Negócios
O pacotão da ISA Energia: novo nome e código na B3 (e R$ 14 bilhões em investimentos)
O ticker TRLP4 é um dos mais procurados pelos investidores que buscam empresas boas pagadoras de dividendos. No ano passado, os cerca de 340 mil acionistas minoritários da empresa de energia elétrica receberam R$ 1,45 bilhão em proventos. Mas quem for procurar agora esse código de negociação na B3 não vai mais encontrar.
A ISA Energia decidiu fazer um rebranding completo, que passou a valer em 18 de novembro deste ano. A ISA Cteep, nome adotado pela empresa colombiana Interconexión Eléctrica (ISA) após vencer o leilão feito em 2006 pelo governo de São Paulo em 2006 de concessão da Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (Cteep), deixou de existir.
A companhia tirou o Cteep da marca, adotou o ISA Energia e substituiu o ticker de negociação na bolsa de valores para ISAE4 – a prática de distribuição de proventos de, no mínimo, 75% do lucro líquido regulatório está mantida.
O que a princípio parece ser uma troca simples é, na verdade, parte da estratégia de negócio da empresa, que pretende ser vista e entendida como uma companhia nacional de transmissão de energia.
“A empresa não é mais só paulista, como o nome Cteep dizia. Ao contrário, temos investimentos importantes fora do estado de São Paulo. O nome não representava mais aquilo que a gente desempenha como companhia”, diz Rui Chammas, CEO da ISA Energia, ao NeoFeed.
Apesar de 90% da energia elétrica que circula pelo Estado de São Paulo ser da ISA Energia, os 23 mil quilômetros de linhas de transmissão da empresa estão em outros 17 estados. São 35 concessões, sendo que 28 estão operacionais.
Daqui até o fim de 2028, a ISA Energia fará um total de R$ 14 bilhões em investimentos. Desse montante, a maior parte, R$ 9 bilhões, será direcionada para concessões fora do estado de São Paulo.
Os projetos Serra Dourada, entre Bahia e Minas Gerais, e Itatiaia, entre Rio de Janeiro e Minas Gerais, estão em fase de licenciamento ambiental. Outros cinco estão em diferentes fases de obras, entre 30% e 95% de conclusão. Com os projetos greenfield da ISA Energia, o prazo médio de concessão é de 21 anos.
“Esses são investimentos que trazem novos fluxos financeiros para a companhia e fazem parte um elemento importante da nossa estratégia de longevidade corporativa”, afirma Chammas.
A concessão paulista, que deu origem à ISA, teve seu contrato renovado recentemente e vai até 2042. De 2023 até setembro deste ano, a companhia já investiu R$ 2,2 bilhões na modernização desses ativos. O plano da empresa é investir mais R$ 5 bilhões até 2028.
O motivo dessa necessidade de capital está na característica dos ativos, que vem dos anos 1970. Os equipamentos estão em fase final de depreciação e também de vida útil.
“Mapeamos quais ativos precisam ser trocados ou modernizados a cada momento. É nossa responsabilidade manter os ativos atualizados no estado que, não há como negar, é a locomotiva do PIB brasileiro”, diz o CEO da ISA Energia.
Em paralelo a esse trabalho de modernização do parque instalado, a ISA está de olho no crescimento dos data centers no País. Segundo o Ministério de Minas e Energia (MME), três Estados querem ser os hubs brasileiros para o armazenamento de dados: São Paulo, Rio Grande do Sul e Ceará. Em comum, todos precisarão de reforços nas linhas de transmissão pela alta demanda de energia elétrica.
Esse é o início de um projeto nacional de data centers que necessita de uma conexão de alta qualidade, pois eles se conectam diretamente na rede básica. E, ao contrário do planejamento de um sistema de transmissão tradicional, que leva anos, a rapidez para o atendimento é condição obrigatória.
“Num primeiro momento é para o mercado brasileiro, mas existe uma discussão de como fomentar, uma vez que o Brasil tem energia disponível, a chegada de mais data centers para exportar tratamento de dados para inteligência artificial”, afirma Chammas.
Em São Paulo, por exemplo, a ISA Energia projeta investimentos de R$ 600 milhões em reforços e ampliações para atender os 10 projetos de 1.607 MegaWatts (MW) aprovados pelo MME. Neste momento, há outros 12 em análise com necessidade de 1.878 MW.
A dívida e a bolsa
Com necessidade de capital intensivo, o endividamento vai determinar o nível de novos projetos para o portfólio da ISA em 2025. No fim do terceiro trimestre, a dívida líquida da companhia chegou a R$ 9,53 bilhões, um aumento de 23,5% sobre o mesmo período do ano passado. A alavancagem da companhia estava em 2,49 vezes.
“Quando a gente olha a previsão dos próximos anos, vai ter demanda de capital que vai pressionar a alavancagem de 2026 para 2027. Vamos ter cuidado para não trazer projetos que pressionem demais essa alavancagem”, diz Chammas.
A ação ISAE4 está em queda de 13% no ano e sendo negociada na faixa de R$ 31. O valor de mercado da companhia é de R$ 15,8 bilhões.
Em meados de julho deste ano, a Eletrobras vendeu 93 milhões de ações da ISA por R$ 2,2 bilhões, reduzindo de 35,7% para 21,6% a participação na companhia. A acionista majoritária é a colombiana ISA, com 35,8%.
O Citi, que deu início à cobertura da ISA Energia em novembro, com recomendação neutra e preço-alvo de R$ 26 (cerca de 16% abaixo do preço de tela) para o próximo ano, destaca que o principal risco para a empresa é a decisão futura da Eletrobras.
“Recentemente, a Eletrobras concluiu uma oferta secundária onde vendeu 93 milhões de ações ISAE4. Acreditamos que haja um risco relevante para a ISA, pois a Eletrobras tem a intenção de desinvestir totalmente na empresa”, escreveu o analista João Pimentel.
O fator clima
Os eventos climáticos e meteorológicos extremos acenderam o sinal de alerta em todas as empresas de energia do País. A ISA contratou um estudo, que está em fase final de conclusão, para entender o impacto nas linhas de transmissão.
Existem sete ameaças climáticas que podem afetar o negócio da transmissão: ventos, ondas de calor, incêndios florestais, tempestades, deslizamentos, aumento do nível do mar e inundações fluviais.
O estudo encomendado pela ISA mapeia algumas variáveis climáticas no horizonte de 2030, 2040 e 2050 no cenário de aquecimento global. O resultado está sendo cruzado com o georreferenciamento das linhas da companhia para identificar os riscos do evento climático comparado ao projeto de cada uma dessas linhas.
“A especificação de resistência aos ventos vem evoluindo. Estamos vendo se cada uma dessas linhas têm no seu projeto a capacidade de resistir ao vento projetado em cada região”, diz o CEO da ISA.
A ideia é se antecipar aos problemas como tem ocorrido no caso das queimadas. A empresa investiu R$ 27 milhões em prevenção e criou uma base avançada para combate na cidade piauiense de Eliseu Martins.
Negócios
O “show deve continuar” nas bolsas de valores globais (e o ouro será o hedge), diz UBS WM
A primeira metade da década de 2020 foi marcada por um forte desempenho do mercado de ações e das economias globais. Mesmo com a pandemia de Covid-19, guerras no Oriente Médio e na Ucrânia e alta dos juros, os mercados globais cresceram cerca de 50%, o PIB nominal dos Estados Unidos avançou mais de 30% e os lucros das companhias americanas avançaram quase 70%.
A situação fez muitos batizarem esse período de Roaring 20, traçando um paralelo com a década de 1920, quando o mundo vivia um momento de efervescência nas principais metrópoles.
Olhando para a segunda metade da década, algumas incertezas aparecem no horizonte. A principal delas é a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, que traz consigo promessas de tarifas de importação e posicionamento duro a respeito da imigração.
Apesar disso, o UBS Wealth Management (UBS WM) avalia que o “show deve continuar”, com os mercados seguindo fortes em 2025, principalmente as ações americanas – Brasil e América Latina não são contemplados no estudo.
“Com os mercados impulsionados pela queda das taxas de juros, crescimento econômico robusto e inovações [tecnológicas] transformadoras, nós esperamos que o S&P 500 alcance 6,6 mil pontos ao fim de 2025, um avanço de 10% em relação aos níveis atuais”, diz trecho do relatório da área de gestão de fortunas do banco suíço, que conta com cerca de US$ 3 trilhões em ativos sob gestão.
Ele destaca que os planos de cortes de impostos e desregulamentação ventilados pela equipe de Trump podem também oferecer um suporte para o mercado americano, ainda que a economia dos Estados Unidos registre desaceleração – o UBS WM projeta um crescimento perto de 2% no ano que vem, abaixo da alta de 2,7% esperada para 2024.
Se implementadas, as tarifas de importação devem resultar em volatilidade nos mercados europeus e da China, mas o UBS WM destaca que elas não deveriam ofuscar completamente os mercados fora dos Estados Unidos.
“Vemos valor em manter uma exposição diversificada na Ásia, excluindo o Japão”, diz trecho do relatório. “As exportações da Coreia do Sul e de Taiwan, cruciais para as cadeias globais de suprimentos, devem ser pouco afetadas pelas tarifas, considerando sua natureza de difícil substituição.”
A Índia também é vista como uma boa oportunidade de investimento, por conta das perspectivas apresentadas pela economia, com crescimento de 6,3% no ano que vem, que será puxado pelo mercado doméstico.
Mesmo sendo o principal alvo das tarifas americanas, que podem atingir até 60% no pior dos cenários, a China apresenta oportunidades, ainda que o crescimento não seja mais o mesmo de outros tempos. Para o UBS WM, a economia deve ser sustentada pelas políticas de estímulo do governo para lidar com o elevado endividamento, além das promessas do governo de implementar novos estímulos.
O UBS WM vê as ações de valor e de perfil mais defensivo se destacando, como nomes financeiros, utilities, energia e telecom. “Correções em nomes ligados à internet podem resultar em bons pontos de entrada para os investidores dispostos a segurar [as ações] por vários anos”, diz trecho do relatório.
O relatório também traz recomendações para a renda fixa. Com os bancos centrais cortando juros, a recomendação é buscar títulos com grau de investimento, que devem oferecer retornos atrativos neste cenário.
“Os fundamentos corporativos estão robustos, com a qualidade de crédito podendo ter uma deterioração limitada”, diz trecho do relatório. “E prevemos que o ciclo global de redução das taxas contribuirá para aspectos técnicos e fluxos de investidores, ajudando os spreads de crédito a permanecerem reduzidos.”
Se o tom, de maneira geral, é positivo, o UBS WM diz que o ouro deve permanecer em alta. Visto como um hedge no mercado, a commodity deve continuar em alta, considerando que os riscos permanecem, incluindo conflitos geopolíticos e a situação fiscal de muitos países avançados, incluindo os Estados Unidos.
“Nós mantemos nossa projeção de US$ 2,9 mil a onça ao final de 2025 e continuamos a recomendar uma alocação de cerca de 5% para diversificação”, diz trecho do relatório.
Negócios
Por que a JBS resolveu entrar na Nigéria? Tomazoni conta os detalhes
A JBS assinou na noite de quinta-feira, 21 de novembro, um memorando de entendimento com o governo da Nigéria que prevê investimentos de US$ 2,5 bilhões em cinco anos e a construção de seis fábricas, marcando a entrada da companhia na África, um dos maiores mercados do mundo.
A escolha da Nigéria é estratégica. O país é o mais populoso e a maior economia da África, com um PIB de US$ 363,2 bilhões, que pode chegar a US$ 1 trilhão em 2050, e conta com 250 milhões de habitantes.
“Nós não temos um pé na África hoje de produção. Mas a gente sabe que a população vai crescer, a África subsaariana é uma das grandes vertentes de crescimento da população. Em algum momento, nós estaríamos lá para porque vai ter o consumo lá”, diz Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS, em entrevista ao NeoFeed.
A JBS irá desenvolver um plano de investimento de cinco anos, que abrangerá estudos de viabilidade, projetos preliminares das instalações, estimativas orçamentárias e um plano de ação para desenvolvimento da cadeia de suprimentos.
O governo da Nigéria, por sua vez, assegurará as condições econômicas, sanitárias e regulatórias necessárias para a viabilização do projeto. O documento prevê a construção de seis fábricas — três de aves, dois de bovinos e uma de suínos — a notícia foi publicada, em primeira mão, pelo Brazil Journal.
Atualmente, a produção de proteína no país responde por 10% do PIB, mas apenas 40% é suprido pela demanda doméstico. O objetivo da JBS é também melhorar a segurança alimentar, bem como reduzir significativamente as importações, gerando empregos locais e apoiando milhões de pequenos produtores.
“O nosso objetivo é participar, colaborar, apoiar no desenvolvimento de toda a cadeia de produção, usar as nossas melhores práticas e, com isso, ajudar a promover o desenvolvimento da produção de proteína animal”, afirma Tomazoni
Nesta entrevista ao NeoFeed, que você lê a seguir, Tomazoni responde as razões pelas quais a JBS resolveu investir na Nigéria.
Você tem falado muito sobre a vantagem competitiva da JBS de ter uma plataforma global, com operações em muitos países. A entrada na Nigéria faz parte desse plano de expansão global?
Ele faz parte, mas não é a razão principal. Nós não temos um pé na África hoje de produção. Mas a gente sabe que a população vai crescer, a África subsaariana é uma das grandes vertentes de crescimento da população. Em algum momento, nós estaríamos lá para porque vai ter o consumo lá. Mas o que mais nos movimentou é que nós temos como missão a segurança alimentar no mundo. A gente tem que contribuir para reduzir a miséria e garantir a segurança alimentar. O trabalho que fizemos no B20 (braço empresarial do G20) deixou claro que 65% dos adultos que estão na pobreza vivem da agricultura. A Nigéria está se movimentando no sentido de se trabalhar a questão da segurança alimentar no país e é o momento de a gente fazer parte disso.
De que forma?
O nosso objetivo é participar, colaborar, apoiar no desenvolvimento de toda a cadeia de produção, usar as nossas melhores práticas e, com isso, ajudar a promover o desenvolvimento da produção de proteína animal. Junto, vai vir a produção de grãos, vai levar o desenvolvimento da agricultura, de uma cadeia logística inteira. Você vai construindo todo o desenvolvimento social a partir de uma forma de produzir alimentos.
Mas te coloca também em uma posição estratégica, não? Você está unindo o útil ao agradável…
O jeito que nós entendemos que a gente consegue promover o bem-estar social e o desenvolvimento social é através da geração de riqueza. A geração de riqueza exige que a gente produza mais com menos, que aumente a produtividade. Vamos promover isso através dos nossos investimentos e do nosso conhecimento.
Mas essa base que está sendo montada na Nigéria pode ser expandida para o restante da África?
Com certeza. É o primeiro movimento que estamos fazendo no continente africano e que vai se irradiar ao continente inteiro no decorrer do tempo. Quanto mais bem-sucedidos forem esses investimentos, mais rápido será a expansão.
Como foi essa aproximação com o governo da Nigéria?
Fomos procurados por empresários nigerianos junto com o governo da Nigéria, que quiseram conhecer o nosso modelo de negócio, a empresa. Estiveram em duas fábricas nossas e nós tivemos oportunidade de mostrar como é que fazemos e como promovemos o aumento de produtividade, o aumento do bem-estar social dos pequenos produtores. Isso une à estratégia do governo da Nigéria. Eles têm 250 milhões de habitantes e, segundo estimativas da ONU, em 2050, terão 400 milhões de pessoas. O governo tem que promover a produção. Eles só produzem 40% do que eles consomem.
Esse investimento de US$ 2,5 bilhões é 100% da JBS?
Vamos para lá no começo do próximo ano, o governo vai nos ajudar com as informações necessárias e faremos um business plan. O governo se mostrou propenso a participar dos investimentos, se mostrou propenso a criar mecanismos financeiros necessários, aos incentivos que forem necessários, a criar condições sanitárias regulatórias para que a gente possa operar lá gerando riqueza para todos os stakeholders envolvidos nesse processo. Tudo isso será construído. O que concordamos é que seremos agentes para ajudar na transformação dos processos e de uma cadeia de alimentos mais sustentável, mais produtiva e que promova segurança alimentar.
A produção de bovinos deles é grande?
É pequena e inclusive as informações sobre o tamanho da produção não são tão claras. A gente sabe que Lagos tem 25 milhões de habitantes e que eles têm abate de bovino lá. Eles querem construir rodovias cruzando o país. Tem um projeto de rodovias cruzando o país e essas plantas podem se colocar próximas dessa região para permitir o transporte.
Como é o consumo lá?
Tem 24,8 milhões de pessoas que passam fome. O consumo de carne de frango é menor que três quilos per capita. Aqui no Brasil eu estou falando de 45 quilo per capita. Então, a gente obviamente tem tudo para se fazer ali naquele país. O que vai acontecer é que seremos agentes promotores da segurança alimentar. E se a gente quer paz no mundo, terá de alimentar as pessoas. Com fome, não tem como dizer que vai existir paz.
É uma grande oportunidade de negócio também. Vocês vão entrar em um mercado, praticamente virgem, e moldar do jeito que imaginam, não é?
Sem dúvida. Tem uma parte social importante, mas tem uma parte econômica relevante. Ao estar lá, você consegue estabelecer sua marca, você vai levar os padrões de produtividade, os padrões sanitários. Seremos parte de uma da construção de um futuro melhor para as pessoas, para o país e para as empresas.
Negócios
“Overdose” fiscal mobiliza equipe econômica e engessa mercado
Truncada por um feriado com a paralisação dos mercados nos EUA pelo Dia de Ação de Graças na quinta-feira, 28 de novembro, e queda na liquidez global e local, a quarta semana do mês será pautada pela política fiscal que volta a ser protagonista no Brasil após a conclusão da intensa agenda da Cúpula do G20.
As medidas que preveem corte de gastos seguem em destaque no Executivo, enquanto o Congresso, que ainda precisa votar a Lei de Diretrizes Orçamentárias e a proposta de Orçamento para 2025, deve apressar os trabalhos para, em seguida, deflagrar a contagem regressiva para o recesso parlamentar que tem início em 23 de dezembro e termina em fevereiro.
Em breve, portanto, o clima será de fim de festa e novembro deverá desembarcar do calendário com uma “overdose” de dados fiscais a ser disparada a partir de sexta-feira, 22 de novembro, com a divulgação do Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas no 5º bimestre.
Ocasião em que bloqueio e/ou contingenciamento de despesas podem ser anunciados, mirando o cumprimento da meta fiscal fixada em zero neste ano, mas com a possível utilização da margem de tolerância de déficit equivalente a 0,25% do PIB (R$ 28,8 bilhões este ano) autorizada pelo arcabouço fiscal. Na quinta-feira, 21 de novembro, o ministro Fernando Haddad antecipou que, desta vez, haverá um bloqueio de R$ 5 bilhões no Orçamento.
Se não sofrer atraso pela recorrente mobilização de servidores por reajuste salarial e estruturação de carreiras, o Tesouro divulgará na quarta, 27, o Relatório Mensal da Dívida Pública de outubro. E, no dia seguinte, 28, o resultado das contas do governo central – critério que reúne Tesouro, Banco Central e Previdência. Na sexta-feira, 29, é a vez de o BC publicar o desempenho das contas públicas consolidadas. Também de outubro.
Insumo para uma miríade de projeções de mercado, todos esses documentos são relevantes. Porém, neste momento, o pacote de medidas de corte de gastos, que deve mirar 2025 e 2026, é um concorrente de peso.
É imensa a expectativa no mercado com essas medidas que já passaram por prolongada discussão dentro do governo, capitaneadas pelo presidente Lula, mas com desfecho atropelado pela Cúpula do G20. A reunião de chefes de Estado e de Governo, além de privilegiar obviamente uma agenda global, deslocou para o Rio de Janeiro a base do governo brasileiro que tende a estar novamente alinhada para uma semana “cheia”, na segunda, 25 de novembro.
É fato que as propostas para limitar a expansão das despesas podem ser anunciadas a qualquer momento. Mas sob o risco de serem ofuscadas pela arrecadação federal – divulgada na quinta-feira, 21 de novembro – renovando recordes. Em outubro, a expansão real foi de 9,77% e, em dez meses, de 9,69%, saltando a R$ 2,182 trilhões.
Trâmite no Congresso recomenda cautela
Embora amplamente aguardadas, as medidas de corte de gastos terão longo caminho a percorrer para se tornarem efetivas porque deverão ser encaminhadas ao Congresso na forma de Proposta de Emenda à Constituição e Projeto de Lei – sinalização dada há tempos pelo ministro Fernando Haddad.
Esse trâmite congressual conhecido sugere, a priori, que as propostas dificilmente serão aprovadas a toque de caixa ou na íntegra. Porém, prevalece a expectativa de que as medidas reforçarão a âncora fiscal tendo, portanto, uma repercussão positiva, avaliam economistas de instituições financeiras. No mínimo, porque o prometido terá saído do papel.
Já o impacto nos preços dos ativos poderá ser limitado, dada a demora do governo em obter consenso entre os ministros, sobretudo da área social e militar, para amarrar as decisões. E pela necessidade de análises mais detalhadas das medidas por especialistas do mercado e da academia.
Nesse contexto, a expectativa é de que efeitos do anúncio do pacote nos preços dos ativos sejam pontuais. E as atenções deverão se concentrar no dólar que segue forte no exterior, ante a escalada do conflito Rússia-Ucrânia. Fator que leva bancos e consultorias a revisarem suas projeções sem esboçar, por ora, confiança no fortalecimento do real.
Mas as revisões também levam em conta incertezas fiscais locais e, adicionalmente, a mutação em curso nas duas maiores economias do planeta. A China tem anunciado estímulos fiscais pesados à atividade, mas sem convencer investidores de que conseguirá dar fôlego ao PIB que perde tração.
Os EUA, por sua vez, trocarão de governo, em 20 de janeiro, com Donald Trump fortalecido pela conquista da Câmara e Senado pelo Partido Republicano – uma composição de poder que reforça o perfil protecionista e expansionista em termos fiscais e inflacionário da nova gestão.
Em meio a essa somatória de eventos, as projeções para o dólar avançam e arrastam prognósticos para juro e inflação. Embora a última edição da Focus aponte estimativas medianas de, respectivamente, R$ 5,55 e R$ 5,48 para o final de 2024 e 2025, instituições não descartam R$ 5,70 para os dois períodos.
Esse patamar já foi incorporado aos cenários da XP, LCA e Itaú Unibanco que justifica o ajuste – vindo de R$ 5,40 para 2024 e R$ 5,20 em 2025 – “por incertezas fiscais locais somadas às externas, com perspectiva de um dólar mais forte globalmente e a despeito do aumento do diferencial de juros”.
Diferencial em expansão apesar da perspectiva de corte mais lento e provavelmente menor do juro americano pelo Federal Reserve a ser compensado, porém, pela alta prolongada ou mais forte da Selic pelo Banco Central do Brasil.
Nos EUA, a resiliência da economia não apressa cortes. No Brasil, a desancoragem das expectativas de inflação, que flerta com 4,8% em 2024 e até 5% em 2025, incentiva a alta da Selic ao refletir câmbio pesado e atividade robusta com aumento do PIB para até 3,3% ou mais este ano. E queda menos acentuada no próximo.
Resultado: a curva de juros indica que a Selic poderá arranhar 13% ao final do ciclo de aperto monetário, mantendo distante a “melhor” aposta para a retomada de cortes – outubro de 2025. Antessala do eleitoral 2026.
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