Negócios
No IPO da saúde, bolsas dos EUA querem mostrar que estão saudáveis
A fabricante de software de pagamentos de saúde Waystar Holding Corp. deu entrada nos Estados Unidos para uma oferta pública inicial (IPO) para levantar até US$ 1,04 bilhão, uma das maiores ofertas do ano até agora, mostrando que o mercado está voltando a esquentar, apesar das altas taxas de juros.
A Waystar, cujos âncoras da abertura de capital incluem a EQT AB e o fundo de pensão Canada Pension Plan Investment Board, está oferecendo 45 milhões de ações por US$ 20 a US$ 23 cada, de acordo com um documento apresentado nesta terça-feira, 28 de maio.
Os investidores da Waystar também incluem a Bain Capital e a Francisco Partners e suas afiliadas, cada uma das quais controla 5% ou mais das ações da empresa, de acordo com os registros.
A empresa entrou com pedido público de listagem na Nasdaq em outubro do ano passado e estava monitorando as condições do mercado, enquanto avaliava o momento de um possível lançamento, segundo jornais internacionais.
A oferta está sendo liderada pelo JPMorgan Chase, Goldman Sachs e Barclays. A empresa planeja que suas ações sejam negociadas no Nasdaq Global Select Market sob o símbolo WAY.
No topo da faixa de preço, a empresa sediada em Lehi, Utah, teria um valor de mercado de cerca de US$ 3,98 bilhões com base nas ações em circulação listadas em seu arquivo junto à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA.
Neuberger Berman e a Autoridade de Investimentos do Catar indicaram interesse em comprar até um total de US$ 225 milhões em ações, mostra o documento.
Em 2023, a Waystar teve um prejuízo líquido de US$ 51,3 milhões sobre uma receita de US$ 791 milhões, em comparação com um prejuízo de US$ 51,5 milhões sobre uma receita de US$ 705 milhões em 2022.
Se a Waystar conseguir levantar US$ 1,04 bilhão, se igualaria a empresa de software Kaspi.kz, que é, por enquanto, o terceiro maior IPO americano do ano, atrás da fabricante de produtos esportivos Amer Sports, que levantou US$ 1,37 bilhões, e da empresa de viagens Viking Holdings Ltd., que captou US$ 1,27 bilhões.
As empresas levantaram mais de US$ 17 bilhões este ano por meio de IPOs nas bolsas dos EUA, segundo dados compilados pela Bloomberg, 70% a mais que no ano passado, que registrou cerca de US$ 10,5 bilhões.
Negócios
XP se une a três executivos ex-Santander e reforça ligação com o agronegócio
O agronegócio não tem importância apenas para o PIB brasileiro. Entre os clientes ligados ao agro atendidos pelas assessorias de investimento da XP, 25% são empresas com mais de R$ 100 milhões de faturamento.
Se o agro ajudou a XP a ganhar market share no investment banking, estruturando dívidas como CRAs e CRIs para o setor enquanto os grandes bancos consideravam o segmento pequeno e difícil, chegou o momento de olhar com mais cuidado para o wealth management. E a estratégia para agregar tudo isso é o B2B.
E surgiu uma oportunidade para a XP ampliar a sua rede de assessoria de investimentos focada no agronegócio com três ex-executivos do Santander. Eles lançaram a Sogima, assessoria de investimentos que nasce totalmente dedicada aos clientes do agronegócio, e plugada à XP.
“Eu realmente me surpreendi: XP no agro? Mas fomos conversando e percebi que há uma grande estrutura e ao mesmo tempo uma grande oportunidade de crescimento na rede”, afirma Ricardo França, sócio fundador da Sogima, ao NeoFeed.
França, que era superintendente regional de agronegócios do Santander, foi convencido por dois colegas de trabalho no banco, David Mailler Bocalon e Clemilson Franco, a empreender.
Neste início, eles estão movimentando a própria carteira de relacionamento e deram início a conversas com cerca de 90 potenciais clientes. A sede da Sogima será na capital paulista, mas os sócios planejam abrir escritórios no interior – embora ainda não tenham um destino definido.
Nos próximos meses, eles saem em busca de contratações de assessores que conhecem o agro para ajudar na meta de chegar a R$ 1 bilhão de captação em dois anos.
Para a XP, que criou mesas específicas de atendimento, como as de hedge cambial e commodities, para o cliente agro para o seu B2B, o diferencial está nas soluções customizadas para esse público, que não encontra o que procura nas grandes instituições financeiras.
“Já temos a Nexgen muito forte em Goiânia, e a Rio Negro em Campo Grande e agora temos a Sogima atuando mais no interior do Sudeste. E assim a gente ocupa bem esse tabuleiro”, afirma Bruno Ballista, sócio e head de assessoria e relacionamento com o cliente XP.
Atualmente, os clientes agro dos escritórios parceiros da XP estão localizados principalmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás e Paraná. E as principais soluções demandadas são commodities, operações compromissadas, renda variável, câmbio e produtos estruturados.
A Sogima nasce atendendo clientes pessoas jurídica e física ao mesmo tempo, e tendo como estratégia explorar o crédito colateralizado para ajudar produtores a se financiarem.
Na visão de França, o agronegócio cada vez mais procura o mercado de capitais, já que as linhas subsidiadas pelo governo são limitadas a R$ 3 milhões por CPF ou CNPJ, o que só atende ao micro produtor rural.
“Os muito pequenos têm acesso a linhas do governo, como tem que ser. E os grandes têm acesso ao mercado de capitais com grandes bancos. Há um vácuo para os players médios, e achamos que há uma grande oportunidade aí”, diz ele.
A crise do agronegócio, que registrou um boom de recuperações judiciais neste ano, não preocupa o sócio-fundador da Sogima. Ele vê um ciclo natural desse mercado, que apenas não era notado pelo setor financeiro antes porque não havia ninguém lá. E com a atenção conquistada nos últimos anos, muitos aventureiros entraram nesse mercado.
“O agronegócio é cíclico. Mas o que aconteceu este ano não foi uma quebra de safra, foi muito aventureiro que alavancou e deu problema. Os produtores mais maduros já passaram por isso e estão preparados para fases ruins”, afirma França.
Negócios
O preço da morosidade: governo desiste de construir hidrelétrica de R$ 2,5 bilhões em Mato Grosso
BRASÍLIA – Depois de 13 anos de tentativas para licenciar a construção da usina hidrelétrica Castanheira, projeto de R$ 2,5 bilhões que seria construído na região nordeste do Mato Grosso, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) resolveu desistir do plano.
O NeoFeed obteve detalhes do caso, que teve seu desfecho final na sexta-feira, 13 de dezembro. A EPE, órgão que é vinculado ao Ministério de Minas e Energia, pediu o cancelamento formal de registro da usina, sob argumento de que a Secretaria do Meio Ambiente (Sema) do Mato Grosso teria imposto uma série de dificuldades para licenciar a obra ao longo dos últimos anos.
Segundo a EPE, a secretaria ambiental agendou e cancelou, em dois momentos, as audiências públicas que seriam realizadas para discussão do projeto, além de não ter emitido um parecer técnico sobre o empreendimento.
Paralelamente, a construção da hidrelétrica na região norte do Mato Grosso, próximo ao Estado do Amazonas, também sofreu um revés com a Fundação Nacional do Índio (Funai). Depois de uma série de audiências e visitas a terras indígena da região, a Funai havia dado sinal verde para o projeto em 2022. Em 2023, porém, a nova diretoria da fundação suspendeu o ato anterior e colocou todo o processo em suspenso.
Ao formalizar a desistência do processo para a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a EPE relatou dezenas de encontros e pedidos sobre a usina realizados desde 2011, quando obteve autorização para elaboração dos estudos de viabilidade técnico-econômica do projeto.
Nos últimos 13 anos, conforme cálculos apresentados, a estatal diz que foram gastos mais de R$ 15,4 milhões de dinheiro público para estudar a hidrelétrica, envolvendo a mobilização de centenas de pessoas, contratações de terceiros e levantamento de dados técnicos. Tudo isso, agora, será inutilizado.
Prevista para ser erguida no rio Arinos, um dos principais afluentes no Juruena, a hidrelétrica Castanheira tinha capacidade projetada de 140 megawatts de energia, potência capaz de atender ao consumo elétrico de cerca de 1,9 milhão de pessoas, o suficiente para atender o consumo residencial de capitais como Recife (PE) ou Porto Alegre (RS).
A usina previa a construção de um reservatório de 94,7 km², nos municípios de Juara e Novo Horizonte do Norte, em Mato Grosso. De acordo com os dados técnicos, a hidrelétrica não interferia diretamente em unidades de conservação ambiental, terras indígenas ou áreas urbanas dos municípios.
“Fica evidente a complexidade de temas tratados no âmbito do licenciamento ambiental da hidrelétrica Castanheira, assim como a diversidade de interlocutores envolvidos no processo”, diz a EPE. “Por mais de uma década a EPE empenhou esforços em diálogos com os órgãos envolvidos no licenciamento.”
Em fevereiro de 2024, a Sema sinalizou que faria o arquivamento do licenciamento da usina, por causa da “inércia do interessado”. Em abril, a EPE apresentou contrapontos e pediu que a secretaria revisasse sua posição. Paralelamente, o órgão federal acionou a Casa Civil do Estado do Mato Grosso, para reforçar o interesse na obra e reclamar da “impossibilidade de debate sobre o projeto e a ausência de oportunidade de pactuar os compromissos”.
Em resposta, a Casa Civil encaminhou uma manifestação da Sema, que manteve o indeferimento por “não atendimento das solicitações de estudos complementares”. Segundo a EPE, a secretaria ambiental não apresentou justificativas sobre os pontos elencados pela autarquia federal.
Sobre os estudos indígenas, a EPE afirma que ocorreram visitas a várias aldeias da região, em maio de 2022, para os povos Rikbaktsa, Kayabi, Apiaká e Munduruku. “As reuniões contaram com a participação das comunidades e principais lideranças indígenas, de profissionais da empresa de consultoria responsável pelos estudos, representantes da Funai (Sede e Regional) e da EPE”, afirma.
A Funai aprovou o Estudo de Componente Indígenas e considerou que a oitiva foi realizada com êxito. No entanto, em março de 2024, a EPE diz que “foi surpreendida”, quando “a Funai informou a revisão dos seus posicionamentos expressos em julho de 2022, sem que fossem apresentados fatos novos ou justificativa técnica para motivar tal mudança de entendimento”.
Com a desistência, a EPE afirmou que os estudos de engenharia realizados, incluindo levantamentos de campo, investigações geológicas, além das informações socioambientais e de sondagens manuais e mecânicas, estão armazenados na autarquia, mas que o material deverá ser doado ou descartado após o cancelamento do processo.
“A EPE se compromete a disponibilizar os estudos até então realizados para que a sociedade possa ter conhecimento dos dados apurados e eventualmente possam utilizá-los futuramente”, afirmou a autarquia à Aneel. “Por todos os motivos elencados não há justificativa para a EPE continuar conduzindo o processo deste projeto.”
A decisão do governo federal de colocar a obtenção da licença prévia ambiental de projetos hidrelétricos sob responsabilidade da EPE se deve, justamente, à sensibilidade do tema, principalmente quando se trata do bioma Amazônia.
Ao entrar diretamente no processo de licenciamento, o governo federal quer mostrar aos investidores que o projeto é viável e seguro. Logo, o empreendimento pode ir à leilão, porque já tem uma chancela que sinaliza a sua viabilidade. Foi tudo o que não ocorreu neste caso.
Negócios
Na Novo Nordisk, uma injeção de “desânimo” para os investidores
Nos últimos anos, a farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk se acostumou a fornecer generosas injeções de ânimo aos investidores. Essas doses de otimismo vieram na esteira do sucesso do Ozempic e do Wegovy, indicados, respectivamente, para o tratamento da diabetes e da obesidade.
No apagar das luzes de 2024, a companhia está experimentando, porém, um efeito totalmente inverso à escalada proporcionada por essa dupla de “blockbusters”. E essa virada encontra uma explicação na tentativa da empresa de encontrar um sucessor para os dois medicamentos.
A Novo Nordisk divulgou um comunicado nesta sexta-feira, 20 de dezembro, com os resultados da fase três de testes para uma nova injeção experimental contra a obesidade, batizada de CagriSema. E cujos dados mostraram que os pacientes perderam menos peso do que o previsto inicialmente no estudo.
Entre outros números anunciados pela empresa, a injeção ajudou os pacientes perderem uma média de 22,7% de peso em um prazo de 68 semanas. O índice ficou abaixo do patamar de 25% que a companhia havia projetado para o medicamento, previsto para ser lançado em 2026.
Com esses indicadores, a CagriSegman ficou próxima do desempenho do Zepbound, oferta nesta mesma categoria da americana Eli Lily, já disponível no mercado e maior rival do Wegovy. Mas a performance colocou em xeque a capacidade da Novo Nordisk de se manter na dianteira desse segmento.
Em relatório citado pela agência Bloomberg, Peter Welford, analista da Jefferies, ressaltou que os investidores esperavam uma perda de peso entre 25% a 27% nos testes da CagriSema. Os resultados aquém do esperado se refletiram no mercado de capitais.
Na Bolsa de Copenhagen, as ações da Novo Nordisk chegaram a registrar uma queda de 27% nesta sexta-feira, um dos maiores tombos já registrados em um dia por uma empresa europeia. E recuavam 21,08% por volta das 15h (horário local), avaliando a empresa em 2,6 trilhões de coroas dinamarquesas (cerca de US$ 362,5 bilhões).
O preço das ações da Novo caiu até 27% após o anúncio dos resultados, atingindo seu menor nível desde agosto de 2023 em uma das maiores quedas em um dia já registradas para uma empresa europeia. Elas caíram 18,8% às 12h25 GMT.
Com essa baixa, os papéis registram uma retração próxima de 16% em 2024. Já na Bolsa de Nova York, onde a farmacêutica está avaliada em US$ 482,1 bilhões, as ações recuavam 20,78% nas negociações do pre-market.
A expectativa em torno da CagriSema se justifica pelo fato de o medicamento ser a aposta da Novo Nordisk para lidar com o fim da patente do Wegovy, no início da próxima década, e a concorrência crescente na categoria, que tem previsão de movimentar cerca de US$ 130 bilhões até 2030.
Principal rival da Novo Nordisk, a própria Eli Lilly está testando uma nova geração de medicamento contra a obesidade, que, em um estudo realizado em 2023, apresentou uma melhor performance, com um índice de perda de peso dos pacientes de até 24%.
Em mais um provável efeito colateral do desapontamento causado pela farmacêutica dinamarquesa, as ações da Eli Lilly registravam alta de 7,20% nas negociações do pré-market na bolsa de valores americana. A empresa está avaliada em US$ 681,2 bilhões.
Na contramão desses números, Martin Holst Lange, vice-presidente executivo de desenvolvimento da Novo Nordisk ressaltou em nota que a empresa está “encorajada” pelo perfil de perda de peso contabilizado nos testes.
O executivo observou que, a partir dos insights obtidos no estudo, a empresa planeja explorar ainda mais o “potencial adicional de perda de peso da CagriSema”. E acrescentou que os resultados da próxima fase de testes são esperados para o primeiro semestre de 2025.
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