Negócios
Bill Ackman, o gestor ativista que pretende levar a Pershing Square à bolsa
Em meio às críticas a respeito dos atuais rumos da economia dos Estados Unidos e a defesa em relação à Israel, em guerra contra o Hamas, o investidor ativista Bill Ackman começa a traçar os próximos passos para a Pershing Square Capital Management.
O principal movimento passa por realizar o IPO da gestora de fundos de hedge, que fechou 2023 com US$ 18,3 bilhões em ativos sob gestão, segundo apurou o jornal The Wall Street Journal. As fontes ouvidas pela reportagem apontam que a operação deve ser realizada entre o final de 2025 e início de 2026.
Antes, porém, Ackman pretende vender uma parcela na gestora. De acordo com a reportagem do WSJ, o investidor negocia a participação com investidores, em uma rodada de investimento que deve avaliar a companhia em cerca de US$ 10,5 bilhões. A expectativa é de que a operação seja finalizada nos próximos dias.
O valuation é considerado elevado para uma gestora de fundo de hedge. Mas em conversas com potenciais interessados, a equipe da Pershing diz que o valor é justificável porque planeja entregar retornos elevados com ativos considerados complexos. Atualmente, as principais posições da gestora são a rede de restaurantes de comida mexicana Chipotle e a gravadora Universal Music.
Outro argumento é que a Pershing espera administrar mais ativos e consiga mais receita com fees, com o lançamento de novos fundos. Em fevereiro, a gestora anunciou que lançaria um fundo fechado listado na Bolsa de Nova York (NYSE), voltado para investidores menores.
Segundo o WSJ, a gestora tem dito a potenciais investidores que a comparem com nomes como Brookfield Asset Management e Blue Owl Capital do que com gestoras de fundos de hedge. A Pershing tem se vendido nos últimos tempos como uma gestora com capital de longo prazo e pouco ruído.
A Brookfield conta com mais de US$ 925 bilhões e valor de mercado de US$ 15 bilhões, enquanto a Blue Owl é avaliada em US$ 28 bilhões e administra mais de US$ 174 bilhões em ativos.
Caso o IPO ocorra, ele romperá um longo período sem operações do tipo envolvendo gestoras de fundos de hedge. Depois de algumas listagens antes da crise financeira de 2008, os investidores passaram a ter cautela com ações dessas gestoras.
A imprevisibilidade das receitas oriundas com taxas de administração e performance, a possibilidade de saques dos investidores e a volatilidade dos retornos fazem muitos pensarem duas vezes antes de investirem em gestoras.
Ackman fundou a Pershing em 2004 como gestora de fundo de hedge com perfil ativista. Ele fez fama em Wall Street realizando campanhas contundentes contra empresas como a rede de fast food Wendy’s e a administradora de shopping centers General Growth Properties, que atualmente pertence à Brookfield Properties.
Entre 2015 e 2017, a gestora sofreu com as apostas feitas na farmacêutica Valeant Pharmaceuticals e contra a fabricante de suplementos alimentares Herbalife. Na pandemia, a Pershing teve um ganho de US$ 5 bilhões com hedges para proteger seus ativos.
Negócios
xAI, de Elon Musk, capta US$ 5 bilhões e já vale US$ 50 bilhões
Não seria exagero dizer que Elon Musk, maior cabo eleitoral de Donald Trump, foi um dos grandes vencedores na eleição presidencial americana. Agora, nessa onda, o bilionário por trás de empresas como Tesla, X e SpaceX está se capitalizando para avançar em outra corrida: a inteligência artificial.
Startup de inteligência artificial que tem Musk entre seus fundadores, a xAI anunciou nesta quinta-feira, 21 de novembro, que captou US$ 5 bilhões em uma rodada que avalia sua operação em US$ 50 bilhões, mais do que o dobro do valuation alcançado pela empresa há seis meses.
Segundo o The Wall Street Journal, devem participar do novo aporte nomes de peso como Qatar Investment Authority, o fundo soberano do Catar; Valor Equity Partners; Sequoia Capital; e Andreessen Horowitz.
Com a rodada, a startup chega a uma captação total de US$ 11 bilhões apenas em 2024. No total, desde a sua fundação, em julho de 2023, a companhia já levantou US$ 11,4 bilhões, em quatro rodadas, incluindo nessa conta a nova injeção de recursos.
Em maio deste ano, a xAI foi avaliada em US$ 24 bilhões quando levantou uma rodada de US$ 6 bilhões com a participação justamente dos fundos Andreessen Horowitz, Sequoia Capital e Valor Equity Partners, além de Vy Capital e Fidelity Management & Research.
Já no fim de outubro, o The Wall Street Journal revelou que a empresa estava em estágio inicial de negociações para uma nova tranche de investimentos, que levaria o seu valuation ao patamar de US$ 40 bilhões.
O fato é que o interesse dos investidores nos negócios capitaneados por Musk aumentou desde que a Donald Trump venceu as eleições presidenciais dos Estados Unidos, no início deste mês. O empresário injetou centenas de milhões de dólares na campanha e liderou comícios do candidato republicano.
As ações da Tesla, por exemplo, acumularam uma alta de aproximadamente 35% desde que o resultado da eleição foi conhecido até a última quarta-feira, 20 de novembro.
No caso da xAI, parte da nova captação será reservada para a compra de 100 mil chips adicionais da Nvidia, que serão usados para treinar modelos de inteligência artificial. Recentemente, a startup disse a investidores que chegou a uma receita de US$ 100 milhões em base anualizada.
O carro-chefe da empresa é o chatbot Grok, disponível para assinantes premium do X (antigo Twitter), outra companhia do guarda-chuva de Musk. A startup também disponibilizou a ferramenta para clientes corporativos.
Lançada em novembro de 2023, o chatbot chegou atrasado em uma disputa que já tem concorrentes atuando há mais tempo. Entre eles, a Anthropic, turbinada por cheques da Amazon e da Alphabet, e, principalmente, a OpenAI, dona do ChatGPT.
Musk ajudou a fundar a OpenAI, em 2015, e superar a empresa parece ser um de seus principais focos. O bilionário já processou a companhia e seu CEO, Sam Altman, por suposta fraude e violações antitruste.
Nessa corrida, a rival de Musk também ganhou um novo fôlego recentemente. No início de outubro, a OpenAI anunciou uma nova captação, de US$ 6,6 bilhões, junto a nomes como Thrive Capital, Softbank e Tiger Global. Com o aporte, a empresa foi avaliada em US$ 157 bilhões.
Negócios
A vida sem o Chrome: Google pode ser forçado a vender navegador de internet
O Departamento de Justiça dos EUA declarou que o Google pode ser obrigado a vender seu navegador Chrome como parte do processo judicial para corrigir o monopólio do mercado de buscas online.
Para as autoridades, a venda do Chrome serviria para “interromper permanentemente o controle do Google sobre esse ponto crítico de acesso às buscas e permitir que motores de busca concorrentes tenham acesso ao navegador, que para muitos usuários é uma porta de entrada para a internet”, de acordo com o documento judicial.
Na visão dos advogados do governo dos EUA, a concorrência só pode ser restaurada se o Google separar seu mecanismo de busca dos produtos que desenvolveu para acessar a internet, como o Chrome e o sistema operacional Android. Atualmente, o Chrome controla cerca de dois terços do mercado global de navegadores, de acordo com o site Statcounter.
No processo, a Justiça dos EUA também solicitou que o Google seja impedido de oferecer acesso preferencial ao seu mecanismo de busca em dispositivos que utilizam o sistema operacional Android. De acordo com o documento, caso o gigante de tecnologia não siga essa regra, ele pode ser obrigado também a vender o sistema operacional.
O Android é o sistema mais utilizado por smartphones em todo o mundo e abrange aparelhos de fabricantes como Samsung e Motorola, além dos próprios dispositivos Pixel do Google.
“A solução deve permitir e encorajar o desenvolvimento de um ecossistema de busca desimpedido que induza a entrada, a concorrência e a inovação, à medida que rivais disputam consumidores e anunciantes”, escreveu o Departamento de Justiça em conjunto com de duas dezenas de estados autores da ação.
Além de atingir as operações já existentes da companhia, o Departamento de Justiça tem o objetivo de afetar os negócios futuros do Google, pensando no seu desenvolvimento no mercado de inteligência artificial.
As autoridades do governo dos EUA querem que o tribunal obrigue o Google a permitir que editores de sites optem por não ter seus dados usados para treinar os modelos de IA da empresa. Como alternativa, a gigante de buscas teria que pagar aos editores pelo uso de seus dados.
Kent Walker, presidente de assuntos globais do Google, descreveu a solução sugerida pela Justiça como uma “proposta extremamente abrangente, que prejudicaria os americanos e a liderança tecnológica global dos EUA”, afirmou ao The Wall Street Journal. Ele disse ainda que o Google apresentará sua própria proposta ao tribunal em dezembro.
Cerca de metade das buscas feitas na internet nos Estados Unidos passa por produtos em que o Google pagou para se tornar o padrão, incluindo telefones com sistema Android, dispositivos Apple e navegadores como o Firefox, de acordo com o juiz distrital dos EUA Amit Mehta.
Além disso, outros 20% passam por navegadores Chrome baixados pelos próprios usuários, que têm o Google como mecanismo de busca padrão.
Esse domínio é responsável por grande parte da receita da Alphabet, controladora do maior buscador do mundo. Em 2023, os anúncios que aparecem ao lado dos resultados de busca representaram 57% dos US$ 307 bilhões em receita da companhia como um todo.
Negócios
Martín Escobari, da General Atlantic: “Esta é a melhor janela para investir em 15 anos”
Nova York – A indústria de private equity vive uma crise com os retornos nos seus menores patamares em anos e com os fundos alongando investimentos devido a um mercado de IPO praticamente inexistente. Mas um dos maiores líderes mundiais desse business está otimista.
“Esta é a melhor janela para investir em 15 anos”, diz Martin Escobari, co-presidente da General Atlantic, que recebeu jornalistas de quatro veículos na sede da empresa em Nova York, entre eles o NeoFeed.
Escobari, que comanda uma gestora com US$ 87 bilhões sob gestão, deve investir entre US$ 7 bilhões e US$ 8 bilhões neste ano, o dobro do que investiu em 2022 e só inferior ao 2020/2021, anos da pandemia, em que o excesso de liquidez fez todo mundo bater recordes.
O motivo? Os valuations das empresas estão uma “pechincha” com falta de capital no mercado ao mesmo tempo em que uma das piores secas já vistas de IPO está passando, indicando que investimentos feitos agora podem gerar múltiplos gordos.
O investidor está otimista também com a Índia, que ganhou o status de a “bola da vez”. Mas não com o Brasil. “Tem muita alegria no Brasil. Mas saiu do radar dos investidores, do mundo do capital. Ninguém quer saber. Hoje a preocupação é a saúde fiscal. Juro alto, dívida alta e imposto alto não é uma boa combinação. A solução é cortar custos. Mas isso não é fácil politicamente”, disse ele.
Mesmo assim, Escobari diz que a General Atlantic está olhando para potenciais investimentos no Brasil. E seus segmentos favoritos são educação, saúde e energia renovável.
Nesta entrevista, que você confere abaixo, Escobari fala ainda do impacto da vitória de Donald Trump, do boom da inteligência artificial e das Sete Magníficas. Confira os principais trechos da entrevista:
Como o mercado americano está vendo a eleição de Donald Trump?
Há dois lados, mas a visão do mercado geral é positiva ao Trump. Há otimismo no empresariado e no investidor. Primeiro por desregular, ele deve liberar muitas amarras de muitas indústrias. Segundo, espera-se maior abertura para fusões e aquisições. Estava tudo travado e teve uma queda de M&A por muitos anos pela postura muito anticonsolidação do governo Biden. E a expectativa de queda de juros mais acentuada ajuda. E isso justifica o otimismo.
Os mais precavidos estão assustados com a agenda protecionista. É agressivo você querer taxar todo mundo e também é provável que terá uma contrataxação. E isso deve gerar incerteza e retração da globalização, que, em geral, não é bom para o mundo nem para os EUA. O que será? Não sei.
E o que isso significa para a indústria de private equity?
Para o mundo de private equity espera-se que se abra o mercado de IPO nos EUA que esteve fechado três anos e meio. A última vez que fechou tanto tempo foi em 2000 e ficou 18 meses, muito menos. Teve algumas aberturas pontuais e insignificantes por agora. Mas não é uma “rota IPO market”. Estamos há muito tempo sem um mercado pujante. Tem 3 mil companhias na fila, US$ 800 bilhões de estoque querendo sair. Vai abrir no ano que vem, sem dúvida. Aí vai começar a ter saída para private equity, vai ter mais estratégico querendo comprar e vai ter mais liquidez voltando para os fundos. E isso facilita o fundraising. Espera-se um reaquecimento do private equity catalisado pela volta do mercado de IPO.
“Para o mundo de private equity espera-se que se abra o mercado de IPO nos EUA que esteve fechado três anos e meio”
Por que o mercado de IPO fechou?
Ressaca. Saiu muita empresa mal preparada e um dia todo mundo acorda e vê que não faz sentido e vem a sangria. Aí demora a ter um corajoso ou que não lembra dos prejuízos para arriscar de novo.
Quantas empresas do portfólio da General Atlantic devem fazer IPO na abertura da janela?
Com o mercado abrindo voltaremos a média de 10 a 15 IPOs por ano. Quais são, eu não sei.
Você está otimista com os investimentos? Por quê?
Achamos um bom momento para investir. Estamos investindo entre US$ 7 bilhões e US$ 8 bilhões este ano. É duas vezes o que gastamos em 2022. Só teve um ano que gastamos mais, foi em 2020/2021, não sei exatamente, foi na pandemia. E estamos otimistas porque o preço está muito bom. Estamos pagando pouco por ótimas empresas, que crescem 40%, 50% ao ano a preços razoáveis.
Essa é a melhor janela para se investir dos últimos 15 anos. Isso eu acredito de coração. O grau de ressaca do mercado fechado por tanto tempo leva a isso. Para empresas que a gente gosta, que são as tech, high growth e profitable, estamos vendo oportunidades bem interessantes. E estamos bem otimistas de como vai performar essa carteira que estamos montando.
Tem sido difícil captar no mercado. Como conseguiram esse dinheiro, é antigo?
Sim, tem sido mais difícil, mas nós sempre captamos alguma coisa, e sempre tem um caixa guardado para boas oportunidades. Não somos muito dependentes disso, temos investidores com fluxos recorrentes pelo mundo.
Onde estão investindo?
Metade nos EUA, 25% empresas globais baseada na Europa e 25% em emergentes. Não mudou muito do que sempre fizemos, mas o que tem caído é China. Índia é o que estamos mais animados. Estamos lá há 23 anos, eu vou todo ano lá e finalmente as coisas começaram a acontecer. São muitas coisas positivas. Tem a consolidação do mercado de telecom, com 70% dos indianos usando wireless, eles têm um Pix deles e 70% deles já usam. Dá para comprar em qualquer barraquinha com o Pix deles. O governo tem feito mudanças estruturais, tirou moeda do mercado e simplificou impostos. E o mercado está muito saudável com muito IPO, fundraising. Está sendo um momento muito legal. É a bola da vez mesmo. Tem lá um capitalismo pujante para inovação.
E qual a perspectiva para a China?
Tem os problemas dela com ela. E o governo ainda tem muita ferramenta para lidar com deflação e isso não é um problema grave, porque eles podem estimular a economia como o Ocidente fez. O que é difícil de visualizar é a incerteza da relação China com Estados Unidos. Esperamos que se estabilize e que fique clara. Mas agora não está. Na incerteza, preferimos esperar.
E o Brasil? Está na mira da General Atlantic?
O que é Brasil? (Risos). Brincadeiras à parte. Eu sou o maior propagandista do Brasil no mundo. Eu falo com os investidores que o nosso melhor retorno tem vindo de Brasil há uns 15 anos. Graças a XP, Hotmart, Gympass. Tem muita alegria no Brasil. Mas saiu do radar dos investidores, do mundo do capital. Ninguém quer saber. Hoje a preocupação é a saúde fiscal. Juro alto, dívida alta e imposto alto não é uma boa combinação. A solução é cortar custos. Mas isso não é fácil politicamente.
Acho que a tendencia é melhorar. Mas nos últimos três anos não se fala do Brasil. Se fala da Índia, do México, mas não do Brasil. E dá para ver no fluxo do capital estrangeiro na bolsa. Não tem nada, e não tem em private equity também.
“Tem muita alegria no Brasil. Mas saiu do radar dos investidores, do mundo do capital. Ninguém quer saber”
Acha que dá para mudar?
A microeconomia está espetacular. A gente investiu na QI Tech, Livemode, e está indo superbem. A XP vai bem. O problema é de fluxo de capital para a região. Dá para virar o jogo. Mas tem que fazer alguns movimentos mostrando disciplina fiscal.
O problema é que o lucro das empresas cresce, mas vale muito pouco. O lucro das empresas americanas vale 25x, os das brasileiras 8x. Ai perguntam? O Brasil está caro ou barato? Não sei. Resolve aí a sua casa. O seu bairro está estranho, está perigoso… Enquanto isso, o mercado americano está indo muito bem. O mercado vê muito risco em perder tempo em analisar se o Brasil vai sair do buraco.
Então, vocês estão descrentes com o Brasil?
Nós temos residência permanente lá, diferente de muitos gringos. Então, até gostamos. Compramos tudo baratinho. Mas não pode demorar tanto tempo o período de vacas magras que aí cansa. Mas eu acho que vai melhorar um pouco ano que vem. Mas depende dos gastos no governo.
Então, para uma empresa que está indo bem no Brasil pode ser uma solução tentar um IPO nos EUA e sair desse risco país e tentar pegar fluxo de capital?
Com certeza. Mas eu acho que quando se abre capital tem que ter no mínimo um free float de US$ 1 bilhão. Fazer IPO de empresa pequena só deu na minha carreira nos anos 2000 e em 2021. Não é natural. Tem que ter uma musculatura. Tem que ter previsibilidade para ter sucesso. Mas eu diria que tem uma coisa importante. Quando o mercado de IPO americano abre forte, o mercado redescobre o Brasil. Vocês vão ver que 18 meses depois do mercado abrir vai ter um monte de gringo “descobrindo” que tem 700 milhões de consumidores na América Latina e ficando entusiasmado. É sempre assim cíclico, o mesmo roteiro. Pode demorar um pouco mais, mas vai ser isso.
“Quando o mercado de IPO americano abre forte, o mercado redescobre o Brasil. Vocês vão ver que 18 meses depois do mercado abrir vai ter um monte de gringo “descobrindo” que tem 700 milhões de consumidores na América Latina”
Mas você está olhando coisas no Brasil agora? Qual é o seu foco de investimento?
Sim, estamos olhando. Nunca paramos. Eu acho que teve muita fintech. E agora começa a ter algum edtech. Educação é um grande tema. Somos muito felizes em ser sócios da Arco, um case maravilhoso. Saúde também é uma área que precisa de mais atenção. O sistema de saúde precisa de inovação.
O agronegócio, potência local, te interessa? E você vê o Brasil como futura potência da economia verde?
O Brasil é uma potência global de agricultura e tem sido um setor que se sofisticou muito. Mas a gente não olha essa área porque uma grande dificuldade é a ciclicidade. Já fiz o erro de achar que o fornecedor para a indústria agro é menos cíclico, mas não é. O retorno é difícil.
Agora tecnologias para redução de carbono, greentech, é uma tendência gigantesca. Lançamos um fundo específico para isso e temos investido em muita coisa. 90% do PIB do mundo assinou o compromisso net zero. E a quantia de dinheiro necessária para chegar a isso é na ordem de US$ 6 trilhões ao ano em investimento. Tem muita coisa para fazer e o Brasil tem muito potencial para ser referência. Já é líder em PCAH, energia hidro, solar de vento. Ainda é subdesenvolvido no crédito de carbono, pode virar um mercado mais sólido. Temos olhado coisas em climate tech Brasil. Gosto bastante do setor.
Um dos investimentos mais importantes da GA no Brasil foi a XP. Como você vê esse investimento neste momento?
A história com a XP tem 12 anos. Hoje é uma empresa financeira diversificada e que ajudou a criar cultura de investimentos no Brasil muito positiva. Os bancos atendiam muito mal o cliente. Nos EUA, quando investimos na E-trade, os bancos tinham 90% do mercado e 10 anos depois passaram a ter 10%. No Brasil, quando a gente investiu os bancos tinham 99% do mercado e hoje tem 80%. A XP multiplicou por 100 o seu tamanho e acredito que ainda há muito espaço para as plataformas abertas crescerem.
O momento da XP agora é melhorar a qualidade no atendimento, a inteligência na alocação de carteiras e ganhar a centralidade do cliente, tendo uma conta bancária melhor que os bancões. Tem que ter mais que uma boa plataforma de investimento, tem que ter uma plataforma bancária e ser mais importante na vida dos seus clientes. E isso está acontecendo. Ela fez investimentos grandes para ser mais completa. Mas está agora apanhando com o mundo do juro alto. Mas quando começar a melhorar, a XP nada de braçada. Quando o mercado for mais benigno e as pessoas quiserem tomar mais risco, a XP tem muita vantagem. Estou aguardando esse momento.
No Brasil também estamos sem IPO e muito se diz que não se consegue desenvolver o mercado de ações. Temos aproximadamente só 450 empresas listadas. Qual seria o motivo?
Não é tão pouco, mas precisa de liquidez. Faltam os gringos, que geralmente agitam o mercado e não têm agora. A gente errou fazendo muito IPO de empresa pequena, EUA também errou. Mas isso se autocorrige. A bolsa funciona bem, a CVM funciona bem, o Novo Mercado funciona muito bem. Tem um ecossistema de venture capital/private equity. As bases para um mercado saudável estão lá. Antes não tinha nada, agora tem tudo. Mas está em um momento ruim. O problema não é quantidade. Eu prefiro 100 empresas boas e líquidas. Na verdade com 20 dessas se faz um carnaval. Aqui nos EUA, 80% do mercado estão em sete empresas.
Qual é a sua opinião sobre as sete magníficas? Faz sentido elas concentrarem todo o mercado americano?
Essas listas se renovam. Nos anos 1980 era Cisco, IBM, Compaq… Só uma era das sete e ainda é: Microsoft. O Bill Gates, esse é o cara. Está sempre lá. Agora ainda acertou na OpenAI. Mas, então, o Google era inderrubável. E agora o governo quer separar eles. Além disso, o ChatGPT está mudando a dinâmica de research. Hoje, eu faço busca no ChatGPT, não no Google. É tudo muito dinâmico. A história mostra que essa lista se renova a cada 10/15 anos.
Você acha que os IPOs voltam com o tema de inteligência artificial?
Não. Está tendo uma minibolha em inteligência artificial. Em 30 anos de investimento em tech, essa é a 3º grande onda: teve a internet, a cloud e agora a IA. Essa deve ser a tecnologia mais transformadora que irá afetar a maior parte do PIB. É realmente uma ferramenta muito potente. A gente tem mais de 200 empresas no portfólio e todas usam IA. E, como fundo, é nossa responsabilidade ajudar a implementar as melhores práticas. E está se começando a ser usado na tomada de decisões. Se dá ou não crédito, se faz ou não algum investimento. O potencial é realmente grande.
Mas a quantia de investimento de private equity nisso foi enorme. A maior parte dos investimentos foi em infraestrutura, mas também teve em software e outras coisas. O mercado estava muito aquecido, mas com valuations esticados demais. Empresas de venture capital com valuations de private equity. Desconectado da realidade, mas já começou a corrigir um pouco. Nesse semestre, fizemos os três primeiros investimentos em empresas de software que usam IA para fazer softwares inteligentes. Essas empresas vão demorar a fazer IPO, são coisas embrionárias.
Vocês investiram em algo de IA que deu certo?
Nada significativo, pois achamos que estava tudo caro. Investimos em uma empresa turca, uma americana fundada por um chileno e em uma americana fundada por um israelense. Eu não quero dizer que não dá para ganhar dinheiro com IA. Tem gente que vai perder dinheiro e tem gente que ganha muito dinheiro. Tem de tudo. Quem investiu cedo na OpenAI está muito bem, mas quem investiu com valuation de US$ 150 bilhões, vamos ver…
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