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Os setores que perdem (e os que ganham) com a Reforma Tributária

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Os setores que perdem (e os que ganham) com a Reforma Tributária
Tempo de Leitura:7 Minuto, 56 Segundo


A nova etapa da reforma tributária, em discussão no Congresso Nacional, mal começou e já é possível prever um efeito assim que o novo arcabouço tributário for aprovado e entrar em vigor: repasse de preços ao consumidor por parte dos setores mais prejudicados pela mudança de sistema. Essa possibilidade foi citada por boa parte dos dez tributaristas ouvidos pelo NeoFeed.

Isso porque a reforma tributária, que prevê a criação do Imposto sobre o Valor Agregado (IVA) – mais simplificado que o atual e usado em mais de 170 países -, tem como objetivo ser neutra do ponto de vista arrecadatório.

“Significa que a média de arrecadação de impostos do País em relação Produto Interno Bruto (PIB) vai ser mantida, mas certamente haverá deslocamento de alguns setores para outros”, afirma o tributarista Francisco Leocádio, sócio do escritório Souza Okawa Advogados e professor do Instituto Brasileiro de Estudos Tributários (Ibet) e da PUC-SP.

Alguns setores serão beneficiados, enquanto outros, prejudicados. Os que serão prejudicados se encaixam em duas categorias. Uma delas são as que tinham benefícios fiscais, mas que serão extintos com a mudança de sistema (e, portanto, vão pagar mais imposto).

A outra categoria inclui setores que, por sua forma de atuação, não vão poder abater da alíquota final os créditos acumulados com insumos adquiridos nas etapas anteriores da cadeia produtiva a qual está inserida – considerado o grande trunfo da mudança de sistema, por colocar um fim ao efeito cascata de tributos.

Essa particularidade permite eleger o segmento mais penalizado com a mudança de sistema: o setor de serviços, justamente o que emprega cerca de 70% da mão-de-obra do País e já devidamente etiquetado como “o esquecido do IVA”.

Como o maior gasto do setor é com despesas de salários dos funcionários, o segmento de serviços não tem possibilidade de deduzir os tributos de insumos ou despesas da cadeia anterior, como vai ocorrer com quem fabrica ou vende produtos.

É o caso de um salão de beleza, de uma empresa de marketing ou de um escritório de advocacia, cujo gasto maior é com a folha de pagamento dos funcionários. Trata-se de um dos gargalos do novo modelo.

Outros segmentos penalizados são aqueles sujeitos ao Imposto Seletivo (IS) – batizado de “imposto do pecado”, espécie de punição por fazerem mal à saúde ou ao meio ambiente.

Na outra ponta, estão os segmentos que devem obter vantagens ou ao menos não terão sobrecarga sob o novo sistema. O setor industrial, da maneira geral, o mais penalizado pelo sistema atual, vai pagar menos imposto porque vai abater créditos de insumos da cadeia anterior.

Vale lembrar que o novo modelo prevê que o IVA será dividido em dois novos tributos. Um federal, que se chamará Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e vai unificar os tributos PIS, COFINS e IPI. Já o imposto estadual, chamado de Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), vai reunir o ICMS (estadual) e ISS (municipal).

Confira, a seguir, os principais impactos tributários em 10 setores da economia brasileira:

Agronegócio

O setor se beneficiará de várias isenções, como a do IVA para produtores, com faturamento anual de até R$ 3,6 milhões, além de uma alíquota reduzida em 60% para alimentos e insumos agrícolas.

A alíquota em etapas de produção para os produtos da cesta básica deve ser de apenas 40%, podendo até chegar a zero.

O advogado Ranieri Genari, da consultoria Evoinc, porém, critica a “subjetividade exacerbada” do Imposto Seletivo (IS), que vai sobretaxar produtos prejudiciais à saúde e ao meio ambiente, sem levar em conta sua essencialidade.

“É o caso de herbicidas, inseticidas e pesticidas, que serão sobretaxados pelo IS, o que pode gerar aumento dos custos de produção do agro”, diz Genari.

Bebidas

O setor de bebidas ficará sujeito ao Imposto Seletivo (IS). A alíquota do IS ainda não foi estabelecida, mas terá como base o teor alcoólico de cada produto, bem como a essencialidade e o seu nível de nocividade.

“As projeções feitas indicam que a cerveja, por exemplo, não terá mudanças significativas com aumento de tributação, mas as demais bebidas – como vinho, gin, vodca, refrigerantes e energéticos – pagarão uma alíquota bem elevada”, prevê Marcio Miranda Maia, sócio do escritório Maia & Anjos Advogados.

Construção Civil

O setor, anteriormente favorecido por regimes especiais e desonerações, enfrenta um aumento na carga tributária com a transição para um regime uniforme de tributação.

Eduardo Natal, sócio do escritório Natal & Manssur, diz que é preciso dividir o setor em duas modalidades. Um deles é dos serviços de construção civil geral, que entra no regime do IBS e não terá nenhum benefício.

“Vai aumentar o custo da construção civil porque o grande insumo desse segmento ainda é a mão-de-obra própria, que não vai gerar crédito, ou seja, ele vai sair de uma alíquota de 8,65% para 26,5%”, diz Natal.

A outra modalidade é voltada para incorporação e construção de imóveis, locação e arrendamento, que exige regime específico. Esse segmento, diz o especialista, segue o regime especial de tributação conhecido RET.

“As alíquotas praticadas chegam, em média, a 4% do valor do faturamento das vendas, mas a nova proposta prevê redução de apenas 20% da alíquota final, o que desagradou e muito o setor”, diz Natal.

Educação

Os serviços de educação serão positivamente afetados com a reforma tributária. “O setor terá desconto de 60% nos impostos e faz parte dos segmentos que estão dentro das exceções da alíquota geral, ou seja, vão pagar menos”, afirma Marcio Miranda Maia, sócio do escritório Maia & Anjos Advogados.

O desconto de 60% contempla todas as etapas, da educação infantil (incluindo creche e pré-escola) ao ensino superior, incluindo o ensino técnico. Cursos de línguas, porém, terão de pagar alíquota máxima.

Exportação

O setor foi beneficiado, uma vez que as exportações serão isentas de impostos sob o novo sistema, para manter a competitividade internacional dos produtos brasileiros.

“Apesar desta vantagem, a unificação desafia as empresas exportadoras a adaptarem seus sistemas de ERP para alinhamento com as novas regras e processos, especialmente a cobrança no destino dos produtos”, diz Renato Munduruca, sócio-fundador do escritório RVM LAW.

Indústria

É um dos setores mais beneficiados pela reforma tributária, graças à eliminação da cumulatividade do sistema tributário. O advogado tributarista Renato Munduruca estima que os investimentos possam crescer até 16,4%, com um impacto direto e robusto no PIB.

Outro especialista, Felipe Peralta, do escritório CSA Advogados, adverte para os efeitos para o setor de máquinas e equipamentos.

“Por se tratar de bens de valor significativo, cuja amortização tende a levar anos, a recuperação do imposto via crédito pode gerar um cenário em que o adquirente não detenha débitos suficientes para recuperá-lo no curto prazo, com aumento o seu custo de capital”, diz Peralta.

Indústria automobilística

Trata-se de um segmento da indústria que deve ter aumento de impostos, com repasse de preços ao consumidor.

Isso porque, à exceção de veículos “sustentáveis” – categoria que inclui os carros elétricos –, os veículos movidos a gasolina estão sendo inseridos na categoria de Imposto Seletivo. Não há uma estimativa de qual será essa alíquota.

Atualmente, o IPI, o ICMS e o PIS/COFINS correspondem, em média, a 24,3% do preço de um veículo de passeio. O IBS e a CBS, sozinhos, terão uma alíquota de no mínimo 26,5%, o que já representaria, em tese, um aumento.

“Então, se colocarmos uma alíquota a mais a título de Imposto Seletivo, o aumento seria ainda maior”, prevê Thúlio Carvalho, do escritório Dias de Souza Advogados Associados.

Planos de Saúde

A reforma tributária vai atingir em cheio o sistema de saúde suplementar. Isso porque as empresas que oferecem plano de saúde corporativo aos funcionários terão de pagar alíquota cheia do IVA (que deve ficar acima de 27%). Nos demais países que utilizam o IVA, o setor é desonerado.

Os planos de saúde suplementares são um dos casos que tiveram sua essencialidade negada pelo PLP do governo. “Como plano de saúde não gera crédito de PIS-COFINS, não deverá gerar crédito de CBS e IBS e, portanto, vai ter de pagar alíquota cheia”, diz Francisco Leocádio, do escritório Souza Okawa Advogados.

Saneamento

Um dos setores mais prejudicados, apesar do nítido caráter social em que está inserido. Atualmente, a carga tributária é de 9,25% e, com as mudanças, deve ter um aumento exponencial para 27,5% – alíquota padrão estimada, o que deverá impactar diretamente na conta de água e esgoto dos contribuintes.

O aumento se deve ao fato de que atualmente o setor não recolhe o ICMS e o ISS, arcando apenas com PIS e COFINS. Após a reforma, o setor arcará com a alíquota cheia dos novos tributos, incluindo o IBS (que reúne o ICMS e o ISS).

“Com isso, será necessário revisar o equilíbrio nos contratos de concessão, de forma que o setor possa manter as atividades”, afirma Carlos Marcelo Gouveia, do escritório Almeida Prado & Hoffmann.

A questão do reequilíbrio de contratos por causa de aumento tributário também pode ocorrer em outros setores de infraestrutura que trabalham com concessões. Vários tributaristas acreditam que, na regulamentação, ao menos a taxação do saneamento possa ser rediscutida.

Varejo

O varejo pode se beneficiar da simplificação dos processos tributários e da redução da carga administrativa, mas enfrenta o desafio da uniformização das alíquotas, que pode levar a um aumento dos preços ao consumidor.

“A adaptação das estratégias de preço e promoção será crucial para manter a competitividade sem comprometer as margens de lucro”, diz Renato Munduruca, sócio-fundador do escritório RVM LAW.





Fonte: Neofeed

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No projeto Tão Longe, Tão Perto, o “milagre da expansão” acontece no vinho que sai da torneira

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No projeto Tão Longe, Tão Perto, o
Tempo de Leitura:5 Minuto, 9 Segundo


Fundador, em 2014, do primeiro wine truck do Brasil, o Los Mendozitos, voltado à venda em taça de vinhos de baixa intervenção importados da Argentina, o engenheiro industrial com especialização em sustentabilidade, Ariel Kogan, se rendeu aos vinhos nacionais. “A alta do dólar me obrigou a olhar com mais atenção para o mercado nacional e acompanhar a evolução da qualidade na última década”, conta ao NeoFeed.

Sem perder o foco nos pequenos produtores éticos e no desafio de tornar o consumo da bebida mais descontraído, Kogan vem investindo desde 2021 no projeto Tão Longe, Tão Perto (TLTP), ao lado da sommelière Gabriela Monteleone. Voltada à comercialização de vinhos leves, descomplicados e de fácil entendimento em growlers (garrafas reutilizáveis de 1 a 2 litros) e kegs (barris de 20 litros), engatados a torneiras como as de chopp, a plataforma tem visto sua frente de negócio mais recente, a Casa Tão Longe, Tão Perto, ganhar asas.

Inaugurado em meados de 2023, no bairro paulistano da Barra Funda, o espaço com 12 torneiras, poucas mesas e uma pequena seleção de comidinhas de fácil serviço (principalmente queijos e embutidos), foi pensado para ser uma espécie de showroom da marca. O objetivo era atrair para lá clientes potenciais de restaurantes e hotéis interessados na compra a granel dos vinhos brasileiros de pequenos produtores artesanais selecionados por Gabriela. Além de promover o sistema de torneiras (taps), que permite otimizar a venda em taça.

Para se ter uma ideia das vantagens, enquanto uma garrafa mantém as propriedades sensoriais de um vinho, no máximo, por três a quatro dias depois de aberta, um barril engatado em torneira consegue preservar a qualidade da bebida por até um mês. Além disso, o CMV (custo da mercadoria vendida) por taça pode cair em pelo menos 50%, segundo Kogan, devido ao menor custo da embalagem e transporte.

Assim, não demorou para a Casa chamar a atenção do público final pela oferta de brancos, rosés, tintos e laranjas a preços atrativos. Além de investidores, que viram no modelo inovador, simplificado e de baixo custo do bar uma oportunidade de negócio, puxando organicamente a expansão para outras praças.

Como resultado, em apenas um ano, mais duas unidades foram abertas: uma na cidade do Porto, em Portugal, e outra no Rio de Janeiro, cujo faturamento inicial está superando em 50% o da unidade paulista antes mesmo de fechar o mês.

Não por acaso, uma terceira unidade já está prevista para breve, em Lisboa. “Estamos procurando ponto”, diz Kogan.

Com tíquete médio de R$ 90, as Casas TLTP representam hoje 25% do faturamento da marca, mas a expectativa é que a fatia ultrapasse os 50% nos próximos anos com a ampliação do número de pontos.

“Ainda estamos analisando os dados e os vetores de crescimento com cuidado, mas há um grande potencial de expansão nos pontos de venda, que exigem menor investimento de capital do que a operação de distribuição de vinhos”, avalia o empresário, que não descarta a possibilidade de adotar o modelo de franquias a longo prazo.

Por enquanto, a expansão ocorre com parceiros locais, como, no Rio de Janeiro, com os empresários Nelson Soares e Juan Manoel Prada, do restaurante Sult, e Ricardo Rebello, do gastrobar Sebastian. O investimento em cada loja gira em torno de R$ 400 mil a R$ 500 mil.

A visibilidade trazida pelas Casas deve ainda ajudar a impulsionar as demais operações da plataforma, que atualmente conta com 20 clientes com torneiras instaladas em todo o Brasil. Entre eles estão os restaurantes Shuk, Futuro Refeitório, Cuia, Bráz Trattoria e Le Bulô, em São Paulo; Manga, em Salvador, e Casa Vivá, em Porto Alegre.

Segundo Kogan, a Tão Longe, Tão Perto se guia pela A conexão com o produtor, o diferencial do produto e a sustentabilidade (Foto: Divulgação/Tão Longe,, Tão Perto)

Além de barris, os vinhos são comercializados em growlers, garrafas reutilizáveis de 1 a 2 litros (Divulgação/Tão Longe, Tão Perto)

Hoje, a instalação de torneiras responde por 25% do faturamento da plataforma e a distribuição dos vinhos representa 50% (Divulgação/Tão Longe, Tão Perto)

O projeto Tão Longe, Tão Perto foi lançado em 2020, pela a sommelière Gabriela Monteleone (Reprodução Instagram @gabrielamonteleone)

Atualmente, a instalação de torneiras responde por 25% do faturamento da plataforma e a distribuição dos vinhos curados por Gabriela e envasados em diferentes recipientes representa 50%. “Essa é uma operação que deve crescer junto com as Casas”, acredita Kogan.

Uma nova frente de negócios ainda começa a ser desenhada, retomando a experiência do wine truck, para levar os vinhos da marca a eventos, em carrinhos móveis com torneiras.

Um efeito colateral da expansão, entretanto, já afetou a fidelidade ao produto brasileiro. Com a ida para a Europa, decidiu-se que a oferta de vinhos seguirá priorizando vinhos leves e de fácil entendimento feitos por pequenos produtores voltados à vinicultura de baixa intervenção, mas os rótulos serão selecionados localmente em prol da sustentabilidade. “Este sempre foi nosso principal drive”, enfatiza Kogan, que é um dos idealizadores do Programa Cidades Sustentáveis, da Rede Nossa São Paulo.

“Não estamos fechados a levar uma bebida de um país para o outro, mas terá de ser algo muito diferente, que faça sentido pelo diferencial”, diz Kogan, citando um fermentado de açaí feito no Acre que o surpreendeu recentemente.

Assim, uma nova curadoria começa a tomar corpo em Portugal, onde o número de vinhos naturais selecionados em regiões como Dão e Douro já supera o de torneiras instaladas na Casa TLTP do Porto.

“Já poderíamos colocar mais quatro torneiras, totalizando dez”, conta ele, que não descarta abraçar também a distribuição a granel de seus achados. “Não somos um movimento de exclusão de nada. Nem de garrafas, nem de importados. A conexão com o produtor, o diferencial do produto e a sustentabilidade é que vão nos guiar.”

Então, já que existe a brecha, há chance de vermos vinhos de pequenos produtores argentinos no portfólio da TLTP, voltando para o início do ciclo? “Se tivermos uma Casa em Buenos Aires ou Mendoza, sim. Mas aqui vamos priorizar o Brasil, até porque, pela legislação, não é possível importar vinhos a granel de lá para cá.”





Fonte: Neofeed

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A natureza lírica e avassaladora de Hayao Miyazaki

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A natureza lírica e avassaladora de Hayao Miyazaki
Tempo de Leitura:4 Minuto, 22 Segundo


VENEZA – Documentário exibido no 81º Festival de Veneza ajuda a explicar a genialidade do ícone da animação japonesa Hayao Miyazaki e de seu Studio Ghibli, que há quatro décadas dá profundidade e sofisticação ao gênero.

O foco de Miyazaki, l’Esprit de la Nature (Miyazaki, o Espírito da Natureza) é sobre a preocupação do cineasta de 83 anos com o meio ambiente, refletida em obras-primas como Nausicaä do Vale do Vento (1984), Meu Amigo Totoro (1988), Princesa Mononoke (1997) e A Viagem de Chihiro  (2001), entre outras.

Seja com florestas povoadas por criaturas mágicas ou com uma natureza furiosa por causa dos abusos sofridos, Miyazaki construiu uma filmografia questionando a relação do homem com todas as coisas vivas.

Ao longo de sua trajetória, o diretor, acostumado a encantar a plateia com paisagens silvestres de tirar o fôlego, nunca conseguiu ignorar a capacidade destrutiva da humanidade — embora algumas vezes ele prefira apostar na regeneração da natureza, por ser algo sagrado.

“Para apreciar profundamente a obra de Miyazaki, um dos artistas vivos mais reverenciados no mundo, é preciso analisá-lo em um contexto ambiental”, contou ao NeoFeed o diretor do filme, o francês Léo Favier.

Ele desembarcou no Lido de Veneza, estância balneária onde é realizado o festival italiano, às margens do Mar Adriático, para a première mundial do título que foi selecionado para a mostra Venice Classics, dedicada à memória do cinema.

A natureza é, muitas vezes, impactada nas histórias de Miyazaki por essas refletirem uma sociedade obcecada por conquistas, guerras e consumismo.

“Por mais que o cineasta tenha mudado e evoluído ao longo das décadas, seus filmes foram sempre carregados de guerra e destruição, o que também espelha o que ele enfrentou ainda na infância, moldando a sua visão de mundo”, afirmou Favier.

O documentarista se refere ao fato de Miyazaki ter sobrevivido a bombardeios, quando tinha entre três e quatro anos, ocasiões em que a sua família foi forçada a trocar de cidade. E o pai de Miyazaki ainda foi diretor de fábrica que confeccionava lemes para aviões de combate durante a Segunda Guerra.

Isso explica sua fascinação por aviação e, ao mesmo tempo, a culpa que o diretor já admitiu sentir por sua família ter feito dinheiro com a guerra.

“Nada é preto no branco nos seus filmes de Miyazaki, que sempre abraçou as contradições. Ele deixa que as situações sejam bagunçadas e complicadas, exatamente como é a vida, sem se limitar pensando em uma faixa etária específica para cada história”, comentou Favier.

O fato de suas obras serem concebidas para entreter todas as idades (e não apenas crianças) é o que garantiu mais profundidade, levantando questões filosóficas, sociais e políticas.

Um dos filmes mais ecológicos de Miyazaki foi Princesa Mononoke, onde mais de 144 mil desenhos feitos à mão dão vida a todo um ecossistema, com árvores, plantas, animais e espíritos dividindo uma paisagem estonteante, à beira da extinção. Mas o tom de alarme, pelo conflito aparentemente irremediável entre a natureza e a industrialização, não o impediu de acrescentar lirismo à trama, já que a floresta tem alma própria.

Os filmes do cineasta japonês refletem a grandiosidade da natureza, como Meu Amigo Totoro, de 1988 (Studio Ghibli)

Miyazaki construiu uma filmografia questionando a relação do homem com todas as coisas vivas (Foto: ©M6 MediaBank / Métropole Télévision)

Graças ao sucesso de “Nausicaä do Vale do Vento”, de 1984, Miyazaki conseguiu fundar o Studio Ghibli (Reprodução themoviedb.org)

“A Viagem de Chihiro”, de 2001, é considerada uma das obras-primas da animação (Reprodução themoviedb.org)

Segundo o biólogo Shin-Ichi Fukuoka, entrevistado no documentário, Princesa Mononoke se baseia em duas grandes questões: o que é a vida e o que é ser um humano. “No final, Miyazaki nos faz entender que nós somos parte da natureza, não muito diferente dos outros organismos em termos de mecanismo celular e DNA”, comentou o especialista.

Foi graças ao sucesso de Nausicaä do Vale do Vento, ambientado em futuro distópico onde a humanidade está ameaçado por um ar tóxico e insetos gigantes, que Miyazaki conseguiu fundar o Studio Ghibli.

A cena de abertura, com a princesa Nausicaä pousando em floresta estranha, porém majestosa, dá uma ideia da reconciliação almejada pelo cineasta. E muito antes de a questão ambiental se tornar um tema recorrente na produção audiovisual.

“O que Miyazaki sugere aqui é a interação entre natureza e seres humanos. Em vez de o homem insistir em dominar a natureza, ele deveria se engajar com ela, de modo respeitoso. O que sentimos é uma inteligência amorosa e uma consciência de que todos estamos conectados no universo”, comentou a escritora Susan Napier, autora do livro Miyazakiworld: a Life in Art, também em depoimento no filme.

O documentário examina outros filmes que refletem a grandiosidade da natureza, pelas lentes de Miyazaki, como Meu Amigo Totoro. Aqui o que ajuda duas irmãs a enfrentarem uma fase difícil, com a mãe hospitalizada, são as aventuras que vivenciam com os espíritos da floresta, conhecido como “totoros”.

É com esses seres fantásticos, em especial com o líder deles, que a dupla aprende a encarar a dura realidade, mas sem se esquecer da beleza, da poesia e da magia da vida, em tudo o que nos cerca.





Fonte: Neofeed

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Os planos “íntimos” da Hope: 10,5 milhões de peças e R$ 500 milhões de receita

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sandra chayo hope
Tempo de Leitura:3 Minuto, 42 Segundo


A fábrica do Grupo Hope em Maranguape, localizada na região metropolitana de Fortaleza, vai passar por um “banho de loja”. A marca de moda íntima, praia e fitness prevê um investimento robusto em novas tecnologias de fabricação, que devem dar suporte aos planos ambiciosos da companhia.

O grupo liderado por Sandra Chayo, filha do fundador Nissim Hara, projeta produzir 10,5 milhões de peças em 2024, uma expansão de 50% sobre o ano passado. Esse crescimento vai estar calcado em produtos básicos e acessíveis, uma revisão da estratégia da companhia que contou com a ajuda da consultoria Bain & Company.

“Chegamos à conclusão de que, se conseguíssemos atingir as classes B2 e C [renda estimada entre R$ 2 mil e R$ 6 mil], que ainda não consumiam os nossos produtos, poderíamos aumentar de forma significativa o nosso público endereçável”, afirma Chayo, diretora do Grupo Hope, ao NeoFeed.

A Hope marca está investindo R$ 20 milhões para voltar as suas origens – afinal a empresa, criada em 1966, começou com esse tipo de produto. Nesse orçamento está tanto as peças de marketing, como o desenvolvimento da linha Light, que traz produtos a preço de entrada, partindo de R$ 29,90 (cerca de R$ 10 abaixo das demais coleções).

A coleção, que chegou às mais de 3 mil lojas que atuam com a marca no primeiro semestre, já é a terceira mais expressiva em número de peças vendidas, atrás da Touch e Nude, que partem de R$ 39,90 e R$ 79,90 e estão entre as mais vendidas há anos.

“Quando entrei na empresa, em 1999, o movimento era justamente o contrário, de transformar uma marca popular, que só era vendida em lojas multimarcas, em algo mais sofisticado. E deu certo. Agora, entendemos que precisamos descer esse degrau novamente”, afirma Chayo.

Em 25 anos como diretora da empresa familiar, Chayo foi a responsável por todos os movimentos da operação: desde a expansão via franquias até a criação das outras duas marcas que estão no portfólio: a Bonjour Lingerie e a Hope Resort, de moda praia e fitness.

O próximo passo é dobrar o número de lojas em cinco anos. Hoje, a Hope detém 280 franquias e 9 lojas próprias. Em 2023, o grupo faturou R$ 350 milhões apenas na rede franqueada.

Segundo a Hope, a companhia teve um crescimento de 35% no faturamento no primeiro semestre e projeta acelerar nesta segunda metade do ano, podendo atingir a casa dos 40% no ano contra ano – o que faria a companhia se aproximar dos R$ 500 milhões em receita. Na visão de Chayo, essa receita só deve ser atingida em 2025.

Na visão do sócio da consultoria Varese Retail, Alberto Serrentino, a iniciativa do Grupo Hope é acertada. “O momento da companhia é muito bom. Ao mesmo tempo que eles conseguem conversar com o público premium nas lojas monomarcas, o grupo também tem desempenhado um bom trabalho ao atingir a camada mais baixa de consumidores”, afirma.

Para ele, a recuperação de mercado pode beneficiar ainda mais a companhia nessa nova fase. “A renda está crescendo, o desemprego caindo e o mercado de trabalho se aquecendo, o que ajuda o setor de consumo de semiduráveis, como é o caso da Hope”, diz Serrentino.

Falando em concorrentes, Serrentino acredita que há espaço para todo mundo. Ele afirma que existem diversos players no mercado com posicionamento, perfil de produto e canais distintos, como é o caso de marcas como Valisere, Intimissimi e Loungerie.

O homem na mira

Lançada há dois anos, as peças voltadas ao público masculino da Hope, ainda não decolaram. Isso não impediu o grupo de investir ainda mais no segmento, incluindo peças voltadas para os homens tanto na linha Light, com cuecas, como na Hope Resort, com vestuário fitness, que será lançado em outubro.

“A linha masculina na Hope está crescendo e a cueca da Light está vendendo como água. O consumo por parte dos homens é muito diferente do das mulheres. Eles compram em quantidade, normalmente uma dúzia de cuecas por vez, o que é ótimo para nós”, diz Chayo.

Pensando no público unissex, a marca também está entrando na disputa pelo mercado de meias, que hoje conta com concorrentes como Lupo e gigantes esportivas como Nike e Adidas. Ainda em fase de testes em algumas lojas, a coleção completa o portfólio do grupo e busca atingir todos os públicos que agora consomem os produtos Hope.





Fonte: Neofeed

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