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As três questões que não saem da cabeça do economista-chefe do Itaú Unibanco

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Tempo de Leitura:10 Minuto, 5 Segundo


A trajetória da política monetária do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, está impactando o ciclo de queda de juros de outros países, incluindo o Brasil. É o que afirma Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú, nesta entrevista ao NeoFeed.

Segundo ele, a autoridade monetária americana errou ao antecipar de forma precoce, na virada do ano, a discussão de corte de juros nos EUA. “Agora, o Fed vai precisar de uma sequência de dados que lhe dê conforto para aí sim mudar o discurso e depois flexibilizar a política monetária”, diz Mesquita.

Embora boa parte do mercado aposte para setembro o início do ciclo de corte de juros nos EUA, o Itaú revisou essa estimativa apenas para dezembro. Para Mesquita, essa mudança de perspectiva em relação ao Fed está por trás da recente desaceleração do ciclo de corte de juros no Brasil.

Esse fator, somado à piora do quadro fiscal do País e a expectativa de inflação, levou o Itaú a prever que o BC fará apenas mais um corte de juros até dezembro, com a taxa Selic fechando o ano em 10,25%.

Mesquita dedicou boa parte da entrevista para falar do déficit fiscal, que, segundo ele, causa preocupação por causa do aumento do endividamento. “Estive em contato com investidores estrangeiros no último mês e notei que o tema fiscal voltou a ser discutido. Isso não era tão urgente e agora se tornou o primeiro assunto da discussão”, afirma.

Sobre recursos extras do governo federal para socorrer o Rio Grande do Sul, cuja utilização ele afirma ser necessária, o que mais preocupa são “as iniciativas oportunistas” de políticos de usar a tragédia para expandir os gastos, mesmo fora do arcabouço fiscal.

“No Brasil, basta escrever uma lei definindo que tal gasto não está incluído em tal conta e o problema está resolvido. Não está, pode não estar sendo contabilizado, mas vai continuar existindo e precisa ser pago”, diz Mesquita.

O economista-chefe do Itaú faz também críticas ao governo Lula, afirmando que a mudança de comando na Petrobras reforça o objetivo da atual gestão em apostar no capitalismo de Estado. “É uma estratégia que o Brasil vem tentando há décadas, sem obter resultados”, afirma.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista de Mario Mesquita ao NeoFeed.

Apenas no último mês, tivemos piora do quadro fiscal, com mudança de meta, divisão no BC, além da indefinição da queda de juros nos Estados Unidos. Qual sua avaliação do cenário?
Em relação ao cenário global, aumentou muito a preocupação quanto a trajetória da política monetária nos Estados Unidos. É o fator determinante em relação a tudo a que você se referiu. Há, nos EUA, uma combinação de atividade resiliente, mercado trabalho ainda apertado, índice de inflação e de salários também pressionados. Isso levou o Fed a adotar uma postura mais cautelosa. Aqui no Itaú revisamos nossa expectativa de início do corte de juros nos Estados Unidos para dezembro. Portanto, essa alteração na perspectiva para a política monetária americana está impactando a política monetária dos outros países.

Parte do mercado aposta o início dos cortes de juros nos EUA para, no máximo, em setembro. Por que essa previsão tão distante?
O fato é que o Fed levantou, de forma precoce, a discussão de corte de juros na virada do ano. A tempo perceberam que seria um erro e mudaram o discurso. Agora, devem ser relutantes em novamente adotar um discurso mais consistente sobre a queda rápida de juros, vão precisar de uma sequência de dados que lhes dê conforto para aí sim mudar o discurso e depois flexibilizar a política monetária.

Qual o impacto para o Brasil?
Até pelo adiantado processo de redução da Selic, essa mudança de perspectiva em relação ao Fed está levando à desaceleração do ciclo de corte de juros no Brasil, como acabamos de ver. Isso pode levar eventualmente até o fim do ciclo de cortes pelo BC.

“O Fed está levando à desaceleração do ciclo de corte de juros no Brasil. Isso pode levar eventualmente até o fim do ciclo de cortes pelo BC”

Qual sua estimativa da taxa Selic para fechar o ano: em um ou dois dígitos?
Estamos prevendo apenas mais um corte de juros, com a Selic fechando 2024 em 10,25% ao ano.

Apenas um corte da Selic até dezembro? Então, a previsão é de uma piora fiscal bem acentuada para imaginar esse cenário…
A preocupação com a situação fiscal está nos documentos do Banco Central e não é de agora. Mas talvez o que tem piorado na margem é a expectativa de inflação. Podemos até discutir por que ela está subindo – talvez tem um pouco a ver com o quadro fiscal, sim. Mas é mais a soma da expectativa de inflação e a perspectiva para a política monetária nos Estados Unidos.

Qual o peso da política fiscal do governo para essa redução do ritmo de corte de juros?
A trajetória da política fiscal no Brasil é complicada e não é de hoje. Segue apontando para uma relação dívida/PIB que tem tendência de crescimento. Discutimos muito meta de superávit primário equilibrado e déficit zero. Só que para estabilizar a dívida precisamos de um superávit de 1,5%. Muita gente diz que se a economia crescer mais, resolve. Mas acho muito arriscado apostar num crescimento permanentemente mais alto como solução para o problema da dívida.

Qual o impacto da tragédia da enchente gaúcha na política fiscal?
Já esperávamos, antes da tragédia no Rio Grande do Sul, um déficit primário de 0,6% do PIB este ano, aumentando para 0,9% no ano que vem. O problema não é o gasto eventual com a mitigação dos impactos da tragédia – é preciso apoiar a população, ninguém questiona isso -, o que nos incomoda é que, mesmo sem levar em conta esses gastos, já temos embutido uma trajetória de aumento do déficit. É possível que a alteração da meta de déficit primário equilibrado para 2025 tenha sido apenas um ato de realismo fiscal por parte da equipe econômica.

Os gastos do governo para a reconstrução gaúcha, mesmo sendo incluídos na rubrica de despesas extraordinárias, sem afetar as metas do arcabouço fiscal, pioram indiretamente o quadro fiscal?
O que preocupa são iniciativas mais oportunistas de expandir gastos, ou seja, estender o auxílio ao Rio Grande do Sul para outras regiões do País. A imprensa tem noticiado que parte da classe política está vendo um “senso de oportunidade” de usar a tragédia do Rio Grande do Sul para viabilizar novos aumentos de gastos, tirando despesa A ou despesa B da contabilidade. Gasto é gasto e ele só poderá ser pago de duas formas: via emissão de dívida ou se for pago via taxação, que pode ser explícita (por meio dos impostos que temos) ou o chamado imposto inflacionário, que recai sobre as camadas menos favorecidas da população.

Então, esse “senso de oportunidade” é uma forma de ludibriar o equilíbrio fiscal do governo?
Há no Brasil uma visão excessivamente jurídica da coisa, no sentido de que basta escrever uma lei definindo que tal gasto não está incluído em tal conta e o problema está resolvido. Não está, pode não estar sendo contabilizado, mas vai continuar existindo e precisa ser pago. Então, parece haver uma desconexão entre parte da classe política e a perspectiva dos milhões e milhões de poupadores, que são os compradores de dívida pública.

“Há no Brasil uma visão excessivamente jurídica da coisa, no sentido de que basta escrever uma lei definindo que tal gasto não está incluído em tal conta e o problema está resolvido”

A sucessão de Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central, a ser definida no segundo semestre, ajuda a piorar esse cenário?
A sucessão no BC é sempre um momento delicado, mas o regime de metas em si, pela transparência, acaba limitando o que o presidente do Banco Central pode fazer. Se ele ou ela começar a desviar-se sistematicamente da meta de inflação, as expectativas sobem, a credibilidade do BC é arranhada e, mais cedo ou mais tarde, será necessário compensar isso com taxas de juros ainda mais elevadas. O regime, por ser transparente, leva a política monetária para o centro. Aí fica difícil desviar consistentemente numa direção ou em outra. Espero não estar sendo excessivamente otimista.

O combo com gasto fiscal excessivo mais a recente mudança na Petrobras indica um governo Lula 3 mais parecido com o governo Dilma do que com o governo Lula 1?
Desde o início do ano, a imprensa internacional tem reportado a opção que o governo atual fez pelo chamado capitalismo de Estado. Nesse contexto, a ideia de usar a Petrobras como instrumento de uma política industrial não surpreende. O atual governo acredita no capitalismo de Estado, o que por sinal já deu errado várias vezes no Brasil, e está agindo consistente com suas ideias. Por isso, acho que ninguém, nem o investidor externo, pode dizer que foi tomado de surpresa. Quanto mais nervoso o ambiente político, quanto mais ruído nesse front, mais o Banco Central ganha por se ater a decisões e a fazer comunicação estritamente técnicas. Isso, na minha visão, poderá contribuir para a economia passar por essa travessia em boa forma. Por outro lado, aumentou a preocupação dos investidores estrangeiros em relação à capacidade de ajuste que o País dispõe.

Em que sentido aumentou essa preocupação dos investidores?
É parecido com a questão da meta de inflação: mesmo sabendo que é difícil cumprir, mantém-se a meta para sinalizar seu compromisso. Se a equipe econômica eleva a meta com tanta antecedência, levanta dúvidas sobre esse compromisso. Isso causou um certo estranhamento no mercado. Estive em contato com investidores estrangeiros no último mês e notei que o tema fiscal voltou a ser discutido. Isso não era tão urgente e agora se tornou o primeiro assunto da discussão.

O que impede mais a atração de investimentos estrangeiros, os juros elevados nos EUA ou a questão fiscal aqui?
Do jeito que o gasto público está crescendo no Brasil, a melhor forma de tentar estabilizar a dívida é por meio de aumento de imposto. Essa perspectiva de uma elevação relevante da tributação da renda, seja a pessoa física ou jurídica, tende a fazer com que os investidores fiquem mais cautelosos. Uma empresa que opera no exterior e pensa em investir aqui vai olhar as condições que o País oferece, como mão-de-obra, logística, respeito às leis e etc., mas também a perspectiva para política fiscal e, em especial, do regime tributário. Na hora do desempate, entre fazer o investimento aqui ou em outros lugares que não têm essa pressão fiscal, isso pesa. Não tem por que vir para cá, para de cara começar a pagar mais imposto. Há outro fator ainda mais importante: o Brasil não está se posicionando de forma clara no contexto global.

Em que sentido?
Do ponto de vista geopolítico, o Brasil não é próximo de nenhum dos polos comerciais (Estados Unidos e China). E tampouco está querendo se integrar às correntes de comércio internacional – a falta de interesse em ratificar o acordo comercial com União Europeia é um exemplo. Novamente, nossa economia parece estar fazendo uma opção introspectiva, focada no mercado interno, de substituição de importações. É uma estratégia que o Brasil vem tentando há décadas e não observamos, por ora, nenhuma alteração nem nessa estratégia nem nos resultados ruins que ela trouxe. É preciso ter ambição. Ao focar nos 2% do PIB global que representa o nosso mercado interno, o País abre mão dos outros 98% do PIB global ao deixar de se internacionalizar.

O protecionismo está sendo retomado pelos países do Primeiro Mundo. O custo elevado da transição energética, como alega os EUA, é um argumento válido para a volta do protecionismo?
É uma desculpa querer ser protecionista e atribuir esse desejo à transição energética. Veja o exemplo dos painéis solares, que a China produz de forma eficiente. A decisão racional do país que deseja investir numa transição energética mais rápida é comprar esses painéis da China, e não proteger a indústria doméstica de painéis solares.





Fonte: Neofeed

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No projeto Tão Longe, Tão Perto, o “milagre da expansão” acontece no vinho que sai da torneira

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No projeto Tão Longe, Tão Perto, o
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Fundador, em 2014, do primeiro wine truck do Brasil, o Los Mendozitos, voltado à venda em taça de vinhos de baixa intervenção importados da Argentina, o engenheiro industrial com especialização em sustentabilidade, Ariel Kogan, se rendeu aos vinhos nacionais. “A alta do dólar me obrigou a olhar com mais atenção para o mercado nacional e acompanhar a evolução da qualidade na última década”, conta ao NeoFeed.

Sem perder o foco nos pequenos produtores éticos e no desafio de tornar o consumo da bebida mais descontraído, Kogan vem investindo desde 2021 no projeto Tão Longe, Tão Perto (TLTP), ao lado da sommelière Gabriela Monteleone. Voltada à comercialização de vinhos leves, descomplicados e de fácil entendimento em growlers (garrafas reutilizáveis de 1 a 2 litros) e kegs (barris de 20 litros), engatados a torneiras como as de chopp, a plataforma tem visto sua frente de negócio mais recente, a Casa Tão Longe, Tão Perto, ganhar asas.

Inaugurado em meados de 2023, no bairro paulistano da Barra Funda, o espaço com 12 torneiras, poucas mesas e uma pequena seleção de comidinhas de fácil serviço (principalmente queijos e embutidos), foi pensado para ser uma espécie de showroom da marca. O objetivo era atrair para lá clientes potenciais de restaurantes e hotéis interessados na compra a granel dos vinhos brasileiros de pequenos produtores artesanais selecionados por Gabriela. Além de promover o sistema de torneiras (taps), que permite otimizar a venda em taça.

Para se ter uma ideia das vantagens, enquanto uma garrafa mantém as propriedades sensoriais de um vinho, no máximo, por três a quatro dias depois de aberta, um barril engatado em torneira consegue preservar a qualidade da bebida por até um mês. Além disso, o CMV (custo da mercadoria vendida) por taça pode cair em pelo menos 50%, segundo Kogan, devido ao menor custo da embalagem e transporte.

Assim, não demorou para a Casa chamar a atenção do público final pela oferta de brancos, rosés, tintos e laranjas a preços atrativos. Além de investidores, que viram no modelo inovador, simplificado e de baixo custo do bar uma oportunidade de negócio, puxando organicamente a expansão para outras praças.

Como resultado, em apenas um ano, mais duas unidades foram abertas: uma na cidade do Porto, em Portugal, e outra no Rio de Janeiro, cujo faturamento inicial está superando em 50% o da unidade paulista antes mesmo de fechar o mês.

Não por acaso, uma terceira unidade já está prevista para breve, em Lisboa. “Estamos procurando ponto”, diz Kogan.

Com tíquete médio de R$ 90, as Casas TLTP representam hoje 25% do faturamento da marca, mas a expectativa é que a fatia ultrapasse os 50% nos próximos anos com a ampliação do número de pontos.

“Ainda estamos analisando os dados e os vetores de crescimento com cuidado, mas há um grande potencial de expansão nos pontos de venda, que exigem menor investimento de capital do que a operação de distribuição de vinhos”, avalia o empresário, que não descarta a possibilidade de adotar o modelo de franquias a longo prazo.

Por enquanto, a expansão ocorre com parceiros locais, como, no Rio de Janeiro, com os empresários Nelson Soares e Juan Manoel Prada, do restaurante Sult, e Ricardo Rebello, do gastrobar Sebastian. O investimento em cada loja gira em torno de R$ 400 mil a R$ 500 mil.

A visibilidade trazida pelas Casas deve ainda ajudar a impulsionar as demais operações da plataforma, que atualmente conta com 20 clientes com torneiras instaladas em todo o Brasil. Entre eles estão os restaurantes Shuk, Futuro Refeitório, Cuia, Bráz Trattoria e Le Bulô, em São Paulo; Manga, em Salvador, e Casa Vivá, em Porto Alegre.

Segundo Kogan, a Tão Longe, Tão Perto se guia pela A conexão com o produtor, o diferencial do produto e a sustentabilidade (Foto: Divulgação/Tão Longe,, Tão Perto)

Além de barris, os vinhos são comercializados em growlers, garrafas reutilizáveis de 1 a 2 litros (Divulgação/Tão Longe, Tão Perto)

Hoje, a instalação de torneiras responde por 25% do faturamento da plataforma e a distribuição dos vinhos representa 50% (Divulgação/Tão Longe, Tão Perto)

O projeto Tão Longe, Tão Perto foi lançado em 2020, pela a sommelière Gabriela Monteleone (Reprodução Instagram @gabrielamonteleone)

Atualmente, a instalação de torneiras responde por 25% do faturamento da plataforma e a distribuição dos vinhos curados por Gabriela e envasados em diferentes recipientes representa 50%. “Essa é uma operação que deve crescer junto com as Casas”, acredita Kogan.

Uma nova frente de negócios ainda começa a ser desenhada, retomando a experiência do wine truck, para levar os vinhos da marca a eventos, em carrinhos móveis com torneiras.

Um efeito colateral da expansão, entretanto, já afetou a fidelidade ao produto brasileiro. Com a ida para a Europa, decidiu-se que a oferta de vinhos seguirá priorizando vinhos leves e de fácil entendimento feitos por pequenos produtores voltados à vinicultura de baixa intervenção, mas os rótulos serão selecionados localmente em prol da sustentabilidade. “Este sempre foi nosso principal drive”, enfatiza Kogan, que é um dos idealizadores do Programa Cidades Sustentáveis, da Rede Nossa São Paulo.

“Não estamos fechados a levar uma bebida de um país para o outro, mas terá de ser algo muito diferente, que faça sentido pelo diferencial”, diz Kogan, citando um fermentado de açaí feito no Acre que o surpreendeu recentemente.

Assim, uma nova curadoria começa a tomar corpo em Portugal, onde o número de vinhos naturais selecionados em regiões como Dão e Douro já supera o de torneiras instaladas na Casa TLTP do Porto.

“Já poderíamos colocar mais quatro torneiras, totalizando dez”, conta ele, que não descarta abraçar também a distribuição a granel de seus achados. “Não somos um movimento de exclusão de nada. Nem de garrafas, nem de importados. A conexão com o produtor, o diferencial do produto e a sustentabilidade é que vão nos guiar.”

Então, já que existe a brecha, há chance de vermos vinhos de pequenos produtores argentinos no portfólio da TLTP, voltando para o início do ciclo? “Se tivermos uma Casa em Buenos Aires ou Mendoza, sim. Mas aqui vamos priorizar o Brasil, até porque, pela legislação, não é possível importar vinhos a granel de lá para cá.”





Fonte: Neofeed

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A natureza lírica e avassaladora de Hayao Miyazaki

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A natureza lírica e avassaladora de Hayao Miyazaki
Tempo de Leitura:4 Minuto, 22 Segundo


VENEZA – Documentário exibido no 81º Festival de Veneza ajuda a explicar a genialidade do ícone da animação japonesa Hayao Miyazaki e de seu Studio Ghibli, que há quatro décadas dá profundidade e sofisticação ao gênero.

O foco de Miyazaki, l’Esprit de la Nature (Miyazaki, o Espírito da Natureza) é sobre a preocupação do cineasta de 83 anos com o meio ambiente, refletida em obras-primas como Nausicaä do Vale do Vento (1984), Meu Amigo Totoro (1988), Princesa Mononoke (1997) e A Viagem de Chihiro  (2001), entre outras.

Seja com florestas povoadas por criaturas mágicas ou com uma natureza furiosa por causa dos abusos sofridos, Miyazaki construiu uma filmografia questionando a relação do homem com todas as coisas vivas.

Ao longo de sua trajetória, o diretor, acostumado a encantar a plateia com paisagens silvestres de tirar o fôlego, nunca conseguiu ignorar a capacidade destrutiva da humanidade — embora algumas vezes ele prefira apostar na regeneração da natureza, por ser algo sagrado.

“Para apreciar profundamente a obra de Miyazaki, um dos artistas vivos mais reverenciados no mundo, é preciso analisá-lo em um contexto ambiental”, contou ao NeoFeed o diretor do filme, o francês Léo Favier.

Ele desembarcou no Lido de Veneza, estância balneária onde é realizado o festival italiano, às margens do Mar Adriático, para a première mundial do título que foi selecionado para a mostra Venice Classics, dedicada à memória do cinema.

A natureza é, muitas vezes, impactada nas histórias de Miyazaki por essas refletirem uma sociedade obcecada por conquistas, guerras e consumismo.

“Por mais que o cineasta tenha mudado e evoluído ao longo das décadas, seus filmes foram sempre carregados de guerra e destruição, o que também espelha o que ele enfrentou ainda na infância, moldando a sua visão de mundo”, afirmou Favier.

O documentarista se refere ao fato de Miyazaki ter sobrevivido a bombardeios, quando tinha entre três e quatro anos, ocasiões em que a sua família foi forçada a trocar de cidade. E o pai de Miyazaki ainda foi diretor de fábrica que confeccionava lemes para aviões de combate durante a Segunda Guerra.

Isso explica sua fascinação por aviação e, ao mesmo tempo, a culpa que o diretor já admitiu sentir por sua família ter feito dinheiro com a guerra.

“Nada é preto no branco nos seus filmes de Miyazaki, que sempre abraçou as contradições. Ele deixa que as situações sejam bagunçadas e complicadas, exatamente como é a vida, sem se limitar pensando em uma faixa etária específica para cada história”, comentou Favier.

O fato de suas obras serem concebidas para entreter todas as idades (e não apenas crianças) é o que garantiu mais profundidade, levantando questões filosóficas, sociais e políticas.

Um dos filmes mais ecológicos de Miyazaki foi Princesa Mononoke, onde mais de 144 mil desenhos feitos à mão dão vida a todo um ecossistema, com árvores, plantas, animais e espíritos dividindo uma paisagem estonteante, à beira da extinção. Mas o tom de alarme, pelo conflito aparentemente irremediável entre a natureza e a industrialização, não o impediu de acrescentar lirismo à trama, já que a floresta tem alma própria.

Os filmes do cineasta japonês refletem a grandiosidade da natureza, como Meu Amigo Totoro, de 1988 (Studio Ghibli)

Miyazaki construiu uma filmografia questionando a relação do homem com todas as coisas vivas (Foto: ©M6 MediaBank / Métropole Télévision)

Graças ao sucesso de “Nausicaä do Vale do Vento”, de 1984, Miyazaki conseguiu fundar o Studio Ghibli (Reprodução themoviedb.org)

“A Viagem de Chihiro”, de 2001, é considerada uma das obras-primas da animação (Reprodução themoviedb.org)

Segundo o biólogo Shin-Ichi Fukuoka, entrevistado no documentário, Princesa Mononoke se baseia em duas grandes questões: o que é a vida e o que é ser um humano. “No final, Miyazaki nos faz entender que nós somos parte da natureza, não muito diferente dos outros organismos em termos de mecanismo celular e DNA”, comentou o especialista.

Foi graças ao sucesso de Nausicaä do Vale do Vento, ambientado em futuro distópico onde a humanidade está ameaçado por um ar tóxico e insetos gigantes, que Miyazaki conseguiu fundar o Studio Ghibli.

A cena de abertura, com a princesa Nausicaä pousando em floresta estranha, porém majestosa, dá uma ideia da reconciliação almejada pelo cineasta. E muito antes de a questão ambiental se tornar um tema recorrente na produção audiovisual.

“O que Miyazaki sugere aqui é a interação entre natureza e seres humanos. Em vez de o homem insistir em dominar a natureza, ele deveria se engajar com ela, de modo respeitoso. O que sentimos é uma inteligência amorosa e uma consciência de que todos estamos conectados no universo”, comentou a escritora Susan Napier, autora do livro Miyazakiworld: a Life in Art, também em depoimento no filme.

O documentário examina outros filmes que refletem a grandiosidade da natureza, pelas lentes de Miyazaki, como Meu Amigo Totoro. Aqui o que ajuda duas irmãs a enfrentarem uma fase difícil, com a mãe hospitalizada, são as aventuras que vivenciam com os espíritos da floresta, conhecido como “totoros”.

É com esses seres fantásticos, em especial com o líder deles, que a dupla aprende a encarar a dura realidade, mas sem se esquecer da beleza, da poesia e da magia da vida, em tudo o que nos cerca.





Fonte: Neofeed

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Os planos “íntimos” da Hope: 10,5 milhões de peças e R$ 500 milhões de receita

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sandra chayo hope
Tempo de Leitura:3 Minuto, 42 Segundo


A fábrica do Grupo Hope em Maranguape, localizada na região metropolitana de Fortaleza, vai passar por um “banho de loja”. A marca de moda íntima, praia e fitness prevê um investimento robusto em novas tecnologias de fabricação, que devem dar suporte aos planos ambiciosos da companhia.

O grupo liderado por Sandra Chayo, filha do fundador Nissim Hara, projeta produzir 10,5 milhões de peças em 2024, uma expansão de 50% sobre o ano passado. Esse crescimento vai estar calcado em produtos básicos e acessíveis, uma revisão da estratégia da companhia que contou com a ajuda da consultoria Bain & Company.

“Chegamos à conclusão de que, se conseguíssemos atingir as classes B2 e C [renda estimada entre R$ 2 mil e R$ 6 mil], que ainda não consumiam os nossos produtos, poderíamos aumentar de forma significativa o nosso público endereçável”, afirma Chayo, diretora do Grupo Hope, ao NeoFeed.

A Hope marca está investindo R$ 20 milhões para voltar as suas origens – afinal a empresa, criada em 1966, começou com esse tipo de produto. Nesse orçamento está tanto as peças de marketing, como o desenvolvimento da linha Light, que traz produtos a preço de entrada, partindo de R$ 29,90 (cerca de R$ 10 abaixo das demais coleções).

A coleção, que chegou às mais de 3 mil lojas que atuam com a marca no primeiro semestre, já é a terceira mais expressiva em número de peças vendidas, atrás da Touch e Nude, que partem de R$ 39,90 e R$ 79,90 e estão entre as mais vendidas há anos.

“Quando entrei na empresa, em 1999, o movimento era justamente o contrário, de transformar uma marca popular, que só era vendida em lojas multimarcas, em algo mais sofisticado. E deu certo. Agora, entendemos que precisamos descer esse degrau novamente”, afirma Chayo.

Em 25 anos como diretora da empresa familiar, Chayo foi a responsável por todos os movimentos da operação: desde a expansão via franquias até a criação das outras duas marcas que estão no portfólio: a Bonjour Lingerie e a Hope Resort, de moda praia e fitness.

O próximo passo é dobrar o número de lojas em cinco anos. Hoje, a Hope detém 280 franquias e 9 lojas próprias. Em 2023, o grupo faturou R$ 350 milhões apenas na rede franqueada.

Segundo a Hope, a companhia teve um crescimento de 35% no faturamento no primeiro semestre e projeta acelerar nesta segunda metade do ano, podendo atingir a casa dos 40% no ano contra ano – o que faria a companhia se aproximar dos R$ 500 milhões em receita. Na visão de Chayo, essa receita só deve ser atingida em 2025.

Na visão do sócio da consultoria Varese Retail, Alberto Serrentino, a iniciativa do Grupo Hope é acertada. “O momento da companhia é muito bom. Ao mesmo tempo que eles conseguem conversar com o público premium nas lojas monomarcas, o grupo também tem desempenhado um bom trabalho ao atingir a camada mais baixa de consumidores”, afirma.

Para ele, a recuperação de mercado pode beneficiar ainda mais a companhia nessa nova fase. “A renda está crescendo, o desemprego caindo e o mercado de trabalho se aquecendo, o que ajuda o setor de consumo de semiduráveis, como é o caso da Hope”, diz Serrentino.

Falando em concorrentes, Serrentino acredita que há espaço para todo mundo. Ele afirma que existem diversos players no mercado com posicionamento, perfil de produto e canais distintos, como é o caso de marcas como Valisere, Intimissimi e Loungerie.

O homem na mira

Lançada há dois anos, as peças voltadas ao público masculino da Hope, ainda não decolaram. Isso não impediu o grupo de investir ainda mais no segmento, incluindo peças voltadas para os homens tanto na linha Light, com cuecas, como na Hope Resort, com vestuário fitness, que será lançado em outubro.

“A linha masculina na Hope está crescendo e a cueca da Light está vendendo como água. O consumo por parte dos homens é muito diferente do das mulheres. Eles compram em quantidade, normalmente uma dúzia de cuecas por vez, o que é ótimo para nós”, diz Chayo.

Pensando no público unissex, a marca também está entrando na disputa pelo mercado de meias, que hoje conta com concorrentes como Lupo e gigantes esportivas como Nike e Adidas. Ainda em fase de testes em algumas lojas, a coleção completa o portfólio do grupo e busca atingir todos os públicos que agora consomem os produtos Hope.





Fonte: Neofeed

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