Negócios
Shoppings desbancam construtoras de baixa renda e ganham a preferência do Santander em real estate
No rastro de questões como a reformulação do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), as construtoras e incorporadoras de baixa renda têm sido a escolha principal de boa parte dos analistas e investidores quando o tema em discussão são as empresas listadas do mercado imobiliário.
O setor não é, porém, uma unanimidade nesse espaço. Ao menos na visão do Santander, que está alçando os grupos de shopping centers com capital aberto na B3 como sua principal escolha no espaço do real estate, em “substituição” às construtoras ligadas ao MCMV.
“Os shoppings brasileiros são nosso tema preferido para investir em tempos desafiadores”, escrevem os analistas Fanny Oreng, Antonio Castrucci e Matheus Meloni, em relatório publicado nesta segunda-feira, 24 de junho.
O trio ressalta que essa visão positiva sobre o segmento se justifica pela combinação de fundamentos fortes, aluguéis vinculados à inflação e valuations excessivamente descontados, juntamente com o fraco desempenho do setor, “mesmo quando comparado à última recessão econômica”.
Em relação a esse último tópico, o banco destaca que as ações das administradoras de shoppings têm uma queda de 22% em 2024, com um recuo de 21,5% para cada aumento de 100 pontos-base nas taxas reais de juros, o que equivale ao dobro da retração observada durante a recessão de 2014 a 2016.
Para o Santander, os fundamentos desses grupos estão mais fortes atualmente na comparação com os governos Dilma/Temer, com balanços mais sólidos e níveis mais robustos de crescimento dos fundos ajustados de operações (AFFO).
Entre outros dados para salientar esse balanço mais favorável, o banco cita que a dívida líquida/Ebitda desses players atualmente varia entre 1,5 vez e 2 vezes, cerca de 30% abaixo da média dos últimos dez anos. De 2014 a 2016, esse indicador, em média, ficou no patamar de 3,4 vezes.
Como um fator adicional, o relatório pontua que o cenário limitado de oferta de novas áreas brutas locáveis (ABL) deve aumentar o poder de barganha dos grupos responsáveis por esses empreendimentos nas negociações com os varejistas, em especial, os detentores de ativos premium.
Os analistas observam, porém, que esses fundamentos fortes do segmento estão sendo ignorados pelo mercado. Para referendar essa posição, eles recorrem a outras comparações com a recessão econômica de 2014 a 2015 e com o período da pandemia.
“Os operadores de shoppings brasileiros estão sendo negociados agora com um spread médio sobre o NTN-B de 10 anos que varia entre 330 e 580 pontos-base. Um spread de 500 bps está apenas 150 pontos-base abaixo do pico que o setor atingiu durante a pandemia”, ressaltam.
Eles acrescentam que, durante o intervalo de 2014 a 2016, o setor foi negociado abaixo do seu padrão histórico, a um spread médio de 15 pontos-base. Isso reforça seu histórico de resiliência, à parte do ambiente macroeconômico, principalmente no que diz respeito aos ativos premium.
Diante desse panorama, o Santander manteve o Iguatemi como sua top pick entre as administradoras de shopping listadas na bolsa de valores brasileira, seguida, de perto, pela Multiplan. A Allos também foi mencionada como um bom potencial de alta.
Com recomendações de outperform (acima da média do mercado) para esses grupos, o banco reduziu, porém, o preço-alvo das três ações. No Iguatemi, de R$ 34 para R$ 32,50; na Multiplan, de R$ 36 para R$ 33,50; e na Allos, de R$ 31 para R$ 29,50.
Além do valuation bastante descontado, a preferência pelo Iguatemi é justificada por fatores como a alta exposição do portfólio de empreendimentos do grupo aos consumidores de alta renda e ao seu momento operacional sólido, com um potencial de crescimento “robusto” dos lucros.
Já no que diz respeito à Multiplan, os analistas apontam questões adicionais como o balanço patrimonial capaz de financiar expansões e remodelações dos ativos e a melhor eficiência do portfólio na relação aluguel/metro quadrado entre os nomes da cobertura do Santander.
Na Allos, por sua vez, um dos elementos destacados é o plano recente de desinvestimentos anunciado pelo grupo, da ordem de R$ 1 bilhão, que deve ser executado até 2025. Para o Santander, isso pode melhorar, entre outros pontos, a produtividade do portfólio e o balanço da companhia.
As units do Iguatemi estavam sendo negociadas com alta de 2,48% por volta das 11h55 na B3, cotadas a R$ 20,21. O grupo está avaliado em R$ 5,9 bilhões. Já as ações da Multiplan tinham alta de 3,38% no mesmo horário, cotadas a R$ 22,95, dando à empresa um valor de mercado de R$ 13,2 bilhões.
Os papéis da Allos, por sua vez, registravam alta de 1,30% e estavam sendo negociados no patamar de R$ 21,10. A companhia, fruto da fusão entre a Aliansce Sonae e da BRMalls, está avaliada em R$ 10,6 bilhões.
Negócios
Números Falam #31 – Junior Durski, CEO do Madero, e Ariel Szwarc, CFO do Madero
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Negócios
XP se une a três executivos ex-Santander e reforça ligação com o agronegócio
O agronegócio não tem importância apenas para o PIB brasileiro. Entre os clientes ligados ao agro atendidos pelas assessorias de investimento da XP, 25% são empresas com mais de R$ 100 milhões de faturamento.
Se o agro ajudou a XP a ganhar market share no investment banking, estruturando dívidas como CRAs e CRIs para o setor enquanto os grandes bancos consideravam o segmento pequeno e difícil, chegou o momento de olhar com mais cuidado para o wealth management. E a estratégia para agregar tudo isso é o B2B.
E surgiu uma oportunidade para a XP ampliar a sua rede de assessoria de investimentos focada no agronegócio com três ex-executivos do Santander. Eles lançaram a Sogima, assessoria de investimentos que nasce totalmente dedicada aos clientes do agronegócio, e plugada à XP.
“Eu realmente me surpreendi: XP no agro? Mas fomos conversando e percebi que há uma grande estrutura e ao mesmo tempo uma grande oportunidade de crescimento na rede”, afirma Ricardo França, sócio fundador da Sogima, ao NeoFeed.
França, que era superintendente regional de agronegócios do Santander, foi convencido por dois colegas de trabalho no banco, David Mailler Bocalon e Clemilson Franco, a empreender.
Neste início, eles estão movimentando a própria carteira de relacionamento e deram início a conversas com cerca de 90 potenciais clientes. A sede da Sogima será na capital paulista, mas os sócios planejam abrir escritórios no interior – embora ainda não tenham um destino definido.
Nos próximos meses, eles saem em busca de contratações de assessores que conhecem o agro para ajudar na meta de chegar a R$ 1 bilhão de captação em dois anos.
Para a XP, que criou mesas específicas de atendimento, como as de hedge cambial e commodities, para o cliente agro para o seu B2B, o diferencial está nas soluções customizadas para esse público, que não encontra o que procura nas grandes instituições financeiras.
“Já temos a Nexgen muito forte em Goiânia, e a Rio Negro em Campo Grande e agora temos a Sogima atuando mais no interior do Sudeste. E assim a gente ocupa bem esse tabuleiro”, afirma Bruno Ballista, sócio e head de assessoria e relacionamento com o cliente XP.
Atualmente, os clientes agro dos escritórios parceiros da XP estão localizados principalmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás e Paraná. E as principais soluções demandadas são commodities, operações compromissadas, renda variável, câmbio e produtos estruturados.
A Sogima nasce atendendo clientes pessoas jurídica e física ao mesmo tempo, e tendo como estratégia explorar o crédito colateralizado para ajudar produtores a se financiarem.
Na visão de França, o agronegócio cada vez mais procura o mercado de capitais, já que as linhas subsidiadas pelo governo são limitadas a R$ 3 milhões por CPF ou CNPJ, o que só atende ao micro produtor rural.
“Os muito pequenos têm acesso a linhas do governo, como tem que ser. E os grandes têm acesso ao mercado de capitais com grandes bancos. Há um vácuo para os players médios, e achamos que há uma grande oportunidade aí”, diz ele.
A crise do agronegócio, que registrou um boom de recuperações judiciais neste ano, não preocupa o sócio-fundador da Sogima. Ele vê um ciclo natural desse mercado, que apenas não era notado pelo setor financeiro antes porque não havia ninguém lá. E com a atenção conquistada nos últimos anos, muitos aventureiros entraram nesse mercado.
“O agronegócio é cíclico. Mas o que aconteceu este ano não foi uma quebra de safra, foi muito aventureiro que alavancou e deu problema. Os produtores mais maduros já passaram por isso e estão preparados para fases ruins”, afirma França.
Negócios
O preço da morosidade: governo desiste de construir hidrelétrica de R$ 2,5 bilhões em Mato Grosso
BRASÍLIA – Depois de 13 anos de tentativas para licenciar a construção da usina hidrelétrica Castanheira, projeto de R$ 2,5 bilhões que seria construído na região nordeste do Mato Grosso, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) resolveu desistir do plano.
O NeoFeed obteve detalhes do caso, que teve seu desfecho final na sexta-feira, 13 de dezembro. A EPE, órgão que é vinculado ao Ministério de Minas e Energia, pediu o cancelamento formal de registro da usina, sob argumento de que a Secretaria do Meio Ambiente (Sema) do Mato Grosso teria imposto uma série de dificuldades para licenciar a obra ao longo dos últimos anos.
Segundo a EPE, a secretaria ambiental agendou e cancelou, em dois momentos, as audiências públicas que seriam realizadas para discussão do projeto, além de não ter emitido um parecer técnico sobre o empreendimento.
Paralelamente, a construção da hidrelétrica na região norte do Mato Grosso, próximo ao Estado do Amazonas, também sofreu um revés com a Fundação Nacional do Índio (Funai). Depois de uma série de audiências e visitas a terras indígena da região, a Funai havia dado sinal verde para o projeto em 2022. Em 2023, porém, a nova diretoria da fundação suspendeu o ato anterior e colocou todo o processo em suspenso.
Ao formalizar a desistência do processo para a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a EPE relatou dezenas de encontros e pedidos sobre a usina realizados desde 2011, quando obteve autorização para elaboração dos estudos de viabilidade técnico-econômica do projeto.
Nos últimos 13 anos, conforme cálculos apresentados, a estatal diz que foram gastos mais de R$ 15,4 milhões de dinheiro público para estudar a hidrelétrica, envolvendo a mobilização de centenas de pessoas, contratações de terceiros e levantamento de dados técnicos. Tudo isso, agora, será inutilizado.
Prevista para ser erguida no rio Arinos, um dos principais afluentes no Juruena, a hidrelétrica Castanheira tinha capacidade projetada de 140 megawatts de energia, potência capaz de atender ao consumo elétrico de cerca de 1,9 milhão de pessoas, o suficiente para atender o consumo residencial de capitais como Recife (PE) ou Porto Alegre (RS).
A usina previa a construção de um reservatório de 94,7 km², nos municípios de Juara e Novo Horizonte do Norte, em Mato Grosso. De acordo com os dados técnicos, a hidrelétrica não interferia diretamente em unidades de conservação ambiental, terras indígenas ou áreas urbanas dos municípios.
“Fica evidente a complexidade de temas tratados no âmbito do licenciamento ambiental da hidrelétrica Castanheira, assim como a diversidade de interlocutores envolvidos no processo”, diz a EPE. “Por mais de uma década a EPE empenhou esforços em diálogos com os órgãos envolvidos no licenciamento.”
Em fevereiro de 2024, a Sema sinalizou que faria o arquivamento do licenciamento da usina, por causa da “inércia do interessado”. Em abril, a EPE apresentou contrapontos e pediu que a secretaria revisasse sua posição. Paralelamente, o órgão federal acionou a Casa Civil do Estado do Mato Grosso, para reforçar o interesse na obra e reclamar da “impossibilidade de debate sobre o projeto e a ausência de oportunidade de pactuar os compromissos”.
Em resposta, a Casa Civil encaminhou uma manifestação da Sema, que manteve o indeferimento por “não atendimento das solicitações de estudos complementares”. Segundo a EPE, a secretaria ambiental não apresentou justificativas sobre os pontos elencados pela autarquia federal.
Sobre os estudos indígenas, a EPE afirma que ocorreram visitas a várias aldeias da região, em maio de 2022, para os povos Rikbaktsa, Kayabi, Apiaká e Munduruku. “As reuniões contaram com a participação das comunidades e principais lideranças indígenas, de profissionais da empresa de consultoria responsável pelos estudos, representantes da Funai (Sede e Regional) e da EPE”, afirma.
A Funai aprovou o Estudo de Componente Indígenas e considerou que a oitiva foi realizada com êxito. No entanto, em março de 2024, a EPE diz que “foi surpreendida”, quando “a Funai informou a revisão dos seus posicionamentos expressos em julho de 2022, sem que fossem apresentados fatos novos ou justificativa técnica para motivar tal mudança de entendimento”.
Com a desistência, a EPE afirmou que os estudos de engenharia realizados, incluindo levantamentos de campo, investigações geológicas, além das informações socioambientais e de sondagens manuais e mecânicas, estão armazenados na autarquia, mas que o material deverá ser doado ou descartado após o cancelamento do processo.
“A EPE se compromete a disponibilizar os estudos até então realizados para que a sociedade possa ter conhecimento dos dados apurados e eventualmente possam utilizá-los futuramente”, afirmou a autarquia à Aneel. “Por todos os motivos elencados não há justificativa para a EPE continuar conduzindo o processo deste projeto.”
A decisão do governo federal de colocar a obtenção da licença prévia ambiental de projetos hidrelétricos sob responsabilidade da EPE se deve, justamente, à sensibilidade do tema, principalmente quando se trata do bioma Amazônia.
Ao entrar diretamente no processo de licenciamento, o governo federal quer mostrar aos investidores que o projeto é viável e seguro. Logo, o empreendimento pode ir à leilão, porque já tem uma chancela que sinaliza a sua viabilidade. Foi tudo o que não ocorreu neste caso.
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