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Governo “tira da cartola” R$ 29,2 bilhões para engordar o caixa com MP

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Governo “tira da cartola” R$ 29,2 bilhões para engordar o caixa com MP
Tempo de Leitura:4 Minuto, 35 Segundo


O governo federal anunciou na terça-feira, 4 de junho, alterações propostas na medida provisória (MP) baixada em fevereiro para compensar a perda de caixa do governo com a desoneração da folha de pagamento de 17 setores da economia e em municípios com até 156 mil habitantes.

Com as medidas, o governo espera arrecadar até R$ 29,2 bilhões a mais em 2024 e obter melhores resultados para sua política fiscal.

O tema virou alvo de uma crise entre Executivo – que vem tentando pôr fim à desoneração da folha, introduzida em 2011, em caráter temporário – e o Congresso, aliado aos 17 setores, que tentam manter a desoneração pelo menos até 31 de dezembro de 2027.

A desoneração funciona por meio de um modelo de substituição tributária, que permite aos 17 setores, a maioria ligados aos serviços, compensar a contribuição previdenciária de 20% sobre salários por alíquota que varia de 1% a 4,5% incidente sobre a receita bruta.

Com a proposta, o governo pretende fechar a torneira pela qual as empresas beneficiadas pela desoneração usem os créditos de PIS (Programa de Integração Social) e da Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) para pagar outros tributos, como imposto de renda e contribuição previdenciária.

Também limita o ressarcimento do PIS/Cofins em dinheiro, impedindo a “tributação negativa” ou “subvenção financeira” para setores contemplados. Por causa da desoneração, essas empresas acumulam muitos créditos com descontos no pagamento do PIS/Cofins.

O pacote foi anunciado pelo secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan (o ministro Fernando Haddad está em viagem internacional). De acordo com Durigan, a arrecadação será ampliada em R$ 11,7 bilhões pelo não ressarcimento do crédito presumido PIS/Cofins e em R$ 17,5 bilhões com a limitação na compensação PIS/Cofins.

No modelo que estava em vigor, o impacto da desoneração da folha das empresas e dos municípios totaliza R$ 26,3 bilhões (R$ 15,8 bilhões para empresas e R$ 10,5 bilhões para municípios).

Ao expor as medidas, Durigan alinhou algumas premissas para a compensação. Entre elas, a não criação ou majoração de tributos, acrescentando que o objetivo é não prejudicar os contribuintes menores ou o setor produtivo.

“A intenção é corrigir distorções do sistema tributário brasileiro”, afirmou Durigan, enfatizando a não-cumulatividade do PIS/Cofins. De acordo com o governo, atualmente, a arrecadação é próxima de nula ou até “negativa” em alguns setores.

“Essa neutralidade foi distorcida nos últimos anos, afastando a tributação de muitas empresas, chegando a ser negativa”, prosseguiu Durigan, acrescentando que outros setores, não contemplados com a desoneração, carregam o ônus de uma tributação maior.

O pacote contém outras duas medidas, sendo que uma delas, a rigor, pode aumentar a arrecadação federal. É a que cria um programa para cadastrar todos os benefícios tributários dados a empresas no País.

Durigan disse que cálculos da Receita Federal estimam que todas as renúncias fiscais em vigor podem atingir R$ 600 bilhões. A maior parte desse total, R$ 400 bilhões – que inclui isenções para o Simples Nacional e a Zona Franca de Manaus, por exemplo -, é conhecida e monitorada.

“Mas há cerca de R$ 200 bilhões de gastos tributários com benefícios que o Fisco não dispõe de informações completas, só fiscalizando será possível detectar se as empresas estão pagando menos”, diz.

Com isso, o governo vai exigir um cadastramento para as empresas informarem quais benefícios estão usufruindo, preenchendo um formulário: “Quem não fizer o cadastramento não perde o benefício, mas permitirá ao Fisco controlar irregularidades.”

A outra proposta atende uma demanda dos municípios. Ela permite que os municípios façam o julgamento das disputas tributárias envolvendo o Imposto Territorial Rural (ITR). O tributo e a arrecadação com o imposto são municipais, mas o julgamento é feito atualmente pelo governo federal.

Briga com Legislativo

Com a iniciativa, o governo federal pretende pôr fim à disputa com o Legislativo e os setores beneficiados com a desoneração da folha de pagamento que vinha se arrastando desde novembro, quando o governo vetou um projeto de lei que pretendia prorrogar a desoneração.

O Congresso reagiu no mês seguinte, aprovando a Lei 14.784 para prorrogar até 31 de dezembro de 2027 a vigência da política de desoneração da folha de pagamento. A proposta foi estendida a prefeituras, o que reduziria a contribuição previdenciária de municípios.

O governo chegou a emitir uma MP no final de dezembro e, diante da reação negativa do Congresso, outra MP em fevereiro, corrigindo alguns trechos – também criticada pelo Legislativo.

O governo, porém, não desistiu e lançou mão de uma medida que revoltou os setores beneficiados pela desoneração e a oposição no Congresso. Atendendo a pedido do presidente Lula (PT) e da AGU (Advocacia-Geral da União), o ministro Cristiano Zanin, do STF, suspendeu trechos da lei que prorrogou a desoneração da folha até 2027.

Zanin considerou que, sem indicação do impacto orçamentário, poderia ocorrer “um desajuste significativo nas contas públicas e um esvaziamento do regime fiscal constitucionalizado”.

Após pedido de vista do ministro Luiz Fux, o julgamento foi retomado nesta terça-feira, quando o plenário formou maioria confirmando a suspensão, por 60 dias, da decisão liminar que barrou a desoneração da folha de pagamento dos 17 setores.

A disputa não terminou, mas entra agora em nova fase. Durigan diz que o governo está aberto para discutir as novas medidas com o Congresso Nacional.

“A decisão de hoje do STF vai permitirá um novo prazo para negociações entre governo e Legislativo”, disse o secretário-executivo da Fazenda.



Fonte: Neofeed

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Flávio Cerqueira, o garoto pobre fascinado por Rodin que se tornou um dos grandes escultores brasileiros

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Flávio Cerqueira, o garoto pobre fascinado por Rodin que se tornou um dos grandes escultores brasileiros
Tempo de Leitura:7 Minuto, 45 Segundo


Em 2001, a Pinacoteca do Estado de São Paulo recebeu uma marcante exposição do escultor francês Auguste Rodin (1840-1917), apresentando, entre outras obras, o gesso original usado como molde para fundir A Porta do Inferno. Naquele mesmo ano, Flávio Cerqueira, que trabalhava como office boy e era calouro de artes visuais, passava pela região sem a intenção de visitar o museu.

No entanto, ao avistar o cartaz com uma das esculturas de Rodin, pensou intrigado: “Que estátua interessante. Será que está aí dentro?”. Movido pela curiosidade, entrou na fila e atravessou, pela primeira vez, as portas de um museu. O impacto do encontro foi imediato. Fascinado, Flávio chegou a tocar uma das esculturas, batendo levemente nela para sentir o material.

“Ali foi meu encontro com o Rodin”, recorda o artista, em conversa com o NeoFeed. “A partir daquele momento, ele passou a me guiar na escultura. O trabalho tinha uma escala que não era monumental, mas humana. Aquilo me atingiu de tal forma que pensei: é isso que quero fazer.”

Em 2024, Flávio comemora 15 anos de uma trajetória marcada pelo diálogo criativo com o bronze. Suas obras estão em exibição na mostra Eutonia, na Galeria Simões de Assis, na capital paulista, até 14 de dezembro.

Em breve, em 7 de dezembro, o artista inaugura Flávio Cerqueira — um escultor de significados, sua primeira retrospectiva no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), apresentando 40 peças que revisitam momentos cruciais de sua carreira.

“Flávio aborda experiências e questões negras de maneira profundamente original, utilizando o bronze — um material historicamente associado às elites econômicas, políticas, religiosas, sociais e culturais”, comenta a historiadora Lilia Schwarcz, curadora da exposição do CCBB, em entrevista ao NeoFeed.

Como define a autora de Brasil: Uma Biografia, “ele subverte a lógica tradicional desse material ao empregá-lo para retratar as pessoas, não apenas em contextos de sofrimento, mas frequentemente em situações de lazer e plenitude.”

Lilia tem certeza de que Flávio vai ficar como um dos nomes a nova geração de artistas negros e negras, “que veio com uma perspectiva decolonial, alterando as agendas da história da arte e das exposições de arte também”, completa Lilia.

Um lugar todo seu

Em 7 de setembro de 1989, quando tinha 6 anos, Flávio estava na avenida Tiradentes, em São Paulo, com seu pai, Floriano, para assistir ao desfile da Independência. Ao se deparar com o imponente edifício da Pinacoteca, o menino perguntou o que era aquele lugar. “É um espaço onde a gente não pode entrar”, respondeu Floriano.

“Meu pai era operário e acreditava que aquele lugar era só para os ricos, impressionado pela grandiosidade do prédio. Nossa família não tinha nenhuma ligação com o mundo da arte”, relembra Flávio.

Criado na periferia de Guarulhos, o escultor foi o primeiro de sua família a concluir o ensino universitário e, atualmente, cursa doutorado em Artes Visuais, no Instituto de Artes, da Universidade Estadual Paulista (Unesp):

“O lance acadêmico, para mim, é mais uma questão pessoal do que profissional. É para entender como funciona, como quem diz: ‘Pô, tá vendo? Eu posso navegar nos dois mundos”. E Flávio, hoje, com 41 anos, navega bem por diversos mundos.

Seu trabalho tem entrada no mercado de arte e também nos principais acervos institucionais, a exemplo de MASP (Museu de Arte de São Paulo), Instituto Inhotim, MAC-USP (Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo) e a própria Pinacoteca de São Paulo.

Sua carreira também o levou a exposições internacionais em instituições como National Gallery de Washington e Museum of Fine Arts de Houston, ambos nos Estados Unidos, e Museu Stefano Bardini, na Itália.

Contador de histórias

Por trabalhar essencialmente com a figura humana, cada escultura de Flávio também representa uma personagem imersa em uma trama que se conecta tanto à sua trajetória pessoal quanto ao contexto social brasileiro. Em seus primeiros trabalhos, o artista camuflava o bronze com uma pintura eletrostática branca, dando a aparência da fragilidade da porcelana ao material rígido.

Ainda em seu processo de entrada no circuito artístico brasileiro, Flávio descreve esses trabalhos como monólogos: “Eu estava falando comigo mesmo. Era um momento reflexivo.”

Entre as obras dessa fase introspectiva, destaca-se Antes que eu me esqueça, de 2013 que retrata uma figura masculina de olhos fechados, tateando seu reflexo no espelho. As esculturas desse período raramente estabelecem contato direto com o espectador, com olhares vagos, direcionados para baixo ou voltados para si mesmas, intensificando o caráter introspectivo.

O trabalho de Flávio tem entrada no mercado de arte e também nos principais acervos institucionais (Foto: Romulo Fialdini)

Em suas obras, Flávio incorpora elementos do cotidiano, como o menino que picha na parede: “Nunca foi a primeira opção” (Foto: Romulo Fialdini)

Na obra “Não estou no meu passado”, o escultor usou as próprias costas como molde (Foto: Romulo Fialdini)

“Flávio aborda experiências e questões negras de maneira profundamente original”, diz a historiadora Lilia Schwarcz. Na imagem, detalhe de “Só eu sei” (Foto: Romulo Fialdini)

“Quando começo a pensar no outro, passo a incluir personagens femininas, porque começo a abordar questões humanas que podem tocar em mim, mas também em qualquer outra pessoa, incluindo mulheres”, diz o artista. Na imagem, “Para voltar a ser eu” (Foto: Romulo Fialdini)

Flávio já expôs na National Gallery de Washington, no Museum of Fine Arts de Houston e no italiano Museu Stefano Bardini. Na imagem, “Melhor nem saber” (Foto: Romulo Fialdini)

Para Lilia Schwarcz, o escultor “subverte a lógica tradicional desse material [do bronze] ao empregá-lo para retratar as pessoas, não apenas em contextos de sofrimento, mas frequentemente em situações de lazer e plenitude”, como em “O Jardim das Dádivas” (Foto: Romulo Fialdini)

Durante uma residência nos Estados Unidos, em 2018, Flávio criou sua primeira figura feminina. A obra “Uma palavra que não seja esperar” foi inspirada em Ruby Bridges, a primeira criança negra americana a estudar, nos anos 1960, em uma escola destinada exclusivamente a brancos (Foto: @EGSchempf)

Em 2016, em exposição individual na Galeria Triângulo, o escultor assume plenamente a materialidade do bronze, como na peça “Passarinho” (Foto: Edouard Fraipont)

Na primeira fase de sua carreira, Flávio camuflava o bronze com uma pintura eletrostática branca, dando a aparência da fragilidade da porcelana ao bronze, como em “Antes que eu me esqueça” (Foto: acervo.pinacoteca.org.br)

“A Porta do Inferno”, do francês Rodin, foi o que levou o artista brasileiro a querer ser escultor e trabalhar com bronze (Foto: musee-rodin.fr)

Na sua exposição individual, realizada na Galeria Triângulo, em 2016, Flávio assume plenamente a materialidade do bronze, apresentando figuras mais dinâmicas e carregadas de desejo. Entre os destaques estão Avua! e Passarinho, que exploram o sonho do voo. Essas obras marcam uma transição para um momento mais expansivo e ambicioso.

Durante uma residência no Kansas City Art Institute, no Missouri, Estados Unidos, em 2018, Flávio criou sua primeira figura feminina. Inspirado pela história de Ruby Bridges, a primeira criança negra, nos anos 1960, a estudar em uma escola destinada exclusivamente a brancos, ele esculpiu Uma palavra que não seja esperar.

A obra retrata uma jovem caminhando com determinação, equilibrando uma pilha de livros sobre a cabeça, simbolizando o peso e o poder do conhecimento em meio à luta por igualdade.

“Até então, minha relação com o trabalho era muito pessoal; eles falavam das minhas experiências com o mundo, por isso as figuras masculinas”, explica. “Quando começo a pensar no outro, passo a incluir personagens femininas, porque começo a abordar questões humanas que podem tocar em mim, mas também em qualquer outra pessoa, incluindo mulheres.”

Elementos do cotidiano

Um aspecto marcante no trabalho de Flávio é a incorporação de elementos do cotidiano, que dialogam com suas esculturas e expandem suas narrativas. Letras pichadas, livros, espelhos e objetos urbanos, como tênis e bonés, integram suas personagens, conferindo-lhes proximidade com o universo contemporâneo.

Além disso, suas obras frequentemente sugerem movimentos, como o ato de pichar, regar uma planta ou soltar uma bolha de sabão, capturando instantes de ação e transformando-os em momentos de contemplação:

“Eu coloco o bronze em um lugar comum”, comenta o artista. “Porque não estou retratando nenhum herói, personalidade ou acontecimento histórico. Estou trazendo situações cotidianas e usando o bronze para dar legitimidade a essas cenas do dia a dia, mostrando que elas são dignas de serem eternizadas”.

Na exposição Eutonia, Flávio apresenta seis trabalhos inéditos que exploram sensações de dor e força. Em um objeto de parede, o escultor utilizou suas próprias costas como molde, imprimindo uma mensagem: “Não estou no meu passado”.

A frase, gravada no dorso, surge como uma cicatriz, simbolizando um ponto de reflexão sobre o presente e o passado do artista.

Em Desenho Cego, Flávio faz uma homenagem ao ato de esculpir. A obra retrata uma figura masculina de olhos fechados, borrados de argila, segurando uma especa com uma das mãos.

Com a ferramenta, ele rasga a própria pele a partir da palma, ampliando a linha que simboliza a linha da vida.

“Estou fazendo uma alegoria à minha relação com a escultura. Porque, nos últimos 20 anos, tudo o que eu tenho, tudo o que eu conquistei, tudo o que eu aprendi foi por causa da escultura”, conclui o artista, que, ao dar forma ao bronze, não apenas molda o mundo, mas também a si mesmo.





Fonte: Neofeed

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O “aquoir” dos vinhos e espumantes envelhecidos no fundo do mar

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Tempo de Leitura:6 Minuto, 40 Segundo


Por trazer à lembrança as histórias de naufrágios e tesouros, as imagens de garrafas incrustradas de cracas envolvem com uma aura de fantasia e charme os vinhos e espumantes envelhecidos nas profundezas dos oceanos.

A maturação de bebidas em altas profundidades, porém, vai muito além do fascínio pela ideia de aventura, despertando cada vez mais o interesse de produtores e especialistas de todo o mundo — e se transformado em um promissor negócio. A enologia descobre o aquoir, uma adaptação ao universo subaquático do conceito de terroir.

A nova tendência está baseada na hipótese segundo a qual o ambiente dentro d’água oferece condições únicas para o processo de amadurecimento das bebidas. A pouca luz, a pressão elevada, as temperaturas constantes e a baixa concentração de oxigênio poderiam aprimorar a qualidade dos vinhos e espumantes.

Ainda que o método não tenha sido corroborado por estudos científicos definitivos, vinícolas de todos os cantos do planeta estão lançando ao mar pequenos lotes de suas produções. Quando resgatadas, as garrafas fazem brilhar os olhos de muitos de seus clientes — sobretudo os de alto padrão, sempre dispostos a pagar mais por experiências exclusivas e inusitadas.

“As garrafas emergem cobertas por conchas e sedimentos, o que as torna um atrativo único”, diz Jean Carraro, proprietário e sócio da Videiras Carraro, sediada na cidade gaúcha de Bento Gonçalves, em conversa com o NeoFeed. Em 2018, ele se uniu a Fabiano Müeller, da Vinícola Fama, de São Joaquim, em Santa Catarina, para experimentar o envelhecimento undersea.

As primeiras remessas ficaram um ano, a 12 metros de profundidade, na costa catarinense. “Conforme fomos provando e analisando os vinhos e espumantes, vimos que havia muita diferença entre a maturação submarina e na cave. Com o passar do tempo notamos mudanças de cor, aroma e sabor”, conta Jean. “Um ano sob a água equivale a três anos em adega terrestre.”

Mais frutados, os espumantes envelhecidos no fundo do mar custam cerca de R$ 1,9 mil. E os tintos, com taninos mais macios e aromas intensificados, R$ 2,2 mil. Uma valorização de, pelo menos, 955% em relação às bebidas deixadas para amadurecer em terra firme.

Outra vinícola brasileira a testar os poderes das adegas subaquáticas foi a gigante Miolo Wine Group. Em 2016, a companhia gaúcha mergulhou 504 garrafas do Miolo Cuvée, a 60 metros no mar da Bretanha, na costa da França. O projeto foi criado para celebrar a exportação de 100 mil garrafas do espumante para o mercado francês.

“O lote foi retirado do mar em 2017 e depois veio para o Brasil, onde ficou na cave subterrânea da Miolo, no Vale dos Vinhedos [cidade do Rio Grande do Sul]”, conta, ao NeoFeed, Adriano Miolo, diretor superintendente do grupo, sem revelar quanto investiu na experiência.

A coleção Miolo Cuvée — Under The Sea foi recém-lançada e cada garrafa é vendida por R$ 3,5 mil — a título de comparação os espumantes mais caros da marca, quando maturados em terra firme custam em torno de R$ 440.

A cena vem se repetindo mundo afora. Na Grécia, a Gaia Wines usou o envelhecimento undersea, pela primeira vez, em 2011. Maturou o vinho branco Thalassitis, na profundezas do Mar Egeu. Nos Estados Unidos, a Mira Winery lançou alguns exemplares de cabernet sauvignon em Charleston Harbor, no litoral da Carolina do Sul. Aliás foi a vinícola americana a primeira a usar o termo aquaoir, quando do lançamento do projeto, em 2013.

Naufrágio do século 19

O entusiasmo em torno das adegas subaquáticas é tanto que já existem (embora poucas) empresas especializadas no serviço. A Miolo, por exemplo, contou com a parceria da francesa Amphoris. Operando desde 2013, no Mediterrâneo, a empresa faz o monitoramento constante das condições de pressão e temperatura.

Na Croácia, a Coral Wine Project mergulha vinhos no Mar Adriático, a profundidades entre 15 e 30 metros, sob temperaturas que variam de 8 a16 graus Celsius. No Japão, a Hokkaido Kaiyo Matsuri permite que consumidores submerjam, além de vinhos, saquê e uísque, na costa de Hokkaido, a mais setentrional das ilhas japonesas. Todo o processo de envelhecimento é acompanhado por câmeras.

O projeto “Cellar in the Sea”, da Veuve Clicquot começou em 2014 (Reprodução Internet)

Para comemorar a exportação de 100 mil garrafas do Miolo Cuvée para o mercado francês, a vinícola gaúcha afundou, em 2017, 504 garrafas do espumante no mar da Bretanha. Cada unidade custa R$ 3,5 mil (Foto: Divulgação)

As adegas aquáticas ganharam força em 2010, quando mergulhadores descobriram um naufrágio com uma centena de garrafas de champanhe. Para surpresa de todos, as bebidas estavam em perfeitas condições de consumo (Reprodução Internet)

Especializada em adegas subaquáticas, a empresa japonesa Hokkaido Kaiyo Matsuri leva para o fundo do mar, além de vinho, saquê e uísque (Reprodução Internet)

A maturação undersea começou a ganhar força em 2010. Naquele ano, mergulhadores encontraram 145 garrafas de champanhe, entre elas, Veuve Clicquot, Juglar e Heidsieck, nos destroços de um navio naufragado, no século 19, no Mar Báltico, próximo ao arquipélago de Åland, entre Finlândia e Suécia. Para surpresa de todos, as bebidas estavam impecáveis.

Uma das unidades foi arrematada em um leilão, realizado em 2011, por Є 15 mil (o equivalente hoje a quase R$ 91 mil).

De olho em um mercado com grande potencial de expansão, em 2014, a Veuve Clicquot lançou o projeto Cellar in the Sea. Para a primeira experiência, a vinícola submergiu 300 garrafas de champanhe no mesmo Mar Báltico, a 40 metros de profundidade, com objetivo de estudar e comparar o produto amadurecido no ambiente subaquático com o maturado da maneira tradicional nas caves da maison em Reims, no nordeste da França.

Como já descreveu Jean-Marc Gallot, presidente da companhia, as garrafas envelhecidas no ambiente subaquático voltam com “notas terrosas e aromas de cogumelos e trufas”, enquanto as mantidas nas adegas tradicionais conservam “aromas de brioche e pêssego”. O experimento Cellar in the Sea permanece ativo e análises sensoriais e técnicas são realizadas periodicamente.

A sede dos consumidores por novidade

O envelhecimento subaquático pode parecer simples. Basta jogar algumas garrafas ao mar e esperar o tempo passar, só que não. A técnica exige muitos cuidados. Todas as vinícolas seguem basicamente o mesmo roteiro. As garrafas são protegidas por gaiolas de aço inoxidável, vedadas com cera e lacradas com arames de aço e rolhas premium para evitar a intrusão de água salgada. O que varia, de uma empresa para outra, é a profundidade e o tempo.

Por falta de pesquisas robustas sobre a ação real das condições do fundo do mar na qualidade das bebidas, a técnica divide opiniões. “É mais uma estratégia de marketing do que um avanço enológico,” afirma Mário Telles Jr., presidente da Associação Brasileira dos Sommeliers – São Paulo (ABS-SP), em conversa com o NeoFeed.

Mario Lucas Ieggli, vice-presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE) traz uma perspectiva técnica. “O armazenamento é responsável por 99% da qualidade final. Se o vinho não for armazenado adequadamente, a experiência final será comprometida,” explica, ao NeoFeed. “E uma boa adega terrestre climatizada — com controle de umidade, temperatura e luz —oferece praticamente tudo o que o fundo do mar proporciona.”

Exceto, como o especialista lembra, a pressão atmosférica. “Ela até pode influenciar no processo de maturação, mas não há estudos conclusivos sobre o quanto isso impacta a evolução da bebida”, diz.

O próprio Adriano Miolo faz questão de frisar a ausência de provas científicas. “Na Miolo, tudo exige muita pesquisa e tempo para avaliar, conhecer cada ambiente e como ele interfere em cada vinho”, faz questão de reafirmar.

Mas ele, como Ieggli, reconhece: a técnica tem seu apelo. “O consumidor está sempre em busca de novidades e experiências únicas. O inusitado desperta curiosidade, e isso cria espaço para explorar diferentes formas de apresentar o vinho”, diz o empresário.

A ousadia dos produtores tem sido recompensada pela sede dos clientes por novidade. Jean Carraro comemora: “Começamos o projeto como uma brincadeira entre amigos, para podermos consumir algo diferente, e acabou virando um grande negócio”.





Fonte: Neofeed

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O campeão da NBA vai para o Oriente e tenta “criar uma jogada” com o Mubadala

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boston celtics nba campeão 2024 (Foto: Brian Babineau/NBAE via Getty Images)
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O Boston Celtics, atual campeão da NBA, esteve no Oriente Médio em road show. Enquanto a equipe de basquete participava de jogos da pré-temporada em Abu Dhabi, os executivos buscavam se conectar com os maiores investidores da região.

Colocado à venda há alguns meses pelo empresário americano Wyc Grousbeck, que comprou a franquia em 2002 por US$ 360 milhões, a ideia é atrair investidores capazes de fazer um aporte de milhões de dólares na equipe com o maior número de títulos da NBA – são 18 ao todo.

Entre os investidores cortejados está o Mubadala, fundo soberano dos Emirados Árabes, de acordo com fontes ouvidas pela Bloomberg. Mas, até o momento, não há nenhuma definição sobre um possível investimento do fundo soberano, apesar da empresa já ter demonstrado interesse em entrar na liga americana.

Apesar das oportunidades no esporte, grandes investidores do Oriente Médio estão relutantes em aceitar participações em equipes avaliadas a preços elevados, sem direito a influenciar a gestão, segundo a reportagem. Atualmente, os fundos soberanos podem deter até 20% de uma franquia da NBA.

Essa visão dos investidores causa um problema para os times americanos. Com as avaliações das equipes atingindo níveis recordes ano após ano, os empresários do Oriente Médio estão entre os poucos com recursos suficientes para adquirir participações nas equipes.

O Celtics se encaixa nesse perfil. Avaliado em US$ 5,1 bilhões pela Sportico, a venda do clube de Boston parece cada vez mais desafiadora – e cara. Com jogadores mais valorizados, o mercado espera que o time registre prejuízo no próximo ano, o que dificulta ainda mais o processo.

Além disso, a franquia também não possui uma arena própria, ativo considerado como importante fonte de receita para investidores.

Apesar do dinheiro dos investidores não estar fluindo da forma esperada, os times e a própria NBA têm se beneficiado da relação com o Oriente Médio por meio de patrocínios.

Neste ano, a liga realizou discussões com investidores soberanos do Catar, apresentando uma série de possíveis parcerias, incluindo a realização de jogos exibição no país e diversos acordos de direitos de mídia.

“Estamos explorando várias opções para continuar ampliando nossos esforços de engajamento de fãs na região do Golfo, onde há um interesse crescente na NBA”, disse Mike Bass, porta-voz da liga.

Um exemplo da relação entre os países se dá pela parceria com a Emirates Airlines, que é a principal patrocinadora da NBA Cup, o torneio da temporada regular que estreou na temporada passada.

Do lado dos clubes, em meados de 2023, o Qatar Investment Authority adquiriu uma participação de 5% na Monumental Sports & Entertainment, holding que controla o Washington Wizards.

Na temporada deste ano, os uniformes do New York Knicks dão destaque para a promoção de Abu Dhabi como destino turístico. O time também tem sido cogitado a receber aportes provenientes do Oriente Médio.

Aposta do Mubadala nos esportes

O fundo soberano dos Emirados Árabes tem se envolvido em diversas conversas relacionadas a esportes. E algumas delas têm ligação com o Brasil.

No ano passado, o Mubadala participou da iniciativa da Liga Brasileira de Futebol (Libra), entidade criada em 2022 por sete clubes brasileiros. O fundo atraiu nomes como a CVC Capital Partners, um dos principais players globais de private equity, para suportar o desenvolvimento da liga, que ainda busca se firmar por aqui.

Além disso, o Mubadala adquiriu uma equipe na competição internacional de vela SailGP para representar o Brasil. Ela será a 11ª equipe do campeonato e a primeira da América do Sul.



Fonte: Neofeed

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