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US$ 100 bi em 5 anos, entrada no México e o “momento sui generis” do Brasil: uma conversa com Alexandre Saigh, do Patria

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US$ 100 bi em 5 anos, entrada no México e o
Tempo de Leitura:8 Minuto, 49 Segundo


No IPO do Patria Investimentos, em 2021, Alexandre Saigh, fundador e CEO global da gestora, avisou que chegaria a US$ 50 bilhões em ativos sob gestão até 2025. Mas, segundo o próprio, essa meta será atingida neste ano.

Atualmente, o Patria conta com US$ 43 bilhões sob gestão e, nos últimos três anos, passou a comprar outras gestoras e a incorporar teses de investimentos. Se antes eram duas, hoje são seis. Vão de private equity, passando por venture capital, crédito, real estate e mais.

O foco está em cinco países: Brasil, Colômbia, Peru, Chile e, segundo 0 CEO global e fundador do Patria, o México, onde a gestora se prepara para fincar bandeira. Sim, trata-se do próximo alvo da empresa de Saigh.

Em uma rara entrevista, Saigh, que vive em Londres, revelou ao NeoFeed que vai entrar no país e pode comprar uma gestora por lá, principalmente na área de fundos imobiliários. Há também planos de avançar na Europa, onde incorporou a operação da inglesa Abrdn, e nos Estados Unidos.

A meta agora é outra. “Dobrar nos próximos cinco anos acho que é uma meta razoável”, diz Saigh, que pediu para que sua foto não fosse publicada. Vendedor do Brasil para os investidores internacionais, ele foi agraciado com o prêmio “Personality of the Year 2024”, da Brazilian Chamber no Reino Unido.

Na conversa a seguir, Saigh fala do memorando de entendimentos assinado com a Arábia Saudita para trazer investimentos ao Brasil, a expansão do Patria e a estratégia que vai adotar, do “momento sui generis do Brasil nos últimos 30 anos” e mais. Acompanhe:

Qual é o momento do Patria?
Da abertura de capital para cá, saímos de US$ 14 bilhões sob gestão para US$ 43 bilhões hoje. Acabamos crescendo três vezes os ativos sob gestão. O IPO foi feito para a gente conseguir expandir nosso menu de produtos e nossa expansão geográfica dentro da América Latina. O nosso foco, naquele momento, era ativos alternativos dentro da América Latina. Na época, levantamos US$ 300 milhões e fomos atrás de comprar outras gestoras que agregassem mais produtos e uma expansão geográfica mais ampla dentro da América Latina. Conclusão disso, três anos depois, nós éramos uma empresa muito focada nas áreas de private equity e infraestrutura, que continuam sendo muito importantes, mas hoje temos áreas de crédito, imobiliária, ações listadas e de private equity solutions, que é fundo de fundos de private equity. Passamos de duas áreas para seis áreas.

E a geografia, o que mudou?
Éramos uma empresa focada muito na América do Sul, principalmente Brasil. Hoje temos uma expansão relevante no Chile, Peru e Colômbia e com a intenção de ir para o México. A gente ainda não está no México, mas a intenção nessa jornada de mais produtos e mais expansão geográfica dentro da América Latina. Para o nosso negócio, é México, Colômbia, Peru, Chile e Brasil. Não é nenhuma mágica, porque são os cinco países que compõem o MSCI, do Morgan Stanley. E a gente percebeu duas outras grandes tendências.

Quais?
Os clientes globais, de fora da América Latina, que representam 75% da nossa base sob gestão, investindo em ativos alternativos. Esse cliente precisa de um parceiro na região que ele desconhece. Ele precisa de um parceiro de confiança. Ele conhece a classe de ativos, mas não a região. Um exemplo disso é que assinamos um memorando de entendimento com a Arábia Saudita, na segunda-feira (3 de junho), para sermos um dos parceiros de confiança para eles investirem na América Latina. Nesses últimos anos, as economias locais dentro da América Latina começaram a se estabilizar, com queda da inflação e dos juros. Aí, os investidores institucionais locais latinos se viram precisando rentabilizar o portfólio. Porque, principalmente os fundos de pensão, que são os nossos grandes clientes, precisavam buscar ativos que rendem mais. Mas os produtos que eles procuravam eram um pouco diferente daquilo que nós estávamos vendendo.

“Os clientes globais, de fora da América Latina, que representam 75% da nossa base sob gestão, investindo em ativos alternativos”

Por quê?
Porque o nosso produto era o panregional, Latam, denominado em dólar. Isso é aquilo que fundos de pensão colombiano ou brasileiro dizem: ‘panregional, denominado em dólar? Não tem algo em pesos colombianos na Colômbia, para dar um primeiro passo?’ O desafio desses clientes não é a região, pois são da região, é a classe de ativos que eles desconhecem. ‘Olha, você vai investir num FIP que investe do México até a Argentina, denominado em dólar’. Um fundo de pensão brasileiro olha e diz: ‘Parece legal, mas é muito complexo’. Com isso, desenvolvemos uma gama de produtos estruturados para os investidores locais, os institucionais chilenos, os colombianos, os brasileiros e assim por diante. Temos mais de 30 produtos nesses diferentes países.

E qual foi a segunda tendência que vocês perceberam?
Identificamos uma vontade desses institucionais locais em investir em produtos estruturados ou alternativos fora da América Latina, principalmente os chilenos. Eles passaram a pedir e a gente vendia para eles produtos de terceiros, da KKR, da Blackstone, da Carlyle. Olhamos isso e pensamos: ‘por que a gente mesmo não faz e verticaliza?’ Foi aí que compramos o business da Abrdn, no Reino Unido, e agora temos produto nosso para vender para os latinos. O que veio junto com a Abrdn é que agora temos clientes ingleses e europeus que investem com a gente em fundos de private equity global.

O Patria mudou de patamar?
Mudou. Isso está totalmente vinculado com a minha vinda para cá, para Londres, há três anos, com a missão de internacionalizar o Pátria.

“O que veio junto com a Abrdn é que agora temos clientes ingleses e europeus que investem com a gente em fundos de private equity global”

Você disse que o Patria tem seis teses. Há outras para entrar?
Como uma nova tese, não. Mas, dentro dessas teses, tem vários outros produtos que ainda não temos. Por exemplo, dentro da vertical private equity tem o que compra empresas já consolidadas. Aí compramos uma empresa de venture capital, que é a Igah. E tem outras várias estratégias dentro de private equity. Dentro de infraestrutura, temos um fundo que faz infraestrutura, a gente constrói. Agora, temos uma que é mais madura. Tem um monte de coisas que podemos fazer em infraestrutura.

Então tem muito para crescer…
Tem muito. Só para você ter uma ideia, hoje temos 30 produtos e o plano é ter 60 dentro de três anos. É dobrar de tamanho.

E comprar outras gestoras, está nos planos?
Sim, continuamos mapeando para preencher esse menu de produtos. Estamos atrás de gestoras no Brasil e na América Latina. Por exemplo, acabamos de comprar os fundos imobiliários que eram do Credit Suisse no Brasil. No México, não temos nenhum. Poderíamos fazer do zero ou comprar uma gestora lá.

Com a visão de negócios e geográfica que você tem atualmente, quais são as maiores dificuldades de se fazer negócio na América Latina e Europa?
Acho que são características diferentes. Na Europa e nos Estados Unidos, os investidores conhecem a classe de ativos alternativos. Aqui, o desafio é convencê-los a investir na América Latina. Já na América Latina, o desafio é convencer a investir em ativos alternativos, com exceção dos fundos de pensão chilenos que são bem sofisticados.

Então você tem de convencer os investidores de fora a acreditarem na América Latina e os investidores latinos a investirem em altivos alternativos?
É exatamente isso. São duas missões difíceis.

No IPO, vocês definiram a meta de chegar a US$ 50 bilhões de ativos sob gestão até 2025. Vai chegar quando?
Acho que chegaremos neste ano.

E o que será o Patria em 5 anos?
Acho que a gente tem de continuar crescendo nesse ritmo. Crescer três vezes em quatro anos, não acho possível. Mas dobrar nos próximos cinco anos acho que é uma meta razoável. Em segundo lugar, estaremos bem-posicionados nos cinco países da América Latina que citei. Mais uma vez, desculpe ser redundante, mas é México, Colômbia, Peru, Chile e Brasil. Com um menu de produtos bem completinho, ainda temos buracos de produtos no nosso portfólio. Então, preencher a oferta nesses cinco países da América Latina. E com uma boa avenida de expansão para fora da América Latina, começando com Europa e Estados Unidos.

“Algumas questões que aconteceram, principalmente geopolíticas, favorecem muito a nossa região”

O que o memorando de entendimentos assinado com a Arábia Saudita representa para o Patria?
Buscamos estreitar o relacionamento não só com os sauditas, mas com outros emirados e países do Oriente Médio. Há muitos anos, eu, pessoalmente, lidero aqui essa área comercial de desenvolver esse tipo de relacionamento. O Fundo Soberano do Kwait investiu com a gente pela primeira vez em 1997. Há mais de 30 anos, a gente vem desenvolvendo relação e trazendo investimento internacional para o Brasil, no Oriente Médio, Europa, Estados Unidos. No ano passado, para te dar uma ideia, viajei 37 semanas das 54 semanas do ano. Tudo para visitar clientes e muitos que se tornaram amigos. Minha esposa reclama que toda cidade que vamos eu invento um jantar com algum amigo (risos). E, sobre os sauditas, temos vários investimentos em conjunto.

Esse memorando vai trazer mais captação para o Brasil?
Sim. Estou nessa estrada, vendendo o Brasil, há 30 anos. E estamos numa situação sui generis positiva de venda de Brasil. Algumas questões que aconteceram, principalmente geopolíticas, favorecem muito a nossa região. Primeiro, não temos conflitos religiosos sérios, não temos conflitos de fronteiras. Então, não tem nenhum tipo de conflito que pode gerar uma guerra. Nós temos problema, mas outro tipo de problema. Há duas horas daqui (Londres) tem guerra. No Oriente Médio, tem guerra. Tem a tensão na China e Taiwan. Então os investidores ficam muito assustados. Porque, uma coisa é você ter uma insegurança jurídica e outra coisa é uma guerra que você perde tudo de uma hora para outra.

Qual outro motivo favorece o Brasil?
A gente tem a energia limpa. Você sabe que a energia produzida no Brasil, mais de 80% vêm de fontes renováveis. Além disso, temos commodities, tanto os minérios como agrícolas verdes. Temos as florestas, que crescem seis vezes mais rápido do que na América do Norte. Se a gente conseguir passar mais segurança jurídica para o investidor… Sou crítico ao Brasil, mas sempre alguma força da sociedade se manifesta institucionalmente e o país volta aos trilhos. Ou o Congresso, ou a sociedade civil, ou o Supremo, ou o Executivo.

E se tivéssemos mais segurança jurídica?
Aí, meu Deus! Com todo o potencial que mencionei…





Fonte: Neofeed

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A estratégia sem lógica de Trump e o desmonte da ordem mundial, na visão de ex-embaixador nos EUA e na China

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roberto abdenur embaixador
Tempo de Leitura:11 Minuto, 29 Segundo


A introdução de tarifas de importação anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra os principais parceiros comerciais do país – México, Canadá e China – não tem lógica alguma e só vai prejudicar o comércio internacional e os próprios americanos.

É o que diz, sem meias palavras, o diplomata Roberto Abdenur. Aos 82 anos, com um longo currículo no Itamaraty – onde serviu de 1963 a 2007, atuando como embaixador do Brasil não só nos Estados Unidos, como na China, Alemanha, Áustria e Equador, entre outros postos -, Abdenur atualmente é conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), um think-tank independente.

“Vamos ter tempos difíceis pela frente”, adverte o veterano diplomata, nesta entrevista ao NeoFeed onde mostra que segue afiado em sua análise da conjuntura global. “Nunca vi, em mais de seis décadas acompanhando a diplomacia e o comércio internacional, um mundo tão caótico, instável, turbulento e perigoso como o de hoje.”

Na segunda-feira, 3 de fevereiro, após Trump anunciar no final de semana tarifas de 25% para importação de produtos do México e do Canadá, além de 10% da China, os mercados globais reagiram mal.

A presidente do México, Claudia Sheinbaum, porém, revelou um acordo com Trump sobre segurança na fronteira, o que levou os EUA a suspenderem as tarifas por 30 dias. O Canadá, por sua vez, decidiu retaliar, impondo tarifas de 25% às exportações americanas.

Economistas do Goldman Sachs estimam que as tarifas sobre o Canadá e o México, se mantidas, aumentariam a inflação dos EUA em até 0,7% e reduziriam o PIB do país em 0,4%.

Para Abdenur, as medidas de Trump fazem parte do desmonte da ordem mundial criada pelos próprios Estados Unidos e em vigor desde o fim da Segunda Guerra.

“Os EUA estão deixando de agregar e abrir mercados para ampliar o uso do imenso poder político, diplomático, tecnológico, econômico e sobretudo comercial de maneira unilateral”, diz, referindo-se à política do porrete tarifário e protecionista de Trump, além de ameaças, como invadir o Panamá e anexar a Groelândia.

Esse processo teve início após a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), “que os EUA apoiaram ingenuamente, achando que levaria o país à democratização”, segundo Abdenur, e prosseguiram com a transferência das plantas da indústria americana para a Ásia e o esvaziamento da OMC pelos EUA, acentuado desde o governo Obama.

Para o diplomata, nenhum país ou bloco obterá vantagem com essa nova ordem do comércio global. Mas o bloqueio das exportações americanas em retaliação às tarifas pode abrir mercado para o agronegócio brasileiro na Europa, Ásia e Oriente Médio.

Abdenur, porém, acredita que a política de tarifas de Trump dificilmente sobreviverá no longo prazo, mas tampouco vai desaparecer no curto prazo. “Nos dois primeiros anos de governo, os efeitos deletérios de tudo o que Trump está fazendo para o povo americano devem reforçar a voz dos democratas”, diz.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista de Roberto Abdenur:

O presidente Donald Trump anunciou tarifas contra importações de México, Canadá e China e prometeu fazer o mesmo com a União Europeia. Juntos, esses atores representam 60% das importações dos EUA. Qual é a lógica?
Não há lógica alguma. Trump ganhou eleição focando em dois temas: custo de vida elevado e a imigração ilegal. A imposição de tarifas deve aumentar a inflação nos EUA e a deportação em massa tende a gerar inúmeros prejuízos pela falta de mão de obra que vai causar na colheita das safras, no trabalho em restaurantes e até na faxina das casas. Ou seja, é o triunfo da insensatez. Vamos ter tempos difíceis pela frente. Nunca vi, em mais de seis décadas acompanhando a diplomacia e o comércio internacional, um mundo tão caótico, instável, turbulento e perigoso como o de hoje.

“Nunca vi, em seis décadas, um mundo tão caótico, instável, turbulento e perigoso como o de hoje”

Quais os prejuízos para os EUA com a adoção dessa estratégia?
Essa estratégia vai prejudicar o país em múltiplas áreas porque os países afetados vão retaliar a sobretaxação de tarifas. Entre 60% e 70% das ações anunciadas ou previstas por Trump são contrárias aos interesses dos EUA. Além das tarifas, ele retirou o país do Acordo de Paris e da Organização Mundial de Saúde (OMS), o que vai inviabilizar muitas pesquisas sobre vacinas e combate a pandemias futuras.

Qual o objetivo de Trump?
Por trás dessa cartada está o desmonte da ordem mundial criada pelos próprios Estados Unidos e em vigor desde o fim da Segunda Guerra. Os EUA estão deixando de agregar e abrir mercados para ampliar o campo para o uso do imenso poder político, diplomático, tecnológico, econômico e sobretudo comercial de maneira unilateral. Daí a proposta de Trump de invadir o Panamá, anexar a Groelândia e, em tom de piada, incorporar o Canadá como 51º estado dos EUA. Isso ficou claro quando Trump e o secretário de Estado, Marco Rubio, disseram, para meu espanto e perplexidade, que a ordem internacional vigente não é boa para os EUA.

Nas justificativas de Trump para imposição de tarifas pesam mais argumentos políticos – como controle de imigração – do que comerciais. Isso reforça que as sobretaxas seriam apenas uma arma para negociar outros temas, com tendência de serem revogadas rapidamente?
Este cenário é plausível, mas não muito provável. Pode até acontecer no curto ou no médio prazo. Trump está emitindo sinais apaziguadores em relação à China, percebendo que uma ampla guerra comercial e uma confrontação estratégica na área de segurança não são boas para os EUA. Como executor de uma diplomacia transacional, é muito possível que isso aconteça. Mas enquanto não acontecer, haverá prejuízos para o mundo inteiro. Será não apenas a dissolução da globalização, mas situação de turbulência de todo o comércio e economia internacionais.

“Trump está emitindo sinais apaziguadores em relação à China. Mas enquanto não acontecer, haverá prejuízos para o mundo inteiro”

Uma mudança radical nas cadeias de suprimentos globais causaria impacto muito grande e levariam anos para se consolidar. Quais países ou blocos seriam mais beneficiados?
Numa primeira avaliação, nenhum país ou bloco terá condições de obter vantagens diante do fechamento do mercado americano. O que resta no mundo é relativamente pouco. A União Europeia, por exemplo, terá condições de negociar com o Mercosul ou, eventualmente com México e Canadá, África Oriente Médio e alguns países da Ásia. Mas é um campo relativamente limitado para obtenção de vantagens. Ou seja, haverá alguns ganhos relativos, mas não tão substantivos a ponto de corresponder à totalidade dos prejuízos sofridos com o fechamento do mercado americano.

O sr. acredita que a estratégia de Trump seria forçar mais acordos comerciais bilaterais com outros países, onde os EUA poderiam levar mais vantagem?
Acho difícil. Mesmo que chegue a um entendimento com a China para reduzir o escopo de guerra comercial, Trump deve adotar uma política protecionista em paralelo à política externa isolacionista. Não vejo Trump assinando acordos, o que ele pode fazer pontualmente é, se obtiver certas vantagens, isentar esse país das tarifas punitivas com as quais vem acenando.

Os EUA se consolidaram como superpotência econômica, com participação no PIB global de mais de 25%. Mas sua presença no comércio mundial vem caindo e hoje é bem menor, de 15%. O que causou essa queda?
Trata-se de um processo que teve início em 2001, com os atentados da Al-Qaeda e, principalmente, com a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), com apoio americano. Os EUA tinham uma visão ingênua, achando que a China ia evoluir para uma nação mais democrática. Nunca acreditei nisso, era embaixador na China na época do massacre da Praça da Paz Celestial (1989) e era claríssimo que isso nunca iria acontecer. Na verdade, houve piora, porque Xi Jinping está instalando uma ditadura mais dura do que a de Deng Xiaoping, que abriu a economia do país em 1978, e de seus sucessores.

A presença da China no comércio global aumentou na mesma proporção do recuo americano?
Grande parte do recuo americano se deve ao efeito do fenômeno da globalização, com grandes empresas dos EUA transferindo suas plantas para China, México ou Canadá, privando a capacidade exportadora do país de muitos elementos de força. Por outro lado, houve crises econômicas nos EUA que contribuíram para isso, como a de 2008 e, anos depois, a pandemia. O poder global da China, porém, cresceu muito desde a entrada na OMC, atuando no mundo inteiro e na ONU com uma diplomacia muito ativa.

Como é essa diplomacia?
A China já é o principal parceiro comercial de mais de cem países. Veja a diferença com os EUA: Xi Jinping esteve no Brasil recentemente e assinou 37 acordos comerciais. Quantos acordos os EUA assinaram com o Brasil nas últimas décadas? Só me lembro de um, para viabilizar o uso da base de Alcantara para lançamento de satélites e foguetes americanos, o que acho que não vai acontecer.

“Xi Jinping esteve no Brasil recentemente e assinou 37 acordos comerciais. Quantos acordos os EUA assinaram com o Brasil nas últimas décadas?”

Muito se fala em desglobalização, mas desde 2017 o comércio internacional se manteve estável, respondendo por 60% do PIB global. Que tipo de mudança essa política de Trump pode desencadear no comércio global?
Os EUA destruíram a OMC há muito tempo, antes mesmo do Trump – desde Obama, inviabilizaram a OMC no que tinha de mais importante, que é o mecanismo de solução de controvérsias. Os EUA bloquearam a indicação de técnicos para esse mecanismo. A OMC está paralisada há muitos anos. Não vai desaparecer, mas perdeu relevância. Isso é caótico, pois não tem mais a cláusula de nação mais favorecida aplicada de forma transversal – ao contrário, o que temos agora são tarifas aplicadas de forma ampla, com algumas diferenças conforme o resultado das pressões e negociações impostas por Trump.

Como o Brasil pode ser beneficiado dessa pressão das tarifas dos EUA contra os vizinhos, China e União Europeia? Deve ampliar o comércio com esses países, que devem barrar as exportações americanas?
O agronegócio brasileiro claramente se beneficiará, pois exporta múltiplos produtos que competem com os EUA, como soja, carne e laranja. Dadas as eventuais retaliações de outros países contra os EUA, isso ampliará muito o mercado para o Brasil na Europa, Oriente Médio e Ásia em geral.

A balança comercial do Brasil com os EUA está bem equilibrada. Mesmo assim, é possível imaginar uma ofensiva de sobretaxas de Trump contra o Brasil?
Em relação ao Brasil, minha preocupação com o Trump é mais de ordem ideológica. Ele é o campeão da extrema direita mundo afora. O Marco Rubio, secretário de Estado, filho de imigrantes cubanos, é um crítico a regimes de esquerda e inclui o Brasil não como alvo principal, mas como um país com um governo de esquerda indesejável, por mais moderada que seja. O Brics, porém, é um ponto de preocupação para o Brasil.

Por quê?
Estamos numa situação delicada, pois o Brasil terá a presidência dos Brics e o principal item da pauta da reunião de julho é a busca de alternativas ao dólar para as transações comerciais dos países do bloco. O presidente Lula terá de manejar com muito cuidado porque o Trump, em duas ocasiões, ameaçou os Brics se seguirem adiante com a proposta, prometendo impor 100% de tarifas de exportações do bloco.

Mas o Brics não tende a recuar em relação a essa pauta do dólar, uma vez que não é um tema essencial?
A China não vai abrir mão, até por questão de honra, e vai continuar pressionado pela alternativa ao dólar. Vi com muito bons olhos a formação inicial do bloco, com quatro países-membros (China Brasil, Índia e Rússia) mais a África do Sul. Mas fiquei preocupado com as sucessivas expansões do Brics por pressão da China – principalmente com a entrada do Irã, que Lula não conseguiu impedir. O Brics passou a ter uma postura anti-EUA, claramente, e o Lula tem ou tinha a ilusão de que o Brics possa melhorar a governança global. Não é possível desde que a Rússia invadiu a Ucrânia. Lula ficará entre dois fogos, uma situação descontável

Quais os riscos para nossas exportações caso os EUA incluam o Brasil na lista de sobretaxação?
Há uma diferença qualitativa entre nossas exportações para a China e para os EUA. Na nossa pauta de exportações para a China, os produtos manufaturados correspondem a apenas 20%. Para os EUA, sobem para 70% ou 80% – muito é resultado de comércio intrafirmas, multinacionais daqui exportando para a matriz. Em qualidade, nosso comércio com os EUA só perde para com o do Mercosul, que por sinal tende a desaparecer como união aduaneira, voltando a ser apenas uma associação de livre-comércio, por pressão do presidente da Argentina, Javier Milei. Há ainda preocupação com a Embraer.

Que risco a Embraer corre?
Um aumento brutal de tarifa sobre os aviões da Embraer vai afetar duramente a empresa, que terá de buscar novos mercados na Europa e Oriente Médio. Mas custa a crer que Trump imponha tarifas à Embraer, porque os aviões da empresa contêm de 30% a 40% de seus componentes provenientes dos EUA. Vendemos o produto acabado, mas usamos os insumos americanos em grande escala. De qualquer forma, é um caso especial.

Com tantos prejuízos, incluindo para os EUA, essa política de tarifas elevadas de Trump tem eficácia no longo prazo? Até quando ele consegue manter essa estratégia?
Dificilmente sobreviverá no longo prazo, mas tampouco vai desaparecer no curto prazo. Nos dois primeiros anos do governo Trump, os efeitos deletérios de tudo o que está fazendo para o povo americano deve reforçar a voz dos democratas. E provavelmente, como costuma acontecer, historicamente, nas eleições de meio de mandato presidencial, daqui a dois anos, os republicanos podem ter derrotas impressionantes.





Fonte: Neofeed

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A situação fiscal e os paralelos com o fogo de Fahrenheit 451, segundo a Kinea

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A situação fiscal e os paralelos com o fogo de Fahrenheit 451, segundo a Kinea
Tempo de Leitura:4 Minuto, 52 Segundo


A delicada situação fiscal dos países fez com que a equipe de gestão de multimercados da Kinea Investimentos adotasse um tom sombrio, com toques distópicos, na primeira carta do gestor de 2025. O relatório publicado pelo braço de investimentos alternativos do Itaú traça um paralelo com o clássico da literatura Fahrenheit 451, de Ray Bradbury.

Em linhas gerais, o livro, publicado em 1953, conta a história de uma sociedade distópica que vive uma destruição progressiva de sua base de conhecimento e cultura através da queima de livros. E os bombeiros, em vez de evitar que os livros peguem fogo, são responsáveis pela sua identificação e eliminação.

Na carta, os analistas da Kinea traçam um paralelo entre a história ficcional e o que se vê no mundo. Para eles, enquanto a sociedade em Fahrenheit 451 destrói as bases de sua cultura, os governos da vida real foram “queimando” as bases da responsabilidade fiscal na última década.

Se a destruição de livros leva à gradual degradação da sociedade imaginada por Bradbury, o desequilíbrio fiscal e a perda de poder do lado monetário, aos poucos, “degradou a confiança dos mercados na dívida pública”.

“O resultado até o momento tem sido o aumento das taxas longas de juros, um reflexo do custo de reequilibrar um sistema que foi negligenciado por muito tempo”, diz trecho da carta da Kinea. “No final, as taxas longas são como o preço para reconstruir aquilo que foi queimado.”

A degradação fiscal é uma questão que atinge países ricos e emergentes, segundo a Kinea. Nos Estados Unidos, eles destacam que o problema fiscal não para de crescer e está sem solução no horizonte.

Para eles, o caso americano pode ser dividido em duas partes. Até meados da década passada, a política fiscal era feita conforme ditam os livros de economia – em períodos de expansão da atividade, o déficit se reduz, enquanto volta a crescer quando há desaceleração (a postura anticíclica).

Os últimos dois governos, porém, romperam com esse padrão. Num momento de forte crescimento econômico, Donald Trump realizou profundos cortes de impostos no primeiro mandato e Joe Biden aumentou os gastos. A postura pró-cíclica gerou deterioração da posição fiscal, culminando em um déficit nominal na casa de 7%, “número não muito diferente do apresentado pela economia brasileira”, diz trecho do relatório.

Os analistas da Kinea dizem que a reversão dessa trajetória não será simples. Pelo lado dos juros, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) tem acenado para uma pausa dos cortes, em razão da atividade aquecida e da inflação ainda acima da meta. Do ponto de vista fiscal, será preciso cortar gastos, uma vez que Trump prometeu reduzir a carga tributária.

“Entretanto, cortar gastos em qualquer economia é algo sensível, que mexe com interesses eleitorais e sensibiliza os membros do congresso. E, do ponto de vista estrutural, o envelhecimento da população tende a acentuar o forte crescimento das despesas com saúde e seguridade social. Os quais, juntamente com os gastos de defesa, farão com que a reversão dessa trajetória seja de difícil execução”, diz o relatório.

Europa mal, Brasil em crise

A situação também não é nada simples na Europa. Segundo a Kinea, a França não conseguiu melhorar sua situação fiscal após a expansão do déficit que foi feita no mundo inteiro durante a pandemia, e a desaceleração do crescimento contribuiu para reduzir as receitas do governo.

Com o retorno dos juros europeus para território positivo, após o choque inflacionário de 2022, a trajetória crescente de déficit nominal se acentuou. E, para piorar, a indefinição política prejudica a adoção de medidas de ajuste fiscal.

No Reino Unido, o Brexit continua pesando sobre a economia britânica. A Kinea destaca o menor crescimento da economia desde a saída da União Europeia e a fragilização das contas externas do país, a partir da saída de capital no balanço de pagamentos.

“Aliado às maiores taxas de juros, também em função da alta da inflação pós-pandemia, a situação aumentou o questionamento sobre a sustentabilidade fiscal do país”, diz trecho do relatório.

Em relação ao Brasil, a Kinea diz que o País flerta com mais uma crise fiscal. Embora o governo tenha cumprido sua meta de déficit primário em 2024, os analistas dizem que ainda “estamos longe de um primário que estabilize a dívida”.

“Os problemas fiscais seguem presentes, e o ano traz desafios adicionais; como a promessa de envio da reforma do IRPF (imposto de renda pessoa física), cuja compensação da isenção para os que ganham até R$ 5 mil terá dificuldade de tramitar no congresso”, diz trecho do relatório.

Os analistas da Kinea destacam ainda que a meta de 0,25% de superávit primário para 2026 dificilmente será alcançada, o que deve forçar o governo a mudar a meta (e correr o risco de termos uma repetição do que foi abril de 2024, com piora do risco fiscal), ou manter a meta em um orçamento cuja factibilidade pode ser questionada. Para 2025, o governo pretende zerar o déficit.

Diante deste cenário, a Kinea recomenda estar comprado nas taxas longas de juros dos Estados Unidos. A expectativa de normalização do prêmio na parte longa da curva, juntamente com a atual pujança da economia, os faz manter uma posição comprada no dólar.

A carta não fala sobre recomendações para França, mas no caso do Reino Unido a casa está com posições vendidas nos juros curtos do Reino Unido, acreditando que “a fraqueza da economia se sobrepõe à inércia da inflação no curto prazo, na função de reação do Banco Central”.

“Além disso, vemos o risco fiscal como um fator adicional de pressão negativa na moeda, justificando nossas posições vendidas na libra esterlina”, diz trecho do relatório.

Para o Brasil, a Kinea tem preferido posições vendidas em Bolsa, que tendem a refletir a alta dos juros e da desaceleração da atividade.



Fonte: Neofeed

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Na guerra comercial de Trump, setor de alumínio brasileiro vive sob ameaça de mais tarifas

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Na guerra comercial de Trump, setor de alumínio brasileiro vive sob ameaça de mais tarifas
Tempo de Leitura:7 Minuto, 3 Segundo


Donald Trump decidiu disparar uma guerra comercial global e o Brasil está preocupado com isso. Poucas horas após tomar posse, o presidente dos Estados Unidos chegou a dizer que “o Brasil quer mal aos Estados Unidos”, em alusão às tarifas de importação aplicadas pelo País. O sinal amarelo para anúncios de taxações ao setor produtivo brasileiro ficou ainda mais forte.

A tensão comercial ficou ainda maior após o anúncio do presidente americano, no sábado, 1º de fevereiro, de taxar em 25% os produtos importados do México e Canadá, e de 10% sobre os chineses.

Nesta segunda-feira, dia 3 de fevereiro, porém, a presidente do México, Claudia Sheinbaum, anunciou um acordo com Trump para suspender em 30 dias o início da imposição da tarifa. Pela proposta, México vai reforçar sua fronteira para impedir o tráfico de drogas nos Estados Unidos, enquanto os americanos se comprometem a impedir o tráfico de armas em território mexicano.

Mas isso não amenizou a crescente preocupação em um cada vez mais provável aumento nas tarifas cobradas em produtos de outros países, incluindo o Brasil. Na indústria do alumínio, que tem 5,6% de participação no Produto Interno Bruto (PIB) industrial, a preocupação é pelo escalonamento de uma cobrança que já existe há sete anos.

Desde o governo o primeiro governo de Trump, o alumínio importado já vem sendo sobretaxado em 10%, por meio de um instrumento chamado Seção 232, sem qualquer reação formal do governo brasileiro. A norma entrou em vigor em março de 2018. E democrata Joe Biden seguiu com a cobrança.

Fato é que, se houver um aumento na taxação dos produtos ligados ao alumínio brasileiro, o setor irá perder fatia significativa de mercado. A afirmação é de Janaina Donas, presidente-executiva da Associação Brasileira do Alumínio (Abal).

“Com mais uma sobretaxa, vai haver perda de mercado do alumínio brasileiro nos Estados Unidos. O recado de Trump foi ‘venham produzir aqui’. Isso é um desvio de comércio”, disse Donas. “É fato de que o Brasil não se movimentou. O que poderia ser feito seria adotar algum tipo de retaliação e praticar a mesma sobretaxa nos produtos que chegam de outros países.”

Segundo a entidade, das 541,9 mil toneladas de alumínio e seus produtos exportadas em 2024, 72,4 mil toneladas foram destinadas aos Estados Unidos, o que corresponde a 25%. Se for levado em conta somente os semimanufaturados e manufaturados, esse número é maior: representa 32% das exportações brasileiras (58,6 mil toneladas, do total de 182,2 mil toneladas).

Em valores, o resultado também é expressivo. No ano passado, a indústria brasileira do alumínio exportou US$ 796 milhões para os Estados Unidos, o equivalente a 14% do total, alta de 16% sobre o ano anterior.

Janaina Donas, presidente-executiva da Abal
Janaina Donas, presidente da Abal

Para a executiva da Abal, está claro que o alvo principal dos Estados Unidos nessa guerra comercial é a China, mas, para isso, o governo Trump tem atingido outros mercados. “Como não é possível criar um mecanismo para atingir só um país, eles adotaram a medida e depois discutiram algumas exceções.”

Mas o problema não está somente nos riscos externos, que podem afetar nossa balança comercial. Há também uma ameaça interna, na avaliação da executiva da indústria do alumínio, que é a falta de uma ação efetiva da União em evitar que as importações, principalmente da China, resultem em produtos mais baratos do que os fabricados por aqui.

A carga tributária incidente dos produtos nacionais da metalurgia do alumínio chega a 35,2%. Já sobre os mesmos produtos, só que importados, a carga é de 22,4%. “Essa é uma grande preocupação do setor”, afirma. “Se os Estados Unidos estão protegendo o mercado deles, precisamos proteger o nosso.”

Acompanhe, a seguir, os principais trechos da entrevista da presidente-executiva da Abal, Janaina Donas, concedida ao NeoFeed.

Donald Trump tem feito ameaças constantes de sobretaxar ainda mais os produtos brasileiros. Qual o risco real disso para o setor do alumínio no Brasil?
Perda de mercado. Hoje, os Estados Unidos são um mercado consumidor interessante e já há uma sobretaxa de 10% sobre o alumínio brasileiro. Ela foi imposta no primeiro mandato de Trump. Ele quer sobretaxar vários produtos, mas ainda não falou especificamente do alumínio. Estamos atentos. Se isso acontecer, pode fazer com que o Brasil perca mercado nos Estados Unidos. Mas a gente sabe que o alvo deles era a China. Como não é possível criar um mecanismo para atingir só um país, eles adotaram a medida e depois discutiram algumas exceções.

O Brasil não poderia questionar essa sobretaxa nos órgãos internacionais?
O mecanismo legítimo junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) para questionar práticas ilegais é o antidumping, aplicado contra empresas, e reclamações contra subsídios, que é aplicado ao país. O multilateralismo está em crise. Começaram a surgir outras barreiras, como a criada pelos Estados Unidos sobre o aço e o alumínio, a Seção 232, alegando questão de soberania. O governo americano entende que os dois produtos são estratégicos para o país, já que são usados no setor de defesa. E houve uma mudança de governo, mas em nenhum momento Joe Biden pensou em revisar. É uma política de Estado nos Estados Unidos.

E não deveríamos adotar essa mesma política para proteger nosso alumínio?
Isso traz uma reflexão sobre como a gente está enxergando a nossa indústria. O governo brasileiro deveria olhar de forma mais estratégia alguns segmentos. Aço e alumínio poderiam ser considerados estratégicos, justamente por essa questão de soberania. Estamos olhando com atenção e preocupação esse movimento dos Estados Unidos, que vai criar essas retaliações. Se vir uma taxa além do que já é cobrada, vai ser muito preocupante, porque pode tirar nosso acesso a mercados.

Essa é hoje a principal preocupação do setor de alumínio no Brasil?
Temos duas preocupações. Uma delas é garantir a demanda nacional, e a gente tem capacidade para isso. Outra é ter acesso aos mercados globais. Do alumínio primário, que já é manufaturado, 32% do que é exportado têm como destino os Estados Unidos. E é isso que pode ser afetado.

Mas, na prática, o governo brasileiro não adotou nenhuma medida para evitar esse desequilíbrio no início da taxação e nem agora.
O setor deu elementos para que o governo questionasse os Estados Unidos tecnicamente. A questão é que muitas das empresas que atuam no Brasil estão nos Estados Unidos. Mas é fato de que o Brasil não se movimentou. O que poderia ser feito seria adotar algum tipo de retaliação e praticar a mesma sobretaxa nos produtos que chegam de outros países.

E o que impede que esse mecanismo seja adotado?
Aí entram as relações comerciais, os pesos dos parceiros. Normalmente uma retaliação é cruzada. Não dá para retaliar o mesmo grupo de produtos e sim outros que os países são mais dependentes. Caberia, mas não foi adotada. Isso envolve outros interesses. Agora precisamos saber qual serão as decisões americanas sobres as novas taxações e em que setores serão aplicadas.

Isso pode abrir oportunidades para as empresas brasileiras de alumínio atuem em outros mercados?
Sim, mas também há desafios. A União Europeia criou o Carbon Border Adjustment Mechanism (CBAM), um mecanismo de ajuste de fronteiras vinculada a emissões de carbono para produtos importados. Foi um instrumento para tentar buscar isonomia, para exigir do produto de fora o que eles exigem dos produtos internos. Mas é uma sobretaxa, que está sendo implementada.

E onde está a chance de o alumínio aproveitar o mercado europeu?
A grande discussão é a metodologia que eles estão utilizando e nós questionamos. Isso significa que, para a indústria brasileira exportar para lá, vai ter que atender essas regras. A exceção para reduzir essas tarifas vai ser a sustentabilidade. E, no caso do alumínio brasileiro, estamos muito bem posicionados. Se esse for o critério, pode ser positivo.

Há outra preocupação que possa afetar a indústria do alumínio no Brasil?
A nossa grande preocupação é com o desvio de comércio. O produto importado já tem uma vantagem competitiva sobre o nacional. A carga tributária incidente dos produtos nacionais da metalurgia do alumínio chega a 35,2%. Já sobre os mesmos produtos, só que importados, a carga é de 22,4%. Essa é uma grande preocupação do setor. Além de perder acesso ao mercado, temos risco de perder competitividade contra o produto importado. E a gente precisa encontrar alternativas para isso. Se os Estados Unidos estão protegendo o mercado deles, precisamos proteger o nosso.





Fonte: Neofeed

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