Negócios
Em São Paulo, mais um lote do “pacotaço” de concessões começa a sair do papel
O governo paulista deu início na terça-feira, 29 de outubro, à última rodada de leilões do ano, no valor de R$ 19,1 bilhões, envolvendo no total cinco concessões e parcerias público-privada (PPPs) nas áreas de mobilidade, educação e loterias.
Protestos do lado de fora do prédio da B3, no centro de São Paulo, marcaram o primeiro dos dois leilões de PPPs para a construção de 33 novas unidades escolares, que atenderão 35 mil estudantes dos ensinos fundamental e médio.
O lote para a construção de 17 escolas foi arrematado pelo Consórcio Novas Escolas Oeste SP, formado por Engeform e Kinea, com deságio de 21,43% do valor máximo proposto no edital, de R$ 15.259.964. O segundo lote ocorrerá na segunda-feira, 4 de novembro.
Os demais leilões, a partir de quarta-feira, 30 de outubro, são de concessões de trechos rurais de rodovias estaduais – incluindo trechos da Raposo Tavares e da Castello Branco -, das chamadas Rota Sorocabana e Nova Raposo, além da transferência de gestão de serviços lotéricos.
A rodada atual, que termina no próximo mês, consolida uma das marcas da atual administração estadual – a transferência de gestão de ativos públicos para a iniciativa privada.
Desde janeiro de 2023, quando o governador Tarcísio de Freitas assumiu o Palácio dos Bandeirantes, a Secretaria de Parcerias em Investimentos (SPI) do governo estadual já modelou ou qualificou um total de 24 projetos prevendo R$ 470 bilhões em investimentos no longo prazo, entre privatizações, desestatizações, concessões e PPPs.
Desses, 10 projetos já tiveram leilão realizados ou estão em fase final para serem oferecidos à iniciativa privada, assegurando a maior parte (mais de R$ 350 bilhões) dos investimentos previstos – sendo que o grosso desse total, R$ 260 bilhões a serem gastos até 2060, já foi confirmado por conta da desestatização da Sabesp.
O leque de iniciativas de repasse para iniciativa privada inclui da ampliação das redes metroviária e ferroviária à gestão de parques públicos urbanos, passando pela construção de casas populares, escolas, desestatização da Sabesp, privatização da Emae (companhia de agua e esgoto) e construção do túnel Santos-Guarujá, além da concessão de rodovias, entre outros projetos.
Especialistas consultados pelo NeoFeed fizeram um balanço positivo do pacotaço de concessões e PPPs do atual governo paulista, tanto pela modelagem adotada como pela diversidade de setores repassados para gestão privada.
Gustavo Gusmão, sócio da EY especializado na área de governo e infraestrutura, observa que o programa paulista de parceria de investimentos consolida uma nova tendência da gestão pública de viabilizar projetos de infraestrutura, que passam a ter apoio da população.
“A discussão ideológica em torno do tema privatização ficou para trás, uma vez que já existe a percepção do próprio usuário, que consegue ver exemplos de sucesso num cenário de esgotamento de recursos públicos”, diz Gusmão, citando outros estados com programas em curso até há mais tempo. “As PPPs de infraestrutura na Bahia ou para construção de escolas em Belo Horizonte são exemplares.”
Segundo ele, o programa avançou em São Paulo devido à pujança econômica do estado aliada à capacidade de gestão do governo estadual, o que atrai investidores. Gusmão cita ainda alguns fatores que ajudaram a impulsionar o pipeline paulista. Um deles, a modelagem dos contratos, inspirados no sucesso das concessões rodoviárias, iniciadas há décadas.
“Elas evoluíram até atingir uma sofisticação, com participação de fundos de investimentos, regras que dão segurança jurídica, como inclusão de riscos de demanda – com tolerância até atingir muito acima ou abaixo para acionar o equilíbrio econômico-financeiro – e as inovações, como a adoção do free flow”, diz Gusmão, citando um exemplo de inovação do leilão atual da Rota Sorocabana, que incluiu no edital a construção de ciclovias.
Planejamento e gestão
Guilherme Reisdorfer, especialista em infraestrutura do escritório Justen, Pereira, Oliveira & Talamini Advogados, lembra que a maioria dos projetos de passagem de gestão para o setor privado do governo paulista é de longo prazo, ou seja, ainda é cedo para saber se vão dar certo ou não. “O importante é ter planejamento e gestão de contrato “, afirma ele.
Mesmo assim, Reisdorfer diz que é possível avaliar a tendência comparando alguns certames estaduais com os federais. Ele cita como exemplo a ideia do governo federal de realizar concessões rodoviárias “light”, com investimentos e tarifa de pedágio menores para rodovias com menos tráfego, sem obrigar o concessionário a oferecer ambulância ou guincho.
“O leilão das concessões da Rota Sorocabana, que envolvem trechos locais de rodovias, tiveram quatro interessados e o governo estadual não abriu mão do modelo de construir viadutos, com capex intensivo”, diz Reisdorfer.
Do atual pipeline paulista, Reisdorfer afirma que em meio à grande quantidade de projetos, nem todos foram positivos. Ele compara o sucesso da privatização da Emae, com competição acirrada, ao leilão do Trem Intercidades, que teve só um licitante, com ágio de 0,1%. Mas classificou como “louvável” a iniciativa do governo estadual em romper uma nova fronteira, a do transporte sobre trilhos para passageiros.
A desestatização da Sabesp também chamou a atenção dos especialistas. Houve muita polêmica sobre a modelagem do leilão na época de sua realização, em julho deste ano. Além do preço da ação no lote oferecido ao acionista de referência, de R$ 67 – muito abaixo da média negociada na B3 no mesmo dia, de R$ 83 -, o certame teve apenas um concorrente, a Equatorial, com pouca experiência em saneamento.
A despeito das críticas, o total arrecadado no processo de privatização, R$ 14,7 bilhões, representou a maior operação do mercado de capitais no País em 2024.
O temor de que a empresa perderia valor com a negociação também não se concretizou. Na semana passada, após uma reunião com o novo CFO da companhia, Daniel Szlak, agentes do mercado ligados a bancos reforçaram aposta nos papeis da Sabesp.
De acordo com relatório do Itaú BBA, as ações da empresa estão avaliadas atualmente na casa dos R$ 91, com uma expectativa de valorização de 57,5%, para R$ 143,40, até o final de 2025. O Goldman Sachs reiterou sua recomendação de compra para a Sabesp, com um preço-alvo de R$ 134,30 por ação, com potencial de alta de 47,5%.
“Foi uma operação complexa e difícil de opinar, pois o estado permanece com participação na empresa – ou seja poderá lucrar com a valorização das ações – e os objetivos de médio e longo prazo, a universalização da coleta e tratamento de esgoto, serão mais rápidos de serem atingidos com a desestatização”, diz Reisdorfer.
Gusmão, da EY, diz que com a desestatização da Sabesp o governo paulista vai conseguir antecipar a meta de saneamento. “Isso sem aumentar a tarifa, o que dá para divulgar que São Paulo faz diferente”, diz, lembrando que o caso da Sabesp é exemplar por expor que não há alternativa para outros estados que não seja o investimento privado em saneamento.
Leilões concorridos
A atual rodada de cinco leilões – o último no dia 30 de novembro – tem tudo para confirmar o apetite do mercado pelos ativos oferecidos pelo governo paulista.
As concessões rodoviárias são as que devem atrair maior concorrência. O primeiro leilão, previsto para quarta-feira, 30, oferece 460 quilômetros de 12 rodovias da Rota Sorocabana, na região sudoeste de São Paulo.
Trata-se da concessão de trechos rurais operados atualmente pela ViaOeste que vão incluir estradas sob gestão do DER-SP (Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de São Paulo). O investimento é de R$ 8,8 bilhões.
O projeto prevê duplicação de vias, implantação de faixas adicionais, novas passarelas, acostamentos e pontos de ônibus nas marginais das rodovias, com redução média de 22% do preço do pedágio.
O leilão inclui trechos da Raposo Tavares e da Castello Branco, duas das principais rodovias que ligam a capital paulista ao interior. Quatro empresas apresentaram propostas: CCR, Pátria, EPR e Ecorodovias.
O segundo lote de concessões rodoviárias, da Nova Raposo, só vai ocorrer em 28 de novembro e segue o mesmo modelo da Rota Sorocabana: concessão de 92 quilômetros de trechos de vias operadas atualmente pela ViaOeste com inclusão de estradas sob gestão do DER-SP. O investimento é de R$ 7,9 bilhões.
Os outros leilões desta etapa vão movimentar menos recursos, mas contam com um bom leque de interessados. O da PPP para construção de 33 novas unidades escolares foi dividido em dois lotes, com investimento total de R$ 2,1 bilhões.
A concessão dos serviços públicos de loteria estadual, marcado para o próximo dia 1º de novembro, prevê arrecadação de cerca de R$ 3,4 bilhões, recurso que será aplicado em investimentos para a saúde.
O projeto inclui 31 unidades exclusivas (lotéricas) e estima mais de 11 mil pontos não exclusivos em todo o território paulista. A futura concessionária vencedora poderá explorar o serviço de maneira física ou virtual.
Negócios
PIB menor e inflação mais alta: o impacto das tarifas de Trump nos EUA
O presidente americano Donald Trump completa exatas duas semanas de seu segundo mandato na Casa Branca nesta segunda-feira, 3 de fevereiro. E, em pouco tempo, já conseguiu chacoalhar os mercados globais ao começar a cumprir parte de suas promessas de campanha.
A mais recente movimentação dessa agenda veio à tona no sábado, 1 de fevereiro, quando ele anunciou a imposição de uma tarifa de 25% para produtos importados do México e do Canadá, além de uma alíquota de 10% para itens da China. As taxas entram em vigor a partir da terça-feira, 4 de fevereiro.
“Haverá alguma dor? Sim, talvez (e talvez não!). Mas faremos a América grande novamente e tudo isso valerá o preço que deve ser pago”, postou o presidente americano na Truth Social, rede social de sua propriedade, no domingo, 2 de fevereiro.
Ainda não é possível determinar o tamanho dessa conta. Mass em um termômetro das primeiras reações ao início dessa “nova guerra comercial” anunciada por Trump, o portal americano Yahoo Finance compilou algumas análises feitas por bancos e nomes relevantes de Wall Street.
“Nossos economistas esperam que as tarifas totalmente implementadas tenham consequências significativas”, escreveu o time de research de políticas públicas do Morgan Stanley projetando que o crescimento dos Estados Unidos pode ser de 0,7% a 1,1% a menos nos próximos três a quatro trimestres.
Ao estimar um aumento de 40 pontos-base na inflação americana no segundo semestre, a equipe de economia do Evercore ISI disse que o crescimento do país provavelmente sofrerá um “golpe”, à medida que os países se “afastam das exportações dos EUA, o investimento cai e o emprego diminui”.
Já o estrategista da Evercore ISI China, Neo Wang, ressaltou que o momento escolhido por Trump para o anúncio – o feriado do Ano Novo Chinês – provavelmente ofendeu tanto o governo quanto o povo chinês. E que ele roubou a atenção com suas “tarifas destruidoras de riqueza”.
Mas fez uma ressalva: “Essa primeira taxa de 10% parece, pelo menos, ter como objetivo ganhar vantagem na negociação no TikTok ou forçar Pequim a se sentar à mesa se a negociação ainda não tiver começado”, observou Wang.
Estrategista de casa de research 22V, Michael Hirson, por sua vez, entende que Trump acabará impondo, mais cedo ou mais tarde, tarifas adicionais sobre as importações da China, além desses 10% iniciais.
“A predileção de Trump por tarifas, a ótica de um déficit muito grande com a China e a política interna de mirar na China tornam improvável que ele pare aqui”, afirmou Hirson. “Não descartamos a possibilidade de um acordo comercial EUA-China, embora vejamos a barra política como bastante alta, especialmente neste primeiro ano de Trump 2.0.”
Quanto ao Canadá e ao México, as projeções a partir desse anúncio apontam para a probabilidade de uma recessão “iminente”. Para Jim Reid, estrategista do Deutsche Bank, os dois países podem testemunhar um choque maior do que o Brexit foi para o Reino Unido.
Ele também reservou espaço para comentar as críticas feitas por Trump à Europa e o discurso do presidente americano que coloca o Velho Continente como um dos próximos alvos dessa política de aumento de tarifas.
“Embora as tarifas não tenham sido cobradas da União Europeia, isso ainda é um golpe sério, dado o que provavelmente está por vir. Além das tarifas diretas, muitas montadoras alemãs atendem ao mercado dos EUA via México, onde produzem bens finais e/ou intermediários”, observou Reid.
O estrategista do Deutsche Bank acrescentou ainda que, embora os Estados Unidos estejam menos expostos às tarifas de retaliação anunciadas até o momento pelo Canadá e o México por conta do tamanho da sua economia, seria possível esperar que “vários décimos” fossem cortados do PIB americano.
Sob outra ótica, Jim Duffy, analista do Stifel, ressalta que quase todos os calçados e vestuários vendidos nos EUA são importados. E que as tarifas anunciadas no sábado provavelmente vão impactar o P&L das empresas a partir do segundo trimestre, com reflexos para todo o ano de 2026.
Duffy observa ainda que, em antecipação a tarifas potenciais, as empresas irão realinhar as cadeias de suprimento para minimizar as importações de países com alíquotas mais elevadas, adicionando risco operacionais potenciais.
“Para a maioria das empresas em nossa cobertura, a exposição direta às importações desses países é mínima. No entanto, o risco secundário de inflação e pressão relacionada sobre gastos discricionários é uma consideração”, escreveu o analista.
Negócios
Gerdau investe R$ 3 bi em energia limpa, aumenta fatia em comercializadora e prepara mais M&As
Quinta maior empresa consumidora de energia do Brasil, a gigante do aço Gerdau quer ser também uma companhia gigante na produção de energia sustentável. Para isso, encontrou dois caminhos: o primeiro deles é comprar ativos para ser dona da própria produção de energia. O segundo é ser, de forma indireta, também comercializadora e vender ao mercado a energia produzida a partir de fonte solar.
Nos últimos 12 meses, a empresa investiu mais de R$ 3 bilhões na construção de dois parques solares e na aquisição de PCHs (pequenas centrais hidrelétricas). E, em 2025, já decidiu que vai comprar outras hidrelétricas e avançar em parques eólicos. Com as iniciativas, a Gerdau já conta com 52% de sua energia oriunda de fonte renovável e certificada. O objetivo é chegar a 80% até 2031.
“O investimento em ativos de energia renovável está alinhado à estratégia da Gerdau de gerar maior competitividade no custo dos seus negócios, aumentando a autoprodução de energia limpa, e em linha com o processo de descarbonização já divulgado pela companhia”, diz o CEO da Gerdau, Gustavo Werneck.
No início deste ano, a empresa inaugurou o parque solar Arinos, em Minas Gerais, que foi anunciado em 2023 e que resultou em investimentos de R$ 1,5 bilhão. A produção pode chegar a 420 megawatt-pico (MWp). A capacidade fotovoltaica equivale a 7% do consumo de energia anual da Gerdau, que consome 6 mil MW por ano. Do volume produzido no parque solar, 30% irá abastecer diretamente as fábricas da Gerdau.
Em 21 de janeiro, a companhia comprou da Atiaia Energia as empresas Rio do Sangue e Paranatinga Energia, donas de duas PCHs no Mato Grosso, por R$ 440 milhões. As hidrelétricas fornecerão energia renovável para as unidades produtivas da Gerdau, no regime de autoprodução, em um montante equivalente a 8% do consumo de energia das operações da empresa no Brasil. As duas possuem capacidade instalada de 29 megawatts (MW) cada uma.
“Elas fazem parte da estratégia da Gerdau de buscar ser cada mais vez mais produtor de energia limpa. Por isso, essa aquisição das duas hidrelétricas passa a ser muito significativa, que vai nos ajudar a ser mais competitivo no processo produtivo de aço”, diz Flávia Souza, diretora global de energia e suprimentos da Gerdau.
Se, estrategicamente, buscar soluções com menos pegada de carbono são benéficas para a própria imagem do negócio, fato é que a energia limpa de autoprodução custa menos. É uma decisão que mexe no bolso. “Quando falo que ela é competitiva, quero dizer também que ela é mais barata. A energia limpa produzida por nós custa 30% menos”, diz Souza. “Nosso processo é muito intensivo em energia.”
Em 2025, a Gerdau irá realizar mais M&As de empresas que produzem energia limpa. “Temos interesse de continuar prospectando a compra de ativos de energia. Continuamos olhando o mercado e pode ser que a gente faça mais aquisições para complementar nosso portfólio e alcançar nossa meta até 2031”, afirma Souza.
A executiva entende que, com os novos parques solares, agora é necessário diversificar um pouco mais a origem dessa energia limpa. “Nossa matriz solar está bem cheia. Então, queremos sim fazer uma diversificação de fonte. E não adianta comprar de empresas que já tenham esse ativo contratado. Queremos essa energia para Gerdau.” Por isso que, no horizonte, estão mais hidrelétricas e as produtoras de energia por meio de vento.
Com as entregas dos novos parques solares, a matriz de energia a partir da luz do Sol irá corresponder a 60% do total da energia renovável consumida pela empresa. A fonte hidrelétrica representa 16%. “O momento agora é de discussão sobre a alocação de investimentos da Gerdau. E energia está dentro disso.”
Aumento de participação na comercializadora
A empresa também anunciou recentemente a ampliação da participação acionária da Gerdau Next (braço de novos negócios da companhia, criado em 2020) na Newave Energia, empresa focada em energia renovável. Hoje, a subsidiária da companhia de aço é dona de 40% da empresa. Antes, esse índice era de 33,33%. A Newave Energia é uma joint-venture criada pela Gerdau e Newave Capital.
Na prática, isso vai representar maior participação no projeto de construção do parque solar Barro Alto, em Goiás, em um investimento de US$ 1,3 bilhão. A usina deverá entrar em operação no início do ano que vem e terá capacidade de produção de 452 MWp, ainda maior do que a unidade mineira.
O volume de energia gerado pelo parque goiano teria condições de suprir o consumo de uma cidade com 365 mil habitantes (o tamanho de Blumenau, por exemplo). Serão 731 mil painéis solares distribuídos em uma área de 800 hectares.
“O plano está traçado e faz parte de uma estratégia de longo prazo. Em 2022, a gente iniciou a parceria da Gerdau Next para trazer energia renovável e competitiva, como uma linha de negócios. Em outra ponta, direto pela Gerdau, as ações têm sido no sentido de ser uma autoprodutora de energia, para o próprio consumo”, diz Flávia, que também integra o Conselho da Newave.
Nesse sentido, a executiva reconhece o interesse da subsidiária da Gerdau em comercializar energia para o mercado, o que pode incluir até suas concorrentes. “A Gerdau Next, sim, tem interesse, via sua participação na Newave, em fazer a comercialização de energia”, afirma.
Com a nova configuração acionária, a Gerdau terá direito a 40% de toda a energia solar produzida no parque de Goiás. E também terá sua participação na receita dos 60% restantes, que serão comercializados. “O objetivo principal é ter uma energia competitiva e limpa. E, como consequência, a empresa é dona de um negócio que vende essa energia. Com isso, aumentamos nossa receita e nosso retorno.”
Ela diz, no entanto, que não há intenção de, com a Newave, a Gerdau ser uma grande concorrente de empresas como Enel, Engie ou Eletrobras. “Mas é fato que temos uma empresa que tem um plano de negócios, e um portfólio para oferecer ao mercado.”
Negócios
Nas empresas familiares, os herdeiros estão indo para o conselho antes de assumir a gestão
O que Magalu, Votorantim, Gerdau, JBS, Safra, Marfrig e Weg têm em comum? Além de serem companhias brasileiras extremamente robustas em seus segmentos, elas possuem o DNA familiar na formação de suas histórias. Ainda que com executivos de mercados em posições estratégias, a maior parte delas é dirigida por integrantes de familiares ligados aos fundadores.
Mas qual é o segredo para que essas empresas, geridas por familiares, tenham sucesso? E, mais do que isso: como garantir a perenidade dos negócios? Esses talvez sejam os principais desafios das empresas familiares brasileiras.
Fato é que, ainda que com esses grandes cases de sucessos, os números trabalham contra essa realidade. Levantamento realizado pelo Banco Mundial mostrou que apenas 30% das empresas familiares chegam à terceira geração. E apenas 15% sobrevivem a essa sucessão. E o principal motivo é a falta de planejamento sucessório.
Segundo a 11ª Pesquisa Global sobre Empresas Familiares da PwC, somente 24% das companhias familiares se preparam para a sucessão. O resultado são conflitos entre os integrantes da família. E, por consequência, da empesa. O problema é que, sem a clareza de uma liderança, a empresa acaba vendida ou até mesmo indo à falência.
“O grande desafio das empresas familiares é separar as três caixinhas de cada um como família, como sócio e como funcionário. Nem todo mundo tem perfil para ser funcionário, muito menos executivo. Mas todos devem saber cobrar os executivos por resultados como sócios. E isso não pode afetar a relação familiar entre eles”, diz Gilson Faust, sócio da consultoria GoNext, que atuou em mais de 200 sucessões familiares.
Uma ideia está começando a ganhar corpo no mundo corporativo: o conselho de herdeiros. Na prática, são como conselhos de administração, mas que reúnem herdeiros de todas as idades. O objetivo é ensinar sobre o papel de sócios, discutindo questões da empresa e entendendo se possuem o perfil para serem executivos ou não.
No conselho, os herdeiros têm como principal objetivo aprenderem sobre a empresa e seus valores, o mercado que está inserida e seus desafios e oportunidades, além de começarem a acompanhar os resultados da empresa para aprendem a sua futura função de sócios e seus deveres e responsabilidades.
Isso já acontece na rede de supermercados Jacomar, uma das maiores redes de supermercados de Curitiba, fundada em 1966, que já passou de forma organizada para a segunda geração composta por oito irmãos, e que tem 20 pessoas da terceira geração que compõe o conselho de herdeiros.
Priscila Fantin, 27 anos, economista e especialista em gestão empresarial, é uma delas. Primeiro trabalhou no mercado e depois foi para a empresa da família, onde está há sete anos como analista de controladoria. O seu pai é o atual CEO da empresa, mas isso não muda a trajetória que ela precisa seguir na empresa. Ela veio para a área porque havia a vaga e ela tinha a experiencia.
“Nós já não tivemos o contato com os fundadores como a segunda geração, então muito do que fazemos é ver quais são os valores da empresa e como modernizar isso para os novos tempos. E levamos essa ideia para os sócios atuais”, afirma Fantin.
As reuniões do conselho são mensais e híbridas, para contemplar tanto os herdeiros que trabalham na empresa como os que não e estão em outra cidade ou país. Os herdeiros mais atuantes também passam a partilhar das reuniões do Conselho de Administração da empresa como ouvintes para ficarem por dentro das questões atuais, e também absorverem conhecimento para o momento em que passarem a atuar de forma definitiva na empresa.
A família Nichele, dona da Nichele Materiais de Construção, em Curitiba, descobriu as dificuldades de uma sucessão não planejada na prática. O fundador da empresa preparou o filho, Cristiano, para assumir o comando da empresa. Mas, na última hora, resolver compartilhar a gestão com suas outras duas filhas.
A consultoria GoNext foi acionada para ajudar e foi entender qual seria o melhor papel de cada um na empresa. Cristiano se tornou CEO com a aprovação de todos os sócios. As irmãs assumiram as diretorias financeiras e comercial. Já no marketing, ninguém da família tinha vocação e foi contratado um profissional de mercado.
“Meu pai sempre me preparou para assumir, mas depois não sabia muito bem o que fazer com as minhas irmãs e tentou colocar nós três na liderança”, diz Cristian. “Foi muito bom passar todo esse processo mais científico porque assim a aceitação da família foi muito melhor, sem deixar brechas que um ou outro estava sendo beneficiado”.
A terceira geração da família Nichele já começou a ser preparada desde cedo e passou a integrar o conselho de herdeiros com a orientação da consultoria. Já são nove pessoas de um grupo heterogêneo com crianças, adolescente e adultos. Todos os maiores de 14 anos já podem participar das reuniões.
Para Helena Rocha, sócia da PwC Brasil, apesar da transferência do controle para a próxima geração ser um evento extremamente importante e único na vida da empresa familiar, na prática é algo sobre o qual raramente se fala. E isso gera problemas, principalmente quando a sucessão precisa ser antecipada de forma inesperada.
“Ausência de comunicação, de alinhamento e planejamento estratégico comprometem qualquer negócio, mas principalmente as empresas familiares, onde as emoções se misturam entre família e negócio. É imprescindível a comunicação entre as gerações e um contrato geracional honesto”, afirma Rocha.
A organização e sucesso das empresas familiares beneficia a economia. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 90% das empresas brasileiras são familiares e empregam 75% dos brasileiros. Elas são responsáveis por mais de 60% do Produto Interno Bruto (PIB).
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