Negócios
SPX costura fusão e anuncia Tok&Stok e Mobly juntas
A maior briga societária dos últimos anos chegou ao fim (pelo menos para um dos lados) na noite de quinta-feira, 8 de agosto: Tok&Stok e Mobly anunciaram a combinação de suas operações para criar uma rede varejista de móveis e decoração com receita anual entre R$ 1,3 bilhão e R$ 1,5 bilhão.
A SPX Capital, que desde meados de 2021 assumiu a operação do fundo de private equity Carlyle no Brasil, costurou a fusão entre Tok&Stok e Mobly para fazer o desinvestimento e encerrar a intensa e desgastante relação com a família Dubrule, que era minoritária no negócio.
No acordo, que foi acertado como um aumento de capital na Mobly, a SPX fica com 12% das ações na nova empresa e a Mobly, além dos 88% na companhia, assume os 60% que o fundo de private equity detinha na Tok&Stok.
O negócio foi fechado na proporção de 4,5 ações da Mobly para uma da Tok&Stok. A SPX topou uma diluição de 50% na sua participação final na companhia. E a dívida foi precificada em R$ 9 por ação – desde o início de julho, a ação da Mobly na B3 acumula valorização de quase 45%, sendo negociada a R$ 3,03. O fundo de private equity tem um lockup de 24 meses.
“Entendemos que essa é uma oportunidade estratégica de complementaridade para os negócios em estilo, posicionamento, alinhamento e visão”, diz Victor Noda, cofundador e CEO da Mobly, ao NeoFeed.
Noda conta que há um ano e meio a Mobly se aproximou da Tok&Stok para tentar uma combinação das operações. Há um ano, essas conversas se intensificaram e ficaram concretas, mas não se chegou a um acordo, principalmente pelo endividamento da concorrente.
Agora, para sair o deal, a capitalização feita pelo Carlyle na Tok&Stok de cerca de R$ 120 milhões se transforma em uma debênture conversível em ações em qualquer momento até a ação bater em R$ 9. A taxa desse título é de CDI+2% até 2034.
A Mobly também fez um acordo com a maior parte dos credores para aprovar um plano de recuperação extrajudicial da Tok&Stok, que posterga o início do pagamento da dívida de 2025 para 2026 e alonga o prazo em 10 anos. O endividamento atual está perto de R$ 450 milhões. E a homologação depende da Justiça.
“Essa é uma maneira de ter prazos para conseguir as sinergias e a própria geração de caixa pagar a dívida, sem pesar na alavancagem da Mobly”, afirma Noda.
No último balanço publicado pela Mobly, referente ao primeiro trimestre deste ano, o gross merchandise volume (GMV), indicador utilizado para empresas digitais, foi de R$ 207 milhões. E a companhia continuava queimando caixa. Foram R$ 38 milhões no período. O prejuízo foi de R$ 21 milhões.
A sinergia potencial entre as empresas é projetada entre R$ 80 milhões e R$ 135 milhões por ano, em um prazo de cinco anos. O plano, desenhado com a Bain Company, vê potencial de ganhos com a corte de custos, seja pela verticalização ou otimização logística, benefícios com redução de taxas, principalmente na importação (a Mobly detém um escritório na China) e de cross-sell.
“As marcas continuarão rodando de forma independente. A Tok&Stok está na alta renda e a Mobly com a renda média e baixa”, afirma o CEO.
Embora o Carlyle tenha vendido sua participação total na Tok&Stok para se tornar sócio da Mobly, a família Dubrule mantém a sua participação na rede varejista fundada por ela.
A partir de agora, a família Dubrule terá duas opções: acionar o mecanismo de tag along e transformar a participação de 40% na Tok&Stok em ações da Mobly. Essa adesão daria aos Dubrule em torno de 33% da nova empresa, o que fará da Tok&Stok uma subsidiária integral da Mobly. Isso acarretará em aceitar todos os termos do acordo, a começar pelo lockup de dois anos das ações.
Caso não topem o acordo, a Mobly passa a exercer o mesmo papel do Carlyle como controlador da Tok&Stok e os Dubrule como minoritários. Victor Noda afirma que já conversou com a família Dubrule e tem total interesse da permanência do casal no negócio pela experiência que eles podem dividir, principalmente no varejo físico.
Uma relação desgastada pelo tempo
A relação conflituosa entre fundadores Régis e Ghislaine Dubrule e o Carlyle se tornou pública em 2017, quando o fundo de private equity decidiu unilateralmente tirar Ghislaine do comando da Tok&Stok e colocar um gestor profissional na rede varejista de móveis e decoração.
O primeiro a sentar na cadeira de CEO foi Luiz Fazio, um executivo com experiência de mais de três décadas no varejo, mas que tinha uma cultura totalmente diferente da família fundadora.
Os Dubrule entendem que o diferencial da Tok&Stok é a qualidade e as lojas físicas. Para eles, móveis e decoração não atraem o consumidor pelo digital. Já o Carlyle é favorável à digitalização da operação e ao constante corte de custos.
A visão passional de um sócio e a racional de outro criou um conflito. Por isso, nos últimos sete anos, a cadeira de comando da Tok&Stok ficou quente e a liderança foi mudada nove vezes – inclusive por Ghislaine em duas ocasiões.
Em meados de julho deste ano, Guilherme Santa Clara, que conhece operações varejistas (esteve à frente da Forever 21 no País) e turnaround assumiu como CEO. E Ghislaine, que tinha reassumido o negócio, oficialmente, há um ano, em agosto de 2023, foi novamente tirada da operação.
Em junho, Ghislaine falou com o NeoFeed e mostrou que a relação entre a família e o Carlyle estava novamente desgastada. Na entrevista, a fundadora disse que os sócios estavam “de saída”, mas ainda não tinham encontrado uma maneira de desinvestir na companhia.
“Realmente, eles precisam sair. Eles colocam isso para nós e temos de achar uma proposta que seja boa, em primeiro lugar, para a empresa, que é super importante, e em segundo lugar para os sócios”, disse ela. “Temos de definir esse caminho. E é isso o que estamos construindo.”
Ao que tudo indica, as semanas seguintes mostraram que – mais uma vez – os sócios não estavam alinhados no discurso. As palavras de Ghislaine ao NeoFeed incomodaram o Carlyle, que decidiu agir rapidamente para pôr um fim definitivo na sociedade que começou em 2012 quando o fundo de private equity pagou, na época, R$ 700 milhões por 60% da empresa.
O NeoFeed apurou que a maneira como a família Dubrule buscou “ganhar terreno” para tentar tornar o Carlyle minoritário e poder controlar a Tok&Stok foi, nas palavras de uma fonte, deselegante.
Em nenhum momento os Dubrule fizeram uma proposta ao Carlyle para adquirir a participação total, até porque o fundo não tinha interesse em ser minoritário, mas de sair por completo da operação.
Os Dubrule vinham fazendo pequenos movimentos. Pessoas próximas contaram ao NeoFeed que a família buscou uma maneira de levantar recursos, mas não conseguiu o montante suficiente para fazer a proposta ao Carlyle. Mas tinham de ter mais ações para conseguir dar as cartas novamente.
Por isso, a decisão foi comprar uma dívida de R$ 50 milhões no Itaú para se tornar credor da empresa (houve negociação para adquirir a dívida com outro grande banco, mas a família não concluiu) e propor uma nova capitalização de R$ 100 milhões – o que obrigaria o sócio a pôr “dinheiro novo” para não ser diluído, algo que estava descartado pelo Carlyle.
No desenho feito pelos Dubrule, a “volta ao controle” se daria com R$ 260 milhões: o aporte de R$ 100 milhões mais a conversão de ações da dívida do Itaú e de outros R$ 60 milhões que a família emprestou à Tok&Stok. Foi a gota d’água que transbordou o copo que sempre esteve cheio entre os sócios.
“Temos um curso para capitalizar um pouco mais a empresa, mas vamos seguir firme”, disse Ghislaine, em junho, ao NeoFeed.
No ano passado, para evitar um pedido de falência, Carlyle e Dubrule fizeram uma engenharia financeira, com um reperfilamento da dívida de R$ 650 milhões.
Além da reestruturação com os grandes bancos, cujo principal vencimento acontece em 2029, mas que precisa começar a ser pago em 2025, os sócios já haviam aportado R$ 100 milhões.
Conversas antigas
Fundada em 2011 por Victor Noda, Marcelo Marques e Mario Fernandes, a Mobly se apresentou como uma startup de móveis e decoração. Nativa digital, a empresa teve uma ascensão rápida e aproveitou a janela de IPOs para abrir o capital na bolsa de valores.
Em fevereiro de 2021, a companhia captou R$ 812 milhões, sendo R$ 778 milhões em sua oferta primária. A ação foi listada a R$ 21. De lá para cá, o papel da empresa desabou e chegou a ser negociado em R$ 1,80 em abril do ano passado. A queda acumulada é de 88,5%.
Neste ano, a ação MBLY3 engatou uma recuperação e acumula alta de 54,5%. O valor de mercado é de R$ 322,6 milhões.
“Temos conversado com vários investidores e ter uma empresa líder de mercado pode influenciar no mercado de capitais. Eles querem apostar em quem está na frente”, diz Marcelo Marques, CFO da Mobly, ao NeoFeed.
Em setembro do ano passado, as conversas com a Tok&Stok se tornaram públicas quando o veículo Pipeline trouxe a informação de que os termos da fusão entre Mobly e Tok&Stok estavam acertados. Na época, o sócio de uma boutique de investimentos disse ao NeoFeed que “não era uma questão de se, mas quando”.
A Mobly publicou fato relevante confirmando a informação. E o mercado entendia que o negócio entre as duas empresas era complementar, seja pela união de uma empresa física com outra nativa digital, seja pelo perfil de cliente A e B de uma com o C de outra.
Mas a família Dubrule se “arrepiava” com essa possibilidade e era contra uma fusão com Mobly ou Westwing. Para os fundadores, a Tok&Stok era única no setor e agregava mais valor do que as outras marcas. E a rede fundada por eles ficaria em desvantagem na mesa de negociação pela fragilidade financeira.
Além disso, os Dubrule entendiam que enquanto a Tok&Stok era uma empresa de coleções exclusivas e móveis e decorações aspiracionais para o consumidor, as concorrentes apostavam nos “catálogos prontos importados da China”. Como será daqui para frente?
Negócios
Nas concessões rodoviárias, a estrada está livre para chegar a R$ 100 bilhões em 2025
Pela décima vez no ano, o martelo que põe fim a um leilão de concessão rodoviária no País deverá bater nesta quinta-feira, 19 de dezembro, na B3, em São Paulo, com a disputa do Lote 6 de rodovias integradas do Paraná, fechando uma temporada com recorde de novos contratos, de investimentos e até de novos entrantes – consolidando as concessões rodoviárias como um dos ativos mais disputados na área de infraestrutura.
Antes do certame de hoje, foram seis leilões de rodovias federais e três de rodovias estaduais, essas em São Paulo, assegurando cerca de R$ 62,5 bilhões em investimentos, incluindo os R$ 12,6 bilhões a serem aportados pelo vencedor do Lote 6 do Paraná – por sinal, o maior em volume do ano.
A boa notícia é que os leilões de concessões devem seguir ainda mais disputados em 2025, com ampliação de oferta superior a 50% de rodovias, a maioria federais, além de novas opções de contratos – o que deve atrair uma nova leva de investidores, com apetite de aportar recursos de diferentes perfis para o setor.
A julgar pela quantidade de certames previstos em 2025, os investimentos devem chegar próximo aos R$ 100 bilhões. Só o Ministério dos Transportes prevê 15 leilões de concessão de rodovias federais em 2025, sendo seis apenas no primeiro semestre, somando R$ 32,5 bilhões em investimentos.
“É o maior pipeline do mundo”, assegurou na semana passada o ministro dos Transportes, Renan Filho, para quem nem países europeus têm esse número de leilões.
O governo federal também pretende atacar em outras duas frentes, o que deve ampliar a oferta de ativos. A maior novidade diz respeito às chamadas “concessões light” de rodovias federais, um novo modelo de licitação voltada para rodovias de menor tráfego, com contratos mais curtos, de 10 anos, e foco na manutenção das estradas.
Esse formato de concessão prevê tarifa de pedágio menor, sem a obrigação de o concessionário oferecer serviços como guincho ou ambulância. Por essa razão, deve atrair uma nova camada de investidores, diferente dos que costumam participar de licitações de longo prazo, que exigem aportes mais parrudos.
Pelo menos sete das 15 concessões rodoviárias previstas pelo governo federal em 2025 devem entrar nesse lote, incluindo a BR-393, no Rio de Janeiro (conhecida como “Rodovia do Aço”), a BR-040, em Goiás, e a BR-262, em Minas Gerais e Espírito Santo, além de rodovias na Bahia e em Santa Catarina.
O modelo pode ajudar a trazer de volta ao setor as grandes empreiteiras, que monopolizaram os 16 leilões de rodovias federais realizados entre 2007 e 2014, e acabaram sucumbindo ao escândalo da Lava-Jato, como Novonor (antiga Odebrecht), Andrade Gutierrez, Galvão Engenharia, Camargo Corrêa e UTC.
Outra prioridade listada pelo ministro dos Transportes, Renan Filho, é a renegociação de contratos de concessões em curso. Instituída no ano passado, visa a garantir a modernização de contratos para corrigir defasagens técnicas e financeiras.
A iniciativa vale para contratos “estressados”, aqueles com obras paralisadas e obrigações suspensas, que seriam alvo de nova licitação. O objetivo do governo é repactuar 14 contratos até 2026, com supervisão do Tribunal de Contas da União (TCU).
Consolidação do setor
O otimismo não se restringe ao governo federal. Ewerton Henriques, sócio-diretor da SH Consultoria, que atua no mercado financeiro assessorando projetos de infraestrutura, acredita que o pipeline de investimentos privados nas concessões rodoviárias deverá seguir aquecido até o fim do mandato do atual governo federal.
Segundo ele, o ano de 2024 marcou uma consolidação, em especial na área de regulação, com o poder público entendendo a lógica das concessões, que mistura qualidade no serviço prestado a um balizamento de retorno – tanto por meio de tarifas de pedágios mais baixas, modelo usado nas concessões federais, como nas outorgas, preferidas pelas licitações paulistas.
“A gestão de risco está alinhada, o licitante percebeu que o mercado está consolidando práticas unânimes de todos os poderes concedentes, fruto também do respaldo do TCU e da ANTT”, diz Henriques, citando a agência do governo responsável pelas concessões rodoviárias.
Essa convergência, de acordo com o consultor, deu segurança jurídica para o mercado de capitais apostar nas concessões, com contratos de longo prazo e grande aporte de investimentos.
Isso ajuda a entender os números recordes de 2024, do número de concessões, da quantidade de investimentos e, principalmente, de novos entrantes. Dos nove leilões realizados este ano, oito tiveram diferentes ganhadores, com perfis distintos – além de operadores tradicionais, companhias estrangeiras, construtoras locais e gestoras de investimentos se juntaram ao grupo.
Henriques observa que o sucesso obtido por alguns fundos que já vinham atuando no setor de concessões fomentou a entrada de novos fundos, por meio de parcerias com operadores. “Recebi consultas informais de pelo menos seis fundos de equity, daqui e de fora, demonstrando interesse em investir no setor de concessões em 2025”, afirma.
O leque de fundos de olho no mercado é amplo. O consultor cita fundos de participação, interessados em comprar parte das ações de empresas que atuam em concessões, e os fundos de dívida, que atuam com debêntures incentivadas e de infraestrutura.
“O ambiente econômico, favorável para dívida prefixada, aumenta o apetite de gestoras que estão lançando fundos focados em investimentos na área de infraestrutura, não só em concessões de rodovias como em saneamento”, diz Henriques.
O Ministério dos Transportes confirma essa tendência. Estudo divulgado em outubro mostra que concessionárias de rodovias e ferrovias captaram R$ 21,9 bilhões por meio da emissão de debêntures incentivadas entre janeiro e setembro de 2024, quatro vezes o volume registrado em igual período do ano passado (R$ 5,4 bilhões).
Taxação de debêntures
O temor de que a proposta do pacote fiscal do governo de taxar os super-ricos, retirando isenção de impostos para pessoa física das debêntures de infraestrutura, possa afetar o setor divide os especialistas.
“Não acredito que essa ameaça do governo, que afetaria investidores pessoa física, tenha interferido no apetite para entrar nesses projetos, na mesma leva dessa discussão já houve licitação com investimentos elevados”, assegura Henriques.
Para Leonardo Moreira, sócio do escritório Ciari Moreira Advogados e especialista em contratos de infraestrutura, as debêntures de infraestrutura são fundamentais para financiar projetos de longo prazo. Por isso, na avaliação dele, mexer nesses papeis seria uma contradição para a proposta do governo de investir em infraestrutura.
“Será essencial que o governo encontre um equilíbrio entre a necessidade de ampliar a arrecadação e a manutenção de instrumentos que incentivem o investimento em infraestrutura, preservando a competitividade e a confiança do mercado”, afirma Moreira.
A julgar pelo interesse dos players nas licitações, esse temor por enquanto está afastado. O leilão desta quinta-feira, 19 de dezembro, do Lote 6 do Paraná, inclui um lote de rodovias que vai da região oeste do Estado, na fronteira com Paraguai e Argentina, até o porto de Paranaguá.
Apesar de exigir R$ 12,6 bilhões de investimentos, o leilão atraiu competidores de peso, entre eles o Grupo EPR (joint venture entre a Equipav e a Perfin, com outros ativos arrematados este ano, como a BR-040 em Minas Gerais), o fundo Pátria e o consórcio da 4UM com o Opportunity – que mais uma vez tenta obter sua primeira aquisição de concessão rodoviária.
O calendário de leilões para concessões de rodovias estaduais em 2025 também contribui para o otimismo no setor. Governos de Mato Grosso do Sul e São Paulo já estão modelando licitações.
A primeira da lista é a da Rota da Celulose, um conjunto de duas rodovias federais e duas estaduais, no Mato Grosso do Sul. O leilão, realizado em novembro, terminou sem interessados – foi o único certame do setor fracassado em 2024, problema atribuído ao modelo de contrato, pouco atraente. Uma nova versão está sendo concluída e a previsão é de que o leilão seja marcado para o primeiro trimestre.
O governo paulista também pretende dar continuidade ao seu agressivo programa de concessões rodoviárias, com três leilões em vista: Lote Paranapanema, Rota Mogiana e Circuito das Águas.
Os três projetos preveem parcerias público-privadas utilizando trechos atualmente operados pelo DER-SP (Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de São Paulo).
“Juntando todas as opções, incluindo concessões federais, estaduais, repactuações e concessões light, há oportunidades para investidores de todos os perfis”, diz Henriques, da SH Consultoria.
Negócios
NotCo traz vertical B2B para o Brasil e leva sua IA, o Giuseppe, para além de produtos à base de planta
A NotCo, foodtech chilena conhecida pelo desenvolvimento de produtos à base de plantas avaliada em US$ 1,5 bilhão, está lançando sua vertical B2B no Brasil, em busca de expandir a utilização de sua inteligência artificial proprietária, o Giuseppe.
Com oito anos de experiência e mais de 400 produtos desenvolvidos por meio desta tecnologia, a empresa já opera em países como Estados Unidos, Canadá, México, Argentina, além de sua terra natal, o Chile. Nessa vertical B2C, a companhia tem 20% de participação do mercado à base de plantas no mundo.
A companhia, que já captou US$ 430 milhões em rodadas de investimentos lideradas por fundos como Kaszek e L Catterton, tem mais de 8 mil ingredientes cadastrados na plataforma de IA. Com essa base, a NotCo decidiu utilizar seu “poder de fogo” para auxiliar grandes empresas do segmento de alimentos a inovar no desenvolvimento dos produtos, mesmo os que não são plant-based.
“Ao longo do tempo, as empresas começaram a nos procurar para utilizar a tecnologia do Giuseppe para solucionar problemas que encontravam em produtos já existentes, como a presença de gordura ou mesmo de itens de origem animal”, afirma Giulia Braghieri, diretora sênior de desenvolvimento de negócios B2B Global da NotCo.
Segundo a executiva, essas companhias estão em busca de eficiência e redução de custos, o que pode ser resolvido pela tecnologia.
Na prática, o Giuseppe mapeia a estrutura molecular de alimentos de origem animal e cria receitas 100% plant-based que tem o objetivo de preservar o mesmo sabor, cor e textura dos produtos originais.
Com ele, a startup afirma que é possível desenvolver e reformular produtos de maneira rápida, eficiente e econômica, reduzindo o tempo de teste e estudo que é destinado a esses produtos e, consequentemente, seus custos.
“Na indústria de alimentos tradicional, as empresas levam cerca de 18 meses, no mínimo, para lançar um produto, já que esse processo exige testes, erros e acertos e questões burocráticas que mudam a todo tempo”, afirma André Weinmann, CEO da NotCo no Brasil. “Com o Giuseppe, esse tempo se reduz para semanas”.
Um dos exemplos mais recentes do uso da tecnologia ocorreu no Reino Unido. Por lá, existe uma regulamentação do HFSS (Healthier Food Score System) utilizada para medir a qualidade dos produtos oferecidos aos clientes – o que define onde eles ficam apresentados nas gôndolas.
Para se enquadrar nessas regras, uma grande marca inglesa solicitou os serviços da NotCo, que desenvolveu um chocolate exatamente da forma esperada pelas regras, com o mesmo sabor do original.
Fora do Brasil, a NotCo já atende empresas como Kraft Heinz, Starbucks, Burger King e Mars nesse segmento B2B.
Com a tecnologia, a empresa espera expandir seus serviços além do segmento de alimentos, podendo atingir mercados como o de fragrâncias, pet e farmacêutico.
“Toda empresa de consumo precisa inovar na sua produção e isso não é uma questão do Brasil e sim do mundo”, afirma Weinmann. “As opções e variáveis são praticamente infinitas e, quanto mais o tempo passa, mais o mercado evolui e abre novas oportunidades de negócios”.
Com a vertical B2B, a empresa espera superar o desempenho do B2C em poucos anos. “Se nós conseguirmos ajudar pelo menos uma inovação dentro das grandes empresas nesse primeiro momento, já é um mega feito para a NotCo”, diz Braghieri.
Negócios
Com mercado de ações em baixa, (até) a B3 se rende à renda fixa
Saída de estrangeiros, seca de IPOs e desinteresse de fundos e pessoas físicas pelo mercado de ações brasileiro. Esses são alguns dos desafios enfrentados pela B3, a dona da bolsa de valores de São Paulo, nos últimos anos. Sem o vento a favor que impulsionou seu principal negócio no início da década, a companhia tem buscado se reinventar. Investiu na aquisição de concorrentes, ampliou sua atuação em dados e tecnologia e, para 2025, coloca a renda fixa no centro de suas prioridades.
Com a taxa Selic a 12,25% e perspectivas de atingir 15% no próximo ano, a B3 tem se preparado para atender o aquecido mercado de crédito privado, que teve um desempenho fora da curva em 2024. Até o terceiro trimestre, o número e o volume de emissões de debêntures já haviam superado o recorde de 2023, movimentando R$ 326 bilhões no mercado primário.
“É um mercado que cresceu muito em 2024 e tem uma perspectiva [de crescimento] ainda maior para 2025, impulsionado por mais maturidade, vencimentos mais longos e novos emissores”, afirmou Gilson Finkelsztain, CEO da B3, durante o evento B3 Day, realizado na quarta-feira, 18 de dezembro.
A B3 já colhe frutos desse cenário, com a receita da divisão de Balcão crescendo 15% no terceiro trimestre, alcançando R$ 288 milhões — a maior parte proveniente de instrumentos de captação bancária. A distribuição de debêntures no período gerou R$ 19,6 milhões em receita.
“A renda fixa é a maior oportunidade de diversificação que temos agora. O momento desse mercado é excepcional, além de ser contracíclico em relação ao mercado de ações. Quando os juros sobem, a renda fixa vai bem, e quando caem, as ações ganham tração. Isso ajuda a suavizar os resultados da companhia”, destacou Luiz Masagão, vice-presidente de produtos e clientes da B3.
Além de prover infraestrutura para a distribuição de debêntures, a B3 atua na análise documental das ofertas, custódia e depósito. “Já estamos consolidados no mercado primário, mas o secundário ainda é muito analógico, com negociações feitas via chat da Bloomberg ou por telefone, com gritaria nas mesas de tesouraria. Há uma enorme oportunidade de digitalizar e automatizar esses processos”, pontuou Masagão.
Hoje, o mercado de renda fixa é altamente concentrado em bancos e corretoras, que negociam papéis com clientes e, posteriormente, entre si. A estratégia da B3 é conectar esses diferentes pools de liquidez por meio de uma plataforma digital, aumentando a eficiência e a liquidez. “Não queremos transformar o mercado de renda fixa em um mercado de livro central, como o de ações”, explicou André Milanez, CFO da B3.
A peça-chave para isso é a plataforma de negociação digital TradeMate, que já conecta de 200 a 300 players. “Já estamos registrando títulos nessa plataforma e, em breve, iniciaremos negociações no modelo de book privado, onde cada player poderá oferecer ativos a bases específicas de clientes”, disse Masagão.
Com a digitalização desse mercado, a B3 planeja desenvolver uma série de produtos, incluindo uma plataforma de dados em tempo real e índices de renda fixa, previstos para o primeiro semestre de 2025, viabilizando a criação de ETFs atrelados a esses índices.
Paralelamente, a companhia trabalha com a Anbima no desenvolvimento do mercado de derivativos de crédito, abrindo caminho para futuros ligados a índices de crédito.
Gestores de crédito estão especialmente ansiosos pela possibilidade de operar vendidos em debêntures, algo que aumentaria a liquidez do mercado, melhoraria a precificação e ofereceria proteção em momentos de spreads comprimidos, como ocorreu no segundo semestre de 2024. Embora ainda não regulamentada, a B3 já monitora essa demanda e, segundo Milanez, está tecnicamente preparada para viabilizar tais operações.
“Essa é uma demanda que está na nossa agenda. Essa mudança aumentaria os volumes e retroalimentaria o sistema. Hoje, temos muitos títulos indexados à inflação e a taxas pré-fixadas, o que exige negociações mais frequentes. O potencial de crescimento é enorme, e estamos animados com as transformações que estamos presenciando no mercado de renda fixa”, afirmou Milanez.
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