou obsoleto.”

Por essa razão, em sua visão, para ter ferrovias adequadas e vencer a concorrência com os caminhões é preciso que o trem ande com carga pesada a 80 quilômetros por hora. As observações do ministro também ajudam a entender por que a malha ferroviária dificilmente terá uma ampliação representativa nos próximos quatro anos.

“As melhores possibilidades são a conclusão da FIOL, na Bahia, de 1.500 km, que pode ficar pronta em 2028, com muito dinheiro alocado”, afirma Luiz Baldez, presidente da Associação Nacional dos Usuários do Transporte de Carga (ANUT).

Um projeto ferroviário de porte costuma ter, em média, 500 km de extensão, com as obras avançando até 100 km por ano. Baldez estima que são necessários dois anos para fazer projeto, mais dois anos para as licenças ambientais – ele adverte que tem projeto que pode levar até quatro anos para obter licença, dependendo da região.

Com isso, uma ferrovia de 500 km pode levar de nove a dez anos para entrar em operação. “Ferrovia, além de ser cara, demora para ser aprovada. Por isso, é preciso aumentar o investimento público e privado e melhorar a regulação, no sentido de integrar a malha no sistema”, diz Baldez. “A parte regulatória tem de andar junto com investimento para criar as condições para dar atratividade ao setor privado.”

Os problemas mais citados por especialistas como Baldez seguem sendo ignorados nos anúncios de novos projetos. Eles incluem desde a falta de estímulo à diversificação das cargas transportadas por via férrea à ausência de unificação de bitola dos trilhos, o que impede a integração da malha, passando pela chamada interoperabilidade – a dificuldade de um comboio de trens obter o direito de passagem por uma ferrovia sob concessão para chegar ao destino, geralmente um porto.

Boa parte desses problemas explica por que 60% das ferrovias são ociosas. Para devolver um trecho ferroviário com baixa utilização, por exemplo, a concessionária tem de pagar indenização ao governo. “Essa indenização gira em torno de R$ 2 milhões por quilômetro, ou seja, numa ferrovia de 250 km, o concessionário tem de pagar ao governo meio bilhão de reais para devolver um trecho que não usa, com dormentes apodrecidos e tudo mais”, afirma Baldez.

Para Aline Guedes, especialista em infraestrutura e logística e professora da Faculdade Arnaldo Janssen, de Belo Horizonte, mais complexo é reverter as duas contradições do sistema ferroviário: a concentração de cargas no minério de ferro e do transporte das demais cargas no modal rodoviário.

A diferença dos custos de frete de grãos entre os dois modais expõe essa contradição. “O frete ferroviário sai por R$ 1,11 o saco de grãos, enquanto o transporte no modal rodoviário custa R$ 40 o saco, sem falar que um comboio de trens transporta carga equivalente a 120 caminhões.”

O monopólio das mineradoras, de acordo com Aline Guedes, facilita para que as concessionárias evitem o direito de passagem – permissão para que um comboio de trens utilize um trecho da ferrovia para atingir um porto ou outra conexão.

Para o ministro Renan Filho, porém, não se trata de monopólio. “É difícil liberar o direito de passagem nas ferrovias da Vale, por exemplo, porque ela utiliza 95% da capacidade”, afirma. “Então, se for imposto direito de passagem na malha da empresa ou ela teria de diminuir a exportação de minério ou não autorizar a passagem porque já usa toda a capacidade.”





Fonte: Neofeed

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A crise dos fundos multimercados não tem fim e a sangria bilionária continua. Há saída à vista?

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A crise dos fundos multimercados não tem fim e a sangria bilionária continua. Há saída à vista?
Tempo de Leitura:7 Minuto, 14 Segundo


Os fundos multimercados, que têm maior liberdade de alocação de recursos em diversas classes de ativos, tiveram uma sangria de R$ 324 bilhões de janeiro a novembro de 2024, segundo dados da Anbima. A explicação de boa parte dos gestores para esses saques está no desmonte de fundos exclusivos, que passaram a pagar come-cotas.

Mas um levantamento do BTG Pactual, no qual o NeoFeed teve acesso com exclusividade, mostra que os saques vão além dos recursos dos fundos exclusivos. O banco de investimento identificou o fluxo para os fundos multimercados “puro sangue”, sem considerar aqueles exclusivos ou que seguem outras estratégias, como de crédito, mas que recebem a mesma classificação.

A conclusão não deixa dúvidas sobre a crise dos multimercados: os resgates somaram R$ 100 bilhões em 2024, superando os R$ 60 bilhões do ano passado. Desde 2022, as retiradas dos fundos analisados como multimercados “puro sangue” acumulam R$ 180 bilhões. Para chegar aos números, o BTG aplicou critérios como tamanho, estratégias, análises qualitativas das gestoras e número de cotistas.

A questão que se coloca é quando essa sangria vai parar? E o que explica essa debandada dos investidores rumo a outros ativos? Uma das razões está no desempenho dos multimercados.

Um levantamento da Elos Ayta Consultoria mostrou que apenas 34% dos fundos multimercado ficaram acima do CDI no ano de 2023. Em 2024 até novembro, esse número subiu um pouco, para 42% acima do benchmark.

“Os resgates são resultados de uma performance ruim, mas acima de tudo porque eles não cumprem o seu papel de diversificação na carteira há três anos”, diz Eduardo Castro, CIO da Portofino Multi Family Office. “Neste mundo pós-pandemia, os fundos vão bem quando o mercado vai bem. E quando vai mal, em vez de minimizarem as perdas como esperado, perdem até mais.”

É importante lembrar que a indústria viveu um grande boom entre 2012 e 2019 com o crescimento das plataformas digitais e a democratização dos investimentos, o que possibilitou o surgimento de várias novas assets e levou os multimercados ao investidor de varejo.

Quando a taxa de juros foi caindo e chegou a 2% em 2020, os investidores tomaram mais risco. Mas, à medida que o Brasil voltou à taxa média anual de juros de dois dígitos, o investidor foi saindo do risco.

Os investidores mais sofisticados, que seguraram a posição em seus altos e baixos até este ano, olharam a relação risco-retorno dos últimos 36 meses e avaliaram que não compensava ficar alocado nessa estratégia.

O que se espera é um retorno de CDI+3% no longo prazo para esse risco. O Itaú Fund of Funds fez um filtro para ver qual é, de fato, um multimercado “puro sangue”, e não um fundo temático com essa classificação, e analisou quais (dos 102 fundos na lista) nos últimos cinco anos teve um retorno de CDI +3%.

Em 2019 e 2020, 57% e 42%, respectivamente, entregaram essa rentabilidade. Em 2021 e 2022, apenas 22% e 16% respectivamente. E em 2023 e 2024, menos de 10% conseguiram esse resultado desejado.

“Sem dúvida estamos vivendo um momento de crise da indústria, que “inchou” muito nos últimos anos. E agora vive-se um processo de seleção de quem realmente está apto para lidar com as adversidades e entregar valor para o cliente”, afirma Rodrigo Giordano, superintendente da área de fund of funds do Itaú.

A tributação dos fundos exclusivos acelerou os resgate. Agora, com o imposto sendo pago de forma recorrente, ficou mais caro ter essa estratégia. Muitos investidores revisaram o portfólio e se sentiram livres para mandar mais recursos para o exterior e investir em títulos isentos no Brasil.

“Com a tributação, os clientes buscaram mais eficiência no Brasil em títulos isentos e aumentaram a sua exposição em moeda forte”, afirma Marcos Macedo, head de research e alocação da Fami Capital. “Mas além disso, a paciência do investidor com os multimercados acabou. Uma indústria que tem volatilidade, cobra 2% de taxa mais 20% de performance para entregar, na média, 110% do CDI”.

A decisão de resgatar os recursos dos multimercados também é técnica de alocação. Pelo cenário completamente incerto no Brasil, os poucos gestores que têm conseguido bons resultados estão capturando beta do mercado americano, com exposição a juros e bolsa.

Nada que não seja possível de conseguir com ETFs internacionais a custos mais baixos. Muito diferente de fundos de ações e crédito privado, por exemplo, em que uma seleção criteriosa se mostra fundamental.

“Os multimercados sempre foram um instrumento de geração de alfa em mercados difíceis e custosos de operar pelos alocadores. Mas agora o escopo das estratégias ganhadoras tem sido relativamente trivial, a gente pode montar a posição até mesmo na B3”, afirma Castro, da Portofino Multi Family Office.

O que se espera para 2025?

Mesmo após todos esses resgates, a sangria pode não ter estancado, mas vem mostrando desaceleração. Os gestores de grandes fortunas afirmam que ainda há fundos exclusivos para serem analisados e desmontados. E, com os juros subindo possivelmente para 15% ao ano, os investidores devem sair de fato do risco.

Em meio a isso, algumas gestoras começam a passar apertos para conseguir gerar melhores resultados. Com a queda de volume sob gestão, a receita fica menor para manter o mesmo time. O que se espera é uma consolidação da indústria.

Na segunda semana de dezembro deste ano, a gestora BlueLine anunciou o encerramento de suas operações, citando “condições de mercado” como motivo. De acordo com Fabio Akira, economista-chefe e um dos sócios, fatores como a alta de juros e a concorrência com a renda fixa pesaram para a decisão.

Guilherme Zaczac, head de investimentos alternativos líquidos no Brasil do UBS Global Wealth Management, destaca que, embora as saídas tenham “reduzido significativamente”, ainda não cessaram. “A barreira de entrada para ser um gestor multimercado é bem maior do que se pensava. Faz parte do amadurecimento do mercado”, afirma.

Apesar das dificuldades, Zaczac acredita que os fundos multimercados podem voltar a captar no próximo ano, desde que entreguem retornos atrativos. Ele aponta uma melhora significativa no desempenho dos principais fundos nos últimos seis meses. “Se a indústria performar bem até o fim do primeiro trimestre, haverá fluxo para esses gestores”, diz.

A questão está em saber quem serão esses vencedores. E os grandes alocadores estão muito mais criteriosos com suas escolhas. Para Fernando Donnay, portfólio manager da G5 Partners, a conversa com os gestores tem sido mais próxima, entendendo quem pode aproveitar a crise para capturar bons profissionais no mercado, ou quem está com a corda no pescoço.

“Esse é o momento de estar em casas sólidas e ver quem está em transformação e está investindo para ter um produto mais robusto do que o clássico trade de bolsa e juros”, afirma Donnay.

Esse movimento de consolidação pode ser também o início de uma transformação da indústria, como ocorreu com os hedge funds americanos. Por lá, a competição com a indústria de fundos indexadas obrigou os gestores a diminuírem os seus custos e buscarem mais alfa no longo prazo. E para conseguirem diversificar mais o risco, sem aumentar custos, passaram a usar massivamente tecnologia para alocação globalmente.

“Para cobrar caro é preciso dar um retorno mais agressivo, ao mesmo tempo não há espaço para grandes drawdown. Estamos vendo, corretamente, alguns gestores aumentando a sua exposição no exterior, adicionando novas fontes de alfa. Mas, para isso, é necessário investimento em pessoas e tecnologia”, afirma Adilson Ferrarezi, head de soluções de investimentos da Bradesco Asset.

Desde 2021, grandes gestoras de multimercado têm se desafiado no mercado global. Em 2022, conseguiram bons retornos com isso, mas em 2023 erraram. E a grande aposta para 2025 da indústria é o mercado internacional, que parece ter uma tendência mais clara para operar.

Ao mesmo tempo, no Brasil, cada vez mais o mercado global se abre para os pequenos investidores, que podem ter acesso a grandes gestoras internacionais e com o apoio de um assessor de investimentos.

“É importante os gestores ‘operarem mundo’, mas é preciso humildade em saber onde está o seu diferencial em relação a grandes gestores sentados em Nova York ou Londres”, afirma Ferrarezi. “Na nossa opinião, é replicar o aprendizado no Brasil para outros países que possam vir a passar por movimentos semelhantes e entender os impactos para emergentes.”

Lá fora, os hedge funds perderam estruturalmente espaço na carteira, mas são um dos grandes responsáveis pela geração de alfa. Por aqui, ainda não dá para saber se eles podem reconquistar o espaço que tiveram antes.

Mas já se espera que os vencedores sejam poucos e com uma estrutura muito mais robusta do que aquela que ganhou espaço anos atrás.





Fonte: Neofeed

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Antigas minas se transformam em parques e centros culturais

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Antigas minas se transformam em parques e centros culturais
Tempo de Leitura:5 Minuto, 57 Segundo


No sopé da Serra do Curral, o Parque das Mangabeiras é um dos cartões-postais de Belo Horizonte. Seus 2,4 milhões de metros quadrados (m²) de mata nativa abrigam uma grande variedade de fauna e flora. Não é raro avistar micos, gambás, esquilos e quatis circulando por entre bromélias, jequitibás e gabirobas.

Quem passeia pelos jardins projetados pelo paisagista Roberto Burle Marx dificilmente imagina que bem ali funcionou, entre 1961 e 1979, uma mina de minério de ferro. A única lembrança do passado minerário do lugar está exposto em uma de suas praças: um antigo britador usado pela Ferrobel, empresa de economia mista, que tinha a prefeitura da cidade como seu principal acionista.

Inaugurado em 1982, o Parque das Mangabeiras serve de modelo para o encerramento ideal de um projeto mineral. A céu aberto ou subterrâneas, ao movimentar quantidades enormes de terra, as minas alteram drasticamente as paisagens das regiões onde estão instaladas. Terminada a exploração, a recuperação e reabilitação do ecossistema é tida hoje como uma dos pilares mais essenciais da mineração sustentável.

A quase mil quilômetros da capital mineira, em Curitiba, outro parque, o das Pedreiras, também serve de exemplo para a revitalização de áreas, um dia, exploradas pela indústria da mineração. Com 103 mil m², o lugar abriga o Espaço Cultural Paulo Leminski, o maior auditório ao ar livre da América Latina, e a Ópera de Arame, um dos centros de cultura mais importantes do Brasil.

Como o britador do parque mineiro, em Curitiba, um imenso paredão de pedra não deixa esquecer que, naquele local, a prefeitura operou uma pedreira que, ao longo de três décadas, forneceu material para as empresa de construção civil da cidade.

Os parques das Mangabeiras e das Pedreiras, no entanto, são exceção. Existem hoje, no país, 800 minas desativadas, sem qualquer projeto de recomposição ambiental, conforme estimativas do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).

Consideradas verdadeiras “bombas-relógios”, as minas abandonadas representam um enorme risco à saúde pública e ao meio ambiente. Em caso de rompimento de uma barragem de rejeitos, pode acontecer a contaminação de córregos, rios e lençóis freáticos. Sem tratamento, os resíduos ameaçam ainda a qualidade do solo.

Como esses lugares não contam com nenhum tipo de supervisão, com o tempo, suas estruturas ficam cada vez mais instáveis e podem colapsar de uma hora para outra.

As regras para o encerramento de um projeto minerário de forma segura e responsável estão esmiuçadas na resolução número 68, de 2021, da Agência Nacional de Mineração (ANM), ligada ao Ministério de Minas e Energia.

Por lei, todo trabalho de recuperação cabe às mineradoras, mesmo quando a área explorada foi arrendada, frisa Julio Nery, diretor de Sustentabilidade do Ibram, em entrevista ao NeoFeed.

E, entre as medidas exigidas, está a obrigatoriedade de apresentação do Plano de Fechamento de Mina (PMF) antes do início das atividades da mina — informações que devem ser revisadas e atualizadas ao longo de toda a exploração.

Devem constar do documento, além de alternativas viáveis para a desativação, as estimativas de gastos com a recuperação da área pós-mineração. Para que o plano realmente funcione, é essencial incluir as comunidades locais na discussão do que será feito da mina depois de seu fechamento.

Nem sempre as exigências são cumpridas. “Infelizmente temos maus exemplos, com casos em que as empresas quebraram e deixaram para o Estado tomar à frente”, diz Nery.

Uma solução seria cobrar uma garantia financeira das mineradoras já no momento de abertura da mina. “Uma espécie de seguro, garantindo sua recuperação, ao fim de sua vida útil. Mas ainda não adotamos essa prática no Brasil”, explica Hernani Mota de Lima, professor do Departamento de Engenharia de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), em conversa com o NeoFeed.

Como o governo federal não se movimentou nesse sentido, o Tribunal de Contas da União (TCU) recomendou à ANM que regulamente o provisionamento financeiro para o fechamento de minas no Brasil.

Antes de adotar a medida, a agência abriu uma consulta pública em seu site, em 25 de novembro, para receber sugestões para a proposta de regulamentação das garantias financeiras na execução dos fechamentos de forma adequada. O prazo para envio de sugestões vai até 22 de fevereiro de 2025.

Entre os pontos, estão a cobertura total das garantias em até 15 anos e a reavaliação do valor garantido a cada cinco anos.

Em Curitiba, o Parque das Pedreiras, onde está localizada a Ópera de Arame, abrigava uma mina que, por 30 anos, forneceu material para as empresas de construção civil da cidade

Um dos grandes entraves ao fechamento adequado dos projetos minerários no país é a falta de recursos e escassez de mão-de-obra técnica para uma fiscalização mais efetiva.

Esse dinheiro deveria vir da chamada Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM), uma contraprestação paga pelas companhias mineradoras pelo uso econômico dos recursos minerais. Responsável pela fiscalização, a ANM tem direito a um orçamento anual correspondente a 7% do CFEM — algo em torno de R$ 400 milhões anuais.

Atualmente, porém, os repasses chegam a, no máximo, R$ 90 milhões, por causa de contingenciamentos de recursos federais. E a agência conta hoje com 680 funcionários para atender todo o Brasil, quando deveria ter pelo menos o triplo desse número.

Para minimizar parte desse problema, a ANM lançou, em 22 de novembro, edital de concurso público para contratação de 40 analistas administrativos e 180 especialistas em recursos minerais. A ideia é melhorar a eficiência na fiscalização das mineradoras.

Os países mais avançados tanto na legislação quanto no controle das exigências para o fechamento de minas são Estados Unidos, Austrália e Canadá. As mineradoras são obrigadas garantir o dinheiro a ser usado no fechamento de uma mina, antes de abri-la.

Finalizar um projeto de exploração mineral não é fácil — como também não é iniciá-lo. Mas o trabalho deve ser encarado pelas mineradoras como uma nova fase do projeto. Um dos desafios refere-se à topografia da região onde as minas estão instaladas, em geral, muito acidentadas, explica o diretor do Ibram.

“Há casos em que as empresas fazem acordos com donos das áreas para saber como querem receber o local. E tentam pelo menos deixar a área mais uniforme, para que possam usar, por exemplo, na agricultura”, diz o executivo.

Outro ponto de atenção é em relação à drenagem ácida. Um dos impactos ambientais mais graves da mineração, trata-se de uma solução aquosa e ácida, proveniente do contato de minerais sulfetados com a água, muito comum em minas de ouro e de cobre.

As escavações mais profundas, frequentemente, atingem o lençol freático. Enquanto a área está em uso, a água é bombeada para fora da cava. Do contrário, é impossível trabalhar. Uma vez encerradas as operações, deixada a seu próprio curso, a água acumula e pode contaminar os mananciais hídricos.

“Para evitar que isso aconteça, é preciso construir estruturas de barragens, de modo a fazer o tratamento do material, incluindo a impermeabilização do espaço”, explica Nery.

Os parques das Mangabeiras e das Pedreiras estão aí para mostrar que as minas desativadas podem ter um bom destino. Um fim social e ambientalmente responsável.





Fonte: Neofeed

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Por que o Cinquecento elétrico virou o pesadelo da Stellantis

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A crise da Stellantis causada pelas baixas vendas do modelo elétrico Fiat 500e aprofundou o dilema vivido pela montadora desde a demissão do CEO Carlos Tavares, no início do mês.

O chefe da Stellantis Europa, Jean-Philippe Impparato, reuniu-se na terça-feira, 17 de dezembro, em Roma, com o ministro da Indústria da Itália, Adolfo Urso, e líderes sindicais para discutir medidas para aumentar a produção de carros da montadora no país.

Após o encontro, a Stellantis se comprometeu a investir € 2 bilhões na Itália no próximo ano e desenvolver um novo modelo popular. O plano também incluirá um número maior de modelos híbridos a serem fabricados na Itália.

Enquanto isso, a imprensa europeia repercutia uma promoção inédita de uma concessionária da Stellantis nos Estados Unidos que causou constrangimento aos italianos.

Preocupada com o encalhe de vendas do Fiat 500e nos EUA, uma concessionária de Aurora, no estado do Colorado, está anunciando uma promoção que prevê “aluguel de graça” do Cinquecento elétrico por 27 meses. Na verdade, os interessados terão de arcar com o pagamento de impostos e taxas, que totalizam US$ 62 por mês.

A oferta revela o fiasco de venda do Fiat 500e, um modelo compacto elétrico com apenas 400 unidades comercializadas nos EUA este ano. Suas características não se encaixaram no mar de modelos EV que estão inundando o mercado americano.

O 500e tem uma bateria de 42 quilowatts-hora que oferece até 240 quilômetros de alcance com uma carga. Seu preço inicial de venda, de US$ 34.095 (incluindo a taxa de destino de US$ 1.595) tampouco é competitivo – o tamanho pequeno e o alcance limitado do modelo o tornam perfeito para a condução urbana, mas também limitam seu público.

O contrato de arrendamento termina em 31 de dezembro e está disponível apenas para residentes no Colorado. Os locatários terão a opção de comprar o EV por US$ 17.388 assim que o contrato expirar.

Fiasco na Itália

As vendas baixas do modelo não se limitam aos EUA. A Stellantis tem lutado para vender a versão EV do popular modelo da Fiat desde o seu lançamento e, em setembro, a montadora – que tem em seu portfólio marcas globais como Peugeot, Citroën, Alfa Romeo, Chrysler, Dodge, Jeep, Lancia, Maserati e Opel, além da Fiat – decidiu paralisar a produção do Fiat 500e na planta de Marinelo, concentrando-a em Turim.

As taxas de utilização da montadora é a mais baixa da Europa, de apenas 64%. Nos EUA, é ainda menor, de 52%. O fiasco de vendas do Fiat 500e ameaçou os 40 mil funcionários da Stellantis na Itália, o que levou os sindicatos do país a exigirem mudanças na montadora.

Enquanto as montadoras de toda a Europa estão lutando com a diminuição da demanda por veículos elétricos e o aumento da concorrência de fabricantes chineses como a BYD, a situação da Itália foi agravada pela decisão de Tavares de transferir a produção de alguns modelos da Stellantis para países de baixo custo, como a Polônia.

Na semana passada, a Stellantis anunciou uma parceria com a CATL, maior fabricante de baterias do mundo, para abrir uma fábrica à base de lítio avaliada em € 4,1 bilhões (pouco mais de R$ 26 bilhões) em Zaragoza, no nordeste da Espanha. O objetivo é acelerar a transição de montadora para veículos elétricos.

“Após a renúncia de Tavares, a atmosfera mudou, e o plano de hoje prova isso”, disse o ministro Urso, na coletiva de imprensa. De acordo com o plano anunciado, a Stellantis prevê uma produção italiana de 500.000 veículos em 2025 e um aumento de 50% em 2026, para cerca de 750.000 unidades.

A Stellantis anunciou ainda que começará a fabricar veículos em uma nova plataforma em suas instalações no sul da Itália, em Pomigliano. Por sua vez, o governo liderado pela primeira-ministra Giorgia Meloni disse que está pronto para gastar mais de € 1 bilhão para o setor em 2025.



Fonte: Neofeed

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