Negócios
Ele descobriu 23 unicórnios e fez nove IPOs. E está mais otimista com o Brasil do que com os EUA
Durante 11 anos, James Currier foi uma das vozes do The Richter Scales, banda de São Francisco, na Califórnia, com funcionários de big techs como Google, Apple e Facebook. E que se tornou figura carimbada com suas paródias a cappella sobre o Vale do Silício no Crunchies Awards, premiação do site americano TechCrunch.
Foi em outro palco, porém, que ele construiu sua carreira. Ao lado de quatro sócios, Currier toca, desde 2017, os investimentos da NfX. Com cerca de US$ 1,5 bilhão sob gestão e foco no early stage, a gestora de venture capital coleciona mais de 200 investidas, com nove IPOs e 23 unicórnios (startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão). Entre eles, DoorDash, Lyft e Patreon.
O Brasil soma três startups nesse portfólio: a Clubbi, marketplace para mercados de bairro; a UME, plataforma de crédito para o varejo; e a Porfin, que faz cobrança de dívidas com uso de inteligência artificial. E, cada vez mais, o País soa como “música para os ouvidos” da NfX.
“A NfX realmente acredita no Brasil. Nosso apetite pelo País é muito forte”, diz Currier, cofundador e general partner da NfX, em entrevista ao NeoFeed.
Ele ressalta que a margem restrita para que startups desafiem big techs como Google e Microsoft nos Estados Unidos ajudaram a colocar o Brasil no mapa da empresa.
“No Brasil, acho que estamos, provavelmente, seis ou oito anos atrás disso, o que significa que ainda há mais oportunidades e uma abertura maior”, afirma. “O mercado é grande e mal atendido. E não há tantos incumbentes e grandes empresas que irão bloquear uma startup.”
Atento a esse cenário, Currier esteve no Brasil para uma rápida visita de quatro dias. Na bagagem, trouxe a experiência de ter fundado quatro empresas antes da NfX, entre elas, a Iron Pearl, comprada pelo PayPal, em 2013. E levou uma ótima impressão dos empreendedores do País.
“A qualidade do empreendedor é maior do que em muitas geografias”, diz. “Eles sabem o que estão fazendo. Mas são humildes o suficiente para fazer todo o esforço necessário. Vemos a mesma coisa nos founders israelenses. Eles trabalham mais duro e vão mais fundo.”
Na conversa, ele fala ainda dos segmentos de maior potencial no Brasil, de inteligência artificial e de uma possível bolha associada a esse conceito. E sobre a tese da NfX, bastante influenciada pelo fato de seus fundadores terem criado 10 empresas que, juntas, valem hoje mais de US$ 10 bilhões.
Entre elas, a Trulia, proptech fundada por Pete Flint, um dos sócios da NfX, e que foi comprada pela também americana Zillow, em 2014, em um acordo avaliado em US$ 3,5 bilhões. Confira:
Qual é o tamanho da operação e como você definiria a NfX?
Temos aproximadamente US$ 1,5 bilhão sob gestão e somos o que chamamos de uma empresa de capital de risco das melhores ideias e dos melhores fundadores. Investimos em marketplaces, fintechs, proptechs, cripto e biologia orientada por software. E a inteligência artificial toca todos esses setores.
Como a América Latina se insere nessa tese? Qual é o apetite pela região?
Temos cerca de 7% dos nossos fundos investidos na América Latina e esperamos que esse valor aumente na região. Mas nós não separamos uma quantia para biologia, cripto ou Brasil. Temos apenas um grande pool e nosso fundo está em US$ 325 milhões agora.
Você mencionou o Brasil. Por que você veio ao País?
Porque a NfX realmente acredita no Brasil. Vim para cá para ver as empresas nas quais investimos e estou me reunindo com todos os outros VCs e investidores early stage, como Big Bets, Maya e Canary, para fazer parcerias e conhecer muitos founders. Devo ter falado com 14 empresas e ainda vou conversar com outras cinco antes de ir, além de falar com pelo menos uma startup brasileira por semana quando eu estiver de volta a Palo Alto. Nosso apetite pelo País é muito forte.
O que está por trás desse interesse?
O mundo do venture capital está ficando muito competitivo nos Estados Unidos, com incumbentes como Google, Microsoft e outros ficando muito fortes. É cada vez mais difícil para as startups competirem com eles. E, no Brasil, acho que estamos, provavelmente, seis ou oito anos atrás disso, o que significa que ainda há mais oportunidades e uma abertura maior. O mercado é grande e mal atendido. E não há tantos incumbentes e grandes empresas que irão bloquear uma startup.
E quais foram suas impressões dessa primeira visita ao País? O que chamou mais sua atenção?
A qualidade do empreendedor é maior do que em muitas geografias. Acho que as pessoas aqui são batalhadoras. E estão se sentindo como azarões, mas estão bastante conectados com o que fez sucesso na indústria de tecnologia, seja no Vale do Silício ou em Nova York. Então, eles sabem o que estão fazendo. Mas são humildes o suficiente para fazer todo o esforço necessário. Vemos a mesma coisa nos founders israelenses. Eles trabalham mais duro, vão mais fundo e é por isso que gostamos de investir aqui.
O quão importante é ter humildade nessa indústria?
Você olha para o Mark Zuckerberg e ele ainda é paranoico. Ele ainda sente que vai morrer a qualquer minuto. E é isso que mantém o Facebook. Você não pode ficar arrogante. Não pode ficar confiante. Você tem que ser paranoico, batalhador, inventivo, corajoso. E eu sinto isso nos founders brasileiros. É por isso que estamos olhando pra cá com tanta atenção. Há muitas pessoas que saíram da Rappi, do Mercado Livre, do Nubank, que foram para Stanford, Harvard e que agora estão voltando. Há muito talento aqui.
“Temos cerca de 7% dos nossos fundos investidos na América Latina e esperamos que esse valor aumente na região”
Em quais setores você enxerga mais oportunidades no Brasil?
Particularmente, em software como serviço (SaaS, na sigla em inglês) e fintechs, com transferências, pagamentos e empréstimos. E também em games e softwares empresariais alimentados por inteligência artificial.
De que maneira o Brasil pode atrair investimentos no campo da inteligência artificial?
Não esperamos que as grandes ferramentas que são as entranhas da IA venham daqui. Elas virão da Bay Area, de São Francisco. O que estamos procurando no Brasil são companhias que usem IA na camada das aplicações ou construam marketplaces que facilitem o acesso da IA a todos os negócios e, eventualmente, a todos consumidores do País.
Muitos falam do risco de uma bolha associada ao hype da IA. Como você enxerga esse cenário?
Sim, há elementos de uma bolha. Mas acho que, no médio e longo prazo, não é uma bolha de jeito nenhum. Eu me lembro de 2007, quando o Facebook valia US$ 15 bilhões e Peter Thiel disse que não havia uma bolha em tecnologia. E todos achavam que ele era louco. E, agora, o Facebook vale US$ 1,3 trilhão. Acho que estamos enfrentando a mesma coisa com a IA. Pode parecer uma bolha, mas o impacto que ela terá em todos os negócios e consumidores nos próximos 10 a 15 anos é enorme. Assim como a internet teve um grande impacto de 2007 até agora. Então, acho que devemos ser cautelosos ao afirmar que é uma bolha, porque é um grande negócio.
Voltando à NfX, quais são os principais fatores que fundamentam a tese da empresa?
Nós procuramos empresas que podem construir efeitos de rede, porque essas são aquelas que chegam a valer US$ 4 bilhões, US$ 10 bilhões ou US$ 20 bilhões. Se você olhar as 15 empresas mais valiosas do mundo, 11 têm efeitos de rede no seu core. E, às vezes, as companhias já têm esses efeitos de rede presentes quando investimos, mas normalmente elas não têm. E, então, temos que ajudá-las a construir.
Como isso se aplica às startups brasileiras do portfólio de vocês?
O Clubbi é um marketplace. Esse é um efeito de rede de dois lados. A UME é uma rede que trabalha com varejistas que concedem empréstimos aos consumidores. Então, quanto mais comerciantes, mais os consumidores querem usar a UME. E quanto mais consumidores usam a UME, mais os comerciantes querem estar lá. E, na Porfin, que faz cobrança de dívidas usando IA, quanto mais dados eles obtiverem, melhor eles serão. E quão maiores ficarem, mais cada fornecedor vai querer usar a Porfin. Então, esses são os tipos de efeitos de rede que buscamos em cada um dos negócios.
Qual o potencial de expansão dessas empresas? Há fôlego para essas companhias fora do Brasil?
Acho que para a Clubbi e a UME provavelmente não. Elas têm mercados grandes o suficiente para que possam criar empresas multibilionárias sem sair daqui. E acho que a Porfin fará isso por um tempo e depois irá expandir para a América Latina.
“O mercado é grande e mal atendido. E não há tantos incumbentes e grandes empresas que irão bloquear uma startup”
O que uma startup precisa ter para despertar a atenção da NfX?
Há muitos elementos de uma empresa que você pode analisar para entender se uma empresa vai ter sucesso. Mas tudo se resume em uma questão: a velocidade. A velocidade vence. Então, se você pode medir a velocidade delas, é muito positivo. O segundo componente que você precisa buscar é uma mudança tecnológica. Então, a DoorDash foi possível por causa do celular. A Lyft também. Cada um dos grandes sucessos que tivemos investindo foi construído em uma mudança tecnológica que aconteceu nos 18, 24 meses anteriores e não em algo que aconteceu há oito anos.
E quanto ao estágio das empresas que vocês investem?
Trabalhamos com empresas em estágio inicial. Então, o tamanho típico do nosso cheque é de US$ 2 milhões a US$ 3 milhões. Em geral, essas empresas têm um produto, uma equipe de quatro a oito pessoas, atendem clientes de alguma forma e há alguma receita. E, então, nós nos envolvemos.
Qual é o nível desse envolvimento?
Os sócios da NfX fundaram 10 empresas que, juntas, valem mais de US$ 10 bilhões. Então, nós estivemos no lugar dos fundadores. Por isso, estamos sempre próximos ajudando, semanalmente. Trabalhamos com essas empresas, ajudamos elas a desenharem a estratégia de crescimento e passamos horas auxiliando os times a pensarem em tudo o que é preciso.
Como você avalia a tese de “spray and pray” adotada por muitos fundos de early stage?
Somos o oposto do spray and pray. Olhamos para 8 mil empresas por ano e investimos em 25, 30 delas. E investimos, em média, US$ 3 milhões em troca de uma fatia de cerca de 17%. Então, assumimos grandes participações por um cheque muito maior. As startups podem realmente mover os ponteiros por dois anos, nós trabalhamos duro com elas e, com frequência, sentamos nos conselhos da empresas em que investimos. Os fundos de spray and pray nunca fazem isso.
E qual é a mensagem que você deixaria para as startups e os founders brasileiros?
Mantenham-se humildes e mantenham-se agressivos. Sejam rápidos, aprendam com seus concorrentes e os não concorrentes. Continuem aprendendo. É preciso aprender de forma variada. Essa é a chave para esse mercado em rápido movimento. Você tem que desaprender todas as coisas que aprendeu na semana passada para poder aprender algumas coisas novas. E o maior ponto de alavancagem em uma startup é a psicologia dos fundadores. Então, eles têm que observar sua psicologia com muito cuidado. Gerenciem sua psicologia, ajudem uns aos outros a gerenciarem sua psicologia porque vocês podem estar bem próximos de algo e colocarem tudo a perder porque a mentalidade estava errada.
Negócios
PIB menor e inflação mais alta: o impacto das tarifas de Trump nos EUA
O presidente americano Donald Trump completa exatas duas semanas de seu segundo mandato na Casa Branca nesta segunda-feira, 3 de fevereiro. E, em pouco tempo, já conseguiu chacoalhar os mercados globais ao começar a cumprir parte de suas promessas de campanha.
A mais recente movimentação dessa agenda veio à tona no sábado, 1 de fevereiro, quando ele anunciou a imposição de uma tarifa de 25% para produtos importados do México e do Canadá, além de uma alíquota de 10% para itens da China. As taxas entram em vigor a partir da terça-feira, 4 de fevereiro.
“Haverá alguma dor? Sim, talvez (e talvez não!). Mas faremos a América grande novamente e tudo isso valerá o preço que deve ser pago”, postou o presidente americano na Truth Social, rede social de sua propriedade, no domingo, 2 de fevereiro.
Ainda não é possível determinar o tamanho dessa conta. Mass em um termômetro das primeiras reações ao início dessa “nova guerra comercial” anunciada por Trump, o portal americano Yahoo Finance compilou algumas análises feitas por bancos e nomes relevantes de Wall Street.
“Nossos economistas esperam que as tarifas totalmente implementadas tenham consequências significativas”, escreveu o time de research de políticas públicas do Morgan Stanley projetando que o crescimento dos Estados Unidos pode ser de 0,7% a 1,1% a menos nos próximos três a quatro trimestres.
Ao estimar um aumento de 40 pontos-base na inflação americana no segundo semestre, a equipe de economia do Evercore ISI disse que o crescimento do país provavelmente sofrerá um “golpe”, à medida que os países se “afastam das exportações dos EUA, o investimento cai e o emprego diminui”.
Já o estrategista da Evercore ISI China, Neo Wang, ressaltou que o momento escolhido por Trump para o anúncio – o feriado do Ano Novo Chinês – provavelmente ofendeu tanto o governo quanto o povo chinês. E que ele roubou a atenção com suas “tarifas destruidoras de riqueza”.
Mas fez uma ressalva: “Essa primeira taxa de 10% parece, pelo menos, ter como objetivo ganhar vantagem na negociação no TikTok ou forçar Pequim a se sentar à mesa se a negociação ainda não tiver começado”, observou Wang.
Estrategista de casa de research 22V, Michael Hirson, por sua vez, entende que Trump acabará impondo, mais cedo ou mais tarde, tarifas adicionais sobre as importações da China, além desses 10% iniciais.
“A predileção de Trump por tarifas, a ótica de um déficit muito grande com a China e a política interna de mirar na China tornam improvável que ele pare aqui”, afirmou Hirson. “Não descartamos a possibilidade de um acordo comercial EUA-China, embora vejamos a barra política como bastante alta, especialmente neste primeiro ano de Trump 2.0.”
Quanto ao Canadá e ao México, as projeções a partir desse anúncio apontam para a probabilidade de uma recessão “iminente”. Para Jim Reid, estrategista do Deutsche Bank, os dois países podem testemunhar um choque maior do que o Brexit foi para o Reino Unido.
Ele também reservou espaço para comentar as críticas feitas por Trump à Europa e o discurso do presidente americano que coloca o Velho Continente como um dos próximos alvos dessa política de aumento de tarifas.
“Embora as tarifas não tenham sido cobradas da União Europeia, isso ainda é um golpe sério, dado o que provavelmente está por vir. Além das tarifas diretas, muitas montadoras alemãs atendem ao mercado dos EUA via México, onde produzem bens finais e/ou intermediários”, observou Reid.
O estrategista do Deutsche Bank acrescentou ainda que, embora os Estados Unidos estejam menos expostos às tarifas de retaliação anunciadas até o momento pelo Canadá e o México por conta do tamanho da sua economia, seria possível esperar que “vários décimos” fossem cortados do PIB americano.
Sob outra ótica, Jim Duffy, analista do Stifel, ressalta que quase todos os calçados e vestuários vendidos nos EUA são importados. E que as tarifas anunciadas no sábado provavelmente vão impactar o P&L das empresas a partir do segundo trimestre, com reflexos para todo o ano de 2026.
Duffy observa ainda que, em antecipação a tarifas potenciais, as empresas irão realinhar as cadeias de suprimento para minimizar as importações de países com alíquotas mais elevadas, adicionando risco operacionais potenciais.
“Para a maioria das empresas em nossa cobertura, a exposição direta às importações desses países é mínima. No entanto, o risco secundário de inflação e pressão relacionada sobre gastos discricionários é uma consideração”, escreveu o analista.
Negócios
Gerdau investe R$ 3 bi em energia limpa, aumenta fatia em comercializadora e prepara mais M&As
Quinta maior empresa consumidora de energia do Brasil, a gigante do aço Gerdau quer ser também uma companhia gigante na produção de energia sustentável. Para isso, encontrou dois caminhos: o primeiro deles é comprar ativos para ser dona da própria produção de energia. O segundo é ser, de forma indireta, também comercializadora e vender ao mercado a energia produzida a partir de fonte solar.
Nos últimos 12 meses, a empresa investiu mais de R$ 3 bilhões na construção de dois parques solares e na aquisição de PCHs (pequenas centrais hidrelétricas). E, em 2025, já decidiu que vai comprar outras hidrelétricas e avançar em parques eólicos. Com as iniciativas, a Gerdau já conta com 52% de sua energia oriunda de fonte renovável e certificada. O objetivo é chegar a 80% até 2031.
“O investimento em ativos de energia renovável está alinhado à estratégia da Gerdau de gerar maior competitividade no custo dos seus negócios, aumentando a autoprodução de energia limpa, e em linha com o processo de descarbonização já divulgado pela companhia”, diz o CEO da Gerdau, Gustavo Werneck.
No início deste ano, a empresa inaugurou o parque solar Arinos, em Minas Gerais, que foi anunciado em 2023 e que resultou em investimentos de R$ 1,5 bilhão. A produção pode chegar a 420 megawatt-pico (MWp). A capacidade fotovoltaica equivale a 7% do consumo de energia anual da Gerdau, que consome 6 mil MW por ano. Do volume produzido no parque solar, 30% irá abastecer diretamente as fábricas da Gerdau.
Em 21 de janeiro, a companhia comprou da Atiaia Energia as empresas Rio do Sangue e Paranatinga Energia, donas de duas PCHs no Mato Grosso, por R$ 440 milhões. As hidrelétricas fornecerão energia renovável para as unidades produtivas da Gerdau, no regime de autoprodução, em um montante equivalente a 8% do consumo de energia das operações da empresa no Brasil. As duas possuem capacidade instalada de 29 megawatts (MW) cada uma.
“Elas fazem parte da estratégia da Gerdau de buscar ser cada mais vez mais produtor de energia limpa. Por isso, essa aquisição das duas hidrelétricas passa a ser muito significativa, que vai nos ajudar a ser mais competitivo no processo produtivo de aço”, diz Flávia Souza, diretora global de energia e suprimentos da Gerdau.
Se, estrategicamente, buscar soluções com menos pegada de carbono são benéficas para a própria imagem do negócio, fato é que a energia limpa de autoprodução custa menos. É uma decisão que mexe no bolso. “Quando falo que ela é competitiva, quero dizer também que ela é mais barata. A energia limpa produzida por nós custa 30% menos”, diz Souza. “Nosso processo é muito intensivo em energia.”
Em 2025, a Gerdau irá realizar mais M&As de empresas que produzem energia limpa. “Temos interesse de continuar prospectando a compra de ativos de energia. Continuamos olhando o mercado e pode ser que a gente faça mais aquisições para complementar nosso portfólio e alcançar nossa meta até 2031”, afirma Souza.
A executiva entende que, com os novos parques solares, agora é necessário diversificar um pouco mais a origem dessa energia limpa. “Nossa matriz solar está bem cheia. Então, queremos sim fazer uma diversificação de fonte. E não adianta comprar de empresas que já tenham esse ativo contratado. Queremos essa energia para Gerdau.” Por isso que, no horizonte, estão mais hidrelétricas e as produtoras de energia por meio de vento.
Com as entregas dos novos parques solares, a matriz de energia a partir da luz do Sol irá corresponder a 60% do total da energia renovável consumida pela empresa. A fonte hidrelétrica representa 16%. “O momento agora é de discussão sobre a alocação de investimentos da Gerdau. E energia está dentro disso.”
Aumento de participação na comercializadora
A empresa também anunciou recentemente a ampliação da participação acionária da Gerdau Next (braço de novos negócios da companhia, criado em 2020) na Newave Energia, empresa focada em energia renovável. Hoje, a subsidiária da companhia de aço é dona de 40% da empresa. Antes, esse índice era de 33,33%. A Newave Energia é uma joint-venture criada pela Gerdau e Newave Capital.
Na prática, isso vai representar maior participação no projeto de construção do parque solar Barro Alto, em Goiás, em um investimento de US$ 1,3 bilhão. A usina deverá entrar em operação no início do ano que vem e terá capacidade de produção de 452 MWp, ainda maior do que a unidade mineira.
O volume de energia gerado pelo parque goiano teria condições de suprir o consumo de uma cidade com 365 mil habitantes (o tamanho de Blumenau, por exemplo). Serão 731 mil painéis solares distribuídos em uma área de 800 hectares.
“O plano está traçado e faz parte de uma estratégia de longo prazo. Em 2022, a gente iniciou a parceria da Gerdau Next para trazer energia renovável e competitiva, como uma linha de negócios. Em outra ponta, direto pela Gerdau, as ações têm sido no sentido de ser uma autoprodutora de energia, para o próprio consumo”, diz Flávia, que também integra o Conselho da Newave.
Nesse sentido, a executiva reconhece o interesse da subsidiária da Gerdau em comercializar energia para o mercado, o que pode incluir até suas concorrentes. “A Gerdau Next, sim, tem interesse, via sua participação na Newave, em fazer a comercialização de energia”, afirma.
Com a nova configuração acionária, a Gerdau terá direito a 40% de toda a energia solar produzida no parque de Goiás. E também terá sua participação na receita dos 60% restantes, que serão comercializados. “O objetivo principal é ter uma energia competitiva e limpa. E, como consequência, a empresa é dona de um negócio que vende essa energia. Com isso, aumentamos nossa receita e nosso retorno.”
Ela diz, no entanto, que não há intenção de, com a Newave, a Gerdau ser uma grande concorrente de empresas como Enel, Engie ou Eletrobras. “Mas é fato que temos uma empresa que tem um plano de negócios, e um portfólio para oferecer ao mercado.”
Negócios
Nas empresas familiares, os herdeiros estão indo para o conselho antes de assumir a gestão
O que Magalu, Votorantim, Gerdau, JBS, Safra, Marfrig e Weg têm em comum? Além de serem companhias brasileiras extremamente robustas em seus segmentos, elas possuem o DNA familiar na formação de suas histórias. Ainda que com executivos de mercados em posições estratégias, a maior parte delas é dirigida por integrantes de familiares ligados aos fundadores.
Mas qual é o segredo para que essas empresas, geridas por familiares, tenham sucesso? E, mais do que isso: como garantir a perenidade dos negócios? Esses talvez sejam os principais desafios das empresas familiares brasileiras.
Fato é que, ainda que com esses grandes cases de sucessos, os números trabalham contra essa realidade. Levantamento realizado pelo Banco Mundial mostrou que apenas 30% das empresas familiares chegam à terceira geração. E apenas 15% sobrevivem a essa sucessão. E o principal motivo é a falta de planejamento sucessório.
Segundo a 11ª Pesquisa Global sobre Empresas Familiares da PwC, somente 24% das companhias familiares se preparam para a sucessão. O resultado são conflitos entre os integrantes da família. E, por consequência, da empesa. O problema é que, sem a clareza de uma liderança, a empresa acaba vendida ou até mesmo indo à falência.
“O grande desafio das empresas familiares é separar as três caixinhas de cada um como família, como sócio e como funcionário. Nem todo mundo tem perfil para ser funcionário, muito menos executivo. Mas todos devem saber cobrar os executivos por resultados como sócios. E isso não pode afetar a relação familiar entre eles”, diz Gilson Faust, sócio da consultoria GoNext, que atuou em mais de 200 sucessões familiares.
Uma ideia está começando a ganhar corpo no mundo corporativo: o conselho de herdeiros. Na prática, são como conselhos de administração, mas que reúnem herdeiros de todas as idades. O objetivo é ensinar sobre o papel de sócios, discutindo questões da empresa e entendendo se possuem o perfil para serem executivos ou não.
No conselho, os herdeiros têm como principal objetivo aprenderem sobre a empresa e seus valores, o mercado que está inserida e seus desafios e oportunidades, além de começarem a acompanhar os resultados da empresa para aprendem a sua futura função de sócios e seus deveres e responsabilidades.
Isso já acontece na rede de supermercados Jacomar, uma das maiores redes de supermercados de Curitiba, fundada em 1966, que já passou de forma organizada para a segunda geração composta por oito irmãos, e que tem 20 pessoas da terceira geração que compõe o conselho de herdeiros.
Priscila Fantin, 27 anos, economista e especialista em gestão empresarial, é uma delas. Primeiro trabalhou no mercado e depois foi para a empresa da família, onde está há sete anos como analista de controladoria. O seu pai é o atual CEO da empresa, mas isso não muda a trajetória que ela precisa seguir na empresa. Ela veio para a área porque havia a vaga e ela tinha a experiencia.
“Nós já não tivemos o contato com os fundadores como a segunda geração, então muito do que fazemos é ver quais são os valores da empresa e como modernizar isso para os novos tempos. E levamos essa ideia para os sócios atuais”, afirma Fantin.
As reuniões do conselho são mensais e híbridas, para contemplar tanto os herdeiros que trabalham na empresa como os que não e estão em outra cidade ou país. Os herdeiros mais atuantes também passam a partilhar das reuniões do Conselho de Administração da empresa como ouvintes para ficarem por dentro das questões atuais, e também absorverem conhecimento para o momento em que passarem a atuar de forma definitiva na empresa.
A família Nichele, dona da Nichele Materiais de Construção, em Curitiba, descobriu as dificuldades de uma sucessão não planejada na prática. O fundador da empresa preparou o filho, Cristiano, para assumir o comando da empresa. Mas, na última hora, resolver compartilhar a gestão com suas outras duas filhas.
A consultoria GoNext foi acionada para ajudar e foi entender qual seria o melhor papel de cada um na empresa. Cristiano se tornou CEO com a aprovação de todos os sócios. As irmãs assumiram as diretorias financeiras e comercial. Já no marketing, ninguém da família tinha vocação e foi contratado um profissional de mercado.
“Meu pai sempre me preparou para assumir, mas depois não sabia muito bem o que fazer com as minhas irmãs e tentou colocar nós três na liderança”, diz Cristian. “Foi muito bom passar todo esse processo mais científico porque assim a aceitação da família foi muito melhor, sem deixar brechas que um ou outro estava sendo beneficiado”.
A terceira geração da família Nichele já começou a ser preparada desde cedo e passou a integrar o conselho de herdeiros com a orientação da consultoria. Já são nove pessoas de um grupo heterogêneo com crianças, adolescente e adultos. Todos os maiores de 14 anos já podem participar das reuniões.
Para Helena Rocha, sócia da PwC Brasil, apesar da transferência do controle para a próxima geração ser um evento extremamente importante e único na vida da empresa familiar, na prática é algo sobre o qual raramente se fala. E isso gera problemas, principalmente quando a sucessão precisa ser antecipada de forma inesperada.
“Ausência de comunicação, de alinhamento e planejamento estratégico comprometem qualquer negócio, mas principalmente as empresas familiares, onde as emoções se misturam entre família e negócio. É imprescindível a comunicação entre as gerações e um contrato geracional honesto”, afirma Rocha.
A organização e sucesso das empresas familiares beneficia a economia. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 90% das empresas brasileiras são familiares e empregam 75% dos brasileiros. Elas são responsáveis por mais de 60% do Produto Interno Bruto (PIB).
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