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Os “vários mergulhos” de Lygia Pape no neoconcretismo — e no mar em dias de chuva

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Tempo de Leitura:6 Minuto, 22 Segundo


Quando começava a chover, Lygia Pape telefonava para Hélio Oiticica — ou ele para ela.  A ligação era para combinar um mergulho no Arpoador, na Zona Sul carioca. “Mas tinha de ter raios”, diz a artista, no livro Lygia Pape — Intrinsecamente Anarquista, de Denise Mattar. “Aquilo era um prazer enorme. O ideal era ficar batendo papo dentro d’água com aquela tempestade caindo.” Os dois, segundo ela, não morreram por pura sorte.

Agora, a mostra Ação-dentro, em cartaz na Almeida & Dale, em São Paulo, convida para um mergulho no trabalho de Pape (1927-2004). Um mergulho mais seguro, mas não menos fascinante (e delicioso) do que os banhos de mar no Arpoador, em dias de chuva.

Nascida em Nova Friburgo, interior fluminense, Pape é figura fundamental na arte brasileira da segunda metade do século 20. Ao lado de Oiticica (1937-1980) e Lygia Clark (1920-1988), Pape foi um dos expoentes do movimento Neoconcreto, cujo manifesto foi redigido, em 1959, pelo escritor e poeta Ferreira Gullar (1930-2016).

Concebida junto com a arquiteta Tatiana Durigan, a expografia leva o espectador a circular por um espaço imersivo, que lhe provoca os sentidos — um mergulho semelhante ao proposto por Pape através de seu trabalho, explica a curadora Ana Avelar ao NeoFeed.

Ação-dentro traz 43 trabalhos, dentro de uma seleção muito bem amarrada — um passeio entre as principais vertentes artísticas exploradas por Pape. “Fizemos um recorte do que havia no acervo da galeria e em coleções particulares”, diz ela.

Sem grandes intervenções arquitetônicas, Tatiana resolveu o espaço usando cor e luz, como Pape, em suas obras.

A luminosidade geral da sala foi rebaixada, para que uma iluminação focal destacasse as obras. E as paredes foram pintadas com as cores predominantes em algumas das peças expostas.

“Nossa ideia foi trabalhar três conceitos: construção, corpo e sentido. Os trabalhos presentes têm uma estrutura geométrica organizada — Pape era muito gráfica e muito geométrica”, diz Ana. “Mas isso não quer dizer que ela não somasse aos trabalhos a experiência humana.”

A artista casou cedo, aos 22 anos, com o químico Gunther Pape, para sair de casa.

Livre das aulas de piano impostas pela família, às quais se dedicava cinco horas por dia, ela foi para as artes visuais. Em 1951, passou a frequentar os cursos livres do Museu de Arte Moderna (MAM), do Rio, onde foi aluna de Fayga Ostrower (1920-2001) e Ivan Serpa (1923-1973).

Três anos depois, o professor fundaria o Grupo Frente, marco da abstração geométrica no Brasil, do qual faziam parte Pape, Oiticica e Clark — além de Aluísio Carvão (1920-2002), Abraham Palatnik (1928-2020), Décio Vieira (1922-1988) e Franz Weissmann (1911-2005).

“Uma coisa assim sensível”

Com o grupo, ela viveu um dos momentos mais importantes da história da arte brasileira: a 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta, entre o final de 1956 e o início de 1957, com mostrar no MAM, de São Paulo, e, no Ministério da Educação e Saúde, no Rio.

Sem título, da série “Tecelares”, xilogravura sobre papel japonês: “A única coisa que me permitia era deixar a porosidade da madeira aflorar no negro como uma pequena vibração”, explicou a artista (Crédito: Sergio Guerini)

“A ideia de produzir livros de arte, ou melhor, livros-poemas está ligada à vontade de invenção de romper os limites das categorias”, dizia a artista. Na imagem, obra sem título, da série “Livro do Tempo”, de 1965, têmpera sobre madeira (Crédito: Sergio Guerini)

Cena do balé Neoconcreto, idealizado por Pape, em 1958, confirmando a teoria dos neoconcretistas de que a a obra de arte deveria transcender o lugar destinado ao objeto de arte (Crédito: Reprodução mutualart.com)

Entre as 43 obras expostas na mostra “Ação-dentro”, está a série “Caminhos”, na parede ao fundo (Crédito: Sergio Guerini)

Essa obra é da série “Relevos”, realizada entre 1954 e 1956, em têmpera sobre madeira (Crédito: Sergio Guerini)

A obra “Volante”, de 1999, em ferro banhando em cobre, é um dos exemplos da heterogeneidade da trajetória da artista (Crédito: Sergio Guerini)

Entre as obras de Pape, que exaltavam as formas geométricas, a racionalidade e a ausência da “pincelada do artista”, gravuras ressaltam o aspecto orgânico dos veios da madeira, da matriz que lhe serviram de matriz. Da série Tecelares, duas dessas gravuras estão em Ação-dentro.

“O traço é todo controlado, como são os cortes e os fios da madeira. É como se fosse um registro o mais rigoroso possível”, explicou a artista. “A única coisa que me permitia era deixar a porosidade da madeira aflorar no negro como uma pequena vibração. Uma coisa assim sensível que surgia do próprio material.”

O transparecer daquela “coisa assim sensível” é um dos detalhes que evidenciam a diferença entre os concretos cariocas e paulistas. Essa aproximação da arte com a vida fez a turma do Rio romper com a de São Paulo e iniciar o movimento Neoconcreto.

Para os cariocas, a obra de arte deveria transcender o lugar destinado ao objeto de arte. E Pape levou isso ao extremo ao criar o balé Neoconcreto. Apresentado pela primeira vez no Teatro Copacabana, em 1958, o espetáculo foi conduzido por bailarinos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, “vestidos” com sólidos geométricos, ao som de uma música atonal.

A partir de suas experiências com o grupo Neoconcreto, uma nova categoria passou a habitar os trabalhos de Pape: os livros. Mas não são os livros tradicionais. “A ideia de produzir livros de arte, ou melhor, livros-poemas está ligada à vontade de invenção de romper os limites das categorias (pintura, gravura, escultura, poema, etc.)”, explicou Pape.

Intolerante ao “poder e hierarquias”, a artista se definia como “intrinsecamente anarquista”.

“Passarinho na gaiola”

Na exposição, há obras muito distintas que fazem parte de séries classificadas como “livro”. Na série Caminhos (1963/1976), sobre uma base de madeira pintada de branco sobressaem, de uma forma aparentemente desordenada, quadrados de diferentes alturas com o topo pintado de preto.

O trabalho se relaciona com o início da experiência da artista como professora do curso de arquitetura da Universidade Santa Úrsula. Pape levava os alunos às favelas e ao centro do Rio de Janeiro, propondo a eles caminhadas e intervenções para que se relacionassem com a cidade fora do ambiente acadêmico.

O livro do tempo, de 1965, segue a mesma lógica escultórica, mas cada um dos objetos (ou páginas) representa um dia do ano — na exposição é possível ver oito dos 365.

As instalações Crime e Castigo e Silencioso, há muito tempo não expostas, registram a inserção de palavras nas obras de Pape. “Ela entende que determinadas palavras ajudam a ativar os sentidos dos espectadores”, aponta a curadora.

Duas cubas brancas, com um líquido vermelho, em uma está escrito “crime”; na outra, “castigo”. “Apresentamos essa obra, associada à visão política de Pape que vivenciou a cultura e a repressão brasileira durante a ditadura militar”, ressalta Ana.

Apenas no fim da década de 1990, Pape tornou pública sua prisão, em 1973. Durante a ditadura militar, ela dava apoio logístico às pessoas que “estavam sendo procuradas e fazendo aventuras, assaltos”, como já relatou.

A artista estava saindo de casa quando foi detida, por dois homens: “Passarinho na gaiola”, anunciaram, ao prendê-la.

Ela foi jogada em um cela, com porta de “geladeira”, como descreveria a artista, mais tarde: “Tinha um ruído tocando o tempo todo — uma coisa de enlouquecer”. Foram quase dois meses no cárcere.

Ação-dentro é arrematada com Sedução II. Pape explora displays de anúncios, que giram para mostrar duas propagandas em looping, para estampar as palavras “vai” e “vem”. O movimento dos verbos sugere um balanço, tal qual o balanço do mar.





Fonte: Neofeed

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O fiasco de Bill Ackman

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O fiasco de Bill Ackman
Tempo de Leitura:1 Minuto, 49 Segundo


Nem todo o sucesso do bilionário Bill Ackman nas redes sociais, nem um pedido inusitado de ajuda aos investidores foi capaz de levar adiante o IPO do fundo Pershing Square USA (PSUS). Pelo menos por enquanto.

Segundo comunicado divulgado na sexta-feira, 26 de julho, no site da Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), a operação, prevista para ocorrer na semana que vem, foi adiada. A nova data não foi informada, nem os motivos que levaram a esta decisão.

A notícia veio após o fechamento do mercado e depois que Ackman enviou nesta semana uma carta aos investidores de sua holding, formado por instituições financeiras e indivíduos com patrimônios elevados, para que participassem do IPO.

Segundo o jornal The Wall Street Journal, Ackman escreveu que “quanto mais cedo [participassem] melhor”, para “fortalecer” a operação.

A expectativa inicial de Ackman é que fossem levantados cerca de US$ 25 bilhões, no que seria o maior IPO desde que a Saudi Aramco, a petrolífera da Arábia Saudita, conseguiu arrecadar US$ 29,4 bilhões em janeiro de 2020, quando vendeu uma fatia de seu capital social. A gestora, fundada em 2003, conta atualmente com cerca de US$ 18 bilhões sob gestão.

No entanto, diante das dificuldades, a Pershing teve que reduzir significativamente as expectativas recentemente, para entre US$ 2,5 bilhões e US$ 4 bilhões.

O gestor ativista, conhecido pelas campanhas contundentes contra empresas como a rede de fast food Wendy’s e a fabricante de suplementos alimentares Herbalife, também apostou na sua fama no X (antigo Twitter) para alavancar a operação.

Com cerca de 1,3 milhão de seguidores na rede social, em que teceu críticas a respeito dos rumos da economia dos Estados Unidos e defendeu Israel na guerra contra o Hamas, Ackman chegou a dizer em reunião com potenciais investidores que sua presença no X deve ajudar a conseguir um valuation elevado para o IPO.

A operação contava com 30 coordenadores, entre eles Citi, UBS, Bank of America (BofA). O BTG Pactual também estava atuando como um dos bookrunners no IPO do fundo, que estava em busca de investidores institucionais, sobretudo na América Latina, conforme apurou o NeoFeed.





Fonte: Neofeed

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Gigantes europeias de luxo “pagam” um preço bilionário com nova coleção de balanços

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Gigantes europeias de luxo
Tempo de Leitura:3 Minuto, 37 Segundo


Antes comparadas às big techs por sua capacidade de entregar crescimento rápido e atravessar, sem grandes sustos, as variações econômicas, as grandes empresas de luxo da Europa parecem estar deixando esse rótulo para trás.

A mudança de cenário ocorre após o setor passar dias caóticos com companhias de referência nesse espaço entregando resultados trimestrais muito inferiores aos esperados pelo mercado. Com isso, apenas em 2024, as gigantes do segmento já perderam mais de US$ 200 bilhões em valor de mercado.

O baque começou a ser sentido no setor na segunda-feira, 15 de julho, quando a Burberry registrou uma queda de 16% em apenas um dia, após reportar um recuo de 21% nas vendas do segundo trimestre. Em 2023, a companhia já havia registrado uma queda de 40% em seu lucro.

O resultado afetou boa parte das companhias de luxo no dia, derrubando ações da Kering, dona da Gucci, Yves Saint Laurent e Bottega Veneta, e também do grupo francês LVMH. Esse foi, porém, apenas o início de uma série de resultados ruins nesse clube seleto.

Já na quarta-feira, 24 de julho, a Kering registrou queda de 11% em sua receita no trimestre em comparação ao mesmo período de 2023. No semestre, o lucro líquido da companhia teve uma retração de 51%.

Um dia antes, a LVMH, dona de marcas como Louis Vuitton, Dior, Tiffany, Moet & Chandon, Guerlain e Sephora, divulgou que seu lucro recuou 14% no trimestre, para € 7,2 bilhões. Apesar das vendas do grupo terem registrado uma leve alta no período, os papéis da companhia perderam 6,6% de seu valor no pregão após o anúncio.

Os números da LVMH foram os que efetivamente abalaram o mercado. Antes deles, havia o argumento de que a desaceleração do setor de luxo estaria relacionada aos problemas de gestão das marcas. Porém, com a gigante do setor seguindo a mesma tendência, não há como não acender um sinal de alerta.

De acordo com um levantamento divulgado pela Kinea Investimentos, braço de investimentos alternativos do Itaú, a expectativa é de que, no curto prazo, o setor passe por um processo de ajuste, com uma revisão negativa dos lucros diante da tendência de normalização no ritmo de crescimento e nas margens das companhias.

Assim, para a Kinea, o mercado deve continuar revisando para baixo as perspectivas das companhias de luxo, o que pode impactar diretamente o preço das ações.

Queda no consumo na China

O poder de compra dos consumidores chineses deixou de ser a força vital do setor e agora se transformou em uma fonte de preocupação.

Durante o período da pandemia da Covid-19, os clientes asiáticos, que costumam lotar as lojas físicas das gigantes do setor, optaram por guardar seu dinheiro, já que não havia possibilidade de comprar ou mesmo sair de casa. Porém, com o término do isolamento social, toda essa renda represada foi destinada às empresas de luxo, que experimentaram um forte aumento de demanda até o começo de 2023.

Agora, com a normalização do consumo, essas companhias estão passando por uma correção e vendo seus clientes chineses se afastarem. A LVMH registrou queda de 14% nas vendas na Ásia.

A situação é ainda mais difícil para as empresas de menor porte que tentam reverter sua sorte nesse cenário. O risco é que o mercado de luxo mais fraco deixe todos, exceto os nomes mais poderosos, expostos a uma desaceleração prolongada.

“A implementação de mudanças internas nas marcas parece ter se tornado mais complexa em um mercado de luxo cada vez mais competitivo, onde escala, talento de design e poder de marketing são importantes,” disse Thomas Chauvet, analista do Citigroup, em relatório.

Apesar do cenário negativo, algumas empresas como Brunello Cucinelli e Hermès mostram que há luz no fim do túnel. As vendas da Hermès aumentaram no trimestre e a fabricante italiana de roupas de cashmere de alto padrão também mostrou uma capacidade de suportar as condições difíceis.

Os dados não têm grande efeito no geral. “Na nossa visão, temos uma assimetria aqui: poderemos observar uma maior correção nesses valores com a desaceleração de crescimento e compressão de margens no curto prazo”, diz um trecho do relatório da Kinea. “Com isso, apesar de toda a força das empresas de luxo, temos uma visão menos construtiva para o curto prazo do setor.”



Fonte: Neofeed

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Na ruína da estatal de petróleo PDVSA, um retrato da Venezuela às vésperas da eleição

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Na ruína da estatal de petróleo PDVSA, um retrato da Venezuela às vésperas da eleição
Tempo de Leitura:5 Minuto, 12 Segundo


A eleição presidencial da Venezuela, no domingo, 28 de julho, se assemelha a um roteiro de filme com final imprevisível.

De um lado, o atual presidente, Nicolás Maduro, no poder desde 2013, busca outra reeleição. De outro, está Edmundo González – um diplomata sem experiência política, cuja candidatura surgiu como solução tapa-buraco depois que a líder da oposição, María Corina Machado, teve sua candidatura barrada pela Justiça eleitoral, controlada pelo regime chavista.

Às vésperas da votação, a possibilidade de fraude para beneficiar Maduro cresceu na mesma proporção do favoritismo de Gonzalez. As pesquisas eleitorais nunca foram confiáveis no país, mas sondagens independentes apontam de 30 até 40 pontos percentuais de vantagem para o candidato oposicionista.

Seja qual for o vencedor, a Venezuela tão cedo não deve se livrar do estigma da “maldição do petróleo”, espécie de sina que persegue os grandes produtores do chamado ouro negro.

Nesses países, a entrada fácil de petrodólares costuma alimentar um ciclo que inclui desestímulo à indústria nacional – é mais barato importar produtos estrangeiros do que produzir internamente – e falta de diversificação na economia local. Por isso, não chega a surpreender que a maioria dos países exportadores é formada por ditaduras marcadas pela corrupção.

Maduro, herdeiro político de Hugo Chávez – líder populista que governou o país de 1999 até a morte, em 2013 -, ajudou a reforçar esse estigma da maldição do petróleo, colocando a Venezuela entre os párias da comunidade internacional, alvo de sanções por violações de direitos humanos.

Mesmo com o país ostentando as maiores reservas mundiais de petróleo (cerca de 303 bilhões de barris, à frente da Arábia Saudita, com reservas de 267 bilhões de barris), a Venezuela mantém uma exploração irrisória, cerca de 800 mil barris diários, muito abaixo dos 3 milhões de barris diários dos áureos tempos da PDVSA, a estatal de petróleo que foi sendo dilapidada pelo chavismo.

Apenas durante o período de Maduro no poder, a economia do país encolheu 80%, cerca de um quarto da população emigrou e, quem ficou, luta para sobreviver, com mais de 85% dos venezuelanos na linha de pobreza. Em 2019, o país enfrentou uma hiperinflação de 65.000% anuais (hoje está em cerca de 35%).

A decadência da PDVSA acompanhou essa descida literal ao fundo do poço, mas ela teve início muito antes, em 2003. O ano, na prática, selou o destino da empresa. Foi quando Chávez fez um expurgo na estatal de petróleo, demitindo boa parte do corpo técnico e desviando bilhões de dólares em  investimentos na modernização da empresa para programas sociais e ajuda a países simpáticos à sua revolução bolivariana, como Cuba e Bolívia.

Adriano Pires, sócio-fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) e especialista no setor de óleo e gás, conta que a maioria dos ex-altos funcionários da PDVSA foram para o exterior. “No Canadá há muitas empresas menores de petróleo, grande parte criada por esses venezuelanos que faziam parte dos quadros da PDVSA”, diz.

Nos bons tempos, a estatal venezuelana tinha refinarias na Alemanha e uma rede de postos de gasolina nos Estados Unidos, a Citgo. Em maio, a Citgo – mergulhada em dívidas com 18 empresas internacionais que cobram US$ 21,3 bilhões por “apropriações e calotes” – foi vendida por decisão da Justiça dos EUA.

Já sob Maduro, a crise da PDVSA foi agravada com a imposição de sanções pelos EUA ao setor de óleo e gás que duraram pouco mais de seis anos, até outubro do ano passado, por causa de perseguição à oposição. As sanções foram retomadas em abril, mas as gigantes estrangeiras de petróleo puderam permanecer explorando petróleo, o que ajudou a aumentar a produção venezuelana.

Segundo Pires, sem quadros e investimento estatal, a PDVSA não tem salvação à vista. “Não adianta o candidato que ganhar investir na PDVSA no curto prazo”, diz o especialista. “A saída é atrair petroleiras estrangeiras para aumentar a produção.”

Isolamento

O regime chavista está cada vez mais isolado, perdendo apoio até de tradicionais aliados, como o governo petista do Brasil. Em 2018, Maduro foi reeleito numa votação marcada pelas denúncias de fraude e perseguição à oposição.

Na atual campanha, o presidente venezuelano repetiu o roteiro. Impediu a candidatura de María Corina – o governo controla o Poder Judiciário, a Justiça eleitoral e o Congresso -, perseguiu opositores, censurou jornais e sites de notícias, dificultou o direito de votos dos venezuelanos que vivem no exterior e barrou a presença de observadores internacionais para fiscalizar a lisura da votação.

Com as pesquisas mostrando um amplo favoritismo de González, Maduro passou a se expor. Gravou jingles no TikTok e radicalizou o discurso, advertindo sobre um “banho de sangue” caso a oposição vença a eleição.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a ameaça e Maduro retrucou, afirmando que quem o critica – sem citar Lula – deveria tomar chá de camomila. E ainda repetiu o bordão bolsonarista de que as urnas eletrônicas do Brasil “não são auditáveis” – as urnas venezuelanas também são eletrônicas, mas os eleitores saem da cabine com um comprovante em papel que mostra em quem votou, uma forma de vigilância do regime nada auditável.

Nos comícios, Maduro assumiu compromissos irrealizáveis, como construir 3 milhões de casas e oferecer financiamento estatal para abertura de empresas, além de retomar a região de Esequibo, rica em petróleo, em disputa com a Guiana.

O rígido controle do governo torna difícil prever se o candidato opositor, caso vença, irá de fato assumir – muitos analistas acreditam que Maduro só aceitou ser desafiado nas urnas porque tem certeza que pode fraudar o resultado.

Pires, no entanto, diz que a Venezuela com Maduro continua desestimulando os investimentos no país. “Com o atual governo há muito risco regulatório e jurídico, as empresas precisam sempre negociar com integrantes do regime”, afirma o especialista, numa referência indireta às denúncias de corrupção.

O problema, diz o especialista do CBIE, é que o país corre contra o tempo. Com a transição energética, o petróleo venezuelano – mais pesado e de baixa qualidade, sendo ambientalmente mais agressivo – tende a perder relevância.

“Se não explorar logo essas reservas, o petróleo da Venezuela corre o risco de ficar ali mesmo, no subsolo”, adverte Pires. Seria, a rigor, o retrato acabado da maldição que ronda os países exportadores de petróleo.



Fonte: Neofeed

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