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US$ 100 bi em 5 anos, entrada no México e o “momento sui generis” do Brasil: uma conversa com Alexandre Saigh, do Patria

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US$ 100 bi em 5 anos, entrada no México e o
Tempo de Leitura:8 Minuto, 49 Segundo


No IPO do Patria Investimentos, em 2021, Alexandre Saigh, fundador e CEO global da gestora, avisou que chegaria a US$ 50 bilhões em ativos sob gestão até 2025. Mas, segundo o próprio, essa meta será atingida neste ano.

Atualmente, o Patria conta com US$ 43 bilhões sob gestão e, nos últimos três anos, passou a comprar outras gestoras e a incorporar teses de investimentos. Se antes eram duas, hoje são seis. Vão de private equity, passando por venture capital, crédito, real estate e mais.

O foco está em cinco países: Brasil, Colômbia, Peru, Chile e, segundo 0 CEO global e fundador do Patria, o México, onde a gestora se prepara para fincar bandeira. Sim, trata-se do próximo alvo da empresa de Saigh.

Em uma rara entrevista, Saigh, que vive em Londres, revelou ao NeoFeed que vai entrar no país e pode comprar uma gestora por lá, principalmente na área de fundos imobiliários. Há também planos de avançar na Europa, onde incorporou a operação da inglesa Abrdn, e nos Estados Unidos.

A meta agora é outra. “Dobrar nos próximos cinco anos acho que é uma meta razoável”, diz Saigh, que pediu para que sua foto não fosse publicada. Vendedor do Brasil para os investidores internacionais, ele foi agraciado com o prêmio “Personality of the Year 2024”, da Brazilian Chamber no Reino Unido.

Na conversa a seguir, Saigh fala do memorando de entendimentos assinado com a Arábia Saudita para trazer investimentos ao Brasil, a expansão do Patria e a estratégia que vai adotar, do “momento sui generis do Brasil nos últimos 30 anos” e mais. Acompanhe:

Qual é o momento do Patria?
Da abertura de capital para cá, saímos de US$ 14 bilhões sob gestão para US$ 43 bilhões hoje. Acabamos crescendo três vezes os ativos sob gestão. O IPO foi feito para a gente conseguir expandir nosso menu de produtos e nossa expansão geográfica dentro da América Latina. O nosso foco, naquele momento, era ativos alternativos dentro da América Latina. Na época, levantamos US$ 300 milhões e fomos atrás de comprar outras gestoras que agregassem mais produtos e uma expansão geográfica mais ampla dentro da América Latina. Conclusão disso, três anos depois, nós éramos uma empresa muito focada nas áreas de private equity e infraestrutura, que continuam sendo muito importantes, mas hoje temos áreas de crédito, imobiliária, ações listadas e de private equity solutions, que é fundo de fundos de private equity. Passamos de duas áreas para seis áreas.

E a geografia, o que mudou?
Éramos uma empresa focada muito na América do Sul, principalmente Brasil. Hoje temos uma expansão relevante no Chile, Peru e Colômbia e com a intenção de ir para o México. A gente ainda não está no México, mas a intenção nessa jornada de mais produtos e mais expansão geográfica dentro da América Latina. Para o nosso negócio, é México, Colômbia, Peru, Chile e Brasil. Não é nenhuma mágica, porque são os cinco países que compõem o MSCI, do Morgan Stanley. E a gente percebeu duas outras grandes tendências.

Quais?
Os clientes globais, de fora da América Latina, que representam 75% da nossa base sob gestão, investindo em ativos alternativos. Esse cliente precisa de um parceiro na região que ele desconhece. Ele precisa de um parceiro de confiança. Ele conhece a classe de ativos, mas não a região. Um exemplo disso é que assinamos um memorando de entendimento com a Arábia Saudita, na segunda-feira (3 de junho), para sermos um dos parceiros de confiança para eles investirem na América Latina. Nesses últimos anos, as economias locais dentro da América Latina começaram a se estabilizar, com queda da inflação e dos juros. Aí, os investidores institucionais locais latinos se viram precisando rentabilizar o portfólio. Porque, principalmente os fundos de pensão, que são os nossos grandes clientes, precisavam buscar ativos que rendem mais. Mas os produtos que eles procuravam eram um pouco diferente daquilo que nós estávamos vendendo.

“Os clientes globais, de fora da América Latina, que representam 75% da nossa base sob gestão, investindo em ativos alternativos”

Por quê?
Porque o nosso produto era o panregional, Latam, denominado em dólar. Isso é aquilo que fundos de pensão colombiano ou brasileiro dizem: ‘panregional, denominado em dólar? Não tem algo em pesos colombianos na Colômbia, para dar um primeiro passo?’ O desafio desses clientes não é a região, pois são da região, é a classe de ativos que eles desconhecem. ‘Olha, você vai investir num FIP que investe do México até a Argentina, denominado em dólar’. Um fundo de pensão brasileiro olha e diz: ‘Parece legal, mas é muito complexo’. Com isso, desenvolvemos uma gama de produtos estruturados para os investidores locais, os institucionais chilenos, os colombianos, os brasileiros e assim por diante. Temos mais de 30 produtos nesses diferentes países.

E qual foi a segunda tendência que vocês perceberam?
Identificamos uma vontade desses institucionais locais em investir em produtos estruturados ou alternativos fora da América Latina, principalmente os chilenos. Eles passaram a pedir e a gente vendia para eles produtos de terceiros, da KKR, da Blackstone, da Carlyle. Olhamos isso e pensamos: ‘por que a gente mesmo não faz e verticaliza?’ Foi aí que compramos o business da Abrdn, no Reino Unido, e agora temos produto nosso para vender para os latinos. O que veio junto com a Abrdn é que agora temos clientes ingleses e europeus que investem com a gente em fundos de private equity global.

O Patria mudou de patamar?
Mudou. Isso está totalmente vinculado com a minha vinda para cá, para Londres, há três anos, com a missão de internacionalizar o Pátria.

“O que veio junto com a Abrdn é que agora temos clientes ingleses e europeus que investem com a gente em fundos de private equity global”

Você disse que o Patria tem seis teses. Há outras para entrar?
Como uma nova tese, não. Mas, dentro dessas teses, tem vários outros produtos que ainda não temos. Por exemplo, dentro da vertical private equity tem o que compra empresas já consolidadas. Aí compramos uma empresa de venture capital, que é a Igah. E tem outras várias estratégias dentro de private equity. Dentro de infraestrutura, temos um fundo que faz infraestrutura, a gente constrói. Agora, temos uma que é mais madura. Tem um monte de coisas que podemos fazer em infraestrutura.

Então tem muito para crescer…
Tem muito. Só para você ter uma ideia, hoje temos 30 produtos e o plano é ter 60 dentro de três anos. É dobrar de tamanho.

E comprar outras gestoras, está nos planos?
Sim, continuamos mapeando para preencher esse menu de produtos. Estamos atrás de gestoras no Brasil e na América Latina. Por exemplo, acabamos de comprar os fundos imobiliários que eram do Credit Suisse no Brasil. No México, não temos nenhum. Poderíamos fazer do zero ou comprar uma gestora lá.

Com a visão de negócios e geográfica que você tem atualmente, quais são as maiores dificuldades de se fazer negócio na América Latina e Europa?
Acho que são características diferentes. Na Europa e nos Estados Unidos, os investidores conhecem a classe de ativos alternativos. Aqui, o desafio é convencê-los a investir na América Latina. Já na América Latina, o desafio é convencer a investir em ativos alternativos, com exceção dos fundos de pensão chilenos que são bem sofisticados.

Então você tem de convencer os investidores de fora a acreditarem na América Latina e os investidores latinos a investirem em altivos alternativos?
É exatamente isso. São duas missões difíceis.

No IPO, vocês definiram a meta de chegar a US$ 50 bilhões de ativos sob gestão até 2025. Vai chegar quando?
Acho que chegaremos neste ano.

E o que será o Patria em 5 anos?
Acho que a gente tem de continuar crescendo nesse ritmo. Crescer três vezes em quatro anos, não acho possível. Mas dobrar nos próximos cinco anos acho que é uma meta razoável. Em segundo lugar, estaremos bem-posicionados nos cinco países da América Latina que citei. Mais uma vez, desculpe ser redundante, mas é México, Colômbia, Peru, Chile e Brasil. Com um menu de produtos bem completinho, ainda temos buracos de produtos no nosso portfólio. Então, preencher a oferta nesses cinco países da América Latina. E com uma boa avenida de expansão para fora da América Latina, começando com Europa e Estados Unidos.

“Algumas questões que aconteceram, principalmente geopolíticas, favorecem muito a nossa região”

O que o memorando de entendimentos assinado com a Arábia Saudita representa para o Patria?
Buscamos estreitar o relacionamento não só com os sauditas, mas com outros emirados e países do Oriente Médio. Há muitos anos, eu, pessoalmente, lidero aqui essa área comercial de desenvolver esse tipo de relacionamento. O Fundo Soberano do Kwait investiu com a gente pela primeira vez em 1997. Há mais de 30 anos, a gente vem desenvolvendo relação e trazendo investimento internacional para o Brasil, no Oriente Médio, Europa, Estados Unidos. No ano passado, para te dar uma ideia, viajei 37 semanas das 54 semanas do ano. Tudo para visitar clientes e muitos que se tornaram amigos. Minha esposa reclama que toda cidade que vamos eu invento um jantar com algum amigo (risos). E, sobre os sauditas, temos vários investimentos em conjunto.

Esse memorando vai trazer mais captação para o Brasil?
Sim. Estou nessa estrada, vendendo o Brasil, há 30 anos. E estamos numa situação sui generis positiva de venda de Brasil. Algumas questões que aconteceram, principalmente geopolíticas, favorecem muito a nossa região. Primeiro, não temos conflitos religiosos sérios, não temos conflitos de fronteiras. Então, não tem nenhum tipo de conflito que pode gerar uma guerra. Nós temos problema, mas outro tipo de problema. Há duas horas daqui (Londres) tem guerra. No Oriente Médio, tem guerra. Tem a tensão na China e Taiwan. Então os investidores ficam muito assustados. Porque, uma coisa é você ter uma insegurança jurídica e outra coisa é uma guerra que você perde tudo de uma hora para outra.

Qual outro motivo favorece o Brasil?
A gente tem a energia limpa. Você sabe que a energia produzida no Brasil, mais de 80% vêm de fontes renováveis. Além disso, temos commodities, tanto os minérios como agrícolas verdes. Temos as florestas, que crescem seis vezes mais rápido do que na América do Norte. Se a gente conseguir passar mais segurança jurídica para o investidor… Sou crítico ao Brasil, mas sempre alguma força da sociedade se manifesta institucionalmente e o país volta aos trilhos. Ou o Congresso, ou a sociedade civil, ou o Supremo, ou o Executivo.

E se tivéssemos mais segurança jurídica?
Aí, meu Deus! Com todo o potencial que mencionei…





Fonte: Neofeed

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No projeto Tão Longe, Tão Perto, o “milagre da expansão” acontece no vinho que sai da torneira

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No projeto Tão Longe, Tão Perto, o
Tempo de Leitura:5 Minuto, 9 Segundo


Fundador, em 2014, do primeiro wine truck do Brasil, o Los Mendozitos, voltado à venda em taça de vinhos de baixa intervenção importados da Argentina, o engenheiro industrial com especialização em sustentabilidade, Ariel Kogan, se rendeu aos vinhos nacionais. “A alta do dólar me obrigou a olhar com mais atenção para o mercado nacional e acompanhar a evolução da qualidade na última década”, conta ao NeoFeed.

Sem perder o foco nos pequenos produtores éticos e no desafio de tornar o consumo da bebida mais descontraído, Kogan vem investindo desde 2021 no projeto Tão Longe, Tão Perto (TLTP), ao lado da sommelière Gabriela Monteleone. Voltada à comercialização de vinhos leves, descomplicados e de fácil entendimento em growlers (garrafas reutilizáveis de 1 a 2 litros) e kegs (barris de 20 litros), engatados a torneiras como as de chopp, a plataforma tem visto sua frente de negócio mais recente, a Casa Tão Longe, Tão Perto, ganhar asas.

Inaugurado em meados de 2023, no bairro paulistano da Barra Funda, o espaço com 12 torneiras, poucas mesas e uma pequena seleção de comidinhas de fácil serviço (principalmente queijos e embutidos), foi pensado para ser uma espécie de showroom da marca. O objetivo era atrair para lá clientes potenciais de restaurantes e hotéis interessados na compra a granel dos vinhos brasileiros de pequenos produtores artesanais selecionados por Gabriela. Além de promover o sistema de torneiras (taps), que permite otimizar a venda em taça.

Para se ter uma ideia das vantagens, enquanto uma garrafa mantém as propriedades sensoriais de um vinho, no máximo, por três a quatro dias depois de aberta, um barril engatado em torneira consegue preservar a qualidade da bebida por até um mês. Além disso, o CMV (custo da mercadoria vendida) por taça pode cair em pelo menos 50%, segundo Kogan, devido ao menor custo da embalagem e transporte.

Assim, não demorou para a Casa chamar a atenção do público final pela oferta de brancos, rosés, tintos e laranjas a preços atrativos. Além de investidores, que viram no modelo inovador, simplificado e de baixo custo do bar uma oportunidade de negócio, puxando organicamente a expansão para outras praças.

Como resultado, em apenas um ano, mais duas unidades foram abertas: uma na cidade do Porto, em Portugal, e outra no Rio de Janeiro, cujo faturamento inicial está superando em 50% o da unidade paulista antes mesmo de fechar o mês.

Não por acaso, uma terceira unidade já está prevista para breve, em Lisboa. “Estamos procurando ponto”, diz Kogan.

Com tíquete médio de R$ 90, as Casas TLTP representam hoje 25% do faturamento da marca, mas a expectativa é que a fatia ultrapasse os 50% nos próximos anos com a ampliação do número de pontos.

“Ainda estamos analisando os dados e os vetores de crescimento com cuidado, mas há um grande potencial de expansão nos pontos de venda, que exigem menor investimento de capital do que a operação de distribuição de vinhos”, avalia o empresário, que não descarta a possibilidade de adotar o modelo de franquias a longo prazo.

Por enquanto, a expansão ocorre com parceiros locais, como, no Rio de Janeiro, com os empresários Nelson Soares e Juan Manoel Prada, do restaurante Sult, e Ricardo Rebello, do gastrobar Sebastian. O investimento em cada loja gira em torno de R$ 400 mil a R$ 500 mil.

A visibilidade trazida pelas Casas deve ainda ajudar a impulsionar as demais operações da plataforma, que atualmente conta com 20 clientes com torneiras instaladas em todo o Brasil. Entre eles estão os restaurantes Shuk, Futuro Refeitório, Cuia, Bráz Trattoria e Le Bulô, em São Paulo; Manga, em Salvador, e Casa Vivá, em Porto Alegre.

Segundo Kogan, a Tão Longe, Tão Perto se guia pela A conexão com o produtor, o diferencial do produto e a sustentabilidade (Foto: Divulgação/Tão Longe,, Tão Perto)

Além de barris, os vinhos são comercializados em growlers, garrafas reutilizáveis de 1 a 2 litros (Divulgação/Tão Longe, Tão Perto)

Hoje, a instalação de torneiras responde por 25% do faturamento da plataforma e a distribuição dos vinhos representa 50% (Divulgação/Tão Longe, Tão Perto)

O projeto Tão Longe, Tão Perto foi lançado em 2020, pela a sommelière Gabriela Monteleone (Reprodução Instagram @gabrielamonteleone)

Atualmente, a instalação de torneiras responde por 25% do faturamento da plataforma e a distribuição dos vinhos curados por Gabriela e envasados em diferentes recipientes representa 50%. “Essa é uma operação que deve crescer junto com as Casas”, acredita Kogan.

Uma nova frente de negócios ainda começa a ser desenhada, retomando a experiência do wine truck, para levar os vinhos da marca a eventos, em carrinhos móveis com torneiras.

Um efeito colateral da expansão, entretanto, já afetou a fidelidade ao produto brasileiro. Com a ida para a Europa, decidiu-se que a oferta de vinhos seguirá priorizando vinhos leves e de fácil entendimento feitos por pequenos produtores voltados à vinicultura de baixa intervenção, mas os rótulos serão selecionados localmente em prol da sustentabilidade. “Este sempre foi nosso principal drive”, enfatiza Kogan, que é um dos idealizadores do Programa Cidades Sustentáveis, da Rede Nossa São Paulo.

“Não estamos fechados a levar uma bebida de um país para o outro, mas terá de ser algo muito diferente, que faça sentido pelo diferencial”, diz Kogan, citando um fermentado de açaí feito no Acre que o surpreendeu recentemente.

Assim, uma nova curadoria começa a tomar corpo em Portugal, onde o número de vinhos naturais selecionados em regiões como Dão e Douro já supera o de torneiras instaladas na Casa TLTP do Porto.

“Já poderíamos colocar mais quatro torneiras, totalizando dez”, conta ele, que não descarta abraçar também a distribuição a granel de seus achados. “Não somos um movimento de exclusão de nada. Nem de garrafas, nem de importados. A conexão com o produtor, o diferencial do produto e a sustentabilidade é que vão nos guiar.”

Então, já que existe a brecha, há chance de vermos vinhos de pequenos produtores argentinos no portfólio da TLTP, voltando para o início do ciclo? “Se tivermos uma Casa em Buenos Aires ou Mendoza, sim. Mas aqui vamos priorizar o Brasil, até porque, pela legislação, não é possível importar vinhos a granel de lá para cá.”





Fonte: Neofeed

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A natureza lírica e avassaladora de Hayao Miyazaki

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A natureza lírica e avassaladora de Hayao Miyazaki
Tempo de Leitura:4 Minuto, 22 Segundo


VENEZA – Documentário exibido no 81º Festival de Veneza ajuda a explicar a genialidade do ícone da animação japonesa Hayao Miyazaki e de seu Studio Ghibli, que há quatro décadas dá profundidade e sofisticação ao gênero.

O foco de Miyazaki, l’Esprit de la Nature (Miyazaki, o Espírito da Natureza) é sobre a preocupação do cineasta de 83 anos com o meio ambiente, refletida em obras-primas como Nausicaä do Vale do Vento (1984), Meu Amigo Totoro (1988), Princesa Mononoke (1997) e A Viagem de Chihiro  (2001), entre outras.

Seja com florestas povoadas por criaturas mágicas ou com uma natureza furiosa por causa dos abusos sofridos, Miyazaki construiu uma filmografia questionando a relação do homem com todas as coisas vivas.

Ao longo de sua trajetória, o diretor, acostumado a encantar a plateia com paisagens silvestres de tirar o fôlego, nunca conseguiu ignorar a capacidade destrutiva da humanidade — embora algumas vezes ele prefira apostar na regeneração da natureza, por ser algo sagrado.

“Para apreciar profundamente a obra de Miyazaki, um dos artistas vivos mais reverenciados no mundo, é preciso analisá-lo em um contexto ambiental”, contou ao NeoFeed o diretor do filme, o francês Léo Favier.

Ele desembarcou no Lido de Veneza, estância balneária onde é realizado o festival italiano, às margens do Mar Adriático, para a première mundial do título que foi selecionado para a mostra Venice Classics, dedicada à memória do cinema.

A natureza é, muitas vezes, impactada nas histórias de Miyazaki por essas refletirem uma sociedade obcecada por conquistas, guerras e consumismo.

“Por mais que o cineasta tenha mudado e evoluído ao longo das décadas, seus filmes foram sempre carregados de guerra e destruição, o que também espelha o que ele enfrentou ainda na infância, moldando a sua visão de mundo”, afirmou Favier.

O documentarista se refere ao fato de Miyazaki ter sobrevivido a bombardeios, quando tinha entre três e quatro anos, ocasiões em que a sua família foi forçada a trocar de cidade. E o pai de Miyazaki ainda foi diretor de fábrica que confeccionava lemes para aviões de combate durante a Segunda Guerra.

Isso explica sua fascinação por aviação e, ao mesmo tempo, a culpa que o diretor já admitiu sentir por sua família ter feito dinheiro com a guerra.

“Nada é preto no branco nos seus filmes de Miyazaki, que sempre abraçou as contradições. Ele deixa que as situações sejam bagunçadas e complicadas, exatamente como é a vida, sem se limitar pensando em uma faixa etária específica para cada história”, comentou Favier.

O fato de suas obras serem concebidas para entreter todas as idades (e não apenas crianças) é o que garantiu mais profundidade, levantando questões filosóficas, sociais e políticas.

Um dos filmes mais ecológicos de Miyazaki foi Princesa Mononoke, onde mais de 144 mil desenhos feitos à mão dão vida a todo um ecossistema, com árvores, plantas, animais e espíritos dividindo uma paisagem estonteante, à beira da extinção. Mas o tom de alarme, pelo conflito aparentemente irremediável entre a natureza e a industrialização, não o impediu de acrescentar lirismo à trama, já que a floresta tem alma própria.

Os filmes do cineasta japonês refletem a grandiosidade da natureza, como Meu Amigo Totoro, de 1988 (Studio Ghibli)

Miyazaki construiu uma filmografia questionando a relação do homem com todas as coisas vivas (Foto: ©M6 MediaBank / Métropole Télévision)

Graças ao sucesso de “Nausicaä do Vale do Vento”, de 1984, Miyazaki conseguiu fundar o Studio Ghibli (Reprodução themoviedb.org)

“A Viagem de Chihiro”, de 2001, é considerada uma das obras-primas da animação (Reprodução themoviedb.org)

Segundo o biólogo Shin-Ichi Fukuoka, entrevistado no documentário, Princesa Mononoke se baseia em duas grandes questões: o que é a vida e o que é ser um humano. “No final, Miyazaki nos faz entender que nós somos parte da natureza, não muito diferente dos outros organismos em termos de mecanismo celular e DNA”, comentou o especialista.

Foi graças ao sucesso de Nausicaä do Vale do Vento, ambientado em futuro distópico onde a humanidade está ameaçado por um ar tóxico e insetos gigantes, que Miyazaki conseguiu fundar o Studio Ghibli.

A cena de abertura, com a princesa Nausicaä pousando em floresta estranha, porém majestosa, dá uma ideia da reconciliação almejada pelo cineasta. E muito antes de a questão ambiental se tornar um tema recorrente na produção audiovisual.

“O que Miyazaki sugere aqui é a interação entre natureza e seres humanos. Em vez de o homem insistir em dominar a natureza, ele deveria se engajar com ela, de modo respeitoso. O que sentimos é uma inteligência amorosa e uma consciência de que todos estamos conectados no universo”, comentou a escritora Susan Napier, autora do livro Miyazakiworld: a Life in Art, também em depoimento no filme.

O documentário examina outros filmes que refletem a grandiosidade da natureza, pelas lentes de Miyazaki, como Meu Amigo Totoro. Aqui o que ajuda duas irmãs a enfrentarem uma fase difícil, com a mãe hospitalizada, são as aventuras que vivenciam com os espíritos da floresta, conhecido como “totoros”.

É com esses seres fantásticos, em especial com o líder deles, que a dupla aprende a encarar a dura realidade, mas sem se esquecer da beleza, da poesia e da magia da vida, em tudo o que nos cerca.





Fonte: Neofeed

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Os planos “íntimos” da Hope: 10,5 milhões de peças e R$ 500 milhões de receita

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sandra chayo hope
Tempo de Leitura:3 Minuto, 42 Segundo


A fábrica do Grupo Hope em Maranguape, localizada na região metropolitana de Fortaleza, vai passar por um “banho de loja”. A marca de moda íntima, praia e fitness prevê um investimento robusto em novas tecnologias de fabricação, que devem dar suporte aos planos ambiciosos da companhia.

O grupo liderado por Sandra Chayo, filha do fundador Nissim Hara, projeta produzir 10,5 milhões de peças em 2024, uma expansão de 50% sobre o ano passado. Esse crescimento vai estar calcado em produtos básicos e acessíveis, uma revisão da estratégia da companhia que contou com a ajuda da consultoria Bain & Company.

“Chegamos à conclusão de que, se conseguíssemos atingir as classes B2 e C [renda estimada entre R$ 2 mil e R$ 6 mil], que ainda não consumiam os nossos produtos, poderíamos aumentar de forma significativa o nosso público endereçável”, afirma Chayo, diretora do Grupo Hope, ao NeoFeed.

A Hope marca está investindo R$ 20 milhões para voltar as suas origens – afinal a empresa, criada em 1966, começou com esse tipo de produto. Nesse orçamento está tanto as peças de marketing, como o desenvolvimento da linha Light, que traz produtos a preço de entrada, partindo de R$ 29,90 (cerca de R$ 10 abaixo das demais coleções).

A coleção, que chegou às mais de 3 mil lojas que atuam com a marca no primeiro semestre, já é a terceira mais expressiva em número de peças vendidas, atrás da Touch e Nude, que partem de R$ 39,90 e R$ 79,90 e estão entre as mais vendidas há anos.

“Quando entrei na empresa, em 1999, o movimento era justamente o contrário, de transformar uma marca popular, que só era vendida em lojas multimarcas, em algo mais sofisticado. E deu certo. Agora, entendemos que precisamos descer esse degrau novamente”, afirma Chayo.

Em 25 anos como diretora da empresa familiar, Chayo foi a responsável por todos os movimentos da operação: desde a expansão via franquias até a criação das outras duas marcas que estão no portfólio: a Bonjour Lingerie e a Hope Resort, de moda praia e fitness.

O próximo passo é dobrar o número de lojas em cinco anos. Hoje, a Hope detém 280 franquias e 9 lojas próprias. Em 2023, o grupo faturou R$ 350 milhões apenas na rede franqueada.

Segundo a Hope, a companhia teve um crescimento de 35% no faturamento no primeiro semestre e projeta acelerar nesta segunda metade do ano, podendo atingir a casa dos 40% no ano contra ano – o que faria a companhia se aproximar dos R$ 500 milhões em receita. Na visão de Chayo, essa receita só deve ser atingida em 2025.

Na visão do sócio da consultoria Varese Retail, Alberto Serrentino, a iniciativa do Grupo Hope é acertada. “O momento da companhia é muito bom. Ao mesmo tempo que eles conseguem conversar com o público premium nas lojas monomarcas, o grupo também tem desempenhado um bom trabalho ao atingir a camada mais baixa de consumidores”, afirma.

Para ele, a recuperação de mercado pode beneficiar ainda mais a companhia nessa nova fase. “A renda está crescendo, o desemprego caindo e o mercado de trabalho se aquecendo, o que ajuda o setor de consumo de semiduráveis, como é o caso da Hope”, diz Serrentino.

Falando em concorrentes, Serrentino acredita que há espaço para todo mundo. Ele afirma que existem diversos players no mercado com posicionamento, perfil de produto e canais distintos, como é o caso de marcas como Valisere, Intimissimi e Loungerie.

O homem na mira

Lançada há dois anos, as peças voltadas ao público masculino da Hope, ainda não decolaram. Isso não impediu o grupo de investir ainda mais no segmento, incluindo peças voltadas para os homens tanto na linha Light, com cuecas, como na Hope Resort, com vestuário fitness, que será lançado em outubro.

“A linha masculina na Hope está crescendo e a cueca da Light está vendendo como água. O consumo por parte dos homens é muito diferente do das mulheres. Eles compram em quantidade, normalmente uma dúzia de cuecas por vez, o que é ótimo para nós”, diz Chayo.

Pensando no público unissex, a marca também está entrando na disputa pelo mercado de meias, que hoje conta com concorrentes como Lupo e gigantes esportivas como Nike e Adidas. Ainda em fase de testes em algumas lojas, a coleção completa o portfólio do grupo e busca atingir todos os públicos que agora consomem os produtos Hope.





Fonte: Neofeed

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