Negócios
O plano de Renan Filho, ministro dos Transportes, para acabar com as “ferrovias de papel”
O ministro dos Transportes, Renan Filho, acredita que a ampliação e modernização da malha ferroviária brasileira só virá com aporte do governo ao setor privado nos projetos, pois o custo de construir uma ferrovia é proibitivo.
“É isso que vamos fazer, mas para isso preciso de mais dinheiro, usando o ativo público federal”, diz Renan Filho, em entrevista ao NeoFeed, concedida durante evento do grupo Esfera, realizado no fim de semana passado no Guarujá, litoral de São Paulo.
A malha ferroviária brasileira tem 30.653 km de extensão, dos quais 18,5 mil km se encontram ociosos, o que dá uma ideia do desafio do atual governo. “Ferrovia só anda com leilões mais modernos, garantindo um aporte ao setor privado para transformar o VPL negativo para um positivo”, afirma, referindo-se ao Valor Presente Líquido (VPL), fórmula para identificar o valor presente de pagamentos futuros.
O ministro tem uma estratégia muito clara para levantar esses recursos: obter entre R$ 25 bilhões e R$ 30 bilhões com a renegociação de concessões antecipadas fechadas pelo governo anterior, cujos valores obtidos a gestão atual considera muito abaixo do valor dos ativos.
Aos 44 anos, Renan Filho é um crítico mordaz das chamadas “ferrovias de papel” – projetos oriundos das autorizações ferroviárias do governo anterior que ainda não saíram do papel. O novo modelo é elogiado por especialistas para servir de alternativa às concessões, abrindo ao setor privado a possibilidade de construir e operar trechos sem a burocracia e controle do Estado.
Mas, dos 45 contratos de autorizações ferroviárias aprovados, que prometem R$ 241,14 bilhões em investimentos para explorar 12.546 km de trilhos, apenas dois começaram a sair do papel.
De acordo com o ministro, faltaram justamente aportes para o setor privado tocar projetos ferroviários, que demoram e são onerosos. “Como nos projetos do governo anterior o Estado nunca botava nada, eles não andaram”, diz Renan Filho.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
O senhor criticou recentemente o governo anterior, que prometeu investimentos bilionários para construir milhares de quilômetros de linhas férreas, mas a maioria dos projetos ainda está no papel. Por quê?
A resposta é bem simples: se os projetos não andam é porque ferrovia no mundo inteiro precisa de recurso público para deixar o VPL positivo. Em um investimento em infraestrutura pesada, como de ferrovia, para deixar o VPL positivo, é preciso ter um abatimento de capex colocado pelo Estado. Apenas por isso. Como nos projetos do governo anterior o Estado nunca botava nada, eles não andaram.
E agora: o cenário por acaso mudou?
Agora, eu não permiti que entregassem o ativo público federal como eles entregaram em renovação antecipada e estamos renegociando entre R$ 25 bilhões e R$ 30 bilhões, um valor maior que o Tesouro propõe para esse ano, que serão usados para aportes.
Não é muito dinheiro esses R$ 25 bilhões ou mais que virão da renegociação da antecipação de renovação das concessões ferroviárias feitas pelo governo anterior?
O que justifica o valor do ativo público federal proposto na renovação antecipada? Se o governo fosse construir hoje uma ferrovia como a de Carajás, gastaria R$ 60 bilhões. O contrato de concessão de Carajás com a Vale acabaria em 2027 e esses R$ 60 bilhões voltariam para o governo, para leiloar à iniciativa privada. Só que o contrato foi renovado antecipadamente, com outorga de R$ 600 milhões. É muito pouco.
Como o governo pretende usar esses R$ 25 bilhões ou mais para novos projetos?
A gente acredita que um aporte de 20% desse valor transforma um VPL negativo em positivo. Se isso for verdade em leilão, porque vai ter que ser verificado empiricamente em leilão, podemos levantar até R$ 125 bilhões para obras, desde que eu bote os meus R$ 25 bilhões. E aí você transforma só o que já tem.
“A gente acredita que um aporte de 20% desse valor transforma um VPL negativo em positivo. Se isso for verdade em leilão podemos levantar até R$ 125 bilhões para obras”
Por que o governo anterior não fez dessa forma?
Porque não queria fazer ferrovia, ele queria fazer a ferrovia de papel.
Desde o início do atual governo, quais projetos efetivamente saíram do papel?
Ferrovias são obras que demoram. Mas entregamos a Ferrovia Norte-Sul, em que o presidente Lula e a ex-presidente Dilma fizeram 90% das obras nos mandatos anteriores e os outros, somados, fizeram 10% – incluindo o ex-presidente José Sarney, que deu início ao projeto. A FICO, em Goiás, está andando e tem também a Transnordestina, ferrovia de R$ 7 bilhões que hoje já está com obra retomada, a qual estamos aplicando R$ 1 bilhão por ano. Esta semana vamos assinar contrato de R$ 350 milhões e investimentos públicos na FIOL, licitado pela Infra S/A.
O que falta para aumentar os investimentos?
Ferrovia só anda com leilões mais modernos, garantindo um aporte ao setor privado para transformar o VPL negativo para um VPLO positivo. É isso que vamos fazer, mas para isso preciso de mais dinheiro, usando o ativo público federal.
Como viabilizar esse avanço?
Vou dar o exemplo da compra de uma nova residência. O primeiro esforço é o de vender onde se vive, por um preço justo – o maior que puder obter para dar de entrada na casa nova – e pagar a diferença parceladamente. Para construir novas linhas, precisamos pegar as ferrovias que temos, valorizar o ativo, receber um dinheiro por ele, aplicar nas novas ferrovias e pagar a diferença. O que é que fizeram no passado? Pegaram as quatro mais produtivas ferrovias do Brasil e entregaram quase de graça.
Temos 18 mil quilômetros de ferrovias ociosas. Como recuperar esses ativos?
Não temos ferrovias ociosas, temos ferrovias ineficientes. Sabe aquele trem que passava nas cidades pequenas, andando a 10 quilômetros por hora? Pois bem, aquilo não concorre hoje nem com van, muito menos com caminhão. Por isso, o modelo quebrou, por obsolescência. Ficou obsoleto.
“Não temos ferrovias ociosas, temos ferrovias ineficientes. Sabe aquele trem que passava nas cidades pequenas, andando a 10 quilômetros por hora? Pois bem, aquilo não concorre hoje nem com van”
Por que essas ferrovias ociosas não podem ser reconstruídas?
Porque elas passam dentro das cidades. Hoje, o trem tem de andar com carga pesada a 80 km/h, se não ele não concorre com caminhão. Se o trem não andar 80, 70 km/h, o transportador prefere botar a carga no caminhão. O trem é cintura dura: ele só pega aqui e entrega ali. E o caminhão pega em qualquer canto e entrega em qualquer lugar. Você imagina a dificuldade dessa competição? Além disso, uma obra ferroviária custa bilhões de reais. Já um caminhão pode ser comprado financiado pelo Finame, no BNDES. O empresário paga pouco: compra e vai pagando ao longo do tempo. Aquele saudosismo é porque as ferrovias ficaram obsoletas, não conseguem mais competir.
O que é preciso então para construirmos ferrovias competitivas?
Para ter ferrovias adequadas, é preciso velocidade alta, o que exige várias outras coisas como unificar bitola e ter declividade máxima de 0,5% – se for superior a isso não se consegue engatar muitos trens. Sabe por que o Brasil fez mais ferrovias no Império do que na República?
Não, por quê?
Porque não havia carro. Economicamente as opções eram ir a pé, de carroça ou de trem. Quando surgiu o automóvel, nenhuma senhora de engenho preferia ir de trem do interior para a capital. Brasileiro gosta de andar de trem na Europa, mas se ele for rápido. Trem rápido aqui precisa do dinheiro do governo para equilibrar o VLP.
Muitos empresários do setor de cargas reclamam que o minério responde por 75% do que é transportado por ferrovias. Como aumentar a diversificação, incluindo estimular os concessionários a permitirem o direito de passagem?
É difícil liberar o direito de passagem nas ferrovias da Vale, por exemplo, porque ela utiliza 95% da capacidade. Então se for imposto direito de passagem na malha da empresa ou ela teria de diminuir a exportação de minério ou não autorizá-lo porque já usa toda a capacidade.
Por que quase 80% do que é transportado pela malha ferroviária é só minério?
É uma discussão interessante. Na verdade, é mais fácil rentabilizar uma ferrovia com minério. Equilibrar o VPL com o minério é mais tranquilo do que equilibrar uma ferrovia com carga geral, pois o transportador tem de ir atrás do fabricante de televisão ou de geladeira para botar na ferrovia, para trazer para o porto. Ferrovia serve, sobretudo, para levar para o porto. E o Brasil não é exportador de manufatura, e sim de commodities.
Negócios
PIB menor e inflação mais alta: o impacto das tarifas de Trump nos EUA
O presidente americano Donald Trump completa exatas duas semanas de seu segundo mandato na Casa Branca nesta segunda-feira, 3 de fevereiro. E, em pouco tempo, já conseguiu chacoalhar os mercados globais ao começar a cumprir parte de suas promessas de campanha.
A mais recente movimentação dessa agenda veio à tona no sábado, 1 de fevereiro, quando ele anunciou a imposição de uma tarifa de 25% para produtos importados do México e do Canadá, além de uma alíquota de 10% para itens da China. As taxas entram em vigor a partir da terça-feira, 4 de fevereiro.
“Haverá alguma dor? Sim, talvez (e talvez não!). Mas faremos a América grande novamente e tudo isso valerá o preço que deve ser pago”, postou o presidente americano na Truth Social, rede social de sua propriedade, no domingo, 2 de fevereiro.
Ainda não é possível determinar o tamanho dessa conta. Mass em um termômetro das primeiras reações ao início dessa “nova guerra comercial” anunciada por Trump, o portal americano Yahoo Finance compilou algumas análises feitas por bancos e nomes relevantes de Wall Street.
“Nossos economistas esperam que as tarifas totalmente implementadas tenham consequências significativas”, escreveu o time de research de políticas públicas do Morgan Stanley projetando que o crescimento dos Estados Unidos pode ser de 0,7% a 1,1% a menos nos próximos três a quatro trimestres.
Ao estimar um aumento de 40 pontos-base na inflação americana no segundo semestre, a equipe de economia do Evercore ISI disse que o crescimento do país provavelmente sofrerá um “golpe”, à medida que os países se “afastam das exportações dos EUA, o investimento cai e o emprego diminui”.
Já o estrategista da Evercore ISI China, Neo Wang, ressaltou que o momento escolhido por Trump para o anúncio – o feriado do Ano Novo Chinês – provavelmente ofendeu tanto o governo quanto o povo chinês. E que ele roubou a atenção com suas “tarifas destruidoras de riqueza”.
Mas fez uma ressalva: “Essa primeira taxa de 10% parece, pelo menos, ter como objetivo ganhar vantagem na negociação no TikTok ou forçar Pequim a se sentar à mesa se a negociação ainda não tiver começado”, observou Wang.
Estrategista de casa de research 22V, Michael Hirson, por sua vez, entende que Trump acabará impondo, mais cedo ou mais tarde, tarifas adicionais sobre as importações da China, além desses 10% iniciais.
“A predileção de Trump por tarifas, a ótica de um déficit muito grande com a China e a política interna de mirar na China tornam improvável que ele pare aqui”, afirmou Hirson. “Não descartamos a possibilidade de um acordo comercial EUA-China, embora vejamos a barra política como bastante alta, especialmente neste primeiro ano de Trump 2.0.”
Quanto ao Canadá e ao México, as projeções a partir desse anúncio apontam para a probabilidade de uma recessão “iminente”. Para Jim Reid, estrategista do Deutsche Bank, os dois países podem testemunhar um choque maior do que o Brexit foi para o Reino Unido.
Ele também reservou espaço para comentar as críticas feitas por Trump à Europa e o discurso do presidente americano que coloca o Velho Continente como um dos próximos alvos dessa política de aumento de tarifas.
“Embora as tarifas não tenham sido cobradas da União Europeia, isso ainda é um golpe sério, dado o que provavelmente está por vir. Além das tarifas diretas, muitas montadoras alemãs atendem ao mercado dos EUA via México, onde produzem bens finais e/ou intermediários”, observou Reid.
O estrategista do Deutsche Bank acrescentou ainda que, embora os Estados Unidos estejam menos expostos às tarifas de retaliação anunciadas até o momento pelo Canadá e o México por conta do tamanho da sua economia, seria possível esperar que “vários décimos” fossem cortados do PIB americano.
Sob outra ótica, Jim Duffy, analista do Stifel, ressalta que quase todos os calçados e vestuários vendidos nos EUA são importados. E que as tarifas anunciadas no sábado provavelmente vão impactar o P&L das empresas a partir do segundo trimestre, com reflexos para todo o ano de 2026.
Duffy observa ainda que, em antecipação a tarifas potenciais, as empresas irão realinhar as cadeias de suprimento para minimizar as importações de países com alíquotas mais elevadas, adicionando risco operacionais potenciais.
“Para a maioria das empresas em nossa cobertura, a exposição direta às importações desses países é mínima. No entanto, o risco secundário de inflação e pressão relacionada sobre gastos discricionários é uma consideração”, escreveu o analista.
Negócios
Gerdau investe R$ 3 bi em energia limpa, aumenta fatia em comercializadora e prepara mais M&As
Quinta maior empresa consumidora de energia do Brasil, a gigante do aço Gerdau quer ser também uma companhia gigante na produção de energia sustentável. Para isso, encontrou dois caminhos: o primeiro deles é comprar ativos para ser dona da própria produção de energia. O segundo é ser, de forma indireta, também comercializadora e vender ao mercado a energia produzida a partir de fonte solar.
Nos últimos 12 meses, a empresa investiu mais de R$ 3 bilhões na construção de dois parques solares e na aquisição de PCHs (pequenas centrais hidrelétricas). E, em 2025, já decidiu que vai comprar outras hidrelétricas e avançar em parques eólicos. Com as iniciativas, a Gerdau já conta com 52% de sua energia oriunda de fonte renovável e certificada. O objetivo é chegar a 80% até 2031.
“O investimento em ativos de energia renovável está alinhado à estratégia da Gerdau de gerar maior competitividade no custo dos seus negócios, aumentando a autoprodução de energia limpa, e em linha com o processo de descarbonização já divulgado pela companhia”, diz o CEO da Gerdau, Gustavo Werneck.
No início deste ano, a empresa inaugurou o parque solar Arinos, em Minas Gerais, que foi anunciado em 2023 e que resultou em investimentos de R$ 1,5 bilhão. A produção pode chegar a 420 megawatt-pico (MWp). A capacidade fotovoltaica equivale a 7% do consumo de energia anual da Gerdau, que consome 6 mil MW por ano. Do volume produzido no parque solar, 30% irá abastecer diretamente as fábricas da Gerdau.
Em 21 de janeiro, a companhia comprou da Atiaia Energia as empresas Rio do Sangue e Paranatinga Energia, donas de duas PCHs no Mato Grosso, por R$ 440 milhões. As hidrelétricas fornecerão energia renovável para as unidades produtivas da Gerdau, no regime de autoprodução, em um montante equivalente a 8% do consumo de energia das operações da empresa no Brasil. As duas possuem capacidade instalada de 29 megawatts (MW) cada uma.
“Elas fazem parte da estratégia da Gerdau de buscar ser cada mais vez mais produtor de energia limpa. Por isso, essa aquisição das duas hidrelétricas passa a ser muito significativa, que vai nos ajudar a ser mais competitivo no processo produtivo de aço”, diz Flávia Souza, diretora global de energia e suprimentos da Gerdau.
Se, estrategicamente, buscar soluções com menos pegada de carbono são benéficas para a própria imagem do negócio, fato é que a energia limpa de autoprodução custa menos. É uma decisão que mexe no bolso. “Quando falo que ela é competitiva, quero dizer também que ela é mais barata. A energia limpa produzida por nós custa 30% menos”, diz Souza. “Nosso processo é muito intensivo em energia.”
Em 2025, a Gerdau irá realizar mais M&As de empresas que produzem energia limpa. “Temos interesse de continuar prospectando a compra de ativos de energia. Continuamos olhando o mercado e pode ser que a gente faça mais aquisições para complementar nosso portfólio e alcançar nossa meta até 2031”, afirma Souza.
A executiva entende que, com os novos parques solares, agora é necessário diversificar um pouco mais a origem dessa energia limpa. “Nossa matriz solar está bem cheia. Então, queremos sim fazer uma diversificação de fonte. E não adianta comprar de empresas que já tenham esse ativo contratado. Queremos essa energia para Gerdau.” Por isso que, no horizonte, estão mais hidrelétricas e as produtoras de energia por meio de vento.
Com as entregas dos novos parques solares, a matriz de energia a partir da luz do Sol irá corresponder a 60% do total da energia renovável consumida pela empresa. A fonte hidrelétrica representa 16%. “O momento agora é de discussão sobre a alocação de investimentos da Gerdau. E energia está dentro disso.”
Aumento de participação na comercializadora
A empresa também anunciou recentemente a ampliação da participação acionária da Gerdau Next (braço de novos negócios da companhia, criado em 2020) na Newave Energia, empresa focada em energia renovável. Hoje, a subsidiária da companhia de aço é dona de 40% da empresa. Antes, esse índice era de 33,33%. A Newave Energia é uma joint-venture criada pela Gerdau e Newave Capital.
Na prática, isso vai representar maior participação no projeto de construção do parque solar Barro Alto, em Goiás, em um investimento de US$ 1,3 bilhão. A usina deverá entrar em operação no início do ano que vem e terá capacidade de produção de 452 MWp, ainda maior do que a unidade mineira.
O volume de energia gerado pelo parque goiano teria condições de suprir o consumo de uma cidade com 365 mil habitantes (o tamanho de Blumenau, por exemplo). Serão 731 mil painéis solares distribuídos em uma área de 800 hectares.
“O plano está traçado e faz parte de uma estratégia de longo prazo. Em 2022, a gente iniciou a parceria da Gerdau Next para trazer energia renovável e competitiva, como uma linha de negócios. Em outra ponta, direto pela Gerdau, as ações têm sido no sentido de ser uma autoprodutora de energia, para o próprio consumo”, diz Flávia, que também integra o Conselho da Newave.
Nesse sentido, a executiva reconhece o interesse da subsidiária da Gerdau em comercializar energia para o mercado, o que pode incluir até suas concorrentes. “A Gerdau Next, sim, tem interesse, via sua participação na Newave, em fazer a comercialização de energia”, afirma.
Com a nova configuração acionária, a Gerdau terá direito a 40% de toda a energia solar produzida no parque de Goiás. E também terá sua participação na receita dos 60% restantes, que serão comercializados. “O objetivo principal é ter uma energia competitiva e limpa. E, como consequência, a empresa é dona de um negócio que vende essa energia. Com isso, aumentamos nossa receita e nosso retorno.”
Ela diz, no entanto, que não há intenção de, com a Newave, a Gerdau ser uma grande concorrente de empresas como Enel, Engie ou Eletrobras. “Mas é fato que temos uma empresa que tem um plano de negócios, e um portfólio para oferecer ao mercado.”
Negócios
Nas empresas familiares, os herdeiros estão indo para o conselho antes de assumir a gestão
O que Magalu, Votorantim, Gerdau, JBS, Safra, Marfrig e Weg têm em comum? Além de serem companhias brasileiras extremamente robustas em seus segmentos, elas possuem o DNA familiar na formação de suas histórias. Ainda que com executivos de mercados em posições estratégias, a maior parte delas é dirigida por integrantes de familiares ligados aos fundadores.
Mas qual é o segredo para que essas empresas, geridas por familiares, tenham sucesso? E, mais do que isso: como garantir a perenidade dos negócios? Esses talvez sejam os principais desafios das empresas familiares brasileiras.
Fato é que, ainda que com esses grandes cases de sucessos, os números trabalham contra essa realidade. Levantamento realizado pelo Banco Mundial mostrou que apenas 30% das empresas familiares chegam à terceira geração. E apenas 15% sobrevivem a essa sucessão. E o principal motivo é a falta de planejamento sucessório.
Segundo a 11ª Pesquisa Global sobre Empresas Familiares da PwC, somente 24% das companhias familiares se preparam para a sucessão. O resultado são conflitos entre os integrantes da família. E, por consequência, da empesa. O problema é que, sem a clareza de uma liderança, a empresa acaba vendida ou até mesmo indo à falência.
“O grande desafio das empresas familiares é separar as três caixinhas de cada um como família, como sócio e como funcionário. Nem todo mundo tem perfil para ser funcionário, muito menos executivo. Mas todos devem saber cobrar os executivos por resultados como sócios. E isso não pode afetar a relação familiar entre eles”, diz Gilson Faust, sócio da consultoria GoNext, que atuou em mais de 200 sucessões familiares.
Uma ideia está começando a ganhar corpo no mundo corporativo: o conselho de herdeiros. Na prática, são como conselhos de administração, mas que reúnem herdeiros de todas as idades. O objetivo é ensinar sobre o papel de sócios, discutindo questões da empresa e entendendo se possuem o perfil para serem executivos ou não.
No conselho, os herdeiros têm como principal objetivo aprenderem sobre a empresa e seus valores, o mercado que está inserida e seus desafios e oportunidades, além de começarem a acompanhar os resultados da empresa para aprendem a sua futura função de sócios e seus deveres e responsabilidades.
Isso já acontece na rede de supermercados Jacomar, uma das maiores redes de supermercados de Curitiba, fundada em 1966, que já passou de forma organizada para a segunda geração composta por oito irmãos, e que tem 20 pessoas da terceira geração que compõe o conselho de herdeiros.
Priscila Fantin, 27 anos, economista e especialista em gestão empresarial, é uma delas. Primeiro trabalhou no mercado e depois foi para a empresa da família, onde está há sete anos como analista de controladoria. O seu pai é o atual CEO da empresa, mas isso não muda a trajetória que ela precisa seguir na empresa. Ela veio para a área porque havia a vaga e ela tinha a experiencia.
“Nós já não tivemos o contato com os fundadores como a segunda geração, então muito do que fazemos é ver quais são os valores da empresa e como modernizar isso para os novos tempos. E levamos essa ideia para os sócios atuais”, afirma Fantin.
As reuniões do conselho são mensais e híbridas, para contemplar tanto os herdeiros que trabalham na empresa como os que não e estão em outra cidade ou país. Os herdeiros mais atuantes também passam a partilhar das reuniões do Conselho de Administração da empresa como ouvintes para ficarem por dentro das questões atuais, e também absorverem conhecimento para o momento em que passarem a atuar de forma definitiva na empresa.
A família Nichele, dona da Nichele Materiais de Construção, em Curitiba, descobriu as dificuldades de uma sucessão não planejada na prática. O fundador da empresa preparou o filho, Cristiano, para assumir o comando da empresa. Mas, na última hora, resolver compartilhar a gestão com suas outras duas filhas.
A consultoria GoNext foi acionada para ajudar e foi entender qual seria o melhor papel de cada um na empresa. Cristiano se tornou CEO com a aprovação de todos os sócios. As irmãs assumiram as diretorias financeiras e comercial. Já no marketing, ninguém da família tinha vocação e foi contratado um profissional de mercado.
“Meu pai sempre me preparou para assumir, mas depois não sabia muito bem o que fazer com as minhas irmãs e tentou colocar nós três na liderança”, diz Cristian. “Foi muito bom passar todo esse processo mais científico porque assim a aceitação da família foi muito melhor, sem deixar brechas que um ou outro estava sendo beneficiado”.
A terceira geração da família Nichele já começou a ser preparada desde cedo e passou a integrar o conselho de herdeiros com a orientação da consultoria. Já são nove pessoas de um grupo heterogêneo com crianças, adolescente e adultos. Todos os maiores de 14 anos já podem participar das reuniões.
Para Helena Rocha, sócia da PwC Brasil, apesar da transferência do controle para a próxima geração ser um evento extremamente importante e único na vida da empresa familiar, na prática é algo sobre o qual raramente se fala. E isso gera problemas, principalmente quando a sucessão precisa ser antecipada de forma inesperada.
“Ausência de comunicação, de alinhamento e planejamento estratégico comprometem qualquer negócio, mas principalmente as empresas familiares, onde as emoções se misturam entre família e negócio. É imprescindível a comunicação entre as gerações e um contrato geracional honesto”, afirma Rocha.
A organização e sucesso das empresas familiares beneficia a economia. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 90% das empresas brasileiras são familiares e empregam 75% dos brasileiros. Elas são responsáveis por mais de 60% do Produto Interno Bruto (PIB).
-
Entretenimento8 meses atrás
da Redação | Jovem Pan
-
Negócios6 meses atrás
O fiasco de Bill Ackman
-
Entretenimento6 meses atrás
Jovem Pan | Jovem Pan
-
Tecnologia9 meses atrás
Linguagem back-end: veja as principais e guia completo sobre!
-
Empreendedorismo9 meses atrás
5 maneiras de garantir acolhimento às mães na empresa
-
Tecnologia8 meses atrás
Linguagem de programação Swift: como programar para IOS!
-
Entretenimento9 meses atrás
Gisele Bündchen arrecada R$ 4,5 milhões para vítimas de enchentes no RS
-
Negócios8 meses atrás
As duas vitórias da IWG, dona de Regus e Spaces, sobre o WeWork: na Justiça e em um prédio em SP